100 anos de Medicina
25 anos FAPEMIG
Faculdade de Medicina da UFMG completa 100 anos lembrando o passado de conquistas e apostando em novas tecnologias.
Em seu jubileu de prata, uma das mais importantes FAPs do País tem sua história contada em três dimensões: passado, presente e futuro.
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6 Leishmaniose
Eletrônica Orgânica
Região Metropolitana de BH ganha projeto que visita escolas públicas para ensinar e conscientizar alunos do ensino fundamental a aplicar ações de prevenção contra a doença. 36
Tecnologia que começa a ser desenvolvida em Minas promete revolucionar o mercado de semicondutores que, em novo formato, podem ser impressos.
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Viaje com a ciência
Avião Tupã
Projeto Ciência Para Todos leva pesquisas desenvolvidas na UFMG e curiosidades científicas para 16 linhas de ônibus de Belo Horizonte. 40
Novo modelo de aeronave é econômico e rápido. Seu conforto, praticidade e custo baixo de manutenção podem ser essenciais para a aviação nacional.
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Feiras livres
Lembra dessa?
Locais conhecidos popularmente por venderem produtos alimentícios é também ponto de encontro e parte da cultura das cidades nos quais estão situados.
Plantas e fungos são testados no desenvolvimento de fármacos naturais para combate de doenças como Esquistossomose, Leishmaniose e Chagas.
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Matas secas
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Periferias
Estudo avalia o impacto da ação humana nas florestas tropicais secas do Norte de Minas.
Ao analisar crescimento da capital mineira no eixo Sul, pesquisa interdisciplinar revela complexidade do processo contemporâneo de expansão das metrópoles.
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Entrevista
Ozônio Geneticista Lygia da Veiga comenta os avanços do desenvolvimento científico no Brasil e os pontos que precisam ser reavaliados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.
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Pesquisadores desenvolvem tecnologia inovadora para o tratamento de água utilizando ozônio, uma opção mais eficiente e ambientalmente correta.
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Cientistas brasileiros
Nanoesfera Estruturas minúsculas e magnéticas são estudadas para o desenvolvimento de terapias contra o câncer e diagnóstico eficaz da doença.
Física e pós-doutora em astrofísica, Lucimara Martins recebeu o prêmio L’óreal/Unesco, em 2010, na categoria Ciências Físicas.
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Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte. MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Expediente MINAS FAZ CIÊNCIA Assessora de Comunicação Social e Editora Geral: Ariadne Lima (MG09211/JP) Editor Executivo: Fabrício Marques Assessora Editorial: Vanessa Fagundes Redação: Ariadne Lima, Fabrício Marques,Vanessa Fagundes, Juliana Saragá, Maurício Guilherme Silva Jr.,Ana Flávia de Oliveira, Carolina Braga, Kátia Brito (Bolsista de Iniciação Científica). Ilustrações: Beto Paixão Revisão: Glísia Rejane Projeto gráfico/Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: Lastro Editora Tiragem: 20.000 exemplares Fotos: Marcelo Focado/Gláucia Rodrigues Agradecimentos - Agradecemos a todos os colaboradores desta publicação Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br
Capa: O Futuro Agora Imagem: Hely Costa Júnior Nº44 dez. a fev. 2011
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Antônio Augusto Junho Anastasia SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Narcio Rodrigues
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Mario Neto Borges Diretor de Ciência,Tecnologia e Inovação: José Policarpo G. de Abreu Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu (PUC/MG) Membros: Afonso Henriques Borges Anna Bárbara de Freitas C. Proietti Evaldo Ferreira Vilela Francisco Sales Dias Horta Giana Marcellini José Cláudio Junqueira Ribeiro (FEAM) José Luiz Resende Pereira (UFJF) Magno Antônio Patto Ramalho (UFLA) Paulo César Gonçalves de Almeida (UNIMONTES) Paulo Sérgio Lacerda Beirão (UFMG) Rodrigo Corrêa de Oliveira (CPqRR)
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MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2010 2011
Ao leitor Por muito tempo cultivou-se o mito de que o Brasil era o País do Futuro. Isto era sempre falado, mas estava sempre longe do alcance dos brasileiros. Contudo, nos últimos anos, diversas transformações, nos campos econômico, político e social, aproximaram esse tempo distante em algo concreto, próximo de nós: o futuro é agora. Essa breve reflexão pode ser aplicada em um momento especial, o da comemoração dos 25 anos de existência da FAPEMIG, reconhecida pelo professor Mario Neto Borges como o futuro de Minas, e também como a casa da ciência mineira. Essas afirmações do presidente da Fundação podem ser lidas na entrevista que começa na página 10, e aborda justamente o que está por vir no desenvolvimento da ciência e da tecnologia a partir de Minas. Data tão importante não poderia passar em branco: além desta conversa, nosso olhar se projeta, tanto para o passado, quanto para o presente desta Casa. Na reportagem que antecede a entrevista, o leitor poderá conhecer um pouco mais de como foi construída a história da FAPEMIG, e de como ela está sendo escrita no presente. Se o futuro não é mais como era antigamente, como diz a letra de uma canção, é porque mudaram as condições em que a história se faz, pela ação de seus protagonistas. A melhor forma de mostrarmos de modo concreto os avanços que estão sendo efetivados na área científica e tecnológica - no momento mesmo em que este texto é lido – é oferecer a você, leitor, a oportunidade de conhecer alguns dos projetos e pesquisas desenvolvidos com participação da FAPEMIG. Um exemplo desse fato são as aplicações da eletrônica orgânica impressa, um investimento que desde já coloca Minas no mapa do mercado mundial de semicondutores. Trata-se de tecnologia altamente avançada, realizada de modo impresso, com possibilidade de aplicação em áreas tão distintas quanto a saúde e a agricultura. Este projeto, aliás, é uma referência no papel da Fundação, não apenas como agência de fomento, mas também de indutora de pesquisas. Da mesma forma, uma iniciativa pioneira em Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, poderá, também em pouco tempo, sacudir as bases da aviação nacional, com o lançamento da aeronave AX-2 Tupã, um avião de seis lugares, comercial e executivo, com características inovadoras e baixo custo. O que esses projetos têm em comum, entre outros fatores, é o fato de que agirão no sentido de beneficiar as pessoas.Tal como pode acontecer com as nanoesferas magnéticas, estruturas minúsculas desenvolvidas por um pesquisador da Unifei que indicam novos caminhos para diagnóstico e terapia do câncer, trazendo alento para os que sofrem com essa doença. Muitos outros projetos ganham espaço nesta edição, com os temas os mais diversos: feiras livres, Matas Secas do Norte de Minas, processo de expansão das metrópoles, a tecnologia para o tratamento de água com a utilização de ozônio, prevenção da Leishmaniose.Também merece destaque a entrevista com a renomada geneticista Lygia da Veiga Pereira, que critica a excessiva burocratização ligada às pesquisas científicas no Brasil. Finalmente, além do jubileu de prata da FAPEMIG, cabe registrar outra efeméride importante: os cem anos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, centenário marcado pelo passado de conquistas e um presente que aposta em novas tecnologias. A melhor maneira de celebrarmos juntos estes 25 anos é dividir com você, neste, nos anteriores e nos próximos números, as pesquisas e ações que se realizam para que o futuro seja agora.
Ariadne Lima Editora Geral Fabrício Marques Editor Executivo
Cartas
mento de Minas, que avança por meio da pesquisa, se transformando em um importante referencial para o nosso País.
Beatriz Barreto Sabará/MG
Publicação trimestral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG nº 43 - set. a nov. 2010 MINAS FAZ CIÊNCIA informa que as cartas enviadas à Redação podem ou não ser publicadas e, ainda, que se reserva o direito de editá-las, buscando não alterar o teor e preservar a ideia geral do texto. Sou graduando de curso de bacharelado da Universidade de Itaúna, e venho encarecidamente agradecer pelo primeiro exemplar (nº42), que recebi da MINAS FAZ CIÊNCIA. Não conhecia a revista e com essa oportunidade tive acesso a importantes pesquisas. Sua leitura fez com que ampliasse meus conhecimentos e despertasse ainda mais o interesse pela pesquisa. A divulgação da revista é muito importante, pois possui reportagens com excelentes conteúdos de todas as áreas. Desde já agradeço e espero receber mais exemplares.
Eduardo Ribeiro Estudante Universidade de Itaúna/MG
Agradeço a equipe editorial da MINAS FAZ CIÊNCIA pelos exemplares enviados. A revista tem contribuído para a divulgação científica e tecnológica de Minas Gerais, pois estimula a admiração, o respeito e o reconheci-
É com muito prazer que recebo esta publicação trimestral tão importante para nosso incremento científico e tecnológico. Eu, que, particularmente, atuo na área de saúde, concluo que, através deste veículo de disseminação da informação, podemos não apenas ampliar nossos horizontes profissionais, como também compreender que nenhum conhecimento é válido quando não difundido. Sendo assim, que ele não se restrinja ao âmbito de nossas casas, mas que, por meio de nós, leitores anônimos, seja agregado de modo concreto ao nosso cotidiano e ao daqueles que conosco convivem. Agradeço à equipe da MINAS FAZ CIÊNCIA e desejo sucesso e notáveis edições!
Glísia Mendes Tavares Juiz de Fora/MG
Tive a oportunidade de conhecer, através de colegas, a MINAS FAZ CIÊNCIA e verifiquei a qualidade das reportagens e informações contidas nas revistas. Assim sendo, gostaria de recebê-la. Desde já agradeço.
Danton Heleno Gameiro Professor Ouro Preto/MG
Meu nome é Charles JS e pela segunda vez recebi uma edição da MINAS FAZ CIÊNCIA. Quero agradecer pelo envio dos exemplares que são realmente muito importantes e altamente relevantes. Estou colocando à disposição da equipe da revista a nossa rádio para divulgação gratuita de trabalhos ou mesmo da revista. Basta enviar o áudio em MP3, o tempo total da gravação fica a critério de vocês. É muito bom compartilhar tais conhecimentos com nossos ouvintes de São Paulo e de outras partes do mundo. Sou adepto do compartilhamento do conhecimento e da inclusão digital e será um prazer poder divulgar o conteúdo de vocês aqui no nosso Estado e no Brasil.
Charles JS Técnico de informática Cajuru/SP
Sou estudante de biologia e professora da rede municipal de Ibirité e do Estado. Peço que me enviem as edições da revista da FAPEMIG, pois a achei muito interessante.
Natália Corrêa Ferreira Ibirité/MG
Represento a Revista Sustentabilidade Digital, cujo projeto baseia-se na produção de material jornalístico independente sobre novas tecnologias para a sustentabilidade. Gostaríamos de receber a MINAS FAZ CIÊNCIA, já que os assuntos tratados pela revista são de grande interesse de divulgação da Sustentabilidade. Agradeço desde já a atenção.
Vivian Mendes São Paulo/SP
Gostaria de receber as edições anteriores da revista, pois meu cadastro foi realizado há pouco tempo e possivelmente não terei acesso. Ficaria grata com o recebimento porque percebi que a MINAS FAZ CIÊNCIA é de grande ajuda para o meu curso, de Ciências Biológicas. Desde já agradeço.
Virgínia Soraggi Barroso/MG
Há algum tempo me cadastrei para o recebimento da revista. Estou cursando o 7º período de Química e trabalho em uma estação de tratamento de água. Gostaria muito de receber as revistas ou qualquer tipo de material sobre pesquisas. Desde já agradeço a atenção dispensada.
Angélica Gisele Itaúna/MG
Recebo a MINAS FAZ CIÊNCIA em minha casa, mas me mudei e gostaria de solicitar a mudança de endereço. Aproveito para parabenizar a revista e todos os artigos maravilhosos, atuais e enriquecedores que têm sido publicados.
Nélida Delamoriae Três Corações/MG
Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, preencha o cadastro no site http://revista.fapemig.br ou envie seus dados (nome, profissão, instituição/empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o seguinte endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro São Pedro - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080 MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Especial
Fapemig : passado, O jubileu de prata da FAPEMIG é aqui recontado segundo a privilegiada memória de quem a viu nascer, crescer e se tornar uma das mais importantes Faps do País Crédito: Juliana Saragá
Ana Deborah Pena Antunes, desde 1986 acompanhando a história da Fapemig
presente e futuro
No princípio de tudo, quando ainda poucos navegavam os mares daquele sonho, o que mais se ouvia era o prodigioso som de sua máquina de escrever. Corria o ano de 1986 e a jovem belo-horizontina Ana Deborah Pena Antunes, formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e recém-contratada como datilógrafa para atuar na novíssima Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), passava os dias a redigir, com ritmo e fascínio, as páginas primeiras de uma incrível história de dedicação à ciência e à tecnologia. Hoje, transcorridos 25 anos da escrita de tais linhas originais, a FAPEMIG revela-se outra: não só o silêncio dos teclados de computador calou de vez a saudosa “música” das antigas Olivetti’s, como a intensidade das batalhas pelo fortalecimento da Instituição – enfrentadas e vencidas por diversos de seus gestores – serviu de estímulo à Fundação, que ora se destaca no cenário da produção científica e intelectual do País. Ao longo destas duas décadas e meia, o que jamais se modificou foi mesmo a delicada cadência das mãos de Ana Deborah, hoje secretária da diretoria científica da Entidade, que, com a mesma leveza de outros tempos, permanece a tornar sólidos os etéreos objetivos daquele longínquo – e belo – princípio de tudo.
1951
Testemunha ocular dos mais relevantes acontecimentos da FAPEMIG, a secretária – que trabalhou com todos os diretores científicos da Instituição – lembra-se com propriedade dos “pequenos detalhes” que, somados, acabaram por fazer a diferença. Por isso, aliás, ninguém melhor do que Deborah – e outros funcionários que há décadas se dedicam à Entidade – para contar, ao leitor deste novo milênio, um pouco do que seus olhos presenciaram. A começar pelos primórdios da Fundação, nascida, justamente, da defesa pelo investimento em ciência como preceito fundamental ao desenvolvimento de qualquer soberania democrática. Em 1985, através da Lei Delegada nº10, o então governador de Minas Gerais, Hélio Garcia, nomeia o primeiro conselho curador da FAPEMIG, formado por ilustres personalidades mineiras de diversas áreas do conhecimento. Um ano depois, quando da oficialização de todo o processo, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima e o professor Paulo Gazzinelli assumem, respectivamente, a presidência e a diretoria científica da Entidade. “Os dois se completavam. O embaixador, mesmo em outros países, buscava parcerias e concedia grande prestígio à FAPEMIG. Já o professor Paulo Gazzinelli vestia a ca-
1985
Linha do Tempo Nasce o Conselho Nacional de Pesquisa, que, em 1971, passa a se chamar Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
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MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
Em fevereiro, é aprovada a Lei delegada responsável pela criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) Em março, oficializa-se a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
misa para lutar pela Instituição. Aprendi muito com ele”, relembra Deborah. Tais lutas pela manutenção e ampliação dos objetivos e iniciativas da Fundação são fatos que permanecem vivos na memória da hoje secretária da diretoria científica. Que o diga a série de embates enfrentada por Flecha de Lima e Gazzinelli logo no ano seguinte ao início dos trabalhos: em 1987, o recém-empossado governador Newton Cardoso resolve dar fim à recém-inaugurada FAPEMIG, exonerando todos os seus funcionários. “A atitude do Governo gerou manifestações de diversos setores da sociedade. Havia protestos nas ruas, nos jornais, nas universidades. A pedido do professor Gazzinelli, redigi, uma a uma, centenas de mensagens para mobilizar a comunidade científica e manter viva a FAPEMIG”, conta. Os protestos – assim como os pequenos convites redigidos na incansável máquina da jovem datilógrafa – surtiram efeito. No mesmo ano da desdita exoneração, o Governo vê-se obrigado a assinar o termo de recondução dos funcionários à Fundação. Em 1988, porém, surge a primeira crise financeira, já que não era repassado à FAPEMIG o orçamento devido. “Apesar disso, inicia-se, em 1989, o processo de abertura da Fundação à sociedade, através de feiras de ciência e tecnologia e outras iniciativas. Sem contar que já eram oferecidos, aos pesquisadores, incontáveis convênios, editais, bolsas e parcerias internacionais, a exemplo do Conselho Britânico”, lembra Deborah, ao ressaltar aquele que, para ela, é o papel mais significativo da Instituição onde trabalha:“A FAPEMIG sempre buscou dar satisfação, à sociedade, sobre suas atividades que, no fundo, geram bem-estar a todos”.
Futuro high tech
Os olhos de Ana Deborah também presenciaram iniciativas que miravam
1989
Tem início o processo de abertura da Fundação à sociedade, através de feiras de ciência e tecnologia e outras iniciativas
para além dos montanhosos horizontes das Gerais. A partir de 1992, o professor Paulo Gazzinelli busca estreitar laços com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), rede global de estímulo à inovação, com fins à criação de pólos high tech no Estado. “Nesta época, especialistas de instituições como FAPEMIG, CETEC e UFMG reúnem-se para desenvolver projetos e empresas de alta tecnologia”, recorda-se a secretária. Naquele ano, inicia-se, na diretoria científica da Fundação, o mandato do professor Afrânio Carvalho Aguiar, doutor em ciência da informação. Único mineiro a integrar o Grupo Especial de Acompanhamento (GEA) do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico (PADCT), o novo gestor segue os passos de seu antecessor, ao lutar com empenho pelo fortalecimento da Entidade:“Sempre dedicado aos rumos da ciência e da tecnologia, o professor Afrânio mantinha ótimos contatos no Brasil e encontrava facilidade de propostas por ser muito reconhecido em sua área de pesquisa”. Na gestão de Carvalho Aguiar, a FAPEMIG enfrenta difíceis obstáculos – déficit orçamentário em 1994 –, assim como multiplica suas áreas de atuação: no período, a Entidade financia a construção da Estação Meteorológica e investe no Projeto Ideas, que buscava preservar o patrimônio histórico de Minas Gerais. Em 1995, dois importantes reconhecimentos: “Recebemos a medalha de mérito científico pelo Conselho Regional de Química do Estado e o Prêmio Francisco Magalhães Gomes, em função do apoio às atividades do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, o CDTN”, ressalta Ana Deborah, enquanto mostra, ao repórter que a entrevista, um dos milhares de pequenos recortes de jornal – e outros documentos – que, ano após ano, buscou organizar, em dezenas de pastas, como forma de preservar a memória da Fundação.
1992
FAPEMIG estreita laços com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
Em 1999, o professor Naftale Katz, pesquisador da Fiocruz Minas, assume a diretoria científica da FAPEMIG. Em seu mandato, também houve tempestades – a falta de dinheiro obrigou o cancelamento de novos projetos – e períodos de bonança: “Em 2000, através de parceria com a Fapesp, aceleram-se os estudos que buscavam decifrar o genoma do protozoário da esquistossomose”, afirma a secretária, ao destacar, ainda, a criação do Escritório de Gestão Tecnológica (EGT). Passam-se os anos e, além de experiência e histórias para contar, Ana Deborah ganha novo chefe: “Em 2004, durante a gestão do presidente José Geraldo de Freitas Drummond, a diretoria científica é assumida pelo professor Mario Neto Borges. Pessoa alegre e de grande talento como administrador, ele é responsável, a meu ver, por tornar a FAPEMIG ainda mais inovadora e dinâmica”, analisa.
