Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br
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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Antonio Augusto Junho Anastasia SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Narcio Rodrigues
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Mario Neto Borges Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: José Policarpo G. de Abreu Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu Membros: Alexandre Christófaro Silva, Antônio Carlos de Barros Martins, Antônio Lima Bandeira, Dijon Moraes Júnior, Evaldo Ferreira Vilela, José Luiz Resende Pereira, Marcelo Henrique dos Santos, Marilena Chaves, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva,
Uma conversa informal na redação da MINAS FAZ CIÊNCIA se transformou na interessante discussão que deu origem à reportagem de capa deste número. Pensando sobre o impacto da internet na escrita e no aprendizado, alguns membros da equipe defenderam: o código usado por jovens para se comunicar nesse ambiente prejudica seu desempenho em outras áreas, especialmente em atividades que envolvam a redação de textos. Outros ponderaram: ao contrário do que se poderia dizer há alguns anos, hoje, os jovens têm mais acesso a informações e escrevem mais, mesmo que em salas de bate papo, e-mails ou postagens nas redes sociais. Afinal, todas essas transformações proporcionadas pela comunicação via internet carregariam mais pontos positivos ou negativos? Decidimos ir a campo e conversar com especialistas sobre essa questão, que é motivo de discussão entre educadores e estudiosos do tema em todo o Brasil. O resultado, que você confere a partir da página 6, é uma reportagem instigante produzida pelos jornalistas Maurício Guilherme Silva Jr. (que a partir dessa edição assume o posto de editor-chefe) e Virgínia Fonseca. Sem pré-julgamentos ou “pré-conceitos”, eles buscaram mostrar como a internet mudou a dinâmica em sala de aula e a atuação dos professores, que precisam refletir sobre o uso acadêmico das novas tecnologias e os processos de adequação da linguagem às diferentes situações. Outro destaque é uma pesquisa que avaliou a propensão ao desenvolvimento de doenças cardíacas por trabalhadores noturnos. Conduzida por pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho se baseou em questionários e entrevistas com mais de 200 profissionais da área da saúde para dar o diagnóstico: exercer atividades à noite é um fator sempre associado ao risco cardiovascular. O alerta é importante e chama atenção para a necessidade de um acompanhamento mais rigoroso da saúde e de outras condições adversas, como estresse e fadiga. Cupins dentro de casa são uma dor de cabeça – estragam móveis, livros e qualquer peça que contenha celulose, seu alimento preferido. Se combatê-los já é difícil em um espaço reduzido, imagine em uma das igrejas históricas de Minas Gerais, cujo mobiliário, talhas, painéis e esculturas normalmente são feitos de madeira. Estudo conduzido por equipe da Universidade Federal de Viçosa (UFV) mostrou que, apesar de quase invisíveis, os estragos causados por esses insetos não passam despercebidos. Um levantamento realizado pelos pesquisadores identificou diversas construções históricas, em cidades como Ouro Preto, Diamantina, Serro e Tiradentes, infestadas por insetos xilófagos, aqueles que se alimentam de madeira – os representantes mais conhecidos desse grupo são os cupins e carunchos. A proposta dos pesquisadores é conhecer mais sobre esses insetos na região do caminho velho da Estrada Real. Dessa forma, será possível propor intervenções com a finalidade de conservar e proteger o patrimônio histórico do Estado. A MINAS FAZ CIÊNCIA traz muitas outras matérias, que apresentam um pouco do que está sendo produzido nos laboratórios e centros de pesquisa de Minas Gerais. Alguns dos temas das reportagens serviram de inspiração também para os podcasts da série Ondas da Ciência e para os programas de televisão da série Ciência no Ar. Ambos estão disponíveis no nosso blog: http://fapemig.wordpress.com. Alguns dos destaques estão na sessão Hiperlink, que estreia nesta edição da revista. Leia e mande seu comentário ou sugestão! Vanessa Fagundes Diretora de redação
ao lEI To r
Ex p ED I EN T E
MINAS FAZ CIÊNCIA Diretora de redação: Vanessa Fagundes Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr. Redação: Diogo Brito, Juliana Saragá, Marcus Vinícius dos Santos, Maurício Guilherme Silva Jr., Virgínia Fonseca e William Ferraz Diagramação: Beto Paixão Revisão: Sílvia Brina Projeto gráfico: Hely Costa Jr. Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: CGB Tiragem: 20.000 exemplares Capa: Hely Costa Jr
Í N D I CE
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Gravidez precoce
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Novos materiais
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Entrevista
Investigação sobre o modo como professores, diretores e alunasmães lidam com a questão desfaz mitos acerca da jovem maternidade
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Agrotóxicos
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Inovação
Vilões do patrimônio
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Mercado
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Agricultura
45
LEMBRA DESSA?
34
Primórdios de BH
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5 PERGUNTAS PARA...
48
Hiperlink
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Experimentos revelam que uso de quartzito no concreto amplia possibilidades técnicas e diminui problemas ambientais
Vice-presidente de propriedade intelectual da Universidade Hebraica, Renne Ben-Israel fala da relação entre ciência e mercado
Estudo de pós-doutorado busca identificar ação de insetos xilófagos em construções históricas
Pesquisadores testam uso sustentável de fitossanitários para melhorar cultivo de batatas e outras espécies
Projeto organiza acervo histórico e constrói banco de dados digital com documentos da Comissão Construtora da Nova Capital
Contaminação de alimentos produzidos na Bacia do São Francisco é tema de mestrado defendido na UFMG
Conheça os desafios enfrentados por empresa mineira que desenvolve softwares para gestão em saúde
Sistema que aperfeiçoa transporte na indústria gera primeira patente da Universidade Federal de Uberlândia
Testes em seres humanos revelam eficiência de antígeno contra a famosa “doença do amarelão”
Doutora em Educação, Maria Teresa de Assunção Freitas comenta papel do computador no processo de ensinoaprendizagem
Confira os mistérios a envolver as “mariposas de pelúcia” e o acre odor do espaço sideral
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ESPECIAL
Reportagem recorre a especialistas para discutir a complexa relação entre a qualidade da escrita e o uso de novas mídias
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Trabalho
Estudo da Escola de Enfermagem da UFMG mostra que trabalhadores noturnos sofrem mais com problemas cardiovasculares
Quero parabenizar à equipe responsável pela revista Minas Faz Ciência. Eu a recebo em minha residência e utilizo muitas matérias em minhas aulas de matemática. Sou professor do colégio Objetivo e escrevo o blog Matemática Crítica (www.matematicacritica.blogspot. com), onde também tenho escrito matérias com subsídios da revista Minas Faz Ciência, obtendo ótimos resultados em minhas aulas, ao aproximar a ciência que se faz de verdade, nas universidades, com a matemática escolar (dentro de minhas limitações, claro). Isso só é possível devido à distribuição gratuita da revista, já que não seria justo, embora muitas vezes o façamos, pagar do próprio bolso para lecionar. Mais uma vez, parabéns e muito obrigado pela colaboração. Maurício P.M. Fernandes São Paulo (SP) Sou aluna do colégio Carmo, de Viçosa (MG), e soube da revista por meio do meu professor de Química, que nos forneceu exemplares para que, com suas reportagens – as quais achei muito interessantes – ampliássemos nosso conhecimento. Bruna Santiago Viçosa (MG)
Olá! Visitei o estande da FAPEMIG na SBPC 2012, no Maranhão, e soube que poderia me inscrever para assinar, gratuitamente, a revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Sou estudante de curso superior e bolsista do CNPq e me interessei bastante. Obrigada e, uma mais vez, parabéns pela iniciativa! Thaís Sena Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Brasília (DF) Sobre a reportagem “Turritopsis nutricula: a Fênix dos mares”, publicada no blog Minas faz Ciência Nossa! Sensacional a matéria! Espertinho esse bichinho, hein?! (Rs!) Espero muito que essa descoberta seja um avanço para o desenvolvimento de medicamentos contra o câncer. Nara Soares Sobre a reportagem “Comunidades usam metodologia socioambiental para monitorar gestão das águas”, publicada no blog Minas faz Ciência Muito bom esse trabalho que está sendo desenvolvido pelo Manuelzão Comunidade! Parabéns! Carla Wstane Muito bacana esse projeto! Trabalhos assim têm mesmo de ser divulgados, para que sejam multiplicados. Parabéns a todos os envolvidos! Rafaela Amaral Sobre a reportagem “Amarelão de Jeca Tatu pode ter vacina e com sua ajuda”, publicada no blog Minas faz Ciência Muito boa essa pesquisa! Gabriela Mendes
Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, envie seus dados (nome, profissão, instituição/ empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o seguinte endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro São Pedro Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080
MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte. MINAS FAZ CIÊNCIA • JUN/AGO 2012
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C ARTAS
Além de ser professora, meus filhos leem e levam a revista MINAS FAZ CIÊNCIA para as aulas de ciências do colégio onde estudam, o Pio XII, aqui no Rio de Janeiro. Muitas vezes, o professor usa artigos da publicação no laboratório. Gostaria de parabenizá-los pelas excelentes matérias e conhecimentos que adquirimos ao ler determinados artigos. Andreia Pinheiro Rio de Janeiro (RJ)
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Qd tc na net, eh +- axim q vc escreve? Entaum, blz! Ateh aki, td bakna... O simples corretor ortográfico do Word recomendaria, pelo menos, dez retificações nas frases acima. Um professor de língua portuguesa, no contexto da sala de aula, poderia ter ainda mais a dizer. Justiça seja feita, porém: em outro suporte – que não o papel desta revista –, talvez a linguagem usada sequer causasse estranhamento. Trata-se, afinal, de modo de expressão cada vez mais frequente, facilmente encontrado em situações comunicativas engendradas por jovens interlocutores com o auxílio de objetos hoje cotidianos (e essenciais), como celulares e computadores, desde que conectados à internet. O advento dos comunicadores instantâneos, das mídias sociais e do sistema de SMS (Short Message Service) – tecnologia presente nos celulares – levou à adoção, em determinados ambientes virtuais, de linguagens radicalmente distintas do chamado “padrão culto” do idioma. Em nome da agilidade na troca de informações, os usuários lançam mão de artimanhas como abreviaturas, gírias e símbolos, além de uma série de onomatopeias – a reprodução de sons por meio de palavras. Até que ponto, porém, essa dinâmica seria capaz de influenciar a qualidade da escrita dos estudantes? Eis o importante aspecto sobre o qual pais, educadores e ferrenhos defensores das regras gramaticais têm se debruçado constantemente. A maior preocupação recai sobre crianças e adolescentes, que, ainda em processo de aprendizado do padrão normativo da língua, parecem estar mais vulneráveis à memorização dos “modelos alternativos” – o que, temem certos indivíduos, possa prejudicar a absorção dos conteúdos oficiais disseminados pela escola. Aos mais cautelosos e pessimistas, a boa notícia – fruto de consenso entre pesquisadores do tema – é que as pessoas (especialmente, os jovens) estão lendo e escrevendo como há muito não se via. A redação diária de e-mails, as mensagens via celular e a postagem em redes sociais trouxeram o texto de volta ao cenário comunicativo. As possibilidades, portanto, pendem a desdobramento positivo: “Isso pode, sim, influenciar o aprendizado da língua culta, mas acredito que para o bem. Quanto mais se escreve, mais se aprende a escrever. Quanto mais recursos linguísticos são explorados, mais ricos ficam os textos”, destaca a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (Fale/UFMG) Carla Viana Coscarelli. A leitura, inclusive em ambientes digitais, é um dos focos das investigações científicas e dos livros produzidos pela docente, que considera a exposição a situações interlocutivas diversas como incentivo ao desenvolvimento de habilidades. “Em função de haver inúmeras circunstâncias comunicativas na internet, é provável que os usuários aprimorem sua capacidade de leitura e de escrita”, pondera. O desafio, por sua vez, reside na necessidade de refletir sobre o uso acadêmico das tecnologias e as contribuições da escola no trato educacional com os alunos, em relação aos necessários processos de adequação da linguagem às situações comunicativas. Para a diretora de Divulgação Científica da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG, Silvania Sousa do Nascimento, formada em Ciências Experimentais (Física) e estudiosa do tema “técnica e tecnologia”, a identificação do código pertinente a cada ocasião é um dos grandes desafios. “Hoje, a questão é que o professor, por vezes não nativo nessas tecnologias, deve conseguir ajudar o aluno a transitar entre o lugar em que ele está e a posição de reconhecimento da norma culta, dos diversos contextos, das linguagens – que sempre serão múltiplas”.
“Em função de haver inúmeras circunstâncias comunicativas na internet, é provável que os usuários aprimorem sua capacidade de leitura e de escrita” Carla Viana Coscarelli professora da Faculdade de letras da Universidade Federal de Minas Gerais (Fale/UFMG)
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Quem conta um conto diminui um ponto?
Coscarelli adverte que não há escrita restrita à internet. Identificam-se, na verdade, diversas linguagens, da mais formal e padrão à mais informal, com registros alternativos. No caso das plataformas comunicativas – a exemplo de chats (salas de bate-papo virtual) e MSN –, muito dos termos e expressões hoje usados pelos jovens eram comuns, por exemplo, nos saudosos telegramas. Atualmente, porém, tudo ocorre de modo mais intenso, em razão das facilidades propiciadas pelos ambientes digitais. Os usuários das novas mídias acabaram por desenvolver formas particulares de expressão, construídas e articuladas em situações interlocutivas específicas. Neste cenário, pode-se afirmar que a linguagem empregada depende da situação de comunicação instaurada – ou, em outros termos, dos objetivos dos interlocutores, assim como do grau de familiaridade entre eles. A escrita em ambientes digitais nem sempre representa a oralidade, embora ela possa revelar a motivação para o uso de certas formas usadas nas interações. Muitas vezes, busca-se economia de caracteres em torpedos (SMS) e mensagens via Twitter – espaços de ine-
rente brevidade – ou em bate-papos, que primam pela rapidez. Na acepção de Maria Teresa de Assunção Freitas, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora do livro Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola, o uso das abreviações na rede mundial teve início, justamente, com os chats. Nos e-mails, por exemplo, esse formato ganha menos espaço, pois não se trata de comunicação em tempo real. Além disso, a troca de informação ocorre em intervalos irregulares. No celular, há grande aceitação pela linguagem simplificada, devido a fatores como a necessidade de redução do tamanho das mensagens, cujo envio, quase sempre, é pago, e a dificuldade de digitar no minúsculo teclado do aparelho (leia mais sobre o trabalho de Maria Teresa Freitas na página 46). “Os usuários mudam – ou deveriam fazê-lo – sua maneira de se expressar em várias situações. Nos bate-papos, escreve-se de um jeito; já no e-mail de trabalho, o formato costuma ser bem diferente”, complementa Coscarelli. No que diz respeito às abreviaturas, embora se trate de alterações em termos da língua portuguesa, a matemática é que não deixa dúvidas: em busca do dinamismo no
processo comunicativo, economizam-se dezenas, centenas ou milhares de caracteres. Como exemplo, tomem-se as frases de abertura dessa reportagem. Como resultado do uso excessivo de consoantes, economizou-se nada menos do que 30 letrinhas! Percebe-se, portanto, que, para ganhar velocidade, basta reduzir a quantidade de códigos digitados, a partir da supressão de vogais, da troca de dígrafos por consoantes que apresentem som similar ou do emprego do “h” ao final das oxítonas, em substituição ao acento agudo. Outra estratégia dos usuários refere-se à imitação dos vícios da fala, de modo a aproximar a mensagem do contexto da oralidade – já que as conversas se processam em tempo real. Neste cenário, expressões e símbolos que demonstrem emoções entram em cena com o intuito de reproduzir o comportamento do interlocutor. Entre tais recursos, estão aqueles conhecidos como emoticons, caracteres empregados para ilustrar expressões faciais e signos relacionados a sentimentos.
proJETo NaCIoNal ESTIMUla USo DE CoMpUTaDor Na Sala DE aUla Com formação em convergência de mídias pelo projeto IFra Newsplex, da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, a professora Lorena Tárcia, atualmente, capacita docentes para uso de tecnologias em sala de aula. Trata-se do programa Um Computador por Aluno (UCA), por meio do qual os professores passam por etapas presenciais e online de aprendizado. “Os cursistas discutem propostas para uma nova escola, a partir de ferramentas da web 2.0 voltadas à educação e do emprego, interdisciplinar, de novas tecnologias na escola”, explica. Neste momento, inicia-se a formação a distância das turmas 7, 8 e 9, com docentes das cidades de Timóteo e Monte Sião. “Trabalhamos com professores de ensino fundamental, principalmente de escolas do interior de Minas”, explica a pesquisadora. Projeto educacional para utilização de tecnologia e inclusão digital, o UCA foi criado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de propostas apresentadas durante o Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, no ano de
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2005. No Brasil, a iniciativa começou, oficialmente, em 2007. Três anos depois, 150 mil computadores já haviam sido distribuídos a 300 escolas de todo o país. As instituições de ensino recebem laptops – a serem manuseados por alunos e professores –, além de infraestrutura para acesso à internet e aulas de capacitação de gestores e professores para o uso das ferramentas tecnológicas. “Minha experiência com o UCA revela o papel importante das tecnologias na vida dos alunos. Tão logo recebem os laptops, já estão íntimos da máquina. Passam a tirar fotos, a fazer vídeos e a explorar seus recursos. Este uso instintivo, porém, está voltado, geralmente, ao entretenimento e à geração de conhecimento”, explica Lorena Tárcia, ao ressaltar que daí surge sua convicção em torno da ideia de que o melhor caminho a seguir é a parceria entre alunos e professores. “Neste caminho, há obstáculos importantes, como a própria dificuldade do professor, que, muitas vezes, trabalha em mais de uma escola e não encontra espaço, tempo ou motivação para aprimoramento”, explica.
