fazENDO EDIÇÃO ESPECIAL
107 Junho 2016
festival m a r av i l h a 9, 10, 11 jun horta marina
foto: Carlos Olyveira
fazENDO Num. 107 | Junho 2016
Edição Especial Festival Maravilha 30 Anos da Marina da Horta
O Jornal Fazendo é um jornal comunitário, não-lucrativo e independente sobre o que se faz nos Açores em cultura e ciência. Foi criado na ilha do Faial em 2008. É propriedade da Associação Cultural Fazendo, da qual fazem parte voluntários com vontade de promover o Acção e o Conhecimento nas nossas ilhas. O Jornal sempre foi e continuará a ser gratuito. Para além da versão em papel, também tem uma edição on-line emitida para os quatro cantos do mundo. Para receber a versão digital basta enviar um e-mail a pedir isso mesmo para vai.se.fazendo@gmail.com . Fazendo is an independent community journal about Culture and Science, with no commercial purpose. It was founded on Faial island back in 2008 and is owned by Associação Cultural Fazendo which is formed of volunteers who are eager to promote Action and Knowledge on our islands. The journal is distributed for free, and we intend to keep it this way. Besides the printed version, there is also an online edition , easily accessible to the four corners of the world. To receive the online version, please contact us at: vai.se.fazendo@gmail.com
www.fazendo.pt vai.se.fazendo@gmail.com
João da Ponte (1957-2016) vamos continuar a fazer
EDITORIAL
AURORA RIBEIRO
Até para quem escolheu a liberdade, um porto de abrigo é uma Maravilha
Even for those who chose freedom, a port of haven is a marvel (Maravilha).
Esta é a edição especial do Fazendo dedicada ao Festival Maravilha. Três associações culturais faialenses, Fazendo, Teatro de Giz e Música Vadia fazem-no acontecer na Marina da Horta. Há 30 anos inaugurou-se a obra que veio facilitar e institucionalizar a recepção aos aventureiros, e permitir que a cada ano muitos mais viessem aqui aportar.
This is the special edition of Fazendo, dedicated to the Maravilha Festival. Three local cultural associations, Fazendo, Teatro de Giz and Música Vadia are the driving force behind this festival at the Marina of Horta. It has been 30 years since this port was extended allowing for more adventurers to come and moor in it.
Mas o desenvolvimento tem sempre duas faces. O que se ganhou em número e euros talvez se tenha perdido em calor e companheirismo. A rapidez, o conforto e as massas trazem também o anonimato, a impessoalidade e o alheamento. Quantos deles chegam e partem ignorando a ilha e os seus habitantes? E quantos vemos passar sem lhes perguntarmos de onde vêm e o que os move?
But development always has two faces. What has been gained in numbers and euros, may have been lost in warmth and companionship. Quickness, comfort and the masses also bring anonymity, impersonality and alienation. How many sailors arrive and depart ignoring the island and its inhabitants? And, how many do we see passing by, without even asking where they are coming from and what is it that keeps them going?
Resolvemos reunir mil artes na Marina da Horta. Entendemos a Arte como meio de convergência e a Aventura no sentido literal da palavra. Um verdadeiro porto de abrigo deve promover encontros. Tal como este jornal tinha que ser bilingue.
Therefore, we decided to unite thousands of arts at the Marina of Horta. We perceive Art as a means of coming together and Adventure with its most literal meaning. A true port of haven should promote meetings. This is why this journal had to be bilingual.
Bem-vindos à Maravilha.
Welcome to Maravilha.
