fazENDO Julho 2016
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E QUANDO AS NUVENS PARTIREM, O CÉU AZUL FICARÁ
fazENDO Num. 108 | Julho 2016
o boletim do que por cá se faz
Directores Aurora Ribeiro Tomás Melo Colaboradores Ana Correia | Joseph Lewin João Frias | Isabel Areosa Paulo Vilela Raimundo | Miguel Machete A Direção do CCIT | Rogério Sousa Fátima Madruga | Paula Luís Revisão Rita Mendes Paginação Maria Angenot | Tomás Melo Projecto Gráfico Raquel Vila Aceitamos colaborações sob a forma de DOAÇÕES | ASSINATURAS | CONTEÚDOS e VOLUNTARIADO DOAÇÕES | O Fazendo quer continuar a ser gratuito e é um projecto que funciona à base de voluntariado, mas temos grandes despesas de impressão, distribuição e manutenção. Recebemos doações na nossa conta da CGD: NIB: 0035 0366 000 287 299 3016 ASSINATURAS | Para receber o Fazendo em casa basta depositar 20€ na nossa conta: NIB: 0035 0366 000 287 299 3016
CAPA
Luís Andrade Forâneos explora as dicotomias familiar-estranho, concreto-abstrato, tendo como ponto de partida as letras do alfabeto latino, frames formais da linguagem, do pensamento e da cultura que se revelam na escrita do quotidiano. A familiaridade com o código suscita o questionamento dos modos condicionados de o percepcionar e o interesse pela desconstrução das suas formas, recuando até à estranheza da abstração para filtrar a força do desenho, com a intenção de desafiar limites estéticos. A Times New Roman, fonte histórica da imprensa, disseminada em jornais, livros, web e softwares digitais, fornece o molde às múltiplas composições. Cada letra determina uma matriz que é submetida a operações de multiplicação, rotação e sobreposição processo de transmutação em formas e padrões que adquirem autonomia criando novas leituras. forâneos (adjectivo) | do latim tardivo foraneus Que é de fora; que não é da terra em que se encontra = estrangeiro, estranho, forasteiro.
e juntamente com o comprovativo enviar o endereço postal onde se quer receber o jornal para vai.se.fazendo@gmail.com
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CONTRIBUI
FAZ
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PATRÍCIA
SMITH …a que pinta com tecidos.
ANA CORREIA Nunca fui grande fã de patchwork. Talvez porque o que me foi aparecendo na frente era, na maior parte das vezes, mais do mesmo daquele juntar aleatório de pequenos retalhos de estética duvidosa que, no seu conjunto, não traziam nada de novo e, muitas vezes, nem traziam nada de realmente aprazível à vista. Era a minha opinião. Até que um dia tudo mudou. Foi um dia em que, enquanto membro do júri numa das edições do Porto PimTado (concurso de artes plásticas e afins aqui do Faial), tive contacto com uma obra que apresentava, em patchwork, uma paisagem alusiva ao tema e que me deixou deveras entusiasmada. Não só a mim, mas também aos restantes membros do júri pelo que, nesse ano, conheci Patrícia Smith, vencedora do certame na categoria de arte livre. Para todos nós afortunados, finalmente a obra da autora foi exposta de maneira condigna para ser vista da melhor forma. Está patente ao público até ao dia 20 do
corrente mês na Biblioteca Pública da Horta e é, sem dúvida, um evento a não perder. As obras de Patrícia Smith não se limitam a juntar retalhos. Aliás, são obras que nos levam a querer olhar de longe e apreciar cada conjunto na sua totalidade, deleitando-nos com as conjugações das cores e dos formatos, do nascer de novas formas, quase de caleidoscópios têxteis como, por outro lado, somos atraídos para uma extrema proximidade ao ponto de quase sentir as fibras do tecido a roçar na ponta do nariz. De perto, perdemonos a analisar cada um dos milhentos retalhos, o seu padrão, o seu papel no conjunto, a sua singularidade escolhida a dedo para pertencer a uma obra com todos os seus pares. Para além disso, de perto podemos ver nalguns casos como nem só os tecidos e o seu recorte compõem a obra, mas como a própria linha costurada se atreve a criar novos desenhos e a sugerir outros caminhos. Nas poucas obras de Patrícia Smith
A mestria geometrizante que a artista domina na ponta dos dedos
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que eu já conhecia, sempre me deslumbrou a desordem que por vezes existe na sobreposição de retalhos, nas costuras desalinhadas, na faceta imprevisível e orgânica que eu ainda não tinha visto nessa técnica singular. Agora, depois de visitar esta exposição, dou-me conta de como esse lado desalinhado tão bem é complementado pela mestria geometrizante que a artista domina na ponta dos dedos, ao ponto de conseguir criar obras gigantes, cheias de pequenos detalhes que, depois de notados, passam a ser imprescindíveis. Patsy Elaine Smith nasceu na Geórgia, EUA. Veio de barco para as ilhas açorianas e, entre idas e vindas, acabou por cá ficar há cerca de 25 anos, deixando para trás uma carreira dedicada ao jornalismo e relações públicas. Aprendeu patchwork e quilt já no Faial e deixou-se e enredar na paixão dos tecidos, usando o seu espírito livre para lhes dar um novo rosto e trazer a esta técnica o seu cunho pessoal. Sem dúvida, a ir. Com tempo e olhos de ver!