Sonhos concretos
Hoje secretária do diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação, José Policarpo Gonçalves de Abreu, em quem percebe o mesmo – e imensurável – desejo de fortalecer ainda mais a Fundação que tanto a orgulha, Ana Deborah permanece a acreditar nos mesmos princípios daquela jovem e promissora datilógrafa: para ela, a FAPEMIG é o espaço propício, não só ao desenvolvimento da Ciência & Tecnologia, como também ao trabalho em equipe e à responsabilidade social. Afinal, o “sonho que se sonha junto” pode – e deve – tornar-se realidade: “Nestes 25 anos, presenciei todo o crescimento e a transformação desta Fundação.Tenho muito orgulho de trabalhar aqui, pois lutam a favor do bem-estar da sociedade. Para mim, a FAPEMIG é o lugar onde, todos os dias, eu cresço e aprendo algo importante”. Maurício Guilherme Silva Jr.
1995
Fundação recebe medalha de mérito científico do Conselho Regional de Química do Estado e Prêmio Francisco Magalhães Gomes MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Um presente de maturidade Em 25 anos de existência, os desafios foram aproximar Ciência e Tecnologia da população e trabalhar na tentativa de quebrar velhos paradigmas
1998
É criada a revista Minas Faz Ciência, que busca aproximar o público leigo do fascinante universo do saber científico
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MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
A Fundação, que surgiu dirigida por personalidades do cenário político e científico do País, tomou forma, cresceu e tornou-se uma das mais importantes agências de fomento à pesquisa do Brasil. Atualmente, a FAPEMIG funciona em um prédio de 12 andares na região Centro-Sul de Belo Horizonte, tem 188 funcionários (40% concursados, 40% contratados pela MGS e 20% formados por colaboradores selecionados por meio do quadro de recrutamento amplo da instituição e estagiários). No seu jubileu de prata, o presidente da Fundação, Mario Neto Borges, define a FAPEMIG como uma instituição que possui juventude e maturidade do ponto de vista da ciência. Nas palavras dele, os trabalhos voltados para a ciência no Brasil surgiram há 60 anos com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq) – tempo considerado curto se comparado a outros países, como, por exemplo, os do continente europeu, que já se dedicam à área há dois séculos. Entretanto, várias experiências, ao longo da sua trajetória, deram experiência à Fundação para tomar decisões. Em 2010, o orçamento da instituição foi de R$ 284 milhões. Na prática,
2000
Inaugura-se, na FAPEMIG, o Escritório de Gestão Tecnológica (EGT)
isso significa que se forem levados em consideração os investimentos per capita para os doutores, por exemplo, Minas Gerais é o Estado que mais investe em seus pesquisadores. Recentemente, o Governo do Estado recebeu a Avaliação Trienal dos Cursos de Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes). O resultado mostrou avanços. Houve um aumento no número de cursos com notas máximas 6 e 7. Para o governador Antonio Anastasia, a Fundação contribuiu com o sucesso da avaliação. “Sem dúvida a FAPEMIG exerce enorme influência no fortalecimento da pós-graduação em Minas, especialmente com a implantação de três programas em conjunto com a Capes: o Programa Mineiro de Capacitação Docente; o Programa de Apoio a Cursos notas 6 e 7 e incentivo aos de conceito 5 para a mudança de patamar; e o Programa de Aquisição de Equipamentos para a Pós-Graduação”, comemora. O Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Narcio Rodrigues, destaca o papel da FAPEMIG, fundamental no financiamento de pesquisas no Estado. “Ela é o principal instrumento de ciência, tecnologia e inovação de Minas, especialmente porque se preocupa em realizar a promoção da ciência e tecnologia bus-
2001
Com o intuito de abrir as portas da Fundação à sociedade, é realizada a 1ª Mostra de Trabalhos financiados pela FAPEMIG
cando benefícios para o mercado e promovendo a cidadania”, comenta. Para o meio acadêmico, a instituição representa muito. O médico Paulo Sérgio Lacerda Beirão, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos diretores do CNPq e membro titular da Associação Brasileira de Ciência, ressalta que a FAPEMIG foi criada tendo por base a experiência da Fapesp, que elevou significativamente a qualificação científica e tecnológica da sociedade e da economia de São Paulo, ajudando o Estado a se tornar o maior produtor de conhecimento e de tecnologia do país, e o maior formador de pessoal altamente qualificado. “Apesar de contar agora com 25 anos de criação, foram relativamente poucos os anos em que o papel da FAPEMIG foi compreendido pelos seus governantes, e, somente nos últimos anos, ela recebeu as dotações orçamentárias que lhe cabiam constitucionalmente”, ressalta o professor Beirão, que também é membro do Conselho Curador da FAPEMIG e ex-presidente do Conselho. Apesar de ser relativamente recente sua atuação plena, já se pode notar que Minas vem se tornando um Estado importante para empresas de alta tecnologia, permitindo a retenção e a atração de pesquisadores, o que cria um ambiente propício para a inovação. Um dos motivos de comemoração pelos 25 anos são as parcerias com o governo federal e, mais recentemente, com a iniciativa privada. “Se hoje já se pode ver os frutos da atuação da FAPEMIG, é de se prever que esses frutos venham a ser ainda mais viçosos, já que os resultados alcançados com Ciência e Tecnologia são de longo prazo”, lembra.
As FAPs O objetivo das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) é, principalmente, apoiar a realização de pesquisa científica e tecnológica. Isso se dá por meio de concessão de bolsas e financiamento de estudos em diversas áreas do conhecimento, como saúde, ciências agrárias, humanas, artes e engenharia, entre outras. Também está entre as metas das instituições estimular a divulgação científica. Atualmente, existem FAPs em 24 estados e no Distrito Federal. A mais antiga é a Fapesp (São Paulo), com 51 anos de atuação, e a mais jovem é a Fap-TO, do Tocantins, que teve suas atividades iniciadas em 2011. Apenas Rondônia e Roraima não possuem instituições de fomento à Pesquisa.
Logomarca especial Para comemorar a data, um dos primeiros presentes que a FAPEMIG ganhou foi a criação da logomarca comemorativa. A partir dos três pilares da instituição (ciência, tecnologia e inovação), o designer Hely Costa Júnior, elaborou a logomarca comemorativa dos 25 anos. “A ideia era fazer algo que tivesse um aspecto mais contemporâneo, personalizado e clean”, explica. O triângulo, símbolo da bandeira de Minas, foi o ponto de partida para a criação. “Suavizamos as formas e colocamos um triângulo que correspondesse a cada um desses pilares”, revela o designer. Uma figura foi colocada sobre a outra, para mostrar a integração entre os três pilares. “A cor foi escolhida para manter uma identidade, já que a marca anterior também era azul e fortaleceria a imagem da Fundação”, esclarece Costa Júnior. O resultado foi um símbolo moderno e dinâmico. Ana Flávia de Oliveira
2004
A FAPEMIG lança o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe)
2005
Com base na melhoria de suas atividades, a Fundação promove o primeiro concurso público de sua história
2006
FAPEMIG registra o maior orçamento de sua história, ao ultrapassar R$ 100 milhões MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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“A FAPEMIG é o futuro de Minas” Certo de estar no caminho para transformar Ciência e Tecnologia em um valor da sociedade, o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, é otimista em relação ao futuro da agência. Nesta entrevista ele fala sobre as apostas nas parcerias internacionais e com a iniciativa privada, cobra uma legislação mais moderna para a área e comenta os planos para a nova sede. Fotos: Reprodução
Imagens da versão digital da maquete da nova sede da FAPEMIG
2007
É definida a nova estrutura organizacional da Fundação, como forma de organizar e adequar o trabalho em seus diversos setores
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MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
Quando falamos em futuro e FAPEMIG, qual a associação imediata? Associação total. A FAPEMIG é o futuro de Minas. O nosso slogan até fala isso. Mas é porque, na verdade, estamos lidando com ciência, exatamente o que vem pela frente. Você pesquisa os fenômenos da natureza, para dominar a natureza e transformar isso em bem estar da sociedade. É através da tecnologia que os fenômenos físicos se transformam em coisas úteis para nós. Depois vamos inovando naquilo. Com o telefone, por exemplo, a ciência conseguiu fazer transmissão de voz através de um processo eletromagnético. Quer dizer, pensar em FAPEMIG é pensar em futuro do Estado de Minas Gerais, principalmente, mas do Brasil, em geral. Quais são as ações que direcionam o futuro da FAPEMIG? A gente tem que pensar em futuro, mas com o pé no chão. Também não adianta ficar só delirando sem ter nada de resultado. É planejar o que pode ser feito do ponto de vista das potencialida-
2009
Inicia-se o processo de internacionalização da FAPEMIG, que mantém convênios e editais com instituições da Alemanha, França e Itália
des que o Estado tem e transformá-las em oportunidades. Isso aplicando conceitos de ciência, tecnologia e inovação. Um exemplo mais típico e até muito falado é a questão da mineração. Minas Gerais é o Estado típico de mineração e a gente vem fazendo isso há centenas de anos, principalmente minério de ferro, e vendendo para o exterior. Só que você precisa de dez toneladas de ferro, por exemplo, para comprar um chip e colocar em um gravador como esse. É muito bom que Minas Gerais e o Brasil tenham recursos naturais. Agora, nós precisamos aprender a agregar valor a esse material e transformá-lo em uma oportunidade. A internacionalização é uma meta já perseguida pela FAPEMIG. Quais são os desafios, a longo prazo, nesta área? A internacionalização tem dois pilares bem diferentes. Um é do ponto de vista científico. O Brasil vai muito bem na produção científica, é o 13º em produção de ciência, mas ele pode ficar entre os seis primeiros. E como esta-
mos crescendo em quantidade muito rapidamente, precisamos agora cuidar da qualidade da nossa ciência e a internacionalização é uma referência importantíssima. Agora, há um outro lado que é a competitividade dos nossos produtos com agregação de tecnologia, ou seja, tornar os produtos competitivos internacionalmente. O que é uma competição acirradíssima. Para você ver, os coreanos hoje: quem foi fabricante de carro começou na Alemanha, depois Estados Unidos, hoje o grande produtor de carros no mundo é a Coreia do Sul, que é do tamanho do Espírito Santo. O que eles fizeram? Agregaram ciência, tecnologia e inovação aos produtos e conseguiram ter um preço competitivo com uma alta tecnologia. E é o que interessa as pessoas: comprar barato uma coisa boa. Então, a internacionalização é importante. Como vai se dar o fomento dessa internacionalização? Não tem uma regra muito definida, porque é muito amplo. Por exemplo, já temos casos concretos. Na França, foi na área de tecnologia da informação e comunicação,TIC. Nós identificamos lá que havia alguém querendo fazer a mesma coisa que nós e que essa interação poderia ter mútuo benefício. Então fizemos a parceria. Lá na Austrália é na área de recursos minerais, inclusive água. Na Alemanha foi questão de meio ambiente, biotecnologia. É uma questão de oportunidade. Então os pesquisadores precisam estar atentos. Exatamente. Essa questão da internacionalização é muito mais de demanda do que a gente fazer indução ou oferta. Em que os pesquisadores mineiros são bons? Ah, são bons em TIC, então fazemos a parceria. São bons em mineração, engenharia metalúrgica, recursos hídricos, então dá para fazer a parceria. É muito mais de demanda, embora a gente possa procurar firmar acordos em áreas que o Estado tenha interesse e potencial. Temos observado nos editais o aumento das parcerias com empre-
sas do setor privado. Estes acordos tendem a se fortalecer e intensificar? Tendem por algumas razões. Primeiro, pela própria Lei de Inovação Mineira, de 2008, mas antes disso a Lei de Inovação Federal, que é de 2004, e foi ela que permitiu que as agências de inovação, como a FAPEMIG, trabalhassem com empresas. Antes a gente só podia financiar entidade pública. E a Lei mineira, gestada aqui na FAPEMIG, definitivamente abriu essa possibilidade. Começamos em uma experiência ainda incipiente e vimos que isso é um potencial brutal, quando conseguimos fazer uma parceria com a Vale de R$ 40 milhões. Para se ter uma ideia, quando eu vim para cá o orçamento inteiro da FAPEMIG era de R$ 24 milhões. Isso mudou um pouco, então, a forma de pensar. Fizemos um edital em parceria com a Cemig de R$ 150 milhões. Também fizemos uma mudança estrutural na FAPEMIG, que tem uma diretoria adjunta de inovação, uma gerência de inovação, um departamento de relações empresariais. Nós institucionalizamos a questão da parceria com empresa. A desburocratização entra na lista de desejos para o futuro da FAPEMIG? A desburocratização é passado, futuro e presente. Antes, no passado, - até antes da lei de Inovação, e pela cultura institucionalizada - a FAPEMIG era extremamente burocrática, como a maioria das agências. Tem uma razão para isso: você está lidando com recurso público, tem que ser cuidadoso. A burocracia nasce da cultura brasileira, que é latina, mas é também um cuidado com o recurso público. Agora, você pode fazer isso sem ficar amarrado. Porque há uma tendência natural das pessoas a amarrar a burocracia ainda mais. Aí são duas outras razões. Uma é a questão do controle e outra é reduzir o trabalho. Falar “não pode” é muito mais fácil. Porque quando você autoriza, tem que dizer como é e você se torna responsável pela decisão. Mas nós avançamos muito neste quesito. Reduzimos papel, por causa da informatização e também uma consciência ambiental. A redução de papel foi brutal. Antigamente o termo de outorga tinha quatro vias, em
papel, pedia como documento para submeter o projeto, estatuto da Universidade. Acabamos com isso tudo. Hoje todos são cadastrados no site, toda a submissão é eletrônica, para também agilizar o processo do ponto de vista de andamento do projeto. Mas ainda existem duas questões que precisam ser trabalhadas. Muita coisa pode ser feita para diminuir a burocracia sem perder o controle. É importante que exista, mas não precisa ser um controle burocrático. Pode ser por princípios. E há outra questão que está acima da gente, que é a legislação. O nosso grande sonho é ter um arcabouço legal, específico para Ciência,Tecnologia e Inovação. E o que falta? Falta tudo. Primeiro, desenhar essa legislação, que não é fácil. Segundo, convencer os poderes Executivo e Legislativo de que é preciso lançar novas leis. E depois ainda, precisa treinar os órgãos de controle para usar a nova legislação. Por exemplo: a Lei de Inovação permite as agências de fomento fazer subvenção direta para empresa. Aí, na hora em que o órgão de controle vai fiscalizar aquele projeto, cobra licitações para compra de equipamentos. Não entendem que a licitação foi feita na seleção do projeto. E a nova sede: Quais são as expectativas para a nova casa? Eu gostaria que a nova sede da FAPEMIG fosse vista como a nova casa da ciência mineira. Porque você vai ter ali, não só um ambiente de tomada de decisão sobre o que é bom para a ciência mineira, vai haver também os espaços do Conselho Curador, das Câmaras de Assessoramento e das Comissões Especiais de Julgamento. Mais do que uma estrutura física de pessoas trabalhando lá dentro, é um ambiente de tomada de decisão, de pessoas trabalhando em torno do que é bom para a ciência mineira, do ponto de vista de julgamento de projeto e de olhar para o futuro. Agora tem outra questão que é o centro de convenções, um auditório de mil lugares, onde vão acontecer os eventos da FAPEMIG. Não será preciso alugar hotel para fazer os eventos, tudo poderá ser feito lá. Carolina Braga * Ouça o áudio desta entrevista na íntegra no blog: http://fapemig.wordpress.com MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Nanotecnologia
Revolução impressa em minas Investimento inédito
Você perdeu sua mala no aeroporto. Mas não sente pânico, pois sabe que uma microantena a localizará rapidamente. Você vai tomar um remédio, mas está em dúvida se o prazo de validade venceu. Você não se preocupa, porque a embalagem contém um circuito que muda de cor se o medicamento passou da validade. Você mora em uma cidade em que a luz elétrica é raridade. Mas logo vê chegar um carregamento de rolos de painéis solares com eletrônica impressa, utilizando energia limpa para iluminar sua casa e de seus vizinhos.
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na eletrônica orgânica, que permite a democratização do acesso a novas tecnologias, coloca o Estado no mapa do mercado mundial de semicondutores
Esses são alguns exemplos de uma nova tecnologia que vai revolucionar o cotidiano das pessoas em poucos anos: a eletrônica orgânica e impressa, baseada em materiais semicondutores orgânicos, que abre possibilidades para novos dispositivos eletrônicos de baixo custo, como painéis fotovoltaicos flexíveis, capazes de levar com mais economia a energia elétrica a localidades remotas no país; biossensores que podem indicar, com uma gota de sangue e diagnóstico imediato, a incidência de doenças como a dengue; e tíquetes inteligentes para embalagens, segurança pública, transporte e grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014, com identificação por radiofrequência mais barata. Etiquetas inteligentes como essas podem ser também aplicadas na verificação da qualidade, origem e autenticidade de medicamentos, alimentos e outros produtos. Esses exemplos são oferecidos pelo Csem Brasil, um centro privado brasileiro de pesquisa aplicada e desenvolvimento, especializado em microtecnologias e nanotecnologias, que fincou suas raízes na capital mineira. “É a oportunidade de Minas sair na frente, no Brasil e no mundo. Ainda dá tempo. É o próximo trem que o Brasil não pode perder. É Minas entrando no bonde dos semicondutores (circuitos integrados, transistores, capacitores, diodos)”, observa o executivo-chefe da Csem Brasil, Tiago Maranhão Alves. E completa: “temos de destacar o pioneirismo da FAPEMIG, a primeira FAP a investir com peso nessa área, em que vivemos um ponto de inflexão, da academia para o mercado. A visão é a de trazer a ciência do Estado para o mercado, de forma colaborativa e não redundante”. O Csem assinou com o governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta-
do de Minas Gerais (FAPEMIG), um termo de cooperação técnica que garante um aporte de R$ 7 milhões para desenvolver produtos com eletrônica orgânica e impressa, em um modelo inovador que envolve ensino, pesquisa e intercâmbio internacional: neste termo está também previsto a um programa de treinamento no Imperial College London, referência mundial no setor. “Enviaremos profissionais e pesquisadores para treinamento prático e teórico”, diz Maranhão Alves, que destaca também uma das principais características dessa tecnologia: o baixo custo. Segundo o Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica (Ineo), da Universidade de São Paulo (USP), enquanto uma fábrica de chip de silício (o modelo atual) custa cerca de US$ 3 bilhões, com US$ 100 mil já é possível montar uma fábrica de eletrônica orgânica. Empresas como Samsung, e Apple, entre outras, já possuem soluções baseadas nesta tecnologia. Outro fator importante destacado por Tiago Maranhão é o caráter social no curto prazo: com a eletrônica orgânica e impressa é possível gerar eletricidade onde não tem, onde é difícil levá-la. “É possível levar rolos de 80 quilômetros de painéis solares com eletrônica impressa em cidades pobres. Esses painéis, que são feitos de vidro, passam a ser fotovoltaicos, ou seja, que transformam luz em energia elétrica. Em 2023, a previsão é de que a eletrônica impressa gere mais do que o dobro da energia que estará em segundo lugar, mais próxima dela”. Tiago Maranhão, que é engenheiro eletrônico de formação e passou dez anos na Inglaterra, onde fez MBA no setor de semicondutores, assegura que em um ano, aproximadamente, haverá produção da prototipagem, produção piloto já visando líquidos inteligentes. “Hoje, temos o disco de silício. Nós produzimos o polímero orgânico (líquido), que depois é literalmente
“É possível levar rolos de 80 quilômetros de painéis solares com eletrônica impressa em cidades pobres.
