Minas Faz Ciência - Internacionalização - Edição Especial 2011

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Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br

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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Antonio Augusto Junho Anastasia SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Narcio Rodrigues

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Mario Neto Borges Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: José Policarpo G. de Abreu Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu Membros: Antônio Carlos de Barros Martins, Dijon Moraes Júnior, Evaldo Ferreira Vilela, Giana Marcellini, José Luiz Resende Pereira, Magno, Antônio Patto Ramalho, Paulo César Gonçalves de Almeida, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, Rodrigo Corrêa de Oliveira

Sem Fronteiras Estar conectado com o mundo é uma necessidade da civilização contemporânea. Os pilares Ciência, Tecnologia e Inovação, de maneira especial, precisam interagir nas diversas nacionalidades, a fim de garantir e, mesmo, acelerar o progresso científico da humanidade. Atenta às movimentações globais, a Fundação de Amparo à Ciência do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) promove a internacionalização da ciência mineira, estabelecendo o intercâmbio de pesquisadores e a pesquisa conjunta. Assim, potencializa as ações similares desenvolvidas em diferentes países e aproxima a ciência brasileira dos padrões científicos internacionais. Na FAPEMIG, as parcerias internacionais cresceram ao longo dos anos e foram institucionalizadas em 2011, com a criação da Assessoria Científica Internacional, voltada especialmente para gerir as relações internacionais da Instituição. Esta edição especial procura colocar em primeiro plano os acordos já firmados e aqueles em processo de efetivação, num total de oito países, como no exemplo a seguir: em 29 de setembro de 2009, por meio da Deliberação nº 43, foi regulamentada, pelo Conselho Curador da FAPEMIG, a bolsa de iniciação científica internacional, que beneficiou, desde então, estudantes interessados em fazer intercâmbio científico na Alemanha, por meio da parceria com o Serviço Alemão de Intercâmbio Científico (Daad). Outra parceira nesse país é a Fundação Alemã de Pesquisa Científica (DFG). Na França, os diálogos tiveram início em 2007 e foram oficializados em 2008, com o Instituto Nacional Francês para Pesquisa em Ciência da Computação e Automação (Inria). Desde então, editais já foram lançados e projetos científicos e tecnológicos de cooperação binacional estão sendo desenvolvidos por meio da parceria. As aproximações com a Itália se deram com a região de Piemonte, com o Politecnico di Torino (PoliTO), em que professores da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) têm a oportunidade de fazer Doutorado, e graduandos podem obter a Dupla Titulação. No Reino Unido, um acordo de cooperação científica foi firmado com o Centro de Inovações Csem Brasil e o Imperial College London, um dos principais centros de referência internacional no estudo e no desenvolvimento da eletrônica orgânica e impressa. Outros acordos, não menos importantes, se dão com a Austrália (Universidade de Queensland), o Canadá (Universidade Alberta) e Estados Unidos (Purdue). Ao mesmo tempo, uma comissão criada pela FAPEMIG tem feito contatos com Israel. Convidamos o leitor a ler as reportagens e conhecer um pouco mais desses diálogos.

AO LEI TO R

EX P ED I EN T E

MINAS FAZ CIÊNCIA Assessora de Comunicação Social e Editora Geral: Ariadne Lima (MG09211/JP) Editor Executivo: Fabrício Marques Assessora Editorial: Vanessa Fagundes Redação: Ariadne Lima, Fabrício Marques, Vanessa Fagundes, Juliana Saragá, Maurício Guilherme Silva Jr., Ana Flávia de Oliveira, Marcus Vinicius dos Santos, Hely Costa Jr., Kátia Brito (Bolsista de Iniciação Científica). Diagramação: Beto Paixão Revisão: Glísia Rejane Projeto gráfico: Hely Costa Jr. Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: Lastro Editora Tiragem: 20.000 exemplares Capa: Hely Costa Jr.


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44 A vida dos

Assessoria internacional

bolsistas lá

Í N D I CE

Em busca de cooperação e entendimento entre instituições internacionais e o Estado, assessoria científica internacional da FAPEMIG desenvolve estratégias de aproximação entre países

Histórias de estudantes e pesquisadores brasileiros no exterior revelam rotinas atribuladas, mas, ao mesmo tempo, coroadas por conhecimento, amizade e cultura

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Entrevista

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Canadá

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Itália

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Inglaterra

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França

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Israel

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Alemanha

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EUA

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Abrindo as portas para o mundo: o reitor da UFMG, Clélio Campolina, aponta as perspectivas da Ciência brasileira no campo internacional

Referência mundial, design praticado na região de Piemonte liga a riqueza da terra de Dante à Estrada Real mineira

Projetos de cooperação com Nord-Pas de Calais estimulam desenvolvimento em diversas áreas, como Tecnologia da Informação, Mineração, Saúde e Materiais

Austrália

Parceria promove a expansão da indústria mineral sem causar danos ao meio ambiente

Estudos são referência na pesquisa da Mata Seca e embasam até mesmo decisões jurídicas

Do Reino Unido, o suporte teórico para a ciência dos chips orgânicos impressos feitos em Belo Horizonte

Sistema de inovação israelense acrescenta novas perspectivas para promover a união entre academia e empresas

Acordos com agências alemãs proporcionam a pesquisadores cooperarem em diversas áreas

Trazendo à memória antigos vínculos de cooperação entre Minas e Purdue, novo acordo promete avanços científicos na área de bioenergia


“A extensão dos conhecimentos científicos para o processamento industrial é o principal foco de interesse, além do contato com a experiência dos ingleses, que são pioneiros na área de dispositivos eletrônicos orgânicos” Giovani Gozzi Físico Escola FAPEMIG/Csem Brasil/Imperial/College London (Eficc) “Esse acordo de cooperação focou especificamente a área de mineração e mostra como pode ser multiplicado para outras iniciativas. A Austrália também é um país com tradição em atividade mineradora. E Minas Gerais tem recebido um volume expressivo de investimentos do setor” Virgínia Ciminelli Coordenadora da parte mineira do acordo com a Universidade de Queensland Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (Demet-UFMG) “Quando nos aliamos a instituições que são destaque na área de Ciência e Tecnologia ganhamos em qualidade. Com isso, criamos oportunidades para os nossos pesquisadores trabalharem com o ‘top’ do mundo”. Evaldo Ferreira Vilela Subsecretário Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes) “A participação em um projeto internacional, com a Universidade de Alberta, no Canadá, enriquece a formação dos alunos. Esse intercâmbio também se estende aos pesquisadores. Já recebemos vários colegas que ministraram palestras ou minicursos para a nossa comunidade acadêmica”. Mário Marcos do Espírito Santo Pesquisador, membro da Rede Tropi-Dry Departamento de Biologia Geral da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) “Seria excelente que os estudantes mineiros tivessem Israel como opção de intercâmbio e que, da mesma forma, as universidades mineiras pudessem receber estudantes israelenses. Nada impede que possamos fazer os contatos necessários para que as universidades mineiras assinem acordos com as universidades israelenses”. Cynthia Rocha Assessora para Parcerias Nacionais e Internacionais Sectes “Com o acordo entre FAPEMIG e DFG, criamos uma base bem definida e segura pelos pesquisadores que querem estabelecer projetos conjuntos entre Alemanha e Minas Gerais” Detrich Halm Diretor Fundação Alemã de Pesquisa Científica (DFG)

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MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte. MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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FR ASES

“Estar junto ao Politecnico di Torino (PoliTO) é fundamental. O know how e as pesquisas desenvolvidas propiciam uma vivência aprofundada e dinâmica a respeito do meu tema de pesquisa, amplamente investigada e trabalhada por eles. Estar aqui é acima de tudo conhecer, aprender e experimentar”, Paulo Miranda Doutorando em Pesquisa em Sistema de Produção e Desenho Industrial PoliTO




estratégia

De asas bem abertas Ações da Assessoria Científica Internacional da FAPEMIG buscam aproximar instituições mineiras dos mais importantes centros de pesquisa do planeta Maurício Guilherme Silva Jr.

Ao pretender internacionalizar-se, uma organização prepara-se, definitivamente, para se mostrar ao mundo. Com a instauração de sua Assessoria Científica Internacional, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) incrementa-se com o objetivo de aproximar os pesquisadores mineiros de alguns dos mais importantes centros de produção do conhecimento, sediados nos quatro cantos do planeta. Até o momento, a Fundação estabeleceu dez acordos com

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instituições estrangeiras (confira reportagens ao longo da revista). “Além de facilitar o acesso a prestigiados centros de pesquisa e universidades, buscamos fazer com que a ciência produzida em Minas Gerais seja conhecida em diversos países”, ressalta Flávia Perdigão Cerqueira, assessora científica internacional da FAPEMIG. Como fruto de tal iniciativa, abrem-se importantes canais de comunicação, estimulados por instituições idôneas e com tradição em intercâmbio

científico. “Some-se a isso o fato de haver um lado subjetivo no desenvolvimento de um acordo. Afinal, tais negociações baseiam-se em confiança e compromisso mútuos”, ressalta Cerqueira. Em seu projeto de internacionalização, a FAPEMIG tem buscado acordos com renomados centros de pesquisa e instituições de ensino superior, a exemplo de Fundação de Pesquisa Alemã (DFG) e Intercâmbio Acadêmico Brasil-Alemanha (DAAD); Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automa-


ção (Inria), na França, e das universidades de Purdue (EUA), Queensland (Austrália), Alberta (Canadá), e Imperial College (Inglaterra).

Namoro científico Para que as metas de parcerias científicas e/ou de inovação sejam efetivadas entre instituições de distintos países, é necessário, por vezes, que se cumpram etapas. Trata-se, em síntese, do período para identificação recíproca “de terreno”. Num primeiro momento, costuma-se elaborar cartas de intenção. “Trata-se de documento mais simples. Ao assiná-los, as instituições revelam que estão se conhecendo”, ressalta a assessora, ao lembrar que a parceria da FAPEMIG com o DFG, a Fundação Alemã de Pesquisa Científica, começou exatamente assim, em 2009. A segunda etapa dos “relacionamentos” entre as organizações tem como caminho natural a assinatura de memorandos de entendimento, documentos que, geralmente, pregam benefícios mútuos e têm duração mais prolongada. Neste estágio, a confiança entre os parceiros já se revela consolidada. Por fim, como terceiro estágio do processo de intercâmbio científico e/ou de inovação, parte-se para a efetivação de um acordo de cooperação. “Nestes casos, trabalha-se sem quaisquer vestígios de desconfiança”, destaca Flávia Cerqueira.

Linhas de ação A filosofia do processo de internacionalização da FAPEMIG segue, em síntese, três vertentes de ação, todas desenvolvidas simultaneamente. Em primeiro lugar, está o objetivo de desenvolvimento de projetos e pesquisas conjuntas entre instituições mineiras e estrangeiras. Some-se a tal iniciativa o estímulo ao intercâmbio de estudantes, professores e PHDs e a organização de eventos – principalmente, workshops –, em parceria com entidades internacionais. “As parcerias começam de diversos modos. Por vezes, somos procurados por representantes de instituições estrangeiras. Em outras ocasiões, a FAPEMIG aproxima-se de universidades e centros de pesquisa com quem o Governo de Minas Gerais tem conversado”, explica Flávia Cerqueira, ao ressaltar que o importante, para o início de um relacionamento institucional, é a vontade dos parceiros e o compromisso que surgirá a partir de tal proximidade: “Os processos de negociações, contudo, revelam-se longos. Para que um acordo seja assinado, são necessários muitos e-mails e encontros. Afinal, os dois lados buscam iniciativas que lhes garantam zonas de conforto”. Daí a importância de a FAPEMIG investir, permanentemente, em editais muitíssimo bem elaborados, que atraiam pesquisadores

aptos a preencher os requisitos de projetos que envolvam parceiros internacionais.

A Assessoria Desde que foi criada, em 2009, a Assessoria Científica Internacional da FAPEMIG desenvolve uma série de iniciativas simultâneas. A área é responsável por gerenciar os acordos – assim como por manter seu histórico –, organizar missões internacionais e promover o que se pode chamar de “reconhecimento oficial do terreno”, no caso de parcerias em potencial. “Precisamos estar sempre atentos. Lidamos, ao mesmo tempo, com prospecção de oportunidades e realização de eventos. Além disso, é preciso conhecer as necessidades dos parceiros”, conta Flávia Cerqueira. Setores com a responsabilidade de buscar parcerias internacionais delineiam-se de acordo com a dimensão e a natureza da instituição que representam. “Além disso, as relações internacionais dizem do direito do outro. Daí a necessidade de pensar, de modo particular, as principais diferenças entre duas instituições”, explica Cerqueira, ao ressaltar o caráter generalista da Assessoria Científica Internacional criada pela FAPEMIG: “É preciso sempre mudar de estratégias de acordo com as demandas e as oportunidades”.

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Entrevista

“Não podemos fechar as portas para o mundo” Em entrevista à Minas faz Ciência, o reitor da UFMG, Clélio Campolina, comenta os primórdios e as perspectivas da produção científica brasileira no cenário internacional

Maurício Guilherme Silva Jr.

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À frente de uma das mais importantes instituições de ensino superior do País, o professor Clélio Campolina Diniz conhece muito bem a importância, para o desenvolvimento da ciência, do cultivo de projetos e redes de contato nos quatro cantos do mundo. Pós-doutor pela University of Rudgers, nos Estados Unidos, o atual Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) discute, nesta entrevista, as dificuldades, trunfos e desafios rumo ao aprimoramento do processo de internacionalização da pesquisa brasileira. Durante os chamados “anos de chumbo”, muitos pesquisadores saíram do Brasil rumo a universidades estrangeiras. Já nos anos 1980, tais “cérebros” retornam e garantem novos contornos à ciência e à educação no País. Esse seria, realmente, o momento inicial do processo de “internacionalização” de nossa pesquisa? O retorno de tais pesquisadores foi importante, mas não diria que tudo tenha começado apenas nos anos 1980. Já na década de 1960, muitos pesquisadores começam a voltar. Exemplo interessante aconteceu na Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, que começou a operar em 1966 e teve política muito objetiva no sentido de atrair os pesquisadores brasileiros que estavam no exterior. Isso ocorreu, por exemplo, com os importantes físicos César Lattes e Rogério Cerqueira Leite. A rigor, os pesquisadores começam a retor-

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nar quando aqui são criadas as condições para o desenvolvimento da pesquisa. Isso se dá, exatamente, com a montagem da pós-graduação no País. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foram criados em 1952. Em sua fase inicial, contudo, investiam mais na capacitação de professores. A pós-graduação e a pesquisa brasileiras são fundamentalmente desenvolvidas a partir dos anos 1960. Mas, na década de 1960, também houve a reforma universitária... A reforma universitária foi autoritária, mas, ao mesmo tempo, trouxe ares de progresso. Como exemplo, cito o fim da cátedra, ação que interpreto como um grande avanço, já que o catedrático era o “dono da matéria”, a ponto de nomear quem bem desejasse como assistente. Antes disso, aqui na própria UFMG, recordo-me que, durante a gestão do professor Aluísio Pimenta, houve significativo processo de modernização. Os institutos centrais foram criados, à época, com o intuito de permitir maior complementaridade entre áreas do conhecimento, o que auxiliaria a pesquisa. Até então, só se investia na formação profissional, em áreas como Direito, Medicina, Engenharia, Farmácia e Odontologia. A ciência era vista como mero subsídio a tal formação. Ao contrário, nos institutos centrais, buscava-se a pesquisa.


