Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br
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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Antonio Augusto Junho Anastasia SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Narcio Rodrigues
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Mario Neto Borges Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: José Policarpo G. de Abreu Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu Membros: Antônio Carlos de Barros Martins, Dijon Moraes Júnior, Evaldo Ferreira Vilela, Giana Marcellini, José Luiz Resende Pereira, Magno Antônio Patto Ramalho, Paulo César Gonçalves de Almeida, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva, Rodrigo Corrêa de Oliveira
Em abril, o País recebeu, com preocupação, a notícia de que 49% de sua população, ou seja, praticamente metade dos brasileiros, estão com excesso de peso. Os dados são de uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde que busca traçar um diagnóstico da saúde da população a partir de questionamentos sobre hábitos, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, alimentação e atividades físicas. Foram mais de 54 mil pessoas entrevistadas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Os dados mostram que o percentual de pessoas obesas também cresceu: hoje, 15,8% dos brasileiros convivem com este problema. Considerando que o excesso de peso está ligado a uma série de doenças como diabetes e cardiopatias, a notícia é também um alerta e um incentivo para a busca de hábitos mais saudáveis. A reportagem de capa da Minas Faz Ciência traz um panorama sobre o tema e mostra pesquisas que estão sendo desenvolvidas no Estado e fora dele com o objetivo de reverter esse cenário. Uma nova droga, a identificação de genes relacionados à obesidade e uma avaliação inédita que ajuda a combatê-la são algumas das iniciativas apresentadas pelo editor Fabrício Marques. Além de ajudar a população, os resultados poderão servir de base para a formulação de políticas públicas de saúde preventiva. Esta edição adianta pontos de um debate importante que será realizado em junho, na cidade do Rio de Janeiro. A Conferência Rio+20, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como proposta discutir os rumos do desenvolvimento sustentável no mundo e fazer um balanço dos 20 anos desde a RIO 92. Em uma entrevista concedida ao jornalista Maurício Guilherme Silva Jr., o físico José Goldemberg aponta desafios e também oportunidades que se abrem a partir desse debate mundial. Para ele, o Brasil tem um papel importante no cenário internacional e chances de assumir a liderança em áreas como energia renovável. Outro destaque é um projeto inovador (e também solidário) desenvolvido por uma equipe de alunos do Centro Universitário de Belo Horizonte. Eles projetaram um equipamento capaz de avisar aos deficientes visuais a cor exibida pelo sinal de trânsito. Os alertas chegam por meio de vibrações do aparelho, que fica preso no braço e recebe o sinal emitido pelos semáforos por radiofrequência. O resultado é maior autonomia para o deslocamento pelas ruas de BH. O grupo está negociando parcerias com empresas de trânsito para estudar a viabilidade da adoção do equipamento na cidade. A inclusão também é o mote de outro projeto conduzido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cuja proposta é contribuir para o envelhecimento saudável por meio da inclusão digital. Os alunos, todos com mais de 60 anos, recebem informações sobre o funcionamento dos computadores e são incentivados a contar suas histórias por meio das redes sociais. O resultado é uma lição de vida: vencendo preconceitos, eles descobrem novas formas de fazer amigos e de se expressar. Por fim, é um prazer para a Minas Faz Ciência publicar reportagem sobre os dois novos critérios de avaliação de pesquisadores que passarão a ser utilizados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): inovação e divulgação científica. Duas novas abas referentes aos temas serão incluídas na Plataforma Lattes, possibilitando valorizar e conhecer as iniciativas que já vêm sendo desenvolvidas. Esperamos que sirva também como incentivo para novas ações que promovam o debate e a inclusão da população nas matérias relacionadas à ciência, tecnologia e inovação. Boa leitura! Vanessa Fagundes Diretora de Redação
AO LEI TO R
EX P ED I EN T E
MINAS FAZ CIÊNCIA Diretora de redação: Vanessa Fagundes Editor chefe: Fabrício Marques Redação: Ana Flávia de Oliveira, Ariadne Lima, Juliana Saragá, Marcus Vinícius dos Santos e Maurício Guilherme Silva Jr. Colaboração: Desireé Antonio Diagramação: Beto Paixão Revisão: Ana Beatriz Teroro Projeto gráfico: Hely Costa Jr. Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: Lastro Editora Tiragem: 20.000 exemplares Capa: Hely Costa Jr. / Manipulação digital da escultura renascentista “Davi” (1504), de Michelangelo Buonarroti
Í N D I CE
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Acessibilidade
Dispositivo criado por estudantes do UniBH auxiliará circulação de deficientes visuais pelas ruas e avenidas das metrópoles
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Ameaça ambiental
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Alimentação saudável
6 Especial
Reportagem aborda ações e pesquisas que buscam impedir o avanço da obesidade, doença que já afeta grande parte dos brasileiros
Artigo da Nature discute efeitos do desmatamento na floresta Amazônica, cujo colorido pode passar por significativas alterações
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Lembra dessa?
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Tecnologia
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Música
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Odontopediatria
Iniciativa de extensão da Epamig estimula o cultivo de hortaliças e plantas medicinais em ambientes escolares e domésticos
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Divulgação científica
Segundo novas regras do CNPq, publicação de projetos acadêmicos na mídia funcionará como balizador de produtividade acadêmica
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Entrevista
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Comportamento
José Goldemberg fala de suas expectativas em relação à Conferência Rio+20 e discute os rumos da “economia verde”
Pesquisa traça perfil do consumo de álcool por estudantes de todos os cursos da Universidade Federal de Ouro Preto
Como anda o projeto interinstitucional responsável pelo primeiro software livre brasileiro de captura de movimentos?
Inclusão digital na terceira idade é sinônimo de envelhecimento saudável e bom relacionamento entre gerações
Projeto busca recuperar e organizar acervo da Banda de Música de Santa Cecília de Barão de Cocais, nascida em 1905
Estudo da PUC Minas analisa eficiência do óleo da castanhado-pará (Bertholletia excelsia) no controle da placa bacteriana
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5 perguntas para...
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jefferson Cardia Simões comenta o futuro do Programa Antártico Brasileiro, o Proantar
Letras e números
Tese de doutorado investiga apropriação de regras e conceitos matemáticos pelos escritores Jorge Luis Borges e Georges Perec
Nós, Gabriella P. Almeida e Natália C. Costa, alunas do Ensino Médio e BICs Júnior da doutora Andréia Laura Prates Rodrigues, no projeto “Caracterização eletrofisiológica: os canais iônicos nas células MGSO-3 derivadas de tumor de mama primário”, ganhadoras do 1º lugar na categoria BIC Júnior do 3º Seminário Estadual de Iniciação Cientifica, gostaríamos de agradecer a atitude da FAPEMIG de nos oferecer bolsas para continuarmos na pesquisa. Participar deste programa, BIC Junior, não só permitiu o contato com a Ciência, como mudou a nossa vida. O projeto nos possibilitou a conquista de bolsas no colégio Marista Dom Silvério e a possibilidade de termos um melhor ensino e maiores chances de sucesso no vestibular. Essa oportunidade mudou a nossa vida! Moramos no Aglomerado da Serra (favela de BH). Esse projeto nos mostrou que existe esperança, que existe um MUNDO fora do lugar onde vivemos, que podemos fazer algo para ajudar as pessoas, saber mais e transmitir nosso conhecimento. Na Universidade Fumec tivemos a oportunidade de participar, além da pesquisa, de disciplinas como, por exemplo, Metodologia Científica. A partir daí surgiu a oportunidade de participarmos de um processo seletivo para estudantes
No início do ano, início de fevereiro, quando a professora nos ligou dando a notícia do retorno das bolsas, uma mistura de alegria, animação, renovação e fé nos invadiu. Mais ainda, a certeza de que estaríamos de novo no laboratório, não só aprendendo, mas fazendo parte da construção do conhecimento. Maravilhoso! Ao agradecermos a professora Andréia Laura fomos informadas que o mérito era todo da FAPEMIG. Portanto, queremos agradecer por mais esta oportunidade e dizer que daremos o nosso melhor. Obrigado por nos dar a possibilidade de ficar mais perto do nosso sonho. Nós sonhamos ser Médicas (Natália: Obstetra; Gabriella: Cirurgia geral). Nós conseguimos passar por todas as dificuldades, vencer os obstáculos, e estamos avançando nas barreiras. A sabedoria, o conhecimento aprendido, a esperança e a fé são nossas ferramentas para uma grande conquista. Chegamos até aqui graças a nossa luta e às pessoas que acreditaram na gente e nos ajudaram, e por isso mais uma vez agradecemos por acreditar e fazer parte da construção deste sonho. Guardem nosso nome: Gabriella e Natália! Brilharemos mais! Obrigada. Gabriella P. Almeida e Natália C. Costa Alunas do Ensino Médio Belo Horizonte/MG
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CARTAS
carentes e conseguimos. Foi com pesar que recebemos, a seguir, a notícia de que não teríamos mais a bolsa. A entrada no Marista não mudou a nossa situação financeira. A bolsa, apesar de pequena, nos permitia deslocar para a Universidade e muitas vezes fazer lanche em períodos em que a pesquisa era prolongada. Mesmo assim, a vontade de participar da construção do conhecimento e sentir que podíamos fazer parte da mudança nos fez pedir à professora que nos aceitasse como voluntárias. Confessamos que não tem sido fácil. As nossas despesas aumentaram e as receitas continuaram estáveis.
FOTO: Reprodução / MoMA
saúde
La Mona Lisa a los doce años (1958): óleo sobre tela de Fernando Botero (1932), pintor colombiano
Um país em alerta
Fabrício Marques
Quase a metade dos brasileiros está acima do peso. A boa notícia é que há em andamento ações e pesquisas que podem ajudar no combate à obesidade
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Cento e sessenta e quatro quilos. Era o peso do estudante de jornalismo João Luís Chagas Ferreira, de 23 anos e 1,73 metro, de Belo Horizonte, até março deste ano, antes de fazer uma cirurgia de redução de estômago. Ele mesmo pinta o cenário em que vivia: “Eu já tinha tentado todos os métodos possíveis de emagrecimento, remédios, tratamento com nutricionista, nutrólogo, endocrinologista e dietas mirabolantes. Cheguei ao meu limite, e com 164 quilos era praticamente a única solução fazer a cirurgia. Pensei no procedimento durante alguns anos, li e pesquisei muito antes de tomar a decisão”. Seus hábitos alimentares eram “os piores possíveis”, segundo ele. Além de comer apenas alimentos muito calóricos e gordurosos, se alimentava poucas vezes por dia. No último dia 11 de abril, João Luís subiu na balança e comemorou a perda de 20 quilos (“sem roupas, meu peso era 144.3 quilos”). Ele conta que sua família apoiou a sua decisão de operar, mas havia um certo grau de desconfiança. “Precisei estudar muito para explicar e desfazer alguns mitos. Sinto que estou realizando um sonho meu e de meus familiares”, diz. O estudante também reconhece que as propagandas de TV sobre alimentos e bebidas de alguma forma o influenciavam. “Com certeza. Na verdade acho que ainda influenciam, mas de uma outra forma. Hoje sou mais controlado do que era antes, penso antes de comer tudo, não como mais por impulso”. Um dia antes de João Luís constatar que havia perdido 20 quilos, o País recebia a notícia de que quase metade da população brasileira está acima do peso. Era o principal dado de estudo divulgado pelo Ministério da Saúde, com os resultados da última pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2011), promovida em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo. Outras conclusões do estudo: o excesso de peso e a obesidade aumentaram nos últimos seis anos no Brasil. A proporção de pessoas acima do peso no Brasil avançou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%. No Brasil, a proporção de obesos cresceu 38,6% em seis anos em 2011.
Em Belo Horizonte, 45,3% está acima do peso. Há cinco anos, o percentual era de 37,1%. O número de obesos também cresceu: 8,7%, em 2006, para 14,2% em 2011. As causas apontadas pelo Ministério da Saúde são o sedentarismo e os maus hábitos alimentares. A pesquisa é importante fonte para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde preventiva. Foram entrevistados 54 mil adultos em todas as capitais e também no Distrito Federal, entre janeiro e dezembro de 2011. Para combater a obesidade, algumas pesquisas e ações empreendedoras estão em andamento. Nos Estados Unidos, um casal de cientistas brasileiros pesquisa uma nova droga, o adipodite, que pode inovar na luta pela redução de peso das pessoas. Em Belo Horizonte, uma pesquisadora procura identificar o perfil genético de alguns genes relacionados com a obesidade. Em São Paulo, um nutrólogo apresenta um programa, o Projeto Obesidade Zero, com chances de se tornar lei. Também na capital paulista, uma instituição, por meio de pesquisa e projetos de educação nutricional, cria avaliação inédita de altura, de crianças e jovens, para combater a desnutrição e a obesidade. Conheça, a partir de agora, um pouco mais dessas iniciativas.
Fórmula inovadora
Uma nova droga, chamada adipotide, foi aplicada durante 28 dias em macacos rhesus (Macaca mulatta) que estavam obesos (primatas dessa espécie são muito usados em experiências científicas). No final do período, os símios perderam em média 11% de peso. Detalhe: ao mesmo tempo, não abriram mão de maus hábitos de saúde, com vida sedentária e ingestão de sorvetes. A pesquisa foi conduzida por dois brasileiros, o casal de cientistas Wadih Arap e Renata Pasqualini, do MD Anderson Cancer Center, ligado à Universidade do Texas em Houston (EUA). Os pesquisadores estiveram no final do ano passado no Brasil para apresentar os resultados dos estudos. “O único modelo fiel de obesidade em humanos são macacos Rhesus. O estudo foi caro e intenso em termos de demandas de talento e tempo, mas sem dúvida, foi imprescindível validar a ação do adipotídeo nesta espécie”, afirma a médica, em entrevista por e-mail. Por que podemos dizer que essa pesquisa inovou a luta contra a obesidade? Responde
FDA, sigla para Food and Drug Administration, é a agência governamental norte-americana que lida com o controle das indústrias alimentícias e de medicamentos naquele país Renata: “Descobrimos um endereço molecular específico para vasos sanguíneos nutrindo o tecido adiposo. Assim sendo, podemos destruí-lo de forma específica com poucos efeitos colaterais. Estudos clínicos mostrarão o potencial do composto chamado adipotídeo, ainda a ser estudado em humanos” O adipotídeo acumula nos rins e produz uma toxicidade reversível em doses elevadas e administração prolongada. Mas o FDA deu permissão para que testes clínicos prossigam em pacientes com câncer de próstata e massa corporal alta. O racional é que a obesidade tem efeito pró-tumoral, e sua reversão ajudaria a desacelerarar o crescimento de tumores. “Sem dúvida, precisamos de uma versão que não acumula nos rins. Estamos trabalhando nisto, para alterar a estrutura química e obter um composto igualmente efetivo e menos tóxico”, revela. Ela explica que a tecnologia desenvolvida por sua equipe mapeia o sistema de “endereçamento postal” do corpo humano. “Assim sendo, podemos aplicar o sistema de localização específica para qualquer tecido, normal ou maligno. Todos os tecidos têm assinaturas moleculares específicas. Começamos mapeando os endereços em câncer, e também estudamos aqueles associados com o tecido adiposo”. Normalmente, os tratamentos contra obesidade ou suprimem o apetite ou aumentam o metabolismo periférico. No método desenvolvido pelos cientistas brasileiros, ocorre a destruição dos vasos sanguíneos que irrigam o tecido adiposo branco. A pesquisadora descreve como se dá todo o processo: “É simples, os vasos morrem quando internalizam o adipotídeo, e as células gordurosas liberam a gordura vagarosamente”. É como uma “dieta molecular”, diz. E completa: “O processo é vagaroso, portanto não há problemas com aumento massivo de lipídios na circulação, o que seria um problema sério, causaria esteatose, e problemas cardiovasculares”. Nos Estados Unidos, 27,6% dos adultos são obesos. No Brasil, a pesqui-
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sa recém-divulgada pelo Ministério da Saúde sinaliza para um aumento desse contingente. Qual a melhor política pública para tratar do problema? Renata Pasqualini considera que este é um debate sério. “Creio que a busca de novos tratamentos é crucial, a pesquisa na área necessita mais atenção e investimento”, pondera. Sua posição é bastante clara: quanto a mudanças em estilo de vida e equilíbrio nutricional, é bem estabelecido que perder peso é extremamente difícil. A observação de obesidade em crianças é superagravante porque, com a idade, a massa corporal tende a aumentar. “Então, a situação fica mais e mais séria, no sentido de que perder muito peso é um desafio monumental”, avalia. Renata e Wadi começaram este programa por volta de 2001 no MD Anderson Cancer Center. “Lideramos nosso laboratório juntamente, e somos casados há quase 20 anos. Trabalhamos muito eficientemente juntos, com grande sinergia e respeito mútuo. O time de cientistas e médicos associados a nós, tanto quanto nossos colabora-
dores no mundo todo, apreciam o fato de que o programa é liderado desta maneira. As decisões são feitas baseadas em debates saudáveis e fatos, não só na preferência de um indivíduo liderando isoladamente. Gostamos muito deste sistema, funciona bem”.
A genética da obesidade mórbida
A biomédica Cinthia Vila Nova Santana, do Laboratório de Neurociência, ligado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT-MM), faz pesquisa sobre a genética da obesidade mórbida, orientada pelo professor Marco Aurélio Romano Silva, com coorientação da professora Débora Marques de Miranda. Sua pesquisa se iniciou ainda no último ano da graduação, quando foi fazer o estágio curricular no Laboratório de Neurociência, em 2010. Em março de 2011 entrou para o mestrado no programa de pós-graduação em Medicina Molecular e deu
Fórmula do CREN para combater desnutrição e obesidade inclui avaliação inédita de altura Há três índices que podem ser empregados para se interpretar a aferição de peso e estatura de uma criança/adolescente: o peso para idade (P/I); o peso para estatura (P/E) ou índice de massa corporal (IMC) e a estatura para idade (E/I). De acordo com Gisela Solymos, no Brasil, por muitos anos, foi usado o P/I. Em alguns países, como o Haiti, onde a subnutrição aguda é gravíssima, usa-se o P/E ou IMC, que indica o estado de magreza de uma criança, mostrando se o peso que ela tem naquele momento está adequado para a sua altura. Esse índice é bom para as situações de guerra. O P/I verifica se o peso da criança está de acordo com o que é esperado para a sua idade. “É um índice fácil de aferir e, de certo modo, contém um pouco da informação da estatura da criança, pois uma criança com um peso adequado para sua idade tem mais chances de contar também com uma estatura adequada”, explica Gisela. Por muitos anos o Brasil usou esse índice, mas ele ainda não reflete a totalidade da situação nutricional de crianças brasileiras. Há crianças que têm um peso adequado, mas contam com uma baixa estatura. A diretora-geral do Cren observa: “desde o início de seu trabalho, há 20 anos, o Cren optou por aferir o indicador E/I, para verificar a qualidade da recuperação nutricional que estávamos promovendo, uma vez que uma criança pode engordar, mas não crescer, se a sua dieta não tiver uma adequação às suas necessidades proteicas. Fazendo assim, provamos que era possível recuperar estatura de crianças gravemente desnutridas”.