Esses painéis, que são feitos de vidro, passam a ser fotovoltaicos, ou seja, que transformam luz em energia elétrica.
Em
2023, a previsão é de que a eletrônica impressa gere mais do que o dobro da energia que estará em segundo lugar, mais próxima dela”.
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2008)”, diz o professor José Policarpo. Ele explica que até 2004, a missão da FAPEMIG era a de fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico no âmbito do Estado de Minas Gerais. A partir de 2005, passou a ser, induzir e fomentar a pesquisa e a inovação científica e tecnológica para o desenvolvimento do Estado de Minas Gerais. José Policarpo coloca a indução como palavra-chave nesse processo, no sentido de aceitar empresas como parceiros, reunindo empresa, academia e governo em benefício da sociedade, tendo como meta um desenvolvimento social-econômico sustentável.
O programa
O executivo-chefe da Csem Brasil,Tiago Maranhão Alves: “É Minas entrando no bonde dos semicondutores”
impresso em silk screen ou em off set, com tinta de prata, é uma técnica de impressão muito barata. São tintas inteligentes, é software.Vamos em busca de novas propriedades intelectuais, de patentear novas tintas”, explica.
De Minas para Londres, de Londres para o mundo
Os jornais do dia 1º de outubro de 2010 estampavam notícias sobre as eleições no Brasil, uma rebelião policial no Equador e a morte do ator norte-americano Tony Curtis, aos 85 anos. Nesse mesmo dia, o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da FAPEMIG, José Policarpo Gonçalves de Abreu, assinava, em Londres, um termo de cooperação técnica com o Imperial College de Londres e o Csem Brasil, esta representada por Tiago Maranhão Alves. O Imperial College of Science, Technology and Medicine é uma instituição britânica com forte foco em Ciência, Engenharia e Medicina. Na mais recente avaliação do Times Higher Education (THES), em 2008, ficou classificado como a 6ª melhor universidade no mundo, ficando em 4º para as áreas de Engenharia, Tecnologia e Biomedicina.
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Fundado em 1907, é considerada uma das universidades mais seletivas do Reino Unido, com taxa de aceitação de candidatos inferior a 20%. Entre seus renomados alunos estão Sir Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, o autor de ficção científica H. G. Wells, o primeiro-ministro da Índia, Rajiiv Gandhi e o guitarrista do conjunto de rock Queen, Brian May. O diretor do Centro de Eletrônica Orgânica e Impressa (CPE) do Imperial College London, Donal Bradley, um físico reconhecido internacionalmente por suas contribuições para o desenvolvimento de materiais moleculares e dispositivos eletrônicos, é co-inventor da eletroluminescência de polímeros conjugados. Para ele, que esteve na reunião de assinatura do termo de parceria com a FAPEMIG, “o Estado de Minas Gerais demonstrou ser visionário ao decidir investir em tecnologias novas e emergentes, capazes de acelerar o desenvolvimento econômico”. “A assinatura desse termo só foi possível porque houve uma mudança de mentalidade no Estado, caracterizada por uma série de fatores, como a desburocratização e uma legislação apropriada, a Lei Mineira de Inovação (Lei nº 17.348, de 17 de janeiro de
O Memorando de Entendimento em Cooperação Acadêmica, Pesquisa e Desenvolvimento, firmado entre as três instituições, é um programa de treinamento que permitirá o intercâmbio de pesquisadores, mestres, pós-doutores e PHDs, no Centro de Eletrônica Plástica (CPE) do Imperial College. Mas não apenas cientistas brasileiros terão acesso ao treinamento. Profissionais da área também poderão fazer o curso de dois a três meses. Este primeiro programa recebeu o nome de “FAPEMIG – Imperial Academy on Plastic Electronics” e prevê bolsas para 10 estudantes. O objetivo do programa é equipar estudantes com algumas das experiências básicas e conhecimento necessário para planejar, desenvolver design e trabalhos nesse laboratório, que é uma referência mundial na área
História
“O que estamos vivenciando nessa área é uma revolução. E não se pode esquecer que Minas tem uma vocação histórica para a área da eletrônica e para a indústria de semicondutores, Minas sempre teve projetos líderes no país”, afirma o diretor de Planejamento, Gestão e Finanças da FAPEMIG, Paulo Kleber Duarte Pereira. O diretor enumera alguns dos momentos que comprovam esse fato: em fins dos anos de 1960, a fábrica da RCA Eletrônica foi instalada em Contagem, para a fabricação de transistores.
Em 1972, lançada por Hindemburgo Pereira Diniz, nasceu a Transit, em Montes Claros, no Norte de Minas. Ela fechou oito anos depois, sem conseguir, no entanto, cumprir sua proposta inicial, de levar o país à autonomia tecnológica em circuitos digitais. Nesse período, em Contagem passou a funcionar a SID Microeletrônica, para produzir circuitos integrados, até então, a única fábrica que detinha todo o processo de fabricação de microcircuitos do País. O mercado permaneceu fechado desse período até os anos de 1990. A partir de 2004, contudo, iniciativas dos Governos Federal e Estadual permitiram a abertura do setor. Em 2007, foi anunciada a criação da Companhia Brasileira de Semicondutores, instalada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, perto do aeroporto de Confins, um empreendimento de US$ 500 milhões para a produção de chips customizados, mercado que movimenta por ano, no mundo inteiro, uma soma acima de US$ 300 bilhões. A iniciativa teve o apoio das Secretarias de Desenvolvimento Econômico e de Ciência & Tecnologia do Estado de Minas Gerais, além do BDMG. Duarte Pereira também destaca o Vale eletrônico no Sul de Minas como
outro exemplo da pujança do Estado no setor.
Csem Brasil
O Csem Brasil é um centro privado brasileiro de pesquisa aplicada e desenvolvimento, criado em 2006, pelo Csem SA (Centre Suisse d’Electronique et de Microtechnique) e FIR Capital, especializado em micro e nano tecnologias, engenharia de sistemas, microeletrônica e tecnologias de comunicação. No Brasil, o foco do Csem Brasil será em dispositivos inteligentes e painéis fotovoltaicos, uma vez que as demais áreas já possuem cadeias produtivas consolidadas no mundo. Com esse propósito, o Csem Brasil está construindo infraestrutura para pesquisa, desenvolvimento e suporte às iniciativas de design, produção e comercialização de soluções para setores como Saúde, Indústria e Agricultura. O Centro Csem Brasil de Eletrônica Orgânica e Impressa será o primeiro polo de referência em pesquisa aplicada, e, sobretudo, prototipagem rápida e fabricação de produtos com eletrônica impressa no País e um dos primeiros do mundo.
Foto: Marcelo Focado
Fabrício Marques
COMO A ELETRÔNICA ORGÂNICA PODE SER USADA As aplicações da Eletrônica Orgânica e Impressa permitem a produção de soluções inovadoras que se dividem principalmente em 4 categorias: • Displays e espelhos interativos; • Iluminação pública e de ambientes; • Dispositivos inteligentes e sensores diversos (temperatura, pressão, biológicos e químicos) de baixo custo; • Painéis fotovoltaicos em plástico para fachadas e coberturas. Água e energia limpa e renovável • Pesquisa e desenvolvimento de células fotovoltaicas impressas em material orgânico de baixo custo; • Sistemas de sensores em rede para monitoramento de resíduos e reservatórios de água potável, utilizando dispositivos integrados e/ou encapsulados em cerâmica. Agricultura de precisão e Pecuária • Rastreamento de alimentos, utilizando etiquetas inteligentes impressas com tecnologia de eletrônica orgânica; • Monitoração remota, monitoração portátil, rede de monitores wireless, utilizando dispositivos integrados e/ou encapsulados em cerâmica, resistentes a ambientes hostis. Saúde • Sensores bioquímicos, biométricos, sistemas de análise química em dispositivos microfluídicos, utilizando tecnologia de encapsulamento e integração em cerâmica biocompatível; • Sensores bioquímicos de baixo custo utilizando a tecnologia de eletrônica orgânica e impressa. Microssistemas para Indústria • Dispositivos flexíveis, de baixo custo, impressos em substratos orgânicos para controle de processos, sensoriamento de gases e temperatura; • Dispositivos integrados e/ou encapsulados em cerâmica a serem utilizados em ambientes hostis. Integração de sistemas microeletromecânicos (Mems), circuitos passivos e eletrônica digital. Tecnologia já utilizada em: - Sistemas automotivos (sistemas ABS, injeção eletrônica); - Aeronáutica (rede de sensores de temperatura, pressão, tilt, giroscópios); - Indústria de óleo e gás (gases, monitoramento de perfuração, rede sem fio).
Exemplos de chips já produzidos no laboratório em BH
FONTE: CSEM BRASIL
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Tecnologia
Nas asas da inovação Iniciativa pioneira no Triângulo Mineiro pode colocar no ar, em poucos anos, a aeronave AX-2 Tupã, com características inovadoras e baixo custo
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Na língua tupi-guarani, Tupã significa “Emissário de Deus”, enquanto Tupaciguara quer dizer “Terra da Mãe de Tupã”. Quis o acaso, sempre ao lado dos bons idealizadores, que o projeto de fabricação da aeronave AX-2 Tupã se desenvolvesse a partir de uma base nessa cidade da região Norte do Triângulo Mineiro, a 614 quilômetros de Belo Horizonte, com cerca de 24 mil habitantes e prestes a completar, em 2012, 100 anos de sua fundação. Segundo o coordenador do projeto, o engenheiro aeronáutico Daniel Marins Carneiro, o AX-2 Tupã é um avião de seis lugares, comercial e executivo, com características inovadoras, que podem ser percebidas em termos de conforto, baixo nível de ruído interno e externo, alta segurança, baixos índices de emissão de poluentes e que, juntamente com
“Mas até o momento, todas as iniciativas que vejo são referentes à aviação de grande porte, sem nenhuma novidade em termos técnicos, sem nenhuma inovação, de fato. Por isso, as melhorias na aviação de grande porte são pouco expressivas. Nesse ponto é que entra o diferencial do Tupã”
baixos custos de aquisição, operação e manutenção, proporcionam inovação em serviços, que será sentida na proporção do aumento da importância da aviação geral no país. Comparado com jatos executivos, diz Daniel, o Tupã tem semelhanças no visual externo e interno. As configurações são bastante parecidas, inclusive na proporcionalidade de suas formas externas. O espaço interno se assemelha bastante também. Em termos de materiais, construção, filosofia de projeto, motorização, entre outros, são muito diferentes. Mas como haverá redução de custos, se há poucos fornecedores no Brasil? “Justamente por isso. Nossa dependência de fornecedores é mínima. Esse é um dos grandes paradigmas que o conceito desse projeto pretende quebrar. Acreditamos que existem muitos pontos na indústria aeronáutica que são prejudicados pela crença de que a “terceirização” seja algo sempre positivo. É uma crença errônea. Acredito que a terceirização desmedida seja um dos grandes males das empresas”, afirma Daniel. O engenheiro explica que a FAPEMIG, que investiu na iniciativa, solicitou três consultorias externas a institutos de renome no setor aeronáutico (um nacional e dois internacionais) e o projeto obteve notas máximas em todos os quesitos técnicos apresentados. O projeto encontra-se em fase de anteprojeto, ou seja, onde definições e cálculos básicos estão sendo efetuados. A expectativa é a de que em três anos e meio o modelo AX-2 Tupã esteja pronto para comercialização, desde que, nas palavras de Daniel, o Governo consiga se agilizar e mantenha o empenho que tem sido dado até agora. A estimativa de produção de aeronaves, anualmente, vai depender, por exemplo, do montante que a Axis conseguirá obter para a fabricação e desenvolvimento do negócio (vendas,
pós-vendas etc). “Existem várias opções para metas de produção que vão além da decisão da estratégia da empresa”, diz o engenheiro. Em termos de mercado, ele acredita que existirá demanda para até 4 mil aviões por ano, mas isso não significa que irá partir para uma ação tão agressiva: “Uma coisa, portanto, é como iremos nos preparar para esse potencial. Outra coisa, é como vamos iniciar e como vamos nos sustentar nesse mercado prospectado”.
Diferencial
Ao refletir sobre o setor aeronáutico do País e em como seu projeto pode ajudar no crescimento e no avanço desse setor, Daniel avalia que o Brasil tem grande capacidade para impulsionar sua aviação: “Mas até o momento, todas as iniciativas que vejo são referentes à aviação de grande porte, sem nenhuma novidade em termos técnicos, sem nenhuma inovação, de fato. Por isso, as melhorias na aviação de grande porte são pouco expressivas. Nesse ponto é que entra o diferencial do Tupã”. Por conta das características da aeronave, o Tupã proporciona, na opinião do coordenador do projeto, uma nova dimensão para o transporte aéreo, mas pela visão da aviação de pequeno porte. Os impactos decorrentes de sua utilização serão sentidos em vários pontos da cadeia produtiva, levando desenvolvimento econômico, social e tecnológico para vários municípios brasileiros. “Esse é o maior objetivo do projeto Tupã”, frisa. Devido à iniciativa da Axis com o Tupã, o Governo de Minas Gerais decidiu que Tupaciguara fosse considerada como polo de fabricação de aviões (asa fixa), enquanto Itajubá seria a cidade sede de fabricação de helicópteros. “Mas, pelas movimentações que vejo, Tupaciguara será mais que isso. Vejo que Tupaciguara irá sediar o MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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polo aeroespacial mais expressivo do país em poucos anos. Não apenas em fabricação de aviões, mas também em termos de desenvolvimento científico e tecnológico, se as parcerias estratégicas pretendidas se concretizarem”, observa Daniel Carneiro. Em Tupaciguara, a empresa Axis Aeroespacial está instalada em um galpão localizado no Distrito Industrial da cidade, no qual será montado o protótipo do AX-2 Tupã. Depois, a sede da empresa será transferida para uma área maior, onde será instalada a fábrica de aviões, que contará com pista para pousos e decolagens de aeronaves. “A nova área já está definida, mas a data para a mudança ainda não. É necessária a solicitação de verba para a implantação da fábrica. Isso está sendo visto nesse exato momento”, informa o engenheiro.
Trajetória
Daniel tem grande satisfação em dizer que se formou no Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Lá eu tive grandes mestres que me ensinaram a projetar aviões. Quando me perguntam se foi na indústria onde eu aprendi a projetar aeronaves, eu digo que não. Na realidade, foram em dois grandes momentos”, diz. O primeiro, durante um curso na Eapac do Rio de Janeiro, com o professor Mocho, que o fez entender aerodinâmica de uma forma bastante simples, mas consolidada. “E o segundo, obviamente de imensa importân-
cia, que foi o curso no CEA da UFMG. Tive a oportunidade de realizar alguns trabalhos interessantes durante quinze anos na indústria aeronáutica, mas que me seriam impossíveis se eu não tivesse o conhecimento obtido no CEA.”, completa. No entendimento de Daniel, havia um desentendimento crônico entre empresas e governos, e foi preciso tomar uma atitude para romper esse ciclo. “Empresário brasileiro geralmente trata o Governo como ‘inimigo’. O governo, por sua vez, tem também suas dificuldades e geralmente não atende ou não consegue atender as necessidades desses empresários. Isso se arrasta por décadas. Isso sempre gerou desentendimentos que não levam nada de bom para o país”, diz. A atitude à qual se refere foi a de romper esse ciclo e chamar o governo para ser parceiro desse projeto, pois, como tem dito, em outras oportunidades, pouco importam as empresas e os governos perto da nação brasileira. “Temos que trabalhar juntos para promover um país melhor. Nós demos esse passo no caso da aviação e temos tentado outros passos em âmbitos maiores dentro do contexto aeroespacial”, ressalta.
Outros projetos
O engenheiro revela que o AX-2 Tupã é apenas o primeiro, de uma série de projetos da Axis Aeroespacial. “Eu pretendo trabalhar de modo a atender necessidades percebidas, mas principalmente as necessidades não perce-
bidas do setor aeroespacial. Para tanto, se desejamos atender segmentos não explorados, é necessário grande envolvimento em Ciência e Tecnologia”, comenta. Ele acredita que inovação radical seja conseguida somente com esse envolvimento. Por esse motivo, pretende estabelecer parceria com institutos brasileiros de Pesquisa & Desenvolvimento e universidades. Entre as intenções, Daniel Carneiro destaca duas, que consistem na participação do projeto hipersônico 14-X e no projeto de Propulsão a Laser do IEAv (Instituto de Estudos Avançados), pertencente ao DCTA.“Essa é uma iniciativa que ilustra um pouco a atitude de que acreditamos que, para termos produtos inovadores no longo prazo, temos que acompanhar de perto e fazer acontecer em Ciência e Tecnologia desde hoje. É isso o que os países desenvolvidos fizeram no passado. E o Brasil pode retomar isso”, afirma. Atualmente, o projeto AX-2 Tupã tem tido bastante destaque. Mas Daniel faz questão de observar que a AXIS não se restringe apenas ao Tupã ou a ser apenas uma fábrica de aviões: “Existem muitos outros projetos já em análise - não necessariamente de aviões - e que se mostram excelentes em termos de impacto e viabilidade”.
O começo
A ideia de criação da aeronave surgiu há 20 anos. Partiu da análise das carências no setor e avaliação das aeronaves existentes, com tecnologias obsoletas sendo as únicas opções.
Fotos: Divulgação
Tupaciguara foi escolhida para acolher o projeto por conta de topografia e logística da região, aspecto político e a presença da UFU
Imagem do projeto hipersônico 14-X do IEAv, que poderá ter participação da AXIS com o Governo de MG
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“Decidi conceber uma aeronave que fosse melhor em termos de desempenho, segurança e custos. Daí surgiu o Tupã. Posteriormente percebeu-se os impactos que esse tipo de aeronave proporcionaria, o que foi bastante emocionante”. Essa ideia foi forjada em um País que, para o coordenador do projeto, é um dos melhores mercados do mundo, e por vários fatores, como explica Daniel: o primeiro deles é a grande dimensão territorial do Brasil. Segundo, temos uma má distribuição da população dentro dessa área continental, mas vivemos em um contexto econômico propício para que a ‘centelha’ do crescimento surja, o que permitirá o desenvolvimento de cada município do país pela aviação de pequeno porte, no segmento do Tupã. “E de outro lado, possuímos profissionais qualificados em várias áreas que podem transformar o Brasil em modelo de desenvolvimento por essa aviação. Precisamos é integrar isso tudo”.