Cada contexto, um texto Professor do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG), Jerônimo Coura Sobrinho recorre ao teórico francês Dominique Mangenot para destacar a impossibilidade de se desprezar a relação entre características do texto e natureza da mídia usada pelos interlocutores. Embora particularidades na produção mediada pela tecnologia aproximem a escrita da oralidade, isso não significa que as pessoas estejam escrevendo errado. Muito buscam, tão somente, adaptar o uso da linguagem ao suporte utilizado: “O contexto é que define o registro de língua. Se existe um limite de espaço, naturalmente, o sujeito irá usar mais abreviaturas, como faria no papel”, afirma. Da mesma forma, é preciso considerar a capacidade de o destinatário interpretar corretamente a mensagem emitida. No entendimento do pesquisador, a escola, às vezes, insiste em ensinar um registro utilizado apenas em contextos específicos, o que acaba por desestimular o aluno, que não vê sentido em empregar tal modelo em outras situações. Independentemente dos aparatos tecnológicos da atualidade, o emprego social da língua revela-se muito mais significativo do que seu uso escolar, conforme ressalta Silvania Nascimento: “A dinâmica da língua oral é sempre presente. Não falamos ou escrevemos da mesma forma que nossos avós. Até a norma culta tornou-se diferente”. Some-se a isso o fato de os jovens se revelarem os principais usuários das novas tecnologias, por meio das quais conseguem se comunicar com facilidade. A professora ressalta, porém, que as pessoas precisam ter discernimento quanto às distintas situações, de modo a dominar outros códigos. Para muitos usuários, o trânsito entre a linguagem rápida das redes sociais e o português formal (das lições escolares) é intuitivo. Que o diga Daniel Keesen de Souza, 14 anos, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental em instituição da rede particular de Belo Horizonte. Desde os 9 anos, ele usa o MSN – hoje substituído pelo bate-papo do Facebook – para a troca de mensagens com os colegas. O adolescente fica cerca
de três horas por dia conectado à internet. Mas prefere não exagerar nas abreviaturas e toma o cuidado de reler os trabalhos acadêmicos para evitar pequenos descuidos na grafia. “Tenho colegas que, por força do hábito, trocam palavras de vez em quando. No começo do ano, estava acontecendo muito e a professora precisou ser rígida com o pessoal”, relata. O papel da escola seria, justamente, mediar tal contextualização – à maneira da educadora de Daniel. Segundo os pesquisadores, isso pode ser feito por meio do uso, no ambiente escolar, das próprias tecnologias comunicativas. Desse modo, estimula-se a reaproximação com o aluno, o que pode facilitar o ensino de conteúdos diversos. “É necessário discutir como a escola utilizará essas interfaces com o intuito de produzir conhecimento e para o sujeito aprender a ter critérios de validação”, opina Silvania Nascimento.
Exposto nas redes
Para a docente dos cursos de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), Lorena Peret Teixeira Tárcia, que trabalha com projetos relacionados ao uso da tecnologia pelos jovens, o atual contexto trouxe à tona uma realidade anterior aos computadores: o analfabetismo funcional Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2009 e 2011, a faixa etária com maior percentual de uso da web foi de jovens dos 15 aos 17 anos. A análise também aponta adolescentes entre 10 e 17 anos como responsáveis pelo maior percentual de posse de celulares. Quase 42% dos entrevistados com idade entre 10 e 14 anos tinham celular próprio em 2011, crescimento de 12,6 pontos percentuais em relação a 2009. Tal porcentagem chegou a 67,5% em 2011, na faixa dos 15 aos 17 – aumento de 15,7 pontos percentuais em relação a 2009.
e a dificuldade de expressão de crianças, adolescentes e adultos formados ou em processo de formação. “As redes e outros recursos disponíveis, a meu ver, não contribuem para piorar isso, mas revelam lacunas importantes”, destaca. Em sua experiência com crianças e adolescentes, a pesquisadora percebe que aqueles que possuem base educacional consistente sabem se posicionar nas mais diversas circunstâncias comunicacionais: tais jovens escrevem bem quando o momento é formal, assim como absorvem conteúdos e se integram de forma criativa nas situações de informalidade. Professora de Língua Portuguesa para alunos do Ensino Médio da rede pública no município de Carmo do Cajuru, no Centro-Oeste de Minas Gerais, Vanúzia Rabelo Teixeira endossa as palavras de Tárcia: “Os jovens estão habituados ao uso de linguagem rápida e alguns têm dificuldade de se expressar de forma mais consistente. Não acredito, porém, que seja influência direta do uso dessas ferramentas”, avalia, ao comentar que os estudantes conseguem diferenciar o contexto de uso da língua formal – apesar de identificar necessidade de melhoria das habilidades de escrita e leitura. Em casa, Vanúzia monitora o acesso dos filhos, de 8 e 11 anos, ao Facebook e ao MSN, mas também não vê prejuízos ao aprendizado das crianças, que, desde cedo, manejam com destreza o computador e as muitas possibilidades da internet. A necessidade de adaptação aos ambientes e às circunstâncias enriquece as possibilidades de uso de linguagens, cada vez mais múltiplas. Entretanto, quando a formação educacional do jovem não é sólida, as fragilidades se revelam nas redes. “Outro dia, com um colega de trabalho, fizemos breve pesquisa empírica nas redes sociais sobre erros comuns de grafia percebidos entre alunos universitários. As falhas se multiplicam nesses ambientes”, exemplifica Tárcia. Este, segundo ela, é o lado negativo. Existe, contudo, uma série de pontos positivos, já que críticas e correções em tempo real também se espalham rapidamente. “Nunca se leu e se escreveu tanto. Agora, cabe o esforço de zelar pela qualidade dessa leitura e dessa escrita”, pondera.
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Sala de aula 2.0 Os estudiosos do tema são unânimes em tratar as novas tecnologias como ferramentas a serem usadas a favor do processo de aprendizagem. “É claro que, assim como os outros recursos, até mesmo caneta e quadro podem ser utilizados de forma positiva ou negativa”, aponta Lorena Tárcia. Tal dualidade de resultados também é abordada por Silvania Nascimento: “Trata-se do mito de Prometeu. Como todo presente de um deus, há a benção e a maldição. Aspectos positivos e negativos são inerentes a qualquer transformação provocada pelo homem ou pela sua presença na natureza”, reforça. Prometeu foi o semideus que ensinou a “técnica” do fogo ao homem. Tárcia cita o exemplo do uso dos computadores nas escolas. Se não houver propósito coerente com o projeto pedagógico, a tecnologia, de maneira abrangente, não representará um diferencial significativo. A instituição precisa se envolver nesta cultura, assim como deve incentivar a comunidade acadêmica. A pesquisadora afirma que, como fruto do engajamento, torna-se evidente o potencial dos recursos tecnológicos ao longo do processo de aprendizagem. “Os estudantes se entusiasmam, tornam-se parceiros dos professores, que nem sempre dominam aspectos técnicos, mas dominam a construção do conhecimento e trabalham juntos neste propósito”. É fato, concordam os cientistas, que os alunos estão envoltos neste universo e a escola não pode estar alheia às mudanças. Um dos desafios a ser superados, neste sentido, diz respeito à distância entre a geração digital e a de “migrantes digitais”. Pesquisa sobre o uso da informática na escola pública das capitais brasileiras, realizada, em 2009, pela Fundação Victor Civita – em parceria com o Ibope Inteligência e a empresa Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico (LSI-TEC) –, mostra que o principal gargalo está no professor e não mais no acesso a equipamentos. O resultado vai ao encontro das constatações obtidas por meio do projeto
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“Podcasts em situações de aprendizagem presencial e não-presencial: possibilidades, limitações, efeitos da midiatização de conteúdos e desenvolvimento de habilidades pelos usuários”, coordenado pelo professor Jerônimo Coura, no Cefet. A investigação procurou identificar se os professores se interessariam em utilizar a ferramenta, por meio da gravação de arquivos de áudio nas aulas de idiomas, como mecanismo auxiliar de ensino. Embora a ideia fosse focada nos docentes, acabou despertando interesse por parte dos alunos – que, segundo análise do pesquisador, lidam com a tecnologia de maneira natural. “Eles já usam essas novidades no cotidiano. Por isso, quando inserimos os dispositivos no ambiente escolar, aderem à proposta pedagógica com muita facilidade, mais até do que os próprios docentes”, infere. Apesar dos ganhos quanto ao processo de aprendizado, muitos profissionais apresentaram resistência ao uso de ferramentas como vídeos e podcasts, preferindo as tradicionais aulas expositivas. “Enquanto isso, abríamos espaço para os estudantes fazerem as próprias produções. Foram eles, portanto, que começaram a demandar”, conta Jerônimo Coura. O trabalho, porém, não foi em vão. Também houve professores que, por iniciativa própria, depois de participar das oficinas ministradas durante o projeto, tornaram-se mais atentos aos usos das tecnologias em sala de aula. “Ou seja: é possível vencer a resistência”, comemora o pesquisador, ao ressaltar que negar tais recursos, ao invés de incorporá-los, seria andar na contramão da educação.
Tecnologia não tem idade Silvania Nascimento explica que a dificuldade de adaptação da geração “não digital” ocorre em função da crença em torno do progresso linear. Segundo tal “teoria”, para construir um corpo de conhecimento adequado, a civilização deveria passar por etapas definidas. “Mas não existe comprovação científica de que essa sequência seja necessária”, argumenta. Uma das investigações conduzidas pela professora aponta justamente o contrá-
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rio. O grupo coordenado por ela analisa o uso de um dispositivo tecnológico por parte de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do chamado “primeiro segmento” – público que ainda não domina a norma culta. “Eles estão na fase de aquisição do letramento e já trabalham com esse aplicativo, desenvolvido com o que há de mais recente em linguagem de programação de computador. Ainda não chegamos aos resultados finais, mas consideramos a hipótese de que o sujeito pode, sim, ‘pular’ etapas”, adianta. A pesquisadora trabalha com a aplicação pedagógica dos chamados dispositivos multimodais – que permitem interação entre diversos tipos de linguagens –, a exemplo de tablets, smartphones ou ambientes híbridos (TV e rádio na web, por exemplo). Busca-se transformar os recursos com os quais os jovens já estão habituados a lidar, de forma a que possam promover a aquisição de conhecimento. “É possível usar isso como ferramenta que habilite a pessoa tanto à leitura crítica do material que está aí, quanto à produção de conteúdo, diferente e de boa qualidade”, comenta. Para o indivíduo imerso no mundo das tecnologias digitais, o caráter restrito da palavra escrita no papel, bidimensional, soa como vasto limite. “Trabalhamos com o conceito de cognição situada, produzindo situações de ensino que mergulhem o sujeito nesta realidade que aí está”, explica Silvania, ao ressaltar que não se trata de experiência teoricamente nova, já que, desde a década de 1930, fala-se em levar o cotidiano do aluno para a sala de aula. O processo de aprendizagem, arremata Lorena Tárcia, deve ser construído a partir das vivências dos estudantes: “Não faz sentido que alguém com possibilidade de conexão, durante 20 horas de seu dia, seja obrigado a suspender este uso nas 4 horas que passa na escola. A educação para o uso das tecnologias também é obrigação das instituições de ensino”. Diferentes formas de aprendizagem ampliam, assim, o repertório cognitivo dos educandos. O uso de áudio, vídeo, hipertexto ou infografias permite que os alunos percebam o mundo a partir de parâmetros
diferenciados. “Esta vivência enriquece até a escrita deles, pois expande sua capacidade de compreensão e reflexão sobre o mundo e a realidade em que se inserem”,
afirma Lorena. É o que têm demonstrado, na prática, trabalhos como os de Silvania Nascimento, no ensino de Ciências, e de Jerônimo Coura, nas aulas de idiomas. Os
pesquisadores, aliás, asseguram: é possível fazer o mesmo em outras áreas de conhecimento. #ficaadica!
CaMINHoS para a EDUCação TECNolóGICa Realizada por profissionais do Banco Mundial, pesquisa mapeou as principais tendências do entrelaçamento tecnologia/educação em países emergentes como o Brasil. Confira o que há de bom e ruim:
1. Uso de tablets
Se, há cinco anos, as atenções dos governos voltavam-se ao uso de laptops – como no caso do Projeto UCA –, hoje, investe-se no potencial dos tablets. É preciso ressaltar, contudo, que a tecnologia não pode ser tomada como o “centro” dos projetos educacionais. Antes, faz-se necessário mudar a mentalidade dos formadores para novas concepções de aprendizagem. O aparato tecnológico, em si, chega a ser irrelevante neste processo.
2. Crowdsoursing
Neste caso, vale a antiga máxima: “A união faz a força”. Trata-se do uso da capacidade de conexão da web para gerar conhecimento compartilhado, em ação como a tradução de vídeos para outros idiomas, como forma de enriquecer o material oferecido em sala de aula. Importante lembrar, no entanto, que a maior parte destas ferramentas está ainda distante da realidade das escolas brasileiras. Portanto, é vital que se valorize e incentive a geração de conteúdo educativo em nível regional/local, considerando-se a condição de vida dos alunos. Neste campo, há, no Brasil, iniciativas governamentais e da sociedade civil muito bem organizadas.
3. Uso de mídias sociais
Neste âmbito, há iniciativas escolares e ações governamentais bastante interessantes. A ideia é que as instituições aproveitem-se das possibilidades destes ricos ambientes de conexão e conversação.
@ 4. Proibição do acesso à web
Tendência negativa apontada pelo Banco Mundial é o bloqueio, no ambiente escolar, do acesso a sites ou serviços da web. Ao contrário da mera proibição, é vital que se realize trabalho educativo para uso destes recursos.
PROJETO: Situação argumentativa no processo de formação inicial e continuada de professores de ciências da educação básica COORDENADORA: Silvania Sousa do Nascimento MODAlIDADE: PPM IV VAlOR: R$ 48.000
5. Desenvolvimento de habilidades cognitivas
A pesquisa aponta que o debate sobre a importância das tecnologias para o desenvolvimento de habilidades cognitivas na educação infantil tem avançado rapidamente, principalmente na ásia e na América Latina. A tendência é ampliar a produção de recursos para uso específico de crianças, desde quando entram nas escolas.
6. Apoio a alunos com necessidades especiais
As escolas também têm utilizado as tecnologias para engajar alunos com necessidades especiais. Muito ainda há a ser desenvolvido nesta área, pois é visível a dificuldade de investimento – inclusive, na rede particular de ensino.
7. Debate sobre lixo eletrônico
Começa-se a discutir, nos países em desenvolvimento, a destinação do lixo eletrônico gerado pelas mudanças tecnológicas. Se comparada aos países hegemônicos, porém, a discussão revela-se ainda incipiente.
8. Monitoramento de alunos
O “fator Big Brother” é uma preocupação, pois certas escolas usam as tecnologias com o intuito de monitorar seus alunos e professores. Punição e invasão de privacidade não são bons sinônimos para educação.
9. Formação de lideranças
Diretores e coordenadores são peças-chave no processo de “convívio” entre educação e tecnologia. Os investimentos tornam-se mais eficientes quando as lideranças estão capacitadas e valorizam o uso das novas ferramentas. Não adianta, portanto, formar apenas professores.