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continuidade à pesquisa. No momento ela está na fase de término dos experimentos para posterior análise estatística. São consideradas causas principais para o excesso de peso a ingestão alimentar associada ao estilo de vida sedentário, além da abundância de alimentos calóricos e pouco nutritivos característicos da sociedade globalizada. “No entanto, apesar da importância do fator ambiental, estudos apontam a forte participação das variantes genéticas, sendo responsáveis por cerca de 30-50% da variação fenotípica observada na obesidade”, ressalta Cinthia. Como lembra a biomédica, pesquisas com gêmeos chegam a considerar a influência genética em torno de 70% no desenvolvimento da patologia. A Diretriz Brasileira de Obesidade (2009 e 2010) afirma que o risco de se desenvolver a obesidade, quando nenhum dos pais é obeso, é de 9%. Quando um dos genitores é obeso, esse índice eleva-se a 50%, atingindo 80% em caso de ambos os pais estarem acima do peso. Nesse contexto, sua proposta é realizar a determinação do perfil genético para alguns genes (FOXO3A, POMC e AMPK) que estão relacionados com a obesidade, mas ainda não se sabe ao certo como. O trabalho envolve o recrutamento de indivíduos obesos mórbidos com um termo de consentimento, para posterior realização de exames clínicos e laboratoriais. A pesquisadora trabalha diretamente com a amostra de DNA desses indivíduos, realizando a genotipagem deles, ou seja, determinando o perfil genético dos obesos mórbidos para FOXO3A é um fator de transcrição que, por isso, pode ativar e inibir determinados genes alvos. Partindo desse princípio, Cinthia propõe analisar dois genes alvos nos quais FOXO3A estaria atuando na condição de obesidade mórbida: POMC e AMPK. POMC (proopiomelanocortina) é um neuropeptídio que inibe o apetite. AMPK (proteína quinase ativada) está intimamente relacionada com o metabolismo de glicose e lipídios em resposta à demanda energética. A relação de FOXO3A com POMC e AMPK ainda não está bem esclarecida, o que reforça a necessidade da pesquisa.
Dois anos antes da publicação dessa pesquisa, em 1993, foi implantada em São Paulo a primeira unidade do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren). Por seu trabalho à frente do Cren, a diretora-geral, Gisela Soylmos, recebeu o Prêmio Empreendedor Social 2011, iniciativa da Folha de S. Paulo e da Fundação Schwab. Dentre outros méritos, o Cren criou uma fórmula para combater desnutrição com base em avaliação inédita de altura da criança e do adolescente (leia box). E preocupa-se também com a questão do excesso de peso em seu público-alvo: “Atualmente temos um projeto de pesquisa em andamento sobre métodos educativos na recuperação de crianças e adolescentes obesos”. A principal preocupação do Cren, diz Gisela, é indicar um método de conhecimento e de intervenção na realidade. Este método permite ao profissional de saúde olhar para a realidade mais atentamente, bem como lhe oferece instrumentos adequados para enfrentar problemas inesperados e novas situações.
gando aos índices dentro da normalidade implica um fator ambiental e não genético”. Portanto – explica Cinthia –, a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável podem contribuir significativamente para a manutenção do peso ideal, no entanto não exclui a influência genética para a tendência de ganho de peso.
Desnutrição e obesidade
Em 1995, um grupo de pesquisadoras – dentre elas a psicóloga Gisela Solymos – publicou artigo sobre pesquisa, realizada entre 1990 e 1991, que identificou a coexistência da desnutrição e obesidade. A conclusão era que a obesidade na pobreza decorre de desnutrição na infância. “Naquele trabalho encontramos um percentual significativo de meninas adolescentes (mais de 10%) que tinham baixa estatura e apresentavam sobrepeso. Investigando esse grupo, verificamos que 21% dos adolescentes que foram desnutridos (baixa estatura) apresentam hipertensão, contra uma prevalência de 7% na população em geral, bem como deficiências no metabolismo do açúcar”, diz Gisela. A psicóloga explica que a obesidade é uma forma com a qual o organismo se defende da pobreza: em situações adversas, o sistema nervoso central regula o metabolismo para reter energia em forma de gordura. “O melhor modo de resolver isso é impedindo que ela aconteça, ou seja, evitando e/ ou recuperando a desnutrição, permitindo à criança o crescimento esperado para sua idade. Depois que o problema se instala, o tratamento é aquele clássico do obeso, hipertenso e/ou diabético”, afirma.
Educação nutricional
Foto: Renato Stockler / Divulgação
os genes de interesse da pesquisa a partir da técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) em tempo real. O mesmo acontece com o grupo dos controles. Os pacientes obesos mórbidos são abordados no Hospital Felicio Rocho, em Belo Horizonte, pelo médico Adauto Versiani (Cinthia não participa dessa parte). É coletado sangue (5 ml apenas) desses indivíduos e uma bateria de exames clínicos é realizada (como a dosagem de glicose no sangue, colesterol, triglicerídios), além de levantar dados como peso, altura e idade. O sangue coletado é enviado ao Laboratório de Genética Molecular na Faculdade de Medicina. Lá será feita a extração do DNA e a partir daí são feitas reações de polimerase em cadeia (PCR) para a genotipagem dos indivíduos. “A PCR consiste basicamente na cópia do fragmento de DNA de interesse, uma espécie de xerox do DNA. Com os reagentes específicos é possível então determinar esse perfil genético. Com o conjunto de dados clínicos mais os dados genéticos é realizada, por fim, a análise estatística e, posteriormente, a interpretação dos resultados”, diz Cinthia. A relação entre genética e obesidade permite perguntas como essa: homem e mulher que tenham obesidade mórbida e percam peso, chegando a índices “normais” de peso, caso tenham um filho, esse filho terá o risco genético de ter obesidade mórbida? A pesquisadora da UFMG responde: “Se esse homem e essa mulher possuírem no seu código genético a pré-determinação para a obesidade, grandes são as chances de o filho apresentar excesso de peso também. O fato de os pais emagrecerem che-
Gisela Solymos, do Centro de Recuperação e Educação Nutricional
O Cren também tem inovado ao propor um novo olhar sobre a educação nutricional. Nesse sentido, pode-se perguntar: quais as medidas fundamentais para transformar as práticas de educação nutricional no País, e de que modo elas podem ajudar no combate à obesidade? “Essa é uma pergunta gigante! Bem, podemos começar por usar toda a tecnologia da publicidade para difundir formas de alimentação saudável; depois poderíamos envolver as escolas nessa batalha, começando da educação infantil, com técnicas adequadas de educação nutricional. Finalmente, é necessário que os alimentos frescos estejam disponíveis e sejam acessíveis a todas as camadas da população”, observa a diretora-geral. De acordo com ela, com um modelo contemplando tais elementos avançaríamos muito no combate à desnutrição, entendida como subnutrição e obesidade. Outro destaque são as oficinas que estimulam o protagonismo de pais e filhos. Isso acontece proporcionando momentos de convivência, em geral, tendo o alimento como tema, coordenados por um profissional de Psicologia e de Nutrição. Nesse momento, explica Gisela, trabalham-se as características do alimento, o seu preparo
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IMC
• O Índice de Massa Corporal (IMC) é obtido a partir da razão entre o peso (em kg) e a altura do indivíduo ao quadrado (m²) • Quem tem IMC igual ou superior a 25 Kg/m2 é classificado como pré-obeso. • Quem tem IMC igual ou superior a 40 Kg/m2 é classificado como obeso nível III (obesidade mórbida).
COMBATE À OBESIDADE
• A obesidade é um grande fator de risco para a saúde e tem forte relação com altos níveis de gordura e açúcar no sangue, excesso de colesterol e casos de pré-diabetes. • Pessoas obesas também têm mais chance de sofrer com doenças cardiovasculares, principalmente isquêmicas (infarto, trombose, embolia e arteriosclerose), além de problemas ortopédicos, asma, apneia do sono, alguns tipos de câncer, esteatose hepática e distúrbios psicológicos
OBESIDADE MÓRBIDA
• O quadro de obeso mórbido se dá quando a educação alimentar, a prática de exercícios físicos regulares e o tratamento farmacológico já não são suficientes para o indivíduo perder peso de forma significativa. • Inúmeros fatores contribuem para o desenvolvimento da obesidade, tais como fatores sociais, comportamentais, psicológicos, metabólicos, celulares e moleculares, tornando-se difícil atribuir apenas uma causa para o excesso de peso. • Por essa razão, esta patologia é considerada uma doença multifatorial com origens genéticas e ambientais, resultante basicamente de um desequilíbrio entre a quantidade de calorias ingeridas e aquelas consumidas com o metabolismo, associado ao perfil genético do indivíduo. FONTE: Ministério da Saúde / Cinthia Vila Nova Santana
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e o próprio momento da refeição, considerando que os aspectos nutricionais, de preparo e higiene sejam relacionais. Para a diretora-geral do Cren, é preciso criar um ambiente em que viceje a “cultura de responsabilidade”, estimulando os pais a desenvolver essa cultura. “Responsabilidade vem de responder, de dar uma resposta a uma determinada situação”, diz Gisela. Para ela, desenvolver a cultura da responsabilidade significa educar com uma capacidade de resposta às diferentes situações que são dadas àquela mãe, criança ou família. Isso significa estar juntos com as famílias e ajudar a entender o que está acontecendo e qual o melhor modo de responder a uma circunstância. Significa ir atrás de recursos concretos (auxílios, serviços) e de instrumentos de capacitação que possam auxiliar nesse processo. Gisela completa: “o estímulo para uma cultura da responsabilidade nasce de um reconhecimento de quem sou eu, de minha dignidade e da tarefa que me é dada, daquilo ao qual eu sou chamada nesse momento (como mãe/pai, esposa(o), trabalhador(a), cidadã(o) etc)”. Sabemos do apelo que há, entre crianças, da publicidade de alimentos como hambúrguer e batata frita. É possível promover hábitos de vida saudáveis entre esse público? “Claro! Fazendo um apelo contrário! Como eu disse, se falamos em larga escala, precisaríamos ter a publicidade a nosso favor. Em âmbito clínico, lançamos mão de outras estratégias, como as ações das quais falamos aqui”, esclarece. Gisela Solymos entende que a melhor maneira de inserir a nutrição na escola a fim de que os jovens se envolvam mais com o assunto é adotando um tema transversal: “Fizemos um projeto de enorme sucesso, chamado ‘Eu Aprendi, Eu Ensinei’, que fez exatamente isso”. A realização deste programa, entre 2004 e 2005, envolveu 53 escolas públicas de ensino médio em 11 localidades do Norte de Minas Gerais, e reuniu 800 professores e 23 mil alunos. A participação desses professores e alunos, dos diretores das escolas, de Superintendências Regionais de Ensino e da Secretaria de Estado da Educação/MG possibilitou mudanças que muitos céticos não acreditavam viáveis, e confirmou a importância da escola como instrumento para a renovação de lugares e pessoas.
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“Foi um dos projetos mais bonitos que já fizemos, por sua capacidade de mobilização e valorização da escola, e pelos resultados que provocou na vida dos alunos”, ressalta. Gisela conta que eles se questionaram profundamente sobre o tema da nutrição, e mudaram conceitos e pré-conceitos, tais como o de que aleitamento materno prejudica a beleza do corpo. Ao invés, descobriram a beleza do aleitamento materno, a importância do cuidado com o corpo e a necessidade que a sociedade tem destes conhecimentos. Com entusiasmo, Gisela Solymos não deixa pergunta sem resposta: o que deve ser levado em conta na capacitação de agentes de saúde e estudantes de Medicina para combater desnutrição e obesidade? “Uma boa formação em nutrição, além das técnicas de busca ativa. Para enfrentar esse problema, é necessário que o profissional vá à casa da família e esteja disposto a conviver com ela”. Ou então: como lidar com uma criança carente que tenha obesidade mórbida? “Da mesma forma como com qualquer outra criança: buscando um equilíbrio em sua dieta”. Em 2002, o Cren participou do seminário internacional “Nutrición Infantil y Educación em Zonas Urbano Marginales Propuesta de um nuevo enfoque integral”. Comparando com o que foi apresentado àquela época, dez anos depois, Gisela teria mudado a maneira de ver o problema? “Sim e não. Na verdade, o problema mudou: a obesidade cresce a passos largos entre a população infanto-juvenil, e a desnutrição está cada vez mais associada a situações de extrema miséria, e a condições de enorme sofrimento humano, e não somente material. Contudo, nosso método, que propõe seguir a realidade segundo suas características, revelou-se e revela-se sempre mais vencedor, pois não se trata de um esquema pré-definido, mas de um caminho para entrar em real diálogo com a realidade”.
Obesidade Zero
Em 8 de novembro do ano passado, no XIX Congresso Brasileiro de Nutrição Parenteral e Enteral, em Santa Catarina, foi apresentado o Projeto Obesidade Zero, que tem como objetivo erradicar a doença que já é considerada a epidemia do século XXI. Atualmente, o Projeto, uma criação do nutrólogo Daniel Magnoni, é tema de dois
30, projetando um grande e forte aumento na obesidade nacional. Magnoni tem defendido a necessidade de que a porta de entrada nos postos de saúde seja o nutricionista, “que deve atender antes mesmo do médico a paciente que vai fazer o pré-natal, quem vai tratar uma hipertensão ou mesmo pedir medicação para um problema gastrointestinal”. Em seu ponto de vista, a triagem sempre deve ser completada com peso e altura, seja em qualquer doença ou atendimento. “Na medida que temos esses dados, já poderemos colocar o paciente em avaliação nutricional diretamente, independentemente da doença ou do motivo que levou o paciente à unidade de saúde”.
Foto: Divulgação
projetos de lei que preveem sua aplicabilidade na cidade de São Paulo. Ambos estão tramitando em comissões parlamentares em níveis municipal e estadual. O programa Obesidade Zero fechou uma parceria com o exército brasileiro e terá acesso a dados de estatura e peso dos últimos 20 anos de todos os jovens que se alistaram no Sudeste do Brasil quando completaram 18 anos. Os dados serão apresentados na Semana Obesidade Zero, de 28 de maio a 1º de junho, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, e apontarão para o aumento da obesidade, mas principalmente o aumento de jovens dentro do percentil de IMC acima de 25 e acima de
O nutrólogo Daniel Magnoni
PROJETO OBESIDADE ZERO Conheça os nove pontos estabelecidos para o programa, seguidos de comentários exclusivos do médico Daniel Magnoni
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Educação em Nutrição Saudável nas escolas básicas e no currículo escolar.
Efetivação e obrigatoriedade de profissionais de Nutrição nas unidades básicas de saúde, configurando a avaliação nutricional, principalmente de peso e altura, como a porta de entrada do sistema.
Envolvimento empresarial do setor alimentício, interagindo com a população em atividades de motivação e mobilização no combate à obesidade.
“Por meio da educação teremos crianças aptas a escolhas saudáveis e educadores da família. Sabemos que as crianças podem ser molas condutoras de processos educacionais nas famílias. Vejam o exemplo das lixeiras coloridas, as crianças sempre sabem para que cor deve ser direcionado o lixo classificado”
2 Estímulo aos hábitos de vida relacionados ao combate à obesidade. “Escolha saudável, cuidados de saúde”
3 Estímulo a atividade física, esporte e ginástica. “Incremento de possibilidades em escolas, aglomerados sociais e empresas”
“Este item é ncessário para a triagem e os projetos educacionais. Configurar uma porta de entrada, um filtro da obesidade”
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“Reduzir alimentos obesogênicos, utilizar os rótulos para educação”
8 Envolvimento das empresas de comunicação, na divulgação do projeto e no estímulo a atividades relacionadas.
Desenvolvimento de projetos clínicos amplos com pesquisas e enfoques regionais e adaptadas às situações epidemiológicas, econômicas e culturais. “Projetos de impacto, que motivem a população. Divulgação de resultados impactantes e geradores de mídia. Na sequência a população passa a conhecer as ferramentas de combate à obesidade”
6 Normatização e legislação em alimentação saudável no enfoque que envolve marketing e propaganda.
“Parcerias com as universidades, gerando material de promoção e envolvimento com a causa”
9$ Desoneração fiscal aos produtos alimentícios relacionados ao controle da obesidade. “O alimento que emagrece está muito mais caro que aquele que engorda”
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engenharia
Sinal verde para a liberdade
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Acionado conforme a cor exibida nos semáforos, dispositivo criado por estudantes do UniBH facilita circulação dos deficientes visuais pelas ruas e avenidas das metrópoles
Dados do Censo Demográfico 2010, publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que cerca de 35,8 milhões de pessoas no País sofrem de deficiência visual – dentre as quais, 528 mil possuem cegueira completa. Imagine o leitor a miríade de desafios enfrentada por tais cidadãos, dia a dia, nos grandes centros urbanos, onde a solidariedade parece escassa e os problemas logísticos multiplicam-se de forma exponencial, ao ritmo da ampliação do número de carros nas ruas e avenidas. No trânsito das metrópoles, é sempre bom lembrar que, afora os obstáculos próprios da ausência de visão, os cegos percebem seus direitos civis acachapados, justamente, em função da precariedade das políticas de circulação: em meio a veículos sempre dispostos a acelerar, de que modo atravessar, com segurança, a mais pacata das vias públicas? Com o inovador (e solidário) auxílio de estudantes do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), os deficientes visuais ganham nova oportunidade para caminhar com tranquilidade por entre as desafiadoras alamedas das megacidades. Sob orientação do professor Euzébio de Souza, coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Instituição, oito alunos desenvolveram o Transponder, equipamento individual capaz de avisar às pessoas com cegueira total, no exato instante em que buscam atravessar ruas ou avenidas, a cor exibida pelo sinal de trânsito. Afivelado ao braço do usuário, o dispositivo vibra de modo distinto conforme a luz – amarela, verde ou vermelha – do semáforo. De acordo com a “tonalidade” da sinaleira, variam o tempo e a intensidade
Batizado oficialmente de Transponder configurável para deficientes visuais, o dispositivo eletrônico (complementar de automação) busca receber, amplificar e retransmitir sinal em frequência diferente, ou transmitir mensagem pré-determinada – a partir de fonte específica – em resposta a outra, também pré-definida por fonte específica. O termo Transponder é a abreviação para Transmitter-Responder.
A equipe responsável pelo desenvolvimento do Transponder é composta pelos estudantes Guilherme Henrique Camelo, Rafael Zanini, Marcelo Faleiro, Lílian de Melo Costa, Jurandir Agostinho, Bruno Vianna, Breno Monteiro e Gustavo Almeida de Oliveira. de vibração do aparelho atado ao corpo do pedestre com deficiência visual: “Oscilações prolongadas indicam a possibilidade de do cidadão atravessar a via pública em segurança, pois o sinal está vermelho para os automóveis”, destaca Souza, ao explicar, ainda, que a troca de “informações” entre o Transponder e o equipamento de tráfego dá-se por meio de radiofrequência. Para que o mecanismo funcione, portanto, é necessário instalar, nos semáforos, circuitos integrados capazes de enviar ondas eletromagnéticas ao aparelho.