BANDA DESENHADA por JOSEPH
LEWIN
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ANTÓNIO BRAGA
JOÃO FRIAS
E A CONSCIÊNCIA DO ACTOR EM CENA O Teatro de Giz, promoveu recentemente o workshop “Teatralidade – Consciência do Actor em Cena,” cuja orientação ficou a cargo de António Braga, actor licenciado em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Este workshop surge de um convite feito ao António no sentido de aproveitar a sua curta estadia no Faial, para visitar familiares e amigos. Esta é a partilha da conversa informal que tive com o António após o workshop. Ele teve um percurso pessoal que passou pelas ilhas do Faial e Terceira e finalmente por Lisboa, e desde cedo teve uma ligação com o mundo do teatro através de um professor da Escola Secundária da Horta, quando tinha apenas 15 anos de idade. O primeiro espectáculo onde participou foi encenado a partir do livro de Antonio Tabucchi intitulado “A mulher de Porto Pim”. Embora o teatro seja uma parte importante da sua vida, o seu percurso académico passou inicialmente pela área da Saúde (Enfermagem e Bioética). Posteriormente veio a licenciatura em Teatro, fruto de uma busca por realização pessoal. Das experiências laborais e pessoais, veio esta ligação profunda às pessoas, e nas palavras do próprio António, de se sentir como um “cuidador” do
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público, alguém que usa a presença e consciência em palco para trazer sensações à audiência que o assiste. Também assim foi no workshop, um elemento ativo e consciente tanto dos seus sentidos como da expressão das outras pessoas. Atento aos pormenores, para trazer o máximo de bem-estar a cada participante. Essencialmente esta formação passava por uma espécie de jogo com regras claras de concentração e foco, para chegar à consciência e eventualmente presença em palco. Passou pelo Teatro Experimental de Angra do Heroísmo na Terceira e pel’ O Bando, tendo trabalhado e sendo influenciado artisticamente por José Fragoso, Eduarda Borba, Jorge Parente, Maria Duarte e João Brites. Foi precisamente com O Bando, experiência laboral mais recente e onde é cooperante, que aprendeu muito do que transmitiu no workshop. O gosto pela comunicação, educação e teatro fazem com que seja uma pessoa genuinamente atenta aos formandos, instigando-os a percepcionarem por si o que a audiência veria se ali estivesse naquele momento. Quando questionado sobre com quem é mais fácil trabalhar, adolescentes ou adultos, profissionais ou amadores, o diálogo tomou um rumo de respeito por todas as pessoas, onde explicou as diferenças entre estes grupos. O discurso deve ser adaptado às necessidades da audiência que quer aprender mais sobre as suas próprias sensações, sendo que é preciso respeitar o percurso pessoal de cada pessoa que inicia este processo, independentemente da idade ou da ambição profissional. Como no caso dos actores profissionais, o vector e o local de trabalho
é o próprio corpo, é importante respeitar o bem-estar deste tipo de processos e não só integrar como explicar a transformação que a pessoa está a passar com o processo, para que não fique frágil. Partilhou comigo que o trabalho com crianças e jovens passa essencialmente por educação e pedagogia, uma vez que cada jovem tem o seu ritmo de aprendizagem. Em termos de resposta aos exercícios pedidos, os jovens não têm medo de brincar, tendo mais dificuldade em cumprir as regras, porque estão divertidos a brincar. Ao invés, os adultos, têm mais resistências, fruto não só do acumular de experiências pessoais, mas também pela força do hábito de sermos moldados pelos meios de comunicação e pela sociedade em geral, de acordo com regras e costumes sociais. A grande diferença entre os jovens e os adultos, é que os adultos têm o poder de decisão e de escolha pessoal informada e consciente sobre a sua participação neste tipo de formações que pode inclusive mexer internamente nalguns medos ou preocupações. Os jovens também escolhem, mas se for no âmbito de um projecto escolar, ainda existe a ideia que é uma aula fácil, onde não é necessário fazer muito. É sobre a desconstrução deste estereótipo que o teatro tem