PROJETO: Podcasts em situação de aprendizagem presencial e não-presencial: possibilidades, limitações, efeitos da midiatização de conteúdos e desenvolvimento de habilidades pelos usuários COORDENADOR: Jerônimo Coura Sobrinho MODAlIDADE: Jovens Doutores VAlOR: R$ 14.130
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comportamento
rso de u c s i d r isa Ao anal retores i d , s e r o bre a profess o s s e ã , s-m e aluna a adolescência zn a gravide lematiz b o r p o a jovem estud d o n r o mt mitos e de da materni rme Silva
Guilhe Maurício
Jr.
olhidos 2010, rec o s n e C EsDados do eiro de Geografia e il ltimos tuto Bras ue, nos ú q pelo Insti m la e v e 15 BGE), re eres entr lh u tatística (I m s a aís. 17,7% d ães no p m e s dez anos, m o s tornara ssim com e 19 ano omum – a dos órc o s n e s e pelo da mídia Hoje tida a parcela v ti a uestão a q ic if e n v “gra por sig o m o c – gravidez licos ática da m gãos púb te a , ” a r imporionad a esconde ser soluc m tu s o c começar cência doxos. A na adoles ra a p s o x ias resomple experiênc s a tantes e c d e d a fegeneid acerca da s e pela hetero d a id v o a série de n famílias estão cad tam uma n s e a s o , ã re o ç p a d a tu rm es info s do IBGE egundo o de. Outra S a . id s – a rn s Tais dado ir te e te a il n am esta das bras m adiado scentes g tê le o s d a re . e cundidade e % lh d u xa 17,7 A res e as m ução da ta u de 18,8% para d re à , vez meno te en so cional de o, justam , que pas olítica Na P à , s re diz respeit e 15 e 19 anos – fato tuita de entr oferta gra tre outros a n e ê d v , a re d p mulheres ia oc que da rede por meio o está ass criada em 2007 e , ã is iç a u n in io c im p d iar, ome-se once nto Famil preços. S a de antic e d e m n d e ja v e to n a n e la e . P vos fecim queaduras ontracepti ativo arre tomias e la c e métodos c ular – com signific s a v a Pop dos casais Farmácia do acesso o ã ç a li p m a isso a a
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“Mesmo com o fato de que a incidência de gravidez na adolescência sofreu ligeira variação positiva nas três últimas décadas do século XX, o que contraria a tendência geral de diminuição do número de filhos por parturiente, a questão quantitativa não pode se constituir como o fator explicativo da construção social do problema ‘gravidez na adolescência’” Keila Deslandes professora do Departamento de Educação do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
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populares” –, deve se delinear a partir dos “princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável”. A preocupação da pesquisadora diz respeito ao investimento em ambientes nos quais se possa rediscutir “a própria noção de gravidez na adolescência, contextualizando-a, historiando-a e mostrando a sua heterogeneidade para, então, problematizá-la, tendo em vista a história de vida de cada sujeito, sua família e sua comunidade, no contexto de alternativas concretas e opções autônomas”. De 2008 a 2010, com financiamento da FAPEMIG, Keila Deslandes – que é doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Paris 7 – realizou estudo acerca dos mecanismos de educação afetivo-sexual construídos nas escolas. A investigação buscou problematizar as representações sociais da gravidez na adolescência, com ênfase nos discursos de professores, diretores e, principalmente, das jovens estudantes que se tornaram mães. A pesquisa pretendeu, ainda, discutir o processo de inclusão e/ou exclusão das garotas grávidas no ambiente escolar, assim como “levantar” importantes questões de gênero. “Além disso, propusemos ações mitigadoras da evasão e do fracasso escolar relacionados à maternidade adolescente”, esclarece Keila. Ao longo dos trabalhos de campo, em busca de compreensão para as representações sociais da gravidez na adolescência, privilegiou-se o estudo qualitativo, com coleta de dados por meio de entrevistas não-diretivas ou em profundidade. No total, foram entrevistados oito professores de escolas do Ensino Médio, escolhidos de maneira aleatória e voluntária. Como resultados de tais conversas, verificou-se que, assim como nos discursos do senso comum e da mídia, o corpo docente apresentou argumentos alarmistas e calcados na ótica da prevenção da maternidade. O que grande parte dos professores parece desconhecer é o fato de que, muitas vezes, a possibilidade de ser mãe – para além de mera surpresa – revela-se parte de um projeto de vida, ainda que pouco consciente, de muitas adolescentes pobres, que, a partir da maternidade, inserem-se
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em novo contexto social. “E, até diferentemente do que prevê o senso comum, se reinserem na escola, com o objetivo de buscar ‘melhor destino’ para si, para a família ou para a própria criança”, ressalta.
Anos dourados? Em “sociedades de hiperconsumo” – conforme a definição do filósofo francês Gilles Lipovetsky –, a gravidez na adolescência seria compreendida, por parte significativa da população, como obstáculo à conquista do que Keila Deslandes chama de “oportunidades sociais”. Trata-se, nos termos da pesquisadora, dos ideais fortalecidos em função de fatores como “o aumento da expectativa de vida das comunidades, o prolongamento da escolarização, as mudanças nos papéis sociais – relacionadas à emancipação feminina, com desvinculação entre sexualidade e reprodução – e a massificação do acesso a bens de consumo”. Em tal cenário, a gravidez na adolescência despontaria como “verdadeiro desperdício do leque de oportunidades e prazeres da vida juvenil, capaz de um forte sentimento de indignação por parte da sociedade”, comenta Keila, ao lembrar que, segundo tal lógica, além de esbanjar a própria vida, as adolescentes grávidas poriam “em prejuízo as gerações ‘futura’ – posto que exposta aos riscos do abandono – e ‘passada’, convocada a assumir responsabilidades, perante os netos, que não seriam suas”. Tais argumentos – baseados, no ver da pesquisadora, em construção conceitual da adolescência moderna, a qual se localiza social, histórica e culturalmente – fundamentam-se no ideal de que a juventude funcionaria, no processo de desenvolvimento humano, como o “estágio” para a entrada triunfante na vida adulta. “Essa concepção contemporânea, no entanto, esbarra num passado recente, em que a noção de adolescência não se fazia presente nos debates médicos, psicológicos, midiáticos ou do senso comum. Além disso, considerava-se ideal a faixa etária dos 13 aos 19 anos para o compromisso matrimonial e a maternidade”, comenta.
A pesquisa lembra, ainda, que o aumento da taxa de fecundidade entre adolescentes não justifica, em si, a preocupação com o tema: “Mesmo com o fato de que a incidência de gravidez na adolescência sofreu ligeira variação positiva nas três últimas décadas do século XX, o que contraria a tendência geral de diminuição do número de filhos por parturiente, a questão quantitativa não pode se constituir como o fator explicativo da construção social do problema ‘gravidez na adolescência’”. De modo hipotético, seria possível imaginar, por exemplo, que a maternidade na juventude seguisse seu percurso “natural”, enquanto a redução da taxa de natalidade viesse a se tornar o problema a ser discutido. “Instigante, o tema é destacado no filme Filhos da Esperança, no qual a infertilidade da raça humana é levada ao extremo de incapacidade de perpetuação da espécie, num contexto futurista de caos social e de nenhuma esperança no projeto humano”, comenta.
Análise multifatorial
No entender da pesquisadora, só seria possível problematizar a fecundidade na adolescência a partir da análise de uma série de condições sociais e históricas. Tal investigação, portanto, implicaria a relativização do próprio fenômeno.
“A chamada gravidez na adolescência, caracterizada pela Organização Mundial da Saúde segundo parâmetros etários, ocorrida na faixa entre 10 e 19 anos, não é fenômeno homogêneo. Não se pode falar, afinal, que uma gravidez aos 10 seja igual àquela que se dá aos 19”, destaca, ao comentar, ainda, a imprudência de se dizer que a gravidez de parceiros adolescentes seja igual àquela entre pessoas de distintas faixas etárias. “A condição social das parturientes também diferencia o problema, assim como o fato de o episódio acontecer uma única vez, ou múltiplas vezes; se no contexto de um casamento, ou entre solteiros; se relacionado, ou não, a projeto de inserção social e afetiva”. A maternidade na adolescência, portanto, origina-se de motivações e/ou situações, muitas vezes, antípodas. De um lado, conforme ressalta Keila, pode ser vivida irresponsavelmente. De outro, há de se constituir como “estratégia assertiva, forma de resiliência no contexto de violência familiar e anomia social, onde práticas de prostituição e tráfico de drogas aparecem como as oportunidades mais sólidas de socialização e vida comunitária”. Nestes casos, a jovem – adolescente grávida – está propensa tanto a sair do ambiente escolar quanto a retornar aos estudos e aos projetos de empregabilidade.
Projeto: Reprodução e projetos de vida na adolescência contemporânea: a gravidez na adolescência preocupa o professor? Coordenadora: Keila Deslandes Modalidade: Demanda Universal Valor: R$ 10.808
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Engenharia
Uso de quartzito como agregado do concreto amplia possibilidades e reduz impactos da mineração Virgínia Fonseca
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A referência pode ser bíblica, vir dos contos infantis ou ser resultado da experiência e da sabedoria popular. O fato é que a máxima está no imaginário coletivo: uma edificação, para ser resistente, precisa ter em sua base a solidez da rocha. A teoria é corroborada pela ciência, que em diversas vertentes se empenha na busca pelos materiais mais apropriados e sua melhor aplicação no ramo da construção. Se a pesquisa sobre a utilização de determinado material puder, ainda, resolver outra situação que gera impacto socioambiental, tanto melhor. Este é o cenário de trabalho desenvolvido por professores da Fundação de Ensino Superior de Passos (Fesp), braço da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) no sudoeste mineiro. Os pesquisadores estudam o uso, como agregado do concreto na construção civil, do quartzito, pedra existente em abundância na região e cuja exploração gera o descarte de grande quantidade de rejeitos no ambiente. A proposta é conduzida pelos professores Eduardo Goulart Collares, diretor de pós-graduação, pesquisa e extensão da Fesp, e Ivan Francklin Junior, coordenador do curso de Engenharia Civil da instituição. Minas Gerais é hoje o principal produtor de quartzito do país. Conhecido como “pedra mineira”, “pedra São Tomé”, “pedra Itacolomi”, ou, simplesmente, “pedra de piscina”, o material é muito usado, na construção civil, como revestimento. O processo de extração, entretanto, gera grande quantidade de rejeitos, mesmo nas minerações que exercem sua atividade de acordo com determinações explicitadas em relatório aprovado pelos órgãos ambientais. Para sua finalidade de acabamento, o quartzito deve ser extraído em placas com padrões de espessura e comprimento. Assim, todo o material retirado que não obedece aos parâmetros de comercialização é descartado nas pedreiras, ocasionando problemas para os empreendedores e impactos para o meio ambiente. Do total do material desmontado, cerca de 90% é considerado rejeito. Foi a constatação dessa realidade que motivou o início dos trabalhos na Fesp. “Tive a oportunidade de visitar algumas pedreiras e pude perceber a quantida-
de de material de desmonte que se destina ao bota-fora”, lembra Collares. Diante disso, o professor sugeriu ao então graduando de Engenharia Civil Ivan Francklin Junior a realização de testes com o material, comparando-o com os agregados de concreto (brita) usuais na região. Os bons resultados acabaram originando outros trabalhos de iniciação científica, a dissertação de mestrado de Francklin Junior na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e seus atuais estudos de doutorado na Universidade de São Paulo (USP).
Feito para durar O quartzito é uma rocha metamórfica, derivada, comumente, do arenito. Sua composição mineralógica básica é o quartzo, geralmente superior a 95%, além de micas (muscovita) e minerais acessórios. Apresenta foliação – planos paralelos, semelhantes a “folhas” –,característica que permite a ele ser considerado bom material de revestimento na construção civil. O emprego como agregado do concreto, por sua vez, não é usual comercialmente. Collares volta ao conceito popular para explicar o uso dos materiais agregados. “Quando se prepara o concreto para construir uma edificação, planeja-se que ele seja ‘firme como uma rocha’. O agregado ou brita é constituído, simplesmente, por fragmentos de rocha e tem a função de exercer esse papel, como componente do concreto”, detalha. O material é responsável por 60% a 80% do volume da mistura e pode exercer influência sobre a sua resistência mecânica, estabilidade dimensional e durabilidade. Quanto mais homogêneo, duro e resistente for o mineral, melhor seu aproveitamento como agregado. As rochas mais apropriadas para essa finalidade são, segundo o professor, as magmáticas e algumas metamórficas, como granito, granodiorito, diabásio e gnaisse. Para avaliar a possibilidade de uso de um material como agregado, é preciso analisar uma série de características, ligadas ao resultado da mistura obtida quando produzido o concreto. Nesse caso, são avaliadas as propriedades do concreto nos estados fresco (fluído) e endurecido. Uma das mais relevantes é a resistência, em vá-
O que é... Rocha metamórfica: derivada da transformação de rochas magmáticas ou sedimentares. Essa modificação de composição pode ocorrer quando o ambiente em que está inserida possui condições de pressão e temperatura diferentes daquelas onde originalmente se formou. Exemplos: Mármore, ardósia, quartzito, gnaisse e pedra-sabão. Rocha sedimentar: constituída a partir de sedimentos – partículas de rocha, lama, matéria orgânica – que se acumulam em um local e, ao longo do tempo, sofrem compactação e se transformam em rocha. Exemplos: Arenito, calcário, conglomerado, dolomita e travertino. Rocha magmática (ígnea): origina-se no interior da Terra, a partir da solidificação do magma. Constitui a base rochosa dos continentes, é muito resistente e está entre as mais antigas. Formam-se também quando ocorrem erupções vulcânicas. Exemplos: Granito, basalto, gabro, diorito e riólito.
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Fotos: Rosana Cristina
Extração do quartzito para uso como pedra decorativa gera grande quantidade de rejeitos
rios aspectos: à compressão, à abrasão e ao impacto, dentre outras possibilidades. A forma também é importante, pois possibilita ter mais brita na relação agregado/ cimento em um concreto e, assim, melhorar a solidez. Outro ponto importante é a alterabilidade (potencial de desagregação), já que o material estará exposto ao tempo e aos agentes intempéricos, como chuva, vento e grandes variações de temperatura. Ao utilizar agregado que não apresenta bons índices com relação às propriedades mencionadas, perde-se em resistência – imediatamente ou no futuro – e, assim, o concreto não cumprirá o seu papel de “imitar a rocha”. Existem normas técnicas e recomendações para uso de materiais como agregado, considerando essas e outras características. Foi com base nesses padrões que a equipe de Collares e Francklin Junior analisou amostras de quartzito de várias minerações do sudoeste do estado. “O ideal é que os valores obtidos nos ensaios atinjam pelo menos os limites mínimos”, aponta o coordenador de curso.
Análise rigorosa
No primeiro momento, os pesquisadores visitaram 13 minerações de cinco cidades do sudoeste mineiro: Alpinópolis, Capitólio, São José da Barra, São João Batista do Glória e Guapé. Após exame preliminar, que envolveu verificação de aspectos litológicos e testes de resistência, foram escolhidas cinco minerações – uma em cada município – para estudo mais aprofundado. “A análise inicial nos possibilitou distinguir ao menos dois grupos litológicos de quartzitos, que passamos a
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chamar tipo 1 e tipo 2. O primeiro, bastante foliado, já é usado como pedra de revestimento. O tipo 2, mais maciço, geralmente é desmontado e jogado no bota-fora, sem fins comerciais”, detalha Collares. Esse último constituiu, efetivamente, o objeto principal da pesquisa. Em seguida, os engenheiros realizaram dois tipos de análises: no agregado do quartzito ocorrente nos bota-foras das cinco minerações selecionadas e nos concretos produzidos com estes agregados. Para realizar os testes, os pesquisadores observaram critérios de referência da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Na avaliação do agregado, foram aferidas propriedades físicas, como massa específica, porosidade e absorção de água, além de aspectos relacionados à forma e à alterabilidade – nesse caso, por meio da exposição a ciclos alternados de imersão em água e secagem em estufa. Também foi mensurado o quesito resistência, sob três aspectos: à abrasão, ao esmagamento e à compressão. Para avaliação do comportamento do concreto no estado fresco e endurecido, a equipe observou características relacionadas à trabalhabilidade; à resistência – aqui, quanto a compressão, tração, módulos estáticos de elasticidade e de deformação – e à reação álcali-agregado. Essa última diz respeito aos efeitos químicos que envolvem os hidróxidos alcalinos provenientes, principalmente, do cimento e de minerais reativos presentes no agregado usado na mistura. Como consequência, podem se formar produtos que, na presença de umidade, são capazes de se expan-
Fotos: Rosana Cristina
Testes do concreto obtido em estado endurecido...
e fresco apresentaram bons resultados
Material acumulado nos bota-foras modifica a paisagem das regiões mineradoras
dir, gerando fissurações e deslocamentos e comprometendo as estruturas de concreto.
Aprovado pela ciência Os resultados de caracterização dos agregados de quartzito, de maneira geral, foram bastante satisfatórios em comparação à brita convencional, aos índices apresentados por modelos acadêmicos de referência e aos parâmetros estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Os ensaios realizados com as amostras dos bota-foras apontaram que elas atendem às recomendações para uso como agregado, classificando-se com nível ‘bom’ ou ‘excelente’ nos critérios verificados”, conta Francklin Júnior. Nenhuma das amostras manifestou presença de minerais expansivos e não houve degradação no ciclo água-estufa. Quanto à reatividade álcali-agregado, verificou-se alguma potencialidade de reação com determinados tipos de cimentos, mas sem que isso representasse impeditivo para uso
do material. “Neste caso, recomendam-se métodos preventivos, como a impermeabilização da estrutura e o uso de cimentos com baixo teor de álcalis e com adições”, explica o professor Francklin. Ele ressalta que estudos aprofundados, a partir de outros métodos de avaliação, devem ser realizados para conclusão quanto a esse aspecto. A coesão, a consistência e a homogeneidade dos concretos no estado fresco foram bem avaliadas. Os pesquisadores também identificaram o tipo ideal de britador a ser utilizado para obter grãos regulares, essenciais para produção de concretos de alta compacidade, comprovando a eficácia dos agregados de quartzito, quando processados em equipamento apropriado.
Concretizando possibilidades Na continuidade da pesquisa, os engenheiros trabalharão aspectos mais específicos, principalmente no que diz respeito às possíveis reações do agregado com o cimento. Com o aprofundamento dos es-
tudos e o apoio de instituições que contribuem para a movimentação da economia regional, a comercialização do mineral pode tornar-se economicamente viável e, com isto, contribuir para solucionar problemas sociais, econômicos e ambientais que atingem o setor minerário do Sudoeste de Minas Gerais, em especial no que se refere aos quartzitos. Os pesquisadores visualizam os benefícios provenientes do uso comercial do quartzito como agregado. Com o tempo, o descarte do material causa problemas como desconfiguração da paisagem, alterações no relevo, assoreamento dos corpos d’água, destruição da vegetação nativa. Assim, do ponto de vista ambiental, o uso alternativo do mineral contribuiria para reduzir os impactos ambientais negativos. “No que diz respeito ao aspecto econômico, o mercado passaria a oferecer um novo tipo rochoso para uso na construção civil, com custo mais baixo, uma vez que não demandaria os encargos necessários para a abertura de uma nova jazida”, antevê Francklin Júnior, para quem o novo foco poderia, até mesmo, revigorar as minerações, gerando novos postos de emprego e resgatando outros. Para que essas mudanças se concretizem, Collares defende a necessidade de mobilização social e política, além do acesso dos mineradores a oportunidades de realizar estudos específicos de seus materiais. “Uma de nossas propostas é criar, na Fesp, um centro tecnológico de pesquisas em materiais rochosos para construção civil. Assim, poderemos analisar e validar os produtos de cada mineração”, adianta. Os pesquisadores acreditam que pode ser esse o caminho para a certificação do material e seu consequente uso comercial, com toda a segurança exigida pelo mercado.