A escolha de Tupaciguara
Atualmente, destacam-se como centros brasileiros que trabalham com tecnologia aeroespacial, de modo isolado, algumas universidades, tais como UFU, UFMG, USP-São Carlos. Existe o Inpe e de forma mais abrangente está o DCTA e todos seus institutos. “Em breve, pelo que tudo indica - e importante dizer que isso tenha mais a ver com as demais iniciativas da AXIS e Governo de Minas, além do Tupã - Tupaciguara terá também um importan-
te centro em tecnologia aeroespacial”, comenta Daniel. E por que Tupaciguara? Responde o engenheiro: “Além do apoio político propiciado pela Prefeitura, a região possui aspectos interessantes no tocante à topografia e logística, além da presença da UFU com seu recém-criado curso de Engenharia Aeronáutica. De acordo com Fausto Ribeiro Machado, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, a Prefeitura Municipal de Tupaciguara/MG e o Governo do Estado construirão uma pista de pouso e testes adequada ao Projeto. Além disso, o município doará uma área de 60 mil metros, com toda infraestrutura, inclusive terraplanagem. “Mas, sobretudo, a principal contribuição da Prefeitura está compreendida no fomento e na articulação política, que viabiliza a concretização desse gigantesco passo para o desenvolvimento tecnológico nacional e mundial”, afirma Machado. Segundo o secretário municipal, em pouco tempo, além de atrair pesquisadores, investidores e profissionais afins – o que revolucionará toda sua configuração populacional e sua dinâmica funcional – Tupaciguara será projetada no cenário nacional e internacional graças a excelência científica e produtiva da indústria aeroespacial.
Diálogo acadêmico
Outro fator importante no processo é a Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Para o professor Valder Steffen Jr, pesquisador 1-A do CNPq e coordenador do INCT de Estruturas Inteligentes em Engenharia, existem várias vertentes possíveis para a UFU no relacionamento com a empresa responsável pela aeronave Tupã. Primeiro, há o aspecto mais acadêmico com benefício direto para os alunos de engenharia em geral e de engenharia aeronáutica, em particular. Depois, existe a possibilidade de realização de trabalhos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico com a participação de docentes-pesquisadores e de estudantes (graduação, mestrado e doutorado).
“A UFU está organizada para cooperar de maneira institucionalizada”, diz Seteffen Jr. Ele observa que existem casos em que isso acontece com a intervenção de uma de suas fundações de apoio, no caso a FAU. Esta fundação tem a responsabilidade de administrar financeiramente projetos com agências oficiais de fomento como, por exemplo, a FAPEMIG e a Finep. Na avaliação de Steffen Jr, com o desenvolvimento do projeto, a região do Triângulo poderá se tornar um polo da aviação no país, pois existem as condições fundamentais para que isso aconteça no médio prazo. “Temos uma grande universidade pública com forte vocação na área de engenharia (a UFU), existe o interesse do setor público (Governo Federal, Estadual e Municipal), e contamos com uma classe empresarial ousada e competente, reunindo, portanto, condições bastante favoráveis”, aponta. Ele também lembra que a UFU tem boa experiência na realização de projetos de pesquisa aplicada, com o envolvimento de empresas e com financiamento governamental. “Além disso, cabe destacar que está em pleno funcionamento o INCT de Estruturas Inteligentes em Engenharia (INCT-EIE), que atua em várias frentes de pesquisa relacionadas a problemas normalmente encontrados na área de engenharia aeronáutica e afins”. O INCT, esclarece o professor, atua como uma rede de pesquisa com a participação de vários grupos de pesquisa importantes do país (UnB, ITA, USP-São Carlos, Coppe/ UFRJ, Unesp-IS, além da UFU como instituição sede) e também do exterior (USA, Canadá, França, Inglaterra e Dinamarca). “Isso significa que, além dos recursos humanos disponíveis na própria instituição, conta-se com a cooperação de um número expressivo de pesquisadores e de instituições de prestígio nas várias áreas da engenharia atendidas pelo INCT”. Projeto: Aeronave AX-2 Tupã Coordenador: Daniel Marins Carneiro Valor: R$ 2.193.474,00 Fabrício Marques MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Comportamento
O comércio que virou lazer Mais que oferecer produtos rurais, as feiras se mantêm na rotina do cidadão como espaço de confraternização social e de negócios
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Numa época em que os grandes supermercados ganham cada vez mais espaço nas cidades, seja nas capitais ou no interior, um antigo hábito permanece inabalável: o de ir à feira. Esse tipo de comércio ao ar livre acompanha a história da humanidade e nunca sai de moda. Aliás, assim como as vitrines, as feiras mudam a cada estação e, por que não, a cada geração. É isso que mostra a pesquisa conduzida por uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal de Alfenas, liderada pelo professor Marcelo Lacerda Rezende, com o apoio da FAPEMIG. A feira ainda é procurada para a compra das verduras fresquinhas, frutas da estação vindas direto do campo, mas também, pouco a pouco, novos atrativos ganham espaço. Com o objetivo de pesquisar hábitos de consumo nas feiras livres no Sul de Minas Gerais, o grupo percorreu cidades polo da região, como Alfenas,Três Pontas, Pouso Alegre, Itajubá, Poços de Caldas e São Lourenço, para fazer uma radiografia, não só do aspecto comercial, mas principalmente social. “A principal surpresa foi constatar que a feira é um ambiente que vai além da questão da compra, com forte interação entre as pessoas”, comenta Rezende, e se engana quem pensa que feira é apenas lugar para se escoar os produtos agrícolas. Sim, é mesmo o local onde se compra frutas frescas e verduras direto da roça, mas as hortaliças dividem espaço com artesanato, com roupas e até com pregações religiosas.“Encontramos um pastor que vai à feira todo domingo para pregar e atender os fiéis da igreja dele”, lembra o professor.
A origem das feiras livres nos remete ao tempo do escambo, das trocas comerciais. Os produtos que sobravam nas propriedades rurais eram negociados com os vizinhos, mas com o aumento da demanda houve a necessidade da designação de um ambiente próprio para o comércio. As vendas continuam sendo o principal atrativo das feiras livres. De acordo com o resultado da pesquisa, 90% do público que passa por uma feira volta para casa com algum produto. Mas, apesar disso, o estudo também destaca que o comércio ao ar livre tem ganhado cada vez mais fortes contornos sociais e culturais. “A feira representa um pouco da sociedade daquele município. É quase uma mostra do que está acontecendo ali e aí essa parte da cultura a gente vê muito presente. Às vezes tem música, apresentação cultural, pessoas divulgando campanhas de prevenção contra doenças”, garante Rezende.
Metodologia da pesquisa
O estudo das feiras no Sul de Minas começou em 2007 e a metodologia envolveu entrevistas não-estruturadas com os responsáveis pela organização das feiras nas prefeituras dos municípios visitados. Além disso, também foram realizadas pesquisas de opinião com cinquenta frequentadores das feiras de cada uma das cidades estudadas. O objetivo era identificar o perfil socioeconômico do consumidor. De acordo com Marcelo Lacerda Rezende, a feira reúne elementos suficientes para traçar a identidade de um povo. “É uma representação do que acontece naquela sociedade”, reforça. A partir da análise dos dados foi possível concluir que o público frequentador das feiras em Alfenas, Três Pontas, Pouso Alegre, Itajubá, São Lourenço e Poços de Caldas é bastante heterogêneo, em relação a idade, renda, escolaridade e profissão. A média das idades, por exemplo, varia entre 43 e 52 anos, e a
renda das famílias é, na média, superior a R$ 1.500. Os produtos mais procurados, em todas as cidades em estudo, são verduras e legumes. As frutas também são requisitadas pelos consumidores nas feiras, apresentando uma porcentagem de procura acima de 90% em quase todas as cidades. A única que não entra neste grupo é Três Pontas, que apresentou uma porcentagem de 56,25%. “Essa diferença no consumo de frutas em Três Pontas foi uma das particularidades. Percebemos que lá as pessoas encontraram outras opções para o consumo do produto, assim como em Poços de Caldas detectamos grande participação dos turistas”, pontua Rezende.
Alerta à saúde
Mesmo com a variedade das atividades possíveis em uma feira, o estudo desenvolvido no Sul de Minas mostra que o consumo ainda é o mais forte. “Pode-se perceber que nas seis cidades estudadas, mais de 90% dos passantes são consumidores da feira livre”, assegura o líder da equipe, professor Marcelo Lacerda Rezende, no relatório final do trabalho. O alto percentual de consumo pode ser associado à ideia de que a feira é um local propício para a obtenção de alimentos que proporcionam uma alimentação saudável, o que não é totalmente verdade. O estudo alerta para a falta de fiscalização nas feiras livres das seis cidades visitadas. “Vimos venda de alimentos prontos, mas não vimos a fiscalização. Não há garantia do que está sendo vendido ali”, ressalta. Estudos como esses são fundamentais para subsidiar políticas de saúde e nutrição. Somente assim será possível estabelecer estratégia de atuação, tanto no campo econômico, como no social. Carolina Braga
Foto: Divulgação
Movimento de consumidores na feira de Alfenas
Perfil das Cidades O estudo das feiras livres foi desenvolvido em seis cidades-polo do Sul de Minas Gerais. Conheça os municípios Alfenas População: 73.722 habitantes Dia da feira: quarta e domingo Três Pontas População: 53.825 habitantes Dia da feira: sábado Pouso Alegre População: 130.586 habitantes Dia da feira: quarta e domingo Itajubá População: 90.679 habitantes Dia da feira: sábado e terça Poços de Caldas População: 152.496 habitantes Dia da feira: sábado e sexta São Lourenço População: 41.664 habitantes Dia da feira: domingo e quarta
Projeto: Organização local e hábitos de consumo: estudo das feiras livres da região sul de Minas Gerais Modalidade: Demanda Universal Coordenador: Marcelo Lacerda Rezende Valor: 9.480,00
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Por dentro da Mata Seca Sistema tem o objetivo de entender como as áreas degradadas se regeneram após a ação humana 22
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Foto: Mário Marcos
Meio ambiente
As áreas de Mata Seca, também conhecidas como florestas estacionais deciduais ou florestas tropicais secas, aparecem de forma isolada em alguns estados brasileiros. Apesar de controvérsias, são atualmente classificadas como parte da Mata Atlântica. Esse tipo de vegetação ocorre em regiões de clima sazonal, assim como o Cerrado, mas se diferencia das demais porque as árvores são mais altas – têm porte florestal – e ocorre queda nas folhas de mais de 50% das plantas, principalmente nos meses mais secos. Minas Gerais é um dos locais com a maior concentração de Mata Seca no País. No Norte do Estado, vários municípios às margens do Rio São Francisco têm essa formação vegetal. Desde 2006, a região é estudada por pesquisadores da Universidade de Montes Claros, a Unimontes. A princípio, foram realizados trabalhos dentro de uma Rede Colaborativa de
Pesquisas multinacional chamada Tropi-Dry. Os objetivos eram conhecer melhor as mudanças no uso da terra nas florestas tropicais secas e, a partir daí, desenvolver ações de preservação, tanto de sua biodiversidade, como dos modos de vida dos povos tradicionais que subsistem dos seus recursos naturais. Na visão dos estudiosos, o primeiro trabalho foi bem sucedido, especialmente porque conseguiu aproximar a academia do poder público. Do ponto de vista dos pesquisadores, houve uma influência decisiva na política ambiental na região. “Nós ficamos mais perto do Ministério Público e conseguimos dar suporte científico na ação de inconstitucionalidade à lei estadual que permitia até 70% de desmatamento nas áreas de matas secas”, argumenta o coordenador da pesquisa, o biólogo Mário Marcos do Espírito Santo, referindo-se à Lei 19.096/2010, que visava normatizar o uso da terra em áreas de Mata Seca no Norte de Minas. Agora, a intenção dos pesquisadores é continuar esse e outros trabalhos na nova fase de estudos. A partir da rede Tropi-Dry, foi criada a rede temática “Biodiversidade e Regeneração Natural em Florestas Tropicais Secas Brasileiras”, que tem como objetivo realizar estudos mais aprofundados sobre a vegetação em Minas e no Nordeste brasileiro. Essa nova rede pertence ao recém-criado Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade, gerenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Dessa vez, os estudos serão realizados em unidades de conservação na Serra do Cipó, na região Central do Estado e no Norte de Minas, além de uma área na Paraíba, com o apoio da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As novas pesquisas, que têm o financiamento da FAPEMIG, começaram em dezembro de 2010 e seguem até dezembro de 2013. Segundo o biólogo, graças ao trabalho iniciado com a Trop-Dry foi possível para o grupo de pesquisas participar do Sisbiota. Os protocolos científicos usados anteriormente servirão para ajudar a entender como as Matas Secas se regeneram após a ação do homem, não só a biodiversi-
dade, mas também o funcionamento do ecossistema. Além disso, as informações serão utilizadas para programas de recuperação de áreas degradadas por meio da restauração ecológica. Nessa etapa, outros grupos de organismos também serão avaliados e a quantidade de áreas de estudo será aumentada na Serra do Cipó e no Norte de Minas (veja mapa). Antes, a maioria das investigações foi restrita à margem esquerda do rio, no Norte de Minas. “Agora vamos estudar as bactérias e fungos do solo, mosquitos vetores de doenças, cupins, aves, morcegos, besouros e formigas”, justifica o coordenador. O estudo dessas bactérias do solo, por exemplo, pode resultar na descoberta de novas espécies que podem estimular o crescimento vegetal, com possível utilização na agricultura. Os mosquitos vetores de doenças são responsáveis pela transmissão de diversas enfermidades. É possível que o desmatamento aumente as populações desses mosquitos, com sérios prejuízos à saúde humana e animal. Outros organismos, como besouros e cupins, ajudam a manter a fertilidade do solo, evitando seu esgotamento e diminuição da produtividade agrícola. As aves e morcegos podem controlar insetos considerados pragas na agropecuária, além de promover a polinização e a dispersão de sementes de plantas cultiváveis. O objetivo de estudar a Mata Seca em dois Estados é comparar a biodi-
versidade e como ela se regenera em diferentes partes do Brasil. No Norte de Minas serão estudadas as áreas que ficam à margem direita do São Francisco. Antes os estudos eram concentrados no Parque Estadual da Mata Seca, em Manga (a 720 quilômetros de Belo Horizonte). Além do município, dessa vez será feita a consolidação dos dados coletados anteriormente e será verificada a influência da separação geográfica provocada pelo rio sobre a diversidade de organismos. Para isso, as coletas serão realizadas em Matias Cardoso, no Parque Estadual Lagoa do Cajueiro, e em Jaíba, nas Reservas Biológicas de Serra Azul e de Jaíba. Segundo o coordenador, diversos estudos já mostraram que rios de grande porte, incluindo o próprio Rio São Francisco, são barreiras à dispersão dos animais e de propagação das plantas. Assim, a flora e a fauna de cada margem do rio podem passar por processos evolutivos distintos. “Se a biodiversidade for diferente em cada margem, é possível que estratégias de conservação distintas tenham que ser empregadas”, completa. A rede é formada por 25 professores da área de ciências biológicas, sensoriamento remoto e sociologia e é composta de dois projetos diferentes. O primeiro fará um levantamento da biodiversidade e o outro se focará na parte social. O objetivo é avaliar os conflitos entre unidades de conservação e as comunidades tradicionais de cada região de estudo, como eles se
Foto: Mário Marcos
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relacionam com os parques. Os estudos já mostraram, de acordo com o pesquisador, que várias unidades de conservação do Norte de Minas foram delimitadas dentro do território de povos tradicionais, como quilombolas e vazanteiros. “Isso limita o acesso deles ao seu modo de vida tradicional e afeta sua capacidade de subsistência. Além disso, as populações passam a ver o parque como um ‘estorvo’, o que pode limitar a eficácia da criação de unidades de conservação enquanto estratégia de conservação”, esclarece. As equipes também deverão fazer trabalhos de educação ambiental com profissionais das áreas de biologia e ciências sociais, direcionados aos moradores do entorno das áreas de florestas secas.
Os resultados
Recentemente, os dados biológicos obtidos pelo projeto ajudaram a legitimar a classificação das matas secas como uma formação vegetal da Mata Atlântica; além disso, mostraram que a flora e a fauna da região são bastante diversas e possuem muitas espécies endêmicas. Os dados de sensoriamento remoto mostraram que 12% da cobertura vegetal de mata seca foram perdidos nos últimos 20 anos, um ritmo acelerado de destruição que deve ser refreado para evitar a degradação ambiental no Norte do Estado. Os dados socioeconômicos mostraram que o desmatamento para a pecuária
gera poucos empregos por hectare e não reduzirá a pobreza na região; além disso, mostraram que pode haver expansão da pecuária na região sem desmatamento, pelo aumento da baixa produtividade atual; finalmente, esses dados mostraram que a maior parte das matas secas que seriam desmatadas está dentro de grandes latifúndios, sem benefícios para pequenos produtores. Essas informações foram reunidas em uma nota técnica entregue ao Ministério Público, que a utilizou como suporte para defender a inclusão das matas secas no regime de proteção da Mata Atlântica.
Foto: Felisa Anaya
Vazanteiros que vivem às margens da Iha da Ressaca, no Rio São Francisco, município de Matias Cardoso
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Rede Tropi-Dry
Tropi-Dry é a abreviação de Tropical Dry Forests (Florestas Tropicais Secas). A rede foi criada em 2004 na Universidade de Alberta, no Canadá, e tem núcleos de pesquisa em sete países americanos (Brasil, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, México, Panamá e Venezuela). O objetivo é desenvolver estudos similares em cada país, perceber os resultados em cada local para estabelecer padrões de conservação e recuperação das florestas nessas regiões. A rede multidisciplinar é formada por profissionais de diferentes áreas, como biologia, geografia e ciências sociais. Reunida, essa equipe obtém informações extremamente relevantes para o desenvolvimento de políticas públicas para a ocupação sustentável das florestas tropicais secas.