“Oscilações prolongadas indicam a possibilidade de o cidadão atravessar a via pública em segurança, pois o sinal está vermelho para os automóveis” Euzébio de Souza Coordenador do curso de Engenharia Elétrica
Fábrica de empreendedores
O desenvolvimento do Transponder foi proposto pelos alunos, em agosto de 2011, durante as aulas de Trabalho Interdisciplinar de Graduação (TIG), disciplina que, nos diversos cursos do UniBH, busca estimular, semestre a semestre, a “interação” entre múltiplas áreas do conhecimento. No TIG da Engenharia Elétrica, o corpo discente é convidado a elaborar e aperfeiçoar – ao longo dos períodos letivos – serviços e/ou artefatos inovadores. “Ao longo da graduação, os estudantes têm tempo para criar e sofisticar suas invenções”, ressalta Euzébio de Souza, ao comentar, ainda, a possibilidade de, antes mesmo da formatura, os estudantes investirem em iniciativas como o patenteamento de novas ferramentas e ideias. “Ao impacto social das inovações, some-se a chance de os alunos finalizarem o curso com ótima oportunidade de negócio nas mãos”, afirma o professor, para quem a busca por novos produtos e serviços revela-se a força-motriz a mobilizar os alunos de Engenharia Elétrica do UniBH: “Entendemos que, em diversas áreas, o Brasil carece de projetos acadêmicos e científicos. Isso nos motiva a mostrar aos estudantes a possibilidade de investimento em projetos realmente MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAIO 2012
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“Como em todo trabalho em equipe, no início, não havia consenso quanto à eficácia do projeto. Após uma série de debates no grupo, contudo, resolvemos investir no Transponder. No fundo, sabíamos que tudo poderia dar certo” Guilherme Henrique Camelo Estudante
inovadores, capazes, inclusive, de transformar o curso de graduação numa experiência única”. Bons conceitos e iniciativas, contudo, dizem respeito não apenas à organização acadêmica dos trabalhos, mas também – e principalmente – ao esforço, ao talento e ao “espírito visionário” dos alunos, sempre engajados nos desafios semestrais. No caso do Transponder, a proposta de desenvolvimento do produto nasceria das indagações de um de seus co-autores, o estudante Guilherme Henrique Camelo, que, certa vez, presenciara a dificuldade de um deficiente visual em atravessar uma movimentada avenida da capital mineira. Da cena urbana viriam as poucas (e férteis) dúvidas do projeto: o que fazer para que indivíduos com problemas de visão possam usufruir melhor do espaço público? E de que modo, afinal, permitir que “enxerguem” os sinais de trânsito? “Como em todo trabalho em equipe, no início, não havia consenso quanto à eficácia do projeto. Após uma série de debates no grupo, contudo, resolvemos investir no Transponder. No fundo, sabíamos que tudo poderia dar certo”, recorda-se Guilherme, que, desde o ensino médio, realizado no Serviço Social da Indústria (SESI), cultiva o pendor pelo empreendorismo: “Quanto tive a ideia do equipamento, pensei ‘lá na frente’. Afinal, trata-se de produto que pode emplacar, já que não há nada parecido no mercado”. Apresentado às questões suscitadas por Guilherme, o colega Rafael Zanini – também integrante do grupo de TIG – seria o primeiro a destacar, em contraponto à óbvia impossibilidade de percepção das cores pelos deficientes visuais, a grande capacidade tátil de tais indivíduos. Iniciava-se, assim, a construção de respostas práticas aos problemas de pesquisa. Pois a partir de elementos de sua própria rotina, os estudantes buscariam soluções criativas para “as pedras” do caminho. Ao discutir a habilidade dos deficientes visuais em reconhecer “o mundo” pelo tato, os pesquisadores lembraram-se, como num divertido passe de mágica, do funcionamento dos joysticks de jogos eletrônicos – os quais, em corridas virtuais de carros, por exemplo, são responsáveis, por meio de vibrações no controle acionado pelo jogador, pela simulação das reentrâncias da pista ou da frenética tensão do motor. “O grupo de TIG, então, adaptou o circuito integrado do joystick ao protótipo do Transponder”, elucida Euzébio de Souza.
Na frequência da solidariedade Ao longo das etapas de produção, desde meados do ano passado, o Transponder passaria por
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significativas modificações – a começar pela substituição do “motorzinho” de joystick por mecanismo mais sofisticado, construído pelos estudantes com peças encontradas em lojas especializadas. Trata-se de circuitos eletrônicos que, após manipulados, tornam-se capazes de transmitir ondas eletromagnéticas: “O sistema, no qual fios recebem energia e enviam sinais de rádio, foi todo construído pelo grupo”, ressalta o professor. Para além das questões técnicas, porém, os cuidados com o bem-estar dos usuários tomou a maior parte da atenção dos pesquisadores. Afinal, as metas do projeto diziam respeito à possibilidade de garantir maior autonomia e liberdade aos deficientes visuais. Exatamente por isso, durante as etapas de produção do Transponder, realizaram-se simulações do equipamento com o auxílio de um professor de Braille do Instituto São Rafael, entidade especializada no atendimento educacional à pessoas com problemas de visão. Como resultado de tal colaboração, surgiram os novos desafios e demandas, que, neste primeiro semestre de 2012, prenderão a atenção dos jovens pesquisadores. Trata-se, em primeira lugar, da tentativa de diminuir o tamanho do Transponder, de modo a que o equipamento torne-se cada vez mais bonito e confortável aos usuários. Por outro lado, os estudantes buscarão ampliar, segundo Guilherme Camelo, os níveis de confiabilidade da ferramenta: “O projeto já é bastante confiável. Apesar disso, quanto mais segurança, melhor! Afinal, o aparelho será usado, nas ruas, por pessoas com necessidades especiais”, enfatiza. Neste momento, afora as pesquisas em busca da miniaturização do Transponder, os estudantes negociam parcerias com instituições como a Empresa de Transportes de Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). Para ampliar as possibilidades da solidária invenção, será fatalmente necessária a ampliação de recursos e infraestrutura. “Enquanto isso, o grupo aguarda o andamento do processo de patenteamento, já iniciado, de sua ótima invenção”, conclui o professor Euzébio de Souza.
Segundo ele, o desenho formado pelas escamas é uma característica genética das serpentes e, no caso da cascavel, é muito específico em todo o corpo, sempre em tons amarronzados, alguns mais claros e outros mais escuros. “Os filhotes nasceram com desenhos e cores
diferentes, com tons amarelados e com losangos apenas nas laterais”, espanta-se Rômulo. Ainda de acordo com ele, essa novidade deve ter ocorrido pelo fato de ser um acasalamento de duas subespécies diferentes. “Esses novos filhotes é como se fossem umas terceira espécie, com desenhos da Collilineatus e da Cascavella em um único corpo”, explica. Os nomes foram escolhidos por meio de uma enquete no site da Fundação. Dora significa presente; Aimoré vem do tupi-guarani e significa aquele que morde; já Caiuá quer dizer aquele que mora no mato. No site http://funed.mg.gov.br/ servicos-e-produtos/animais-peconhentos/, os interessados ficam sabendo como agendar uma visita para conhecer os novos habitantes do serpentário da Funed.
Cativeiro Atualmente, a Funed conta com 25 exemplares de cascavel. A maioria é usada na produção do soro indicado para o tratamento em caso de acidentes com animais peçonhentos. Por mês, somente as cobras dessa espécie na Funed produzem cerca de 1.400 mg de veneno, o suficiente para abastecer a produção de aproximadamente 10 mil ampolas de soro anticrotálico por ano.
Conteúdo exclusivo no blog Lançado em 2011, o blog do projeto Minas Faz Ciência (http:// fapemig.wordpress.com/) é o mais novo componente do programa de comunicação científica da FAPEMIG. Nele, o internauta encontra notícias, novidades e curiosidades sobre Ciência, Tecnologia e Inovação. Além dos podcasts da série Ondas da Ciência e das pílulas de TV do Ciência no Ar, o blog também apresenta conteúdos exclusivos. Um exemplo são as conversas, na íntegra, com pesquisadores entrevistados para as reportagens da revista. Faça uma visita e deixe seu comentário!
E por falar em blog...
O blog de divulgação científica “Viagens da Laura” (http://viagensdalaura.wordpress.com), produzido pelo Laboratório Aberto de Interatividade (LAbI) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), está entre os finalistas do The BOBs, concurso internacional de blogs da emissora alemã Deutsche Welle. O blog relata as aventuras de Laura, adolescente que é a protagonista da radionovela “Verdades Inventadas”, veiculada pelo LAbI em 2011. Nos episódios que estão disponíveis no blog, Laura faz viagens imaginárias a partir de incentivos de seu novo professor de Literatura. Nessas viagens, encontra diversos personagens da Ciência e das Artes, como Einstein e Newton, Clarice Lispector, Júlio Verne, Oswaldo Cruz e César Lattes, Darwin e Mendel, e juntos passam por grandes aventuras e descobertas.
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CURTAS DA CIÊNCIA
Dora, Aimoré e Caiuá. Esses são os nomes dos filhotes de cascavel recém-nascidos na Fundação Ezequiel Dias (Funed). Eles são fruto do acasalamento de duas subespécies da cascavel Durissus: a fêmea Collilineatus e o macho Cascavella. “Foi um acasalamento inesperado, pois as cobras estão em idade avançada de reprodução e ainda fomos surpreendidos pela coloração diferenciada e rara dos filhotes”, afirma o chefe do Serviço de Animais Peçonhentos da Funed, Rômulo Righi de Toledo.
Foto: Gleisson Mateus
Filhotes raros de cascavel são atração na Funed
meio ambiente
Paleta de cores ameaçada Artigo publicado na Nature aponta os perigos, na Amazônia, do desmatamento, que diminui o verde e pode afetar o colorido da Floresta
Ariadne Lima
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Quase 6 milhões de quilômetros quadrados, percorrendo nove países da América do Sul. Cerca de cinco mil espécies de árvores, mais de 300 mamíferos, 1.300 pássaros, milhões de insetos e três mil peixes, vivendo na maior bacia hidrográfica do mundo. Os números servem para mostrar a imponência do ecossistema que forma a Amazônia e ajudam a entender por que seu papel é tão importante para o mundo. A Amazônia tem função essencial na ciclagem de água, no resfriamento do clima e Processo em que a água se transforma, por meio da evaporação e da condensação, de líquida a gasosa e vice-versa, por meio da troca entre elementos como rios, florestas e atmosfera. É por meio desse processo que se formam as nuvens e as chuvas.
no sequestro de carbono, ajudando a minimizar os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global. Além disso, é destaque no que diz respeito à diversidade cultural, com a presença de mais de 370 etnias indígenas, e à economia, que inclui atividades pesqueiras e extração de produtos florestais, como borracha, madeira, castanha, cupuaçu e açaí. Uma incontestável riqueza ameaçada pela ação do homem. Foi o que mostrou o artigo “A Bacia Amazônica em transição”, publicado em janeiro deste ano na revista científica inglesa Nature, com a participação do pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Britaldo Soares Filho. O artigo tem como primeiro autor o cientista e diretor executivo do The Woods Hole Research Center, situado nos Estados Unidos, e como coautores especialistas norte-americanos, de Porto Rico e do Brasil, vindos de instituições como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a UFMG. O texto é uma síntese dos resultados do Programa de Pesquisa em Larga Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), com mais de uma década de pesquisas, desenvolvido pelo Governo Brasileiro em conjunto com a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) (http://150.163.158.28/lba/site/#). O Programa financiou vários grupos de pesquisa, não só do Brasil, para investigar a interação entre os processos que ocorrem nos ecossistemas amazônicos, especialmente a interação do meio ambiente com o homem, e como isso interfere nos processos atmosféricos e no clima. A ação do homem foi de fato determinante para as mudanças no clima da Amazônia nos últimos anos, especialmente pela expansão da agricultura, exploração
Na fase de crescimento, as árvores demandam grande quantidade de carbono e retiram esse elemento do ar. Isso diminui a quantidade de CO2 da atmosfera, o que é chamado de sequestro de carbono. madeireira e formação de núcleos urbanos. De acordo com o artigo da Nature, entre 1960 e 2010, a população na região aumentou de seis milhões para 25 milhões, enquanto a cobertura vegetal diminuiu 20%. As regiões mais afetadas são o Sul e o Leste da Bacia Amazônica, em razão de um intenso desmatamento pela expansão agrícola. Segundo Britaldo Soares Filho, a Amazônia ainda é cobiçada por suas vastas terras, muitas pertencentes à União, que são alvo da expansão da fronteira agrícola. “As terras do Sul da Amazônia têm sofrido uma pressão muito grande devido à expansão da soja. Ainda que a soja ocupe áreas já abertas de pecuária, ela empurra os pecuaristas para dentro das florestas e eles vão, com isso, abrindo novas áreas.” Segundo o artigo, isso pode afetar o ciclo de carbono, levando a Amazônia da condição de sumidouro de carbono para a de emissora de CO2. “Estudos predizem que, se o desmatamento da Amazônia alcançar 40% da sua extensão original, as consequências serão muito mais drásticas. A fragmentação da floresta pelo desmatamento deixa os remanescentes florestais mais vulneráveis ao fogo que vem das áreas de pastagem. Quando a floresta pega fogo, ela fica mais suscetível a novos incêndios, que são aguçados pelos períodos de secas, como ocorreram em 2005 e 2010. Nesses anos, a floresta emitiu mais CO2 do que conseguiu sequestrar da atmosfera”.
“As terras do Sul da Amazônia têm sofrido uma pressão muito grande devido à expansão da soja. Ainda que a soja ocupe áreas já abertas de pecuária, ela empurra os pecuaristas para dentro das florestas e eles vão, com isso, abrindo novas áreas.” Britaldo Soares Filho Pesquisador
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Outra proposição é a de que a Amazônia regula o ciclo de chuvas no Sudeste do Brasil, afetando o fenômeno conhecido como Convergência do Atlântico Sul, em que uma faixa de nebulosidade, carregada de água, segue rumo ao Atlântico Sul, influenciando na ocorrência de chuvas. “A Amazônia tem esse papel muito importante de ciclagem de água, como se fosse um gigantesco ar condicionado. A água que cai na floresta é devolvida à atmosfera, por meio da evapotranspiração das árvores. Com isso, ela resfria o clima e aumenta a umidade do ar. Assim, muitas regiões, não só da Amazônia, dependem da Floresta para manter o ciclo de umidade”, diz o pesquisador. O aumento das áreas desmatadas,portanto, compromete esta função da Amazônia.
Savanização
O estudo publicado na Nature aponta que algumas áreas da Amazônia já estão sofrendo o efeito de redução de chuvas. Também, o aumento da frequência de secas extremas já pode ser uma consequência das mudanças climáticas. “Uma série
1.300 pássaros
cinco mil espécies
mais de 300 mamíferos
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de modelos climáticos apontam que o aquecimento global pode chegar ao ponto de reverter a capacidade de sequestro de carbono da Amazônia e, ao receber um estresse muito grande, a floresta seja transformada em arbustiva, na forma de uma vegetação mais próxima de uma savana. É o que temos chamado de savanização da Amazônia. Trata-se de um ciclo vicioso entre o desmatamento, a fragmentação florestal, a degradação da floresta pelo fogo e a invasão de espécies de gramíneas. Isso aumenta a flamabilidade da floresta, ou seja, ela pega fogo mais facilmente e, por isso, emite mais CO2, contribuindo para o aquecimento global,” explica Soares Filho. De acordo com o pesquisador, há o risco de que, embora a floresta seja resiliente (com a capacidade de autorrecuperação), haja um ponto em que essa capacidade seja rompida, por sofrer mudanças tão drásticas a ponto de não conseguir voltar ao estado original. “O estudo mostra que já algumas áreas da Amazônia estão sofrendo essas consequências, como o Estado de Rondônia, onde o desmatamento foi extensivo.”
três mil peixes
milhões de insetos
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Políticas públicas Um dos principais objetivos e benefícios das pesquisas é a proposição de políticas públicas que possam contribuir para reverter o ciclo vicioso de degradação da Amazônia. “A ciência feita pelo LBA influenciou o processo de políticas públicas que permitiu ao Brasil reverter a trajetória de desmatamento que vinha ascendendo desde o início da década de 2000 e reduzir mais de 67% o desmatamento desde 2005”, conta Soares Filho. Segundo o pesquisador, isso é consequência de uma série de medidas, como a queda do preço das commodities agrícolas em 2005, o que reduziu a atividade agrícola naquela época; a criação de uma cadeia de certificação da produção rural, o reflorestamento de áreas recentemente desmatadas e a criação de programas para excluir da cadeia produtiva os pecuaristas que desmataram além do permitido e beneficiar aqueles que atuam de acordo com a legislação ambiental. Também entram na lista de medidas a expansão de áreas protegidas, muitas das quais atuam como barreiras verdes; o sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora o desmatamento, e o aprimoramento do método de fiscalização ambiental do Ibama e dos Institutos estaduais. Somam-se a isso, medidas de restrição de créditos aos municípios desmatadores, que deixam de receber incentivos agrícolas. Por outro lado, municípios verdes, no estado do Pará, passam a receber benefícios por acabar com o desmatamento e promover o reflorestamento. “O Protocolo do Clima, previsto para 2015 que vai suceder o Protocolo de Kyoto, prenuncia a inclusão de um programa de pagamento por serviços ambientais. Hoje já temos projetos pilotos no Brasil”, diz Soares Filho. No Estado do Amazonas, por exemplo, famílias moradoras de Unidades de Conservação do Estado recebem a Bolsa Floresta, uma recompensa econômica pelos esforços de preservação ambiental. Iniciativa semelhante em Minas Gerais é a Bolsa Verde, em que o incentivo financeiro pago
aos produtores rurais que preservam o meio ambiente é proporcional à dimensão da área preservada. Para Soares Filho, o artigo da Nature foi importante para mostrar que a Ciência faz parte desse processo de conservação da Amazônia e que, por isso, é
muito importante a inserção da ciência nas políticas públicas. “Embora isso seja novo no Brasil, já se vê uma mudança de postura dos governantes em escutar a Academia. Cada vez mais é importante conclamar nossos governantes e políticos que elaboram as leis.”
Referência em Modelagem Ambiental No Brasil, o grupo de pesquisa da UFMG foi pioneiro na criação de um laboratório regional na área de sensoriamento remoto. O Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da Universidade foi criado em 1990, em parceria com o Estado de Minas Gerais e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Desde então, uma série de trabalhos ambientais foram realizados, em conjunto com outras instituições, como a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). No principio dos anos 2000, teve início o Cenários da Amazônia, um programa de pesquisa interinstitucional, que envolveu diversas instituições sob a liderança da UFMG, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do centro de pesquisa americana Woods Hole Research Center. A proposta do projeto foi a de elaborar modelos para simulação das possíveis trajetórias do desmatamento da Amazônia e seus possíveis impactos para que, assim, pudessem ser propostas políticas públicas, medidas mitigadoras e estratégias de conservação. Os estudos geraram diversos artigos, muitos publicados em periódicos científicos internacionais, como as renomadas revistas Nature e Science. A partir da experiência, surgiu o Programa de Pós-Graduação em Análise de Modelagem de Sistemas Ambientais. Nessa linha, muitos trabalhos são desenvolvidos, como, por exemplo, a modelagem ambiental dos processos de fogo, ligando o impacto das mudanças climáticas com o regime do fogo registrado nas florestas. Em Minas Gerais, um projeto financiado pela FAPEMIG, intitulado SimMinas, busca propor soluções para que o Estado concilie o aumento da produção agrícola com a política de conservação do seu patrimônio ambiental. O CSR da UFMG é hoje referência mundial em modelagem ambiental, recebendo estudantes de diversas partes do mundo. Britaldo Soares Filho explica que a modelagem é um instrumento transdisciplinar, ou seja, envolve e entrelaça diversas áreas do conhecimento. “A primeira coisa para se construir um modelo é ter os dados de experimentos em campo. Nessas pesquisas, nós precisamos de parceiros que estejam medindo, por exemplo, as árvores que crescem sob determinadas condições climáticas, o impacto do fogo na floresta, a capacidade que ela tem de se recuperar ou não dos focos de incêndio. A partir desses experimentos, nós construímos modelos computacionais”, diz o pesquisador. O grupo chegou a desenvolver um software para modelagem ambiental que hoje é utilizado internacionalmente. Para acessá-lo e conhecer mais sobre o CSR, basta visitar o site www.csr.ufmg.br/dinamica.