Projeto: Estudo da viabilidade de uso de rejeitos de minerações de quartzitos do sudoeste mineiro como agregado no concreto Coordenador: Eduardo Goulart Collares Modalidade: Demanda Universal Valor: R$ 49.442,62
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entrevista
O negócio da ciência
Vice-presidente de propriedade intelectual da Universidade Hebraica de Jerusalém, Renne Ben-Israel comenta o modelo israelense de transferência de tecnologia, baseado em pesquisa colaborativa Juliana Saragá
O planeta tem hoje cerca de sete bilhões de pessoas. Até 2050, estima-se que este número cresça para 9,4 bilhões de habitantes com necessidades de produtos e tecnologias inovadoras, capazes de facilitar a vida e auxiliar nos desafios deste “novo mundo” populoso. O Brasil possui 2,8% da população e 1,9% do PIB mundiais. Hoje, o país é a sexta economia do mundo, e, apesar da precariedade da educação e do ainda tímido investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), detém 2,7 % da produção de artigos científicos – apesar de apenas 0,2% das patentes internacionais serem registradas como brasileiras. Isto significa que pouco de nosso conhecimento é transformado em produtos. Neste contexto, os países que mais investiram em CT&I foram os que mais avançaram economicamente. Potências mundiais investem recursos da ordem de 3% de seu PIB no setor. Estão no topo do ranking Japão (3,44%), Coreia (2,80%), EUA (2,68%), China (1,49%) e Brasil (1,13%), empatado com a Rússia. O debate em torno da Ciência, da Tecnologia e da Inovação como pilares geradores de negócios encerrou a primeira edição do Ciclo de Palestras Internacionais, promovido em 2012 pela FAPEMIG. Quem falou sobre o assunto com grande propriedade foi Renee Ben, vice-presidente da Yissum (www.yissum. co.il), a Companhia de Transferência Tec-
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nológica da Universidade Hebraica de Jerusalém. Na ocasião, ela apresentou o modelo de transferência de tecnologia aplicado na instituição, que se baseia em pesquisa colaborativa. Nesse modelo, a demanda pela pesquisa vem das empresas e a Yissum negocia e faz a intermediação entre universidade, pesquisadores e empresários. A atividade da companhia consiste em identificar os projetos com potencial econômico, proteger as invenções por meio de patentes ou outros meios e criar o modelo de negócios para comercialização. “Israel é hoje um dos maiores depositantes de patentes do mundo. Isso só se tornou possível porque, desde a década de 1960, temos políticas de apoio favoráveis”, ressaltou. A vice-presidente lembra que, antes da implementação do modelo, as aplicações de patente eram de propriedade do governo, ficavam paradas e não se tornavam produtos. A Universidade Hebraica conta, hoje, com mais de 27 mil estudantes, 300 pesquisadores, 1.600 pós-graduandos em biotecnologia, 100 centros de pesquisa, um terço do total da pesquisa acadêmica científica de Israel e mais de 60 patentes depositadas anualmente. Desde sua fundação, foram mais de sete mil patentes e duas mil invenções registradas. Por trás deste sucesso, há uma filosofia: numa universidade, recrutam-se pesquisadores para ensinar, estudar e promover
Foto: Ilan Bessor
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“É difícil conseguir estimular uma empresa a assumir os riscos do desenvolvimento de um novo produto, baseado numa pesquisa em nível de bancada universitária, sem proporcionar-lhe vantagem competitiva. Esta vantagem será, em geral, a possibilidade de receber direitos exclusivos à tecnologia, por meio das patentes licenciadas”
o progresso da ciência através de suas publicações. Ou seja: eles não são contratados para inventar. Por meio da pesquisa é que se chega às invenções, que podem ter grande potencial econômico. Entre os fatores que levaram ao sucesso da Yissum, Renne Ben-Israel aponta a excelência de seus pesquisadores, o ambiente favorável no Estado de Israel, a visão da universidade quanto às metas estabelecidas para a Instituição, o trabalho intensivo e “um pouco de sorte”. Na oportunidade do evento, Renne contou à MINAS FAZ CIÊNCIA um pouco desta experiência de trabalho, dos desafios e do sucesso do modelo israelense de transferência de tecnologia. Como funciona e quais os desafios da pesquisa colaborativa? Pesquisa colaborativa é o nome geral que damos à pesquisa realizada entre instituições. Na maior parte dos casos, terá caráter complementar ou estratégico. Quando a relação é entre instituições acadêmicas, os desafios serão mais no âmbito da propriedade intelectual. Daí o surgimento de questões como: “Quem será o proprietário da patente?” “Quais os direitos das partes?” Porém, quando o acordo é realizado entre uma instituição acadêmica e uma empresa, além da questão da propriedade dos resultados da pesquisa, os desafios podem ocorrer a partir do uso dos laboratórios acadêmicos para fins alheios ao currículo e ao programa de pesquisa original – e, também, do envolvimento do pesquisador, de sua atenção, de seu tempo, do incentivo financeiro que recebe, entre outros fatores. Por esse motivo, os contratos precisam ser delineados com muito cuidado. O modelo funciona bem em Israel. A senhora acha que a pesquisa colaborativa teria sucesso nos países em desenvolvimento, como o Brasil? Não vejo por que não. É uma questão de maturidade das instituições e do reconhecimento da contribuição que o modelo pode trazer ao país. Obviamente, a parte regulatória é de suma importância. Por um lado, os contratos devem permitir a prática da atividade de pesquisa sem
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muitos entraves. Por outro, devem proteger as instituições. Como fica a questão social – ou a criação de produtos que solucionem problemas sociais –, já que as patentes de medicamentos, por exemplo, beneficiam apenas quem tem condições de comprá-los? A questão é delicada. É difícil conseguir estimular uma empresa a assumir os riscos do desenvolvimento de um novo produto, baseado numa pesquisa em nível de bancada universitária, sem proporcionar-lhe vantagem competitiva. Esta vantagem será, em geral, a possibilidade de receber direitos exclusivos à tecnologia, por meio das patentes licenciadas. É preciso entender que a empresa, no momento em que recebe os direitos de exploração comercial, tem como objetivo o desenvolvimento do produto para seu proveito, o que pode, eventualmente, deixar de lado os menos favorecidos. Neste caso, acho importante salientar a iniciativa da Association of University Technology Managers (AUTM) – instituição norte-americana que possui membros em todo o mundo, inclusive brasileiros – chamada Nine points to consider when licensing university technology. A entidade recomenda que o direito proprietário da instituição acadêmica seja usado para beneficiar populações necessitadas. É algo que a universidade, como detentora da propriedade intelectual, pode requerer na negociação de um contrato comercial. O governo é um agente que entrava a chegada de produtos patenteados ao mercado? Não necessariamente. A questão está ligada às políticas de cada governo. Mas qual seria o papel ideal dos governos nesse processo? Não estou no papel de dar recomendações a governos. Mas, no momento em que as instituições acadêmicas e comerciais chegaram a certa maturidade e querem trabalhar em conjunto, só resta ao governo estimular este intercâmbio. Em geral, entendemos “estimular” como
sinônimo de criar um ecossistema de suporte, ou seja, proporcionar boa infraestrutura legal, financeira, tecnológica, oferecer premiações a resultados de excelência. Dialogar e facilitar, enfim, a articulação entre as partes.
Vocês dão prioridade às parcerias nacionais? Sim, mas não necessariamente. A não ser que haja obrigação contratual (fundos governamentais, por exemplo). Procuramos a parceria mais adequada.
Em sua palestra, a senhora mencionou que uma das estratégias para que o modelo de pesquisa colaborativa dê certo é a regulamentação universitária. Fale-nos sobre ela. A regulamentação universitária proporciona a base que determina claramente os direitos e obrigações das partes. Determina, por exemplo, a obrigação do relato de invenção à Yissum, os prazos máximos para decisões, a percentagem a ser recebida por um sucesso comercial, um conjunto de regras, enfim, que abrange toda a atividade e estipula os deveres e direitos do pesquisador, da Universidade e da Yissum.
Como funciona o processo de transferência de tecnologia no modelo adotado? A Universidade recebe fundos (75% do Estado) e efetua pesquisa científica. A Yissum tem direito aos resultados da pesquisa e prospecta ativamente os laboratórios, para identificar os que considera viáveis e passíveis de comercialização. Além disso, protege-os, através de patentes ou outros meios, e busca parcerias para contrato de licenciamento, pelo qual outorga à companhia os direitos de exploração comercial para desenvolver e criar um produto a ser eventualmente vendido no mercado. O contrato vai estabelecer marcos na pesquisa, pagamentos, gestão da propriedade intelectual licenciada ou futura e percentagem dos royalties a serem pagos pela companhia à Yissum. Outros modelos incluem a criação de spin-offs, participação em incubadoras tecnológicas etc.
O pesquisador não se sente engessado com tal regulamentação? É possível que sim. Assim como qualquer um de nós pode sentir-se “engessado” com seu contrato de trabalho, que lhe proporciona um mês de férias, e não três. A regulamentação que determina a atividade de transferência de tecnologia é uma dentre diversas outras. E faz parte do compromisso contratual. Quais os desafios do desenvolvimento de pesquisa “encomendada”? O pesquisador sente-se pressionado com prazos, contratos etc.? Como vocês lidam com a questão? A questão não é a pesquisa “encomendada”. Todo contrato que tenha um plano de pesquisa terá prazos, limitações etc. Aliás, ninguém vive numa ilha paradisíaca, sem limitações. Toda pesquisa, inclusive a universitária, tem prazos, orçamentos, recursos humanos, equipamentos. No caso de um contrato comercial, cabe à Yissum lutar e negociar para que o mesmo não contradiga a regulamentação universitária e a liberdade acadêmica. É preciso trabalhar com o pesquisador para que os compromissos assumidos possam ser cumpridos de maneira efetiva.
Comente o “vale da morte”. Como vocês lidam com essa fase? Há alguma estratégia? É inevitável lidar com esta fase. Caso contrário, não encontraremos parcerias para nossos projetos. Lidamos com esta etapa por meio da participação em diversos programas governamentais que proporcionem fundos, em programas das indústrias e, também, com investimento próprio. Tudo isso para tentar driblar esta fase e torná-la comercialmente mais atraente. Como funciona a divisão dos royalties da patente obtida? Por regulamentação universitária, os royalties das patentes com sucesso econômico são distribuídos da seguinte maneira: 40% para os pesquisadores; 20% para os laboratórios e 40% à Universidade. A Yissum fornece crédito para cobrir despesas e investir em futuros projetos.
“Todo contrato que tenha um plano de pesquisa terá prazos, limitações etc. Aliás, ninguém vive numa ilha paradisíaca, sem limitações. Toda pesquisa, inclusive a universitária, tem prazos, orçamentos, recursos humanos, equipamentos”
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entomologia
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Virgínia Fonsec
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O prédio original da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (1708), conta a história, foi erguido por escravos que trabalhavam à noite e levavam, sob as unhas e nos cabelos, ouro roubado de seus senhores para adornar o templo. A Matriz de Santo Antônio (1710) é considerada uma das igrejas brasileiras com maior quantidade do raro metal. Construída com o apoio da Irmandade do Santíssimo Sacramento, recebeu auxílio financeiro da Coroa Portuguesa para finalização das obras e possui, além dos altares, todo o teto pintado em ouro, doado pelos mineradores da época. Já a presença de pepitas do tamanho de grãos de milho deu origem ao nome da Capela de Santo Antônio do Canjica (1702). A cidade de Tiradentes, na região de Campos das Vertentes, é pródiga em narrativas que remontam ao passado colonial do país e ao auge do Ciclo do Ouro. Situada na rota da Estrada Real, conserva, na arquitetura dos casarios e das igrejas, traços de uma época em que a exploração aurífera fez de Minas um lugar rico em ideais e bens materiais. Parte desse cenário, em diversas cidades históricas mineiras – e brasileiras –, encontra-se, porém, sob ameaça de um inimigo “quase” invisível. Estudos realizados por uma equipe da Universidade Federal de Viçosa (UFV) mostram vasta presença de pragas destruidoras de madeira nas centenárias igrejas que constituem o patrimônio histórico nacional. Coordenados pelo professor Norivaldo dos Anjos, que desde os anos 1980 realiza pesquisas sobre o tema, os trabalhos já possibilitaram identificar riscos à integridade de bens imóveis em cidades como Ouro Preto, Diamantina e Serro. No segundo semestre de 2011, foi concluído o relatório sobre Tiradentes, como parte do pós-doutorado da engenheira florestal Carolina Rocha da Silva. Segundo considerações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), ao lado de infiltrações e problemas estruturais, os insetos xilófagos estão entre os principais agentes de deterioração das edificações da herança cultural brasileira. Com a importante ressalva de que a maioria das construções
do período colonial possui estrutura de madeira – material também presente nas mais significativas obras do interior das edificações, a exemplo de talhas, painéis, mobiliário, esculturas e outros bens integrados ou móveis. Some-se a isto o clima tropical do país, propício ao desenvolvimento não só de grande variedade de insetos, mas também de diversas espécies de microrganismos. A proposta dos pesquisadores é ampliar o conhecimento sobre os xilófagos na região do Caminho Velho da Estrada Real – trecho mais antigo do trajeto, que liga Ouro Preto a Paraty (RJ) –, começando por Tiradentes, com a finalidade de conservar e proteger o patrimônio. “Desejamos que esses dados possam ser úteis aos programas dos governos federal e estadual para liberar recursos aos municípios ou órgãos responsáveis pelos bens, de forma que possam ser reformados e restaurados”, justifica Carolina. Os levantamentos confirmaram a presença de insetos em todos os patrimônios avaliados na cidade mineira, apontando, de fato, a necessidade de intervenção com vistas à preservação de edificações e elementos históricos de grande relevância para a memória do país.
À procura do inimigo
Os estudos em Tiradentes tiveram início em agosto de 2010, com a participação da pesquisadora Carolina Rocha da Silva, auxiliada por estudantes de iniciação científica do Laboratório de Insetos Xilófagos da UFV, sob orientação do professor Norivaldo dos Anjos. Foram avaliadas seis igrejas e capelas de importância histórica para o município: Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Matriz de Santo AnSão aqueles que se alimentam de madeira ou, mais precisamente, de um de seus constituintes, a celulose. Pertencem a esse grupo as traças, as baratas, os cupins e os carunchos, sendo os dois últimos os mais importantes, do ponto de vista dos danos causados a edificações e monumentos históricos. (Leia mais no box à página 27.)
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tônio, Igreja de São João Evangelista, Capela de Santo Antônio do Canjica, Nossa Senhora das Mercês e Santuário da Santíssima Trindade. Assim como nas demais cidades onde já houve o levantamento, o primeiro passo foi a aplicação de um questionário para avaliar o grau de conhecimento dos responsáveis pelas edificações em relação aos insetos xilófagos. Além do tempo de trabalho da pessoa no imóvel, buscou-se identificar as partes construídas em madeira e investigar a presença de fatores físicos (como a umidade) capazes de acelerar a degradação, o conhecimento dos zeladores sobre insetos xilófagos, o histórico do controle de pragas, e, por fim, os prejuízos acarretados pelos “pequenos invasores”. Também se pesquisou a realização de reformas no patrimônio. “Em caso afirmativo, procurávamos verificar o tipo de madeira utilizada e saber se o material
havia recebido tratamento. Isso possibilita avaliar a qualidade do serviço prestado e a perenidade da reforma”, explica Norivaldo. Em seguida, os pesquisadores realizaram detalhada inspeção visual dos imóveis e de todo o acervo, para promover a coleta de insetos e verificar o real estado de conservação do patrimônio. A mesma investigação foi feita nas redondezas das edificações, pois, segundo o professor, a técnica de inspeção visual é suficiente para o satisfatório levantamento de ataques por insetos. As amostras coletadas seguiram, então, para identificação no Laboratório de Insetos Xilófagos do Departamento de Entomologia da UFV.