Como funciona o ecossistema
Os grupos a serem considerados no estudo participam de diferentes funções do ecossistema: as plantas são as responsáveis pela produtividade primária da floresta e servem de alimento e abrigo para vários animais; as bactérias e fungos do solo aumentam a fertilidade do solo e podem influenciar o crescimento das plantas; os cupins, besouros - conhecidos na região como “rola-bosta” - e as formigas são muito importantes para a decomposição de nutrientes e servem de alimento para vários animais vertebrados; as aves e morcegos são importantes polinizadores e dispersores de sementes. Entender como essas funções se regeneram é extremamente importante para estratégias de recuperação de áreas degradadas. Ana Flávia de Oliveira Projeto: Biodiversidade e regeneração natural em florestas tropicais secas brasileiras Modalidade: Ação Transversal/ FAPs Nº 47/2010, chamada 2, Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade - SISBIOTA Brasil Coordenador: Mário Marcos do Espírito Santo Valor: R$ 494.330,46 Mapa: Carlos Magno Santos Clemente
Opinião Foto: Netun Lima
Inovação no Brasil Realidade ou Mito? *Paulo Gazzinelli
Lembro-me como se fosse ontem. Fora aprovado o texto do Capítulo de Ciência e Tecnologia, na Constituição Mineira de 1989 como queríamos. Mais ainda, disposição constitucional designava a FAPEMIG como única gestora dos recursos estaduais destinados ao financiamento de projetos de pesquisa científica e tecnológica em Minas Gerais. A comunidade científica sentia-se, enfim, recompensada pelo esforço de convencimento. Logo, logo, porém, a alegria foi eclipsada pela preocupação. Como gerir com competência e isenção tal volume de recursos de forma a assegurar resultados concretos para a sociedade? Especialistas multidisciplinares da ONU, convidados a avaliar a situação e opinar sobre prioridade foram unânimes: “sem relegar ao segundo plano a produção de conhecimento básico, como previa o capítulo de C&T da Constituição, deve-se investir em inovações tecnológicas capazes de promover a competitividade, no nível internacional, de produtos e serviços nacionais”. Passados vinte e cinco anos da criação da FAPEMIG, agora como mero espectador, ainda tenho dificuldade em responder à pergunta título deste comentário sem avaliar outras questões que persistem em afligir o país. Enumeramos algumas delas como base de argumentação: • O país dispõe de número adequado de empresas e órgãos de pesquisa tecnológica com ambientes inovadores capazes de motivar a criatividade? • A infra-estrutura nacional de análise de processos de pedido de patente é suficientemente ágil para garantir que o produto inovador seja lançado no mercado no tempo necessário para garantir sua competitividade? • O sistema acadêmico brasileiro tem se preocupado em formar profissionais, em número e qualidade, para o exercício, rotineiro, da criatividade? Se a resposta for não, precisamos, com urgência, corrigir nossas políticas: edu-
cacional, de propriedade intelectual e de pesquisa científica e tecnológica como forma de tentar recuperar o tempo perdido. Quando falamos em política educacional estamos falando não apenas do sistema universitário, mas educação em todos os níveis. Temos profissionais com boa qualidade técnica, mas para um processo continuado de inovação precisamos de talentos capazes de transformar ideias em serviços e produtos competitivos. Segundo Guifford Pinchot, “ideias são como insetos, muitos nascem, mas poucos chegam à maturidade”. Inovação sistemática não é fruto de modismos. Resulta da formação de uma cultura em todas as atividades socioeconômicas do país – escolas, hospitais, prestação de serviços públicos e privados e empresas privadas. Empresários que imaginam ser possível, comprando equipamentos de última geração, competir no nível internacional estão fadados a desaparecer. Tecnologia se torna obsoleta rapidamente. Talento se recicla. Outro equívoco é pensar que qualquer ambiente é propício ao surgimento de inovações. Ambientes conservadores dificultam o fluxo fácil da informação - matéria prima fundamental da criatividade - constrangem o intercâmbio dos profissionais com o mercado, confundem produtividade com metas, regras e procedimentos alcançados. O ambiente inovador depende muito menos de recursos financeiros que da capacidade de adaptação às exigências dos mercados e do aparecimento de novas tecnologias. O ambiente inovador é aberto à opiniões divergentes e ao trabalho em equipe, muitas vezes conflituosos. Acreditar que um profissional com remuneração incompatível com as praticadas no mercado seja criativo é ingenuidade ou incompetência gerencial. Práticas que têm dificultado o ingresso do país no processo cultural da inovação são o corporativismo e o ufanismo. Ações corporativas assumidas na ilusão de que recursos financeiros irão assegu-
rar a longo prazo, recuperação de organizações que insistem em não se reciclar e resistem à ideia de terminar programas e serviços de baixa competitividade ou com persistente deterioramento técnico resultam apenas em desperdício de recursos públicos. O financiamento de projetos de P&D sob a ótica de manter vivos grupos de pesquisa com baixa qualificação técnica ou pequena “massa crítica” não tem resolvido o problema principal que se situa, de uma forma geral, na gestão inadequada e no excesso de confiança nas possibilidades da instituição. Números nos ajudam a ver melhor os descompassos com a realidade. Em 2006 o Japão, os Estados Unidos e a Coréia conseguiram registrar, respectivamente, quinhentos mil, quatrocentos mil e cento e sessenta mil pedidos de registro de patente. Neste mesmo ano o INPI conseguiu acatar seis mil pedidos. Pouca criatividade? Trâmites burocráticos demorados? Falta de treino para conduzir o processo? São fatores que somados levam à baixa competitividade do nosso setor industrial. A tarefa pela frente é hercúlea, mas deve ser realizada se quisermos entrar no mercado de produtos com elevado valor agregado. Se continuarmos – governo, educadores, pesquisadores e empresários – por oportunismo de curto prazo, a ignorar a premente necessidade de mudanças estruturais básicas urgentes estaremos condenando o país a atravessar mais este século como um imenso exportador de commodities. A FAPEMIG, não só pelo volume de recursos de que dispõe, mas principalmente pela sua conquistada penetração e respeito junto aos pesquisadores, empresários e educadores tem papel de destaque neste processo, o qual, para surtir efeito nas próximas décadas, deveria começar hoje. *Ex-diretor Científico da FAPEMIG Consultor em Planejamento e Gestão de C&T MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Entrevista
“A primeira prioridade é desburocratizar” Para a geneticista, o governo precisa dar condições para os cientistas brasileiros a fim de que eles exerçam todo o seu potencial
“As universidades precisam acabar com essa Muralha da China, que é se recusar a pensar em uma pesquisa que vire produto, como se fosse horrível o cientista querer ganhar dinheiro com a pesquisa”. A autora dessa frase é a geneticista Lygia da Veiga Pereira, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade do Estado de São Paulo (USP). Dona de opiniões fortes e claras, Lygia deu a declaração que abre este parágrafo ao repórter Gilberto Scofield Jr, do jornal O Globo, em fevereiro de 2011. A equipe que ela coordena foi a primeira do Brasil a extrair e multiplicar células-tronco retiradas de embriões congelados. Nesta entrevista à MINAS FAZ CIÊNCIA, ela dirige seu olhar crítico, fundamentado em anos de experiência, contra a burocracia que muitas vezes entrava a pesquisa científica no país.
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verba, e a empresa tem que entrar só com 20% para fazer inovação; existem leis de incentivo fiscal, uma espécie de lei Rouanet da Ciência, e que a empresa pode usar parte do dinheiro que ela pagaria de imposto para investir em pesquisa dentro da instituição. Então já existe uma série de ações para fomentar a pesquisa e inovação dentro da iniciativa privada.
A sua equipe foi a primeira do Brasil a conseguir extrair e multiplicar células-tronco retiradas de embriões congelados. Em que estágio encontram-se agora as pesquisas lideradas pela senhora, relacionadas com o tema? Hoje em dia, em nossas pesquisas seguimos extraindo células-tronco embrionárias de mais embriões. Naquela época anunciamos a linhagem BR1, agora já estamos na BR5, e a ideia é tentar novos métodos e novas condições de cultura para esses embriões, essas células-tronco embrionárias, e eventualmente estamos com financiamento dos Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Saúde para construir um centro de tecnologia celular, que é um laboratório com condições de estabelecermos novas linhagens de células embrionárias, mas agora para uso em seres humanos. Se você quer uma célula para usar em seres humanos, existe um rigor muito maior nas condições de esterilidade, no controle de todos os materiais. A nossa meta é essa e esperamos que esse laboratório esteja pronto até o fim deste ano.
sileiro, que deem mais agilidade para que possamos adquirir reagentes e testar novas ideias.
O que é necessário para o País deixar de ser apenas fornecedor de matéria-prima e importador de tecnologia? Eu acho que a gente precisa de vontade política, vontade política para levar a sério a Ciência, para melhorar as condições de se fazer ciência no Brasil. Eu posso entender que não haja recursos suficientes no Brasil. Enfim, há uma série de questões a serem resolvidas, como educação, saúde... Então, eu até entendo que o orçamento de Ciência tenha que ser limitado, mas existem outros entraves graves para pesquisa no Brasil. A burocracia, nossa dependência em importação de reagentes e a dificuldade dessas importações, que é pura vontade política: é só o Governo Federal prestar atenção nisso e criar leis ou regulamentos que facilitem a vida do pesquisador bra-
Que ações podem ser estabelecidas para que a iniciativa privada também participe de ações científicas, por exemplo, contratando doutores? Ao mesmo tempo, a senhora questiona, se a iniciativa de fomentar a pesquisa é limitada, de que forma as empresas privadas podem ajudar? Existe uma consciência muito grande do governo federal, do governo do Estado de São Paulo, da importância de se atrair a iniciativa privada a fim de que uma pesquisa seja feita, para que haja Pesquisa de Desenvolvimento e Inovação dentro das empresas. Isso tem sido promovido, por exemplo, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) [empresa pública vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia]; há fundos de investimento em que a Finep entra com 80% da
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A senhora também destacou a limitação que a burocracia impõe, principalmente na importação de materiais, já que, em sua área de pesquisa, 90% do material é importado. De que forma o governo cria dificuldades para que este material chegue até vocês? O governo cria dificuldades na medida em que ele trata uma importação de material científico de material para pesquisa - a importação por um pesquisador financiada por ele mesmo, o governo - como uma importação normal, como de qualquer pessoa. Assim, até que se prove o contrário, nós somos potenciais contrabandistas. Entramos nos trâmites normais de processamento de materiais importados, o que demora muito. E essa demora, para se ter uma idéia, nos Estados Unidos, um reagente, quando uma pessoa precisa, o reagente está no dia seguinte na bancada. Aqui eu entendo que não possa estar no dia seguinte, mas demorar 30, 45 dias, 60 dias por causa de toda uma burocracia relativa a uma importação é você dizer para um pesquisador que o que ele está fazendo não tem muita importância, pode ficar esperando 60 dias para continuar o seu trabalho! Eu não conheço a legislação direito, mas deveria se investir em criar mecanismos, em que, por exemplo, os pesquisadores com verbas do CNpq, pesquisadores cadastrados no CNPq, tivessem os trâmites muito mais rápido para importar reagentes e equipamentos.
Quais as principais diferenças burocráticas que ficam mais evidentes, quando se compara as posturas de países como o Brasil e os Estados Unidos, por exemplo? Os Estados Unidos não têm esse problema da importação porque basicamente os reagentes estão todos lá, então essa burocracia da importação não se aplica. Agora, uma coisa que é muito diferente entre os Estados Unidos e o Brasil é de novo uma agilidade de contratação de gente: como no Brasil a maior parte da pesquisa é feita dentro das Universidades Federais e Estaduais, temos uma limitação muito grande em contratação de pessoal, você tem que esperar abrir concurso, por exemplo. No entanto, gostaríamos que, se eu estou precisando de um pesquisador que tem uma habilidade especifica, eu quero ele agora, não quero ter que batalhar para abrir uma vaga e, também, não quero que necessariamente essa pessoa tenha um emprego vitalício, que é o que eles conseguem com esses concursos. Quer dizer, a pesquisa na Universidade deveria adotar um profissionalismo mais parecido com o da iniciativa privada, com mais versatilidade para poder contratar mais gente, sem que essa pessoa passe a ser um funcionário público, com tudo que isso acarreta. Nos Estados Unidos isso não existe. Foto: Divulgação
Um dos poucos consensos sobre a ciência no País é que ela deve se internacionalizar, com a ocorrência de parcerias internacionais, aumentando o diálogo com pesquisadores de outros países. A senhora acha que nosso ambiente atual (político, acadêmico) favorece essa internacionalização? Sobre internacionalização, eu acho fundamental termos uma visibilidade maior. Eu conheço vários casos de pesquisas excelentes feitas aqui no Brasil e que na hora do artigo ser publicado e submetido ele foi tratado com uma desconfiança e um rigor por parte da comissão examinadora. O ambiente acadêmico é muito propício, a colaboração internacional é muito desejada dentro da academia. Quanto ao ambiente político, não sei se ele favorece ou não.
que artigos científicos. Diferentes profissionais têm diferentes vocações, tem gente que fala bem e consegue traduzir bem e fazer bem a divulgação científica, e isso tem que ser valorizado. Ao mesmo tempo, há pessoas que não são boas nisso, mas por outro lado têm uma produção acadêmica muito boa. Enfim, todas as atividades docentes e de ensino, pesquisa e extensão - e na extensão essa divulgação cientifica é fundamental. É complicado fazermos uma equação de qual é a média ponderada que a gente vai fazer dessas três atividades para medir a produtividade das pessoas, mas eu acho bacana o presidente do CNPq declarar a importância de atividades outras do que o número de artigos científicos para se avaliar a produtividade de um pesquisador.
O novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, disse que é preciso valorizar, na avaliação do mérito acadêmico, a inovação e o engajamento em atividades de divulgação científica, diminuindo a ênfase no número de publicações. A senhora concorda? A atividade de divulgação científica é muito importante, mas não acho que isso tenha que ser comparado, que seja melhor ou pior do
Quais devem ser as prioridades para a ciência brasileira nos próximos anos? A primeira prioridade é desburocratizar, é dar condições para os cientistas brasileiros a fim de que eles exerçam todo o seu potencial. Os cientistas brasileiros têm cabeças ótimas, são criativos, são inteligentes. Quando eles vão para fora do país, encontram as condições adequadas para exercer todo esse potencial e os resultados são ótimos. Então a gente precisa criar essas condições aqui. Eu entendo limitações orçamentárias, o que eu não entendo são as limitações burocráticas, coisas que dependem só de vontade política. Acho que isso é uma prioridade muito grande. E a segunda prioridade é essa internacionalização, fazer a pesquisa brasileira estar mais próxima da pesquisa internacional, divulgar mais, dar maior visibilidade ao que é feito aqui no Brasil para que a ciência brasileira seja levada mais a sério. MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Nanoesfera
Os
da
contornos
esperança
Estruturas minúsculas, as nanoesferas magnéticas desenvolvidas por equipe da Unifei indicam novos caminhos para diagnóstico e terapia do câncer 30
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Para o filósofo e matemático Pitágoras (570 a.C. – 496 a.C.), princípios lógicos e estéticos explicariam a “silhueta” do planeta Terra: no entender do pensador grego, os deuses teriam escolhido o formato de “esfera” por tratar-se da única figura geométrica categoricamente perfeita. Passados séculos da divulgação dos pressupostos pitagóricos, e para além de questões cósmicas e metafísicas, a perfeição dos contornos arredondados retorna à arena dos debates científicos. No século XXI, contudo, o que se investiga, de modo bastante específico, é o auxílio de pequeninos “objetos” esféricos, construídos em escala nanométrica, ao diagnóstico e combate da grave doença que há tempos aflige a humanidade: o câncer. Fruto de estudos iniciados ainda na graduação pelo físico Vinícius Fortes de Castro, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), estes minúsculos “objetos” respondem pelo nome de “nanoesferas magnéticas” e têm-se revelado promissores não só na identificação de células cancerígenas, como no próprio tratamento da enfermidade. Hoje graduando de Engenharia de Materiais pela mesma Unifei, onde também realiza mestrado sob orientação do professor Álvaro Antonio Alencar de Queiroz, Castro investe no desenvolvimento, em laboratório, de nanoestruturas biocompatíveis – que não provocam reações químicas adversas ao transitar pelas veias do corpo – capazes de identificar e eliminar tumores em diversas regiões do organismo.
Em busca de tais objetivos, a escolha do formato das nanoestruturas revelou-se o primeiro e importante passo da pesquisa. Nesta etapa – e de modo similar aos deuses de Pitágoras –, o pesquisador enxergou nos contornos esféricos a solução ideal para sua invenção: “Dentre as figuras geométricas, as esferas são as que melhor se adaptam, em termos de volume e área, ao canal das veias humanas”, explica Castro, ao comentar que, finda a etapa de definição da forma, logo seguiu à investigação dos elementos químicos que comporiam sua “criatura” nanométrica. No Centro de Estudos e Inovação de Materiais Funcionais Avançados do Parque Tecnológico da Unifei, após inúmeras experiências, o físico acabou por sintetizar nanocompósitos condizentes com as principais metas do estudo: “Criamos nanoesferas formadas por ítrio, ferro e alumínio e as revestimos com um material polimérico compatível com o sangue humano, descreve o pesquisador, ao comentar que tal composição é inédita no mundo. Importante ressaltar, porém, que, mesmo antes das experimentações laboratoriais da pesquisa, as características dos materiais utilizados por Castro já haviam sido detalhadas pela literatura especializada. O que os cientistas desconheciam eram os efeitos da atuação, no organismo humano, de nanocompósitos formados a partir, justamente, da original fusão entre ítrio, ferro e alumínio, elementos químicos sempre descritos como bons condutores de calor e dotados de propriedades magnéticas.
Trata-se de dimensões da ordem de “um milionésimo de metro”. Na escala nanométrica, os átomos revelam características peculiares e apresentam, por exemplo, tolerância à temperatura, reatividade química, condutividade elétrica ou extraordinária força de intensidade.
Apesar da referência aos efeitos das nanoesferas em seres humanos, a pesquisa ainda se encontra no estágio de estudos pré-clínicos. Todas as constatações aqui apresentadas dizem respeito a investigação com animais.
Microscópio Eletrônico de Varredura com Sonda EDS, utilizado na caracterização das nanoesferas magnéticas
Fotos: Lázaro da Silva
O pesquisador Vinicius Fortes de Castro ao lado de seu orientador, Alvaro Antonio Alencar de Queiroz MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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De olho nelas
Reator de Polimerização para síntese das nanoesferas; no detalhe, a estrutura minúscula vista por dentro
Ciente do comportamento das nanoesferas, em consequência da natureza de seus componentes, Castro buscou, então, estimulá-las por um campo magnético, o que as transformou, imediatamente, em “suportes” para condução de calor. Daí surgiu a hipótese central do referido estudo: se aquecidas a temperaturas entre 41°C e 42°C, as nanoestruturas poderiam, no organismo de futuros pacientes, provocar a morte de células cancerígenas por hipertermia. Em outras palavras: “Em contato com as nanoesferas, as células tumorais absorveriam calor e, certo tempo depois, eliminadas pelo organismo”, resume o pesquisador.
Nanoestruturas, mega-desafios
Para que o mecanismo da Magnetohipertermia possa beneficiar diretamente a medicina oncológica não basta o desenvolvimento de materiais magnéticos e biocompatíveis. Em seu estudo, Castro observou a necessidade de superação de outro desafio, dessa vez regido pelas “leis” da nanodimensão: como fazer para que as nanoestruturas fluam satisfatoriamente pelo sistema circulatório,
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sabendo-se que o diâmetro das delicadas veias humanas possui cerca de 16 micrometros? A solução viria após muito e muito trabalho: “Desenvolvi nanoesferas muito pequenas, na escala nanométrica (1 nm = 10-9 m ou, em outros termos, a um milionésimo de milímetro). O procedimento para chegar a essa dimensão foi bastante árduo e complicado”, garante. Na verdade, para que se adequassem às dimensões ideais de tráfego nas veias, as nanoesferas precisaram passar por diversos – e sofisticados – “processos de caracterização”. Em resumo, trata-se de múltiplos mecanismos de análise das propriedades das nanoestruturas, que podem ser melhor trabalhadas – ou, metaforicamente, “esculpidas” – de acordo com as necessidades de ação no organismo. “O mais importante dos processos de caracterização é a conferência da textura da nanoesfera, quando verificamos, por exemplo, se ela tornou-se lisa ou rugosa”, conta o físico, ao ressaltar que, entre outros tantos e complexos procedimentos de verificação, há, até mesmo, estudos de morfologia realizados com o auxílio de uma moderna técnica microscópica, o Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV).