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educação ambiental
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Ouro que nasce da terra Projeto de extensão da Epamig busca ensinar e popularizar o cultivo de saudáveis hortaliças e plantas medicinais em ambientes escolares e domésticos 20
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Suas mãos, caro leitor, podem lhe garantir ótimas condições de saúde. Basta que, por meio de técnicas e conhecimento científico, você as acostume a cultivar alimentos fartos em fibras, nutrientes e outras tantas benesses. Interessado na dica? Mexa-se, pois, à cata de uns poucos “ingredientes”: mudas de hortaliças e plantas medicinais, singela porção de terra, equipamentos básicos de agricultura e – o mais importante – respeito sincero pela natureza. Plantas de ciclo curto e plantio simples, vegetais como alface, repolho, mostarda, couve-flor, brócolis, tomate, pimentão, quiabo, cenoura ou beterraba tendem a crescer com vitalidade em locais ou recipientes dos mais diversos – daquele pobre vaso abandonado ao mais solitário dos quintais, onde há tempos não brotam quaisquer vestígios de vida. Ansiosos por transmitir know-how as comunidades interessadas em se dedicar às riquezas da terra, pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) constataram que, apesar de habitual em diversas localidades do País, o cultivo de hortaliças (e outras preciosidades do reino vegetal) nem sempre se realiza com o auxílio de técnicas e conceitos desenvolvidos pela ciência – conhecimento especializado que, de múltiplas maneiras, poderia contribuir com o sucesso de iniciativas tão saudáveis. Afinal, hortas domésticas “são fundamentais para a melhoria da alimentação das famílias, com a possibilidade de inclusão de elementos ricos à dieta”, ressalta o agrônomo e professor Luciano Donizete Gonçalves – hoje docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – que, entre 2007 e 2009, coordenou, na Epamig, o projeto Hortas escolares como fonte de difusão de conhecimento e educação ambiental em Prudente de Morais (MG). De maneira geral, a iniciativa buscava estimular a prática do cultivo de hortaliças e plantas medicinais em instituições de ensino, com o intuito não só de transmitir conhecimento a estudantes e professores, mas também – e principalmente – de se efetivar como “laboratório vivo”, por meio do qual os docentes poderiam despertar,
em seus alunos, o interesse pela prática da conservação ambiental. Definido o “argumento” do projeto, restava saber a localidade onde tudo poderia, efetivamente, tornar-se realidade. Pois o município de Prudente de Morais (MG) acabaria por se revelar o ambiente perfeito aos objetivos dos pesquisadores. Na pequena cidade, onde vivem cerca de dez mil habitantes, muitas são as casas com espaçosos terrenos, propícios ao cultivo de vegetais. “Apesar disso, pudemos perceber que a prática não era comum entre as famílias do município. Assim, vislumbrou-se a ideia de usar as escolas como ambiente para difusão de tecnologias e saberes ligados à produção de hortaliças e plantas medicinais”, destaca Gonçalves, ao explicar que, uma vez disseminado o conhecimento científico entre os estudantes, a experiência poderia ser reproduzida em seus lares. A partir de tal pressuposto, e para a efetiva execução do projeto, os pesquisadores da Epamig e integrantes do Centro Tecnológico do Centro-Oeste selaram oficialmente a parceria com a Prefeitura Municipal de Prudente de Morais. Em seguida, escolheram, como locais para realização dos trabalhos, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e as escolas municipais Laerte Fraga, Tia Quinota e Jeliomar Brandão. Nas instituições, além de tecnologia, conhecimento e conscientização ecológica, os estudiosos buscaram discutir o valor nutricional das hortaliças e a importância da alimentação equilibrada. “Dentre nossas metas, estava a melhoria da qualidade de vida da população local de baixa renda, por meio do cultivo de hortaliças, com a otimização dos espaços escolares e domésticos”, comenta o coordenador.
Consumo versus Cultivo Em Minas Gerais, assim como em outros pontos do País, as comunidades acostumaram-se ao consumo de hortaliças. Por outro lado, o cultivo de tais espécies revela-se ainda escasso em todas as regiões da Federação. “Na verdade, mesmo no que diz respeito ao consumo, é possível identificar problemas. Embora as hortaliças estejam presentes na mesa do consu-
Também participaram da iniciativa, que contou com financiamento da FAPEMIG, os pesquisadores Marinalva Woods Pedrosa, Cláudio Egon Facion, Francisco Morel Freire, Hortência Maria Abranches Purcino, José Francisco Rabelo Lara, Maria Aparecida Nogueira Sediyama, Maria Helena Tabim Mascarenhas e Sanzio Mollica Vidigal e as diretoras Silvana de Souza Martins, Valdirene Clarindo Gaspar Cunha, Adriana Rodrigues da Silva e Júlia Maria Fraga Soares, gestoras das instituições de ensino atendidas pelo projeto.
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midor brasileiro, não existe diversificação de espécies, o que prejudica a ingestão de fontes nutricionais diversas. Além disso, o uso de plantas medicinais é bastante restrito”, comenta Gonçalves. Talvez em função da propalada “tradição nacional”, na mineira Prudente de Morais, todos os habitantes envolvidos na iniciativa demonstraram imediato interesse em adquirir conhecimento sobre as hortaliças e plantas medicinais. Também ao longo das atividades, muitos seriam os fatos (e fatores) a revelar que os pesquisadores atingiam, dia a dia, os seus objetivos centrais. Todos pareciam querer participar, cada um a seu modo: “Muitos alunos, principalmente os oriundos do meio rural, passaram a compartilhar, com muito gosto, as experiências que já possuíam com o cultivo de plantas”. Outras atividades do projeto buscavam a reflexão em torno de tais práticas. Os alunos do Cras, por exemplo, eram estimulados a levar, à instituição, algumas das mudas medicinais usadas por seus pais no cotidiano. Com as espécies em mãos – e diante dos colegas e professores –, realizavam apresentações para que pudessem explicar de que modo os vegetais eram consumidos em casa. Por meio da dinâmica, os pesquisadores detectavam – para, em seguida, tentar impedir – o uso inadequado das plantas no ambiente familiar. Já na Escola Municipal Laerte Fraga, em parceria com a diretoria da instituição de ensino e a participação de uma nutri-
cionista da Prefeitura, os pesquisadores elaboraram apostila com informações sobre o projeto, além de receitas de produtos alternativos. “Também realizamos palestra para os pais dos alunos, ocasião em que pudemos falar sobre a importância das hortaliças na alimentação e a viabilidade da construção de hortas nas casas”, conta o coordenador.
plantio pode ser feito de maneira simples, com o emprego de enxadas, sachos, pás, rastelos, regadores e mangueiras”, explica o coordenador, ao esclarecer que, quando há limite de espaço, é possível recorrer, até mesmo, a pequeninos recipientes: “Na Escola Municipal Tia Quinota, por exemplo, estimulamos o uso de vasos, devido à falta de terreno para construção de canteiros”.
Esforço coletivo
Sementes de futuro
Ao longo das etapas do projeto, as atividades envolveriam não apenas a participação de pesquisadores, professores e alunos, mas também de diretores e outros tantos funcionários das instituições de ensino. A natureza colaborativa da implantação e manutenção das hortas acabaria por se destacar como a principal “ferramenta” de estímulo ao desenvolvimento dos “exercícios” práticos – sempre complementados com palestras e visitas dos professores e alunos à unidade da Epamig em Prudente de Morais, local onde “todos tinham a oportunidade de adquirir novos conhecimentos”, segundo afirma Gonçalves. Importante ressaltar, neste sentido, que o cultivo de hortaliças e demais plantas pode ocorrer de múltiplas formas, e com o auxílio de diferentes tecnologias. No caso dos produtores comerciais, responsáveis por plantações de larga escala, é imprescindível a adoção de técnicas modernas, como o uso de “cultivares” melhoradas, sistemas de irrigação, insumos, máquinas e implementos. “Já nas pequenas hortas, o
Em setembro de 2009, assim que finalizado o prazo de execução do projeto, os pesquisadores interromperam seus trabalhos nas escolas, mas se mantiveram à disposição para orientações necessárias. “Isso ocorreu em função de minha saída da Epamig e, ainda, porque a ideia inicial era, justamente, que fizéssemos o trabalho inicial de implantação das hortas, para, em seguida, as escolas e o Cras darem continuidade à iniciativas”, conta Luciano Gonçalves. Infelizmente, observa-se, hoje, que os projetos não tiveram continuidade, em grande parte, devido à inexistência de mão-de-obra para manutenção das hortas. “Esse é um problema comum na realização dos trabalhos. Embora o projeto contemple o envolvimento da comunidade escolar nas atividades das hortas, é sempre fundamental que se tenha profissionais encarregados de serviços gerais, como preparo, limpeza e manutenção dos canteiros”, esclarece. Outra pesquisadora da Epamig envolvida no projeto, a engenheira agrônoma Marinalva Woods Pedrosa, também trata a
Fotos: Luciano Donizete Gonçalves / Divulgação
Jovens trabalham na horta do Cras
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Alunos da escola Jeliomar Brandão participam de atividade na Epamig
questão da mão-de-obra como o “gargalo” a impedir o prosseguimento do projeto: “Além de receber muito bem a iniciativa, as escolas demonstraram interesse em dar continuidade às atividades. Mas as instituições não têm estrutura para isto”. No que diz respeito ao Cras, destaca-se ainda um outro inusitado problema: em função do Estatuto da Criança e do Adolescente, os gestores da entidade não podem, nem mesmo, estimular o trabalho daqueles que são atendidos pela instituição: “Se trabalharem nas hortas, a atividade pode ser interpretada como uma forma de exploração”. Marinalva comenta, porém, que, hoje, muitas escolas mostram-se interessadas pela iniciativa em função da diversificação da merenda escolar e da possibilidade de re-educação alimentar. “Para tais fins, há grande procura por mudas de hortaliças não-convencionais. Ao oferecê-
-las e realizar palestras nas escolas, temos conseguido dar continuidade ao projeto. Nesses encontros, buscamos o resgate do cultivo das espécies e a diversificação dos hábitos alimentares”, conclui. Conforme se pode perceber, atualmente, os pesquisadores têm como trunfo o trabalho com as chamadas “hortaliças não-convencionais”. Além de oferecer as mudas, realizam palestras nas instituições de ensino. Mantém-se, desse modo, o estímulo à ingestão de tais espécies e à melhoria da dieta alimentar das comunidades. Embora não estejam dia a dia nas escolas – ambiente onde o projeto se desenvolveu inicialmente –, os profissionais da Epamig permanecem incentivando a implantação de hortas e a ingestão das saborosas (e saudáveis) riquezas da terra.
Projeto: Hortas escolares como fonte de difusão de conhecimento e educação ambiental em Prudente de Morais (MG) Coordenador: Luciano Donizete Gonçalves Modalidade: Apoio à Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia Valor: R$ 28.526
Hortaliças pedagogas Popularizar o cultivo de hortaliças em ambientes domésticos não foi o único objetivo do projeto desenvolvido pelos pesquisadores da Epamig. Além da difusão de conhecimentos e tecnologias ligados à produção das plantas, a implantação de hortas em ambientes escolares e domésticos cumpre papel ainda mais importante na formação da comunidade. “A iniciativa também serve como ferramenta didática para as áreas de conhecimento abordadas nas diferentes disciplinas responsáveis pela formação do aluno”, ressalta Luciano Gonçalves. O desenvolvimento de hortas que contemplem o manejo adequado de hortaliças e plantas medicinais, portanto, permite que os alunos compreendam melhor as atividades pedagógicas a que são submetidos no dia-a-dia. Neste sentido, a iniciativa da Epamig acabou por realçar-se como uma espécie de “canal” de construção e difusão de conhecimento sobre biologia vegetal (classificação botânica e descrição de órgãos e tecidos das plantas) e fatores do ambiente (água, solo e clima) relacionados à produção dos vegetais. Por fim, o cultivo de plantas, realizado a partir de preceitos da agricultura orgânica – segundo os quais não se deve usar defensivos agrícolas e é preciso investir no manejo sustentável –, apresentou-se como excelente ferramenta de educação ambiental.
Consciência ecológica é estimulada por meio do cultivo de hortas MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAIO 2012
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plataforma lattes
Divulgar é preciso CNPq estabelece inovação e divulgação de projetos na mídia como novos critérios de avaliação da produção científica Fabrício Marques
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“O País precisa de uma Ciência cada vez mais antenada com a sociedade, e para isso, o cientista deve reconhecer o seu papel de engajamento no cotidiano das pessoas”. A afirmação tem sido repetida pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, e ganha concretude com a notícia de que, em breve, dois novos critérios de avaliação do pesquisador brasileiro serão incluídos na Plataforma Lattes, que traz currículos e atividades de 1,8 milhões de pesquisadores de todo o País (segundo números do Conselho). A intenção do CNPq é aumentar o conhecimento da sociedade sobre as atividades científicas que ocorrem no País. São duas abas, uma na qual o pesquisador colocará informações sobre a inovação de seus projetos e pesquisa; e, na outra, listará iniciativas de divulgação e educação científica. “Estamos traduzindo uma ideia, que já existe, de valorizar a divulgação científica e a inovação”, observa o diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq, Paulo Sérgio Lacerda Beirão. Na aba “Divulgação” será avaliado se os cientistas têm blogs pessoais sobre Ciência, se divulgam em mídia os resultados dos seus trabalhos, se proferem palestras ou participam de feiras de Ciência em escolas, por exemplo. Todas essas ações terão o mesmo peso? Por exemplo, um cientista que mantém um blog há cinco anos, e outro que começou agora, como isso será pontuado? Beirão explica que existem várias formas de divulgação, e a aba contemplará todas elas. A valorização de cada uma das atividades vai depender da natureza das chamadas e do comitê julgador, que vai avaliar a qualidade do trabalho. O importante é que vai tornar visível para o julgamento a atividade do pesquisador na área de divulgação. “Uma entrevista é uma coisa – outra é escrever um trabalho elaborado ou um vídeo – a priori não é o CNPq que dirá o que deve ou não ser valorizado”, diz Beirão.
Os editais podem estabelecer critérios relacionados com a natureza da atividade. O diretor do CNPq exemplifica: “em um edital na área museológica, a experiência em museu vai pesar mais do que uma entrevista ou artigo em jornal. Por outro lado, se for um edital para livro de divulgação, essa experiência vai pesar mais do que a de museu. Uma coisa parecida se dará com a aba da ‘Inovação’. Tudo dependerá do propósito do edital: uma patente concedida internacionalmente, ou só um pedido, ou relatório técnico que ajudou uma empresa a fazer algo. Nesses casos também haverá mecanismo de verificação (por exemplo, ao informar o número de uma patente, o sistema automaticamente emite a comprovação)”. Os novos critérios podem ajudar na mudança da mentalidade de alguns pesquisadores e cientistas que têm certa má vontade com a mídia em divulgar suas pesquisas, mesmo sabendo que são financiados com dinheiro público. Na opinião de Paulo Sérgio Beirão, há duas razões para essa atitude. “A primeira é que existe pesquisador que acha que não deve se ocupar dessa divulgação. A criação da aba está sinalizando que o CNPq acha que é importante”, diz, descrevendo em seguida a segunda razão: “é uma espécie de pudor do pesquisador de que alguma informação passada ao jornalista seja hipertrofiada mais do que deveria, um receio de que o que está fazendo seja colocado de forma que não corresponda à realidade”. Outro ponto que se percebe é que muitas empresas deixam de investir em pesquisa, ao mesmo tempo que muitos pesquisadores veem empresários e empreendedorismo com maus olhos por puro preconceito de ambos os lados. Segundo Beirão, no passado esse conflito era muito forte, mas ainda há resquícios hoje. “Contudo, podemos dizer que essa mentalidade está desaparecendo. Predominantemente não existe mais essa suspeição de ambos os lados. A aba da Inovação vai ajudar, pois o CNPq sinaliza que é algo importante, o que tende a induzir mudanças culturais nos pesquisadores”.
“A aba da Inovação vai ajudar, pois o CNPq sinaliza que é algo importante, o que tende a induzir mudanças culturais nos pesquisadores”. Paulo Sérgio Lacerda Beirão Diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq
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Repercussão MINAS FAZ CIÊNCIA repercutiu a novidade entre representantes do meio acadêmico, como a diretora de Divulgação Científica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Silvania Sousa Nascimento. De acordo com ela, o reconhecimento, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do papel da Divulgação Científica no cotidiano do pesquisador é refletido na recente definição de um espaço público e oficial para o registro do investimento neste tipo de atividade. ‘‘O volume do conhecimento científico e tecnológico praticamente dobra a cada dez anos, e as consequências tecnológicas desse crescimento desestabilizam as relações de produção e circulação de conhecimentos, assim como os valores sociais e culturais’’, ressalta Silvania. A seu ver, inseridos nesse mundo em transformação, os mecanismos de validação da investigação científica, em muitos paises pós-industriais, já consolidaram a compreensão de que o saber acadêmico não é a única fonte de apropriação do conhecimento, estando toda a sociedade mobilizada em uma cultura do aprender. ‘‘As mídias (imprensa escrita e midiática) e mesmo os equipamentos culturais (plantários, museus, teatro e cinema) participam desse desafio de divulgar e popularizar as Ciências, assim como de promover processos educativos’’, completa. O ponto de vista que Silvania defende é o da comunicação pública das Ciências, ‘‘não dentro de um modelo de défict onde há uma comunicação no sentido daqueles que produzem para aqueles que consomem o conhecimento científico, mas uma visão dialógica de promoção de encontro entre esferas de saberes com sistemas de validação diferenciados’’. A iniciativa do CNPq de aperfeiçoar os seus critérios de avaliação, ao incluir a divulgação científica e tecnológica, é muito bem-vinda, reconhece Silvania: “Para avançarmos mais no âmbito social, econômico e tecnológico é fundamental conquistarmos as novas gerações e termos a sociedade como aliada da Ciência e da Inovação”.
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De acordo com a diretora, no Brasil observamos, nos últimos anos, ‘‘principalmente em decorrência de uma política pública de popularização das Ciências, pilotada principalmente pelo MCTI e as FAPs, das quais a FAPEMIG tem um protagonismo importante, a profissionalização dos setores de jornalismo científico e de produção da cultura científica em diversos espaços sociais, demonstrando que o modelo fechado de circulação do conhecimento científico começa a ser rompido’’. Silvania explica que atualmente temos fontes de financiamentos na fronteira da produção de conhecimento, mas também de sua socialização via editais de publicações, de extensão com interface na pesquisa, de popularização, de produção e designer de dispositivos de popularização das Ciências, entre outros. ‘‘A introdução de campos de registro da produção acadêmica neste setor somente demonstra a necessidade de dar visibilidade a esta crescente produção e a importância de se pensar que devemos legar às gerações futuras e todas as camadas da sociedade nosso conhecimento científico’’, pondera.