Vista da balaustrada do coro, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
No Santuário da Santíssima Trindade, detalhe do Arco do Cruzeiro
Confessionários e outros representativos móveis em madeira são alvo da ação dos xilófagos
Peças do telhado das construções também são afetadas pela presença dos insetos
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Conhecer para combater
Em Tiradentes, a maior parte das igrejas ainda guarda suas características da época da construção. Muitas assumem papel importante para a população local, não apenas pelo contexto histórico, mas por terem se tornado
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alguns dos principais pontos turísticos da região. Os pesquisadores inferiram que todos os patrimônios religiosos avaliados estão sendo deteriorados pela presença dos insetos. Mesmo em templos reformados há menos de 10 anos, como é o caso da Matriz de Santo Antônio – que passou por revitalizações entre os anos de 2001 e 2005 –, há presença de madeira infestada por pragas nos compartimentos examinados. Os dois principais grupos de xilófagos foram detectados danificando peças de madeira (estruturais ou artísticas) das igrejas: “Os insetos pertencentes a estes grupos são da ordem Isoptera, que compreende os cupins, e da ordem Coleoptera, na qual estão os carunchos”, detalha Norivaldo. Os insetos mais encontrados foram o cupim-de-madeira-seca, o cupim-de-solo e algumas espécies de carunchos, como o besouro-de-casa-velha. “Dentre esses, o Cryptotermes brevis, ou cupim-de-madeira-seca, pode ser considerado o vilão dos patrimônios históricos, devido a seu poder de degradação intensa e silenciosa”, comenta o professor. “É necessário intervir nestes patrimônios, de forma incisiva, para combatê-los”, avalia. Durante a vistoria, os pesquisadores também tiveram o cuidado de mostrar aos zeladores os indícios de ocorrência das pragas e, quando possível, os próprios insetos. “Sempre procuro alertar que há necessidade de intervenção toda vez que encontrá-los no ambiente. Assim, quem não os conhece passa a conhecê-los e fica Fotos: Carolina Rocha da Silva
Diamantina, Ouro Preto, Serro, Roças Novas... Os pesquisadores da UFV já desenvolveram estudos em várias cidades históricas mineiras, assim como em outros Estados, a exemplo das ações no Pelourinho, em Salvador (BA). Segundo Norivaldo, no geral, pode-se dizer que o patrimônio nacional sofre constante deterioração por parte dos insetos xilófagos. Não é raro encontrar arte-
timentos governamentais na preservação. Segundo o Iepha, a quantidade de recursos disponíveis para as políticas de conservação, de fato, fica aquém da demanda, o que faz com que sempre exista alguma edificação em estado de maior atenção. Tal realidade torna ainda mais relevantes os trabalhos científicos na área, uma vez que é necessário definir prioridades para ações pontuais e, ao mesmo tempo, buscar subsídios para a estruturação de políticas que possibilitem a atuação contínua. O responsável técnico por restauro e conservação da Superintendência do Iphan em Minas, Antônio Fernando Batista dos Santos, pondera que iniciativas como a do professor Norivaldo são de fundamental importância para a preservação do patrimônio cultural brasileiro. “O diagnóstico e o mapeamento da ocorrência da atuação dos insetos nas edificações mineiras são essenciais para uma intervenção de restauro adequada”, reafirma.
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Cupim-de-solo (Nasutitermes sp)
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Em nome da história
Vigilância
fatos históricos praticamente irrecuperáveis devido à ação desses organismos. Em outros casos, a peça atual não tem nada a ver com a original, tal a transformação devido ao restauro de algo repetidamente degradado. Quando se trata de registros escritos, a situação é ainda mais complicada, pois o que se perdeu jamais será resgatado. “É necessário que se amplie a fiscalização referente aos insetos. Também há que se demandar profissionais com competência técnica para resolver estes problemas junto a restauradores, historiadores e engenheiros”, recomenda. Além do monitoramento periódico e da capacitação dos responsáveis pela manutenção dos bens, o professor defende o incentivo às pesquisas, que ajudariam a demonstrar qual a real situação dos imóveis e, ao mesmo tempo, aumentariam o número de profissionais qualificados no mercado. Ele também aponta a necessidade de aumentar os inves-
Fotos: Carolina Rocha da Silva
atento aos problemas que podem causar”, diz Carolina. Até mesmo na Capela de Santo Antônio do Canjica, reformada em 2010 devido a danos causados por insetos xilófagos no piso e no telhado, os pesquisadores detectaram a presença das pragas em certos pontos. Carolina Rocha alerta que a restauração é o primeiro passo para a preservação dos bens culturais. Não se pode esquecer, porém, a necessidade de realizar monitoramento constante das obras. “Esse acompanhamento irá alertar sobre o dano quando ainda for passível de conserto, já que, em se tratando de insetos xilófagos, quanto mais cedo for detectada sua presença, mais eficaz é o controle, o que evita a reposição de peças”, ressalta. No caso da capela, com o objetivo de garantir a vida útil da reforma, foi recomendado o tratamento imediato dos locais infestados, para evitar que os insetos se proliferem e danifiquem a parte de madeira recém-trocada. A realização das vistorias, nos patrimônios religiosos de todos os municípios já contemplados, recebeu autorização das paróquias envolvidas. No caso de Tiradentes, Norivaldo conta que houve grande interesse da arquidiocese pelo levantamento, visto que as edificações avaliadas têm previsão de passar por restauro. Assim, para as igrejas locais, confeccionaram-se relatórios individuais – contendo a listagem de insetos xilófagos identificados em cada edificação –, entregues à diocese e ao escritório local do Iphan. “Observamos que, em vários locais visitados, a população mostrou-se agradecida pela realização do levantamento. Afinal, para eles, isto significava que alguém olhava pelo patrimônio. Ampliou-se, assim, a esperança de as obras ocorrerem”, relata o professor.
Caruncho (Tricorynus herbarius - família Anobiidae)
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Projeto: Levantamento dos insetos xilófagos no patrimônio histórico da cidade de Tiradentes-MG, pertencente ao caminho velho da Estrada Real Coordenador: Norivaldo dos Anjos Silva Modalidade: Bolsa de pós-doutorado Valor: R$ 45.360 MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/NOV 2012
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enfermagem
Perigo insone Estudo desenvolvido por pesquisador da Escola de Enfermagem da UFMG revela que trabalhadores noturnos estão mais suscetíveis a problemas cardiovasculares Maurício Guilherme Silva Jr.
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Responsável pela segurança das mais de 200 pessoas que, noite a noite, cumprimentavam-no no hall do grande edifício, ele sempre se achava meio “sem lugar”. Conhecedor dos costumes daqueles a quem precisava proteger, mantinha-se atento a todo pequeno vestígio de problema. Afinal, para revelar sua imprevisível “face”, o perigo tende a aproveitar, justamente, a escuridão da madrugada. Porteiro há exatos cinco anos, Elias Sodré lembra-se com reservas – e sem saudade – do período em que cumpria escala de trabalho das 19h às 7h. Além da tensão quanto aos imprevistos da penumbra, o profissional sentia grande dificuldade para controlar o sono e, como antídoto à constante ansiedade, passara a comer muito mais do que o habitual. Ainda funcionário no mesmo prédio – mas, agora, em escala diurna –, Elias é certeiro ao identificar os efeitos da antiga jornada sobre a saúde de seu corpo: “Durante mais de um ano, saí do expediente às 7h. Quando chegava em casa, conseguia dormir, no máximo, até meio-dia. Por isso, não era possível recuperar o sono perdido ao longo da noite. Como resultado, passava muito mais tempo gripado e com baixa imunidade”. A constatação pessoal do atencioso porteiro – sempre preocupado com o bem-estar dos moradores sob sua responsabilidade – vai ao encontro dos resultados de estudo desenvolvido, entre 2009 e 2011, na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pelo pesquisador Adriano Marçal Pimenta, hoje professor do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da instituição. A investigação de Pimenta – que contou com financiamento da FAPEMIG – confirmou certa máxima já apregoada por uma série de pesquisas internacionais: trabalhar à noite representa importante fator
de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas. “Isso por que o organismo funciona segundo o ciclo circadiano. Ou seja, o corpo alterna momentos de maior e menor atividade. Como resultado do trabalho de neuro-hormônios, o sistema cardiovascular foi programado para diminuir sua ação no período noturno e aumentar no diurno”, explica o professor, ao comentar que os trabalhadores “da madrugada” não contam, justamente, com a necessária e significativa diminuição do processo de funcionamento do coração: “Se tal regime de trabalho é mantido por muitos anos, o ciclo circadiano do indivíduo pode se desrregular, aumentando o risco de eventos cardíacos”.
Hipóteses objetivas
Além de estimar a relação entre turno de trabalho e iminência de problemas cardiovasculares, o estudo coordenado por Adriano Marçal buscou identificar a influência do estresse e da jornada profissional sobre o funcionamento do coração. Atentos a tal tríade de fatores, os pesquisadores seguiram à construção da hipótese central da investigação, que acabou por se revelar bastante clara e objetiva: trabalhar em excesso, à noite e em condições estressantes aumenta significativamente a possibilidade de problemas no órgão vital.
Desde 2001, quando se vinculou – como bolsista de iniciação científica, financiado pela FAPEMIG – ao grupo de pesquisa do professor Jorge Gustavo Velásquez Meléndez, também do departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, Adriano Marçal Pimenta investiga a epidemiologia das doenças crônicas e agravos não transmissíveis. O projeto sobre a relação entre a natureza das atividades profissionais e o risco de problemas cardiovasculares surgiria a partir das hipóteses levantadas no período em que realizava mestrado na Universidade. A temática, ainda hoje incipiente no Brasil, seria amadurecida, anos mais tarde, em seu estágio sanduíche de doutorado, já na Universidad de Navarra, na Espanha.
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Realizada a partir de entrevistas e exames com funcionários diversos do campus Saúde da UFMG – profissionais de limpeza, motoristas, seguranças, professores e servidores técnicos e administrativos –, a pesquisa não limitou seu público-alvo em virtude da hipótese preconcebida pelo projeto. “Se trabalhássemos com grupos homogêneos, os fatores de exposição poderiam ser muito semelhantes e não teríamos como realizar comparações”, esclarece Pimenta. Profissionais de saúde – entre os quais, médicos, enfermeiros, psicólogos, odontólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e de laboratório – também foram entrevistados pelos pesquisadores. “Não houve, contudo, motivo específico que justificasse essas entrevistas. A grande relevância de sua participação disse respeito às atividades noturnas que desempenham”. Ao todo, 211 voluntários participaram da pesquisa. Além de responder a questionários, todos passaram por exame físico, para aferição de seus níveis de pressão arterial e checagem das medidas antropométricas (veja box). “Ao término do estudo, encaminhamos os participantes a um laboratório de análises clínicas para dosagem sanguínea de colesterol total e de frações, triglicérides e glicose”.
Hipertensão
Em 2005, quando da defesa de sua dissertação de mestrado – sobre fato-
res associados à hipertensão arterial em áreas rurais –, Pimenta atentara-se para o fato de que os homens apresentavam a mesma magnitude da doença do que as mulheres, porém, com perfil antropométrico caracterizado por menores prevalências de sobrepeso e obesidade. “À época, uma das hipóteses levantadas foi a de que as condições de trabalho teriam aumentado o risco de desenvolvimento de hipertensão entre os trabalhadores do sexo masculino e, ao mesmo tempo, protegido-os contra o sobrepeso e a obesidade”, afirma o professor, ao explicar, em suma, a origem acadêmica do estudo que viria a desenvolver a partir de 2009. Já dedicado à compreensão da relação entre condições de trabalho e funcionamento do sistema cardiovascular, o pesquisador investiria em comparações mais complexas, que apontavam, por exemplo, os efeitos nocivos da jornada profissional noturna. “Independentemente de profissão, hábitos alimentares, rotina de exercícios físicos, consumo de bebidas alcoólicas, renda, escolaridade, hipertrigliceridemia e obesidade, exercer atividades laborais à noite revelou-se fator sempre associado ao risco cardiovascular”, comenta. Ao elucidar que tal associação fora mensurada segundo o “escore de Framingham” – metodologia que leva em consideração elementos como idade do
paciente, sexo, hábito de tabagismo, presença de diabetes, assim como nível de pressão arterial e índices de colesterol total e HDL –, o pesquisador chega a uma das mais importantes comprovações de seu estudo: “Dentre tantos componentes, a pressão arterial foi a que mais sofreu influência do trabalho noturno”. Segundo dados da pesquisa, a prevalência de alto risco cardiovascular foi 67% maior entre profissionais que trabalham à noite, em comparação com os trabalhadores diurnos. Contudo, não só a atividade noturna deve ser associada ao elevado risco de distúrbios cardiovasculares. Outra importante conclusão da pesquisa refere-se aos perigos da alta exigência profissional: “O estresse no trabalho também está diretamente associado a problemas no coração”. Como resultados secundários do estudo, destaquem-se os fatos de que os hábitos alimentares dos trabalhadores entrevistados mostraram-se ruins – com alta ingestão de gorduras e baixo consumo de frutas, verduras e legumes –, assim como o sedentarismo é compartilhado por grande parte dos trabalhadores. “Além disso, muitos indivíduos apresentam doenças crônicas e agravos não transmissíveis, com destaque para hipertensão arterial, dislipidemias, obesidades global ou abdominal e síndrome metabólica”, conclui Pimenta. Foto: Marcelo Focado
Corpos em evidência No total, 28% dos entrevistados pela pesquisa apresentavam alto risco cardiovascular. Confira os principais índices detectados após os exames laboratoriais e antropométricos:
34,1% dos participantes possuíam obesidade abdominal 23,7% contavam com altos níveis de triglicérides (> 150 mg/dl) 55,4% apresentavam altos níveis de colesterol (> 200 mg/dl) 45,9% continha baixos níveis do HDL-c, o chamado “bom
colesterol” (> 40 mg/dl para homens e > 50 mg/dl para mulheres)
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Elias Sodré: aversão à escala noturna
Projeto: Condições de trabalho e suas relações com o elevado risco cardiovascular Coordenador: Adriano Marçal Pimenta Modalidade: Jovens Doutores Valor: R$ 24.478
agricultura
o veis são nsáveis á t n e r áveis e a UFU, respo d u a s , s d ais pura s avançados m s nitários a a t s a s o o d t u Bat fi t o de es ável de t d a n t e l t u s s u s re ntir uso a Ferraz r a g r William po Sabor de ascendência peruana, com uma pitada de tecnologia mineira: a descrição pode parecer estranha aos ouvidos, mas, com certeza, é bem familiar ao seu paladar. Seja frita, dourada e crocante, assada, recheada ou servida como primoroso complemento de saladas exóticas, em algum momento ela esteve em seu prato. A Solanum tuberosum, popularmente conhecida como batata inglesa – pela intensa prática de seu plantio entre as colônias britânicas no Brasil –, conquista paladares nos quatro cantos do mundo e invade os pratos das mais diversas tradições, sendo hoje o terceiro alimento mais consumido pela humanidade. O prazer gustativo, o baixo custo e a alta oferta de nutrientes da batata fizeram dela tão requisitada que se tornou impossível imaginar o mundo da gastronomia contemporânea sem sua existência. Em contrapartida a seu sabor amplamente apreciado, porém, o cultivo de batatas carrega consigo reputação infame, foco de polêmico debate em comunidades científicas de todo o mundo, devido a uma antiga questão: o vasto volume de agrotóxicos com os quais o vegetal é bombardeado. Alvo de variadas espécies de pragas, com limitada disponibilidade de alternativas para MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/NOV 2012
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“Hoje, graças a nossos estudos, agricultores podem explorar o potencial máximo de produção de suas lavouras, usando a dosagem mínima permitida de agroquímicos” João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha professor e pesquisador do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia
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a produção em larga escala que dispense o uso de pesticidas – o que se soma à sua alta demanda –, as lavouras se deparam com a problemática dos agroquímicos. “É de conhecimento da própria dona de casa que a batata é um alimento que recebe muitas aplicações de defensivos agrícolas”, comenta João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha, professor e pesquisador do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Com o propósito de modificar tal cenário, o professor criou a linha de pesquisa denominada Engenharia de Aplicação de Defensivos Agrícolas. Tendo por meta estabelecer estratégias de cultivo de batatas com menor exposição à agressiva reatividade dos defensivos agrícolas, João Paulo Cunha formou equipe de pesquisadores determinados a desenvolver soluções práticas e mais ecológicas para o obstáculo da conservação dos batatais. “A escolha da batata como objeto central da pesquisa se deu ante à importância do alimento na nutrição e na economia mundial, assim como à sua expressividade na produção rural de Minas Gerais, contrastando com a necessidade de tornar sua cultura mais sustentável e econômica”, explica. Hoje, graças ao empenho da equipe de especialistas, a realidade está mudando. “Há alguns anos, as lavouras de batatas recebiam volume de aplicações de agroquímicos bastante alto. Isso se devia ao despreparo operacional”, afirma, ao comentar, ainda, a instauração de um plano estratégico de produção, “com menor risco ao ambiente, ao operário e ao consumidor e capaz de gerar, ao mesmo tempo, rentabilidade para o produtor”, completa. Arrojado, o projeto envolveu comprometimento e trabalho árduo. O estudo – que se consolidou em 2005 com o subsídio concedido pela FAPEMIG – deu início a intensa pesquisa de campo nas fazendas do Triângulo Mineiro, com o objetivo de se investigar os reais impactos das aplicações de defensivos nas plantações. Segundo João Paulo, verificou-se que, atualmente, os fitossanitários apresentam toxicidade mais baixa. “O produto é seguro se a aplicação respeitar as devidas diligências. Por isso, garantir a
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capacitação técnica para manipulação destas substâncias era o critério principal da pesquisa”, argumenta.
Erros e prejuízos
Concentrada na manutenção dada aos produtos e equipamentos de aplicação usados nas fazendas, a equipe, inicialmente, estruturou um laboratório de inspeção das máquinas pulverizadoras. Durante as investigações, os cientistas constataram alto índice de inconformidades na conservação do maquinário – de entupimentos dos aplicadores e vazamentos nos reservatórios dos produtos ao uso de pontas de pulverização impróprias ao tipo de atividade exercida. “Situações do tipo levam ao consumo indevido dos agroquímicos, o que acarreta concentração dessas substâncias acima dos padrões em determinadas áreas e ausência de proteção em outras”, relata o professor. Como consequência, pode se desencadear uma gama de prejuízos, com contaminação do ambiente e da colheita, além de perda da produção, devido à distribuição irregular dos defensivos. Outra linha de pesquisas foi posteriormente iniciada pelo grupo, dessa vez determinada a avaliar a importância das pontas de pulverização na eficiência dos tratamentos. “Existem diversos modelos de bicos aplicadores voltados a diferentes objetivos. A escolha da peça adequada requer conhecimento muito específico. Percebemos, então, a necessidade de conceder fomento ao agricultor também nesse quesito”, diz João Paulo Cunha.