Foto: Foca Lisboa


Investimento em pesquisa e internacionalização, portanto, precisam caminhar juntos? Sem pesquisa não há internacionalização. Além disso, não se pode dissociar pesquisa de ensino. Hoje, grande parte dos estudos está vinculada aos programas de pós-graduação. Um bom professor, para avançar no conhecimento científico, não pode apenas transmitir o conhecimento disponível. Ele precisa ser capaz de gerar conhecimento novo. Se, na dissertação, reproduz-se um conhecimento já disponível; na tese, prevê-se que o trabalho apresente nova contribuição. A pós-graduação – e, em especial, o doutorado – é o locus da pesquisa, onde há a conjugação de um professor e pesquisador experiente com um aluno já na “fronteira”, capaz de desenvolver temas próprios e inéditos. Como o senhor analisa, hoje, o processo de internacionalização das universidades brasileiras? Estou muito à vontade para dizer que sempre batalhei, como integrante do Conselho Científico e Coordenador de Área da Capes, para a manutenção das bolsas de alunos brasileiros no exterior. Afinal, houve um momento em que o Brasil enxugou tal processo. De 1950 a 1980, muitos estudantes foram fazer pós-graduação em outros países. Já nos anos 1990, à medida em que nossa pós-graduação crescia, houve a ideia, por parte dos órgãos brasileiros de fomento – principalmente, Capes e CNPq –, de que era muito caro enviar alunos para fora do País e, por isso, tal processo deveria ser reduzido. A meu ver, isso era um erro que sempre combati. O País é muito grande, precisa desenvolver pesquisas internamente, mas sem fechar as portas ao mundo. Nenhuma nação desenvolvida se fecha. Vejo muitos pesquisadores americanos na Europa e vice-versa. Quanto aos países asiáticos, nem se fala: há muitos japoneses e coreanos pelo mundo. A partir dos anos 1990, o Brasil limitou muito o envio de estudantes ao exterior, investindo, apenas, no doutorado sanduíche, em que o pesquisador passa um período fora. É vital, porém, que uma cota de estudantes faça pós-graduação integral no

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exterior, não só pelo conhecimento gerado, mas pela experiência de vida, pelo convívio com outras culturas. Assim como para evitar a endogenia, quando se começa a criar uma espécie de pensamento único, por meio de grupos que se realimentam. Nestes grupos, os padrões culturais e referenciais são os mesmos, o que percebo como muito negativo. E a validação de diplomas estrangeiros, no Brasil, seria um problema a ser superado? Há dois lados para este problema. O mais grave é a grande quantidade de diplomas falsos, que não merecem ser reconhecidos. Quando estava no Conselho Técnico-Científico da Capes, avaliávamos que existiam cerca de 17 mil diplomas de mestrado e doutorado, no Brasil, que não podiam ser reconhecidos. Por outro lado, precisamos facilitar o que é correto, legítimo e não pode ficar parado em função da longa burocracia. Esse é um problema das universidades brasileiras. O Brasil precisa acelerar o processo de reconhecimento dos diplomas legítimos, adequados e corretos. Ao mesmo tempo, é vital, aumentar a fiscalização. Aliás, há cerca de cinco anos, a possibilidade de transformar a educação em serviço de livre comércio foi tema da Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso não pode acontecer. O País precisa preservar o controle sobre a educação, pois se trata dos fundamentos culturais da nação. Não se pode abrir a educação para o mercado. Atualmente, o Brasil é mais respeitado pela comunidade científica internacional, em função do maior volume de patentes, de artigos publicados em renomados periódicos etc.? Sim. O Brasil avançou muito e temos, hoje, uma comunidade científica, nas diversas áreas do conhecimento, com padrões internacionais. E olha que, por muitos motivos, ainda não temos as condições de trabalho de muitas universidades estrangeiras. As instituições brasileiras são relativamente novas e é preciso consolidar e institucionalizar a pesquisa. Além disso,

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ainda há variações no comportamento governamental. Nesse momento, contudo, vivemos um período favorável. A postura dos governos federais e estaduais, em relação às universidades, é muito positiva. Mas já houve momentos em que não era assim. Atualmente, nossa qualificada comunidade científica atrai pesquisadores estrangeiros para o Brasil e facilita nossa inserção na comunidade internacional. Estou seguro de que isto será ampliado. Para tal ampliação, o que falta ao País? Enfrentamos várias dificuldades. Em primeiro lugar, embora tenha melhorado nos últimos anos, o recurso para pesquisa sempre foi limitado. Além disso, os padrões salariais para quem deseja dedicar-se à pesquisa permanecem insuficientes. Isso leva à cópia de algo complexo no mundo: a mercantilização da academia. Há, hoje, autorizações formais para que você desenvolva atividades remuneradas fora da universidade, por exemplo. Acho importante tal flexibilidade, mas o ideal seria que o professor não dependesse de rendas externas. Digo isso para o padrão de vida normal de um docente, que, no mundo inteiro, é modesto. O ideal é que o pesquisador não precisasse buscar subterfúgios ou alternativas. Há, ainda, graves deficiências de infraestrutura, como recursos para laboratórios, instalações físicas etc., que, mais recentemente, estão sendo sanadas. A maior de todas as dificuldades, porém, é institucional. Trata-se das normas legais que, nas universidades, são as mesmas para todo o setor público. Há, por exemplo, a lei das licitações, nº 8.666, que diz que tudo precisa ser licitado, pelo menor preço. A pesquisa, contudo, precisaria ter certa autonomia para eleger o que lhe é prioritário. Seriam necessários critérios científicos de avaliação, e não mercadológicos. Outro problema diz respeito à transferência de tecnologia, que enfrenta dificuldades formais. O Brasil produz muita ciência, mas pouca tecnologia. Por que isso ocorre? Tal realidade relaciona-se ao fato de termos base produtiva internacional. Coreia, Alemanha, Japão e Estados Unidos são


países que se industrializaram com base em empresas nacionais. O Brasil, ao contrário, industrializou-se com forte presença de empresas estrangeiras, que não necessariamente têm interesse em desenvolver pesquisa no País. Esse é um desafio a ser enfrentado, para que se consiga fazer a ponte entre o conhecimento científico e a sua aplicação prática, seja de mercado, seja social ou pública. Hoje, os dois grandes desafios para o avanço e a aplicação da ciência no Brasil resumem-se em melhorar o aparato jurídico-institucional – que possui muitas proibições e pouca flexibilidade – e convencer o capital estrangeiro de que é preciso investir em pesquisa, transformando-a em tecnologia. Em setores nos quais se pôde concentrar a pesquisa, de modo a desenvolver iniciativas com base em empresas nacionais, percebe-se sucesso absoluto. A que setores, exatamente, o senhor se refere? A Petrobras é, hoje, um dos maiores sucessos mundiais na exploração de petróleo em águas profundas. Tínhamos o monopólio estatal do petróleo, o que fez com que se concentrasse pesquisa nessa área. A Embraer, que também era estatal, é uma empresa extremamente bem sucedida do ponto de vista tecnológico e comercial. Na área agrária, o Brasil possui tecnologias que são fronteiras em todo o mundo. Isso porque a especificidade da tecnologia agrícola está muito vinculada às condições climáticas do País. Em resumo, setores ligados ao petróleo, à aviação e à produção agrícola desenvolveram-se na ausência do capital estrangeiro. Não sou xenófobo em relação a tais recursos, mas, conforme comentei com o Ministro de Ciência e Tecnologia [Aloizio Mercadante], é preciso criar condições para que o capital estrangeiro invista em pesquisa no Brasil. Nos Estados Unidos, hoje, boa parte das empresas que pesquisam é estrangeira. Entre Nova Iorque e Princeton há um corredor nas áreas de biotecnologia e farmacêutica, com estudos realizados por centros e escritórios ligados a grandes corporações europeias. Com relação à UFMG, hoje uma das mais importantes universidades brasi-

leiras, quando se dá o início do processo de internacionalização? Na UFMG, a pesquisa é relativamente recente e remonta, como já ressaltei, a criação dos institutos centrais, nos anos 1960 e 1970. O grande salto de nossa pesquisa, contudo, dá-se dos anos 1990 para cá, devido à consolidação da pós-graduação, ao desenvolvimento de muitos grupos de pesquisa e ao aumento do número de alunos de mestrado e doutorado. Importante destacar, ainda, a disponibilidade de recursos via instituições de pesquisa, como CNPq, Capes e FAPEMIG. Não sou filiado a nenhum partido político, mas diria que o grande apoio ao ensino superior e à pesquisa no Brasil vai se dar no governo Lula. Com relação à FAPEMIG, que andou claudicante no final dos anos 1980, o apoio veio a partir do governo Aécio Neves. Não resta dúvida de que mudou a cara da Fundação. Neste sentido, de que modo o senhor avalia o atual investimento da FAPEMIG em iniciativas de internacionalização? Acompanho a trajetória da FAPEMIG desde o início. Fui presidente da Câmara de Ciências Sociais, no final da década de 1980, quando o Newton Cardoso queria acabar com a Fundação e lhe fizemos heroica resistência. Nos últimos anos, o governo apoiou a entidade, que, hoje, tem uma direção com fundamentação, visão e bagagem acadêmicas. No que se refere à internacionalização, percebo as ações como extremamente louváveis. É preciso, contudo, internacionalizar com qualidade. Não adianta buscar o mundo sem cuidar do “andar de baixo”: há que se tratar muito bem da qualidade de nossos cursos, de nossa pós-graduação e de nossa pesquisa. A UFMG, por exemplo, acaba de oferecer um curso de mestrado e doutorado em Angola. Eis o nosso compromisso com o hemisfério sul do planeta. Precisamos manter nossa internacionalização “para cima” e a FAPEMIG possui importante papel a cumprir nesse sentido.

Segundo o senhor, em depoimento sobre o programa Ciência sem fronteiras, “a UFMG receberá de 500 a mil bolsas de um total previsto de 25 mil por ano”. Com números assim, não seria possível falar em mudança paradigmática da ciência no Brasil? É verdade que tais investimentos permitem outros modos de pesquisa no País. Creio, porém, que a ideia de “mudança paradigmática” seja muito pesada. Já recebemos uma batelada de bolsas do CNPq e tentaremos responder da melhor forma possível. Mas não será simples. O programa Ciência sem fronteiras está em fase de implantação, precisa de ajustes, e daremos toda a contribuição necessária para tal. Importante lembrar que o programa exige ampla articulação com as instituições estrangeiras. Para distribuir 500 bolsas para intercâmbio, também preciso selecionar 500 alunos, encontrar universidades que desejam recebê-los e saber de suas contrapartidas. Em seguida, terei que receber os alunos de volta e realizar a adaptação curricular. Sabemos que não é simples porque, na UFMG, já realizamos intercâmbio há bastante tempo, por meio de nossa Diretoria de Relações Internacionais. É preciso internacionalizar com alta qualidade em todo o processo.

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ITÁLIA

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“Em um acordo de cooperação entre instituições de dois países, como o que acontece entre a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e o Politecnico di Torino (PoliTO), todos ganham”, diz o reitor da Uemg, Dijon Moraes Júnior, sentado no sofá de sua sala, no oitavo andar do prédio Gerais, na Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, na manhã do último dia de setembro. Dijon, que também é membro do Conselho Curador da FAPEMIG, prossegue: “Ganha o aluno, ao adquirir experiência internacional; ganha a Uemg, que amplia e efetiva seu programa

de mobilidade estudantil; e ganham a FAPEMIG e o governo estadual, que cumprem sua missão de promover o ensino e a pesquisa em Minas Gerais”. Dezesseis dias antes, em um fim de tarde extremamente quente, cinco alunos de graduação da Escola o de Design, selecionados c u m para primento do

Acordo de Dupla Titulação entre Brasil e Itália, chegavam ao país de Dante Alighieri e eram apresentados ao PoliTO, com cronograma de atividades acadêmicas previsto para integralização em dois anos. O acordo de Dupla Titulação foi assinado pela Uemg e pelo PoliTO em novembro de 2008, como parte do programa de cooperação do Estado de Minas Gerais com a Região de Piemonte, na Itália. Pelo PoliTO, todos os títulos outorgados serão Laurea in Design (Design di Prodotto), e pela Uemg dois alunos obterão título de bacharel em Design de Produto e os outros três receberão o título de bacharel em Design Gráfico. Por que PoliTO e por que Design? A ação é também um resultado de uma extensa parceria entre o Brasil e a Itália e baseia-se em acordos internacionais assinados entre o Estado

de Minas Gerais e a região de Piemonte, a partir de linhas gerais de desenvolvimento entre os países, especificamente formação profissional e cooperação cultural. “A escolha sobre o Design como área do conhecimento faz parte de estratégia maior do Governo. Na época, o então governador Aécio Neves firmou acordo com a Itália, e, nesse contexto, Uemg e Torino puderam realizar as parcerias”, observa o reitor. Gabriela Cristina de Souza Silva, 22 anos, graduanda do 7º período de Design Gráfico na Universidade do Estado de Minas Gerais, do 6º período de Comunicação Social da UFMG e do primeiro período de Ecodesign no Politecnico di Torino, é uma das selecionadas que estão em Turim, ao lado de Gabriel Figueiredo, Márcio Pinho, Thayana Meneses e Ravi Bellard. Ela comenta o impacto da experiência: “Para nós tem sido uma grande honra ser os primeiros alunos da graduação da Escola de Design da Uemg a participar de intercâmbios (algo que já é corriqueiro em muitas universidades por todo o País e que pudemos comprovar ao nos encontrarmos com muitos brasileiros em Torino e universidades que possuem até 17 alunos em

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POR DENTRO DO PIEMONTE

O Piemonte é uma região situada no norte da Itália, com 4,3 millhões de habitantes. É composto pelas seguintes províncias: Alessandria, Asti, Biella, Cuneo, Novara, Turim, Verbano Cusio Ossola e Vercelli. Tem limites com a França, o Valle d’Aosta, Suíça e Lombardia.

POR DENTRO DE TURIM

Foto: Divulgação

Turim (Torino em italiano e Turin em piemontês) é uma comuna italiana, capital e maior cidade da região do Piemonte, e a quarta maior cidade do país, com uma população de 910.188 habitantes (2009), estando atrás apenas de Roma, Milão e Nápoles. Situada na extremidade ocidental da planície do rio Pó, Turim é um dos principais centros de edição, artes, erudição e moda da Itália. Seus principais edifícios datam principalmente dos séculos XVII e XVIII. A cidade é sede da Fiat.

intercâmbio). E podemos dizer, em nome dos coordenadores, que se tratou de um processo longo e difícil, mas que nos renderá bons frutos”. Ainda no Brasil, os estudantes participaram de um projeto de pesquisa denominado Design e Integração Competitiva no Território da Estrada Real, que durou um pouco mais de um ano e cujo objetivo principal era o de utilizar os conhecimentos relativos à interface entre Design e Território, requisitos ambientais, Ecodesign, para discutir e desenvolver ações que contribuam para o Território da Estrada Real de forma ampla. “A ideia é pensar em ações de modo sistêmico que possam levar ao desenvolvimento e à sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica dessa região, que cada vez mais vem sendo visada em termos turísticos, mas que ainda carece de fazê-lo de forma mais integrada ao seu contexto, à sua comunidade, à sua história”, diz Gabriela. A estudante ressalta que a parceria com a instituição italiana já se fazia presente nessa pesquisa. “Eles possuem um grande knowhow nesse campo e várias iniciativas semelhantes que contam com a visão do designer, como os ecomuseus, rotas do vinho e do queijo”. Sobre esses projetos, o que os alunos fizeram, primeiramente, foi um diagnóstico de pontos críticos/problemáticos e os potenciais locais. A partir daí propuseram uma série de

O reitor da Uemg, Dijon Moraes Júnior

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projetos que possam contribuir para a região. “A nossa vinda para o PoliTO tem como objetivo aprimorar nosso conhecimento no que concerne a essa visão projetual de modo sistêmico e ao fim propor uma ação que possa de fato ser aplicada à Estrada Real”. Depois das primeiras aulas, Gabriela percebeu que terá contato com um aprofundamento muito detalhado nesse tipo de projetação. “Estamos em uma Laurea Magistrale em Ecodesign, é uma especialização. Uma experiência bem diferente do que vemos em graduação. O mais interessante é que, na prática, é como uma continuidade do projeto de pesquisa em que trabalhamos no Brasil, como se estivéssemos subindo um degrau a mais”. A base para o projeto final dos graduandos é a pesquisa da Estrada Real, que concerne a diferentes aspectos do território, seja no âmbito da tipografia, do design de informação, de novas tecnologias, espaços museográficos. “Mas ainda é cedo para especificar do que se tratará especificamente, mesmo porque deve tratar do ambiente com um todo, de modo sistêmico. Estamos aprendendo a pensar os territórios de modo amplo”, avalia. Para Gabriela, um detalhe significativo despertou seu interesse, pelo fato de, além de ser aluna de Design Gráfico, também estudar Comunicação Social, como ela mesma explica: “o que mais me chama atenção em meio a tudo que vimos, diagnosticamos e projetamos é a importância de se comunicar o que se projeta. Não basta ter um projeto elaborado, compatível com requisitos ambientais, sociais, econômicos e culturais se aqueles que se deparam com esse projeto não são capazes de perceber isso. Perde-se a oportunidade de educação e de perpetuação dessa ação”. Esse é um ponto que ela espera poder trabalhar bastante, da importância de comunicar do modo mais adequado, para todos, as soluções propostas para um ambiente (tanto aqueles que governam, que vivem, que trabalham ou que visitam esse ambiente). “O que é algo bem amplo, já que essa comunicação pode ser pelo tipo de material utilizado, pela forma como é escrita, pela iluminação, e inúmeras outras formas que devem ser trabalhadas de modo coordenado”, ressalta.