Um motivo a mais O professor Eduardo de Campos Valadares, do Departamento de Física da UFMG, coordena, entre outros, o projeto “Física Mais que Divertida”, que já virou livro e exposição, e é premiado por suas ações em prol da popularização da Ciência. De acordo com Valadares, a inserção na plataforma Lattes, das atividades relativas à inovação de projetos, pesquisas, das iniciativas de divulgação e educação científica, permitirá o aporte de significativos dados, “possibilitando uma visão sistêmica das atividades do pesquisador e da relação da sua Ciência com a comunidade”. Já o pesquisador Luiz Carlos Borges Ribeiro, do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, entende que pontuar o currículo com essas ações será um grande incentivo à boa parte dos investigadores que ainda se encontram resistentes a
socializar o fruto do seu trabalho com a população: “A Ciência deve servir a sociedade em toda sua plenitude, e a partir de agora, terá um motivo a mais para a democratização dos seus saberes específicos. Com esta nova diretriz do CNPq, Ciência e sociedade se complementam”. O professor Castor Cartelle Guerra, curador da coleção de Paleontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc-MG), reconhece e parabeniza o CNPq pela atitude de valorizar algo que esteve à margem nos organismos de fomento: a divulgação da Ciência. “Muito deveria ser feito para que pesquisadores levassem suas descobertas ao grande público pelos veículos mais variados: entrevistas, exposições, CD’s, conferências, reportagens, feiras, literatura de divulgação... É um retorno para quem financia as pesquisas, à população. É democratizar a Ciência. O trabalho de divulgação deveria ser preocupação permanente de quem faz Ciência”. Outra opinião que vai ao encontro das de Valadares, Ribeiro e Guerra é a de Adlane Vilas Boas Ferreira, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que desenvolve trabalhos de divulgação científica junto à Rádio UFMG Educativa, com os programas “Na Onda da Vida” e “Ritmos da Ciência”. Para ela, o fato de o CNPq dar a possibilidade de se destacar no currículo Lattes as atividades de divulgação e popularização da Ciência representa um marco na história da pesquisa no Brasil: “É um reconhecimento ao trabalho de muitos pesquisadores e outros profissionais que já fazem atividades assim, há muitos anos, sem necessariamente serem valorizadas”. De acordo com Adlane, muitos pesquisadores acreditam que a difusão do conhecimento para públicos não-especializados seja importante, mas não priorizam esta divulgação, pois outros tipos de produção “contam mais” nos seus currículos. “Assim, ante à grande demanda que o pesquisador tem no trabalho de leituras, produção de artigos em revistas especializadas e na orientação de seus alunos, a popularização da Ciência é deixada para um segundo plano”.
Com a valorização das atividades de divulgação científica pelo CNPq, Adlane acredita que, em princípio, o pesquisador mais consciente dessa importância poderá se envolver mais em atividades como escrita em blogs de Ciência, organização de exposições, palestras informais, escrita de artigos em revistas de Ciência populares e, inclusive, se abrir para entrevistas e mídia. Em sua opinião, isto ajudará a criar uma política de divulgação científica dentro dos institutos de pesquisa e universidades. “Mas acredito que este passo será ainda mais importante para o reconhecimento do trabalho de muitos professores universitários que têm se dedicado prioritariamente ao ensino de Ciências e à divulgação científica”, afirma. Segundo Adlane, é um reconhecimento para uma atividade para a qual nem todos têm aptidão: “O trabalho de popularização da Ciência exige conhecer o público com o qual se quer conversar. É necessário se esforçar para comunicar a Ciência com criatividade e arte”.
“Mas acredito que este passo será ainda mais importante para o reconhecimento do trabalho de muitos professores universitários que têm se dedicado prioritariamente ao ensino de Ciências e à divulgação científica” Adlane Vilas Boas Ferreira Pesquisadora
Plataforma Lattes A Plataforma Lattes está disponível na internet desde 1999. Passados 13 anos essa inovação trouxe consequências para os pesquisadores e para as agências de fomento federais e estaduais. O diretor do CNPq Paulo Sérgio Lacerda Beirão comenta que a Plataforma vem se aperfeiçoando e constitui um instrumento poderoso para conhecimento de nossos pesquisadores, único no mundo: “Vários países querem implementar uma coisa parecida, já saiu até matéria na revista Nature elogiando. Não damos conta da importância que ela tem, de tão comum que é consultá-la. Tornou-se um padrão nacional, utilizado para qualquer agência de fomento”. De acordo com Beirão, “a Plataforma Lattes é um instrumento disponível o tempo todo na internet e é muito mais confiável do que currículos impressos porque é público. São informações autenticadas, verificáveis no próprio currículo, e, na hipótese de falsidade, ela é detectada por qualquer pessoa. Traz, portanto, um nível de confiabilidade muito maior do que o currículo convencional”. MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAIO 2012
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entrevista
Pela sobrevivência das espécies Professor emérito da USP e exSecretário Especial do Meio Ambiente, o físico José Goldemberg fala, à MINAS FAZ CIÊNCIA, sobre o que esperar da Conferência Rio+20 Maurício Guilherme Silva Jr.
Também conhecida como ECO-92, Rio-92, Cúpula ou Cimeira da Terra, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cnumad), foi realizada entre 3 e 14 de junho de 1992. O principal objetivo do evento foi a busca de conciliação entre desenvolvimento socioeconômico e conservação dos ecossistemas da Terra.
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Nas últimas duas décadas, o que efetivamente foi feito pelas nações em defesa da saúde do planeta? Passados vinte anos da realização, no Rio de Janeiro, do encontro que reuniu centenas de chefes de Estado interessados em problematizar a relação entre progresso e meio ambiente, o que dizer da concretude das convenções do Clima, da Biodiversidade e do programa Agenda 21, iniciativas adotadas, à época, com base no ideal – já emergente – de sustentabilidade? De 20 a 22 de junho de 2012, também na “Cidade Maravilhosa”, respostas a essas e outras inúmeras questões hão de ser debatidas – e, quem sabe, delineadas – pelos participantes da Conferência Rio+20 (www. rio20.info/2012), evento promovido, pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de discutir os rumos do desenvolvimento sustentável no mundo. Estruturada sob dois focos – A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e O quadro institucional para o desenvolvimento sustentável –, a Conferência pretende tornar-se a Ágora propícia ao debate de temáticas caras à sobrevivência do homem sobre a Terra. Trata-se, entre outros, de assuntos relacionados a energia, alimentação, desastres naturais, crescimento urbano, recursos hídricos e empregabilidade. Resta saber o que, categoricamente, deverá tornar-se ação concreta. Polêmico, o debate em torno da real eficácia do evento gera múltiplas interpretações.
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Para o físico José Goldemberg, professor emérito da Universidade de São Paulo e ex-secretário especial do meio ambiente da Presidência da República – cargo que ocupou em 1992 –, as perspectivas de sucesso da Conferência são ainda incertas: “Mais esforço é necessário, por parte do governo brasileiro, para evitar que ela se torne apenas um palco para declarações retóricas e politicamente corretas”, ressalta. Doutor em Ciências Físicas pela USP, da qual foi reitor entre 1986 e 1990, Goldemberg também presidiu a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), a Sociedade Brasileira de Física e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). No governo federal, atuou como secretário da Ciência e Tecnologia (19901991) e ministro da Educação (19911992). No estado de São Paulo, foi secretário do Meio Ambiente (2002 a 2006). Atualmente, integra a Academia Brasileira de Ciências, a Acadêmia de Ciências do Terceiro Mundo e é co-presidente do Global Energy Assessment, sediado em Viena. Condecorado em 2008 com o Prêmio Planeta Azul (Blue Planet Prize) – concedido pela Asahi Glass Foundation, uma das mais importantes distinções na área de meio ambiente –, José Goldemberg comenta, a seguir, os rumos da Conferência Rio+20. Nesta conversa com MINAS FAZ CIÊNCIA, realizada por e-mail, o pesquisador discute, ainda, os ecos do encontro de 1992, os “recados” da natureza e o papel a ser desempenhado pelo Brasil, no cenário
Foto: Arquivo pessoal
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“Mais esforço é necessário, por parte do governo brasileiro, para evitar que ela se torne apenas um palco para declarações retóricas e politicamente corretas.”
internacional, em defesa do desenvolvimento sustentável.
Ações versus retóricas “A Conferência Rio+20, cujo objetivo é promover o balanço do que se conseguiu realizar nos últimos 20 anos, na direção de um desenvolvimento sustentável, recebeu nome apropriado. Eventualmente, também há a possibilidade de que novos caminhos e ações sejam propostas. As perspectivas de seu sucesso, porém, são ainda incertas. Mais esforço é necessário, por parte do governo brasileiro, para evitar que ela se torne apenas um palco para declarações retóricas e politicamente corretas. A razão para um certo pessimismo origina-se no documento O futuro que queremos, preparado pelas Nações Unidas em janeiro. Este texto, que deverá ser discutido – e, provavelmente, adotado pelos países em junho – possui 128 parágrafos, a grande maioria dos quais não passam de exortações aos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), para que façam mais na direção do desenvolvimento sustentável. Nele, contudo, não são delineados planos de ação concretos. As palavras ‘reafirmar’, ‘reconhecer’, ‘encorajar’ e ‘apelar’ aparecem em 118 dos 128 parágrafos. Ainda há esperanças de acordos reais na Rio+20, além dos compromissos retóricos usuais, mas a perspectiva não são boas, em parte, por causa da posição do Governo brasileiro, que não aceitou a transição para uma ‘economia verde’ como meta central.”
Ah, o Pão de Açúcar! “Para ser realista, a Rio+20 corre o risco de ser um evento sem maior significado histórico, diferentemente do que foi a RIO 92. Pode ser, inclusive, que não atraia um número significativo de chefes de Estado. É o caso de perguntar a razão por que tais chefes de Estados, enfrentando as turbulências da crise econômica em seus países, iriam se deslocar ao Rio de Janeiro para tirar belas fotografias do Pão de Açúcar, e não adotar resoluções realmente relevantes para a população de seus países? Os problemas imediatos que eles enfrentam ocupam suas agendas. Portanto, prioridades e preocupações com mudanças climáticas podem pa-
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recer menos urgentes. Esta visão, contudo, é completamente equivocada e, se não for alterada a tempo, transformará a Rio+20 num evento medíocre e, possivelmente, embaraçoso para o governo brasileiro.”
Ecos da ECO-92 “Além de intensas negociações, a Conferência ECO-92 foi precedida pela preparação das convenções posteriormente assinadas. Depois dela, passaram-se cinco anos até a adoção do Protocolo de Kyoto, que fixou metas para a redução das emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da Terra e um calendário para cumpri-las. O protocolo só entrou em vigor em 2005 e, mesmo assim, os Estados Unidos se mantiveram fora dele. Os progressos alcançados desde 1992 foram modestos e as ameaças à sustentabilidade do desenvolvimento, em 1992, não só não desapareceram, como se tornaram ainda maiores. O que não significa que nada tenha sido feito, apesar de os Estados Unidos não terem aderido ao Protocolo de Kyoto. Os países da União Europeia cumpriram razoavelmente bem os seus compromissos. Muitos municípios, e até Estados de países federativos, seguiram as recomendações da Agenda 21. Alguns, ainda, adotaram metas para a redução de emissões, como o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e o de São Paulo, no Brasil.”
E o planeta se rebela “Para citar um exemplo, lembro que cientistas dizem claramente, em sua análise, ser inevitável, até 2050, o aumento da temperatura em mais de 3 graus centígrados, superando o limite – até agora aceito – de 2 graus centígrados, com todas as suas graves consequências. No caso do Brasil, isto resultará em maior precipitação de chuvas na região Sudeste, e menor na Amazônia, que ficará mais seca. Mais ainda, a precipitação será mais intensa em períodos de tempo menores, o que ocorre em São Paulo, com as chuvas torrenciais em todas as tardes de verão. Também vale à pena mencionar o aumento dos eventos climáticos e hidrológicos extremos, como enchentes, secas, cuja frequência anual era de 400, em 1980, e dobrou nos últimos 30 anos.”
Novos compromissos “O que se espera da Rio+20 é que sejam aprofundados os compromissos adotados em 1992. Além disso, trata-se da oportunidade para assumir novos pactos. Não é o que transparece, porém, no documento preparado pela ONU, que está em consideração pelos Estados-membros. De concreto mesmo, o que ele propõe é transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência da ONU – como a Organização Mundial da Saúde ou a Organização Mundial do Comércio –, o que lhe daria mais poderes e recursos. A ideia é boa, mas de caráter burocrático. Pensa-se, também, em criar, até 2015, indicadores para medir os progressos feitos. Há sugestões de um indicador de desenvolvimento que leve em consideração, além do Produto Interno Bruto, os custos causados ao meio ambiente pelo desenvolvimento predatório.”
Não temos tempo! “O documento da ONU também faz propostas na área de energia, o que não ocorreu na Agenda 21. Endossa a proposta do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, de dobrar, até 2030, a eficiência com que a energia é usada e, o que é mais importante, duplicar no mesmo prazo a fração de energia renovável na matriz energética mundial. Reconhecer a importância da energia como fator fundamental para o desenvolvimento sustentável não é mais do que reconhecer a realidade, mas sua inclusão nas resoluções da Rio-92 foi vetada, à época, pelos países produtores de petróleo. Infelizmente, 2030 está longe e até a Conferência de Durban, em 2011, foi mais ambiciosa, ao acertar que, até 2020, deve entrar em vigor um acordo internacional que substitua o Protocolo de Kyoto e fixe os compromissos mandatórios, de todos os países, para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. As emissões da China já superam as dos Estados Unidos.”
O papel do Brasil “O Brasil tem um papel importante no cenário internacional nesta área, por dois motivos. O primeiro, negativo, deve-se ao desmatamento da Amazônia, que diminuiu,
mas ainda é muito grande, com cerca de 500km2 devastados por ano. O papel positivo refere-se à matriz energética do País, uma das mais limpas do mundo. No total, 47,5% da energia usada no Brasil é renovável. Quanto à Rio+20, para salvar o evento, seria necessária a adoção de protocolos e de prazos para cumpri-los, por meio de instrumentos legais. É isso que não ocorreu até agora. Em última análise, quem terá de assumir ações concretas são os países-membros ou as associações de países, como fez a União Europeia em relação às emissões de gases de efeito estufa. Por essa razão, o Brasil tem excelentes condições de assumir a liderança de tal processo, juntamente à África do Sul, à China e à Índia, com programas que já adotou e teve sucesso, como o ‘Luz para Todos’ ou a produção de etanol da cana-de-açúcar. Outros países têm excelentes programas de energia eólica, como a Espanha, a Dinamarca e até os Estados Unidos.”
A esperança... “Os problemas hoje enfrentados pela humanidade são sérios e comprometem efetivamente as gerações futuras. A exploração predatória dos recursos naturais está levando à exaustão dos combustíveis fósseis e da biodiversidade dos ecossistemas essenciais à garantia da continuidade da produção de alimentos. A euforia com descobertas de petróleo no pré-sal, no Brasil, não muda o fato de que as reservas mundiais de petróleo e de gás não devem durar muitos anos. E de que seu uso é a principal fonte da poluição global que enfrentamos. A percepção de que preocupações com a proteção ambiental são obstáculos ao desenvolvimento econômico é equivocada e precisa ser desmitificada. Neste sentido, a Rio+20 oferece ótima oportunidade para fazê-lo. Afinal, o desenvolvimento sustentável é possível. A União Europeia e os Estados Unidos têm dado exemplos de que é possível adotar legislação que conduz a sociedade na direção correta. A Europa decidiu que até 2020, 20% da energia usada virá de energias renováveis. Nos Estados Unidos o desempenho dos automóveis em quilômetros por litro é fixado em lei desde 1980 encorajando a eficiência energética.”
O quÊ?
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
Quando?
De 20 a 22 de junho de 2012
Onde?
Rio de Janeiro
Temas centrais?
A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e O quadro institucional para o desenvolvimento sustentável
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artes
Matematica e Literatura: modos de usar
Desirée Antônio
Na interseção entre dois campos de saber, pesquisa investiga a apropriação de regras e conceitos matemáticos pelos escritores Jorge Luis Borges e Georges Perec 32
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“O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo. O que há é pouca gente para dar por isso.” Os versos de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa, remetem a uma das crenças mais fortes no imaginário coletivo: a ideia da matemática como um tipo de conhecimento feio, difícil e árido; algo reservado a gênios – ou loucos – e apartado de manifestações artísticas. Na visão popular, como dá conta o poeta, uma expressão matemática jamais poderia encerrar tanta beleza quanto a famosa escultura da deusa grega do amor. Para outras pessoas, no entanto, a matemática pode ser não apenas tão bela quanto qualquer obra de arte, mas também inspirar e colaborar diretamente no processo criativo. Essa é a concepção partilhada por escritores que se valem de regras e conceitos matemáticos para explorar novas possibilidades em seus escritos. Um grupo em especial resolveu levá-la às últimas consequências, permitindo-se toda sorte de experimentações, combinando matemática e literatura. Fundado na França, em 1960, pelo matemático François Le Lionnais e pelo escritor, enciclopedista e matemático bissexto Raymond Queneau, o Oulipo, sigla para Ouvroir de Litterature Potentielle, – Oficina de Literatura Potencial, na tradução – defendia o exercício de escrever observando certas restrições autoimpostas, que em francês têm o nome de contraintes. O grupo contou com a participação de nomes como Italo Calvino e outros relativamente menos conhecidos pelo público brasileiro como Georges Perec. Tais regras teriam o papel de impulsionar a escrita, concebida como uma prática que depende de dedicação e método e não de um conceito vago como a inspiração, como pregava o Surrealismo, movimento ao qual os oulipianos se contrapunham. As contraintes podem ser tanto temáticas, quando se determina um tema comum a partir do qual se produz, quanto matemáticas ou lógicas, que compreendem recursos como a reorganização de elementos, mensagens cifradas e jogos de palavras. Presentes na produção dos escritos, as contraintes não são dadas a ver
de imediato: faz parte da proposta do Oulipo que elas sejam buscadas, procuradas, desvendadas como num jogo de esconde-esconde ou de um quebra-cabeças, em que jogam leitor e escritor. “Dois leitores, diante de um mesmo texto ou poema, teriam diferentes e potenciais tipos de leitura. E se esses textos ainda pudessem ser permutados, mudados, jogados, falsificados, ludibriados, haveria inúmeras outras possibilidades, além da leitura básica e distinta de cada leitor. A partir de algoritmos, regras, restrições e contraintes, potenciais leituras seriam cabíveis”, explica Jacques Fux, autor de Literatura e Matemática - Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo, livro em que analisa a apropriação que o escritor argentino Jorge Luis Borges e o francês Georges Perec e outros autores fizeram da matemática em seus trabalhos. O título, lançado no ano passado (Ed. Tradição Planalto, 224 p., R$ 45), é baseado em sua tese de doutorado em Literatura Comparada, pela Faculdade de Letras (Fale) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e em Língua e Literatura Francesa pela Universidade Charles-de-Gaulle, na França. Matemático de formação e professor universitário, com passagem pela Ciência da Computação, onde obteve seu mestrado, Jacques revela que sempre se sentiu incomodado com o abismo que comumente se imagina entre matemática e literatura e que sempre foi um apaixonado pelas letras. “Eu costumava levar os livros do Borges para ler nos intervalos das aulas e ficava fascinado por aquelas histórias e pensava nelas por horas depois de lê-las”, conta Jacques, revelando a origem de seu interesse pelo autor argentino. Já o gosto por Perec veio mais tarde, quando tomou contato com sua obra por meio da professora da Fale, Maria Esther Maciel, que viria a ser sua orientadora no projeto de doutorado. Duas questões foram centrais em sua investigação, desenvolvida entre 2007 e 2010, a primeira: demonstrar que Borges utiliza os conceitos próprios da matemática e da lógica com o mesmo objetivo dos oulipianos: aumentar as potencialidades de escrita e leitura dos
“Dois leitores, diante de um mesmo texto ou poema, teriam diferentes e potenciais tipos de leitura. E se esses textos ainda pudessem ser permutados, mudados, jogados, falsificados, ludibriados, haveria inúmeras outras possibilidades, além da leitura básica e distinta de cada leitor.” Jacques Fux Pesquisador
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textos; a segunda: mostrar que o domínio de técnicas e recursos matemáticos abre novas possibilidades de redação, tanto à estrutura da narrativa, quanto aos temas explorados. Para respondê-las, o pesquisador dedicou quatro anos a dissecar a obra desses autores, visitando centros de estudos dedicados a eles na Argentina e na França e consumindo, compulsivamente, materiais para apurar suas semelhanças e distinções.
