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O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS
maria JoÃo GreGório Diretora PNPAS-DGS
«eSte ProGrama JÁ eStÁ a ter imPaCtoS PoSitivoS»
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metade dos portugueses tem excesso de peso. Somos um povo que gosta de “carregar” no sal e de abusar do açúcar. foi para inverter estes hábitos que a direção-Geral da Saúde criou o Programa Nacional para a Promoção da alimentação Saudável (PNPaS).
h - Qual a imPortÂNCia do PNPaS Para a vida doS PortuGueSeS? maria JoÃo GreGório (mJG) - Este programa e as propostas de política alimentar associadas são de extrema importância no contexto epidemiológico atual, com cerca de 86% da carga total da doença a ser atribuída às doenças crónicas em Portugal. As doenças crónicas são, de facto, um dos principais problemas de saúde pública atuais e grande parte destas doenças podem estar associadas a hábitos alimentares inadequados. Os hábitos alimentares inadequados são, assim, um dos principais determinantes da perda de anos de vida saudável pelos portugueses.
h - Na PrÁtiCa, Como tem o PNPaS CoNtriBuÍdo Para a PromoçÃo de uma alimeNtaçÃo SaudÁvel? mJG - Tem cooperado com informação para que a população possa ser capaz, de forma autónoma, de fazer escolhas alimentares mais saudáveis. E, por outro lado, tem contribuído para que os produtos alimentares mais saudáveis sejam uma escolha mais fácil, tentando para isso modificar o que está disponível para consumo. Muitas das áreas em que temos trabalhado, dando apoio técnico quando solicitado, junto do poder político e legislativo, nesta última década permanecem praticamente invisíveis ao grande público, mas mudou-se muita coisa nos últimos anos.
h - o PNPaS JÁ eStÁ a ter efeito Na Saúde doS PortuGueSeS? mJG - O impacto de medidas de saúde pública, nomeadamente o investimento que se faz ao nível da prevenção e promoção da saúde produz resultados lentos, que serão visíveis apenas alguns anos após a implementação das medidas. Porém, temos alguns indicadores positivos, nomeadamente a tendência que se tem verificado para uma diminuição da prevalência do excesso de peso infantil. A avaliação que temos realizado a algumas das nossas medidas também mostram resultados positivos, como por exemplo, o impacto do imposto especial de consumo sobre as bebidas açucaradas. Este imposto promoveu a diminuição do teor de açúcar destas bebidas.
h - a oBeSidade e o eXCeSSo de PeSo da PoPulaçÃo CoNtiNuam a PreoCuPar a dGS? mJG - Sim, diria continua a preocupar-nos, bem como a todas as autoridades de saúde a nível internacional. Temos mais de metade da população com excesso de peso (incluindo a obesidade) e mais de 20% com obesidade. O desafio de combater a obesidade é enorme, em particular se considerarmos que nenhum país no mundo tem sido eficaz no combate à obesidade. A prevalência do excesso de peso continua a aumentar em todos os países.
h - QuaiS oS PriNCiPaiS erroS CometidoS PeloS PortuGueSeS em termoS alimeNtareS? mJG - Os portugueses apresentam um consumo elevado de sal, ingerindo cerca do dobro do limite diário máximo recomendado. Cerca de ¼ da população portuguesa apresenta um consumo de açúcar superior ao limite máximo diário recomendado. E por outro lado, os portugueses apresentam um baixo consumo de alimentos que podem ser considerados como “protetores”, como os hortícolas, a fruta, os cereais integrais e as leguminosas. Mais de metade da população portuguesa não atinge a recomendação diária para o consumo de fruta e hortícolas.
h - oS hÁBitoS alimeNtareS iNadeQuadoS SÃo um doS PriNCiPaiS fatoreS de riSCo Que maiS tem CoNtriBuÍdo Para a Perda de aNoS de vida SaudÁvel. o Que faZer Para iNverter eSta SituaçÃo? mJG - Este é um problema complexo e que exige a implementação de um conjunto alargado de medidas. Muitas delas são medidas difíceis de aplicar, que representam impactos significativos para o sistema alimentar como um todo e para a economia. Mas penso que Portugal está a fazer progressos nesta área, tendo conseguido recentemente implementar uma grande parte das “best-buys” da Organização Mundial da Saúde para a melhoria dos hábitos alimentares e prevenção das doenças crónicas. Do conjunto destas medidas destaco, por exemplo, a regulação da publicidade alimentar dirigida a crianças, a implementação de impostos sobre alguns alimentos pouco saudáveis e a modificação dos cabazes de alimentos distribuídos às pessoas mais carenciadas. São áreas onde temos estado fortemente envolvidos no PNPAS e onde valeu a pena investir.
h - QuaiS oS PlaNoS Para oS PróXimoS temPoS? mJG - Iremos seguramente dar continuidade à nossa estratégia para alterar a oferta alimentar, quer seja através de medidas para substituir o que está disponível para consumo alimentar em determinados espaços públicos, quer seja através de medidas que incentivem a reformulação dos produtos alimentares. Ao mesmo tempo, devemos englobar nesta estratégia a necessidade de reduzir as escolhas alimentares de má qualidade. Falo da publicidade e outras estratégias de marketing, por exemplo, através da implementação de restrições às muitas promoções e outras estratégias de incentivo ao consumo.
h - QuaiS aS GraNdeS BatalhaS Para o futuro? mJG - Continuar a nossa estratégia de comunicação de qualidade para profissionais de saúde, jornalistas e cidadãos através do nosso site nutrimento.pt e lutar contra o crescimento das fake news, que na área da alimentação e nutrição causam muitos estragos na saúde pública. Manter o interesse dos atores políticos sobre a necessidade de se manter uma estratégia alimentar em Portugal e continuar a colaborar ativamente com outras áreas tanto em Portugal como na União Europeia para a definição de uma política alimentar comum na Europa.