Fotos: Arquivo pessoal / Paulo Miranda

Unidade Central do Politecnico di Torino

Em destaque, o Doutorado

Além do acordo de Dupla Titulação, outro destaque do diálogo entre Minas e Piemonte é o Doutorado de Pesquisa em Sistema de Produção e Desenho Industrial (Design), que, de acordo com o reitor da Uemg, Dijon Morais Júnior, foi inovador em Minas: “foi a primeira vez que a FAPEMIG concedeu bolsa de doutorado para um programa no exterior. Foram resolvidos também três dificuldades que os professores normalmente enfrentavam: conseguir a bolsa, conseguir a vaga na faculdade e continuar recebendo pela universidade. Graças à nossa ação estratégica estes problemas foram resolvidos pois nosso professor ganha vaga, bolsa e mantém o seu salário integral”. O primeiro professor contemplado com o intercâmbio nesse programa foi Paulo Miranda, que chegou a Torino em fevereiro de 2009. Atualmente encontra-se na fase de conclusão de sua tese. A provável data de defesa será marcada pelo Senado Acadêmico/Escola de Doutorado e deve acontecer entre os meses de fevereiro e abril de 2012. A duração da bolsa segue a duração prevista para o curso: três anos, prorrogáveis por no máximo um ano, mediante justificativa do bolsista e parecer do professor orientador e dos professores coordenadores (da Uemg e PoliTO) responsáveis pela parte acadêmica do convênio entre as instituições. Miranda trabalha com a pesquisa “Exploração mineral, homem e ambiente: relações sistêmicas do design – fatores humanos, sociais e estratégicos na produção artesanal em pedra sabão” (nome provisório), sob a orientação dos professores Luigi Bistagnino e Claudio Germak. “Estar junto ao PoliTO é fundamental. O know how e

O pesquisador Paulo Miranda, em Turim

as pesquisas desenvolvidas pelo Departamento de Projetação Arquitetônica e Design Industrial (Dipradi) propiciam uma vivência aprofundada e dinâmica a respeito do meu tema de pesquisa (Metodologia do Design Sistêmico), amplamente investigada e trabalhada por eles. Estar aqui é acima de tudo conhecer, aprender e experimentar”, afirma. O objetivo do trabalho é reconhecer, através da metodologia do design sistêmico, as relações da cadeia de exploração mineral no contexto territorial e suas consequências na produção de artesanato, em particular no polo produtor de pedra-sabão das regiões de Ouro Preto, Mariana e Catas Altas da Noruega, em Minas Gerais. “A estrutura exploratória existente, bem como as consequências atuais e principalmente futuras a propósito dos fatores humanos, sociais, ambientais e econômicos, são os pontos particularmente tratados nesse estudo. O objetivo específico tem o foco na exploração do esteatito, conhecido como pedra-sabão ou ainda pedra-talco, bastante difundido na região mineira e reconhecida como um bem cultural deste território”, explica o pesquisador.

Design e Território

Outro professor que também participa do programa de Doutorado é Marcelo Amianti, em Torino desde março de 2010. Conforme o cronograma de trabalho, ele deve terminar o período letivo em janeiro de 2013 e defender a tese até três meses depois. Seu projeto está em fase de desenvolvimento e sofreu muitas modificações desde sua chegada. “Até a conclusão da pesquisa e da fase de análise dos dados ob-

tidos o projeto passará por várias revisões, mas o título provisório, Estudo da produção científica dos cursos de Pós-graduação em Design de Produto (Mestrado) das Universidades públicas na União Europeia e no Mercosul, dá uma ideia da abrangência do tema que está sendo investigado”. Esta pesquisa tem como objetivo verificar a contribuição e a aplicação da produção científica desenvolvida nos Cursos Mestrado em Design de Produto para a região em que se situam, seja para a sociedade, a comunidade ou para a indústria, assim como para com a própria comunidade acadêmica em questão, tomando como referência o conceito de “Design e Território”. Além de Paulo Miranda e Marcelo Amianti, também cursa doutorado em PoliTO a professora Rosângela Miriam Mendonça, que chegou à Itália em janeiro deste ano, e a professora Ana Luiza Cirqueira Freitas, recém-selecionada e que inicia seus estudos em janeiro de 2012.

Viver em Piemonte

Estudar fora do País traz poucas dificuldades, porém, significativas, na avaliação do pesquisador Marcelo Amianti. A primeira delas é a fluência em um idioma estrangeiro. “Apesar do período que me dediquei à língua italiana no Brasil, percebo que o verdadeiro aprendizado somente se dá sob uma imersão completa, no próprio país de origem”. Amianti também cita a dificuldade de adaptação ao clima, bastante diverso do nosso, onde o inverno é rigoroso e o verão muito quente. Ambas as estações com duração aproximada de quatro meses. “Porém, existe uma dificuldade que só se percebe com o passar dos dias e ten-

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PERGUNTAS ! SAIBA MAIS Em 2008 a UEMG e o Politecnico di Torino, com o apoio da FAPEMIG, assinaram convênio de Dupla Titulação, que faz parte do Programa de Cooperação do Estado de Minas Gerais com a região de Piemonte. O acordo permite estudantes brasileiros de Design ir para Itália e usarem por dois anos a graduação com diploma válido no Brasil e na Itália. Este ano foram para PoliTO cinco alunos do curso de Design, que vão terminar a graduação na escola em dois anos. A FAPEMIG fornece um suporte financeiro de R$ 425 mil reais divididos entre a mensalidade da escola italiana, seguro saúde, auxílio instalação e passagem de ida e volta para os cinco estudantes.

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Informações gerais sobre o Convênio com Termo de Cooperação Técnica: Duplo Título e Doutorado. Começou em 2008.

a conclusão das atividades da primeira turma, a FAPEMIG deverá avaliar o sucesso do programa e sua possível renovação.

Qual o objetivo da Dupla Titulação? Ampliar e aprimorar a pesquisa, assim como também validar o currículo internacionalmente. O apoio prevê ainda um acordo com as prefeituras das cidades participantes do Projeto Estrada Real, que permita o aproveitamento dos profissionais formados por pelo menos um ano, para continuidade e implementação das atividades identificadas durante o desenvolvimento do trabalho. Após

Quanto ao Doutorado, qual a contrapartida que o professor oferece para a sociedade? O professor assina o Termo de Compromisso que, após o retorno do curso, permanecerá na instituição por pelo menos o dobro do tempo de duração do afastamento, em meses, no regime de trabalho semanal que for determinado pela instituição.

de a ficar mais intensa a cada dia que passa. É a falta que sinto do trabalho desenvolvido junto aos colegas de trabalho da Uemg, da hospitalidade e do calor humano do brasileiro e a saudade dos amigos e dos familiares que deixei”, diz. De positivo, Amianti destaca o seguinte aspecto: “Percebe-se na população italiana um orgulho intenso pelas tradições, pelas instituições e pela cultura alimentar. Cada região, bastante peculiar e diversa das outras, preserva e cultua sua própria história. O produto ‘made in Italy’ é muito valorizado pela sociedade, o que estimula o seu melhoramento contínuo”. Já Paulo Miranda também encontrou as dificuldades comuns a qualquer estudante de doutorado: acertar os passos com a língua italiana (“o que foi muito prazeroso”), aprender a lidar com uma cultura diferente e respeitar seus limites. “Talvez o mais significativo seja o fato de deixar um pedaço do meu trabalho aí no Brasil. Temos que renunciar a várias coisas para estar aqui e fazer um bom trabalho: ficar longe dos familiares, deixar sua casa, seus bens, estar fora da vida universitária da Uemg (instituição com que tenho grandes laços), não acompanhar meus alunos de perto (como um sentimento de paternidade) no cotidiano da universidade. Enfim, saudades!” Em síntese, Miranda afirma que essa é uma experiência de muita responsabilidade, que impõe uma dedicação intensa e muitas vezes solitária, pois depende somente de si mesmo a transformação des-

se conhecimento absorvido. É um grande sacrifício e ao mesmo tempo um prazer. “O ponto positivo de tudo isso é a experiência ímpar, única, de estar enxergando através de um outro e ao mesmo tempo de vários pontos de vista. Ver nosso país com esse olhar, ‘de fora da caixa’, faz com que acreditemos no nosso potencial, motiva, faz com que percebamos mais claramente nossas virtudes e nossas deficiências”. “Além de realçar o conhecimento e alargar a experiência, principalmente no campo internacional, a experiência vivenciada no PoliTO motiva-me em novas linhas de pesquisa com o desejo de aplicar e difundir esses conhecimentos dentro da Uemg. Quando voltar, pretendo direcionar a experiência adquirida em prática nas minhas atividades na Escola de Design da Uemg. Dar continuidade à minha linha de pesquisa, que acredito ser muito relevante, e fazer a minha contribuição social como pesquisador e professor, transferindo o conhecimento, praticando e experimentando os novos desafios e necessidades no nosso território”.

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Dia a dia intenso

Marcelo Amianti diz que seu cotidiano não é muito diverso daquele que habitualmente vivenciava no Brasil. “Durante a semana mantenho um horário regular de trabalho no Departamento onde desenvolvo meu projeto. A diferença consiste na carga de trabalho e na quantidade de tarefas necessárias ao objetivo do Curso de Doutorado, que são grandes. As disciplinas são ministradas em


horários e locais diversos, espalhadas pelas várias unidades do PoliTO em Torino”. Com o pouco tempo que resta, procura conhecer bem a cidade onde vive. Aos finais de semana, lembra Amianti, Torino oferece uma quantidade considerável de locais para visitação, como museus, palácios, mostras e apresentações de arte e cultura em geral. “A cidade tem aproximadamente 900 mil habitantes e um simples passeio pelas ruas e avenidas se torna um programa bastante rico, em função de sua arquitetura particular. O sistema de transporte público é bastante eficiente e facilita o deslocamento e o acesso por toda a cidade”. A poucos meses de defender sua tese, Miranda lembra que, no início, quando chegou, o cotidiano era bastante complexo no que diz respeito à cultura. “Era uma espécie de bombardeamento de informações, um plano um tanto quanto caótico, pois era necessário encarar uma realidade diferente, tanto cultural quanto organizacionalmente. Necessitei de algumas semanas para entender como tudo funcionava; a universidade, o modo de lecionar e frequentar as disciplinas, comer etc”. Além de cursar as disciplinas, ele teve a oportunidade de participar academicamente, como convidado em duas disciplinas do curso de graduação em Design Industrial do PoliTO, uma na área projetual e outra na área de materiais, em que pôde confrontar tanto a qualidade quanto a didática e o nível dos alunos. “Depois, já ao fim do segundo ano, o trabalho se concentrou no meu tema de pesquisa e ali fui fundamentando gradativamente os argumentos principais. Atualmente concentro todo o meu tempo na conclusão do meu trabalho, e como de praxe, ‘os dias são longos e as noites curtas’, é preciso muito empenho”.

Eu vou me adaptar

Recém-chegada, a estudante Gabriela Cristina Silva tenta se adaptar aos costumes locais. “Por exemplo, aqui não existe horário comercial comum a todos os comerciantes no Brasil. Cada estabelecimento tem seu próprio horário e a maioria deles fecha para almoço ou determinado dia simplesmente não abre. Em termos de burocracia, muitos órgãos, dentro da própria universidade, só

funcionam pela manhã, durante horários em que estamos em aula”. De positivo, ela destaca, entre outros, o fato de que a universidade tem grande experiência com estudantes estrangeiros e os auxilia em tudo o que se refere a burocracias locais, regulamentos e leis necessárias. “Oferece também cursos de língua gratuitos, já somos matriculados automaticamente no curso da língua italiana, no qual mais do que aprender o italiano conhecemos muito sobre cultura geral, por convivermos e escutarmos pessoas de todas as partes do mundo”.

Sua rotina diária tem sido bem corrida. “Aqui parece que o tempo passa mais rápido do que devia e que temos menos do que 24h para fazer as coisas”, afirma. Suas aulas, assim como de todos os cursos relativos ao design, são na nova sede da universidade, em Mirafiori, onde se encontra o centro de design da cidade. “O prédio da universidade é, inclusive, dentro das fábricas da Fiat, muito bonito, mas muito distante de tudo e de todos. Aliás no primeiro dia de aula fomos visitados pelo prefeito de Torino, o reitor de PoliTO e um dos diretores da Fiat”.

SOBRE O PROJETO ESTRADA REAL

O Centro Minas Design (CMD) e a Uemg desenvolvem o projeto “Design e Integração Competitiva do Território”, com o objetivo de construir uma estratégia competitiva para a oferta de produtos e serviços das empresas da região. Para esse empreendimento, foram selecionadas seis cidades e um distrito, que fazem parte do trajeto Estrada Real (Coronel Xavier Chaves, Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada, Prados e seu distrito Bichinho, Resende Costa e São Brás do Suaçuí). Os resultados pretendidos são desenvolvimentos de protótipos virtuais, sinalização interna e externa, serviços e marcas para empresas de cada cidade voltada para a melhora da competitividade local. O projeto abarca o acordo de Dupla Titulação, assinado por Uemg e PoliTO, e conta com recursos da FAPEMIG.

Foto: Arquivo pessoal / Paulo Miranda

O majestoso Castello del Vallentino, construído na metade do século XVII

DOUTORADO POLITO

• Nome técnico: Doutorado de Pesquisa em Sistema de Produção e Desenho Industrial (Design). • O acordo inicial previa que PoliTO se comprometia a reservar para os anos de 2009, 2010 e 2011 nove vagas (três por ano), a fim de que professores da Uemg possam seguir o percurso formativo para a obtenção do título de Doutor em Pesquisa (Ph.D) na Itália. • Foi assinado um Termo Aditivo em 2010 com o objetivo de ampliar o convênio para os anos de 2012, 2013 e 2014, garantindo também três vagas anualmente.

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FRANÇA

Conhecimento com sotaque francês Nord-Pas de Calais, uma das 26 regiões administrativas da França, é composta pelos distritos “Norte” e do “Estreito de Calé” (Pas de Calais). Sua capital é a cidade de Lille, a maior da região, onde funciona a prefeitura do distrito Norte. Na cidade de Arras fica a direção de Pas de Calais. Na França, uma região é administrativamente semelhante aos nossos Estados. O norte da França é composto também pelas regiões da Normandia e da Picardia.

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Projetos de cooperação com Nord-Pas de Calais estimulam desenvolvimento em diversas áreas, como Tecnologia da Informação, Mineração, Saúde e Materiais Marcus Vinicius dos Santos

Até pouco tempo atrás, a tradição que marcava a região francesa de Nord-Pas de Calais era o extrativismo mineral e as fábricas, grande parte delas de siderurgia, de mecânica pesada e têxtil. A partir de uma série de investimentos, a opção do governo da região foi valorizar uma outra tradição, a pesquisa e o ensino. Na mesma região, por exemplo, funciona o Instituto Louis Pasteur, onde foi descoberta a vacina BCG, dentre outros feitos. É lá também que fica a terceira maior universidade daquele país, a Lille do Norte. Ao lado do desenvolvimento tecnológico e científico, o turismo complementa as bases do crescimento local. A tradição e a expertise de Nord-Pas de Calais na área da mineração sustentável e recuperação de áreas degradadas foram os pontos que inicialmente potencializaram os primeiros contatos com o Governo estadual de Minas. Segundo Priscila Gomes, coordenadora de Parcerias Nacionais e Internacionais da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes), atualmente este assunto é um dos principais na agenda de sua pasta. “O desenvolvimento científico e tecnológico é um dos motores do desenvolvimento econômico de um Estado, região ou País”, dimensiona. A subchefe da Assessoria de Relações Internacionais da Secretaria-Geral da Governadoria, Chyara Sales Pereira, vai além. “O processo de internacionalização é uma importante estratégia de promoção da competitividade do território de Minas Gerais na busca pela diversificação da economia e pela inserção internacional”, destaca. Minas trabalha com uma modalidade de relação descentralizada, feita entre estados, cidades, províncias ou regiões que apresentem visíveis semelhanças em suas características. “O estabelecimento de uma parceria internacional é longo e precisa ser desta forma para ser eficiente”, garante Priscila Gomes. Para ela, só com o relacionamento é possível conquistar confiança mútua, identificar similaridades e o que pode ser feito conjuntamente. “Desta forma se encontram as condições para ampliar o escopo da cooperação”, diz. A cooperação com a região francesa é produto de metodologia conhecida como “Rede de Articulação”. Ou seja, “uma ferra-

menta que cumpre o objetivo de coordenar e assessorar as operações internacionais realizadas pelas unidades da administração do Governo com vistas à atração de investimentos em projetos que promovam a internacionalização do território parceiro”, explica. Considerando as semelhanças com Minas Gerais, a cooperação com a região se destaca dentre todos os países europeus com os quais o Estado mantém diálogo. Segundo Chyara Pereira, este relacionamento é modelo: “O mais transversal e interdisciplinar. Por isso, envolve maior número de unidades da administração direta e indireta, e tem maior diversidade de temas de ação”, avalia. Isso, sob o lema de gerar recursos gastando o mínimo possível. Recurso entendido não apenas como valor pecuniário, mas “todo conhecimento ou oportunidade de conhecimento que possa ser recebido ou transferido para um parceiro de ambas as partes”. Ela destaca que, além de um relacionamento mais próximo com o governo francês, técnicos e especialistas envolvidos, o apoio prestado pela Embaixada da França no Brasil, especialmente pelo cônsul honorário da França em Minas Gerais, Manoel Bernardes, e pelo adido de cooperação e ação cultural da Embaixada, Serge Borg, são imprescindíveis para que a iniciativa francesa já caminhe para uma segunda fase.