Perec e a literatura como jogo
O escritor Georges Perec nasceu na França, em 1936, e morreu em 1982. Filho de judeus poloneses que se fixaram em terras francesas, perdeu ambos ainda criança por circunstâncias da Segunda Guerra Mundial e foi criado por tios. A experiência de falta, sofrida tão cedo, marcaria para sempre sua literatura, atividade a que se dedica a partir de 1965, com o lançamento do romance As Coisas: Uma História dos Anos Sessenta. Em 1967, o escritor é convidado por Raymond Queneau para integrar o Oulipo, quando então passa a adotar as regras do grupo na elaboração de seus livros, onde se encontra todo tipo de jogos de palavras, enigmas e outras estratégias, consideraImagem: Reprodução
Capa do livro Literatura e Matemática; pesquisa recebeu Prêmio de Melhor Tese da Pós em Estudos Literários da UFMG
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dos de natureza matemática pelo rigor e formalismo com que são tratados. Dentre eles, há palíndromos, textos que podem ser lidos da direita para a esquerda ou vice-versa; anagramas, que consistem na formação de outras palavras ou textos a partir do rearranjo de suas letras; lipogramas, um tipo de composição que exclui uma ou mais letras do alfabeto. Perec se valia também da lógica, do esforço de classificação e descrição exaustiva dos elementos e da estrutura e dinâmica do xadrez e do go, um jogo de tabuleiro chinês, similar ao xadrez, mais complexo e com número de combinações possíveis muito maior. Com o emprego desses recursos, o autor foi capaz de alguns feitos memoráveis, como produzir um palíndromo de 5 mil palavras, com o livro Palindrome, de 1973, e outros dois grandes lipogramas: o conto “What a Man!”, em que se permite usar apenas a vogal “a”, e o romance La disparition (O Desaparecimento), no qual que narra a história de um homem que vai desaparecendo, em mais de 300 páginas sem utilizar a letra “e”, a mais usada pelo idioma francês. Sobre o último título, lançado em 1969, Jacques pontua a existência de estudos que veem na supressão da vogal uma metáfora para a perda precoce dos pais do francês, as pessoas mais importantes de sua vida. A relação de Perec com as contraintes seria alçada a outro patamar, com a publicação, em 1978, daquela que é considerada sua maior obra, A vida: modo de usar. O romance, ou “romances”, como o chama o autor, conta a história do milionário Percy Bartlebooth, que escolhe uma curiosa forma de usar sua vida: passar alguns anos aprendendo a pintar aquarelas, outros tantos visitando marinhas pelo mundo e pintando telas, retratando-as. Esses quadros seriam mais tarde transformados em quebra-cabeças, que ele gastaria outros tantos anos montando. Finalmente prontos e retransformados em quadros, eles seriam transportados para os locais que inspiraram sua pintura e mergulhados numa solução de detergente, obtendo novamente telas em branco.
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A partir desse enredo central, são apresentadas várias outras pequenas histórias dos moradores do prédio em que vive Bartlebooth, todas relacionadas a ele, de alguma forma, e dispostos em 99 capítulos. Tanto a forma de “passear” pelos apartamentos quanto os elementos da trama são determinados por contraintes específicas, criadas ou adaptadas por Perec. “O projeto de A vida modo de usar é rigoroso e bem estruturado. A composição do livro explora três principais estruturas matemáticas: o biquadrado latino ortogonal de ordem 10, a poligrafia do cavalo e o pseudoquenine de ordem 10”, enumera Jacques. O biquadrado latino é uma espécie de tabela, composta por vários quadrados preenchidos com pares de elementos, que devem ser diferentes entre si. Neste caso, 100 quadrados, já que se trata de um tabuleiro de 10 x 10. Essas combinações podem ser associadas a certos tipos de objetos, organizados em listas, estabelecendo-se, assim, quando, como e onde “alocá-los” no texto. Perec propõe em seu romance o uso de 42 contraintes na forma de atributos ligados às personagens: posição, móveis, animais, cores, joias, livros, citações, música, alimento, dentre outras. Essas categorias, para as quais há listas de dez opções possíveis – por exemplo, dez cores, dez canções, dez títulos – são combinadas em 21 pares, que associavam, por exemplo, atividade e posição, citação 1 e citação 2, idade e sexo, livros e música. Na contrainte “citações”, vale dizer, há referências a Borges, uma importante influência para o Oulipo, seja com a reprodução de trechos de seus contos ou com a referência a seus problemas ou personagens. Para os oulipianos, especialmente Perec, o argentino encanaria um conceito desenvolvido por eles: o de “plagiário por antecipação, noção que já estaria presente num conto do próprio Borges chamado “Os precursores de Kafka”. No texto, incluso no Outras Inquisições, de 1952, ele faz uma inversão da cronologia e afirma que são os literatos contemporâneos que criam seus precursores, e não o contrário. Pelo raciocínio,
explica Jacques, ao usar a matemática e seus conceitos abstratos como instrumentos para expandir os limites de sua ficção, Borges se tornaria um plagiador das regras oulipianas antes mesmo de sua criação. As outras duas estruturas d’A Vida Modo de Usar, a pseudoquenine, a adaptação de uma regra de permutação, que consiste na alteração da posição dos elementos de um grupo e a poligrafia do cavalo são usadas, respectivamente, para determinar, do modo mais desordenado possível, qual das dez opções disponíveis para cada par de atributos seria usada em cada capítulo, e definir o “percurso” do romance pelos apartamentos do prédio. A poligrafia do cavalo recebe este nome por simular o movimento da peça no jogo de xadrez, cujo deslocamento é sempre em formato de “L”. Um traço em especial da literatura de Perec, segundo Jacques, é o tema do esgotamento, seja da descrição dos elementos que compõem uma cena, seja da projeção de todas as leituras e movimentos possíveis do seu leitor. O matemático explica que, apesar do esforço, o próprio escritor reconhece a inviabilidade de sua empresa. “Em muitos momentos, Perec escreve que a literatura, assim como a arte do puzzle, é um jogo que se joga a dois, na qual cada forma de leitura foi pensada anteriormente pelo autor, controlando assim todas as suas possibilidades. Porém, ele próprio discorda e refuta, o tempo todo, esse jogo entre autor e leitor. Por mais matemático e estruturado que o projeto literário seja, quando a obra alcança o público, leitura e recepção não estão mais nas mãos do construtor de puzzles”, avalia.
Entre labirintos e infinitos Considerado um dos maiores e mais inovadores escritores de língua espanhola, Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1899 e morreu em Genebra, Suíça, em 1986. Sua obra é marcada pelo fantástico, pela quebra das noções de realidade e invenção e da exploração constante de problemas como o infinito, a linearidade x circularidade do tempo, paradoxos, a existência de outros mundos e
realidades possíveis e de conjuntos que contêm a si próprios. Nelas, são também recorrentes imagens como as de espelhos, labirintos e bibliotecas sem fim, nas quais haveria livros que conteriam todos os outros livros do mundo, como a retratada no conto “A Biblioteca de Babel”, encontrado na reunião de contos Ficções, de 1944. O fascínio de Borges pelos números e suas possibilidades aumenta com a leitura de Matemática e Imaginação, de 1940, escrito pelos professores de matemática norte-americanos Edward Kasner e James Newman, uma obra que introduz conceitos matemáticos de forma didática e divertida. De acordo com Jacques, o título seria mais uma ligação entre Borges, Perec e outros oulipianos, que também teriam lido e se inspirado pelo livro. Antes mesmo da descoberta da obra, Borges já empregava paradoxos matemáticos, como o “paradoxo da impossibilidade do movimento”, trabalhado nos textos “A perpétua corrida de Aquiles e da tartaruga” e “Avatares da tartaruga”. Enunciado pelo filósofo grego Zenão de Eleia, (século V a.C), o problema coloca que seria impossível um corredor alcançar seu oponente ainda que fosse mais veloz do que ele porque o espaço que os separa seria divisível infinitamente em partes cada vez menores. Quando o corredor 1 chegava ao ponto em que estava seu oponente, seu oponente já teria se movido mais um pouco, o que se repete infinitamente, de modo que nunca se alcançaria o atleta 2. A explicação por trás da questão era a crença de que a soma de termos de uma série em que o termo anterior é a metade de seu sucessor, por exemplo, 1/2, 1/4 , 1/8 ..., seria infinita, o que foi refutado no século XIX pelo matemático russo Georg Cantor, que demonstrou que, apesar de os termos serem infinitos, sua soma seria igual a 1. A possibilidade de resolução matemática da questão não lhe diminui o valor como estímulo para ficção, e Borges continuou a explorá-la, como o fez no conto policial “A morte e bússola”, no qual a solução de um assassinato passa pelo problema da impossibilidade do movimento combinado à imagem do labirinto.
Além de explorar a matemática como elemento ficcional, Borges também pensa em sua contribuição para a estruturação do enredo de contos policiais, esboçando um conjunto de regras para esse tipo de narrativa, no texto “Os labirintos policiais e Chesterton”, como a limitação do número de personagens a não mais que seis e a importância de uma solução que soe mágica, mas ainda coerente com o todo. As histórias de mistérios policiais pedem, além de uma forma mais ou menos fixa, um certo tipo de recepção. “O leitor do conto policial poderia ser também o leitor oulipiano ou o leitor borgiano: é aquele que busca as soluções dos jogos, das trapaças, dos paradoxos, aquele que laboriosamente tenta descobrir as contraintes utilizadas por Perec em A Vida modo de usar ou resolver os paradoxos de Russel [o filósofo e matemático inglês Bertrand Russel] utilizados por Borges”, esclarece Jacques. O matemático cita ainda outra semelhança entre os escritores: as referências que ambos fazem à Cabala, ciência da interpretação de textos judaicos que afirma que cada letra do alfabeto corresponde a um valor numérico e que, combinadas, têm o poder de criar e destruir. Ele ressalta que, apesar das aproximações entre os dois autores, ambos, que não tinham especial domínio dos números, concebiam o papel da matemática de maneira muito própria: em Perec, ela surge como uma ferramenta para a estruturação de seus textos, e em Borges, como inspiração para elementos da trama. Para quem se interessou pela abordagem, mas se preocupa com a matemática envolvida, Jacques avisa que não é preciso possuir conhecimentos matemáticos apurados para compreender – ou apreciar – os livros dos autores. Tê-los, no entanto, favorece uma experiência mais completa da leitura. “Acho interessante os leitores pensarem no está ‘além’ e ‘escondido’ no livro: enigmas, restrições, psicanálise, jogos, referências, intertextualidades e muito mais que ainda não descobrimos, como em qualquer ‘alta literatura’. Há vários níveis de leitura do livro; cabe ao leitor desvendá-los”, afirma.
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COMPORTAMENTO
Pesquisa investiga perfil do consumo de álcool por estudantes da Ufop e revela que a bebida prejudica rotina de estudos e redefine padrões de sociabilidade
Maurício Guilherme Silva Jr.
Muito se discute, atualmente, a relação entre bebida e volante. Assunto do momento, a Lei Seca divide opiniões, apesar do consenso em torno da mais óbvia das máximas: automóveis exigem prudência e não podem ser transformados em armas. Também o alcoolismo é tema em permanente debate no “espaço público”, dos programas de variedades às telenovelas, das revistas especializadas aos rituais religiosos. Curioso perceber que, mais do que o composto responsável por promover alterações fisiológicas nos indivíduos, em ambos os casos aqui citados, o álcool torna-se protagonista devido a outra de suas complexas possibilidades: a capacidade de estimular a redefinição das práticas de sociabilidade daqueles que o consomem – principalmente, em altas dosagens. Interessados em problematizar, justamente, os efeitos da bebida alcoólica sobre as condutas sociais – e também nutricionais – de seus consumidores, estudiosos da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) promoveram importante raio-X sobre a ingestão de álcool por estudantes da referida Instituição de ensino. Ao longo
de 2008, sob coordenação de Késia Diego Quintaes, professora da Escola de Nutrição, os pesquisadores investigaram os hábitos de alunos de todos os cursos da Ufop, com o intuito de corroborar ou refutar o famoso “mito” de que, na antiga capital das Minas Gerais, os universitários têm costume de, literalmente, exagerar na(s) dose(s) – o que, por diversos motivos, poderia lhes prejudicar a rotina de estudos, a qualidade da alimentação, e, até mesmo, os padrões de convivência e sociabilidade. “A ideia do estudo surgiu pelas características da cidade. Buscamos avaliar se o consumo de bebidas alcoólicas, entre os universitários da Ufop, era realmente elevado ou se, ao contrário, tudo não passava de mito. Tendo em vista a ausência de investigações com esta população”, explica Quintaes. Neste sentido, a problematização da pesquisa partiu do pressuposto de que, durante a adolescência e a juventude, o estilo de vida dos indivíduos apresenta-se como importante “fator modificável”, com impactos diretos na saúde do indivíduo. “Nestas etapas da vida, afinal, a ingestão adequada de alimentos, como laticínios, hortaliças e
frutas, tem efeito benéfico sobre a massa óssea total das pessoas, além de garantir o aporte de compostos essenciais à boa saúde”, completa a coordenadora. Apesar disso, o consumo alimentar dos jovens nem sempre ocorre de forma a favorecer a saúde. Como exemplo, ressalte-se que preferências e aversões individuais acabam por “direcionar” a natureza do que será ingerido pelos jovens adultos. Além disso, a ausência da família, o ritmo de aulas – ofertadas, por vezes, em período integral –, a publicidade e a convivência em grupo influem no comportamento dos estudantes: “Isso os torna vulneráveis tanto ao consumo inadequado de alimentos como à ingestão de bebidas alcoólicas”, comenta a professora, ao esclarecer, ainda, que a proposta de conhecer o perfil dos universitários destacou-se como ótima oportunidade para obtenção de informações “capazes de subsidiar o planejamento e a tomada de medidas de intervenção, com vistas à promoção da saúde dos estudantes”.
Hard Drinkers?
Ao longo dos meses de trabalho, os pesquisadores da Ufop entrevistaram 343 estudantes matriculados nos cursos regulares de graduação dessa universidade, cujas aulas realizam-se nos campi de Ouro Preto e Mariana. “A coleta de dados foi feita por bolsistas de Iniciação Científica, devidamente treinados O estudo investigou a rotina de estudantes ligados a todos os cursos da Ufop. Trata-se de Ciência da Computação; Engenharia de Meio Ambiente; Engenharia Civil; Engenharia de Controle e Automação; Engenharia de Minas; Engenharia de Produção; Engenharia Geológica; Engenharia Metalúrgica; Física; Química Industrial; Sistemas de Informação; Ciências Biológicas; Farmácia; Nutrição; Matemática; Artes Cênicas; Música; Linguagens; História; Direito e Turismo. À época da pesquisa, a Universidade possuía 4.912 alunos. Destes, 427 foram convidados a responder aos questionários desenvolvidos pelos pesquisadores, sendo que 84 declinaram do convite. Importante ressaltar, ainda, que, por decisão metodológica, as gestantes não foram incluídas no rol dos “entrevistados”.
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para tal. Só participaram do estudo os alunos que concordavam em se tornar voluntários. Além disso, o questionário usado na pesquisa era preenchido pelo próprio participante, sem dados de identificação pessoal, de forma a garantir a ética da investigação”, destaca a coordenadora. Após a aplicação dos questionários, prontamente respondidos pelos estudantes da Universidade, seguiu-se à etapa de tabulação das respostas, com ênfase, conforme ressaltado, à meta de relacionar a ingestão de bebidas ao cotidiano de estudos e sociabilidade. Com base em tal objetivo, os pesquisadores dividiram os 343 estudantes em três categorias de consumidores de álcool: os que não bebem (“Não-bebedores”); os que não apresentam compulsão (“Bebedores não-compulsivos”) e os que, ao contrário, passam da conta (“Bebedores compulsivos”). Neste último caso, foi também criada uma sub-tipologia: os que “bebem de forma pesada” (ou Heavy Drinkers, na expressão em língua inglesa). Dentre os entrevistados, a pesquisa identificou 41 alunos “não-bebedores”, 75 “bebedores não-compulsivos”, que ingerem até quatro doses em momentos propícios ao consumo de bebidas alcoólicas, e 227 “bebedores compulsivos”, já que bebem cinco ou mais doses por ocasião. Desses, 151
foram classificados como Heavy Drinkers, posto que repetiam tal conduta duas ou mais vezes por mês. A literatura científica chama de binge à prática do consumo excessivo – quando homens ingerem, no mínimo, cinco, e mulheres, quatro ou mais doses numa mesma ocasião. Tal perfil episódico é bastante comum entre jovens. “Observamos que os ‘estudantes que bebem de forma pesada’ – ou seja, igual ou mais do que cinco doses por ocasião, em eventos iguais ou superiores a dois ao mês – têm muito mais chance de faltar às aulas e de não se matricular no período ideal do curso de graduação em questão. Isso revela a existência de relação bastante negativa entre o consumo de bebida alcoólica e o rendimento estudantil”, elucida Késia Quintaes.
Lar, perigoso lar Outro curioso dado apresentado pelo estudo diz respeito aos ambientes preferenciais para o consumo de álcool (ver infográfico). Ao invés dos bares, são as repúblicas – lar da maioria dos universitários da cidade – e o Centro Acadêmico da Escola de Minas os lugares prediletos dos estudantes interessados em beber. Por essas e outras, parece possível legitimar o que, há décadas, o senso comum teimava em repetir:
Frequência com que estudantes universitários “Não-bebedores”, “Bebedores nãocompulsivos”, “Bebedores compulsivos” e “Indivíduos que bebem pesado” permanecem nos bares, nos centros de estudo ou nas festas das repúblicas por três horas ou mais.
ambientes universitários como o de Ouro Preto tendem a ampliar as probabilidades de ingestão exacerbada de bebidas alcoólicas pelos alunos, que também passam a dar pouca atenção à própria saúde nutricional: “Verificamos que consumo exagerado de bebidas alcoólicas pelos estudantes não é mito. Além disso, a maior parte do consumo se dá no interior das próprias moradias”, ressalta a coordenadora. A pesquisa também constatou que alunos mais jovens – com idade entre 17 e 24 anos – ficam duas vezes mais bêbados do que seus colegas acima de 25. Com relação às questões de gênero, identificou-se o que muitas vozes já se acostumaram, no dia a dia, a alardear: mulheres e homens bebem em volume e de forma similares. “A única diferença diz respeito aos problemas orgânicos. Diferentemente dos entrevistados do sexo masculino, as mulheres queixaram-se de problemas de estômago decorrentes do excessivo consumo de bebidas alcoólicas”. Para além da elucidação do quê e de como bebem os estudantes da UFOP, os resultados da pesquisa, coordenada pela professora Késia Quintaes, poderão contribuir para a elaboração de políticas educacionais focadas no perfil de consumo dos universitários. “Trata-se de iniciativas que levem em conta o tipo de bebida ingerida, assim como o local de consumo e suas consequências orgânicas e sociais”, ressalta. Além do estudo de 2008, outras investigações surgiram a partir da meta de compreensão dos modos de consumo de álcool por alunos da Ufop: “Como desdobramento da pesquisa, professores que colaboraram com a investigação realizaram outras pesquisas relacionadas ao tema. Um deles abordou a relação entre o consumo de bebidas alcoólicas, por universitárias, e a adiposidade corporal”, conta Késia. Projeto: Avaliação do consumo de alimentos e bebidas alcoólicas de universitários de uma instituição pública de ensino em Minas Gerais Coordenador: Késia Diego Quintaes Modalidade: Programa Pesquisador Mineiro Valor: R$ 48.000
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Foto: Arquivo pessoal
LEMBRA DESSA?