Os produtos aplicados nas lavouras popularizaram-se pelo nome de agrotóxicos. O professor João Paulo Cunha, contudo, explica que a palavra é tecnicamente questionável, mediante o sentido depreciativo que atribui aos produtos. Fitossanitários é um termo usado mundialmente para se referir aos defensivos agrícolas, visto que se trata de substâncias com propriedades sanitárias para preservação ou defesa dos vegetais.
Ambientes de pesquisa
Os estudos dividiram-se em dois diferentes “ambientes”. Durante os testes laboratoriais, adotou-se o método de difração de raio laser, para medir o espectro de gotas produzido por diferentes pontas de pulverização e mensurar a dispersão das gotas em razão da estrutura destas peças. Paralelamente, ministraram-se testes de campo, nos quais, ao aplicar uma espécie de corante com as mesmas propriedades de dispersão e aderência dos defensivos, examinou-se o comportamento do líquido em ambientes expostos a condições climáticas diversas. João Paulo Cunha explica que “a ponta determina o tamanho da gota. Se for muito grande, escorrerá da folha para o solo; se muito pequena irá se dispersar no vento, o que representa perda de material e dano para o ambiente. Ela é a chave do negócio, e sua avaliação requer análise técnica difícil de estabelecer sem ambiente de pesquisas adequado”. Nessa mesma fase, também foi testada a eficácia do uso de adjuvantes – aditivos químicos que têm por função suplementar os efeitos dos pesticidas, como dispersão e aderência –, bem como houve avaliação do percentual de água a ser adicionada. A combinação desses elementos resulta na calda, preparo que busca combinar valores ideais para a pulverização de defensivos nas lavouras.
Dicas aos agricultores
Ao fim dos testes, as conclusões técnicas dos pesquisadores conduziram
Foto: João Paulo Cunha
Detalhe de vazamento de produto fitossanitário em um pulverizador a campo
à criação de uma “diretiva operacional”, que leva ao conhecimento dos agricultores as especificações para o uso e manutenção dos equipamentos pulverizadores de maneira precisa e qualitativa. O trabalho resultou, ainda, em detalhada especificação quanto ao uso de pontas aplicadoras e suas propriedades, aplicação aérea ou terrestre, circunstâncias climáticas e outros fatores. Comprovou-se também que a introdução de adjuvantes nas caldas – respeitando determinadas limitações de dosagem – pode resultar em maior aderência e deposição de calda no alvo. “Os estudos nos permitiram desmistificar a pulverização aérea, tida por muitos como mais nociva. Esse método exige maior capacitação técnica. Entretanto, é importante frisar que toda forma de aplicação oferece riscos quando há imperícia. Eliminar estas imperfeições foi a missão de nosso trabalho”, conta João Paulo Cunha. As pesquisas em tecnologia de pulverização, que em 2010 renderam ao grupo de pesquisadores o Prêmio Anual Gerdau: Melhores da Terra – a mais importante premiação em Mecanização Agrícola da América do Sul –, culminaram com mais de 40 publicações em periódicos científicos, além de diversas obras técnicas, com destaque para o livro Manual de aplicação de produtos fitossanitários, lançado em 2010, e para um site gratuito, voltado à orientação a distância dos agricultores em geral: “Tudo isso é
extremamente significativo para a extensão do ensino, pois obras especializadas nesse assunto são, agora, parte do cronograma estudantil do cientista do campo”, destaca o pesquisador.
Outras culturas A excelência alcançada pelos trabalhos da equipe de João Paulo Cunha permitiu a ramificação dos resultados para outros tipos de cultivo. Por meio da mesma metodologia, pesquisas foram estendidas à cultura de soja, milho, sorgo e café. “Hoje, graças a nossos estudos, agricultores podem explorar o potencial máximo de produção de suas lavouras, usando a dosagem mínima permitida de agroquímicos,” explica Cunha. Sobre a transmissão de conhecimento aos produtores, o pesquisador reserva certo “toque instrutivo” a seu público, provando, aliás, ser fiel ao seu dever: “O agricultor tem de entender que não estabelecemos receita comportamental. Deve-se considerar que a situação varia muito, seja por região ou tecnologia disponível. O que oferecemos, em nossas obras, são embasamentos técnicos que servirão de referência à tomada de decisões”, adverte. Se você sempre acaba se entregando à sedução daquela batatinha frita, ou não consegue resistir ao aroma convidativo de um cremoso purê, acredite: esses pratos não teriam o mesmo sabor sem o empenho dos cientistas mineiros. Foto: William Ferraz
Professor João Paulo mostra como a correta seleção dos bicos de pulverização resulta em aplicação adequada e segura MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/NOV 2012
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HISTórIa
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Os livros de história nos contam que, por volta de 1701, o bandeirante João Leite da Silva Ortiz chegou por essas terras em busca de ouro e, aqui, encontrou belas paisagens e um clima excelente para a agricultura. Logo resolveu fixar-se e construiu a Fazenda do Cercado. Com a prosperidade do empreendimento, várias pessoas foram atraídas para a região, formando em volta um arraial, por onde passavam viajantes e tropas a conduzir gado da Bahia para Minas Gerais. A lavoura e a criação bovina impulsionavam o crescimento do que já se tornara um povoado. Com o declínio da mineração, as cerca de 30 famílias tornaram-se 18 mil habitantes. No mais, a região, antes conhecida como Serra de Congonhas, tornou-se Serra do Curral e o povoado originário acabaria batizado de Curral Del Rey. Assim se resume a trajetória que levou ao surgimento do que hoje é a capital de Minas Gerais. Importante ressaltar, contudo, que antes de o projeto da construção de Belo Horizonte ser executado, houve minucioso trabalho de mapeamento da área efetivamente abrangida pelo Curral Del Rey. Muito bem documentados, tais registros da história estão preservados, como verdadeira relíquia cultural, no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), que possui grande acervo cartográfico – capaz de remontar às características sociais e urbanas do então arraial entre os anos de 1893 e 1894. Nos últimos anos, a instituição identificou e recolheu os acervos documentais de valor permanente acumulados nos diversos órgãos municipais e tem promovido, gradativamente, seu arranjo, descrição, preservação e divulgação. Em meio a esse vasto e diversificado material, o conjunto dos registros produzidos pela Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) pode ser considerado como a documentação instituinte do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, por corresponder e revelar as atividades inaugurais de concepção e construção do município. O recolhimento da maior parte dos documentos ocorreu entre 1992 e 1993. Desde então, diversos projetos e atividades do APCBH têm se voltado à organização, conservação e difusão das importantes relíquias.
O Curral Del Rey estendia-se até as regiões de Sete Lagoas, Contagem, Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba, Brumado Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. Com o desenvolvimento do povoado, foram erguidas as primeiras escolas e os fiéis construíram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. A prosperidade no arraial, contudo, durou pouco. Fruto da autonomia das regiões que formavam o povoado, houve grande redução no número de habitantes, que chegou a 4 mil pessoas. Os pequenos pontos de comércio restantes forneciam, aos moradores, algum entretenimento.
De acordo com a historiadora Maria do Carmo Andrade Gomes, que dirigiu o APCBH entre 2005 e 2010, o desejo de reunir todo o acervo da CCNC deu origem ao projeto de digitalização dos documentos. A iniciativa reuniu as três instituições públicas detentoras dos documentos da Comissão – Arquivo Público Mineiro, Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte e Museu Histórico Abílio Barreto –, com o intuito de construir um banco de dados que reunisse o material disperso pelas três instituições, e que, posteriormente, pudesse ser oferecido à pesquisa pública via internet. Posteriormente, novo projeto produziu um catálogo específico da documentação cartográfica, com a descrição detalhada desses documentos.
Memória mapeada
Com a proposta de transferência da capital das Minas Gerais de Ouro Preto para o Curral Del Rey, foi necessário criar a Comissão Construtora da Nova Capital e,
primeira e detalhadamente, mapear toda a região, de modo a que pudesse ser feito o planejamento para criação da nova estrutura urbana. Atualmente, estão guardados, no APCBH, no Museu Histórico Abílio Barreto e no Arquivo Público Mineiro, os documentos originais desse importante momento na história de criação da nova capital. No Arquivo Público de Belo Horizonte, ficam os mapas feitos à mão, com detalhes de cada propriedade existente no local e informações precisas de toda a região: pomares, nascentes de rios e lavouras aparecem nas cartas geográficas, que resistem ao passar dos anos e possibilitam a reconstrução daquele tempo. As atividades da Comissão resultaram em documentação cartográfica bastante rica e de grande valor jurídico e probatório, preservada numa série de mapas e plantas de diferentes escalas. “O resultado foi a catalogação e recuperação de mapas do século passado, que contam, com riqueza de detalhes, um período anterior à construção da capital de Minas. São documentos desenhados à mão pelo grupo responsável por catalogar toda a extensão do Curral Del Rey e as propriedades territoriais da gente que morava ali”, conta Maria do Carmo, para quem a importância desse projeto ultrapassa as benesses do acesso à informação. Afinal, mantém-se a viva a memória da fundação de Belo Horizonte. “O mais importante é que você conheça a história de sua cidade. Atualmente, realizamos visitas de escolas ao Arquivo Público para mostrar o trabalho realizado”. Planta d ed registro esapropriação da Fazen cartográ fico da do C existente erc s no anti do regime de terras e adinho: go Curr dos cult al Del-R ivos ei (1894 )
Criada em 1991, a entidade encarrega-se de promover a política de arquivo no âmbito da administração municipal, o que inclui a preservação e a divulgação do patrimônio documental da cidade. Acervo da Cidade Arquivo Públic o de Belo Horizonte
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Acervo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
Planta Cadastral do Arraial de Belo Horizonte: topografia e inventário do antigo arraial do Curral Del-Rei (1894) Acervo Museu Histórico Abílio Barreto
A equipe da Quarta Divisão da Comissão Construtora da Nova Capital posa ao lado de seus equipamentos de topografia (1894)
O acervo da Comissão, que está sob a guarda do APCBH, conta com mais de 9.500 itens textuais, devidamente organizados em séries. A maioria dos documentos é original e possui valor histórico e cultural incalculável. Trata-se de diversos decretos e portarias feitos pelo governo da época, além de livros de lançamentos de escrituras imobiliárias, escritos à mão e em caneta de pena. Destaque, também, para um mapa – com, aproximadamente, quatro metros de largura por dois de altura – de todo o Curral Del Rey. Ainda de acordo com a historiadora Maria do Carmo, os documentos que dão titularidade de posse dos terrenos ao poder público são consultados por serem legítimos e possuírem reconhecimento jurídico legal. Maria do Carmo ressalta, ainda, que, “até hoje, o Governo de Minas busca no APCBH documentos comprobatórios de propriedade de terras”. O acervo é uma rica fonte de conhecimento nas áreas de arquitetura e urbanismo. A cartografia permitiu que fossem desenhadas plantas baixas das casas vendidas ao Estado. No que diz respeito ao tempo, sabe-se que, do Curral Del Rey, quase nada restou. As casas foram demolidas e a população teve de sair. A história, porém, permanece preservada, originalmente, nos documentos tão bem guardados nas três entidades mineiras. Quem quiser saber ainda mais, basta visitar o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) em horário comercial, ou procurar os arquivos e documentos, devidamente digitalizados, no endereço eletrônico:
@ www.acervoarquivopublico.pbh.gov.br.
PROJETO: A documentação cartográfica da Comissão Construtora da Nova Capital: imagens como testemunhos e instrumentos da construção de Belo Horizonte COORDENADOR: Maria do Carmo Alvarenga de Andrade Gomes MODALIDADE: Demanda Universal VALOR: R$ 9.366 Página inicial do site disponível na web: www.comissaoconstrutora.pbh.gov.br
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Pesquisadores mineiros avaliam presença de agrotóxicos em hortifruticulturas da bacia do São Francisco
Desde a sua nascente, no município de São Roque de Minas, até a foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, o “rio da integração nacional” percorre 2,7 mil quilômetros. Sua bacia hidrográfica, a terceira do país, possui 634 mil km² e alcança os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além de Goiás e do Distrito Federal, num trajeto de variadas paisagens, em que as águas do Velho Chico banham cenários, culturas e cultivos os mais dis-
Virgínia Fonseca
tintos. Foi justamente a relevância da Bacia do São Francisco – assim como de suas sub-bacias – para a produção agrícola mineira o que motivou a escolha da região para estudos relativos à qualidade das hortifrutícolas do estado. Conduzida no Departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), durante o mestrado da pesquisadora Eliane Hooper Amaral, sob orientação do professor Roberto Gonçalves Junqueira, a pesquisa mensurou os níveis de resíduos de inseticidas em cultivos de propriedades rurais de municípios ribeirinhos.
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Foto: Arquivo IMA
A pesquisa • Foram estudadas culturas de mais de 30 municípios das regiões de 25 sub-bacias do Rio São Francisco: Baldim, Caeté, Capim Branco, Carmo do Cajuru, Carmo do Paranaíba, Carmopólis de Minas, Conselheiro Lafaiete, Contagem, Cordisburgo, Cristiano Otoni, Curvelo, Datas, Diamantina, Divinópolis, Esmeraldas, Florestal, Itaguara, Itaverava, Jaíba, Janaúba, Jequitibá, Maravilhas, Matozinhos, Montes Claros, Onça do Pitangui, Ouro Branco, Ouro Preto, Paracatu, Paraopeba, Patos de Minas, Pimenta, Porteirinha, Sete Lagoas, Unaí. • Material analisado: 23 amostras de alface, 46 de banana, 9 de batata, 12 de cenoura, 11 de jiló, 24 de morango, 7 de pepino, 29 de pimentão e 79 de tomate. Total: 240. • 57 amostras apontaram resíduos dos agrotóxicos pesquisados, das quais 15, ou seja, 6,3% estavam em desacordo com a legislação vigente. • 5,8% possuíam agrotóxicos não autorizados. • 0,4% apresentaram limites acima dos estabelecidos pela lei. • As culturas com maior quantidade de resíduos de organofosforados e piretóides são tomate, pimentão, pepino e morango. Métodos de análise foram validados a partir do projeto
Alvo de constante atenção no âmbito da saúde pública, a contaminação dos alimentos por agrotóxicos requer o acompanhamento e a quantificação desses produtos na água, no solo, nos alimentos e na atmosfera, como pressuposto para a proteção da saúde do homem e do meio ambiente. Na pesquisa, foram escolhidos dois tipos de inseticidas que estão entre os mais utilizados no mundo, além de bastante empregados na produção agrícola nacional: os organofosforados e os piretróides (veja box). A investigação também possibilitou avaliar e validar os métodos usados pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) com o intuito de dar sequência ao monitoramento promovido pelo órgão. Para avaliação, de acordo com o tipo de cultura, selecionaram-se propriedades em cerca de 30 municípios, nas quais foram coletadas as amostras, com suporte de fiscais do IMA que atuam no campo. Os pesquisadores analisaram porções de alface, banana, batata, cenoura, chuchu, jiló, morango, pepino, pimentão e tomate. “Optamos por hortifrutícolas de grande consumo e por aqueles que são ingeridos crus”, conta Eliane. Verificou-se que há produtos cujos níveis de resíduos quantificados estavam acima dos limites máximos estabelecidos pela legislação vigente e com resíduos de inseticidas não autorizados.
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O que chega à mesa Das 240 amostras analisadas, 57 apresentaram resíduos dos agrotóxicos pesquisados, o que corresponde a 23,8 % do total. Destas, 15 estavam em desacordo com a legislação vigente, representando 6,3% do total investigado. Entre as infrações constatadas, o maior número se deveu à presença de agrotóxicos não autorizados para as culturas, representando 5,8%, enquanto cerca de 0,4% revelaram limites acima dos estabelecidos por lei. “Identificamos produtos de uso não permitido nas culturas de alface, banana, pepino, pimentão e tomate. Já a presença de resíduos acima dos limites máximos foi verificada nas amostras de pimentão”, conta a pesquisadora. As propriedades onde havia amostras de culturas com quantidades de agrotóxicos fora do padrão permitido receberam um auto de infração do IMA, sendo que a reincidência implicará na aplicação de multa. A análise das irregularidades observadas permitiu concluir que o maior problema em Minas Gerais – e no Brasil, segundo dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) –, no tocante aos níveis de resíduos de agrotóxicos, não está na forma de aplicação do
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produto no alimento, mas na utilização de agrotóxicos não autorizados. Neste caso, a pesquisadora acredita que, em alguma medida, pode haver desconhecimento por
Em Minas Gerais, o IMA realiza o monitoramento da qualidade das hortifrutículas
parte dos produtores. Contudo, na maior parte dos casos, existe resistência aos padrões de legislação. Eliane explica que existem poucos agrotóxicos autorizados para hortícolas como pepino e jiló. “A indústria não tem interesse em registrar produtos para estas culturas. Porém, existem pragas que as atacam, o que leva o produtor a usar produtos proibidos”, observa. Quanto aos limites acima do permitido, os valores observados (menos de 0,5%) foram considerados “muito bons” e estão dentro do encontrado em programas de países da Europa e, também, nos Estados Unidos. Como a pesquisa não previa a análise específica de cada agrotóxico encontrado nas amostras, em relação ao risco potencial dos ingredientes ativos – todo produto tem sua Ingestão Diária Aceitável (IDA) –, os resultados não chegaram ao nível de detalhamento sobre o efeito, para a saúde humana, da ingestão dos alimentos. “Teríamos que avaliar produto por produto encontrado”, pondera Eliane. De maneira geral, pesquisas indicam que os organofosforados, quando ingeridos em quantidades excessivas, poFoto: Arquivo IMA
dem inibir enzimas do organismo, causando danos ao sistema nervoso. Os problemas da exposição aos piretróides também incluiriam descompasso na atividade de algumas glândulas hormonais. É preciso ter em mente, ainda, que a contaminação por meio da alimentação não é o único fator a ser considerado. Estudiosos do tema apontam os perigos ocasionados ao ecossistema e aos agricultores que, durante a aplicação, têm contato direto com o produto.