Acordos com a região

São dois os projetos de cooperação internacional com a região de Nord-Pas de Calais em andamento. O Inria e a FAPEMIG já começam a estruturar seu terceiro edital, sendo que o segundo foi renovado agora, em 2011, por mais três anos. Um outro projeto, o Pres/Arcus, ainda está em fase de implantação, mas bastante adiantado. Ele deverá ser assinado tão logo o governo francês aprove o projeto que lhe foi submetido pelo Pres - entidade que representa as universidades francesas -, e pelo governo de Minas, por meio da FAPEMIG. Em ambos os projetos cada uma das partes se responsabiliza por uma parcela do financiamento. Apesar de envolverem a mesma região da França, os dois acordos são completamente distintos.

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O Inria

O diálogo entre a FAPEMIG e o Instituto Nacional de Pesquisas em Informática e automação (Inria), teve início em 2007, quando o diretor de Pesquisas do instituto, Pierre Deransart, apresentou uma proposta à diretoria da Fundação. A prospecção da parceira foi ação da Rede de Articulação Internacional da, então, Superintendência de Relações Internacionais (atualmente Assessoria de Relações Internacionais) da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede). Na ocasião foram organizadas reuniões pela Superintendência, da qual participaram Sandra Fernandes, da equipe do governo de Nord-Pas de Calais, e também técnicos de vários órgãos - de diferentes instâncias -, públicos e privados, ligados ao Desenvolvimento, Meio Ambiente, Saúde e Cultura. O primeiro passo foi a assinatura, em 2008, de um Acordo de Irmandade entre Minas e Nord-Pas de Calais. No documento, Minas e região francesa reconhecem suas semelhanças e explicitam sua intenção de cooperar mutuamente. O passo seguinte foi dado já em março de 2009, quando foi assinado um Acordo de Cooperação. Ele estabelecia como grande objetivo “estimular o desenvolvimento de

novas tecnologias e o aperfeiçoamento de pós-graduandos e docentes na área de Tecnologia da Informação e Comunicação”, e determinava suas áreas de atuação: “Capacitação profissional”; “Polos de Competitividade e Excelência”, onde se enquadra a cooperação na área de mineração e recuperação de áreas degradadas; “Agricultura e questões ligadas aos agrocarburantes” e “Desenvolvimento cultural e social”. No mesmo ano foi realizado o “Fórum dos Atores”, marco do início das atividades práticas e que reuniu pesquisadores das duas nacionalidades interessados. Os dois editais publicados, em 2009 e em 2010, eram para propostas científicas e tecnológicas nas áreas de Ciências e Tecnologias de Informação e Comunicação, elaboradas em conjunto por pesquisadores mineiros e franceses, apresentadas simultaneamente à FAPEMIG, pelo coordenador de Minas e, ao Inria, pelo coordenador da equipe francesa. O edital permite, excepcionalmente, o custeio de itens relacionados a missões de estudo ou trabalho. Podem ser financiadas, por exemplo, bolsas de doutorado sanduíche, com duração de três meses para estudantes brasileiros integrantes da equipe técnica do projeto, incluindo bolsa, auxílio instalação, paswww.geoparkquadrilatero.org

Em agosto de 2011 uma comitiva de auditores da Unesco visitou o Geopark mineiro para avaliar possibilidade de reconhecimento da área. O sítio arqueológico de Pedra Pintada, por exemplo, localizado em área particular, preserva pinturas rupestres de mais de 6 mil anos

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sagens aéreas e seguro saúde, além de visitas técnicas de até 15 dias, incluindo o financiamento de diárias, passagens aéreas e seguro-saúde. Cada projeto poderá realizar até duas missões por ano e apenas o coordenador da pesquisa poderá realizar missões em anos consecutivos.

O programa Pres/Arcus Um desses caminhos levou os dirigentes do Polo de Pesquisa e Ensino Superior (Pres), que representa várias das Universidades da região de Nord-Pas de Calais, a procurar o Governo de Minas Gerais para viabilizar um acordo. Uma possibilidade para isso era o programa de mobilidade acadêmica e científica do Ministério de Relações Exteriores da França, o Arcus, “Ação entre Regiões para Cooperação Universitária e Científica”, responsável por fomentar a cooperação entre regiões francesas e outras regiões do mundo com as quais já tenha algum relacionamento. Se a proposta feita for aprovada, o governo francês autoriza um financiamento especial. Este ano, o governo da França lançou o nome de três países para que sejam feitas propostas de iniciativas com o apoio do Arcus, dentre eles o Brasil. Com base nisso os governantes de Nord-Pas de Calais assinaram Carta de Intenção, em fevereiro de 2011, estabelecendo os termos de um futuro acordo. Em resumo, o documento define quatro áreas de atuação: Saúde, Materiais (engenharia, nanotecnologia, química, física etc.), Territórios e Área Transversal (intercâmbio acadêmico, língua, troca cultural), e estabelece o valor de quase mil euros para o programa. Esse valor seria financiado como contrapartida, pelo Governo Francês (50%), pelo Conselho Regional (governo local) de Nord-Pas de Calais (25%), e pelo Governo de Minas, por meio da FAPEMIG (25%), que disponibilizaria cerca de 225 mil euros para a iniciativa. A verba mineira vem da alíquota de 1% da arrecadação de impostos do Estado. Agora, toda a documentação apresentada ao Arcus está sendo avaliada pelo Ministério das Relações Exteriores da França, que deve se pronunciar até o final de 2011. Sendo aprovados os projetos em Minas, após o processo necessário, a FAPEMIG


ficará autorizada a abrir editais convidando os pesquisadores - das Universidades mineiras - a submeter seus projetos.

Crédito: Ilana Lansky / 1° lugar concurso Geopark Quadrilátero de Fotografia

O futuro No Brasil, várias fundações de amparo à pesquisa e universidades firmaram acordos de cooperação com a França. Com o objetivo de estreitar laços e ir além nas iniciativas de cooperação científica, com apoio da Embaixada da França, o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) organizou no último mês de outubro uma comitiva que visitou, por uma semana, as principais organizações francesas, e com as quais as fundações de amparo à pesquisa brasileiras têm acordo de cooperação. Mario Neto Borges, presidente da FAPEMIG e da Confap, integrou o grupo. Além do Inria, a programação incluía visitas ao Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS), Universidade Lille Norte da França, Instituto de Pesquisa em Ciências e Tecnologias para o Meio Ambiente (Cemagref) e ao Instituto Superior de Aeronáutica e Espaço (Ensica). Dá o “tom” da visita um artigo publicado em junho deste ano, do diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz: “Um dos mais importantes desafios para a ciência brasileira nesta segunda década do século XXI é buscar maior impacto mundial para o conhecimento criado no país”. Atualmente já são realizadas cerca de cinco missões técnicas e institucionais francesas por ano, além das missões brasileiras que vão à França e da participação em encontros de interação entre os agentes técnicos e governamentais da cooperação. “E essas relações já estão se estendendo para além da França, alcançando também seus parceiros”, relata Chyara Pereira, citando um relacionamento inicial com a Região de Matam, no Senegal, país africano de língua francesa, e que se viabilizou por intermédio de Nord-Pas de Calais.

De mineração de dados ao monitoramento de minas Os resultados de todo esse trabalho de muitos já começa a aparecer. Para o professor associado Wagner Meira Júnior,

Serra da Calçada, entre Nova Lima e Brumadinho - é preciso encontrar o equilíbrio entre exploração mineral, imobiliária e meio ambiente

da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que coordena o estudo “Mineração de Dados: Incorporando Modelos de Conhecimentos a Algoritmos de Mineração de Dados Escaláveis”, selecionado nos editais de Cooperação FAPEMIG/Inria 2009 e 2010, o apoio abriu portas. Ou melhor, nova frente de trabalho nas pesquisas. “Em particular, nos familiarizamos com modelos formais de representação de conhecimento”, salienta, dizendo que isso tornou os algoritmos de mineração de dados desenvolvidos mais eficazes. “Mais ainda, através da paralelização dessas técnicas, conseguimos lidar com modelos maiores e de maior abrangência”, observa Meira Júnior, destacando a parceria com o laboratório Loria, localizado em Nancy, na região de Nord-Pas de Calais. Wagner Júnior, que é PhD em Ciência da Computação pela University of Rochester e também coordenador da linha de pesquisa em “Descoberta do Conhecimento”, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web, destaca como resultados práticos já alcançados a publicação de trabalhos nas novas linhas iniciadas e a visita que recebe em seu laboratório, por pelo menos um ano, de um pós-doutor francês, formado no Instituto Nacional de Pesquisas em informática e Automação (Inria).

Pedro Homem

Ciminelli, do Polo de Excelência Mineral e Metalúrgico, coleciona resultados positivos

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Muito chão... O engenheiro Renato Ciminelli, gerente executivo do Polo de Excelência Mineral e Metalúrgico da Sectes, é um pioneiro na cooperação internacional. Ele está envolvido desde o Fórum de Atores, encontro realizado em 2009 para promover a integração entre os interessados em cooperação internacional, e tornou-se um dos seus principais apoiadores. Com experiência profissional em outros países, como Austrália, Franca, Estados Unidos, Canadá, Portugal e Chile, o engenheiro químico es-

pecialista em Gestão, Concepção e Fomento de programas científicos com ênfase em parceria universidade-empresa, conta que o Polo de Excelência que dirige foi concebido para alcançar os objetivos de desenvolvimento de competências e referências científicas, tecnológicas, profissionais e gerenciais de classe mundial. “Era necessária a abertura de Avenidas Internacionais de Cooperação. Aproveitamos os acordos governamentais, tanto na França, quanto com o estado de Queensland, na Austrália, e Saarland, na

POR DENTRO DE NORD-PAS DE CALAIS • 12 414 km2 ou 2,3% do território do país • Mais de 4 milhões de habitantes, 64% no Departamento do Norte e 36% no Pas-de-Calais. • 324 habitantes por km2, contra 109 no resto da França • Uma das regiões mais jovens da França: 37% das pessoas têm menos de 25 anos • 2 departamentos (distritos), 1547 comunas (espécie de municípios), 20 cidades com mais de 30 mil habitantes, • 8 cidades com mais de 100 mil moradores, e uma cidade de mais de 1 milhão de habitantes. • Mais de 160 mil estudantes em formação nas universidades e escolas da região. 4 mil pesquisadores, em cerca de 400 centros de pesquisa públicos e privados. • Reúne centros de especialização de ponta em campos como Saúde (Polo Eurasanté), Novas Tecnologias (Euratechnologies), Desenvolvimento Sustentável, Inovações Têxteis (UP-TEX) e Economia Social e Solidária. Nord-Pas-de-Calais é a terceira região industrial e a quarta região econômica francesa. Seu produto interno bruto é de 96,5 milhões de euros. Curiosidade: Minas Gerais: Área = 586.528 km². França: Área = 543.965 km² Fontes: www.nordpasdecalais.fr e www.minas-gerais.net Contatos: Pôle de Recherche et d’Enseignement Supérieur (Pres): www.pres-lpc.fr Université Lille Nord de France: www.poleuniv-lille-npdc.fr Programme de Coopération Inria-Brésil: www.inria.fr/institut/relations-internationales/appels-a-projets/fap-bresil

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Alemanha”, destaca, lembrando que a cooperação com a Franca no escopo da mineração está inserida nos temas sustentabilidade, reconversão tecnológica e urbana de territórios mineradores, diversificação econômica e industrial de territórios, planejamento urbano e territorial. Como resultados efetivos alcançados pelo Polo de Excelência, Ciminelli conta que em 2010 e 2011 foram realizadas diversas missões e eventos científicos e técnicos, em Minas Gerais e na França, além de ter sido assinada cooperação com o francês CD2e, um centro de especialistas voltado para o desenvolvimento e a transferência de inteligência e tecnologias direcionadas para atrair negócios ambientais para regiões mineradoras de Minas, como estratégia de diversificação econômica destes territórios. A aplicação piloto dos resultados deste acordo será nos municípios que constituem o Consórcio Público de Desenvolvimento do Alto do Paraopeba (Codap). Dentre as possibilidades estão ações voltadas para a recuperação de commodities metálicas, metais preciosos, metais nobres e terras raras de circuitos eletrônicos reciclados – a chamada “Mina Urbana”. Outro resultado envolve cooperação entre o Geopark Quadrilátero Ferrífero, lançado em Minas Gerais em 1º de setembro de 2011, e o Projeto Mission Bassin Minier, de Nord-Pas de Calais, visando desenvolver sistemas de gestão e governança, capacitação de lideranças, inteligência e tecnologias para a reconversão tecnológica e diversificação econômica e industrial de territórios mineradores. E ele já empreende outros desdobramentos desse relacionamento. Geopark precisa dispor de vários locais de interesse geológico, chamados geosítios, e ter valor ecológico, arqueológico, histórico e cultural. “A abordagem de cooperação científica e educacional para planejamento urbano, territorial, de reconversão e diversificação, está sendo tratada no âmbito de um acordo de cooperação entre UFMG e o Instituto de Planejamento Urbano e Desenvolvimento da Universidade de Lille”, adianta.


AUSTRÁLIA

Belezas mineirais Acordo com Universidade de Queensland procura compatibilizar grande expansão da indústria mineral com conservação de recursos hídricos, biodiversidade e patrimônio cultural

Ana Flávia de Oliveira

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A Austrália está localizada na Oceania, o menor continente do mundo. Também conhecido como continente-ilha, o País é banhado pelos oceanos Pacífico e Índico, tem belas praias e recifes de corais, florestas tropicais, montanhas, grande área para pasto e desertos. Os australianos convivem com uma fauna e flora únicas, que não se encontram em outras partes do mundo. Situado no hemisfério Sul, assim como o Brasil, o país dos cangurus e coalas se assemelha a nós em vários aspectos. Além das belezas naturais, Austrália e Brasil, especialmente o Estado de Minas Gerais, contam com uma intensa atividade mineradora. Todas essas semelhanças contribuíram decisivamente para que fosse criada

Queensland fica no Nordeste da Austrália, é o segundo maior Estado e o terceiro mais populoso. Mais de um terço dos habitantes vivem em Brisbane, a capital e a terceira maior cidade do País. Atividades se centralizam em torno do Rio Brisbane com restaurantes na beira do rio, mercados, parques e calçadões. O Estado tem uma área de 1,8 milhão km2 e uma população em torno de 3,9 milhões de habitantes. Tem clima tropical e florestas tropicais junto à costa. Queensland é um destino bastante apreciado por turistas. As atrações principais são a Grande Barreira de Coral e as ilhas costeiras.