o teatro não tem o dever de educar o público, mas sim a responsabilidade de o fazer também o dever de actuar. O António partilhou ainda que embora goste de trabalhar com todas as idades, prefere trabalhar com os adultos, não pelo desafio ser maior mas por um certo prazer associado à desconstrução das regras sociais, por um momento em que as pessoas se focam no objectivo do exercício e têm uma tomada de consciência. Disse-me que são raras as vezes em que se vê uma transformação extraordinária, mas que se percebe logo quando esta acontece. Questionado sobre qual a visão do teatro, António partilhou que acredita que existe uma ideia generalizada errada sobre o que é o teatro, e aprecia
genuinamente as pessoas que compreendem que o teatro pode ser usado como uma ferramenta para a transformação pessoal, através de uma experiência em que cada pessoa se vê a si mesma, tanto pelos seus olhos como pelos olhos dos outros. Ir ao teatro é um processo tanto para o público como para o actor que se empenhou e desafiou a construir algo a partir das suas sensações, emoções e imaginação, seguindo as orientações do encenador. Em relação ao futuro do teatro em Portugal, António mostrou-se humilde, por não conhecer a totalidade dos processos de trabalho nem estilos de teatro. Embora na sua opinião o teatro não tem o dever de educar o público, mas sim a responsabilidade de o fazer. Este é um aspecto que considera importante, e considera que deveria haver uma maior aproximação às pessoas, não no sentido de mostrar aquilo que as pessoas queiram ver, mas no sentido de as ajudar a viajar e terem experiências e sensações diferentes das do habitual ou do seu quotidiano. Em pouco mais de hora e meia e usando uma palavra usada por ele, tive o privilégio de poder dialogar sobre estas questões que no fundo são questões fundamentais que por vezes nos invadem, sobre a nossa postura e atitude na vida. No decorrer do workshop foram repetidas algumas vezes a importância de nos sentirmos personagens principais nas nossas vidas, de sermos activos e não meros espectadores ou personagens secundárias. E no fundo é provavelmente essa razão que nos continua a levar ao teatro, ao cinema, a ver novelas ou a ler livros: o desejo e a necessidade de ver/sentir/ ler alguém a superar obstáculos no seu dia-a-dia. Será que vemos o teatro ou as artes performativas como algo intelectual, ou como uma extensão da vida? Uma extensão que nos permite, a partir do momento em que despertamos para essa natureza, sentirmo-nos também protagonistas nas nossas vidas. Agradeço ao Fazendo, ao Teatro de Giz e ao António Braga a oportunidade de poder participar activamente nesta edição. 7 | fazENDO
WORKSHOP TEATRALIDADE ISABEL AREOSA “Nunca desmanches! Se tiveres vontade de rir, ri com ainda mais força!” Talvez esteja enganada, mas creio que sejam raros os atores infelizes em cima do palco. E hoje em dia, no ínfimo que sei, consigo perceber porquê. Há umas semanas recebi um e-mail do Teatro de Giz a desafiar-me para participar num workshop de teatro com o ator António Braga. O cartaz enunciava a palavra Teatralidade. Sem pensar muito no assunto e sem saber bem do que se tratava, respondi que sim, para assegurar o meu lugar. Foram muitas as sensações que passaram mim durante o workshop. Foi tão intenso que, apesar de estarmos aparentemente parados
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Rapidamente percebi que o teatro não se trata de nós, nem do nosso ego mas, sim, da sintonia e comunhão entre o grupo. durante os exercícios, todo o meu corpo suava e a voz tremia. Eu queria fazer tudo bem como uma aluna exemplar. Rapidamente percebi que o teatro não se trata de nós, nem do nosso ego mas, sim, da sintonia e comunhão entre o grupo. A escuta constante entre nós, o nosso corpo e os outros. Uma verdadeira experiência de autoconhecimento. A descoberta de quem somos. Ganharmos consciência do nosso corpo e da nossa mente. Aprender a sentir tudo à nossa volta, o frio, o calor, peso do corpo sobre os nossos pés. Estar no presente e estar disponível. Desde que cheguei à ilha azul, tive a felicidade de participar em dois workshops de teatro, totalmente diferentes um do outro. Acreditem,
não me tornei numa grande atriz, mas, com certeza, tornei-me numa pessoa mais rica, mais madura e mais disponível para as pessoas e para o mundo. E é disso que se trata. O teatro abre “gavetas” no nosso cérebro que não sabíamos que existiam. Experienciamos e testemunhamos sensações que não fazíamos a mínima ideia ser possível existirem. Muitas vezes nem percebemos à primeira do que se trata. Pode deixar-nos confusos ou até mesmo frustrados. Tomamos consciência do nosso EU físico e mental. Percebemos a importância de um olhar, de uma palavra, de um movimento ou de uma respiração. Tudo conta neste palco que é a vida.