Gestos digitalizados Fruto de parceria entre Fumec e UFMG, projeto é responsável pelo desenvolvimento do primeiro software livre brasileiro de captura de movimentos Luzes no corpo dos atores são captadas pelo OpenMoCap
Eles saltam, correm, dão bofetões no ar. Em seguida, agacham-se, como que para pensar na vida, e, num só impulso, pulam em direção ao teto, com os braços estendidos ao léu. Por mais birutas que possam parecer os voluntários do Laboratório de Pesquisa em Computação Gráfica e Jogos Digitais da Universidade Fumec, a verdade é que não importam os significados de seus movimentos. Vestidos com roupas pretas – e repletos de refletores agarrados ao corpo –, só lhes interessa a certeza de que suas estripulias, uma a uma, serão devidamente “compreendidas”, captadas e processadas por computadores especiais, capazes de reter, em sua memória eletrônica, tudo o que se realize no ambiente de pesquisa. Afinal, os participantes de tal divertida “brincadeira” compreendem bem o motivo que os leva a tamanho esforço físico: seus movimentos contribuem diretamente com o aprimoramento do primeiro sistema brasileiro de captura de movimentos para animação. Trata-se do OpenMoCap, software livre criado por meio de parceria entre pesquisadores da Fumec e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que permite a captação de quaisquer gestos humanos – os quais, depois de armazenados em bancos de dados, poderão ser usados na produção de filmes e de jogos digitais. Conduzido pelos professores João Victor Boechat Gomide, coordenador do curso de Jogos Digitais da Fumec, e Arnaldo de Albuquerque, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, o projeto responsável pelo desenvolvimento
da tecnologia –importantíssima ao ofício dos desenvolvedores brasileiros – tornou-se tema de reportagem da edição nº 30 de MINAS FAZ CIÊNCIA, publicada em 2009. Escrito pela repórter Virgínia Fonseca, o texto revelava não apenas a história das experimentações que culminariam com o OpenMoCap, assim como o processo de funcionamento da software. O passo inicial da iniciativa remonta aos anos 90, período em que Gomide trabalhava como finalizador de efeitos da Rede Globo, no Rio de Janeiro. À época, buscou-se a aplicação da técnica na animação dos personagens do seriado Sítio do Picapau Amarelo. Em função da escassez de especialistas na área, contudo, tais “estudos preliminares” acabaram por se desenvolver em Nova Iorque. “Ao voltar a Belo Horizonte e para a vida acadêmica, procurei parcerias na UFMG, de modo a desenvolvermos o projeto, que, inicialmente, era um produto comercial”, ressalta. Com o passar do tempo, a proposta mercadológica seria substituída pela ideia de “abrir o código” e, consequentemente, oferecer a ferramenta como software livre. Hoje, o OpenMocap pode ser acessado em um portal (www.openmocap. org), onde os usuários – muitos dos quais, No cinema, a captura de movimentos foi usada, pela primeira vez, em 1991, no filme O exterminador do futuro II. A técnica também aparece, entre diversos outros, nos longas-metragens O expresso polar, A casa monstro, Senhor dos anéis, Avatar e As aventuras de Tintim.
desenvolvedores, terão acesso a fóruns de debate, chats, galeria de vídeos e imagens, além de seções de artigos e de ofertas de empregos e serviços.
Funcionamento
Abreviatura da expressão inglesa Motion Capture, MoCap é a denominação comum aos softwares de captura de movimentos do mercado. Por isso, o programa desenvolvido pelos pesquisadores da Fumec e da UFMG recebeu a alcunha de OpenMoCap. O programa possibilita desde a captura dos gestos de uma pessoa até sua transmissão aos personagens virtuais. A técnica mais empregada na atualidade baseia-se na presença de marcadores – ou pontos refletores afixados nos indivíduos –, que servem de “origem” aos movimentos captados. Os locais específicos para disposição dos marcadores – afixados sobre as roupas pretas usadas pelos atores – são as articulações. Para a captura em si, pode-se usar diversos princípios, como o mapeamento do campo magnético. No caso do OpenMoCap, porém, a equipe optou pelo uso de câmeras, que proporcionam mais liberdade de ação ao “gesticulador”. No set de “filmagem”, instalam-se leds (luzes) de infravermelho, de modo a iluminar todo o ambiente, enquanto, na frente das lentes, instala-se o filtro para o infravermelho. “Desse modo, o equipamento de filmagem capta apenas os pontos brilhantes no corpo do ator [os marcadores]. Em seguida, o software entra em ação, mapeando as coordenadas dos pontos e os seguindo ao longo dos quadros do vídeo”, explica João Victor.
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Inclusão digital
Tempo de aprender
Juliana Saragá
Projeto de inclusão digital na terceira idade promove o envelhecimento saudável, fortalece a relação com as outras gerações e prova que é possível aprender em qualquer idade “Quero iniciar pelo passado. Quando eu nasci fui aquele bebê que meus pais ganharam de presente. Este presente é comparado àquela semente de uma árvore frutífera que um homem semeia, cuida, molha. Ela germina e cresce. Do meu fruto saiu uma semente que são meus filhos. Uma já tem dois filhos que são os netinhos queridos do vovô. Agora é que eu comecei meu futuro porque se eu posso ir até a UFJF, pegar dois ônibus, sou novo, saudável e faço coisas que muitos com trinta anos não fazem”. O texto é trecho de um post do blog de Sebastião Hilário Lopes (www.avidadeumfilho. blogspot.com.br/). Seu Sebastião, como ele gosta de ser chamado, tem 65 anos é aposentado, blogueiro e foi aluno de um projeto da inclusão digital da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). “Na época das aulas, minha maior dificuldade era postar as fotos, mas as professoras eram muito pacientes e carinhosas. Me sinto outra pessoa depois deste projeto”, conta. Intitulado “Inclusão
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digital para a promoção do envelhecimento saudável”, o projeto teve início em 2004 e continua até os dias de hoje. “No início, era focado somente na aprendizagem em informática. Depois, sistematizamos e demos a ele maior rigor científico, focando no desenvolvimento de competências que permitem envelhecer com saúde”, explica o pesquisador Altemir José Gonçalves Barbosa, professor do Departamento de Psicologia da UFJF e coordenador do projeto. Para ele, a informática pode ser considerada uma atividade que promove o envelhecimento saudável, à medida que as novas tecnologias são fundamentais para o exercício da cidadania. Nos últimos 20 anos, o idoso brasileiro teve a sua expectativa de vida aumentada, reduziu o seu grau de deficiência física ou mental e passou a chefiar famílias. De acordo com o último Censo, (http:// www.ibge.gov.br/home/), em 2010, 7,4% da população brasileira possuía 65 anos de idade ou mais. Em Juiz de Fora, cidade
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onde acontece o projeto, são mais de 13% de idosos na população, quase o dobro da média nacional. “Mesmo representando grande parte da população brasileira, o idoso ainda hoje é cercado por um estereótipo muito negativo. Quanto menor é o seu acesso a recursos midiáticos, como televisão, rádio e internet, e quanto menor sua classe social, maior é o estigma que ele carrega”, explica a psicóloga e pesquisadora Natália Nunes Scoralick Lempke. Natália acompanhou de perto o projeto desde o início. Primeiro, participou como voluntária, depois como bolsista de iniciação em seu mestrado. Agora, segue com o doutorado também sobre o tema. “Primeiro investigamos quais medidas poderíamos tomar para que o processo de aprendizagem fosse adequado aos idosos. Num segundo momento, pesquisamos como poderíamos melhorar a didática, desenvolvendo material específico para essa faixa etária e preparando os profissionais que ministram as aulas”, relata.
Inclusão para a vida
importante foi a melhora da autoestima. “Cercados pelo estereótipo de que não aprendem, os idosos puderam mostrar para os filhos e netos que é possível falar a mesma língua”.
“Blogando” na terceira idade
Como parte do projeto, os alunos desenvolveram blogs que recontavam suas histórias de vida, como a do “Seu” Sebastião, citada no início da matéria. “Os idosos gostam muito de contar suas histórias, relembrar o passado. O blog é uma maneira de reconstruírem essa biografia no meio digital e fazer com que elas possam ser conhecidas por várias gerações”, pontua a psicóloga. Na etapa do blog eram feitos grupos de discussão, que propunham temas da cada fase da vida. Infância, adolescência, vida adulta e velhice. Na infância, por exemplo, os alunos relembravam como eram as brincadeiras e traziam fotos da época. Depois, iam para o computador escrever, editar fotos e vídeos e postar nos blogs. Segundo a psicóloga, “Seu” Sebastião foi um dos alunos mais aplicados e interessados. Tanto que ele continua firme com o blog e atuante nas redes sociais. Uma prova disto foi a entrevista para a MINAS FAZ CIÊNCIA, concedida pelo Facebook.
Vovôs e vovós nas redes sociais
Dona Maria Aparecida Costa, 68 anos, adora ler notícias e resumos de novelas online, assistir a palestras de padres no Youtube e interagir com amigos e familiares no Facebook. Ela e o marido, Hely Geraldo Costa, 74 anos, fizeram um curso de informática para a terceira idade. “Na primeira
aula eu não sabia nem ligar o computador. Aprendemos várias coisas, mas eu gostei mesmo foi da internet!”, lembra. O aprendizado serviu também para a aproximação de familiares distantes. Ela conversa diariamente por e-mail com a irmã que mora em Brasília e acompanha todas as notícias dos filhos e netos pelo Facebook. “Antes eu me sentia excluída, agora eu tô dentro!”, brinca. Dona Heloísa Pinheiro Alves da Silva também não fica para trás. Há um ano e meio a aposentada de 80 anos faz aulas particulares de informática semanalmente, com destaque para a internet e redes sociais. “Tudo eu pergunto para o Google. Se alguém está doente, por exemplo, pesquiso e me informo sobre aquela doença”, conta. Viúva há dezoito anos, Dona Heloísa diz que a internet preencheu sua vida e substituiu as pinturas em porcelana. “Gosto mesmo é de conversar no Facebook. Se alguém diz alguma coisa lá eu me intrometo e dou opinião”, conta com uma risada e ótimo bom-humor. Dona Heloísa lembra que aprendeu a dirigir com quarenta anos e ainda hoje busca suas netinhas de carro na natação. Para ela, “nunca é tarde para aprender”.
PROJETO: Inclusão digital para a promoção do envelhecimento saudável: Qualidade de Vida, Alfabetização em Informática e Processos Cognitivos COORDENADOR: Maria Peruzzi Elia da Mota MODALIDADE: Grupos Emergentes de Pesquisa VALOR: R$ 45.000
Foto: Hely Costa Jr.
Para participar do projeto, os alunos precisavam ter mais de 60 anos e concluído a quarta série do ensino fundamental, já que precisariam ler e escrever. O convite foi feito por meio de uma rádio da cidade, em um programa muito escutado por essa faixa etária. Os interessados entravam em contato com a Universidade e se candidatavam como voluntários. “Muitos alunos nos relataram que, ao contar para a família que participariam de um projeto de inclusão digital, eles diziam: ‘para quê’? Com essa falta de incentivo dos familiares, muitos chegavam com o pensamento de que não iriam aprender. Tinham medo até de esbarrar no computador dos filhos e netos”, conta a psicóloga. As aulas iniciais tinham o objetivo de aproximá-los do ambiente digital. “Começamos mostrando a CPU de um computador, onde se encaixam os fios, como ligar e desligar e o seu funcionamento básico”, explica. À medida que os alunos iam se adaptando ao ambiente, as aulas iam avançando. A etapa final e a mais esperada era sobre internet, blogs e redes sociais. Oito turmas de aproximadamente doze alunos já passaram pelo projeto. Os resultados cumpriram a proposta, que é contribuir para o envelhecimento saudável. Os alunos melhoraram a capacidade de processamento, que, segundo a pesquisadora, serve para desmitificar a questão de que o idoso não se desenvolve. “Na velhice pode haver declínios, mas há também ganhos cognitivos”. Ela ainda destaca os ganhos sociais dos alunos, que melhoraram a intergeratividade, ou seja, as relações interpessoais com diferentes gerações. Outro ponto
Página no Facebook de dona Heloísa: ela tem mais de 80 amigos e interage com os netos, filhos e amigos por meio da rede social
Seu Hely e dona Maria Aparecida fizeram curso de informática para a terceira idade MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAIO 2012
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cultura
a i r ó m e Monora
s
rvar e s e a pr a de c s o bu a Band ecília t e j Pro rvo d anta C e , o ac ca de S Cocais i Mús arão de 1905 veira de B ada em e Oli d a i Fláv fund Ana De um lado, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais que guardava parte de sua história em um acervo com obras de vários compositores da região. De outro, um município histórico, com os olhares voltados para o futuro. E em cada uma das cidades, apaixonados por música, se uniram para resgatar a história de uma das bandas mais tradicionais do Estado. Estamos falando de Barão de Cocais, localizada na região central de Minas, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, e de São João Del Rei, situada no Campo das Vertentes e a 190 quilômetros da capital. Nesses municípios vivem músicos profissionais que buscaram uma solução para manter o acervo preservado. Alexandre Lacerda havia sido aluno de Antônio Carlos Guimarães na Escola de Música da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg). Tempos depois cada um seguiu seu rumo: o primeiro virou maestro da Banda de Barão de Cocais, e o segundo é professor do curso de Música da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ). Juntos, eles articularam uma proposta de trabalho de recuperação, catalogação e edição do acervo musical que aliasse o material já existente em Barão de Cocais e uma das linhas de pesquisa desenvolvidas pelo Departamento de Música da Universidade Federal de São João Del Rey (UFSJ) em parceria com o Laboratório de Documentação (Labdoc), da
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Faculdade de História da mesma instituição. O estudo foi feito em conjunto com o pesquisador Paulo Castagna, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), especialista na catalogação de acervos históricos mineiros. O trabalho interdisciplinar financiado pela FAPEMIG permite desenvolver as atividades de conservação e restauro de acervos. A agremiação musical estava com algumas partituras deterioradas e fora de ordem, colocando em risco o patrimônio cultural. Por isso, o projeto desenvolvido teve por objetivo preservar o acervo, por meio de organização, tratamento e editoração, proporcionando condições para a continuidade das atividades musicais e do ensino musical na Banda de Barão de Cocais. Para que os resultados fossem alcançados, foi feito um tratamento de restauração e preservação de materiais. Em seguida, houve levantamento, organização das obras, arquivamento e digitalização, além de construção de um catálogo digital para uso interno. A etapa seguinte foi a seleção de obras importantes na prática musical da Banda e editoração eletrônica das músicas usando software específico. Com a digitalização, os músicos podem fazer cópia dos arquivos, mantendo os originais preservados. “Nós usamos uma metodologia de arquivamento que facilitasse para o pesquisador e também para o usuário, que poderá imprimir as partituras que serão usadas. Ouvimos os músicos e criamos um processo que seja de fácil acesso a eles”, comenta.
O acervo restaurado é composto de obras de gêneros variados como dobrados, marchas de desfile e religiosas, bem como sinfonias de compositores locais e regionais. Durante a restauração, que durou dois anos, 8.871 unidades documentais do acervo, compostas por partes e partituras, foram tratadas. De acordo com o coordenador da pesquisa, professor Antônio Carlos Guimarães, aproximadamente 20% do acervo necessitou de algum tipo de reparo e restauração, e o restante precisou apenas de higienização. “Este acervo compõe imagens sonoras de um século de festividades religiosas, cívicas e profanas da região de Barão de Cocais”, revela. No decorrer do século XX, as bandas de música incorporaram novos instrumentos e mudaram a notação musical de outros. A tuba, o bombardino, o barítono, o trombone, a trompa, por exemplo, não têm a mesma notação usada no final do século XIX e início do século XX. Toda a percussão era tocada “de ouvido”, por isso, raramente encontram-se partituras para esses instrumentos. Além disto, os compositores locais não escreviam para os instrumentos em falta na sua época, o que torna necessárias adaptações para os instrumentos incorporados, como o saxofone soprano, o saxofone tenor, a flauta, e às vezes até o saxofone alto, dentre outros. Por isso, durante o processo de restauração e edição são feitas adaptações na instrumentação para que obras compostas no início do século XX
sejam executadas pela Banda hoje em dia. Segundo Alexandre Lacerda, que atuou como bolsista no projeto, as adaptações não descaracterizam a música, uma vez que os elementos essenciais são mantidos. “É um trabalho que exige grande conhecimento sobre o assunto. Tem que saber com precisão a função de cada instrumento na música, por exemplo, e se nós perdemos parte de uma música temos que encontrar uma forma de recriá-la. O musicólogo faz um trabalho semelhante ao de um restaurador de obra de arte”, explica. O projeto contribui ainda para a manutenção desse acervo musical que é parte da identidade cultural do Município de Barão de Cocais. Preservar este acervo significa manter essa identidade cultural viva e garantir sua perpetuação. Além disto, o conhecimento produzido neste projeto poderá ser compartilhado por outras bandas municipais em Minas, que possuem acervos musicais similares e que também têm funções sociais como a banda cocaiense. “Depois da pesquisa, os músicos se sentem mais orgulhosos com o que fazem e são mais valorizados, já que a Banda faz parte da identidade local, é a memória sonora do município”, afirma Lacerda.
Etapas do trabalho
Controle entomológico: técnica de congelamento dos documentos devidamente embalados, em um freezer por, no mínimo, quinze dias; devidamente vedados e tendo o ar retirado do seu interior por meio de um aspirador de pó.
Fotos: acervo Banda Santa Cecília
Técnica faz o trabalho de higienização das folhas, uma por uma
O trabalho de restauração foi realizado em parceria com o laboratório de documentação da UFSJ MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAIO 2012
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Fotos: acervo Banda Santa Cecília
vida social das cidades por meio da participação na Banda. “Os indivíduos que participam da Banda e suas famílias se sentem diferenciadas por isso. Eles ganham destaque na cidade”, destaca Guimarães.
Novo Regresso e seus resultados
Diferentes gerações se juntam nas apresentações da Banda Santa Cecília
Higienização: limpeza das folhas, uma a uma, por meio de trinchas visando a retirada da sujeira presente no papel que acelera o processo de degradação; Tratamento técnico de conservação: é a restauração propriamente dita; Identificação e Arranjo: depois da identificação, de acordo com gênero musical e instrumentação, os documentos foram agrupados a partir de critérios pré-estabelecidos de organização; Catalogação e arquivamento: catalogação e arquivamento das obras identificadas; Digitalização: realizada com câmera fotográfica digital; Editoração: Seleção de obras que foram editoradas eletronicamente. Foram selecionadas a partir de critérios pré-estabelecidos que levaram em conta a importância e a frequência de execução das obras em solenidades civis e religiosas no município; Impressão: das partes e partituras das obras editoradas para uso nas atividades da Banda Santa Cecília. Disponibilização em banco de dados: os dados obtidos por meio da análise, descrição e digitalização dos documentos foram armazenados no banco de dados e disponibilizados para uso interno da Banda.