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uma parceria entre os dois países para a realização de pesquisas científicas. Em abril deste ano, a FAPEMIG assinou um instrumento de cooperação com a Universidade de Queensland. O Memorando de Entendimento (MOU) celebra a intenção de cooperação em várias áreas do conhecimento. A professora Virgínia Ciminelli, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, da Universidade Federal de Minas Gerais (Demet-UFMG), coordenadora da parte mineira do programa, ressalta a importância da compreensão do universo de oportunidades que este instrumento abre com a parceria entre governos, o que tem trazido mais frutos para Minas Gerais. “Este acordo de cooperação focou especificamente a área de mineração e mostra como pode ser multiplicado para outras iniciativas. A Austrália também é um país com tradição em atividade mineradora. Minas Gerais tem recebido um volume expressivo de investimentos do setor. E isso coloca uma questão central de como compatibilizar a grande expansão da indústria mineral com a conservação dos recursos hídricos, da biodiversidade e do patrimônio cultural. Mais ainda, como tirar proveito dos ganhos desse ciclo de grande exploração das riquezas, não renováveis de Minas Gerais para o planejamento e a construção de um futuro que contemple o desenvolvimento sustentável e o benefício das futuras gerações”, destaca. O acordo congrega várias instituições (PUC-Minas, Universidade Federal de Viçosa, a UFV, e o Centro de Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear, o CDTN, da UFMG). O objetivo é promover pesquisa e desenvolvimento nos campos de geoquímica, impacto ambiental e qualidade da água em áreas afetadas pela indústria mineradora. A parceria também visa estimular o desenvolvimento de novas tecnologias e o aperfeiçoamento de pós-graduandos e docentes por meio da cooperação científica entre equipes do Brasil e da Austrália. Oito projetos foram enviados e em junho deste ano saiu o resultado do julgamento de edital. Três deles foram aprovados para receber apoio da FAPEMIG e da Universidade de

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Queensland. Em cada um dos trabalhos, um professor de cada uma das instituições brasileiras aprovadas irão trabalhar em parceria com um professor da universidade australiana. As propostas aprovadas para a cooperação binacional de intercâmbio científico superam os R$ 700 mil. O projeto do CDTN, coordenado pelo professor Rubens Martins Moreira, trata de estudos hidrogeológicos e hidrogeoquímicos visando soluções para um problema grave de drenagem ácida de mina em uma pilha de rejeitos de mineração de urânio. Outro projeto, da PUC-Minas, está sob a coordenação do professor Robert John Young e estuda os efeitos do ruído proveniente de atividade mineradora sobre a fauna. O terceiro projeto aborda a utilização de hidróxidos de ferro e alumínio – recursos naturais abundantes no Estado – para a redução da drenagem ácida, e é orientado pelo professor da Universidade Federal de Viçosa, Jaime Wilson Vargas de Mello. Ele enfatiza a importância dos benefícios para os países com o trabalho conjunto. “Podemos contar com a parceria de um país desenvolvido, que apresenta vários aspectos em comum com o Brasil. A Austrália e o Estado de Queensland, em particular, têm vocação e grande experiência em mineração, que é uma atividade importante para nós, mineiros. Ambos os países convivem com diversidade climática, mas em que predominam condições tropicais. Isso faz com que certas tecnologias sejam mais adequadas às nossas condições, favorecendo o intercâmbio de tecnologia e experiências entre os países”, comenta. O acordo envolve o desenvolvimento de pesquisas em temas de interesse comum, estágios de pesquisadores e estudantes, com aporte de recursos dos dois países. O grande diferencial do Edital da FAPEMIG, de acordo com Ciminelli, é que, ao contrário dos outros programas, a Fundação inovou, ao colocar recursos para o desenvolvimento do projeto de pesquisa e não apenas para intercâmbio de alunos e de pesquisadores. “Isso torna a parceria muito mais efetiva e com resultados mais concretos”, afirma.


Para a professora, a experiência da Austrália em modelos de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), com participação efetiva do setor industrial, é exemplar e original. O investimento em pesquisa mineral teve muito sucesso no desdobramento em tecnologias e serviços para fornecimento ao setor mineral mundial. O país é uma referência em termos de patamar de desenvolvimento em Ciência e Tecnologia na área. “Portanto, essa parceria visa o aumento da competência no Estado em áreas que a Austrália se destaca, e vice-versa; a troca de experiências em termos de modelos de P&D e, principalmente, a construção compartilhada de conhecimento e a formação de pessoal em áreas de interesse comum. A Austrália traz uma competência complementar de como agregar valor a negócios vinculados a mineração”, enfatiza. Para Ciminelli, a construção de uma parceria envolve investimentos de médio e longo prazo, além de persistência. “Desde a visita do então vice-governador do Estado, em 2008, e hoje governador, Antonio Anastasia à Austrália, houve uma série de iniciativas lideradas pelo Polo de Excelência Mineral e Metalúrgico, da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), com o apoio da FAPEMIG, visando identificar lideranças, colaboradores e competências em torno de temas de interesse. Esse trabalho culminou em projetos de cooperação, inclusive, com aportes do setor privado superiores aos recursos totais alocados pelos dois países no edital em questão. Isso é certamente um indicador de sucesso da ação de fomento da FAPEMIG”, ressalta. Segundo Virgínia Ciminelli, o edital deve ser visto como uma iniciativa piloto cujo aprendizado apoiará novos editais a serem lançados. “A instalação de um escritório de negócios do Governo de Queensland em Belo Horizonte planejada para novembro de 2011 vai potencializar o Memorando de Entendimento entre a FAPEMIG e a Universidade de Queensland em várias áreas do conhecimento e negócios entre os dois Estados”, explica. Além do acordo com a Universidade de Queensland, também está sendo dis-

Foto: Ângelo Paulino

Brasil e Austrália têm vocação mineradora; o acordo inova ao fechar o convênio internacional que financia as viagens e também libera recursos para pesquisas

cutida a cooperação entre o instituto de pesquisa da Austrália – Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (Csiro) e a FAPEMIG. Em outubro de 2010, durante a sexta Feira de Inovação e Negócios (Inovatec), representantes do Instituto se reuniram com o presidente da FAPEMIG para acordar a assinatura de um Memorando de Entendimento, com o apoio da Sectes nas áreas de desenvolvimento sustentável, mineração e processamento mineral e inovação e transferência tecnológica. O Csiro é um dos principais membros do programa do governo australiano para o Centro de Pesquisa Cooperativa (CRC). A instituição fomenta o alinhamento entre a pesquisa e a indústria na Austrália, contribuindo pra o desenvolvimento naquele país. Uma parceria entre a FAPEMIG e a Csiro ampliaria a atuação de ambas as instituições, além de promover a possibilidade de transferência de tecnologia, pesquisas conjuntas e intercâmbio de pesquisadores. Minas tem experiência em mineração, o que reforça os laços com o Estado de Queensland; e também estreitas relações com o Csiro, por meio do Polo de Excelência Mineral e Metalúrgico. Ainda não há uma previsão de assinatura do convênio, mas, de acordo com a Sectes, a parceria é um passo a mais para o fomento da cooperação científica e tecnológica entre os dois países. MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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CANADÁ

Uma rede para as Matas Secas Estudos são referência na pesquisa desse bioma e embasam decisões jurídicas Elas são pouco conhecidas, mas não por isso menos importantes. As florestas estacionais deciduais, popularmente conhecidas como Matas Secas, ocupam cerca de 6% do território nacional. Encontradas principalmente nas regiões Central e Nordeste do Brasil, elas são típicas de ambientes áridos e se caracterizam por árvores de grande porte que perdem todas as suas folhas em determinados períodos do ano. Historicamente, esse bioma vem sofrendo com o desmatamento e as queimadas para instalação de pastagens e obtenção de carvão. Sua preservação passa pelo maior conhecimento de suas características, que é o objetivo da Rede Colaborativa de Pesquisas Tropi-dry (abreviação de Tropical Dry Forests ou Florestas Tropicais Secas). A Rede Tropi-dry surgiu como iniciativa da Universidade de Alberta, no Canadá. A princípio, isso pode soar estranho: estudo sobre florestas tropicais em um país onde as temperaturas são próximas do negativo na maior parte do ano? O envolvimento da Universidade de Alberta deve-se ao pesquisador costarriquenho Arturo Sanchez, coordenador geral da Rede. Ele já desenvolvia pesquisas sobre o tema em seu país e, ao mudar-se para o Canadá, deu continuidade aos seus estudos, criando, em 2004, esse grupo internacional para estudos sobre as matas estacionais deciduais. O Brasil é um dos oito países que compõem a Rede, ao lado do Canadá, Estados Unidos, México, Costa Rica, Cuba, Venezuela e Panamá. Mário Marcos do Espírito Santo, do departamento de Biologia Geral da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), é um dos pesquisadores brasileiros que participa do grupo. Ele conta que o envolvimento do país teve início em 2005, a partir de um contato feito durante congresso da Association for Tropical Biology and Conservation (ATBC). “Em uma palestra, o professor Arturo Sanchez falou sobre o projeto de uma rede de pesquisas internacional para estudo do tema. Alguns países já compunham o grupo: Canadá, México, Costa Rica, Venezuela... mas não o Brasil. Após a apresentação, eu e os professores Frederico Neves e Geraldo Wilson Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), este último atual coordenador geral da equipe brasileira, procuramos o Sanchez para propor um site de estudos da rede no Brasil” Assim nasceu a parceria entre os dois países, que já resultou em intercâmbio de pesquisadores, dissertações e teses, aumento

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Vanessa Fagundes


da produção científica e conhecimento maior da flora e da fauna deste bioma brasileiro. Todas as pesquisas do grupo são desenvolvidas obedecendo aos mesmos protocolos de coleta de dados, a fim de diagnosticar semelhanças e diferenças nos países estudados. Isso também permite estabelecer padrões de conservação, recuperação e uso do solo nessas regiões. No Brasil, os estudos são realizados na Paraíba e em Minas Gerais, onde reúne pesquisadores da Unimontes e das universidades federais de Minas Gerais, Ouro Preto e Viçosa. O financiamento inicial veio do Inter-American Institute for Global Change Research (IAI), entidade internacional de fomento à pesquisa. Em Minas Gerais, a FAPEMIG tornou-se parceira do projeto a partir de 2007, destinando recursos para os trabalhos. Em 2010, a Fundação assinou um memorando de entendimento com a Universidade de Alberta que expandia as possibilidades de cooperação. O acordo permite, por exemplo, o financiamento de pesquisas em outras áreas de interesse comum; o intercâmbio de pesquisadores e estudantes em projetos comuns de pesquisa; a realização de seminários e workshops em conjunto; entre outras atividades.

Projeto amplo

@ Para saber mais sobre a Rede Tropi-dry e os trabalhos desenvolvidos pela equipe brasileira visite

http://tropi-dry.eas.ualberta.ca/

Na Unimontes, o trabalho com as Matas Secas envolve três grandes vertentes: socioeconômica, de sensoriamento remoto e ecológica. Na primeira, os pesquisadores buscaram avaliar a ocupação humana na região do Parque Estadual das Matas Secas, localizado em Manga, município do Norte de Minas, levando em conta aspectos sociais, econômicos e culturais. Como explica Mário do Espírito Santo, o componente humano é muito importante. “Essa é uma região rica no sentido cultural, mas muito pobre no sentido econômico, o que a torna bastante interessante para estudos sociológicos”. Foram estudados especialmente os conflitos decorrentes da instalação de unidades de conservação na região, como aqueles relacionados ao Projeto Jaíba. “A região possui muitos quilombolas e outras comunidades tradicionais que tiveram a rotina alterada com a demarcação dessas unidades”, explica Mário do Espírito Santo. O grupo realizou um extenso trabalho de conhecimento dessas comunidades, que envolveu o levantamento censitário e a coleta de informações sobre renda, trabalho e forma de utilização das Matas Secas. O sensoriamento remoto consiste na análise de imagens colhidas via satélite. O monitoramento é feito à distância, por pesquisadores da Universidade de Alberta. Uma vez por ano, a equipe canadense comparece ao Brasil para coleta de dados. Informações básicas, como coordenadas geográficas e estrutura de formações vegetais específicas, são enviadas ao Canadá pela equipe da Unimontes. A comparação entre imagens de satélite da cobertura vegetal do Norte de Minas nos anos de 1986, 1996 e 2006 também apontou dados importantes com relação aos índices de desmatamento. Ao longo dessas duas décadas, a área de Matas Secas diminuiu cerca de 11%, o que equivale a uma perda de 2.040 quilômetros quadrados. Dentro da dimensão ecológica, foram realizados estudos detalhados sobre a composição da flora e a estrutura da floresta. As coletas intensas e sistemáticas ao longo de cinco anos resultaram em um levantamento riquíssimo sobre o bioma, com listas de espécies de grupos pouco estudados como as micorrizas arbóreas, fungos que se associam às raízes das árvores. “O grande mérito do trabalho foi cobrir MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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recuperação, além de reunir experiências de conservação que deram certo em um país e que possam ser reproduzidas”, explica o pesquisador. Além disso, o trabalho serve como aliado nas atividades de fiscalização e monitoramento: de acordo com a lei que regula o uso dessa vegetação, apenas áreas em estágio inicial podem ser convertidas para uso econômico. As informações coletadas resultam em um aprimoramento da diferenciação dos estágios, tanto em campo como via sensoriamento remoto, apontando onde os fiscais devem atuar.

Legislação revisada

Professor Mário do Espírito Santo, coordenador das pesquisas na Unimontes. O trabalho incluiu coleta de material biológico, que permitiu conhecer melhor as espécies do bioma

lacunas de conhecimento, especialmente sobre a região Norte do Estado”, destaca Mário. Os pesquisadores também buscaram entender como a floresta se regenera. Para isso, eles acompanharam parcelas de amostragem de diferentes estágios de recuperação. O estágio inicial refere-se à vegetação que foi cortada há cerca de cinco anos; o intermediário, às plantas que estão em processo de recuperação no período entre 15 e 20 anos; e, no estágio tardio de recuperação, as florestas recuperam-se há mais de 50 anos (desde o último registro de corte). Há ainda o estágio primário, em que a floresta não foi tocada. “Nosso objetivo era verificar se o que acontece aqui é parecido ou diferente do que acontece nas Matas Secas em outros países e, com isso, tentar delinear um padrão de

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Para Mário do Espírito Santo, uma das grandes contribuições do grupo foi a participação decisiva na invalidação da Lei Estadual 19.096/2010, que alterava o uso do solo, a conservação e a proteção das áreas de Matas Secas na região Norte de Minas. Essa lei permitia o desmatamento de até 70% dessas áreas. A partir dos dados coletados ao longo de cinco anos de estudos sobre o bioma, os pesquisadores elaboraram uma nota técnica que foi enviada para o Ministério Público e ajudou a embasar uma ação direta de inconstitucionalidade. Em janeiro deste ano, a corte superior de Minas Gerais considerou a lei inconstitucional. “Isso mostra como os dados científicos podem embasar decisões jurídicas e orientar políticas públicas”. Sobre os próximos passos, o pesquisador conta que o grupo acaba de ter um projeto aprovado dentro do edital Programa Sisbiota, ou Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Isso garantirá a continuidade dos trabalhos por mais três anos, consolidando ainda mais a Rede no Brasil. Com esses recursos, a equipe irá estudar, por exemplo, novos grupos biológicos, como as bactérias de solo, sobre as quais existem poucas informações disponíveis. Além disso, as pesquisas irão se expandir para a margem direita do São Francisco, já que nos primeiros cinco anos de trabalho os espaços estudados estavam localizados na margem oposta do rio. Entre os novos locais estão parques próximos ao projeto Jaíba, como o Parque Estadual Lagoa do Cajueiro e as Reservas Biológicas Jaíba e Serra Azul. Serão utilizados os mesmos

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protocolos para coleta e análise dos dados, o que fornecerá um panorama completo deste bioma na região Norte do Estado.

Intercâmbio

A participação em um projeto internacional trouxe ganhos para a universidade, seus professores e seus alunos, na opinião do professor Mário. Através da interação proporcionada pela Rede Tropi-dry, por exemplo, abriram-se oportunidades para que graduandos e pós-graduandos da Unimontes fizessem estágios no Canadá. Da mesma forma, a universidade mineira passou a receber estudantes dos países que compõem a Rede. “Isso enriquece a formação dos alunos. Esse intercâmbio também se estende aos pesquisadores. Já recebemos vários colegas que ministraram palestras ou minicursos para a nossa comunidade acadêmica”. O professor Arturo Sanchez, da Universidade de Alberta, passou a orientar projetos de mestrado em conjunto com pesquisadores da Unimontes. Isso aumentou também a produção científica do departamento de Biologia Geral. Segundo Mário do Espírito Santo, essa colaboração em artigos e livros foi elogiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em sua última avaliação do programa de pós-graduação. Ele também destaca a formação de novos pesquisadores para estudar o tema: o grupo brasileiro já produziu, até agora, seis teses, 18 dissertações e mais de 30 monografias de conclusão de curso.”Nosso grupo, hoje, é referência no estudo das Matas Secas”.

Em breve, novidades Além da Universidade de Alberta, a Ecogene-21, instituição de pesquisa biogenética, também se tornou parceira da FAPEMIG. Em março deste ano, foi assinado um memorando de entendimento que prevê, entre outros, o desenvolvimento de um centro da América do Sul para terapias de base de células para doenças de retina, dermatológicas e degeneração neural. O projeto ainda está em fase inicial, mas em breve começará a ser desenvolvido.