Validação O uso de agrotóxicos no país é regulamentado pela Lei 7.802/89 e pelo Decreto nº 4.074/02. Já o controle permanente da qualidade das hortifrutícolas produzidas no estado é efetuado pelo IMA, que coleta amostras nas propriedades rurais e as encaminha ao Laboratório de Análise de Resíduos e Agrotóxicos (Lara), onde Eliane trabalha. Os trabalhos por ela desenvolvidos com o professor Roberto, durante o mestrado, também tiveram como resultado a avaliação e validação dos métodos adotados no Lara, que passou a ser acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Normas nacionais e internacionais de sistemas de gestão da qualidade destacam a importância da validação de métodos analíticos para a obtenção de resultados confiáveis. “Dados não confiáveis podem conduzir a decisões desastrosas e a prejuízos financeiros irreparáveis”, adverte a pesquisadora. Foram aprimorados e validados dois métodos de multirresíduos por cromatografia a gás (técnica que permite separar e mensurar os diversos componentes de uma mistura) já usados pelo Lara para quantificação de inseticidas organofosforados e piretróides. Por ser o IMA um órgão fiscalizador, Eliane pondera que o projeto foi muito relevante para a instituição, pois houve ampliação da sua atuação e capacitação dos seus técnicos. A necessidade progressiva de dados analíticos comparáveis e consistentes é essencial para a eliminação de barreiras técnicas entre os países. Com a validação e a certificação do Inmetro, demonstrou-se que as metodologias são adequadas ao uso pretendido. Como resultado, o laboratório ganhou reconhecimento internacional.
Conheça melhor os inseticidas pesquisados Organofosforados: tiveram sua aplicação na agricultura consideravelmente ampliada nos últimos anos, à medida que os inseticidas organoclorados foram banidos do comércio em virtude de sua alta persistência e poder residual. O interesse por esta classe de agrotóxicos deve-se à facilidade de composição de novos derivados, à possibilidade de síntese de pró-inseticidas – que sofrem ativação preferencial em insetos e não em mamíferos – e à maior biodegradabilidade em comparação com os organoclorados. Apresentam baixa ação residual, com pouca estabilidade no meio ambiente e acumulação limitada em organismos vivos, sendo que 80% a 90% dos compostos são eliminados 48h após o contato. Piretróides: inseticidas lipofílicos (solúveis em gorduras e óleos vegetais), têm tempo de permanência curto no ambiente e possuem ação prolongada. Economicamente, transformaram-se nos agrotóxicos ideais, em função do amplo espectro de atividade, da eficiência em pequenas doses, do baixo poder residual e de, praticamente, não serem tóxicos aos mamíferos. Atualmente, entretanto, existe preocupação quanto às consequências para o ser humano da exposição, em longo prazo, a esses inseticidas. Projeto: Resíduos de inseticidas organofosforados e piretróides em hortifrutícolas produzidas na região da bacia hidrográfica do Rio São Francisco no Estado de Minas Gerais Coordenador: Roberto Gonçalves Junqueira Modalidade: Demanda universal Valor: R$ 34.806
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to (Pnud), mais de 51% dos brasileiros acham que o atendimento de saúde é demorado em postos e hospitais. Ainda de acordo com o levantamento, 35,9% da população do país consideram a linguagem utilizada pelos médicos razoável; e 42,8% acham que o interesse dos profissionais de saúde, durante as consultas, é regular. Os números e a complexidade da questão motivaram o médico e CEO da ePrimeCare (www.eprimecare.com.br) – empresa mineira de gestão e cuidados em saúde –, Leonardo Pereira Florêncio, a fugir da tradicional carreira em medicina. Formado pela UFMG, foi bolsista em um hospital público da capital, onde realizou treinamento em clínica médica. “Lá, tornei-me cético quanto à forma de funcionamento do sistema de saúde. Via pacientes que poderiam ter tido diagnóstico precoce, tratamento e cura sem necessidade de entrar no hospital. O contrário parecia uma regra: eu internava pacientes que tiveram a oportunidade de não estar ali. Vi que existia um déficit no sistema de saúde”, lembra, ao ressaltar que a falta de prevenção e promoção da saúde é responsável não apenas por uma população doente, mas também pelos altos custos destinados aos governos e planos de saúde. A experiência levou Leonardo Florêncio a estudar gestão em saúde e realizar um MBA na área. Ao trabalhar com um grupo de pesquisadores em projetos de empresas operadoras de saúde, teve a oportunidade de desenvolver um serviço de atenção domiciliar a pacientes: “Trabalhei com uma equipe de saúde e uma população doente que vivia dentro do hospital, causando prejuízos aos planos de saúde, além de desestruturação familiar, já que, muitas vezes, os parentes não podiam trabalhar para cuidar do doente”. Daí surgiu a ideia de uma nova forma de remuneração para a equipe de profissionais, não por ação, mas por responsabilidade. “O grupo percebeu que se promovesse e prevenisse a saúde, iria trabalhar menos e ganhar mais. Articulamos novo formato de trabalho e remuneração que gerou excelentes resultados”, explica. Segundo o médico, além de 70% de redução nos custos dos atendimentos,
houve melhoria na qualidade da assistência. Os pacientes se estabilizaram e usaram menos ambulâncias e internações, pois tinham acompanhamento e tratamento em casa. A partir daí, Leonardo realizou mestrado para investigar a relação entre as operadoras de saúde e seus beneficiários. “Produzi pesquisas e desenvolvi conhecimento sobre o tema. Foi então que criei, em 2005, a ePrimeCare, com o objetivo de compartilhar este conhecimento em termos sociais. Buscava fazer com que as equipes de saúde entendessem esse modelo de trabalho, relacionamento e atendimento a pacientes”, esclarece.
Trata-se do HorizonTI, o Fundo de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras, que investe recursos em empresas nascentes da área de Tecnologia da Informação. A ePrimeCare foi a primeira a ser contemplada com a iniciativa. O capital foi fundamental para que se desse um salto, com foco na inovação do produto. “Tínhamos conhecimento, mas ele demorava a virar produto – que, por sua vez, demorava a chegar ao mercado. O dinheiro do investidor encurta esse caminho. A partir daí, tivemos sucesso mercadológico e alcançamos 30 clientes com faturamento de R$ 1,3 milhões”, conta.
Gestão de cuidados Todos os dados coletados nas pesquisas formavam uma plataforma virtual, com a finalidade de atender à equipe de saúde. Os conteúdos orientavam os profissionais quanto à forma de proceder diante de determinadas doenças. Ao longo dos anos, percebeu-se que era muito caro cobrar do cliente a pesquisa deste conteúdo e o desenvolvimento da plataforma. Devido às dificuldades de relacionamento comercial, a empresa submeteu um projeto de metodologia e gestão de cuidados em saúde à FAPEMIG, por meio do Programa de Apoio à Pesquisa na Empresa (Pappe), cujos recursos foram investidos na contratação de mestres, bolsistas, consultores e pesquisadores. O investimento trouxe mais capacidade de conteúdo e tecnologia à plataforma, permitindo um salto de versão – de 1.0 a 4.0. Mesmo com o investimento em capital intelectual, ainda persistia a demora em trazer inovação para o produto. Nesta fase, a empresa foi selecionada a participar do Capital Semente, da Finep. A iniciativa apoia os chamados start ups, empreendimentos promissores, mas em fase inicial de implementação. “Fomos auxiliados a desenvolver um plano de negócios através de um couch, ministrado por meio de parceria entre BDMG, Fiemg e analistas de fundos de investimento. Ao final, realizamos apresentação na Fiemg, onde havia um grupo de investidores, que estavam capitalizando um fundo de investimento”, relembra.
Criado a partir do programa “Inovar Semente”, da Finep, o HorizonTI é fruto de parceria entre Finep, FAPEMIG e BDMG.
Assistência inteligente
Um dos produtos recentemente lançados pela empresa é o Comunicare, destinado à coordenação de cuidados preventivos. Baseado no provimento de serviços de comunicação de conteúdos personalizados via e-mail, SMS e portal, o software auxilia seus usuários no entendimento de sua condição de saúde e promove decisões racionais de uso dos serviços – o que resulta em eficiência, redução do custo assistencial e melhoria da percepção do usuário em relação à qualidade dos serviços. O produto ganhou reforço com a consultoria especializada da Universidade de Berkeley, que desembarcou em Belo Horizonte, no mês de julho, para auxiliar a empresa no posicionamento de mercado. “Inovação é a capacidade de fazer a leitura de demandas e transformar o seu serviço em produtos que sejam acessíveis e melhorem a vida das pessoas”, conceitua o empreendedor. Para Leonardo Florêncio, cada ciclo empresarial demanda investimento em inovação e todos são importantes para que a empresa se sustente ao longo dos anos. “Vivemos o presente. Mas devemos pensar lá na frente. Esse futuro é que precisa ser gerido”, aconselha.
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patentes
Criatividade reconhecida Universidade Federal de Uberlândia conquista sua primeira patente graças a sistema que aperfeiçoa transporte na indústria Virgínia Fonseca
Um mecanismo que aprimora o transporte de materiais a granel e peças avulsas na indústria proporcionou à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no Triângulo Mineiro, a obtenção de sua primeira carta patente, concedida em junho deste ano. O invento que resultou na conquista, denominado “Sistema de acionamento de transportadores vibratórios por pastilhas piezelétricas”, partiu de investigação desenvolvida durante dissertação de mestrado do programa de pós-graduação em Engenharia Mecânica da UFU. De autoria do ex-aluno Emerson Bastos de Albuquerque – atualmente, engenheiro da Petrobras –, o trabalho contou com a orientação dos pro-
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fessores Domingos Alves Rade e João Carlos Mendes Carvalho. A invenção diz respeito à melhoria nos transportadores vibratórios utilizados na indústria. Estes equipamentos empregam vibrações que provocam saltos sucessivos do material ao longo de uma pista, para gerar o movimento. Tradicionalmente, a vibração é obtida por mecanismos acionados por motores elétricos ou dispositivos eletromagnéticos que apresentam, segundo o professor Domingos Rade, inconvenientes como elevados custos de manutenção, altos níveis de consumo de energia e de ruído emitido. Uma forma al-
ternativa de geração do movimento vibratório, por meio do uso de materiais piezelétricos incorporados diretamente à estrutura do transportador, é a novidade apresentada pelos pesquisadores. No caso, cerâmicas dispostas na forma de pastilhas são coladas à suspensão do transportador. Quando esses materiais recebem tensão elétrica, deformam-se e, assim, transferem o movimento para a peça à qual estão afixados. De acordo com o professor, outro ponto importante é que o transportador foi projetado para ser alimentado diretamente a partir da rede elétrica, sem a necessidade de dispositivos elétricos adicionais. “Acreditamos que o invento poderá proporcionar vantagens importantes em relação às formas tradicionais de transporte vibratório, no tocante à redução do consumo de energia e à emissão de ruído, além da diminuição de custos de fabricação e de manutenção”, avalia. O sistema também apresenta alta possibilidade de miniaturização, o que favorece o transporte econômico de pequenos componentes, beneficiando setores com maior valor agregado, como o de eletrônicos e o de medicamentos.
Mudança de cultura
A próxima etapa, já em curso, sob a coordenação da Agência Intelecto – Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da UFU, responsável pela proteção legal das invenções geradas na universidade –, será a identificação de empresas interessadas em produzir o invento em escala industrial. Contudo, a relevância da concessão da
carta-patente vai além do produto, em si. “Acredito que seja um indicador importante do amadurecimento científico-tecnológico da universidade”, pondera Rade. Seu pensamento faz coro com a afirmação do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Alcimar Barbosa Soares. “Depois de 40 anos dedicados ao ensino, à pesquisa e à extensão, seguimos em mais uma direção: começamos a trabalhar com inovação e transferência de tecnologia”, ressalta Soares. Segundo o pró-reitor, a obtenção da primeira carta-patente é um marco histórico importante para a instituição. “Aponta para a sociedade que somos uma universidade onde são realizadas pesquisas de ponta, sólidas e capazes de contribuir significativamente para nossa nação”. A conquista também reforça a questão de que é possível proteger uma novidade e transferir conhecimento para as empresas, incentivando a inovação tecnológica no país. Para o pró-reitor, o Brasil vive importante momento, no qual essa cultura deve ser disseminada. “Muito se fala sobre a necessidade de inovar, mas não temos essa cultura firmada. Muitos ainda desconhecem, até mesmo, o que seja inovar. Precisamos promover essa mudança de comportamento”, defende Soares.
Tecnologia protegida
No Brasil, para que um pedido de Patente de Invenção (PI) seja deferido, é preciso que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial (veja quadro). Assim, no caso do
sistema desenvolvido na UFU, a solicitação de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) mostrou-se possível porque a pesquisa resultou em produto novo, que poderia ser oferecido ao setor industrial. O depósito foi realizado em 2003, na ocasião por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), já que o NIT da instituição ainda não existia. Em 2007, com a criação e institucionalização do núcleo, denominado Agência Intelecto, o CNPq fez a transferência de direitos de titularidade e obrigações do pedido de PI para a universidade – que, então, adquiriu o direito de efetivar a gestão da patente, assim como de negociar e concretizar contratos de comercialização dos direitos de propriedade intelectual decorrentes da tecnologia protegida. Cerca de oito anos se passaram até o deferimento do pedido, prazo que está de acordo com a média de tempo do processo, hoje, no país. A UFU tem, atualmente, seis pedidos de patentes depositados de titularidade própria e outros 50 em cotitularidade Ocorre quando dois ou mais parceiros compartilham o direito à titularidade. No caso da FAPEMIG, por exemplo, existem duas situações: quando a Fundação fomenta a pesquisa que originou o invento; ou quando apoia o pagamento de taxas referentes ao processo de proteção da tecnologia no Brasil ou no exterior.
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com a FAPEMIG e outros parceiros. “As patentes provenientes de pesquisas inovadoras na Universidade vêm aumentando. Contudo, ainda trabalhamos para conseguir atingir 100% de proteção”, mensura a gestora de Ciência e Tecnologia da Agência Intelecto, Larissa Sarmento Macêdo. “Para progressiva melhora, buscamos disseminar a cultura de inovação, não só de proteção por meio de patente, mas em outras modalidades pertinentes à propriedade intelectual”, complementa. Macêdo destaca que o processo de transferência de tecnologia é importante
para a economia do País na medida em que dinamiza o mercado e oferece mais possibilidades ao consumidor final. Até por que, trata-se de negociação comercial, que atende a determinados preceitos legais e busca promover o progresso da empresa receptora, bem como o desenvolvimento econômico nacional. “Colocar uma tecnologia no mercado nada mais é do que fazer com que se cumpra sua função social, pois é ali que todos terão acesso ao produto gerado por ela”, reafirma.
Aquele que obtém a patente ganha o direito de impedir o uso, venda, produção e importação do invento por terceiros, não autorizados. Uma patente de invenção tem prazo de vigência de 20 anos, contados a partir da data de depósito, caindo, após esse período, em domínio público. A utilização indevida constitui crime contra a propriedade industrial. Duas instituições mineiras encontram-se, hoje, entre os maiores patenteadores do País, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a FAPEMIG.
Fotos: Domingos Rade
Equipamento aprimora transporte de materiais
Patente passo a passo Patentes nacionais – As instituições científicas e tecnológicas contam com o suporte dos Núcleos de Inovação Tecnológica, que têm como atribuição o estímulo à proteção das criações, o licenciamento, a inovação e outras formas de transferência de tecnologia. Patentes internacionais – O processo é similar ao nacional (confira abaixo), apesar de usualmente mais rápido. Cada nação tem seu órgão regulador e a proteção é territorial: ou seja, vale apenas para o país em que foi realizado processo de depósito. É possível conduzir o mesmo pedido, simultaneamente, em vários países.
1. No Brasil, de acordo com a Lei 9.279/96, são necessários três requisitos para que um pedido de patente seja deferido: novidade, atividade inventiva (não ser óbvio) e aplicação industrial. Configuradas as três possibilidades, antes de entrar com 44
o pedido oficial, os inventores são orientados a realizar buscas de anterioridade, juntamente aos NITs, em bancos de patente nacionais e internacionais, para constatar que se trata realmente de algo novo.
2. Em seguida, tem início o processo de proteção em si. Deve ser elaborado conjuntamente pelo NIT e pelo pesquisador um relatório descritivo, que constitui um dos documentos do pedido de patente. 3. O NIT faz o depósito do pedido
junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Nessa fase, é aconselhável providenciar, paralelamente, um Termo de Autores e Inventores que define os percentuais de participação de cada inventor e um contrato de cotitularidade quando houver mais de um titular do pedido de patente.
4. Em até 36 meses após a data do depósito, deve-se solicitar o pedido de exame.
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5. O pedido de patente permanece por 18 meses em sigilo, até que ocorra a sua publicação no INPI. 6. A partir da publicação, deve-se acompanhar o pedido de patente, semanalmente, junto à revista do INPI, para respostas às possíveis exigências e contestações. 7. Inicia-se, com a publicação, o período de exame (avaliação por técnicos do INPI), cuja média atual no Brasil é de oito anos. Durante esse tempo, trabalha-se com a “expectativa de direito”, ou seja, já se pode negociar e transferir a tecnologia protegida. 8. Deferimento ou não do pedido e, em caso positivo, expedição da carta patente. Colaboração: Mônica de Fátima Vilela Martins / Gerência de Propriedade Intelectual da FAPEMIG
LEMBRA DESSA?