Sobre a Banda A Banda de Música de Santa Cecília de Barão de Cocais foi fundada em 15 de abril de 1905 pelo Padre Antônio Maria Telles de Menezes, pároco da matriz de São João Batista, padroeiro local. O vigário liderava, na época, um grupo de musicistas que tocavam instrumentos nas cerimônias religiosas e cantavam no coro da igreja. Há quase um século, banda e coro da cidade compõem um núcleo cultural de valor inestimável. Participam das solenidades civis e religiosas da cidade, preservam
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a prática musical e formam novos músicos que se tornam também seus integrantes. Além disto, a Banda de Música Santa Cecília ajudou a construir a cidade. Esteve presente em todos os eventos festivos, como na inauguração do primeiro alto forno da antiga Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas (CBUM) em 1926. Tocou para os governadores Benedito Valadares e Juscelino Kubitschek, entre outras personalidades que visitaram o município. A agremiação musical é um elemento que compõe a identidade cultural da comunidade de Barão de Cocais. Inicialmente, a banda não tinha sede própria. Os ensaios aconteciam no salão da casa de dona Chiquinha Gonçalves, mãe do então presidente da banda, coronel José Gomes Gonçalves, e depois nas casas dos membros da Banda. Em 1942, o presidente Raimundo Vital, que tocava bombardino e tuba, comprou um terreno onde foi construída a sede atual, inaugurada em 1959. O atual presidente é o jornalista J. D. Vital, que atua no aprimoramento dos músicos jovens. Alexandre Lacerda, contratado em 2005 como maestro da Banda Municipal Santa Cecília, cuida também da educação musical de jovens músicos, treinando-os para fazer parte do quadro de músicos da Banda e para que perpetuem a função social da Banda de Santa Cecília como elemento da cultura e identidade da comunidade de Barão de Cocais. A maioria dos músicos vem, desde a fundação da Banda, de classes sociais menos favorecidas. Eles são amadores, não recebem remuneração, tocam por amor. Assim, pessoas dessas classes passam a tomar parte de momentos importantes da
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A Banda de Música Santa Cecília de Barão de Cocais possui em seu acervo obras de compositores da cidade e da região, de composição até mesmo anterior a sua fundação, em 1905. É o caso do Dobrado “Novo Regresso”, que dá título à pesquisa, que é de autor desconhecido e datado de 1903. O título desta obra foi escolhido para dar nome ao projeto pelo seu significado, no sentido de ser a primeira obra que originou o acervo em estudo, e que hoje é parte do patrimônio histórico-musical de Barão de Cocais. Ao final da pesquisa, foi lançada uma publicação que inclui um caderno de partituras restauradas no projeto, um artigo descrevendo a pesquisa e um DVD com um documentário assinado pelo jornalista Marcelo Passos, que serão distribuídos para outras Bandas mineiras, incluindo partituras e gravações, com a Banda Municipal de Santa Cecília, das peças escolhidas. Ao final dos trabalhos a banda teve o patrocínio de uma siderúrgica da cidade para gravar um CD com a edição das obras selecionadas. “Depois da restauração e da edição nós gravamos as músicas e a restauração do acervo incentivou a gravação de um documentário que conta a história da cidade, da Banda e mostra quem são os músicos”, descreve Lacerda.
@ Assista ao vídeo da série Ciência no Ar que trata da preservação do acervo da Banda. Acesse http://fapemig.wordpress.com
projeto: “Novo Regresso”: Projeto
de recuperação, catalogação e edição do acervo musical da Banda de Música Santa Cecília de Barão de Cocais Coordenador: Antônio Carlos Guimarães Modalidade: Edital Universal Valor: R$ 83.448
Foi a essa terra que Lund chegou em 1825. Ao longo dos seus muitos anos no país, ele desenvolveu um vivo, mas, certamente, não acrítico interesse por sua população e peculiaridades políticas. Quando desembarcou, foi, entretanto, a natureza rica e diversificada que o encantou. Durante essa primeira estadia no Brasil, Lund ficou na região do Rio, onde morou em diversos lugares, interrompido por períodos na própria capital e curtas excursões a outros destinos.
Muitos foram os pesquisadores estrangeiros que, em terras brasileiras, buscaram desvendar as riquezas da flora e da fauna. Até os dias de hoje, grande parte das informações coletadas por tais curiosos e perspicazes cientistas permanece resguardada, em diversos pontos do planeta, por prestigiados museus e instituições acadêmicas. Responsável por vasto volume de conhecimento produzido – e exportado – sobre as especificidades do Brasil, Peter Wilhelm Lund (1801-1880), um dos mais importantes naturalistas dinamarqueses do século XIX, poria os pés no País, pela primeira vez, em 1832. À época, contava com 31 anos e inominável interesse pelo desnudamento das maravilhas do Novo Mundo. Ao longo de dez anos de estudos, Lund investigaria, principalmente, as grutas calcárias no entorno de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Tais descobertas e análises seriam fundamentais à construção de uma série de teorias acerca dos processos evolutivos de homens, plantas e animais sobre a Terra – ou, mais, especificamente, o Brasil. No livro P.W Lund e as grutas com ossos em Lagoa Santa, de autoria dos historiadores Birgite Holten e Michael Sterll, não apenas os estudos do naturalista dinamarquês revelam-se detalhadamente reconstituídos e comentados,
como também a fascinante personalidade do cientista, homem de muitos ofícios e interesses. Importante ressaltar, aliás, que Holten e Sterll também trabalharam, ao longo de anos, em escavações arqueológicas na região de Lagoa Santa e, juntos, escreveram outras tantas obras acerca da trajetória do naturalista dinamarquês, a exemplo de O pintor desaparecido – P.W Lund e P.A Brandt no Brasil e A canção das palmeiras: Eugenius Warming, um jovem botânico no Brasil. Com impecável produção da Editora UFMG, e financiamento da FAPEMIG, o livro P.W Lund e as grutas com ossos em Lagoa Santa revela-se também esplêndido para os olhos, que, do início ao fim, poderão se deliciar com aquarelas de época ou fotografias de expedições arqueológicas recentemente realizadas no País. Livro: P. W. Lund e as grutas com ossos em Lagoa Santa Autores: Birgitte Holten e Michael Sterill Tradução: Luiz Paulo Ribeiro Vaz Editora: UFMG Título original: P.W. Lund og Knnokelhulerne i Lagoa Santa Páginas: 336 Ano: 2011
Homo academicus
O campo universitário reproduz na sua estrutura o campo do poder cuja ação própria de seleção e de inculcação contribui para reproduzir a estrutura. É na verdade no e por seu funcionamento como espaço de diferenças entre posições (e, da mesma maneira, entre as disposições de seus ocupantes) que se realiza, fora de toda intervenção das consciências e das vontades individuais ou coletivas, a reprodução do espaço das posições diferentes que são constitutivas do campo do poder.
“Ao apreender o mundo universitário francês como um campo no qual se confrontam múltiplos poderes, que correspondem às trajetórias sociais e escolares e também às produções culturais dos seus agentes”, Pierre Bourdieu (1930-2002) demonstra que a produção científica está longe de ser o resultado de uma forma de meritocracia que consagra os talentos individuais. A originalidade de sua tese, publicada inicialmente em 1984, na França, está em mostrar que as tomadas de posição dos intelectuais ou as políticas educacionais são determinadas pelos mecanismos de reprodução de privilégios herdados. O sociólogo revela conflitos, contradições, crises, desilusões, interesses, relações de força, hierarquia de prestígios, ruptura de equilíbrios, tal como assinala a tradutora Ione Ribeiro Valle, na apresentação. O caráter por vezes polêmico do livro se dá a ver nos títulos de capítulos e anexos, como “O conflito das faculdades”, “Espécies de capital e formas de poder”, “O hit parade dos
intelectuais franceses ou quem julgará a legitimidade dos examinadores”. Para Ione Valle, Bourdieu percebeu, desde os primeiros estudos sobre o sistema de ensino (no caso, o francês), “que a cultura escolar inculca um conjunto de categorias de pensamento graças às quais os indivíduos se comunicam e se relacionam, partilhando uma cultura de classe fundada na primazia de certos modos de refletir, exprimir, julgar e agir que os predispõem a manter, com seus iguais, uma relação de cumplicidade e de comunicação específica”.
LIVRO: Homo academicus AUTOR: Pierre Bourdieu TRADUÇÃO: Ione Ribeiiro Valle e Nilton Valle EDITORA: UFSC PÁGINAS: 312 ANO: 2011/2012
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LEITURAS
De olho nos passos do desbravador
odontologia
Proteção Natural Óleos de origem vegetal e mineral são aliados no combate às cáries
O biofilme dentário é o acúmulo de bactérias da microbiota bucal sob a superfície dos dentes. Esse é um fator determinante para que ocorra a cárie e doenças periodontais. O acúmulo é mais intenso nos locais onde a higiene bucal não é feita de maneira adequada.
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Alguns benefícios da castanha-do-pará (Bertholletia excelsia) já são bem conhecidos. O fruto é rico em proteínas e contém elevado nível de selênio, um nutriente que combate os radicais livres e o envelhecimento celular. A novidade é o seu uso no combate às cáries. Um estudo desenvolvido na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MG) investigou a eficiência do óleo dessa castanha no controle da placa bacteriana, ou biofilme. A pesquisa foi realizada pela dentista Cintia de Fátima Buldrini Filogônio durante seu mestrado na área de Ciências da Saúde – Odontopediatria. A ideia surgiu de uma observação no consultório. “Alguns pacientes relatavam que tinham o hábito de escovar os dentes com óleo de soja ou óleo de amêndoas e apresentavam, ao exame clínico, o periodonto saudável. Conversei com meu orientador, Roberval de Almeida Cruz, e ele me disse para procurar bibliografia sobre o tema”, conta. Em uma revisão da literatura, Cintia encontrou várias referências sobre o uso de óleos essenciais na odontologia. Adicionados ao dentifrício, esses óleos desempenham papel de agentes antibiofilme e antigengivite. Mas nenhum deles tinha como foco óleos derivados de produtos do Brasil. A ideia de testar a castanha-do-pará surgiu dessa forma. Por ser um alimento gorduroso e oleoso, a hipótese é que seu uso poderia inibir a formação do biofilme
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Vanessa Fagundes
dentário, criando uma barreira protetora sobre o esmalte. Além disso, o produto é de fácil aquisição e extração, sendo obtido por processo de prensagem a frio. Além do óleo da castanha-do-pará, a pesquisadora também testou um óleo de origem mineral, da marca Nujol, que consiste em uma mistura de hidrocarbonetos líquidos obtidos de petróleo. Ele é normalmente indicado como laxante, no tratamento de constipação intestinal e também para amaciar áreas ásperas e ressecadas da pele. O objetivo era compará-los e verificar qual deles contribuiria de forma mais significativa para a saúde bucal. Cintia destaca outro fator importante para a escolha. “Hoje, é crescente a preocupação dos consumidores em utilizar produtos naturais, menos agressivos e sem conservantes. Também nesse ponto os óleos de origem vegetal e mineral apresentam vantagem”.
Acompanhamento e controle
O trabalho de campo teve início em 2007. Para os testes, foram selecionadas aleatoriamente 30 pessoas (23 mulheres e sete homens) com idade entre 18 e 21 anos. Os voluntários eram alunos da Faculdade de Odontologia da PUC MG, já tinham o hábito de escovar os dentes regularmente e já haviam sido submetidos anteriormente a algum tipo de tratamento odontológico de rotina. Como critérios de exclusão, não foram aceitas pessoas
que estavam sendo submetidas a tratamentos ortodônticos (usavam aparelhos, por exemplo), que não possuíam algum dente, ou que estavam em tratamento odontológico clínico durante o período da pesquisa. Os voluntários foram divididos em três grupos de dez pessoas cada. Cada um deles recebeu um tubo de dentifrício marcado apenas por uma cor (prata, dourado e branco). Um deles continha dentifrício original de uma marca disponível no mercado e de boa aceitação. Os outros dois receberam tubos do mesmo dentifrício, mas alterado em sua formulação original pela adição de 10% em volume de óleo mineral e 10% em volume de óleo de castanha-do-pará. Todos os tubos foram manipulados em farmácia, de forma que nem os voluntários nem a pesquisadora sabiam qual era a composição de cada um. Junto com o dentifrício, eles receberam uma escova dentária, para efeito de padronização e para evitar a influência com relação à condição do objeto a ser utilizado. Todos foram orientados a praticar a higienização a que estavam habituados. Os voluntários passaram por avaliações quinzenais. Em tais ocasiões, os dentes eram coloridos com fucsina (corante de cor magenta) e, seguindo uma tabela simples e pré-definida, eram classificados de acordo com as manchas resultantes (ver figura). Durante três meses, Cinthia acompanhou se as manchas diminuíam ou permaneciam iguais em cada um dos dentes selecionados nos três grupos de voluntários. Os dados coletados foram inseridos em um programa de computador e tratados estatisticamente. A pesquisadora verificou que os grupos que utilizaram o dentifrício acrescido de óleo tiveram redução do biofilme dentário, sendo que não houve diferença significativa entre a ação do óleo vegetal e a do óleo mineral. “Os óleos proporcionaram efeito adicional da redução do biofilme, significando uma alternativa para a diminuição
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Foto: Diogo Lopes
de incidência de cárie dentária e doenças periodontais”. Cintia enfatiza que os óleos são um complemento, e não substituem o ato de escovar os dentes. “A ação mecânica da escovação e o uso do fio dental são fundamentais para a prevenção de cáries. Os óleos são um fator extra de proteção”. 0 = ausência de biofilme dentário ou manchas 1 = biofilme cobrindo não mais que 1/3 da superfície exposta do dente 2 = biofilme cobrindo mais de 1/3 e menos que 2/3 da superfície exposta do dente 3 = biofilme cobrindo mais de 2/3 da superfície exposta do dente
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Novos campos
O estudo mostrou o grande potencial dos óleos vegetal e mineral na área da Odontologia e abriu um campo de estudos a ser explorado. Existem, por exemplo, vários outros produtos oleaginosos que podem ser
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testados. Para os químicos, um desafio seria encontrar formas de estabilizar o sabor do produto. Isso porque o óleo de castanha-do-pará perde o sabor característico após algum tempo e o produto se torna rançoso. Outra dificuldade a ser vencida é a tendência do óleo à separação durante a estocagem. A pesquisa deu origem ao artigo “Efeito da adição de óleos vegetal e mineral em dentifrício no controle do biofilme dentário – estudo clínico in vivo”, que ficou classificado em terceiro lugar, categoria pós-graduação, no 6º Prêmio Nacional de Odontologia Preventiva da Colgate. “Isso mostra que há interesse pelo tema, apesar de ainda não haver nenhum lançamento comercial de dentifrício associado ao óleo de castanha-do-pará”. Em sua opinião, como o trabalho é recente, as empresas ainda estão tomando conhecimento dessa possibilidade e serão necessários mais estudos antes da chegada ao mercado de um produto com essas características. Pelo fato de o óleo ser de baixo custo e de fácil aquisição, os resultados também podem beneficiar a saúde pública. “A manipulação nas pastas não foi difícil de ser realizada e pode ser feita sem o auxílio de equipamentos especiais”, atesta a pesquisadora. Poderia ser um aliado, assim, para manutenção da saúde bucal da população mais carente.
Geólogo, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), PhD em Glaciologia, o pesquisador é membro do Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, diretor do Centro Polar e Climático da UFRGS e coordenador do INCT da Criosfera. Nessa entrevista ele analisa a importância e fala do futuro do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) no continente gelado. Na madrugada do dia 25 de fevereiro um incêndio destruiu a maior parte da base científica brasileira Estação Antártica Comandante Ferraz. Dois militares da Marinha morreram tentando apagar as chamas.
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Professor Jefferson, o que aconteceu? Qual o valor do prejuízo? Jefferson Simões: O incêndio começou na sala de geradores e se espalhou pela Estação. Tudo foi destruído, incluindo laboratórios biológicos e toda estrutura de apoio. Só de equipamentos científicos, nosso levantamento é de aproximadamente R$ 4 milhões em perdas. Foram preservados módulos científicos e refúgios para emergências, afastados de 50m a 1000m, incluindo o heliporto. Ainda não se sabe qual seria o valor do investimento necessário para reconstruir a estação, mas, algo entre R$50 e R$60 milhões de reais, se for uma estação de vanguarda e dedicada à ciência. Esperamos que a comunidade científica seja ouvida em todas as fases de planejamento e construção da nova estação, considerando o que há de mais eficaz em design, material de construção polar e segurança.
de peixes, análise de impacto ambiental. Também foi atingido o projeto de monitoramento do ozônio atmosférico, entre outros. Mas o Proantar também conta com outros centros de pesquisa na região. Duas embarcações, o Navio Polar Almirante Maximiano e o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, apoiam pesquisas oceanográficas. Em acampamentos remotos, num raio de 500 km da Estação, são feitas investigações geológicas e biológicas. Além disso, com apoio logístico de aviões, que aterrissam na neve e no gelo, são feitas pesquisas no interior do continente Antártico, a 2000/2500 km ao sul da estação. No verão passado foi instalado o módulo Criosfera 1, para pesquisas glaciológicas, geofísicas e da química da atmosfera. Por que a Antártida é tão importante para a ciência que seria razoável um investimento tão alto, em um lugar tão inóspito e distante do nosso País? Primeiro, é preciso ter cuidado com os mitos. O continente antártico não é longe. Ele é mais perto da nossa região Sul do que o norte da Amazônia. E por isso, regula mais o clima do Sul do Brasil do que a floresta tropical. A Antártida é parte essencial do sistema ambiental do planeta. Fisicamente, se uma parte do gelo antártico derreter, o nível do mar aumenta. Modificações no gelo antártico alteram todo o padrão da circulação atmosférica e oceânica do hemisfério Sul, além de poder modificar a distribuição de chuvas. Portanto, afeta a
agricultura. Em outras palavras, a Antártica é parte essencial do ambiente terrestre. Se a modificarmos muito, afetaremos todo o planeta. Vinte e nove países realizam pesquisas permanentemente na região.
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O que de mais importante foi observado lá ao longo dos últimos 20 anos? A sensibilidade da região polar austral às mudanças ambientais. A redução da camada protetora de ozônio da atmosfera e a desintegração parcial do gelo na periferia do continente são exemplos. Poucas investigações examinaram especificamente as inter-relações com a América do Sul. Já se sabe que o gelo da Antártica, 90% do gelo da Terra, é um dos principais controladores do sistema ambiental planetário. Lá, mínimas mudanças, como um ligeiro aquecimento da atmosfera, têm impacto muito maior do que no caso dos organismos dos trópicos ou subtrópicos.
3 2 5 Informações iniciais dão conta de que pelo menos dez das 20 pesquisas que estavam sendo desenvolvidas no local foram perdidas, total ou parcialmente. São esses os números oficiais? Não. Trata-se de um mito, divulgado pela grande imprensa. Todas as pesquisas realizadas ‘dentro’ da Estação pararam: cerca de dez. Os dados de 2012 dessas dez pesquisas, é que foram perdidos. Menos de 40% das pesquisas do Proantar são realizados na Estação. A área mais prejudicada foi a de biociências, que executa estudos sobre biodiversidade, fisiologia
Em reação ao incêndio, muita gente afirmava pelas redes sociais desconhecer que o Brasil tivesse uma estação científica na Antártida. Falta divulgar esse programa? Isso é verdade para a maioria da Ciência feita no Brasil. E o grande público desconhece o que a ciência brasileira representa para o nosso desenvolvimento socioeconômico. O conhecimento, especialmente o produzido pela pesquisa brasileira, precisa ser difundido para a sociedade, com maior eficiência.
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5 PERGUNTAS PARA...
Jefferson Cardia Simões
Esta imagem faz parte de uma série de desenhos intitulada Five Ballerinas, desenvolvida durante mestrado na Univeristy of Reading na Inglaterra, de setembro 2009 a julho 2011. Diz a autora: “O desenho e a aquarela foram parte ativa da minha pesquisa de ateliê e apresentam-se com transformações sutis, que estão respirando ali, na fragilidade do grafite e na transparência da aguada”.
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Crédito: Raquel Souza Borges
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