INGLATERRA

Tecnologia pioneira Acordo de cooperação científica coloca Minas em contato com centro de referência internacional no estudo de eletrônica orgânica e impressa Fabrício Marques

A eletrônica orgânica e impressa é uma tecnologia recente no mundo que conjuga novos materiais orgânicos com técnicas de impressão para produção de eletrônica de baixo custo. Dispositivos eletrônicos leves, flexíveis e baratos estão ocupando novos espaços de mercado. Entre as diversas aplicações da tecnologia, destacam-se dispositivos inteligentes (como sensores e teclados flexíveis), células fotovoltaicas (para geração de energia limpa), displays e painéis de iluminação. “Essa tecnologia é pioneira e estratégica para o Brasil nos próximos anos”, afirma

Danielle Moraes, gerente de P&D e Projetos e coordenadora do Projeto de Eletrônica Orgânica e Impressa do Centro de Inovações Csem-Brasil. No Reino Unido, um acordo de cooperação científica foi firmado entre a FAPEMIG, o Csem Brasil e o Imperial College London, um dos principais centros de referência internacional no estudo e no desenvolvimento de eletrônica orgânica e impressa. A parceria inclui a oferta de cursos para estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado de Minas Gerais com experiência na

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Foto: Arquivo pessoal

Pesquisadores do Brasil e do Imperial College, em Londres

área, o desenvolvimento de projetos de pesquisa, além da implantação de um centro de excelência em eletrônica orgânica no Estado. De acordo com Danielle, que é também a organizadora da primeira Escola FAPEMIG–Imperial College–Csem Brasil (Eficc), o acordo entre as três instituições é um memorando de intenções que visa priorizar suporte cientifico em projetos de pesquisa, com foco na área de eletrônica orgânica e impressa. Esta é a primeira escola organizada pelo Csem Brasil. Mas em termos de parcerias internacionais, além da aproximação com o Imperial College London, o Centro também possui parceria com o Csem e a École Polytechnique de Lausanne (EPFL), ambos na Suíça, e com o Fraunhofer, na Alemanha. Com o termo de cooperação, o Csem Brasil e o Estado de Minas passam a ter acesso ao Centro de Eletrônica Orgânica e Impressa (CPE) do Imperial College London. O CPE conta com dezenas de pesquisadores e tem como diretor o professor Donal Bradley, um dos físicos mais citados

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no mundo e um dos pesquisadores mais renomados nesta tecnologia. “Esse termo é de suma importância para alavancar a capacidade do Csem Brasil e na formação de pessoal. Ele possibilitará a capacitação de mão de obra especializada em eletrônica orgânica, trazendo conhecimento para o estado de Minas Gerais”, afirma Danielle. O objetivo do programa é contribuir para a formação de estudantes na fabricação de dispositivos de eletrônica orgânica e impressa, e com isso gerar mão de obra qualificada para alavancar o desenvolvimento dessa indústria no Brasil. O primeiro processo de seleção já foi concluído. Foram selecionados seis alunos: os doutorandos Giovana Ribeiro Ferreira, Marcos Flávio de O. Silva, Mariana de Melo Silva e Mirela de Castro Santos e os pós-doutorandos Weber Hanry M. e Feu e Giovani Gozzi. Giovana, Mariana e Mirela são da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop); Marcos Flávio e Weber são da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Giovani é contratado pelo Csem Brasil para ocupar uma vaga pós-doc neste projeto.

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Os pesquisadores participaram de um curso de 78 horas realizado entre os dias 3 e 14 de outubro, em Londres, Inglaterra, com aulas teóricas e experimentos práticos. Também foi convidado a participar das atividades do curso o professor Rodrigo Fernando Bianchi, coordenador do Laboratório de Polímeros e de Propriedades Eletrônicas de Materiais (Lappem) da Ufop e um dos gestores do Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Eles viajaram dois dias antes do início das atividades acadêmicas. As aulas aconteceram todos os dias, de 9h às 17h. Foram aulas práticas em laboratórios de Química, Física e Simulação Computacional. As atividades de Simulação Computacional foram conduzidas pela doutora Jenny Nelson - incluída entre os 50 maiores pesquisadores em Ciência dos Materiais da última década. Em seguida, a doutora Pabitra Shakya Tuladhar apresentou o curso de fabricação de dispositivos em sala limpa, seguido de uma semana de experimentos práticos nos laboratórios do Imperial College. Durante as aulas, os alunos tiveram acesso ao estado da arte na produção, síntese e processos relacionados à eletrônica orgânica e impressa, como técnicas de fabricação de dispositivos orgânicos, impressão em substrato flexível, preparação de substrato, síntese de material e propriedades elétricas. Além disso, foram estudadas técnicas de impressão como gravura, offset, screen printing e inkjet. De volta ao País, os estudantes devem enviar um relatório com o resumo dos trabalhos desenvolvidos na escola. Eles deverão empregar os conhecimentos adquiridos em suas pesquisas, bem como iniciar possíveis colaborações no âmbito de projeto de interesse com o Csem Brasil na criação de uma plataforma de eletrônica orgânica e impressa em Minas Gerais. No período em que estavam no curso, MINAS FAZ CIÊNCIA conversou por e-mail com os pesquisadores Giovana Ribeiro e Giovani Gozzi. Giovana, atualmente vinculada ao Laboratório de Polímeros e Propriedades Eletrônicas de Materiais (Lappem), do Instituto de Ciências Exatas


e Biológicas (Iceb) da Ufop, formou-se em Química Industrial na mesma universidade. Nos primeiros anos da graduação, seu desejo era se formar e trabalhar como Química Industrial em empresas fora do meio acadêmico. Ao fazer estágio em uma grande empresa percebeu que aquilo não era o que pensava, e que talvez o meio acadêmico fosse uma alternativa interessante. “Apaixonei-me pela área, e acabei me dedicando a ela em minha iniciação científica, meu mestrado e atualmente curso doutorado. Atualmente, curso doutorado em Engenharia de Materiais estudando a degradação de polímeros luminescentes para aplicação em sensores de radiação em um dos únicos laboratórios do Brasil com foco em projeto e fabricação de dispositivos eletrônicos orgânicos, o Lappem/Ufop”. Giovana comenta que no Imperial College acompanhou o desenvolvimento de dispositivos como OLEDs e células fotovoltaicas. “Também fabricamos esses dispositivos. Como meu estudo visa a melhoria da performance de materiais para serem utilizados nesses dispositivos, poder fabricá-los ajuda a focar o meu trabalho nas áreas específicas que neces-

sitam de melhorias”. Nesta experiência, frisa Giovana, são muito importantes a visão de como são os grupos de pesquisa no exterior, e da fabricação de dispositivos eletrônicos. Por sua vez, Giovani Gozzi está no momento de transição do nível de doutoramento para pós-doutoramento, que executará junto à Csem Brasil. “De fato, já iniciamos algumas atividades, que incluem o curso em colaboração com o Imperial College”. Giovani é graduado em Física pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde executou atividades de iniciação científica na área de Eletrônica Orgânica. Como membro do Instituto Multidisciplinar de Materiais Poliméricos (Immp), que deu origem ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Eletrônica Orgânica (Ineo), seu então orientador o inseriu neste contexto de pesquisa em 2002. Atualmente está em fase de depósito de tese e de transição para atuar na área de Eletrônica Orgânica. “Minha perspectiva de atuação é industrial, já que poderei aplicar meus conhecimentos em temas que pesquisei do ponto de vista científico de

forma mais direcionada aos interesses da sociedade”, avalia. Devido à experiência de quase dez anos em pesquisa e desenvolvimento de dispositivos eletrônicos orgânicos para conversão de energia elétrica em luz, Giovani foi admitido para desenvolvimento de dispositivo de mesma natureza com aplicação também na conversão de energia luminosa em elétrica, que é o principal foco da colaboração Csem Brasil/Imperial College-London. O que a estada no Imperial College pode ajudar no avanço de suas pesquisas? Giovani responde: “O processamento industrial de dispositivos eletrônicos orgânicos envolve o processamento contínuo de dispositivos por técnica de impressão gráfica. Assim, a extensão dos conhecimentos científicos para o processamento industrial é o principal foco de interesse, além do contato com a experiência dos ingleses, que são pioneiros na área de dispositivos eletrônicos orgânicos”.

Sobre o Csem Brasil

COMO FOI O PROCESSO SELETIVO

Poderiam participar do processo estudantes de mestrado, doutorado e pós-doc vinculados a uma instituição de Minas Gerais. Não houve submissão de projetos na seleção de alunos. As regras de seleção foram as seguintes: para concorrer, bastaria apresentar currículo e carta de referência. Os candidatos foram avaliados por uma comissão formada com representantes do Csem Brasil e da FAPEMIG, de acordo com os seguintes critérios:

Critérios de análise e julgamento

Peso

Aluno de pós-graduação no Estado de Minas

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Experiência na área de eletrônica orgânica e impressa (familiaridade com procedimentos de laboratório e processos industriais)

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Fluência em inglês

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Potencial de sinergia com os atuais projetos de pesquisa do candidato

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Qualidade e número de artigos e trabalhos nesta área

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Com sede em Belo Horizonte, o Csem Brasil é um centro privado brasileiro de pesquisa aplicada e desenvolvimento, criado em 2006, especializado em micro e nanotecnologias, engenharia de sistemas, microeletrônica e tecnologias de comunicação. Fundado pelo Csem S.A. (Centre Suisse d’Electronique et Microtechnique) da Suíça e FIR Capital, com o apoio do Governo de Minas Gerais e FAPEMIG e, mais recentemente, do BNDES, o Csem Brasil tem como objetivo transformar nano e microtecnologias avançadas em produtos, processos e empresas inovadoras, operando como ponte entre a ciência e a indústria, e entre o Brasil e centros mundiais de excelência em tecnologia aplicada.

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ISRAEL

Diálogos e possibilidades Sistema de inovação israelense acrescenta novas perspectivas para promover a união entre academia e empresas no desenvolvimento da inovação de Minas Gerais Kátia Brito

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Em junho deste ano, comitiva composta por representantes da FAPEMIG, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai), participou da conferência presidencial israelense Global Business Network, organizada pelo presidente de Israel, Shimon Peres. O evento tinha o objetivo de proporcionar aos participantes reflexões que pudessem ser convertidas em ações de cunho global. Dentre os temas abordados estavam: a busca por novas fontes de energia; o futuro da exploração do espaço; a medicina do amanhã: inovações e dilemas morais; e as vantagens comparativas da economia de Israel. O encontro possibilitou o primeiro contato do grupo de Minas com institutos de Ciência e Tecnologia, universidades e agências de fomento israelenses. A finalidade das reuniões era conhecer como funciona o sistema de inovação do Estado de Israel, que ocupa o primeiro lugar no número de star-up (empresas que começam pequenas, mas apresentam rápido crescimento econômico, por causa de suas ideias inovadoras e de base tecnológica que atraem investimentos, inclusive externos). “Nosso objetivo foi entender como a relação empresa-universidade produz tanta inovação e tantas empresas bem-sucedidas e como podemos alavancar a relação entre nossas empresas e a academia”, explica a assessora para Parcerias Nacionais e Internacionais da Sectes, Cynthia Rocha. Além dela, viajaram a Israel o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da FAPEMIG, José Policarpo de Abreu, o diretor regional do Senai-MG, Lúcio Sampaio, e os professores da UFMG Virgínia Ciminelli (Departamento de Engenharia Metalúrgica) e Marcos Pinotti (Engenharia Mecânica). O grupo de Minas pôde conhecer iniciativas como a da incubadora Yissum que, desde 1964, é responsável pelas relações entre empresas e pesquisadores, organização responsável pela transferência tecnológica da universidade para o mercado. Considerada como uma das melhores em transferência de tecnologia

no mundo, a companhia já registrou mais de 6.100 patentes, licenciou mais de 480 tecnologias e gerou 65 novas empresas. José Policarpo observa que entrar em contato com a experiência da Yissum chamou sua atenção. “A forma como eles ajudam o pesquisador a estabelecer um relacionamento com as empresas, com o apoio de analistas de mercado, especialistas em propriedade intelectual e proteção dos documentos das patentes por meio de importantes escritórios de advocacias é muito interessante”, afirma. A Yissum tem como vice-presidente de propriedade intelectual Renne Ben-Israel, que em 2012 visitará Minas Gerais para apresentar o modelo de inovação da Yissum.

Ponte entre academia e indústria Outro modelo que também despertou o interesse da comitiva é o do Instituto Weizmann, centro de excelência multidisciplinar em pesquisa. Com forte atuação nas áreas de Exatas, Computação, Bioquímica e Biologia, é conhecido por estimular a transformação dos conhecimentos construídos na academia em produtos com caráter industrial. Para conduzir a produção científica, para além dos muros do centro, foi criada a agência Yeda (que significa “conhecimento” em hebraico) que tem por responsabilidade proteger e transferir a propriedade intelectual científica. O Instituto tem papel fundamental Foto: Arquivo Pessoal

Comitiva de Minas Gerais em Israel MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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na relação entre pesquisador e empresa, pois identifica as empresas que podem investir nas pesquisas tirando da responsabilidade dos cientistas a preparação da documentação que protege as tecnologias de interesse comercial. Para compreensão de como a Weismann coloca em contato academia e empresas, em novembro o diretor científico de Iniciativa de Pesquisa em Alternativa Sustentável de Energia da instituição, David Cahen, vem ao Brasil a fim de mostrar como é importante para o sistema de inovação de um país que a Ciência dialogue com as empresas. “Muitas vezes os pesquisadores ficam muito tempo no universo acadêmico e com certa dificuldade de se aproximar do mercado. A filosofia de um Instituto como o Weizmann é muito interessante para a nossa realidade”, explica José Policarpo de Abreu. Um recurso natural que gerou e gera, em Israel, um grande desenvolvimento científico e tecnológico é a água. A necessidade de abastecimento aquífero do país fez com que os cientistas criassem mecanismos de extração e dessalinização das fontes de abastecimento da população. Para se ter uma ideia, o mar que fornece

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água para os israelenses é o da Galileia, conhecido por alto teor de sal em suas águas. A empresa, que se destaca na realização desse processo de extração e dessalinização é a Mekorot, responsável por 80% do abastecimento de água potável em Israel e por reaproveitar 75% do que é fornecido. A corporação possui laços de cooperação com diversas nações. Um projeto que merece destaque é o de “Gerenciamento Sustentável dos Recursos Disponíveis de Água com Tecnologias Inovadoras”, consórcio composto por Alemanha, Jordânia, Palestina e Israel. O grupo busca desenvolver tecnologias para solucionar, de modo sustentável, o problema de escassez de recursos hídricos do Vale da Baixa Jordânia. De acordo com José Policarpo, houve uma demonstração de interesse por parte da empresa israelita de iniciar uma parceria com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). A Mekorot já estabeleceu laços de convênio no Brasil, porém no Estado de São Paulo, com a empresa de abastecimento de água, a Sabesp. Assim que chegou de Israel, o diretor José Policarpo agendou uma reunião com representantes da empresa de abasteci-

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mento mineira e apresentou como funciona a Mekorot e a possibilidade de acordo entre as empresas. “Passei os contatos da Mekorot para a Copasa e mostrei que a FAPEMIG pode ajudar com o lançamento de uma chamada de trabalhos, que possam contribuir com as duas empresas, mas se eles quiserem podem estabelecer acordos de transferência tecnológica sem o envolvimento da Fundação”. Outra possível associação é do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG e do Instituto Israelense de Tecnologia (Technion). O professor Marcos Pinotti, em reunião com o professor do departamento de Engenharia Mecânica, Izhak Etsion, identificou áreas de pesquisas em comum entre as duas instituições: a tribologia, que utiliza a técnica LST (sigla em inglês de texturização de superfície por laser) e a biomimética, tecnologia inspirada na natureza. Desde esse primeiro contato, as instituições de ensino estão em negociação para a assinatura de termo de cooperação. A assessora da Sectes Cynthia Rocha avalia que o fato de Israel disponibilizar para o mercado um grande número de engenheiros por renda per capita aponta um caminho interessante


de intercâmbio para a engenharia do Estado. “Seria excelente que os estudantes mineiros tivessem Israel como opção de intercâmbio e que, da mesma forma, as universidades mineiras pudessem receber estudantes israelenses. Nada impede que possamos fazer os contatos necessários para que as universidades mineiras assinem acordos com as universidades israelenses”.

A inovação, lá e aqui As diferenças entre Brasil e Israel no que tange o investimento em inovação estão atreladas às suas realidades econômicas e geográficas. As necessidades econômica e social geraram os desenvolvimentos tecnológico, científico e inovador dos israelenses, colocando-os no topo da lista das nações inovadoras. Já no Brasil o processo está caminhando lentamente. De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a inovação nacional ocupa no mundo a 47ª posição, enquanto a tecnologia alcançou o 8º lugar, podendo, até o ano de 2012, alcançar a quinta posição mundial.

