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AO SERVIÇO DA COMUNIDADE

JoSÉ maNuel Boavida Presidente APDP

APDP diaBeteS: “uma PaNdemia iNviSÍvel”

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Portugal é um dos países europeus com a situação mais preocupante no que diz respeito à diabetes. o presidente da aPdP pede mais consciência de todos para inverter a tendência.

A Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) nasceu em 1926, fruto da vontade do médico Ernesto Roma em combater as desigualdades sociais daquela época. Inconformado com as dificuldades que a população mais pobre enfrentava para aceder ao novo medicamente, a insulina, Ernesto Roma decidiu combater o problema, passando a tratar a população diabética sem recursos. José Manuel Boavida, atual presidente a APDP, explica que a associação nasceu para dar insulina aos pobres, passando depois a ensinar as pessoas a cuidar de si: «Levar à prática o que dizia num cartaz da época: “Fazer com que as pessoas com Diabetes vivessem

e trabalhassem como se não fossem doentes”». Com o aumento da esperança de vida dos diabéticos, a APDP tem-se dedicado a tratar das suas consequências. Atualmente, explica José Manuel Boavida, a APDP é «uma grande organização, que trabalha na defesa da causa da luta contra a Diabetes em todo o país, procurando unir todos os parceiros que possam colaborar: Serviços de saúde, autarquias, IPSS, associações locais de pessoas com Diabetes».

maiS PróXimo de Quem PreCiSa

Em paralelo, tem vindo a desenvolver programas de capacitação na gestão quotidiana das pessoas com a patologia, formação de profissionais de saúde, intervenções em bairros, com o apoio das autarquias, em campanhas de sensibilização e rastreios para diminuir as complicações associadas ao nível dos olhos, pés e rins. A sede conta atualmente com uma clínica multidisciplinar «com um modelo único no mundo, com o objetivo de criar cuidados integrados, envolvendo as pessoas com Diabetes com as especialidades que melhor podem colaborar nos seus cuidados: Endocrinologia/ diabetologia, cardiologia, oftalmologia, pé diabético, nefrologia. Mais de 50 mil pessoas passam pelos múltiplos serviços da APDP, todos os anos», assegura. O responsável assume ainda que a APDP tem sido determinante na definição das atuais políticas de saúde: Comparticipação da insulina, dos antidiabéticos, das tiras e sensores para o autocontrolo, passando pela criação de consultas de Diabetes, de educação, de pé diabético e de rastreios da retinopatia nos centros de saúde, dos Programas de Diabetes na DGS, entre outras.

400 mil CaSoS Por diaGNoStiCar

Apesar dos esforços da APDP, o retrato da patologia em Portugal continua a ficar muito aquém do desejável. Existirão em Portugal cerca de um milhão e 300 mil pessoas com Diabetes, havendo mais de 400 mil casos por diagnosticar, de acordo com os números do Observatório da Diabetes. «Antes da pandemia eram diagnosticadas, em média diária, 200 pessoas e internadas 500 nos hospitais. É a principal causa de cegueira, amputações não traumáticas e de diálise, e é a 4ª causa de morte em Portugal (sem contar o impacto que tem em muitas outras doenças, como o cancro ou as pneumonias, por exemplo, piorando o seu prognóstico). Poder-se-á dizer que é uma pandemia invisível, que não se tem conseguido travar, em consequência do envelhecimento da população, de uma alimentação hipercalórica e de uma vida sedentária». doeNça SoCial, reSPoNSaBilidade Coletiva

O acompanhamento e controlo da doença na vida das pessoas com Diabetes é uma tarefa constante. «As pessoas precisam de saber avaliar o que comem, o exercício que praticam, o valor das suas glicemias, cuidar dos seus pés, controlar a pressão arterial, ir a consultas regulares, fazer exames aos olhos, rins, coração. Não basta tomar comprimidos ou injeções. É um mundo de cuidados permanentes, que a sociedade tem obrigação de reconhecer», elucida o presidente da APDP. Mas talvez por ser uma doença silenciosa, seja desvalorizada. «A Diabetes diminui a esperança e a qualidade de vida, tem custos pessoais e sociais enormes», afirma José Manuel Boavida, adiantando que «a baixa escolaridade, a pobreza, o desemprego, a solidão, o stress, a depressão, a poluição, o tabaco, de acesso a alimentos frescos e da época, de uma vida positiva e estimulantes, entre outros, estão entre os seus fatores de risco. A Diabetes não é uma doença só individual, é uma doença da sociedade moderna, uma doença social». «A sociedade na sua globalidade deve repensar-se para ser mais amiga das pessoas, criando um mundo mais saudável e feliz. Aí sim, estaremos a dar a devida atenção à Diabetes e às pessoas que dela sofrem», conclui.

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