Boas novas, Jeca Tatu! Resultados demonstram eficiência de antígeno para combate à ancilostomose, doença que afligia o famoso personagem de Monteiro Lobato Conhecida como “doença do amarelão”, devido ao aspecto pálido que deixa em suas vítimas – ou como o mal a atingir Jeca Tatu, personagem criado em 1918 pelo escritor Monteiro Lobato, ao buscar representar o atraso e a precariedade do Brasil rural –, a ancilostomíase, enfermidade causada pelos vermes parasitas Necator americanus e outros dois do gênero Ancylostoma (A. duodenalis e A. ceylanicum), está longe de ser apenas vilã ficcional. Ainda hoje, a doença é protagonista de triste realidade em países tropicais subdesenvolvidos, especialmente aqueles com sistemas de saneamento básico deficientes. “A verminose atinge cerca de 740 milhões de pessoas em todo o mundo, levando a óbito aproximadamente 65 mil doentes por ano”, informa a bióloga Renata Caldeira Diniz, do Centro de Pesquisas Renê Rachou, unidade mineira da Fundação Oswaldo Cruz. As boas novas, contudo, parecem ter chegado. Estudos em desenvolvimento desde 2003 – fruto de parceria entre o Renê Rachou, a Universidade de George Washington (GWU) e o Instituto Sabin de Vacinas – possibilitaram a criação de antígeno que tem se mostrado eficaz no combate definitivo à doença, a ponto de prometer dar fim aos dias desse hostil invasor de corpos. As pesquisas para a possível vacina tiveram início com o isolamento de uma proteína presente no verme, que, tempos depois, seria sintetizada. Após testes conduzidos em animais, que também sofrem com a infestação pelo verme helmin-
to, e já com embasamentos consistentes e resultados promissórios, iniciou-se a fase de ensaios com seres humanos. Segundo a pesquisadora Janaína Moura, da Fundação Oswaldo Cruz, um entrave enfrentado durante os estudos foi a dificuldade na captação de voluntários para participação nos testes. Tal obstáculo, entretanto, acabou superado. “Os testes foram realizados apenas com adultos saudáveis. Como parte do processo, realizamos triagens médicas minuciosas, para comprovar que o indivíduo apresentava boa saúde e não fora exposto a doença pregressa, que pudesse ser reanimada, a fim de preservar os voluntários e garantir precisão nos resultados da pesquisa”, explica. O cumprimento dessa fase – que envolveu 36 voluntários – permitiu constatar a segurança da aplicação do antígeno em seres humanos e identificar a dosagem ideal para cada faixa etária. Em seguida, os estudos evoluíram para estágio bastante representativo para o mundo ciência: a aplicação em regiões endêmicas, onde, pela primeira vez, os testes estão sendo realizados com portadores do parasita nos municípios de Novo Oriente e Americaninhas, região eleita devido à expressiva prevalência de contaminação. “O desenvolvimento desta vacina representará uma vitória não apenas para o tratamento dos doentes do Brasil, mas às populações de todo o mundo. A vacina será distribuída a todos que ainda sofrem e sucumbem à doença nos dias de hoje”, destaca Renata Caldeira.
Conheça a doença A infestação pela ancilostomíase se dá pelo contato da pele desprotegida do indivíduo com a terra contaminada por larvas do verme ou pela ingestão de água ou alimento que as possuam. Após invadir o organismo do hospedeiro, o helminto se instala no intestino delgado, onde se alimenta de sangue e se reproduz, botando, diariamente, de quatro a 22 mil ovos por dia – que, por sua vez, misturam-se às fezes do portador e com elas são expelidos. Dessa forma, em regiões onde há carência de saneamento básico, outras pessoas entram em contato com as larvas e dão continuidade ao ciclo de vida do verme. A perda de sangue ocasionada pelo helminto acarreta uma série de complicações à saúde do hospedeiro, como fraqueza, desnutrição, problemas cognitivos e musculares. Em crianças, pode levar a danos físicos e mentais, por vezes, irreversíveis. As mortes estão associadas à anemia profunda causada pela falta de ferro no sangue. No Brasil, a doença predomina em áreas rurais da região norte e nordeste de Minas Gerais, principalmente próximo ao Vale do Jequitinhonha.
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5 PERGUNTAS PARA...
Maria Teresa de Assunção Freitas Internet não é “arquivo”. E nem computador é “máquina de escrever”. Embora, aparentemente, tais afirmações sejam óbvias, ainda é assim que a Escola costuma perceber as tecnologias digitais. Mas a pedagoga Maria Teresa de Assunção Freitas quer reverter essa situação. Pesquisadora 1C do CNPq, professora do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora e autora de vários artigos científicos e livros sobre o tema, ela propõe que computador, internet e cinema, inclusive, passem a ocupar espaço estratégico e transdisciplinar no processo de ensino-aprendizagem. Por Marcus Vinicius dos Santos
A senhora afirma que o hipertexto ou a “plasticidade interativa” própria das tecnologias digitais permite a construção de diferentes percursos de aprendizagem... Procuro compreender as relações do uso do computador e da internet com a aprendizagem a partir da abordagem histórico-cultural, baseando-me na teoria do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky. De acordo com essa perspectiva, o conhecimento não é adquirido, mas construído. Além disso, enfatiza o valor das relações interpessoais na construção do conhecimento. Muito embora tenha sido construída no início do século XX, quando tecnologias digitais eram ainda impensáveis, sua teoria psicológica, atualmente, oferece elementos importantes para o estudo das relações de ensino-aprendizagem. O processo de construção do conhecimento acontece primeiro no plano interpessoal. Depois, no plano intrapessoal. Para Vygotsky, só há aprendizagem quando a pessoa internaliza o que já foi experienciado e torna próprio o que foi construído com um outro, apropriando-se do conhecimento.
Como incorporar o uso mais responsável e consequente das tecnologias digitais no dia a dia do ambiente escolar? As dificuldades enfrentadas pelos professores, para incluírem em sua prática pedagógica o uso do computador e da internet, derivam de sua falta de formação para tal e de certa deficiência no conhecimento das possibilidades dessas tecnologias. Falta-lhes maior compreensão de como esses instrumentos podem estimular novas formas de aprender e de ensinar. Permitem o acesso a uma infinidade de informações, novas formas de pensamento, interações e interatividades que levam à construção compartilhada de conhecimento: agilidade na pesquisa escolar; interação com pessoas (fóruns e listas de discussão, e-mails, redes sociais); entretenimento (jogos, simulações); Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), dentre outros. Isso amplia o espaço da aula presencial. Quando trabalhadas em conjunto, por colegas e professores, podem se transformar em conhecimento.
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2 4 A mediação do professor, portanto, faz toda a diferença? Claro. Computador e internet possibilitam três formas de mediação: técnica, simbólica e humana. Tudo depende da maneira como são usados. Por si sós, eles não são garantia de inovação no processo de aprendizagem escolar. A mediação humana – do professor – faz toda a diferença, por possibilitar a eficácia das duas outras mediações.
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Mas e a questão do acesso à tecnologia? Bom, precisamos deixar claro que, mais importante do que equipar as escolas com tecnologia, é formar professores para seu uso adequado ao processo ensino-aprendizagem. Embora reconheça o esforço de várias políticas públicas brasileiras para ampliar o acesso aos benefícios das tecnologias digitais, ainda é grande o número de excluídos digitais. Por outro lado, também é grande o número de jovens de diferentes
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classes sociais que já têm acesso a essas tecnologias – muito associadas ao entretenimento – em casa, nas “lan houses”, associações comunitárias e, até mesmo, no celular. Mas na escola os laboratórios de informática e de inclusão digital ainda são pouco ou inadequadamente usados. Além disso, é importante dizer que não basta dotar as escolas com “uma” – única – sala de informática. Isso é muito pouco em relação ao número de alunos e professores de qualquer escola. Que sugestões a senhora faz para que as escolas fundamentais usem melhor as salas ou laboratórios de informática ? Em primeiro lugar, os currículos de formação de professores precisam ser repensados. Dentro das escolas, também deve haver um esforço de formação continuada do docente. Além disso, movimentos sociais reivindicatórios, junto a secretarias de educação e dentro da escola, devem envolver a produtiva utilização das salas de informática por alunos e professores, como extensão da sala de aula. É preciso superar o uso apenas instrumental das tecnologias digitais. Compreender que a web 2.0 tem condições efetivas para realizar uma produção colaborativa do conhecimento. Ela permite a coautoria professor-aluno, dos alunos entre si e até de alunos de outras escolas e de outros países.
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Você pode ouvir essa entrevista no podcast Ondas da Ciência e no videocast Ciência no Ar: fapemig.wordpress.com
O monitoramento do campo geomagnético encontra diversas aplicações práticas. Sabemos, por exemplo, que a presença de materiais ferromagnéticos ou diamagnéticos no subsolo (jazidas de ferro e petróleo) pode alterar o valor do campo magnético local. Por essa razão, medidas precisas do campo magnético são usadas em trabalhos de prospecção mineral. Além disso, é importante se conhecer localmente o campo geomagnético quando ele é usado na navegação marítima ou aérea.
A professora e pesquisadora aposentada do departamento de Física da UFMG, Regina Pinto de Carvalho, escreveu livro singular. Paradidática, a obra se propõe a dar uma visão geral do conhecimento atual sobre o planeta e acerca das formas – diretas ou indiretas – com que esse conhecimento foi obtido. Também oferece leituras complementares e atividades a serem desenvolvidas na sala de aula e recomenda a leitura do livro Viagem ao Centro da Terra (1864), do escritor francês Júlio Verne, considerado o precursor da ficção científica. Aliás, como é que se pode saber o que existe no centro da terra se, até hoje, não é possível fazer um buraco até lá embaixo? Por observação, ensina a obra, dos vários sinais ou indícios oferecidos pelo planeta e da correlação de uma série de conceitos e conhecimentos científicos, de diversas disciplinas, por meio de modernas técnicas de medição e cálculos diversos. Como exemplo, crosta, manto e núcleo – as três camadas do globo –, por exemplo, são descritas no livro com suas densidades, altura estimada, subcamadas e características. Deduções científicas: a professora ensina que a crosta, a camada mais conhecida, está para a Terra assim como a casca está para o ovo... Fininha.
da Física
Mas não para na superfície! Se você quer descobrir qual a relação entre os fenômenos naturais, como terremotos; de que modo a força da gravidade e o geomagnetismo influenciam marés, auroras polares e a orientação de certos animais; interessa-se por rever como a Terra está inserida no sistema solar; pretende se informar sobre a estrutura global ou descobrir os principais componentes do Universo e de nosso planeta, não pode deixar de ler O globo terrestre. Uma leitura que desafia e espanta pela simplicidade com que trata tema tão profundo e teórico.
Livro: O globo terrestre na visão da Física – Leituras complementares para o ensino médio Autor: Regina Pinto de Carvalho Editora: Autêntica Páginas: 93 Ano: 2012
Leia na internet: Capítulo 1 - “A Terra no Sistema Solar”: http://migre.me/aPHcr Ouça entrevista com a autora: http://migre.me/ajjdJ
As mil faces do “contemporâneo”
Por ‘futuro do presente’ entende-se a sinalização do fim das utopias revolucionárias e o predomínio do instante, que se rompe com a concepção do tempo como longa duração, por este se privar de uma visão de futuro. O culto da velocidade exigido pela intensidade dos meios de comunicação e pela nova configuração temporal do presente contribui para o processo igualmente galopante do mundo globalizado do qual é cada vez mais difícil escapar.
A trajetória das sociedades está diretamente relacionada ao desenvolvimento, pelo homem, de uma infinidade de novas tecnologias. Tais “ferramentas” – criadas por motivos os mais diversos, da tentativa de domínio da natureza ao sonho da melhoria dos processos de comunicação entre os indivíduos – redefinem não apenas o cotidiano das coletividades, mas também (ou “principalmente”) seus padrões culturais, religiosos, econômicos e sociopolíticos. Novas técnicas e dispositivos servem, ainda, de combustível ao entrelaçamento de experiências do passado, do presente e do futuro. Na atual, e complexa, era da informação – tempos de culto à velocidade e de novas configurações espaço-temporais –, o “distanciamento do olhar do presente”, conforme ressaltam os organizadores de obra recém-lançada pela Editora UFMG, “permite repensar os acontecimentos por meio do
sentimento da perda da noção de profundidade do passado e do ritmo conferido às longas durações”. Em 16 textos – resultado das apresentações dos pesquisadores brasileiros que, em 2010, reuniram-se no I Colóquio Crítica da Cultura: o futuro do presente –, o livro promove rico debate em torno dos sentidos do “contemporâneo”, com ênfase na tríade “arquivo, gênero e discurso”.
Livro: O futuro do presente – Arquivo, gênero e discurso Autores: Eneida Maria de Souza; Eliana da Conceição Tolentino e Anderson Bastos Martins (organizadores) Editora: UFMG Páginas: 284 Ano: 2012
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LEITURAS
A Terra sob o “olhar”
HI P E RL I N K
BLOG MINAS FAZ CIÊNCIA
Adoráveis bruxinhas Esqueça a sombria e arrepiante reputação atribuída às mariposas. Uma possível nova espécie, encontrada nas florestas densas da Venezuela, parece estar mudando o conceito em torno das borboletas noturnas. Com dois centímetros de comprimento, branquinha e peluda, a “Mariposa Poodle” – como ficou conhecida – tem intrigado cientistas de todo o mundo. O inseto já caiu no gosto de muita gente e não seria de espantar caso uma reprodução em pelúcia do animal fosse vista em exposição nas vitrines dos shoppings. O bichinho foi avistado pela primeira vez em 2009, enquanto desfilava solitariamente no interior das áreas silvestres da região de Gran Saban, a aproximadamente 650 km de Caracas, quando
acabou “capturado” pelas lentes do biólogo marinho, taxonomista e zoólogo Arthur Anker. “Sei que mariposas deste tipo foram pouco identificadas na América Central e do Sul”, afirmou o responsável pela descoberta. Diante da hipótese de a imagem do animal ser um embuste, o professor de zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Olaf Hermann Mielke, foi categórico: “Esse bicho existe. Provavelmente, não há no Brasil, e não deve ser uma espécie abundante, mas é real”. Ainda existem pouquíssimas informações sobre o animal – que, segundo especulação dos especialistas, deve pertencer à família Arctiidae, dos lepidópteros –, mas o bichinho peludo ainda é um mistério da ciência.
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CIÊNCIA NO AR
Atlas do café Famoso por dar um up na disposição, a bebida estimulante tornou-se uma das mais consumidas no mundo. No Brasil, não é diferente. Há quem diga que não dá para começar o dia sem um gol. Por tudo isso – e algo mais –, o café firmou-se como importante “fator” econômico do país. Há duas décadas, a Fundação Ezequiel Dias realiza análises de controle de qualidade do grão, torrado e moído. O trabalho permitiu a criação do Atlas do Café, lançado em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A publicação pretende tornar-se referência nacional para análise qualitativa do produto em todo o país. Saiba mais com a reportagem do programa Ciência no ar.
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ONDAS DA CIÊNCIA
A delícia do parto Ter um filho é uma das emoções mais profundas que se pode experimentar, mas exige preparo e segurança. Para dar uma força às mães e pais, as professoras Eunice Francisca Martins e Kleyde Valentina de Souza desenvolveram uma série de atividades, gratuitas, e abertas ao público em geral, com o objetivo de difundir técnicas e didáticas que farão deste dever um agradável passatempo. Confira, no blog, os programas Ondas da Ciência #40 e #41.
BLOG MINAS FAZ CIÊNCIA fapemig.wordpress.com
Eureka!
Eis o cheiro do espaço... Quando falamos em espaço sideral, o que primeiro lhe vem à mente? A complexidade e imensidão do universo dá margem a muita fantasia. Mas, em algum momento, já lhe passou pela cabeça que o gigantesco deserto interplanetário poderia apresentar cheiro? Sim. De forma intrigante, o espaço tem sua própria “trilha aromática”. Pelo menos essa é a novidade comentada por astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional. O cheiro do espaço parece ser acre, como numa mistura de metal fundido, carne tostada, pólvora recém utilizada, fumos de solda queimados, óleo de motor e uma pitada sulfurosa. Esses foram os odores aos quais os cosmonautas relacionaram suas experiências olfativas. A grande questão, contudo, é outra: como puderam eles desvendar as
fragrâncias, se não é possível respirar no vácuo? Segundo os relatos, ao regressar de um passeio exterior, os aromas os acompanham ao interior das naves, aderidos a seus trajes e veículos de exploração espacial. Aqui na Terra, a descoberta dividiu a opinião de estudiosos. Alguns acreditam que nosso Sistema Solar tenha um cheiro especialmente acre, pois é muito rico em carbono e bastante pobre em oxigênio. Outros dizem que a causa dos odores se deve a partículas, presentes em todo o universo, denominadas “hidrocarbonetos policíclicos aromáticos” – subprodutos da explosão de estrelas. O assunto, entretanto, ainda é novidade, e carece de mais estudos para ser melhor compreendido. MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/NOV 2012
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A foto, de autoria do professor Miguel Andrade, do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, mostra índias Maxacali na cachoeira do Tabuleiro, localizada na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Com cerca de 3,7 milhões de hectares, essa região, que sofre com impactos ambientais que remontam à história da Colônia, abriga diversidade socioambiental de relevância estratégica, por sua biodiversidade, cultura, economia e paisagens.
VARAL
Foto: Miguel Ângelo Andrade
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