Nesse quadro nacional, na opinião de José Policarpo, Minas se apresenta “bem posicionada no quesito inovação”. O diretor entende que Minas, por meio da FAPEMIG, em ação conjunta com a Sectes e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), tem conseguido transformar em realidade a inovação do Estado. “A partir da criação da assessoria adjunta de inovação da Fundação, com os departamentos de Relações Empresariais, Inovação, Propriedade Intelectual e Ciência e Tecnologia conseguimos uma estrutura que oferece o suporte necessário para a relação empresa e pesquisador. Além disso, estamos induzindo a inovação no Estado pregando a aplicação da tripla hélice: governo, academia e empresa. A academia gera conhecimento e a empresa, inovação. E nós temos o papel de aproximá-las”. explica. Outro ponto que pode transformar a inovação tanto nacional quanto mineira é a aprovação do novo Código da Ciência, proposta de lei encaminhada ao Congresso Nacional, que visa à criação de uma legislação própria para as atividades de CT&I no Brasil, reduzindo gargalos e burocracias da legislação atual.

Estreitando relações

A fim de aproximar o diálogo entre Minas e Israel para a realidade da inovação do Estado a FAPEMIG realizou no dia dez de novembro, às 14h, no auditório da Fundação, a palestra The energy Challengebiofuels put in perspective com o professor David Cahen, do departamento de Materiais e Interfaces do Instituto de Ciências Weizman. O evento tem como público-alvo pesquisadores e estudantes que desenvolvem estudos nas áreas de energia sustentável e empresas. Já no primeiro semestre de 2012 a FAPEMIG recebe a vice-presidente de propriedade intelectual da incubadora Yissum, ligada à Universidade Hebraica de Jerusalém Renee Ben- Israel. O tema da palestra é o relato de como a empresa protege e comercializa a propriedade intelectual da Universidade.

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ALEMANHA

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Acordos com DFG e DAAD proporcionam a pesquisadores de Alemanha e Minas Gerais cooperarem em diversas áreas

Fabrício Marques


Foto: Divulgação

Ato de assinatura do Memorando de Entendimento entre os presidentes da FAPEMIG, Mario Neto Borges, e da DFG, Matthias Kleiner, na Embaixada Alemã em Brasília, no dia 18 de agosto de 2011

Entre 1990 e 1992, Ciomara Ferreira Campos, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), avançou nos estudos para ampliação de um glossário de Engenharia Mineral. No ano de 2000, Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fez estágio na Universidade de Leipzig para apresentar pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos Ambientais e Recursos Hídricos (Negeo), estabelecendo convênio de Cooperação Científica entre as instituições mineira e alemã. Finalmente, em 2007, Rita Amélia Teixeira Vilela, da Sociedade Mineira de Cultura (SMC), esteve às voltas com a Metodologia Hermenêutica Objetiva para Análise da Escola Contemporânea. Aparentemente sem ligação, as três pesquisadoras têm em comum o fato de terem

seus estudos beneficiados, entre diversos outros pesquisadores, pelo acordo firmado entre a FAPEMIG e o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Daad). O acordo com o Daad tem três objetivos: permitir projetos de pesquisa em conjunto, conduzidos por cientistas e grupos de pesquisa tanto no Brasil quanto na Alemanha; intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores; criação de uma “Amizade Internacional” para apoiar as atividades de cooperação. Além do Daad, outra instituição com a qual a FAPEMIG firmou laços é a Fundação Alemã de Pesquisa Científica (DFG). Conheça, a partir de agora, um pouco desses dois acordos. Foto: Divulgação

Leibniz-Institute of Freshwater Ecology and Inland Fisheries, em Berlim MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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Foto: Arquivo

Rita Meyer, do Daad

POR DENTRO DO DAAD

O escritório do Daad no Rio de Janeiro, fundado em 1972, coordena atualmente mais de 30 programas de intercâmbio para estudantes e pesquisadores brasileiros e atua em parceria com as agências brasileiras de fomento.

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Fundação Alemã de Pesquisa Científica (DFG) A cooperação entre a Fundação Alemã de Pesquisa Científica (DFG) e a FAPEMIG desenvolveu-se em duas etapas, iniciando-se em outubro de 2009, com base em uma carta de entendimento. Neste acordo, as duas fundações começaram a cooperação em fomentar um grande workshop na área de Biologia de Sistemas, entre muitas universidades alemãs e mineiras. E um projeto individual na área de Agricultura/Hidrologia entre o Leibniz-Institute of Freshwater Ecology and Inland Fisheries, em Berlim, e o Departamento de Engenharia de Biossistemas, da Universidade Federal de São João del Rei. Em 18 de agosto de 2011, em Brasília, foi assinado um acordo entre os presidentes da FAPEMIG, Mario Neto Borges, e Matthias Kleiner. Este Memorando substitui a carta de entendimento de 2009. “É uma boa e segura base para criar cooperações em várias áreas de pesquisa científica entre a Alemanha e o Estado de Minas Gerais”, afirma o diretor da DFG, Dietrich Halm. O acordo tem um prazo de cinco anos (até 2016) e vai ser prolongado automaticamente num modo bianual. “Com isso, criamos uma base bem definida e segura pelos pesquisadores que querem estabelecer projetos conjuntos entre Alemanha e Minas Gerais”, observa Halm. A partir do memorando deste ano, abriu-se espaço para pesquisas na área de Água e Mineração. No momento, são identificados grupos de pesquisadores na Alemanha e em Minas, dentro dessa área de conhecimento. Esses pesquisadores, que devem apresentar grande experiência nesse campo, vão definir os temas mais emergentes para projetos de pesquisa durante um workshop temático que é planejado para o próximo ano. Depois as propostas podem ser submetidas para a DFG e para a FAPEMIG, simultaneamente. “Atualmente, recebemos propostas em ambas as agências para um projeto teuto-mineiro na área de Águas Superficiais, especificamente sobre fluxos em relação à mudança do uso da terra. Esperamos mais e mais propostas conjuntas no futuro”, diz o diretor da DFG.

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Segundo Dietrich Halm, o acordo permite que os pesquisadores da Alemanha e do Estado de Minas Gerais possam cooperar em qualquer área de pesquisa. Mas algumas áreas já foram identificadas como aquelas que têm recebido um maior interesse das comunidades científicas de ambas as fundações: Águas e Atividades Minerais, Agricultura, Nanotecnologia, Engenharia e Medicina. “Outra importância do acordo FAPEMIG/DFG é que podem ser incluídos jovens pesquisadores de doutorado ou mestrado com estadas de intercâmbio em qualquer projeto”, explica. De modo geral, comenta Halm, a cooperação científica entre a Alemanha e o Brasil está crescendo mais e mais. Pesquisadores dos dois países querem pesquisar e publicar conjuntamente. “A mesma tendência é válida para a cooperação com Minas, que é um Estado com uma paisagem científica bem diversa e interessante. O Estado de Minas tem 17 universidades federais, estaduais e instituições não-universitárias de pesquisa básica e aplicada. Com isso, Minas Gerais torna-se também um lugar científico muito atrativo em nível internacional”. E quais são os benefícios dessa parceria? Halm responde que tanto a FAPEMIG quanto o DFG fomentam projetos de pesquisa científica por critérios de excelência e de caráter inovador. “Isto é uma base que garante uma cooperação num nível alto e que promove pesquisadores de excelência”, avalia. Para Halm, um dos maiores benefícios nesta parceira é de complementar-se e de aprender um lado com o outro. Isto vale não só entre pesquisadores em projetos conjuntos, mas também entre a DFG e a FAPEMIG.

Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico Desde o final dos anos de 1980, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Daad) mantém um convênio com a FAPEMIG. O último acordo foi assinado em março de 2010, por um período de cinco anos. Ao longo destes anos foram beneficiados aproximada-


mente 20 professores brasileiros e 20 alemães. Trata-se de um programa de intercâmbio de curta duração, denominado Intercâmbio de Cientistas, para professores/pesquisadores doutores com vínculo em uma instituição de ensino superior ou em um instituto de pesquisa. As missões têm a duração de um mês, no mínimo, a três meses, no máximo. O acordo finda em 2014, mas poderá ser renovado.

“O objetivo do programa é apoiar a mobilidade de professores/cientistas brasileiros e alemães para fortalecer a pesquisa e a internacionalização das instituições de ensino superior e de pesquisa, sem restrições de áreas de conhecimento”, afirma a coordenadora de programas de intercâmbio de pesquisadores e de programas para ex-bolsistas do Daad, Rita Meyer. De acordo com a coordenadora, em um mundo cada vez mais globalizado, a

internacionalização desempenha um papel importante para o desenvolvimento e progresso da ciência. “Este é o benefício para instituições superiores de ensino alemãs e brasileiras”, completa. Acordos como esses, entre Alemanha e Minas, na opinião de Rita Meyer, fomentam a internacionalização das universidades alemãs e brasileiras, através de projetos entre as instituições e contribuindo para o desenvolvimento da Ciência.

! SAIBA MAIS POR DENTRO DA DFG Universitäten (U) / Technische Universitäten (TU): São as universidades tradicionais ou técnicas com cursos voltados para teoria e pesquisa, com a titulação de Bachelor (para todas as áreas, exceto Direito e Medicina) ou Staatsexamen (para as áreas de Direito e Medicina) e possibilidade de doutorado. Fachhochschulen (FH): São as universidades de Ciências Aplicadas que oferecem um Bachelor de três anos, podendo ser exigido um estágio durante o curso. Após o Bachelor existe a possibilidade de cursar um Master também em uma universidade de Ciências Aplicadas. Não oferecem cursos de doutorado. O ano acadêmico é dividido em dois semestres: o semestre de verão vai de abril a setembro, e o semestre de inverno de outubro a março. O período não-letivo é muitas vezes preenchido com trabalhos científicos e preparações para apresentações para o próximo semestre. Alguns professores costumam agendar provas durante as férias. Muitos estudantes alemães aproveitam as longas férias para adquirir experiência profissional através de estágios. FONTE: DAAD/DFG

Do ponto de vista organizacional, a DFG é uma associação de direito privado. Seus integrantes são universidades alemãs, institutos de pesquisa sediados fora das universidades, associações científicas e as academias de ciências. Para realizar suas atividades, a entidade dispõe anualmente de mais de 2 bilhões de euros, verba recebida principalmente do governo federal da Alemanha (65%) e de governos estaduais do país (34%), bem como da UE ou de doadores particulares. Em janeiro de 2011, abriu-se um novo escritório em São Paulo cujo diretor, Dietrich Halm é quem coordena o trabalho da DFG no Brasil.

Intercâmbio de Cientistas (Daad)

Inscrições: fluxo contínuo, com quatro meses de antecedência Auxílio para cientistas brasileiros que queiram realizar uma estadia de pesquisa em universidades ou institutos de pesquisa alemães durante período de um a três meses. Uma agência brasileira deve aprovar o pedido e custear a passagem aérea. Em contrapartida, o Daad financia a viagem de pesquisadores alemães convidados para uma pesquisa em universidades ou institutos de pesquisa no Brasil, cabendo à agência brasileira custear os gastos da estadia.

Requisitos

Benefícios

Doutorado e publicações em nível internacional

Passagem aérea (paga pela agência brasileira)

Convite do pesquisador anfitrião

Ajuda de custo mensal no valor de 1.990 euros

Plano de trabalho

FONTE: DAAD

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EUA

Reatando laços Trazendo à memória antigos vínculos de cooperação entre Minas e Purdue, novo acordo promete avanços científicos na área de bioenergia Kátia Brito

Em um breve retorno à história das aproximações entre Minas Gerais e Estados Unidos, encontramos um acordo firmado há quatro décadas entre a Universidade Federal de Viçosa e a Universidade de Purdue, localizada no estado de Indiana. Nos anos de 1960, as duas instituições de ensino superior tinham uma parceria que, nas palavras do subsecretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Evaldo Ferreira Vilela, era “boa demais”. Durante três anos, as Fundações Rockfeller e Ford financiaram a vinda de pesquisadores norte-americanos para Viçosa. Eles trouxeram em suas bagagens conhecimentos científicos agrícolas que

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proporcionaram o desenvolvimento dessa área em Minas e no Brasil. “Foi graças a isso que se iniciou, em 1961, no Brasil, o primeiro mestrado stricto sensu nos moldes que conhecemos hoje”, conta Vilela. Por 15 anos, os doutores de Purdue compartilharam com os estudantes mineiros de então conhecimentos que proporcionaram a elaboração do sistema agrícola de Minas. Agora, uma nova etapa dessa cooperação está para ser iniciada. Por meio de uma parceria que envolve, além das duas universidades, a FAPEMIG, surgem novas perspectivas para o desenvolvimento da área de bioenergia. “Naquela época, Purdue ajudou Viçosa e o Brasil a inventar a agricultura que temos hoje. Hoje essa área precisa ser modificada, pois o clima, os recursos naturais e o meio ambiente estão em constante transformação. Portanto, essa cooperação internacional tem uma importância muito grande”, avalia Evaldo Vilela. O novo convênio foi assinado em maio de 2011, durante o simpósio internacional Frontiers in Bioenergy: United States-Brazil Symposium on Sustainable Bioenergy (Fronteiras em Bioenergia: Estados Unidos-Brasil Simpósio em Bioenergia Sustentável), em Purdue. Diferentemente do que fora firmado no passado com Viçosa, ele prevê o intercâmbio técnico-científico e de pesquisadores. O interesse dos cientistas estadunidenses está no etanol brasileiro, principalmente no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar melhoradas, no processo de fermentação e na distribuição do plantio. O Brasil, por sua vez, quer conhecer o processo desenvolvido por Purdue de fermentação da cana para transformação em combustível. “Eles têm uma técnica interessante, na qual utilizam as folhagens que sobram do corte da cana para fazer o álcool. Essa técnica é chamada hidrólise enzimática da celulose. E essa tecnologia nós não temos”, explica o subsecretário. Tal procedimento, se aplicado na fermentação brasileira, pode tornar o processo de obtenção do álcool mais eficiente.

A viabilização da troca de conhecimentos e intercâmbio de cientistas entre Minas e Indiana, Estados Unidos, vai acontecer por meio do Instituto de Pesquisa em Energias Renováveis (Bioerg). O instituto é um escritório gestor que pertence à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior e objetiva promover e executar pesquisas para o desenvolvimento e inovação no setor da bioenergia. Segundo Vilela, as pesquisas passarão pelo Bioerg a fim de articular trabalhos que se complementem e pesquisadores para atuarem de forma concentrada na progressão de uma determinada área da bioenergia. “Existem pessoas no Bioerg que estudam o tema e sabem qual é a necessidade científica para a área no momento. Isso vai ajudar o Estado a competir naquilo em que somos bons” explica. Depois das pesquisas passarem por especialistas do Bioerg, elas serão submetidas à avaliação da FAPEMIG, que por sua vez irá selecionar os beneficiados. O

que ainda não ficou decidido é como será a divisão de investimentos entre as duas instituições, que estão em fase final de negociação. De acordo com Vilela, a participação em projetos internacionais abre muitas portas. “Quando nos aliamos a instituições que são destaque na área de Ciência e Tecnologia ganhamos em qualidade. Com isso, criamos oportunidades para os nossos pesquisadores trabalharem com o ‘top’ do mundo”.

Parceiro à vista Outra negociação que ainda está em fase de diálogo é com o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), um dos maiores centros de desenvolvimento científico e tecnológico do mundo. O acordo deve acontecer no mesmo molde de Purdue: fundo conjunto para patrocínio de intercâmbio de pesquisadores. Entretanto, ainda não existe nenhum documento formalizando a cooperação entre FAPEMIG e MIT. Foto: SXC.HU

Desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar é um dos Interesses dos cientistas norte-americanos, em relação ao etanol brasileiro

A Purdue University fica situada na cidade de West Lafayette, no Estado de Indiana, localizado na região centro-oeste do país norte americano. Dentro do ranking das indústrias agropecuárias, o Estado ocupa o primeiro lugar, sendo um dos principais produtores de trigo e milho dos Estados Unidos. Por se localizar na região central do país Indiana foi importante na expansão norte-americana, rumo ao oeste, no século XIX. Por causa dessa significativa participação Indiana adotou o lema Crossroads of America (As estradas da América).

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COMPORTAMENTO

Os muitos sabores do reino de lá Histórias de estudantes e pesquisadores brasileiros no exterior revelam rotinas atribuladas, mas, ao mesmo tempo, coroadas por conhecimento, amizade e cultura

Maurício Guilherme Silva Jr.