Como forma de tornar as nanoesferas visíveis quando incorporadas pelo tumor, a proposta do pesquisador foi adicionar Sulfeto de Zinco (ZnS), que possui ótimas propriedades óticas, às nanoesferas. O resultado não poderia ser melhor: quando excitadas com radiação eletromagnética na região do visível, e desde que analisadas em processos de caracterização, as nanoestruturas tornam-se fluorescentes e portanto “visíveis” – e precisamente localizáveis no tecido tumoral. Aliada aos outros avanços desenvolvidos pelo estudo, a possibilidade de localização das nanoesferas passou a permitir leituras precisas, no organismo analisado, de possíveis áreas afetadas por tumores. “Além disso, percebemos que, de três a cinco semanas, as nanoesferas magnéticas foram capazes de levar células cancerígenas à morte por Magnetohipertermia”, ressalta. Com relação a tal período de “espera” para que se efetive a atuação anticancerígena das nanoestruturas, trata-se, segundo Castro, de efeitos naturais do mecanismo de adaptabilidade do corpo: “A primeira reação das células de defesa é expulsar as nanoesferas. A adaptação vem com o tempo”. A você, caro leitor, resta dizer que os resultados da pesquisa revelam-se bastante promissores: “As nanoesferas têm conseguido levar grande parte das células cancerígenas à morte. Além disso, é importante lembrar que, hoje, temos como localizar com precisão as regiões do corpo afetadas pelos tumores”, afirma Castro, ao lembrar que, apesar de já haver dados suficientes para crer na morte das células tumorais sob efeito das nanoestruturas, é ainda necessário, antes dos testes clínicos, aprimorar métodos e processos: “Precisamos trabalhar mais, por exemplo, na homogeneidade do tamanho das nanoesferas, pois sua dimensão indica o quanto de temperatura poderá absorver e transformar”, resume. Para milhões de pacientes em todo o mundo, assim como as formas do planeta, esféricas parecem ser os contornos da esperança. Maurício Guilherme Silva Jr.
História
Ilustre centenária Faculdade de Medicina da UFMG completa 100 anos lembrando o passado de conquistas e apostando em novas tecnologias
Foto: Reprodução /
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Ezequiel Dias, Alfredo Balena e Borges da Costa, mais que simplesmente uma alameda, uma avenida ou um hospital, estes nomes, ao lado de outros ilustres, como Juscelino Kubistchek, Pedro Nava e Guimarães Rosa, são algumas das personalidades que ajudaram a construir a história da centenária Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, atualmente uma das mais respeitadas do País. Diz a lenda que foi o ar propício para o tratamento da tuberculose que atraiu ao antigo Arraial do Curral Del Rey pesquisadores de províncias veteranas como Rio de Janeiro
bre a necessidade da instalação de uma escola desse gênero na novíssima Belo Horizonte, então com 37 mil habitantes, 14 anos de vida e em plena expansão. Mesmo sob críticas, a pedra fundamental foi inaugurada em solenidade realizada no Parque Municipal, área verde que cedeu espaço para as novas instalações. “Os limites do parque eram as avenidas Afonso Pena, Alfredo Balena, Assis Chateaubriand e Francisco Sales. Só que a cidade foi crescendo e o planejamento feito inicialmente ficou obsoleto”, conta a professora Rita de Cássia Marques. Ela é uma das organizadoras do livro Medicina - história em exame,
futuros profissionais da saúde, foram convidados justamente os pesquisadores e médicos que vieram para Belo Horizonte ao fim de tratar da tuberculose, como Ezequiel Dias, Hugo Werneck e Henrique Marques Lisboa. Além deles, também ingressaram no quadro de professores, homens em busca de novas oportunidades, como foi o caso do cirurgião Eduardo Borges Ribeiro da Costa, fundador do primeiro hospital dedicado ao câncer da capital mineira. Aos 100 anos, a faculdade é reconhecida pelo pioneirismo que a acompanha ao longo da história, também repleta de curiosidades. Por
Fotos: Reprodução/Medicina - história em exame
Panorama da região hospitalar de Belo Horizonte na época da inauguração da Faculdade de Medicina e nos dias de hoje
e São Paulo, migração que acabou pressionando as autoridades políticas locais para a criação da escola. Era o início do século XX, quando, por exemplo, Ezequiel Dias veio se livrar da doença nas montanhas de Minas. Curado, se estabeleceu na cidade como um dos primeiros professores da Faculdade, assim como Alfredo Balena e, hoje, eles batizam vias que circundam a região hospitalar da capital mineira. Fundada em 5 março de 1911, a Faculdade de Medicina foi criada depois de ampla discussão política so-
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lançado por ocasião do centenário. A obra não esgota o tema, e propõe um percurso sobre a profissão, a formação dos médicos, o contexto da cidade na época da criação da escola para fazer uma radiografia histórica da escola. “Muitas coisas ainda estão por escrever”, garante a pesquisadora. As primeiras aulas na faculdade de Medicina aconteceram em abril de 1912, quando os 104 alunos ocuparam os assentos na sede provisória montada no Palacete Thibau. Como a classe médica da cidade também estava em formação, para ensinar os
exemplo, apesar de pouco comum que as mulheres estudassem naquela época, na recém-criada escola de Medicina não havia impedimentos para as matriculas do sexo feminino, mas as interessadas deveriam redobrar a dedicação aos estudos das disciplinas científicas, pouco estudadas nos cursos de normalistas. “As futuras médicas enfrentavam a oposição familiar, o preconceito das donas de pensão, os corpos nus dos cadáveres masculinos nas aulas de anatomia etc.”, conta Marques em uma das passagens do livro.
A chegada da faculdade em BH causou alvoroço na sociedade mineira. Os feitos médicos conquistavam generosos espaços nos jornais e até mesmo nos palcos teatrais da cidade. Foi o caso de uma das cirurgias pioneiras comandadas pelo professor David Correa Rabelo. Em 1917, ele transformou uma normalista chamada Emilia, portadora de uma má formação, a hiposopadia, em um rapaz chamado David. O caso foi contado na peça de teatro O patinho feio, de Coelho Neto.
Integração ensino-pesquisa Apesar do destaque para a formação prática em clínica médica, ao longo dos 100 anos as atividades da Faculdade de Medicina nunca estiveram dissociadas da pesquisa científica. Fundador da primeira biblioteca da faculdade e um dos defensores das práticas em laboratórios, o professor José Baeta Vianna é figura emblemática na consolidação da escola na vanguarda da Ciência. “Ele conseguiu aglutinar em torno dele um grupo grande de pessoas que foram fazer medicina, mas se encantaram pelo laboratório. Há casos de gente que nunca clinicou”, registra Marques. Um dos pupilos mais ilustres é o professor Wilson Teixeira Beraldo, co-descobridor da bradicinina, que é um produto fundamental no controle da pressão alta. “Tem a época pré-Baeta e pós-Baeta”, afirma, em depoimento no livro, o professor José Bartolomeu Grecco. Ele conta que Baeta Vianna estimulava seus alunos a estudar línguas, crente de que eram nas publicações em inglês e alemão que se encontravam as grandes referências para as pesquisas locais. E era preciso ler o original. A evolução das ações plantadas por Baeta Vianna podem ser observadas no desenvolvimento de vários
projetos de extensão que transportam o nome da faculdade de Medicina da UFMG para a vanguarda da pesquisa mundial. O Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio ao Diagnóstico, o Nupad, é um exemplo bem-sucedido. Criado em 1993, ele é considerado o terceiro maior programa de triagem neonatal estadual do mundo. “O maior programa é o da Califórnia nos Estados Unidos, o segundo no Texas e o terceiro em Minas Gerais”, detalha o diretor do Nupad, o médico e professor José Nelio Januario. O exame realizado no Nupad é o popular teste do pezinho, por meio do qual são detectadas precocemente quatro doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e fibrose cística. O acompanhamento e tratamento dos pacientes também faz parte das ações do Nupad numa parceria com a Fundação Hemominas. Como o programa é referência no País, além de assessoramento de políticas de saúde pública, como a realização do teste do pezinho pelo Serviço Único de Saúde (SUS), o Nupad também participa de convênios internacionais intermediados pelo Ministério das Relações Exteriores. Este ano, a troca de experiências se dá com países africanos como Gana e Benin. De acordo com os dados apresentados pelo diretor José Nelio Januario, em Gana, a cada 50 pessoas, uma tem a anemia falciforme. Em Minas Gerais, a cada 1.400 pessoas, uma tem a doença. Segundo Januario, a equipe de cerca de 30 pesquisadores, sendo a maioria docente da Faculdade de Medicina, mantém alta produção de trabalhos publicados em congressos, além de dissertações e teses de doutorado. E os estudos não param. “Fizemos estudos-piloto para toxoplasmose congênita e hiperplasia adrenal
congênita e estamos projetando fazer para outras doenças que possam ser incorporadas ao painel atual. Queremos documentar a necessidade de tratamento precoce e apresentar o resultado para a Secretaria de Estado da Saúde e para o Ministério da Saúde”, informa.
Futuro tecnológico O futuro da centenária Faculdade de Medicina da UFMG caminha lado a lado com os avanços tecnológicos que prometem curas para doenças que até hoje intrigam e surpreendem os profissionais da saúde. Foram investidos R$ 7 milhões - com o apoio da FAPEMIG - para a implementação do Pet Scan, equipamento que funcionará no Instituto Nacional em Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular. Ele é capaz de realizar exames de imagens para detecção precoce de tumores e doenças como Alzheimer. Além disso, também em 2011 será inaugurado o laboratório de Genômica, o que vai baratear os mapeamentos de genomas, e, assim, ajudar na prevenção e tratamento de doenças como, por exemplo, hipertensão e aterosclerose. Carolina Braga
Estudantes Ilustres 1927 Juscelino Kubitschek Pedro Nava 1929 Amílcar Viana Martins 1930 João Guimarães Rosa 1946 Ivo Pitanguy
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Saúde
para prevenir
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Trabalho em escolas da RMBH ajuda a conscientizar e reduzir os casos de Leishmaniose Visceral
O primeiro caso de Leishmaniose Visceral em humano na região metropolitana de Belo Horizonte foi diagnosticado em 1989. Cinco anos mais tarde, foi a vez de o resultado se repetir na Capital. Segundo especialistas, a expansão geográfica da doença é muito rápida e logo virou motivo de preocupação para pesquisadores e a comunidade. Enquanto aumentavam os registros na região, pesquisadores se empenhavam em descobrir formas de se barrar a doença. Mas a pesquisadora do Centro de Pesquisa René Rachou, Zélia Profeta, pensou numa solução fácil e barata. “Trabalhos de conscientização com crianças têm grande potencial de dar certo”, explica. Por esse motivo investiu em estratégias de preparação dos jovens para disseminar informações sobre a Leishmaniose e como evitá-la. Mas para isso, de acordo com a pesquisadora, é preciso a participação de outros setores da sociedade. “Para se controlar uma doença complexa como essa é necessário o envolvimento de secretarias como Saúde e Educação”, esclarece. Ainda hoje a Leishmaniose é um problema de saúde pública grave em Belo Horizonte e em outras cidades da grande BH. Em 2010, de acordo com dados da Secretaria de Saúde da capital, 196.122 amostras de cães foram coletadas e 15.416 animais apresentaram resultado soropositivo para a doença. O Centro Municipal
de Controle de Zoonozes sacrificou 11.541 cachorros contaminados. No mesmo período, foram registrados 131 casos de Leishmaniose em humanos com 22 óbitos. A área com maior incidência de casos (dezenove) e de mortes (cinco) é a região Oeste da cidade. Como já existiam alguns trabalhos acadêmicos relacionados ao
diagnóstico e aos sintomas da doença, um grupo de pesquisadores desenvolveu um estudo com ênfase na educação em saúde, em 2005. Guiados pelos primeiros estudos realizados por Zélia Profeta, os pesquisadores do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG Danielle Ferreira de Magalhães e José
Fotos: Domingos Santos
Fachada das escolas estaduais Francisco de Paula Castro e Paulo Pinheiro da Silva, que participaram da pesquisa, em Caeté
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Ailton da Silva entraram em contato com a bioquímica do Centro de Pesquisa René Rachou, que coordenava uma rede de pesquisas sobre as leishmanioses na RMBH e já tinha um levantamento dos municípios que realizavam algum tipo de trabalho no que diz respeito à educação no combate à doença. Danielle escolheu a cidade de Caeté, a 56 quilômetros de Belo Horizonte. Essa escolha foi feita com base no grande envolvimento e interesse dos profissionais de saúde da vigilância epidemiológica de Caeté de fazerem algo para a prevenção e controle, que fosse eficaz e envolvesse a comunidade. Na época, o município era classificado como área de transmissão intensa, segundo critérios de classificação de áreas para vigilância e controle da Leishmaniose Visceral do Ministério da Saúde. No projeto, que contou com o apoio da FAPEMIG, agentes da prefeitura foram treinados para aplicar questionários aos familiares de alunos de duas escolas públicas estaduais de mesmo porte, em média com 400 estudantes, porém, geograficamente distantes. “Nós não queríamos que os alunos de uma escola e seus pais entrassem em contato com os da outra para não
dar nenhum tipo de interferência no trabalho”, justifica. O estudo, realizado em 2005, foi feito com alunos de 5ª e 8ª séries do ensino fundamental. No Centro de Pesquisa René Rachou já havia um questionário que foi adaptado para estudantes e suas famílias. Esse material foi repassado aos professores, que também receberam treinamento para dar uma aula específica sobre o assunto. Um dos objetivos era ver como alunos de diferentes idades iam absorver a lição ensinada e como a repassariam em casa. Antes de participarem da aula sobre a leishmaniose, os alunos responderam ao questionário sobre a doença e as formas de preveni-la. Agentes de Saúde passaram nas residências de alguns estudantes, avaliaram as condições de higiene da casa (principalmente do quintal) e deram o questionário para que o responsável respondesse às mesmas perguntas. Depois foram ministradas aulas nas duas escolas. Em uma delas, os estudantes tiveram que fazer uma tarefa: passar adiante a informação aprendida em casa. Na outra, os alunos não foram orientados a repassar o conhecimento, apenas assistiram a aula. Novos questionários foram distribuídos nos mesmos locais 30, 90
e 120 dias após as aulas. E os resultados, de acordo com a pesquisadora, foram satisfatórios. Foram realizadas 100 visitas em residências escolhidas aleatoriamente e os resultados mostraram uma diferença significativa entre uma escola e outra. Além disso, foram formados grupos focais, em que os alunos deram um retorno aos pesquisadores de como foi o trabalho de conscientização em casa. “A gente percebeu que houve uma mudança de comportamento. Nas casas dos alunos da escola experimental, foram feitas capinas, recolhimento de folhas e não havia fezes de animais, ou seja, diminuíram as condições de risco para a leishmaniose”, verifica Magalhães. Os bons resultados da pesquisa renderam um prêmio concedido em 2007 durante a Reunião Anual de Pesquisa aplicada em Leishmaniose, realizada em Uberaba, no Triângulo Mineiro. O evento, promovido pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, tem o objetivo de discutir medidas de controle da doença e foi escolhido porque sua metodologia é de baixo custo, fácil execução e aplicável a outras regiões, com resultados promissores na prevenção da Leishmaniose.
É importante ficar atento porque muitos cães estão infectados e não apresentam sintomas.
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Foto: Domingos Santos
aumentado. Nos casos mais graves, a Leishmaniose atinge também a medula óssea. Mas a doença pode ficar incubada e o período varia de dez dias a dois anos. Porém, se tratada no início, ela tem cura. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue ou biópsia de material da medula óssea. É importante ficar atento porque muitos cães estão infectados e não apresentam sintomas. Este é um grande desafio no controle da doença.
A pesquisa em Caeté
Leishmaniose Visceral
A Leishmaniose Visceral é uma doença causada por um protozoário, o Leishmania chagasi. Seu transmissor é o mosquito palha, inseto bem pequeno e de cor clara, que gosta de ambientes escuros, úmidos e com acúmulo de lixo orgânico, como, por exemplo, galinheiros ou quintais com muitas plantas. Suas fêmeas alimentam-se de sangue, no fim da tarde, período popularmente conhecido como lusco-fusco, para o desenvolvimento de seus ovos. Pessoas e outros animais infectados são considerados reservatórios da doença, porque o mosquito pode sugar sangue contaminado e transmiti-la a outros indivíduos ao picá-los. Na zona rural, raposas e gambás são os hospedeiros mais comuns da doença. Já na cidade, são preferidos os cães. Alguns dos sintomas da Leishmaniose em cachorros são emagrecimento, perda de pelos e lesões na pele. Mas nem todos os animais os desenvolvem. Nos humanos, a doença costuma causar febre, fraqueza, emagrecimento e palidez. Ela ataca fígado e baço, que podem ter seu tamanho
No período em que foi desenvolvido o estudo sobre a doença com a participação das escolas, as informações trabalhadas pela Secretaria Municipal de Saúde de Caeté proporcionaram o poder de multiplicação dos alunos. Essa ação causou impactos nas mudanças no ambiente domiciliar em relação às medidas de controle da doença que foram mensuradas na pesquisa. De acordo com os pesquisadores, não é possível assegurar que a redução do número de casos da doença esteja relacionada à pesquisa, mesmo porque os casos registrados não estavam concentrados na área de residência dos alunos pesquisados. “Entretanto, em termos de educação em saúde, o trabalho contribuiu para a melhoria das condições de saneamento ambiental nos domicílios, pelo menos na época do trabalho, uma vez que não tivemos mais o acompanhamento individualizado dessas residências nos anos seguintes”, esclarece
Marina Ornelas, bióloga da Secretaria Municipal de Saúde. Suely Xavier, diretora da Escola Estadual Paulo Pinheiro da Silva, onde os alunos participaram da pesquisa apenas na escola, comenta que eles responderam questionários, assistiram a palestras e fizeram trabalhos. Segundo ela, os estudantes ficaram empolgados e, na época, notou que houve uma conscientização por parte dos adolescentes. Já na Escola Estadual Francisco de Paula Castro, a participação ativa de meninos e meninas com os familiares gerou ações em casa, no sentido de eliminar os vetores da Leishmaniose. “O projeto atingiu o seu objetivo num primeiro momento. Realmente ocorreu um engajamento por parte dos estudantes, mas depois, perdeu força”, reconhece a supervisora Hortência da Conceição Carmo. É necessário dar continuidade nas ações de educação em saúde, juntamente com as demais ações de controle para a doença, visando assegurar a diminuição ou até mesmo a eliminação dos casos.