P E
CANÇÕES PARA… UM TEMA, DEZ CANÇÕES TODOS OS MESES UMA PARTILHA DE CANÇÕES QUE SE ADEQUAM A UM DETERMINADO EVENTO OU OCASIÃO. UMA VIAGEM CONJUNTA, A PARTIR DO MEU UNIVERSO. JOÃO FRIAS
Nesta primeira edição:
O VERÃO
1. Thievery Corporation- Firelight (feat. Lou Lou Ghelichkhani) 2. Happy End – Kaze wo atsumete 3. Deolinda – Corzinha de verão 4. The Guys From The Caravan –The guy from the caravan 5. Chet Faker - Gold 6. Jessica Fletchers – Summer holiday & me 7. Save Ferries –The world is new 8. Sublime - Santeria 9. Grimes – REALiTi 10. Glass Animals – Life itself
Bons sons e até para o próximo mês. 9 | fazENDO
O O NAVIO NAVIO TRES TRES COMÉRCIO JUSTO TRANSPORTE JUSTO O FairTransport é uma ONG que procura sensibilizar para a problemática da sustentabilidade ambiental, com particular enfoque nas emissões brutais de gases tóxicos provocadas pela marinha mercante contemporânea. O projeto é assim também uma reflexão sobre a própria lógica da globalização, sistema de distribuição de bens que se vem baseando num intenso dispêndio de energias fósseis, muitas vezes para transportar bens de primeira necessidade, produtos de baixa qualidade, e sobretudo produtos que são resultado de negócios injustos para as pessoas e regiões que os produzem. Há 7 anos que transportam e distribuem mercadoria via marítima apenas com a força do vento. Serviço iniciado em dezembro de 2009 com o bergantim Tres Hombres, um veleiro com 32 metros de comprimento. Tem como princípio ético a sustentabilidade económica, social e ambiental de frete de carga entre a Europa, as Ilhas do Atlântico, Caraíbas e a América. A embarcação tem capacidade para 35 toneladas de carga, além de acomodar 5 tripulantes e 10 alunos/passageiros. Desde 2015 que o Fairtransport conta com mais uma embarcação - o Nordlys – dando seguimento aos objetivos de expansão da frota, permitindo aumentar a frequência de passagens e consequentemente o volume de carga transportado. Fator que favorecerá a rentabilidade e visibilidade do projeto global. O Tres Hombres e o Nordlys são os únicos navios cargueiros sem motor no mundo a realizar transporte internacional de mercadorias que, para além de ser de Comércio Justo (fairtrade), é também de Transporte Justo (fairtransport), conceito que o projeto pretende disseminar. Os produtos transportados a bordo destas embarcações recebem um rótulo “Produtos Classe A Fairtransport”, o que equivale dizer que são transportados unicamente à vela, garantindo uma redução de 90% de CO2. O mais icónico dos produtos transportados é o rum, proveniente da República Dominicana, sendo que das Américas e Caraíbas levam também para o continente Europeu grandes volumes de cacau e café.
O Tres Hombres e o Nordlys são os únicos navios cargueiros sem motor no mundo a realizar transporte internacional de mercadorias
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a histó
Três amigos, Arjen van der Veen e Jorn Holanda, e Andreas Lackner, da Áustr se a bordo do navio Europa, em 2000. viagem que nasceu o sonho de transpo de forma tradicional, exclusivamente chegaram à costa americana, Andreas de concretizar os planos que tinha na Améri Arjen desembarcaram em Michigan e, e construíram o primeiro “Ecoliner” da fr o barco Pierius Magnus, que cruzou o o entre Maio e Outubro de 2002. O reencontro deu-se em 2006, altura em procedimentos de projeção do futuro nav transporte à vela. Em 2007, Arjen, Jorne e Andreas encon de um navio de pesca alemão, usado co de minas na II Guerra Mundial. De i começaram a congeminar um plano de navio, convertendo-o naquele que seria h belos veleiros do nosso tempo. Graças à incrível ajuda de 120 volunt mundo, o bergantim foi construído em e partiu na sua viagem inaugural em de com destino à Conferência do Clima, em
S S HOMBRES HOMBRES PAULA LUÍS
ória
ne Langelaan, da ria, encontraramFoi durante esta ortar mercadorias, à vela. Quando eixou o navio para ica do Sul. Jorne e em poucos meses, rota Fairtransport: oceano sem motor
m que iniciaram os vio de comércio e
ntraram um casco omo um varredor imediato, os três e reconstrução do hoje um dos mais
tários, de todo o apenas dois anos ezembro de 2009, m Copenhaga.