A maioria dos estudantes e pesquisadores brasileiros desfaz as malas nos Estados Unidos, na França, em Portugal, na Espanha e na Alemanha. Nos últimos cinco anos, aumentou 23% o número de estudantes agraciados com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação. No último ano, 4.900 brasileiros partiram em busca de cursos de graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado ou estágio no exterior (com bolsas de US$ 870 a US$ 2.300, além de auxílio-instalação e seguro-saúde). A divulgação, em julho de 2011, de que a Capes e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) concederão 75 mil bolsas de estudo no exterior deve aumentar ainda mais a presença de brasileiros em centros de excelência em pesquisa e ensino do mundo.

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Dos múltiplos condimentos recendia o aroma da diversidade. Na animada cozinha comunitária da Internacional University of Japan, instituição com sede em Niigata, estudantes indianos, mongois, costarriquenhos, quirguistaneses, japoneses, norte-americanos – e de outras tantas nacionalidades – preparavam juntos suas tradicionais maravilhas gastronômicas. Como nas melhores reuniões ao redor do fogão, o ápice da “festa” revelava-se ao final: prontas as delícias multiculturais, todos acabavam por provar um pouquinho de tudo. Assídua frequentadora de tais “saraus culinários”, a então mestranda Flávia Cerqueira, única brasileira matriculada na instituição nipônica em 2008, descobriria ali, em meio a inusitados ingredientes, técnicas e receitas, alguns dos mais intensos sabores já experimentados em sua permanente busca pelo conhecimento. Tal prosaica lembrança das refeições coletivas – uma espécie de “metáfora real” da múltipla e fascinante experiência de um estudante em solo estrangeiro – jamais abandonaria a mente da (hoje mestre) Flávia, atual assessora científica internacional da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG): “Na universidade japonesa, cada estudante possuía um dormitório individual, mas, na hora das refeições e das festas, todos se encontravam”, ressalta. Pois do início ao fim do desenvolvimento de sua dissertação, muitos seriam os pratos e folias – assim como os aprendizados, histórias, valores e sonhos – vivenciados em terras orientais. “Ao estudar em outro país, convive-se o tempo inteiro com a riqueza de diversas culturas”, ressalta, ao comentar, de modo bem-humorado, o “choque” diário diante das inúmeras novidades: “Em algum momento da viagem, você se dá conta de que, a seu lado, há um colega nascido no Sri Lanka”. A “aventura nipônica” de Flávia Cerqueira – que, aliás, aprendeu o complexo idioma japonês – soma-se à vivência de milhares de estudantes e pesquisadores brasileiros que, ano a ano, buscam conhecimento científico em outras nações. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde) revelam que, ao longo de apenas 12 meses, cresceu 14% o número de alunos de nível superior a estudar ou desenvolver projetos fora do Brasil. MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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Segundo o relatório Education at a glance, de 2010, eles eram 27.571 em 2008, contra 24.157 em 2007. Menos de uma década antes, no ano 2000, havia apenas 11 mil em terras estrangeiras.

Rotinas cosmopolitas

Visita técnica a Usina Nuclear em Niigata – parte de uma disciplina. Flávia Cerqueira (em pé, a quarta da esquerda para a direita) e alguns dos amigos que conheceu no Japão

A ideia de uma experiência no exterior sempre esteve nos planos do médico Marcelo Mamede, que, em 1998, ao desenvolver trabalho no Distrito Federal, soube de um edital da embaixada japonesa para estudantes brasileiros: “Naquela época, interessava-me estudar a tecnologia Tomografia por Emissão de Pósitron (PET) em pacientes oncológicos, exame diagnóstico ainda não disponível em nosso país, mas há anos dominado pelos japoneses”. Dito e feito: selecionado para o projeto, Mamede muda-se para a cidade histórica de Kyoto, “com seus mais de 2 mil templos budistas”, em março de 1999. O médico permaneceria no Japão para um treinamento de dois anos, mas, aprovado em pós-graduação da Universidade de Kyoto, tem a bolsa estendida para conclusão do doutorado. Ao iniciar os trabalhos no Departamento de Medicina Nuclear e Diagnóstico por Imagem do hospital universitário, acaba por se envolver numa série de projetos de pesquisa, a exemplo do desenvolvimento de moléculas para avaliação de neurorreceptores em fumantes. “Durante o doutorado, a rotina de trabalho era bastante pesada. Tive apenas

Foto: Arquivo pessoal

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dois meses de férias e aproveitei para visitar meus familiares. Apesar disso, tudo era extremamente proveitoso”, afirma. De volta ao Brasil em 2004, o médico descansaria por apenas três meses, para, em seguida, partir em busca de mais conhecimento. Dessa vez, porém, em território ocidental: Mamede é aceito em curso de pós-doutorado nos Estados Unidos e se muda para Bethesda, cidade próxima ao National Institutes of Health (NIH): “A primeira impressão foi extasiante, pois o NIH é praticamente uma cidade, com seus mais de 60 prédios dedicados à pesquisa. Ali, continuei meus trabalhos de PET em oncologia, mas focados em estudos clínicos”. Em território norte-americano, a rotina revelara-se um pouco mais leve. Afinal, na condição de pós-doutor, os projetos não lhe causavam o estresse da correria no Japão: “Visitei meus familiares em duas ocasiões e ainda pude conhecer outros laboratórios nos Estados Unidos”. Apesar disso, nada de parar por aí: em 2005, após nova seleção, o pesquisador muda-se para Boston. “Terminada a primeira fase de trabalhos, busquei novo pós-doutorado em um dos hospitais da Universidade de Harvard, fruto de variações dos temas desenvolvidos no NIH”, explica. Na visão do viajado médico e pesquisador, a convivência cultural e científica em outro país está diretamente ligada à natureza do trabalho desenvolvido. Para ele, ter dedicação exclusiva aos estudos e experimentos é a base para melhoria da formação científica. “Infelizmente, não temos algo similar nas universidades brasileiras. No Japão, vivenciar o modelo de trabalho dos médicos pesquisadores foi o que influenciou minha postura atual”, comenta. Com relação aos Estados Unidos, Mamede diz ter aprendido muito com os estudos clínicos e as informações amplamente disponíveis. “Tudo foi extremamente positivo e construtivo. A meu ver, todos os pesquisadores deveriam ter experiência no exterior para comparar e separar o que temos daquilo que é preciso melhorar”, conclui, ao ressaltar que é preciso “valorizar aquilo que não valorizamos e desmistificar o que achamos que sabemos, ou pelo menos pensamos que sabemos”.


Fotos: Arquivo pessoal

Paisagens deslumbrantes fizeram parte da rotina de Martha Linhares (de calça preta)

Também cosmopolita, o atual reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina Diniz, destaca que as experiências no exterior são importantíssimas por ampliar a rede de contatos do pesquisador. No início de sua carreira, como funcionário do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), trabalhava como datilógrafo, no setor de Estudos de Planejamento, ao lado de importantes professores da UFMG, a exemplo de Fernando Antonio Roquette Reis, Élcio Costa Couto e Álvaro Santiago. No mesmo período, ao longo da década de 1960, Campolina forma-se em Engenharia e o BDMG realiza acordo com o Instituto Latinoamericano de Planificação Econômica (Ilpes), com sede em Santiago, no Chile. “Por lá, liguei-me a um grupo de importantes pesquisadores brasileiros e fui convidado, por Carlos Matos, ex-presidente do Banco Central, a fazer um curso de longa duração”, conta. Tal oportunidade permitiu que ele se encantasse pelos estudos econômicos. “De volta ao Brasil, fiz mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, logo depois, veio a ‘opção pela pobreza’: larguei o trabalho no BDMG e comecei minha carreira na UFMG”, diz. Na Universidade, Clélio Campolina assume o Departamento de Economia da

Faculdade de Ciências Econômicas (Face) e começa a trazer visitantes estrangeiros a Belo Horizonte. A ideia de internacionalização revelava-se cada mais próxima de sua realidade: “Após o doutorado, também na Unicamp, passei um ano em Oxford. De lá, fui para a Itália e, então, para a University Of Rudgers, nos Estados Unidos, onde me liguei à professora Ann Markusen, com quem trabalho até hoje, 20 anos depois”. Por meio das pesquisas ao lado de Markusen, o atual reitor da UFMG realizou dezenas de contatos em todo o mundo, a ponto de trabalhar com pesquisadores de países como Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, além de participar de comissões científicas internacionais. “Permaneço, contudo, um ‘capiau cosmopolita’. Saí lá da barranca do rio e a coisa mais difícil, para mim, foi mudar 30 quilômetros, quando eu tinha 12 anos. À época, fui morar com minha avó, que depois morreu, e eu nunca mais morei na casa dos meus pais”, afirma. Para o físico Felipe de Oliveira Alves, doutor em astrofísica pela Universidade de Barcelona, a rotina de trabalho de um pesquisador no exterior não se distingue muito de suas atividades na terra natal. “Minha rotina profissional na Espanha e, agora, em Bonn, na Alemanha, onde tenho contrato de pós-doutorado, não é tão diferente da MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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que eu tinha no Brasil. Diariamente, sigo ao instituto e desenvolvo minha pesquisa, sempre com uma paradinha para o café”, conta, ao ressaltar que a grande diferença, em relação à realidade brasileira, está a seu redor: “O nível de internacionalizacão num instituto de pesquisa europeu é incrivelmente alto, tanto que o idioma padrão, por aqui, é o inglês”. Além disso, há grande facilidade para desenvolver contatos profissionais, posto que, diariamente, encontra-se com astrônomos visitantes, a ministrar palestras ou cooperar com pesquisadores locais. “Isso é certamente uma das maiores aportações profissionais que ganhei por trabalhar no exterior: o dinamismo cooperativo”, conclui.

A gente não quer só pesquisa

“O nível de internacionalizacão num instituto de pesquisa europeu é incrivelmente alto, tanto que o idioma padrão, por aqui, é o inglês”. Felipe de Oliveira Alves Físico

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Nem só de estudos e desafios, porém, sobrevivem os pesquisadores. A vida em outro país também se revela a oportunidade para que se aprimorem em línguas e descubram as belezas de outras culturas, tradições e... amizades. Professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Martha Maria Prata Linhares não sentiu dificuldades em se adaptar ao Canadá – onde realizou doutorado sanduíche na Queen’s University – por conta, justamente, da gentileza das pessoas: “Apesar do frio intenso, adaptei-me com facilidade. Os canadenses são muito gentis e me cercaram de atenções e cuidados. Lá, não me senti estrangeira no Canadá, pois minha cultura foi muito bem aceita”. Na instituição onde estudou, a pesquisadora convivia com diversos outros estudantes e professores estrangeiros. Além disso, a cidade de Kingston, sede da universidade, conta com excelente infraestrutura e grande oferta de casas e quartos para alugar. Some-se a tais vantagens a ininterrupta movimentação artística do lugar. “A programação cultural da cidade nos finais de semana era de ótima qualidade, com muitas apresentações musicais. Isso me fez sentir adaptada logo nos primeiros dias”, destaca. Pois diversão é o que realmente não faltou à rotina de Martha. Todos os dias, ela acordava cedo para as aulas na univer-

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sidade e, apesar do frio intenso, seguia a pé, “pois gostava da caminhada e sempre encontrava esquilos pelo caminho”, afirma, ao descrever, ainda, suas variadas atividades, digamos, extracurriculares: “As terças-feiras pela manhã eram especiais, pois ia à Stone House, a casa de pedra, fazer arte. Trata-se da sede do programa Arts Matter e um dos espaços disponíveis para que os professores da faculdade de Educação possam criar”. Além disso, a professora visitava escolas integrantes do projeto Learning Through the Arts e participava de pesquisas especiais. “Fomos ao campo algumas vezes e, em determinado momento, fizemos observações em uma escola. Esta pesquisa introduziu-me às questões relativas ao ‘ritmo’ na aprendizagem, tema novo para mim à época, que depois acabei agregando à minha tese”. Os instantes de entretenimento também incluíam passeios, pequenas refeições e lanches nas casas dos professores da universidade, além de “cafezinhos no Second Cup e leituras na Livraria Índigo”. Para não falar do saboroso hot apple cider, o suco de maçã quente, das caminhadas pela Princess street – a principal rua do centro de Kingston –, a apreciar os brechós e as pequenas galerias de arte. “Também gostava muito de caminhar na beirada do lago e tirar fotografias”, recorda-se, ao dizer, emocionada, que os laços de amizade que construiu, na ocasião, permanecem firmes: “Voltei ao Canadá para participar de evento científico e visitar meus amigos. Uma delas, a Katharine, também já veio ao Brasil e passou alguns dias comigo”. Em suas experiências no exterior, o médico Marcelo Mamede passava os momentos de lazer com os amigos que cultivou durante a jornada estrangeira: “Em território japonês, o período foi de intensa imersão em várias culturas, mas, principalmente, na local. Nos Estados Unidos, todos diziam que ‘quem morou no Japão, mora em qualquer outro lugar!’. Fingia compreender a piada, mas somente aqueles que vivenciaram a cultura entenderiam o valor da experiência”. O pesquisador confessa, contudo, que a vida nos EUA foi realmente mais tranquila, em função dos poucos choques culturais. O que não quer dizer


Foto: Arquivo pessoal

que os olhares enviesados tenham se dissipado completamente: “Ser americano do sul era motivo de preconceito, como se eu fosse imigrante ilegal. Tudo se desfazia quando mencionava que era pesquisador do NIH ou de Harvard”. Atualmente em Bonn, na Alemanha, o físico Felipe Alves diz contar com diversos momentos e opções de lazer. Além disso, tudo em sua rotina é motivo de surpresa: “Afinal, minha vida diária é toda cercada por uma cultura distinta e por comportamentos diferentes daqueles a que estamos acostumados no Brasil. Eu me divirto indo ao curso de idiomas ou ao comprar comida num supermercado onde não existem, por exemplo, salgadinhos!”. O pesquisador chama a atenção, ainda, para uma interessante característica dos europeus, que “valorizam muito seu tempo livre e não são workaholics como os americanos. Isso se encaixa muito bem com nossa cultura brasileira. Nós, cientistas não somos todos ‘nerds’ como se imagina”, ressalta, de modo bem-humorado. Por fim, quanto à fascinante oportunidade de morar no exterior, o depoimento de Felipe parece resumir os sentimentos de outros milhares de pesquisadores que, ano a ano, buscam conhecimento em longínquos horizontes: “Morar no exterior foi de longe a experiência mais interessante da minha vida. Eu me integrei muito à cultura catalã e tento fazer o mesmo na Alemanha. Acho que essa oportunidade é única: saber que há um mundo que pode ser totalmente diferente do que vivenciamos até hoje e absorver o máximo disso. O medo de deixar o Brasil, há cinco anos, foi totalmente substituído por tudo que conquistei aqui. Afinal, sempre deve haver espaço para o novo em nossas vidas. Recomendo!” Foto: Arquivo pessoal

Martha Linhares em frente à Queen’s University, no Canadá, onde realizou doutorado sanduíche

Na tradição do Halloween, no Canadá, o que não faltam são amigos inusitados

São seus olhos...

MINAS FAZ CIÊNCIA quis saber dos pesquisadores entrevistados pela reportagem o que seus pares, no exterior, acham dos cientistas brasileiros. Confiram: “Os estrangeiros veem os pesquisadores brasileiros conforme nossa postura ética e construtiva. Há profissionais extremamente qualificados no Brasil, mas faltam recursos para projetos inovadores. Ainda estamos presos a conceitos que não fazem sentido na atualidade. Precisamos de gerentes de processos administrativos com visão multidisciplinar, mais interessados no desenvolvimento de várias áreas (menos beneficiadas), para geração de pesquisadores que saiam, mas retornem.” Marcelo Mamede, médico “Os pesquisadores brasileiros são muito respeitados. Na astrofísica e, acredito, na física, somos vistos como trabalhadores competentes. Como exemplo, ressalto que o Brasil, com apenas 2% de tempo de observação nos telescópios Gemini, possui uma das melhores frações – número de publicações/tempo de observação – dentre os parceiros neste consórcio. Outro exemplo é que, como novo membro do ESO, conseguimos ter uma dentre as poucas propostas de observação aceitas no novo interferômetro de antenas instalado no Chile: ALMA. A concorrência, para pedir tempo nesse instrumento, foi muito alta e, por isso, poucos projetos foram galardeados. Cada vez mais, enfim, o mundo científico se interessa pelos pesquisadores brasileiros.” Felipe Alves, físico

“A partir dos contatos que realizamos, nossas redes vão sendo criadas e pesquisadores vêm até nossas universidades, participam conosco de nossas pesquisas e eventos. Além disso, somos convidados a participar de eventos e a nos integrarmos em projetos e pesquisas com grupos de outros países. A aprendizagem é de todos” Martha Maria Prata Linhares

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011

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Hely Costa Jr.

VARAL

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MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2011



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