Ana Flávia de Oliveira Projeto: Informação sobre Leishmaniose Visceral por escolares aos seus familiares: uma abordagem sustentável para o controle da doença Coordenador: José Ailton da Silva Edital: Edital Universal Valor: R$12.288,00
Série Histórica de Casos LV em Caeté, 2002-2011 Ano
Número de casos
Ano
Número de casos
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2003
7
2008
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2004
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2009
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2005
1
2010
1
2006
3
2011*
1
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Caeté * Dados referentes ao mês de março MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Educação
Viaje com a ciência Projeto Ciência para Todos leva pesquisas desenvolvidas na UFMG e curiosidades científicas para 16 linhas de ônibus de Belo Horizonte Já pensou receber uma companhia diferente dentro do ônibus, indo para o centro ou voltando para sua casa? E que essa companhia pode te levar por caminhos que você sabia que existia, mas só de ouvir falar? Pode ficar tranquilo: não é nada perigoso. É a ciência, que ganhou um lugar fixo no coletivo. Não se preocupe, não vai faltar banco para assentar, ela só quer dividir com você uma coisa: conhecimento. Os textos já podem ser encontrados, inicialmente, em 240 ônibus que circulam na capital. O conteúdo navega pelas ciências biológicas e químicas. São curiosidades, pesquisas desenvolvidas na universidade e futuramente personagens importantes da química, já que o projeto contará com a participação de pesquisadores e estudantes que enviaram propostas de texto relacionadas ao universo desta ciência. O Ciência para Todos faz parte do projeto Ciência para Ler e Ouvir, financiado pela FAPEMIG, e é inspirado em uma ideia que já circula há sete anos no transporte coletivo da capital mineira, o Leitura para Todos, que leva a literatura para a população, por meio de textos em gêneros como romance e poesia. Segundo a coordenadora do projeto Ciência para Todos, Adlane Vilas-Boas, é fantástico ver como a literatura alcança tantas pessoas. “Em 2004, quando tive contato com os textos literários nos ôni-
bus, pensei: seria muito interessante fazer a mesma coisa com a ciência”, conta. Alguns anos depois, Adlane convidou a coordenadora da Teia de Textos, a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Antonieta Pereira, responsável pelo Leitura para Todos, para, juntas, darem inicio à estruturação do projeto com a inclusão dos textos sobre ciências nos ônibus. Na primeira fase do projeto, que foi iniciada no dia 16 de abril, os 36 textos à disposição dos leitores fazem parte dos programas de rádio Na Onda da Vida, Ritmos da Ciência e Papo de Vaca, veiculados na Rádio UFMG Educativa. Nesse contexto, o site Ciência no ar funciona como ponto de encontro dos projetos de rádio e o Ciência para Todos. “Atualmente, o objetivo é ter, disponíveis no site, os textos que estão rodando nos coletivos”, diz Adlane. Para a coordenadora do Leitura para Todos, colocar a ciência junto com a literatura nos ônibus será uma experiência importante para a população. “É importante que esse conhecimento ultrapasse os muros da universidade e seja acessível a todos. São raros os momentos em que a ciência vai para a rua, ela é muito restrita à sala de aula e ao laboratório”, afirma.
Pesquisa de campo
Para avaliar o impacto dos textos de ciência e literatura na vida dos ci-
dadãos será realizada pesquisa dentro dos ônibus. Os usuários do coletivo vão responder a questões sobre leitura e ciência atuando juntas e outras mais específicas, restritas à ciência, para verificar a percepção pública em relação à ciência. Maria Antonieta acredita que o sucesso obtido com o Leitura para todos também pode acontecer com o Ciência para Todos, pois os assuntos podem despertar a curiosidade dos belo-horizontinos sobre a ciência. “Vamos mostrar para as pessoas que há muito mais coisas por trás das aparências do dia a dia, que há coisas que a gente pode considerar muito ruins, mas que têm um aspecto extremamente positivo”. As expectativas em torno dos resultados também são grandes para a coordenadora Adlane Vilas-Boas. Ela acredita que explicar a ciência e sua importância para o dia a dia vai despertar o interesse dos cidadãos. “Eu acho que isso vai fazer bem para as pessoas. O mais importante em popularizar a ciência é mostrar que ela é para todos”, afirma. Kátia Brito Projeto: Ciência para ler e ouvir Modalidade: Edital de Popularização da Ciência e Tecnologia (08/2010) Coordenadora: Adlane Vilas-Boas Valor: R$ 75.169,92
Fotos: Kátia Brito
Adlane Vilas Boas, coordenadora do projeto Ciência para Todos
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Juntas, literatura e ciência levam conhecimentos aos usuários de ônibus de Belo Horizonte
Maria Antonieta, coordenadora do projeto Leitura para Todos
Lembra dessa?
Remédios que vêm da natureza Plantas e fungos são testados no desenvolvimento de fármacos naturais para combate de doenças como Esquistossomose, Leishmaniose e Chagas Mais de 10 mil extratos de plantas e fungos do Cerrado e Mata Atlântica de Minas foram testados no Centro de Pesquisas René Rachou com a finalidade de encontrar espécies que tenham potencial para barrar a ação de doenças endêmicas parasitárias. Como informou a edição nº 17 da MINAS FAZ CIÊNCIA, de 2003, a meta estabelecida inicialmente para coleta e análise era de 3 mil espécies de plantas e 100 espécies de fungos. Passados oito anos, mais que triplicou o número de extratos de plantas e fungos analisados. Na primeira matéria que acompanhou a pesquisa, foram relatados avanços quanto a extratos ativos contra doença de Chagas e alguns tipos de células tumorais. Atualmente, segundo a coordenadora da pesquisa, Tânia Maria de Almeida Alves, a atenção está voltada para a doença de Chagas e a leishmaniose, por se tratarem de doenças altamente negligenciadas. “Para es-
tas doenças existem modelos de ensaios biológicos desenvolvidos e testados em laboratório utilizando uma quantidade pequena de extratos, viabilizando nosso trabalho de pesquisa e exploração”, afirma. O número de espécies coletadas foi ampliado, como era o objetivo inicial, e duas doenças têm estudos mais adiantados. Entretanto, a elaboração definitiva de um remédio é um processo longo, pois envolve várias etapas, como de coleta, separação e diversos testes com uma mesma espécie, além de vários profissionais de áreas do conhecimento distintas. Para alcançar com rapidez o objetivo da pesquisa, o Centro de Pesquisas René Rachou está estabelecendo um Programa de Descoberta e Desenvolvimento de Drogas, batizado de P3D. O objetivo é contribuir para a descoberta e o desenvolvimento de novas drogas associando profissionais de diversas instituições e integrando projetos de pesquisa. Segundo Tânia, outro
objetivo importante é ser referência nesse tipo de pesquisa. “Queremos, em 2022, ser reconhecidos como um programa de excelência em descoberta e desenvolvimento de drogas, com um portfólio de projetos abrangendo desde as etapas iniciais de pesquisa básica até os ensaios clínicos”. A pesquisadora afirma que já existem resultados promissores, contudo não é possível que sejam divulgados neste momento, pois ainda não foram patenteados ou publicados em revistas de artigos científicos. Novas metas foram estabelecidas para o andamento do estudo, como a sofisticação de ensaios biológicos, busca por investimentos e testes dos extratos de plantas e fungos em animais. “Pretendemos investigar se cochlioquinona A e isocochlioquinona A, substâncias obtidas de um fungo isolado de uma planta, são boas candidatas para o desenvolvimento de uma nova droga”, observa a coordenadora.
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Urbanismo
Os tentáculos de BH Ao analisar crescimento da capital mineira no eixo Sul, pesquisa interdisciplinar revela complexidade do processo contemporâneo de expansão das metrópoles Nos anos 1950, muitos foram os cidadãos que, residentes numa Belo Horizonte em pleno desenvolvimento urbano e industrial, resolveram mudar radicalmente de vida. Para tais homens e mulheres, a imagem do Éden concretizava-se na possibilidade de trocar a “confusão” da cidade grande pelas benesses do convívio com a natureza. De tal ansiedade por respirar ares mais puros nasce, no eixo Sul da Região Metropolitana da capital mineira, uma série de loteamentos que, pouco a pouco, passam a abrigar casas aconchegantes e confortáveis. Em meio ao verde – por vezes virgem – das matas, as moradias eram feitas à imagem e semelhança do paraíso. Por isso, talvez, seus donos jamais acreditariam no fato de que, décadas mais tarde, aquela bucólica paisagem seria substituída pela neurótica assepsia da contemporaneidade: condomínios fechados, repletos de muros e permanentemente vigiados por equipes especializadas em segurança. Para além da revelação de neuroses típicas da sociedade moderna, contudo, Foto: Geraldo Costa
o estudo do complexo desenvolvimento das regiões metropolitanas de grandes centros urbanos – a exemplo das modificações no eixo Sul da capital mineira – é capaz de trazer à tona conhecimento importante sobre a diversidade da ocupação do espaço público. No caso de Belo Horizonte, basta recorrer à Rosa dos Ventos para que a multiplicidade de tal processo revele-se ao observador. Na direção oeste – rumo a Contagem e Betim –, o município segue o ritmo da industrialização; já no eixo Norte – da Pampulha para frente – há maciço investimento público, expresso, por exemplo, na construção de conjuntos habitacionais. “Por fim, na região Sul, percebemos especificidades como moradias da população de alta renda, áreas com loteamentos fechados ou associadas à preservação ambiental e ampla presença de mineradoras, donas de parte importante das terras”, explica a professora Heloisa Soares de Moura Costa, do departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
De 2003 a 2006, Heloisa Soares e pesquisadores de outros três departamentos da UFMG – além de estudantes bolsistas e de uma professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) – lançaram-se à investigação de nuances do processo de crescimento da capital mineira. Com ênfase, justamente, no eixo Sul da expansão metropolitana, o estudo multidisciplinar, que contou com investimento da FAPEMIG, do CNPq e da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade, rendeu (e ainda rende) debates e produtos ricos em constatações sobre a expansão urbana para além dos limites de BH, a exemplo do livro Novas Periferias Metropolitanas – A expansão metropolitana em Belo Horizonte, lançado em 2006. Além de surpreendentes, os dados estatísticos e qualitativos do trabalho servem, hoje, de auxílio à criação de políticas públicas. “O desenvolvimento urbano de BH é muito interessante. Afinal, a cidade cresce industrialmente em direção a Contagem, depende da água de Nova Lima e registra uma série de
Foto: Alessandra Peixoto
Em linhas gerais, o desenvolvimento de Belo Horizonte no eixo Sul corresponde à expansão em direção a Nova Lima, Rio Acima e parte de Brumadinho.
Zona de contato Belo Horizonte - Nova Lima
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Canela de ema - Parque do Rola Moça
investimentos públicos para além do próprio município”, explica Soares. No eixo Sul, área marcada pela diversidade, os pesquisadores perceberam que uma série de fatores – dentre os quais, a forte gestão do território por mineradoras e a presença de reservas ambientais – dificulta o processo de parcelamento do solo. Tal conclusão, porém, refere-se apenas a uma parte dos “mistérios” investigados. Ao longo do estudo, dezenas de outras indagações mostraram-se seminais à compreensão das peculiaridades da mobilidade urbana na região: por que, por exemplo, os municípios modificam seus zoneamentos, de modo a favorecer a atividade imobiliária? Quais impactos do crescimento para o transporte público? De que instrumentos o poder governamental usufrui para dividir, com pessoas físicas e jurídicas, as responsabilidades inerentes ao processo de desenvolvimento? Quais os novos valores associados à moradia e outros elementos da reprodução social? Como se dá a valoração e apropriação da natureza? Que alternativas apresentam-se às cidades em termos econômicos, independentemente dos rumos da industrialização tradicional?
seu influente sistema gestor, pode-se, metaforicamente, fazer alusão a ciclos “extrativos” de três tipos de “riqueza aurífera” na região. Se, no século XVII, buscava-se o ouro de aluvião, tal atividade seria substituída, cerca de cem anos depois, pela instalação de minas exploratórias do nobre metal. Hoje, ao contrário, a riqueza revela-se inteiramente à flor da terra: “O terceiro ouro são os empreendimentos imobiliários”, explica Heloisa Soares. Afinal, na atualidade, iniciativas como a do empreendimento Vale dos Cristais revelam que as mineradoras, para além de sua atividade-fim, subcontratam empresas para incorporação, construção e vendas imóveis, como
qualquer outro proprietário fundiário. “Essa nova realidade pode produzir grandes impactos”, afirma a pesquisadora, ao lembrar ainda que, no eixo Sul, diferentemente de outras vertentes do desenvolvimento urbano da capital mineira, a concentração de terrenos nas mãos de poucos – principalmente de empresas – não estimula a chamada “ocupação espontânea”. Com relação à atividade-fim das mineradoras no eixo Sul, outras diversas interrogações abrem-se ao léu. Como têm sido gerenciadas e executadas, por exemplo, as contrapartidas ambientais das empresas? Heloisa Soares comenta que, com o passar do tempo, tais corporações internalizaram discursos e
As fases do “ouro”
Muitas das respostas às questões formuladas pelos pesquisadores vieram de acuradas observações e análises em torno dos três principais “atores” da expansão no eixo Sul: mineração, uso urbano do solo e áreas de preservação ambiental e recursos hídricos. No que se refere ao papel das mineradoras e Foto: Luciana Andrade
Loteamento Vila Castela e ao fundo loteamentos mais antigos - Nova Lima
Foto: Marlon Resende
Loteamento Retiro do Chalé - Brumadinho MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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parâmetros de sustentabilidade. “Resta saber, contudo, se as empresas são realmente sustentáveis ou se apenas investem em mecanismos de marketing”, ressalta a pesquisadora. A responsabilidade ecológica das companhias dependerá, ainda, da capacidade de negociação das comunidades: aquelas que se revelam mais influentes, acabam por conseguir melhores resultados para o meio ambiente. “As mineradoras têm mais cuidado onde as vozes parecem mais fortes. Importante lembrar, porém, que contrapartidas ambientais não são presentes à população. Existem interesses por trás de tais iniciativas”, conclui.
Ordem e progresso?
Ao estudar o desenvolvimento metropolitano de Belo Horizonte no eixo Sul, outra preocupação dos pesquisadores dizia respeito ao(s) modo(s) de vida da população. Em tais ambientes, qual seria, por exemplo, a noção de espaço público de uma criança que nasce e cresce no interior dos condomínios da região? E o que dizer dos processos de transformação nos núcleos urbanos já existentes, ao redor dos novos empreendimentos, a exemplo de Macacos e Piedade do Paraopeba, onde moram centenas de trabalhadores? Em meio à miríade de indagações, o mais importante a perceber foi que o desenvolvimento no eixo Sul realiza-se, em grande medida, de modo ordenado... Mas também desenfreado: “Os investimentos permanecem e as questões se multiplicam: quais serão as perspectivas para quando a região estiver completamente ocupada? Haverá transporte público suficiente, por exemplo?”, questiona Heloisa Soares. Aliás, diante da noção de “crescimento ordenado” – direta contraposição ao princípio de “desenvolvimento espontâneo” – o leitor poderia cogitar, coerentemente, que tal expansão controlada seja mais proveitosa para os cidadãos, da produção de bem-estar à organização do uso do solo. Afinal, o que não foge ao controle do homem tende a se desenvolver de maneira mais estruturada, não é mesmo? No que diz respeito ao processo de mobilidade urbana, a máxima não se sustenta em bases sólidas: “Os ordenamentos mostram-se diferenciados. Por isso, buscamos desconstruir a ideia de que o crescimento não-espontâneo seja sempre bom. Da mesma forma, a expansão espontânea pela pobreza revela-se muito ruim para as pessoas”, ressalta a pesquisadora.
Verde que te quero verde
Em função de uma série de movimentos ambientalistas, o eixo Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte é hoje considerado uma Área de Proteção Ambiental (APA). Apesar de regulamentada, contudo, a APA-Sul não possui plano de manejo ou zoneamento ecológico-econômico formalmente aprovado. “Mesmo assim, há importantes iniciativas de preservação na região, quase todas executadas pelo poder público”, afirma Heloisa Soares, ao explicar
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que, na pesquisa, pretendeu-se, também, mapear e analisar as áreas que, na atualidade, carecem de regulação: “Percebemos ser necessário, na verdade, que todos internalizem o custo ambiental. O que se tem é ainda muito aquém do desejável”. Ao longo dos estudos, análises específicas no interior de áreas de preservação revelaram enorme disparidade nos níveis de preservação. Ao longo da referida pesquisa interdisciplinar, os estudiosos não se dedicaram a análises aprofundadas sobre a natureza das nascentes e cursos d’água na região, temática que, provavelmente, será tema de investigações futuras. Apesar do pouco enfoque na questão, Heloisa Soares explica que, a partir dos resultados apresentados por um dos integrantes da equipe, é possível afirmar que a área tenha grande potencialidade hídrica.
Olhos no horizonte
No mesmo período em que finalizavam os estudos acerca da expansão metropolitana de BH no eixo Sul, os pesquisadores percebiam novas empreitadas dos “tentáculos” de desenvolvimento urbano da cidade. De uma hora para outra, a capital mineira passara a crescer em direção à região Norte, fruto, em grande parte, da construção do Centro Administrativo do Governo do Estado de Minas Gerais. À época, parte da equipe de foi então contratada pelos órgãos públicos estaduais para elaborar o Plano Diretor Metropolitano, documento entregue às mãos dos dirigentes em dezembro de 2010. “Além de servir à implantação de políticas públicas, tais conhecimentos poderão nos auxiliar em trabalhos posteriores”, afirma Heloisa Soares. Hoje, o grupo desenvolve novas pesquisas com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Bússola a postos, resta aos estudiosos observar os novos – e fascinantes – movimentos da metrópole. Maurício Guilherme Silva Jr. Projeto: A expansão metropolitana de Belo Horizonte: dinâmica e especificidades no eixo-sul Modalidade: Demanda espontânea Coordenadora: professora Heloisa Soares de Moura Costa Valor: R$ 14.290,50
Meio Ambiente
Água limpa de verdade
Pesquisadores desenvolvem tecnologia inovadora para o tratamento de água utilizando ozônio, uma opção mais eficiente e ambientalmente correta
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Fotos: Joaquim José Telles
Da esquerda para a direita: o coordenador do projeto, Leonardo Morais da Silva e os mestrandos Lindomar Sousa, Fabiano Ramos Costa, Flávia Cristina de Barros e Ismael Carneiro Gonçalves
Símbolo da vida, a água é tema de atuais discussões em todo o mundo. As fontes hídricas são abundantes, porém mal distribuídas na superfície do planeta. Em algumas áreas, as retiradas são bem maiores que a oferta, causando um desequilíbrio nos recursos hídricos disponíveis. Embora o Brasil seja o primeiro país em disponibilidade hídrica em rios do mundo, a poluição e o uso inadequado comprometem esse recurso em várias regiões do País. Esse impacto ambiental torna necessária a busca de tecnologias para o tratamento de diferentes efluentes, ou seja, produtos líquidos ou gasosos produzidos por indústrias ou resultante dos esgotos domésticos urbanos lançados no meio ambiente. “Buscar soluções para problemas relacionados ao tratamento e controle de poluentes em diversos tipos de efluentes é uma necessidade com caráter de urgência para assegurar que recursos hídricos de boa qualidade estejam disponíveis para as gerações futuras”, garante Leonardo Morais da Silva, pesquisador do Departamento de Química da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Morais coordena um projeto inovador para o tratamento de água utilizando o ozônio, um insumo bem mais eficiente e ambientalmente correto do que o cloro. O projeto começou em 2007 tendo como objetivo inicial tratar a água captada no Vale do Jequitinhonha. Como já existiam pesquisadores em Minas trabalhando com a qualidade da água nesta região, o grupo mudou o viés do projeto e decidiu desenvolver um equipamento para tratar água contaminada
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com produtos químicos, como remédios, pesticidas, agentes contraceptivos, corantes têxteis, e até produtos de beleza e higiene pessoal, considerados poluentes emergentes.“Quando se lava o rosto na pia para retirar um produto de beleza, por exemplo, os resíduos vão para o esgoto e não são eliminados na estação de tratamento. O mesmo acontece com os remédios que não são totalmente absorvidos pelo corpo, sendo excretados através da urina. Estes resíduos saem da estação do mesmo jeito que entram e podem ser altamente nocivos não só para os seres humanos, mas também para as plantas e animais”, alerta o pesquisador.
Por que usar o ozônio?