TRES HOMBRES
no Faial Em abril de 2013, durante a estadia do Tres Hombres no Faial, o capitão da embarcação, Andreas Lackner, desafiou algumas entidades locais para a possibilidade de implementar no Faial a construção de um navio semelhante ao Tres Hombres e ao Nordlys, ao constatar que as condições que a ilha oferece, quer pelo seu posicionamento geográfico, quer pelas tradições marítimas aqui preservadas, afigurarem-se ideais para tal fim. O Transporte Justo – Açores, é um grupo voluntário do qual faço parte, que nasceu do cruzamento entre a vontade e mobilização de cidadãos comuns com a inspiração e provocação do capitão Andreas Lackner e seu projeto. O que se configura como a missão conjunta do Transporte Justo – Açores com a ONG Fairtransport é a futura construção de uma embarcação semelhante ao Tres Hombres e ao Nordlys, constituindo assim o Faial em parceiro na expansão e desenvolvimento do projeto global através da criação de condições para a construção de uma nova embarcação,
Os produtos transportados a bordo destas embarcações recebem um rótulo “Produtos Classe A Fairtransport”
para a manutenção da frota, bem como para o fornecimento de mercadorias, tirando assim partido das condições e dos conhecimentos presentes nesta região, tal como já se tem vindo a verificar ao servir de base de apoio a toda a operação do projeto no Atlântico. Contudo, nesta fase inicial, o foco do Transporte Justo - Açores está na promoção do projeto, através do estabelecimento de pontes entre o Fairtransport e os empreendedores locais. Enquanto grupo voluntário a sua ação rege-se pelos princípios da partilha de esforços, conhecimentos, inspirações. Essa é a moeda. Desde que iniciou a sua operação nos Açores, o Tres Hombres tem vindo a abastecer-se com produtos locais, nomeadamente: Atum de Santa Catarina, Mel, Ervas aromáticas da Casa D’Ávilas, Chá Gorreana, e vinho do Pico, os quais foram vendidos nos mercados da Holanda, com o selo “Produtos Classe A Fairtransport”, transportados unicamente à vela, garantindo uma redução de 90% de CO2.
Quinta Bio Sabores com Jason Dias
Ervas Aromáticas da Casa D’Ávilas
Atum de Santa Catarina a ser transportado para o Tres Hombres, Velas
Mel Multiflora, Petra Adam
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A REALIDAD de PAULO VILELA RAIMUNDO
SO
É nesta geração de cria que residirá a responsab
Tal como todos vós, já não suporto mais chuva e dias plúmbeos que, escurecendo os dias, nos ensombram a alma.
Magreb, que vêm desaparecendo para (entre outros crimes) traficar os seus órgãos e dizemos: Que horror. Mas não são os nossos!
Anseio pelo regresso do nosso anticiclone, que junto com o bom tempo nos devolva o gosto pelo culto da família e dos amigos, em ambiente necessariamente otimista e de confiança.
Vemos diariamente pelos noticiários que a instrumentalização de menores nas guerras é uma realidade e pensamos: É uma barbaridade. Mas “eles” (lá longe) pensam de maneira diferente de nós!
Pena que, enquanto espero, não me saia da cabeça a dúvida quanto à eficácia do recém-passado “dia mundial da criança” e o esforço que muitos de nós fazemos para encobrir e esquecer o óbvio.
Não conseguimos negar que, no nosso bairro, na nossa aldeia, no nosso “pequeno mundo”, existem meninos e meninas que, sem nunca o ser, passam diariamente fome e carecem continuadamente de orientação afetiva e formativa que os transforme em elementos válidos e bem formados. Mas, numa sociedade que é responsabilidade de todos nós, pensamos: Sempre houve pobres e agora até têm apoios sociais que nunca tiveram...
Enquanto nos “sacrificamos” a andar mais uns metros a pé, para que os meninos possam brincar nas ruas citadinas das nossas urbes, gostaríamos de esquecer que para milhões de crianças essa não é a sua realidade e que muitas delas nada conhecem para além da guerra, da fome e do medo. Ouvimos falar nos milhares de crianças, em fuga da região do
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Só que é nesta geração de crianças (ricas ou pobres) que residirá, mais cedo ou mais tarde, a responsabilidade de gerir o futuro.
Pessoalmente não gostei da obra Ensaio sobre a cegueira de José Saramago, por considerar que na vida real não existem “interruptores” que ao serem acionados nos devolvam a visão (leia-se a lucidez e o bom discernimento).
DE CARECE
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anças (ricas ou pobres) bilidade de gerir o futuro. A omissão (porque é um problema dos outros…) e o “enterrar a cabeça na areia” não nos levará lá. Nem a ilusória noção de fronteira, seja ela de que tipo for, nos garantirá segurança e proteção que justifique a demissão de, no mínimo, dizermos: Basta!
Se neste ilusório “mundo ocidental” onde gostamos de nos sentir inseridos, se pretender realmente demonstrar algum comportamento ético e comportamental que justifique o avanço tecnológico e financeiro existente, urge cortar radicalmente com tudo o que conflitue com a igualdade de direitos e de oportunidades, independentemente das proveniências, raças ou credos. Como é possível que os chefes de organizações terroristas, em muitos casos verdadeiramente criminosos, negoceiem diretamente com nações que se dizem evoluídas, para comprar armamento, vender petróleo e diamantes,… enfim, fazendo parte integrante (e muito lucrativa) do sistema económico e financeiro mundial? Não recearão os membros dos G7, G8, G20, … que os seus ficcionados “punhos de renda” deixem de encobrir as nódoas? Onde está a ética e os princípios nos líderes das maiores potências mundiais, para em troca de proventos
chorudos hoje, hipotecarem o futuro de amanhã? Pois é! Este é o espírito que os dias de chuva nos trás… Só que isto não vai lá só com sol. Propunha-vos como exercício do próximo e desejado dia de sol, enquanto nos refastelarmos junto ao mar, observando protetoramente os nossos/vossos filhos e netos, que individualmente e à nossa escala, encontrássemos algo que sendo concretizado pudesse fazer a diferença. Seremos capazes de, com um pequeno gesto ou atitude, começar a mudar o mundo? P.S.: Segundo as estatísticas, recentemente divulgadas pelo Instituto de Apoio à Criança, no período em que esbocei este texto, desapareceram algumas dezenas de crianças na Europa, que maioritariamente não voltarão a aparecer.
