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ENTREVISTA ESPECIAL

ANTÓNIO RAMINHOS o humor aJuda a relativiZar

e é entre risos que antónio raminhos procura, a cada espetáculo a solo, fazer pensar e alertar para a importância da saúde mental. diagnosticado com um transtorno obsessivo-compulsivo, o humorista confessa que motiva-o «estar na luta», «porque a vida tem uma coisa espetacular: um dia estamos mal, mas o dia a seguir é o recomeço».

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h - Como SurGiu a voNtade de faZer do humor uma ProfiSSÃo? ar - Como se diz: A necessidade aguça o engenho. Eu era jornalista e o jornal onde eu trabalhava fechou. Nessa altura, porque tinha muito tempo livre, comecei a ler e a ver muitas coisas sobre comédia. Fiz um blogue e comecei então a escrever pequenos textos, depois comecei a tentar adaptá-los para stand up, até que surge um dia a oportunidade de tentar e ir fazer (stand up comedy). O mais engraçado é que foi numa Sexta-feira Santa. Ainda tive hipótese de voltar ao jornalismo, mas depois pensei: “Se é para continuar a ganhar uma treta, então mais vale continuar por aqui”. E foi o que fiz até aos dias de hoje e já lá vão 12 ou 13 anos.

h - PreoCuPa-Se maiS em faZer rir oS outroS ou em rir-Se Com aS SuaS PiadaS? ar - Obviamente o meu objetivo é fazer rir os outros, embora os meus espetáculos passem não só por fazer rir, mas também fazer pensar. Procuro que os espetáculos sejam algo mais do que um chorrilho de piadas, quando é o meu espetáculo a solo.

Quando são apresentações de 15/20 minutos, aí é só para a descontração. O mais engraçado é que quando me rio, quando estou a escrever uma piada, e acho que é muito boa, geralmente não é grande coisa.

h - eNvolve alGumaS veZeS a famÍlia NoS SeuS ProJetoS ProfiSSioNaiS. É difÍCil SeParar aS duaS CoiSaS? ar - Não é difícil separar as duas coisas, mas acho que faz sentido. A maior parte dos comediantes fala sobre a sua vida. Eu falo sobre aquilo que é a minha vida. Os meus pensamentos são sobre aquilo que me acontece, portanto, faz sentido incluir as ideias que me ocorrem quando estou com as minhas filhas, as discussões que já tive com a minha mulher. Tudo aquilo que me passa pela cabeça.

h - o humor Pode Ser teraPêutiCo? ar - Claro! Por isso é que existe uma coisa que se chama Yoga do Riso, que eu achei que era uma grande parvoíce, mas depois experimentei e realmente o riso acaba por ser contagioso. Aliás, é por isso que em situações de crise, de grandes tragédias, geralmente surgem logo piadas, às vezes até muito agressivas, porque é uma maneira muito humana de descontrair, de relativizar, de tirar carga negativa ao acontecimento. E isso acontece no meu próprio dia a dia.

h - Pode falar-NoS um PouCo SoBre oS SeuS atuaiS ProJetoS? ar - Eu tenho, neste momento, três projetos. O espetáculo “O sentido das coisas… e isso”, de stand up, o meu solo, que parou e que agora está a voltar aos poucos. É um espetáculo em que falo, sobretudo, da ansiedade, como é que eu lido com as questões da ansiedade e como é que, de certo modo, a tento ultrapassar. Se, no fim do espetáculo, alguém se tiver identificado com aquilo e consiga perceber “Não sou o único a passar ou a pensar nisto”, para mim já é uma vitória. Depois, tenho o “Ajuntamento” com o Nilton, o Guilherme Duarte e o Hugo Sousa. É, basicamente, uma espécie de clube de comédia. Vamos andar por algumas cidades a experimentar texto e cada um vai atuar 20/25 minutos. Aí sim, como eu dizia há pouco, é a ramboia! E gravei o piloto da série “Parte de mim”. Uma série pensada por mim, escrita por mim e pelo Luís Filipe Borges. Esta é uma série de humor negro, mas com coração. Acho que as pessoas vão gostar muito.

h - houve alGum ProJeto Que o teNha marCado de forma eSPeCial? ar - Eu acho que todos os projetos marcam. Parece cliché, mas é verdade. Todos os projetos marcam na altura que surgem e na altura que são feitos. Tenho memórias boas de tudo aquilo que eu fiz.

h - PreoCuPa-Se Com a Sua Saúde? Que hÁBitoS SaudÁveiS GoSta de Cultivar? ar - Para além de falar das questões da ansiedade, tento explicar às pessoas a importância da saúde mental e de procurarmos ajuda. Queremos amar, queremos ser felizes, mas depois, muitas vezes, comportamo-nos como máquinas, como se não pudéssemos ser afetados por nada. E não há necessidade de sofrermos sozinhos. Mesmo o pensamento mais idiota que possamos ter, já alguém o teve, já alguém passou por isso. E é muito bom podermos falar com alguém e perceber que isso é normal. Se eu estiver num buraco e me deixar estar, de luz apagada, sem me mexer, e não fizer por sair dali… É normal que continue lá. Por isso procuro, mesmo quando estou mais ansioso ou mais deprimido, fazer desporto, procuro fazer uma caminhada quase todos os dias, procuro meditar quase todos os dias (nem que seja 10/15 minutos) e tento ter uma alimentação equilibrada.

h - Que “relaçÃo” tem Com a farmÁCia e Com oS farmaCêutiCoS? ar - O farmacêutico é quase um conselheiro para situações mais pontuais e mais imediatas. É engraçado porque eu sempre gostei de farmácias. Não sei se é pela parafernália dos medicamentos e as gavetinhas. Gosto do cheiro das farmácias!

h - CoNheCe aS farmÁCiaS holoN? ar - Claro que conheço as Farmácias Holon! E inserem-se muito neste registo de farmácia moderna e mais abrangente. E é engraçado porque são farmácias modernas, mas mantêm um pouco do atendimento de antigamente, uma coisa muito pessoal.

aNtóNio ramiNhoS

Nome: António José Baião Caramba Fernandes Raminhos idade: 40 onde nasceu: Lisboa, Maternidade Alfredo da Costa filme: Os filmes do Jerry Lewis, pelas memórias livro: 1984 música: Ouço tudo... viagem: Maldivas Comida preferida: Gosto de experimentar tudo... que não tenha carne. Não como carne.

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