A água oferecida à população é submetida a uma série de tratamentos para reduzir a concentração de poluentes até o ponto em que não representem riscos para a saúde. O tratamento dessa água tem como objetivo, principalmente, remover o material sólido, exterminar microorganismos patogênicos e reduzir as substâncias químicas indesejáveis. Neste ciclo, uma das etapas mais importantes é a cloração, processo que visa eliminar germes nocivos à saúde e garantir a qualidade da água. O grande problema, segundo Morais, é que o cloro associado a resíduos orgânicos, como agrotóxicos, remédios e produtos de beleza, por exemplo, gera subprodutos nocivos. Estas substâncias contaminam a água e representam risco para os seres humanos, peixes, plantas e animais, que delas se alimentam. Um exemplo claro é a água de piscinas, que, aparentemente limpas, possuem matérias orgânicas como a
Sistema eletroquímico para a produção de ozônio
urina. Essa matéria orgânica associada ao cloro gera subprodutos potencialmente nocivos. Quando essa água é jogada fora provavelmente contaminará rios e lagos próximos. “O cloro é utilizado simplesmente para retirar microorganismos patogênicos e não para remover compostos orgânicos. Quando usamos o ozônio em substituição ao cloro não existe a possibilidade de gerar estes subprodutos nocivos. Embora a ozonização seja um processo um pouco mais caro que a cloração, é muito mais eficiente e ambientalmente correto”, esclarece. Presente em pequenas concentrações na estratosfera (parte de atmosfera que abrange aproximadamente dos 15 até 50 quilômetros de altura), o ozônio (O3) é um gás à temperatura ambiente, instável, altamente reativo e oxidante. Na Europa, desde o século passado, esse gás, gerado a partir do ar, é utilizado para o tratamento de água. O caráter inovador do projeto em questão é a extração do ozônio a partir da própria água, que é um insumo mais barato. “O Brasil tem várias fontes de água ultrapuras que não precisam ser tratadas. O grande problema são as fontes contaminadas perto de centros urbanos. Por isso, podemos afirmar que a saúde da população melhoraria muito se a água fosse ozonizada. Mas, o País ainda é incipiente neste assunto e a indústria do cloro é muito forte”, problematiza. Estudos comprovam que a maioria desses resíduos orgânicos podem ser considerados como potencialmente mutagênicos e/ou cancerígenos. Segundo Morais, uma pesquisa em Chicago, nos Estados Unidos, acompanhou um grupo de mulheres com câncer de colo de útero e demonstrou que 30% de-
las ingeriram água contendo matéria orgânica clorada. No Brasil, pesquisas apontam que esses compostos orgânicos, distribuídos em rios de algumas regiões do Estado de São Paulo, estão causando mutações genéticas em animais, como é o caso da feminilização de peixes machos. “Esses contaminantes estão por aí nas águas naturais devido às atividades da sociedade moderna altamente industrializada, mas as pessoas fingem que não existem, pois, tratá-los é complicado”, aponta.
Tecnologia alternativa
O protótipo desenvolvido foi projetado para tratar em torno de 10 a 25 mil litros de água por hora, utilizando 800 watts de energia, tendo como único insumo a água destilada (água pura sem sais). “A água destilada é colocada no reator, em seguida, aplicamos corrente elétrica. É um processo eletroquímico”, explica o coordenador. O ozônio gerado é aplicado diretamente na água que flui pelo reator, tornando possível a produção de água ultrapura para fins diversos.“Realizamos uma série de testes com o reator utilizando
vários tipos de matéria orgânica, como agentes contraceptivos (excretados na urina), e agentes plastificantes (resíduos de produção do plástico). Os resultados foram excelentes”, relata. A tecnologia comumente utilizada para ozonização da água na Europa é denominada Corona. Nesse processo um gás seco, ar ou oxigênio puro é submetido a uma descarga elétrica silenciosa. No entanto, a tecnologia eletroquímica é uma alternativa promissora para a geração de ozônio, pois possui algumas características que não são obtidas com o processo Corona, como é o caso da produção de água ultrapura em condição de circuito fechado (isolado da atmosfera). “Quando começamos o projeto fizemos uma pesquisa no exterior para saber em que tipo de indústria a ozonização está sendo utilizada. Percebemos que a técnica é essencial para a indústria farmacêutica e de semicondutores, já que necessitam utilizar água ultrapura no processo de produção e também na pesquisa de novas drogas e materiais. A água contendo pequenas quantidades de matéria orgânica pode atrapa-
lhar todo o processo de reação química nesse tipo de indústria”, explica. O grupo da UFVJM é o primeiro a trabalhar com essa tecnologia no País, que hoje, para utilizá-la, precisa importar. Recentemente, os pesquisadores fizeram o pedido de patente do protótipo ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) tendo a FAPEMIG como cotitular da invenção. “A intenção inicial é destiná-lo à indústria brasileira farmacêutica e de semicondutores além do uso na desinfecção de águas de piscinas e aplicações envolvendo a ozonioterapia (veja quadro). É um nicho de mercado economicamente viável e algumas empresas já se mostraram interessadas”, planeja. Juliana Saragá Projeto: Aplicação de Tecnologias emergentes no tratamento de águas para consumo captadas no Vale do Jequitinhonha. Modalidade: Jovens Doutores Coordenador: Leonardo Morais da Silva Valor: R$ 29.925,00
Ozonioterapia A Ozonioterapia é uma técnica que utiliza o ozônio como agente terapêutico em um grande número de patologias. É uma terapia natural, com poucas contra-indicações e efeitos secundários mínimos, se realizada corretamente. Pode ser utilizada para tratar diversas doenças, como, distúrbios da circulação sanguínea, tais como insuficiência arterial e varizes; doenças causadas por vírus, como hepatites virais e herpes; lesões, ferimentos, doenças inflamatórias crônicas como colite e artrite; até em situações de exaustão física e cansaço. As aplicações do ozônio começaram em 1840. O precursor desse uso foi Werner von Siemens, que em 1857 construiu o primeiro tubo de indução para a destruição de microorganismos patogênicos. O médico alemão Christian Friedrich Schonbein, durante a Primeira Guerra Mundial, difundiu o ozônio no tratamento de feridas em soldados, obtendo excelentes resultados. Em 1915, outro médico alemão, Albert Wolf, escreveu um livro sobre o uso medicinal do ozônio. Durante mais de 50 anos, a Ozonioterapia ficou praticamente restrita à Alemanha e à Áustria. Somente a partir da década de 80 ela se expandiu para outros países. Esta expansão coincidiu com início das pesquisas de laboratório sobre a ação do ozônio, sobretudo com os trabalhos de Bocci na Itália. A descoberta da penicilina e de outros antibióticos fizeram com que o Ozônio fosse afastado do uso na medicina tradicional dos anos de 1940 em diante.
A prática da Ozonioterapia no Brasil não é nova. Começou em 1975 e na década de 80 ganhou mais adeptos e atraiu o interesse de algumas universidades. De 2000 para cá, os estudos ganharam corpo. Há seis anos, a PUC de Minas Gerais pesquisa a técnica em ratos. Em São Paulo também são feitos estudos na Santa Casa de Misericórdia. Em 1996, um projeto de pesquisa sobre o ozônio para fins médicos, veterinários e industriais foi criado no campus Alfenas da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas). Estudos odontológicos realizados ali, como o tratamento bem sucedido de infecções no osso da mandíbula, que geralmente se resolve cirurgicamente, chegaram a ser apresentados em congressos no exterior. A terapia ganhou mais visibilidade no País a partir de 2004, quando Santo André, no ABC Paulista, sediou a Primeira Conferência Internacional sobre Uso Medicinal do Ozônio. Em abril de 2006, em Belo Horizonte, especialistas de vários países realizaram o primeiro Congresso Internacional de Ozonioterapia. Além de atualizar informações, os médicos brasileiros aproveitaram para lançar as bases da Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ). A Prefeitura de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, também vem desenvolvendo projetos de aplicação relacionados à Ozonioterapia. Para mais informações sobre a técnica acesse o site da ABOZ http://www.aboz.org.br/. MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ. A FEV. / 2011
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Mercado Notas
Prêmio José Reis Jornalistas e instituições de pesquisa aguardam o resultado da edição 2011 do Prêmio José Reis de Divulgação Cientifica e Tecnológica. O resultado deve ser divulgado no dia 18 de junho, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). São contempladas três categorias: Jornalismo Científico, Divulgação Científica e Instituição. Desde 1995 o prêmio vem sendo entregue anualmente a apenas uma das três modalidades, em sistema de rodízio. Este ano
é a vez do Jornalismo Científico. Aos vencedores será concedido prêmio no valor de R$ 20 mil, um troféu, passagem e hospedagem para a 63ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), que neste ano acontece na Universidade Federal de Goiás. Profissionais que já foram contemplados só podem concorrer novamente dez anos após a entrega do prêmio. Mais informações no site www.cnpq.br ou no e-mail premios@cnpq.br.
25º Prêmio Jovem Cientista Estudantes do ensino médio e superior e pesquisadores de todo o Brasil já podem inscrever trabalhos desenvolvidos dentro do tema cidades sustentáveis. Alunos de nível médio devem elaborar pesquisas a respeito de assuntos como Ambientes sustentáveis, Planejamento urbano e qualidade de vida, Gestão de águas no meio urbano, Políticas de mobilidade nas cidades, Agricultura urbana e Gestão de resíduos. Já pesquisadores e universitários podem enviar pesquisas relacionadas às seguintes áreas temáticas: Urbanização, Produção do espaço urbano e apropriação da natureza relacionada com a questão do solo/água/ventos e dos recursos energéticos; Políticas urbana, ambiental e de saúde relacionadas com a questão do lixo, dentre outros
tópicos relacionados no edital da premiação. Serão premiados três projetos nas seguintes categorias: pesquisadores, com prêmios de R$ 30 mil, R$ 20 mil e R$ 15 mil; estudantes do ensino superior, R$ 15 mil, R$ 12 mil e R$ 10 mil; e estudantes do ensino médio, cada vencedor receberá um notebook.Todos os vencedores que tiverem pesquisas que obedeçam a critérios normativos do CNPq vão receber bolsas de estudo. Os primeiros lugares, além do prêmio e da bolsa, participarão da 64ª reunião anual da SBPC em 2012. As inscrições para o 25º Prêmio Jovem Cientista podem ser realizadas até o dia 31 de agosto pela internet ou pelos Correios. O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis no site www.jovemcientista.cnpq.br.
Brasil lançará primeiro foguete em 2012 Foto: Divulgação
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O Ministério da Ciência e Tecnologia, em parceria com a empresa Alcântara Cyclone Space e a Agência Estatal Espacial da Ucrânia, lançará até dezembro de 2012 o primeiro foguete brasileiro-ucraniano, o Cyclone 4. O cronograma especificando os recursos necessários para o desenvolvimento do projeto deve ser apresentado ao Ministério até junho desse ano. O trabalho em conjunto significa para o Brasil aprendizado da tecnologia, o que envolve a construção de foguetes. Já para Ucrânia, a utilização da base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, que apresenta vantagens como a proximidade da linha do Equador, o que diminui os custos de lançamento até a órbita. Até o momento os países investiram juntos US$ 170 milhões. O ministro Aloízio Mercadante garantiu que a parceria não ficará apenas no lançamento espacial. “A Ucrânia tem conhecimentos também na construção de satélites. Em médio prazo precisaremos de um satélite geoestacionário para ajudar na previsão do tempo e integrar o Sistema Nacional de Prevenção e Alerta de Desastres”, afirmou em reunião com representantes da Ucrânia no Ministério da Ciência e Tecnologia.
Uma forma divertida de aprender ciência Viagens de Laurinha é um blog e uma novela radiofônica, nos quais Laurinha e seus amigos descobrem que aprender ciências pode ser divertido. A partir de experiências pessoais, Laura, a personagem principal, se encontra com personalidades importantes da ciência mundial e brasileira, como Charles Darwin, Cesar Lattes, Gregor Mendel e Oswaldo Cruz. As vivências pessoais da garota sempre a levam a conhecer algo novo sobre a ciência. Fazendo um bolo de marshmallow ela descobre a historia de Lavoisier e ao quebrar o braço ela entende o processo fotográfico que está por trás do raio-X. Essas e outras aventuras estão no blog viagensdalaura.wordpress.com. O projeto é uma iniciativa do Laboratório Aberto de Interatividade (LAbI), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, e tem o apoio da Rádio UFSCar, da Fundação de Apoio Institucional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI UFSCAR), e outras instituições de ensino e pesquisa.
Nasa fornece tecnologia espacial para países em desenvolvimento A Nasa e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) assinaram em abril acordo com países em desenvolvimento. O objetivo da aliança é prestar auxílio a esses países para enfrentarem problemas relacionados a segurança alimentar, fontes de energia e mudanças climáticas. Durante cinco anos as agências vão conceder dados espaciais para que os governos federais desses países possam se preparar e agir com rapidez, evitando catástrofes naturais danosas. Outro beneficio da parceria será a aplicação de tecnologias geoespaciais para ajudar no desenvolvimento das nações. De acordo com o diretor da Nasa, Charles Bolden, as tecnologias melhoram a vida da terra e proporcionam novas soluções. “Quando exploramos o espaço, também exploramos soluções para os problemas de saúde, nutrição e segurança, que são desafios nos países em desenvolvimento”, afirmou em comunicado o diretor da agência espacial. Nasa e Usaid trabalham em conjunto com países em desenvolvimento desde 2003 com o programa Servir, que tem como princípio resolver problemas climáticos que interferem na economia e outras áreas de desenvolvimento humano.
Tecnologia dos robôs em escolas públicas Projeto de extensão desenvolvido pelo Instituto Federal do Pará ensina estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas de Belém a desenvolver robôs para solução de problemas cotidianos. Antes da prática, os jovens aprendem com graduandos de Engenharia Elétrica do Instituto conceitos básicos de programação, mecânica e eletrônica, e ainda são desafiados a encontrar soluções para problemas propostos em exercícios. O programa utilizado para ministrar as aulas é o Java, cuja linguagem é de fácil aprendizado. O objetivo do projeto é aproximar os jovens do mundo da robótica, incentivando-os a desenvolver robôs com criatividade, e mostrar aos estudantes a utilidade dessa tecnologia na resolução de problemas do dia a dia.
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Cientistas brasileiros Formada em Física e pós-doutora em Astrofisica, ciência que estuda os astros celestes, a astrônoma Lucimara Martins é professora do Núcleo de Astrofisica Teórica (NAT) da Universidade Cruzeiro do Sul, de São Paulo. Em 2010 ela foi a vencedora da categoria Ciências Físicas do prêmio L’oreal/Unesco, com o projeto “A maior e mais completa Biblioteca Estelar de Alta Resolução para Síntese de Populações Estelares”. Além desse projeto, a cientista também estuda o processo de formação de estrelas em galáxias ativas. A seguir, a pesquisadora fala sobre Astronomia e o estudo e pesquisa dessa Ciência no Brasil. Quando começa sua história com a Ciência e o interesse em estudar Astronomia? Decidi ser cientista quando ainda era criança. Sempre fui muito curiosa e investigadora, uma das características principais que acredito que um cientista deva possuir. Na época do cometa Halley, meu pai me deu de presente uma revistinha que falava sobre ele, e me lembro de passar grande parte da noite em sua companhia procurando pelo cometa no céu. Obviamente, não vimos nada, mas me apaixonei pelo tema e pela ideia de estudar as estrelas. Aos 12 anos já sabia que seria astrônoma, mesmo sem saber direito o que isso significava. Quando surgiu a ideia de desenvolver o projeto “A maior e mais completa Biblioteca Estelar de Alta Resolução para Síntese de Populações Estelares”? Parte do meu doutorado nos EUA foi dedicada a criar uma biblioteca sintética para o meu projeto. Eu tinha um tempo curto e estava começando na área, mas já percebia o quanto os modelos precisavam ser melhorados. Comecei a trabalhar na área, e uma amiga do doutorado também estava desenvolvendo projetos no mesmo assunto. Um dia conversamos e decidimos que, se juntássemos nosso conhecimento, conseguiríamos avanços muito grandes nos modelos. Foi aí que surgiu a ideia. E do que se trata? Este projeto busca aperfeiçoar os modelos utilizados para o estudo das di-
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ferentes estrelas que compõem uma galáxia, as chamadas populações estelares. O estudo dessas populações pode ser feito de duas maneiras: utilizando estrelas observadas ou utilizando simulações de estrelas. No primeiro caso, o estudo está limitado porque só conseguimos observar estrelas muito próximas na nossa galáxia. Se as estrelas de outras galáxias forem diferentes, não é possível estudá-las com precisão. No caso das simulações, ainda existe muita dificuldade em construir modelos realistas para estrelas. O objetivo deste projeto é aperfeiçoar esses modelos, a partir de um método estatístico que compara modelos e observações, e criar uma nova biblioteca estelar, muito mais precisa e completa, que se torne uma ferramenta de trabalho para qualquer astrônomo. É um projeto de longo prazo? Sim, é um projeto de longo prazo, pois os cálculos envolvidos são bastante complexos, e mesmo usando muitos computadores, eles ainda demoram bastante para ficarem prontos. Quando tivermos esses modelos, certamente, a interpretação dos dados observados das galáxias será muito melhor, permitindo que tenhamos um conhecimento muito mais preciso de como as galáxias nascem, evoluem, formam estrela, etc. Outra pesquisa na qual a senhora está envolvida é o estudo de galáxias ativas. O que seria e qual o objetivo do estudo? Galáxias ativas são galáxias que possuem o núcleo muito mais brilhante que galáxias normais. Isso acontece porque elas possuem um buraco negro supermassivo no seu centro, e o gás está sendo engolido por ele. Nesse processo, o gás espirala em um disco até cair no núcleo (como em um ralo de pia) e, por estar se movendo muito rápido, emite radiação. O meu estudo em particular é relacionar a formação de estrelas nessa galáxia, com a existência ou não deste núcleo ativo. A ideia é tentar entender se essas galáxias são um processo evolutivo de todas as galáxias, ou são objetos diferentes. Será que nossa galáxia foi ativa um dia? Perguntas como essa é que eu quero tentar responder. Em 2010, você foi a vencedora da categoria Ciências Físicas do Prê-
Foto: Arquivo Pessoal
mio L’oreal Unesco para mulheres na Ciência com o projeto da biblioteca estelar. Qual a nova perspectiva que o prêmio trouxe para sua produção científica e acadêmica? É muito gratificante para um pesquisador ter seu trabalho reconhecido, e acredito que incentivos como esse são fundamentais. O prêmio é uma conquista muito grande. O caminho acadêmico é muito árduo e acredito que só pode ser seguido por quem é apaixonado por ele. É muito bom saber que escolhi o caminho certo. Com o prêmio, pude comprar mais computadores para o cluster da Universidade, e, com isso, acelerar a produção dos modelos para estudo estelar. Qual a avaliação que você faz sobre a produção de conhecimento acerca da Astronomia no Brasil? Como está em comparação a Estados Unidos e Europa? O Brasil tem excelentes astrônomos. O nível da astronomia brasileira é comparável com a de qualquer outro país. Temos pessoas muito competentes aqui. Nós certamente não perdemos nada em qualidade, mas perdemos em quantidade. Para o tamanho do país, não temos apenas poucos astrônomos, mas cientistas como um todo. Isso acontece principalmente porque essa profissão ainda é muito pouco valorizada no país. Por isso um prêmio como o da L’Oreal é tão importante - coloca nossa profissão em foco na mídia de uma forma geral. O incentivo financeiro à pesquisa básica no Brasil melhorou muito nos últimos anos, mas ainda falta muito para chegarmos ao nível de Estados Unidos ou Europa.