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Entrevista: música
Frederico Oliveir “Freddy Locks”
MIGUEL MACHETE Nome, apelido e projetos musicais do passado e do presente Frederico Oliveira (Freddy Locks), tive a primeira banda em 1996, chamava-se “Ratos Fanhosos” e era uma banda de Punk Crust em que só tocava guitarra, depois a primeira banda de reggae chamada “Nature” em 1999, depois a banda “20 pás 8 e os Pexisbeque da Candonga” que acabou em 2001, depois de 2001 a 2006 tive a banda “Poormanstyle”, e comecei meu projeto a solo de 2004 até hoje. Como foi a primeira vez? (como surgiu e se concretizou o primeiro projeto, o primeiro concerto?) O primeiro concerto foi numa escola secundária em Lisboa chamada D. Pedro V em 1996 com a banda “Ratos Fanhosos” - só tocava guitarra e tínhamos três vocalistas. Era mesmo só militância, éramos um grupo de okupas de Lisboa completamente anarquistas e por isso não era a qualidade musical o nosso objetivo mas sim a mensagem política. A primeira vez que me senti mais músico e cantor foi em 1999 quando toquei no Ritz Club em Lisboa com a banda “Nature”. Tive muitos nervos mas também a certeza de que a música e o palco eram o meu interior e que já não ia conseguir viver sem fazer isso. A música é colega, amiga, amante, ou assinaste mesmo os papéis? A música é o meu melhor amigo, o meu psicólogo - eu não gosto de música, eu preciso de música para conseguir estar bem emocionalmente. É o meu balão de oxigénio nesta minha passagem por esta vida. É impossível separar a minha existência e a música, somos um. Depois de anos de vivência conjunta, o quotidiano não se torna maçador? Depende da forma como sentimos a música, na minha vida a música salva-me da realidade maçadora... é impossível cansar-me da música porque sempre fiz apenas a música que gosto, nunca fiz música com outro objetivo que não seja a satisfação do meu espírito e para me guiar para o
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bem, é realmente algo espiritual para mim. De que forma convives com as músicas dos outros em Portugal e no mundo? Vivo um pouco frustrado porque reflete a realidade e a realidade não é boa. Ouço música dos anos 60 até aos 90... em casa quase só música dos anos 70... Música portuguesa adoro Zeca Afonso, António Variações... gosto de Jorge Palma e Sara Tavares. Em termos de reggae não me identifico com nada feito em Portugal até hoje... é duro mas é a verdade... de certeza que há música maravilhosa mas como é o dinheiro que move o mundo e as tecnologias estão cada vez mais poderosas, acabamos por ser bombardeados com música muito má. As músicas que se vão fazendo por cá, chegam aí? Infelizmente não posso dizer que sim, pelas razões que falei na resposta anterior. Na minha visita ao Faial, tive a sorte de conhecer e trazer para casa dois álbuns muito bons de uma banda chamada “Bandarra” - não conhecia mas a qualidade musical e conteúdo foi do melhor que tenho ouvido em português. Infelizmente pude saber da dificuldade que é vir tocar ao continente e consequentemente manter a banda em atividade. Acredito que os Bandarra seriam uma banda importante em Portugal, caso tivessem apoio de quem podia e devia apoiar a cultura. Espero que se faça cada vez mais música nos Açores e que as pessoas apoiem cada vez mais os músicos da região. Já deste música aos Açorianos? Foi bom para os dois? Adorei o meu concerto no MUMA no Faial... foi de facto mágico e que não vivia há muito tempo. Tenho tocado em todo o lado, já toquei nos maiores festivais de Portugal e a forma como fui recebido no Faial, os dias que passei aí, foram inesquecíveis... o concerto foi algo novo para mim pois toquei em Trio (eu+baixo+bateria) e nunca tinha feito isso antes. Correu muito bem e as pessoas sentiram a música... senti que foi lindo demais para mim e para as pessoas que lá estiveram.
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Adorei o meu concerto no MUMA no Faial 15 | fazENDO
CINE-Clube da
ILHA Terceira A DIREÇÃO DO CCIT No passado dia 18 de janeiro de 2016, decorreu a Assembleia Geral do Cine-Clube da Ilha Terceira (CCIT), tendo sido eleitos os novos corpos dirigentes. Assim, para a Assembleia Geral foram eleitos Manuel Martins (presidente), Valter Peres (vice-presidente), Pedro Corvelo (secretário), Manuela Juliano e Lázaro Silva (suplentes); para o Conselho Fiscal foram eleitos Paulo Gomes (presidente), Geraldo Castro (relator), Maria João Vieira (secretária), Miguel Costa e Joel Neto (suplentes) e, para a Direção, foram eleitos Jorge Bruno (presidente), Sandra Silva
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(tesoureira), Bianca Mendes (secretária), Rogério Sousa e Carlos Bessa (vogais). Três anos depois do seu reaparecimento, o CCIT afirmouse na ilha Terceira e é, hoje, indiscutivelmente, reconhecido como uma associação representativa da sétima arte, em tudo o que lhe diz respeito: filmes, realizadores, produtores independentes, pesquisadores, críticos e pessoas em geral que se interessam pelo cinema. Mantém-se como uma instituição sem fins lucrativos, plural, com propósitos culturais, educativos, éticos e ambientais, que pretende não só chegar a diferentes tipos de públicos, como também contribuir para a criação de novos
públicos. Em 2015, o CCIT exibiu 135 filmes, num total de 3280 espetadores. Destacam-se cinco exibições independentes: Alentejo, Alentejo, de Sérgio Tréfaut; Cowspiracy, de Kip Andersen e Keegan Kuhn; Alto Bairro, de Rui Simões; O Livreiro de Santiago, de Zeca Medeiros e Outro País, de Sérgio Tréfaut, bem como uma extensão do Festival Internacional de Cinema da Serra da Estrela – “Cine’Eco de Seia”, três ciclos de cinema (Cinema de Verão “Os Grandes Mestres NorteAmericanos do Séc. XXI”, Cinema para a 3ª Idade e Ciclo de Cinema para ATL’s), a coorganização, com o Alpendre – Grupo de Teatro, do projeto multicultural “5 Sentidos” e duas parcerias pontuais, uma com a Galeria Re.Act (Ciclo de Cinema das Festas da Praia e Ciclo de Curtas Austríacas) e outra com o Festival Azure, estes últimos dois
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TRÊS ANOS DEPOIS DO SEU REAPARECIMENTO, O CCIT AFIRMOU-SE NA LHA TERCEIRA E É, HOJE, INDISCUTIVELMENTE, RECONHECIDO COMO UMA ASSOCIAÇÃO REPRESENTATIVA DA SÉTIMA ARTE
projetos jovens ligados às artes plásticas e às artes performativas. Regista-se ainda a participação, no âmbito da comemoração do Dia Mundial do Jazz, no projeto “Tudo à Volta do Jazz”, na Escola B/S Tomás de Borba, com a exibição do documentário Lady Day – The many faces of Billie Holiday, de Matthew Seig. Numa ilha onde a exibição regular de cinema dito comercial é assegurada pelas edilidades, o CCIT desempenha um papel fundamental quanto à oferta de uma diversidade estética e democrática, permitindo o acesso a diferentes cinematografias e géneros, que passam por curtas, médias ou longas-metragem, por cinematografias de autor e documentários, pela animação e pelo cinema experimental. E neste contexto, tem sido intenção do CCIT a fruição da sétima arte em espaços que não as salas de cinema, como sejam jardins, sociedades recreativas, escolas, lares e creches, sedes de associações culturais, como a do Alpendre – Grupo de Teatro, ou de instituições como o Museu de Angra do Heroísmo,
as Santas Casas da Misericórdia de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória. É também de referir a atenção e o papel do CCIT na divulgação, conhecimento e relevância cultural e estética do cinema, preocupandose com a formação e criação de públicos, nomeadamente dos mais novos, tendo por isso sensibilizado a Secretaria Regional da Educação e Cultura para a importância do cinema nas escolas. Assim, para além da exibição de alguns filmes em espaço escolar, foi possível, junto de duas escolas, a Secundária Tomás de Borba e a EBI Francisco Ferreira Drummond, articular e preparar a adesão das mesmas ao Plano Nacional de Cinema, com a criação de dois clubes escolares dedicados à sétima arte, sendo objetivo do CCIT conseguir a adesão a este projeto de mais estabelecimentos de ensino da ilha Terceira. Estes clubes têm levado a cabo atividades semanais relacionadas com vários aspetos do cinema, de que se salientam a audição e identificação de bandas sonoras, a animação, captação e
reprodução de imagens, a exibição de excertos de filmes. Além deste objetivo de continuidade e reforço de ações junto do público escolar, o CCIT quer ainda permitir o acesso a novas cinematografias e a obras representativas da estética cinematográfica, proporcionar o contacto do público com realizadores, produtores, críticos e outros profissionais do cinema, criar na ilha Terceira novos espaços de exibição e fruição da sétima arte, além de manter atividades regulares de exibição de ciclos de cinema e de realizar um festival bienal internacional de cinema sobre o tema do mar, ilhas e aventuras. Tal só será possível pela continuação de uma política de parcerias com várias instituições, associações e empresas, que se espera vir a alargar, de forma a fazer chegar a todos as diferentes manifestações e géneros cinematográficos.
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(d O a C qu E es RN tã E o)
MYRICA faya ROGÉRIO SOUSA Quando os Myrica Faya surgiram pela primeira vez ao público açoriano, não tive dúvidas de que se tratava de um projecto para ter continuidade. Primeiro, pela composição da banda: Bruno Bettencourt (voz, viola-daterra de 15 e de 12 cordas e adufe), Cláudio Oliveira (voz, baixo e acordeão), Emílio Leal (voz, piano, ukelele e baixo), Pedro Machado (voz, guitarras e flauta) e Ricardo Mourão (voz, guitarras e percussão), todos músicos experientes, exmembros de diversos projectos
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musicais com provas dadas, e todos com experiência em trabalhos de colaboração musical e de equipa. Segundo, pelo que se propunham fazer: a recolha de músicas tradicionais açorianas e a reinvenção contemporânea do cancioneiro dos Açores. Se a primeira premissa nos dava conta de um projecto com “raízes” sólidas – para fazer referência directa ao nome Myrica Faya que é, nada mais, nada menos, uma árvore endémica dos Açores –, a segunda premissa revelou-se desde o álbum “Vir’ó Balho” uma aposta ganha e muitíssimo bem conseguida. Uma coisa é tocar as músicas tal qual o original, outra coisa é fazer uma versão moderna de uma coisa tradicional, outra ainda são os Myrica Faya – que conseguem não só os ecos tradicionais e originais
das composições que reinventam, como também a incorporação de momentos que surgem com uma sonoridade completamente nova, continuando a ecoar-nos a essência que está na base da criação original. Em “Do Cerne”, os Myrica Faya voltam à mesma questão: investigar, recolher e reinventar as bases musicais de muitas das manifestações musicais dos Açores. Com alma, com coração e com dedicação à sua terra, estes cinco músicos conseguem de facto “comercializar” um som açoriano (portanto, mais circunscrito a quem é dos Açores) e torná-lo universal e reconhecível. São vários os pontos positivos neste projecto que vale mesmo a pena conhecer a fundo.
TERAPIA
pela infância Estar «consciente da própria inocência» provoca uma força incrível.
FÁTIMA MADRUGA Quem está feliz na sua condição? Será que o estado natural do ser humano é a felicidade? Se me dão licença, revelo a minha opinião de 61 anos: - Estar permanentemente feliz, seria o estado natural do ser humano.
dum acontecimento muito doloroso para mim, que se deu o ano passado, quedei-me prostrada no mais atávico dos sofrimentos. A arte, ao invés de me distrair, faziame jorrar atrozes sentimentos de perda e desolação profundos. A dor estava a desfazer-me.
Ah, mas agora resta saber o que é a felicidade, pois, pois! Não me arrogo o direito de afirmar tal ou tal conceito, por mais ancestral ou ajuizado que seja. Mas rejo-me assim: Para ser feliz é preciso não ter conceitos, nem pré, nem pró.
Pensando na primeira regra e agindo pela segunda, comecei a pintar pequenos quadrinhos representando miniaturas em barro, que me devolviam à infância, para longe daquele sofrimento. Transportei-me, a pouco e pouco, para lá. Era só o que eu conseguia fazer, relativamente agradável.
Prezo escrupulosamente o vosso tempo único – portanto abreviarei o inabreviável nestas linhas – mas passo o que me ocorre fundamental para que se opere, no campo emocional, uma abertura idílica. 1 – Ter noção do próprio direito a uma condição emocional de leveza. 2 – Agir para a obtenção dessas condições, em qualquer circunstância. 3 – De modo algum considerar o seu semelhante como adversário, uma vez que isso inviabilizaria a pureza do estado de espírito. 4 – Cuidar do tempo, como o único bem, fazendo com ele o melhor destino possível. Na linha destas considerações, faço andar o mais recente vagão do meu comboio de experiências. Na sequência
Pouco a pouco, era capaz de fazer outras coisas, com a infância sempre ao fundo. Comecei a estudar tudo o que me soava importante para voltar à situação real de adulta, profissional e mãe. Desta passagem, ficarão como testemunho as minhas miniaturas. Decidi continuar, até ao final de 2016, o desafio de pintar só pequeno, em homenagem agradecida à infância que me curou. «Pequeno é Bonito» e, paradoxalmente, muito mais eficazmente curativo do que o grande. Estar «consciente da própria inocência» - expressão do filósofo Nietzsche - provoca uma força incrível. Terei imensa alegria, se isto vos for útil. 19 | fazENDO
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