Páginas 3 - 10
FESTIVAL MARAVILHA MARAVILHA FESTIVAL
Páginas 11 - 17
30 ANOS DA MARINA DA HORTA MARINA DA HORTA 30 YEARS
Páginas 18 - 36
JORNAL FAZENDO FAZENDO JOURNAL
festival maravilha DIA 9
DIA 10
DIA 11
fungis magic truxis
último momento
parada cultural
Jordi Bertran
Jordi Bertran
chamarritas
último momento
teatro de giz
sofia e wilson
las çarandas
lone lisbonaires
banda intervimprov
dj mitriates
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DIAS 9, 10 & 11
FungIs Magic Truxis
CIRCO / ACROBACIA PONTA DELGADA São uma Companhia de Circo que nasceu nos Açores em 2006. Utilizando a animação como forma de expressão e entretenimento e levando consigo na mala espetáculos, workshops, animação de rua e de espaços, já pisaram vários cantos dos Açores, Portugal continental e do estrangeiro. Recentemente começaram a enveredar pela vertente pedagógica e de inserção social, participando em vários projetos. Em 2011 deram os primeiros passos na organização de eventos e workshops. Estas atividades têm base na destreza física e mental, no equilíbrio e na concentração que as acrobacias e os malabarismos exigem, tendo como objetivo propor uma viagem de cor e alegria para um público de todas as faixas etárias, por uma arte que tem já centenas de anos e com fortes raízes no espectáculo circense. TODOS OS DIAS
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They are a circus company founded in the Azores in 2006. Using performance as a form of expression and entertainment, and carrying various spectacles, workshops and street performances in their bag. They have passed through various corners of the Azores, continental Portugal and other countries. They recently started directing their work towards instructive projects and include social intervention. In 2011, they commenced their first steps in organizing events and workshops. Their activities are based on physical and mental coordination, balance and concentration that acrobatics and juggling require, with the aim of creating a journey of colours and delight for an audience of all ages, an art with centuries of history that has strong roots in circus performances. ALL DAYS
DIAS 9,
Jordi Be MARIONETAS
Circus é um espectáculo do marionetista catalão Jordi Bertran, inspirado na obra da estrela universal e intemporal Charlie Chaplin. Vários personagens, retirados do imaginário dos filmes de “Charlot”, interagem uns com os outros e com Toti, um palhaço com espírito de criança que, com objectos muito simples, se dedica a criar uma relação com o público de forma divertida carinhosa e poética. As marionetas, de construção perfeita, fruto de muitos anos de experência, são manipuladas com tal rigor que criam grandes doses de emoção no público. Cada movimento, cada olhar, cada passo dado por estes bonecos é executado com uma tal precisão que é capaz de seduzir toda uma plateia e levá-la a acreditar mais na vida que eles trazem dentro que nos fios que os manipulam. QUINTA 21H, SEXTA 19H, SÁBADO 12H
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DIAS 9 & 10
ertran
O Último Momento
BARCELONA
MASTRO CHINÊS LISBOA / TOULOUSE
Circus is a performance created by the Catalan puppeteer Jordi Bertran, inspired by the universal and timeless work of Charlie Chaplin. Several personalities drawn from the imaginary world of ‘Charlot’ films interact with each other and with Toti, a clown with the spirit of a child who manages to create a joyful, loving and poetic relationship with the audience using very simple objects. The puppets, perfectly constructed as a result of years of experience, are operated so skilfully that the audience truly feel the emotion. Every movement, every gaze, every step is so excellently performed that it can seduce the whole audience and make people believe more in the life carried inside the puppets than in the lines that operate them. THURSDAY 21H, FRIDAY 19H, SATURDAY 12H
Dois artistas portugueses, João Paulo P. dos Santos, um acrobata de Mastro Chinês e Rui Horta, coreógrafo, confrontam os seus universos singulares que se alimentam um do outro. Das suas diferentes apreensões do corpo e das suas ligações comuns às coisas nasce “Contigo”. Um palco nu, alguns objectos, um mastro e sobretudo um corpo. João faz estalar a sua raiva e a sua virtuosidade entre o céu e a terra, mas mostra também a exaustão e a solidão do artista. “Não procuro ser ou não um dançarino, mas estar em harmonia com o mastro e com o meu corpo”. QUINTA 22H, SEXTA 20H30
Two Portuguese artists, João Paulo P. dos Santos, an acrobat of the Chinese pole, and Rui Horta, choreographer, confront their singular universes which are nourished by each other. From their different understandings of the body and common connections rises “Contigo”. An empty stage, few objects, a pole and above all, a body. João manages to flick his fury and virtuosity between the sky and the earth, but also presents the solitude and exhaustion of the artist. “I don’t seek to be a dancer or not, but to be in harmony with the pole and with my own body”. THURSDAY 22H, FRIDAY 20H30 5 | fazENDO
DIAS 9, 10 & 11
Teatro TEATRO
Lauris Vitolins ARTISTA RESIDENTE RIGA
Sou da Letónia e estudei escultura na Academia Letã de Belas Artes, onde obtive o meu mestrado no verão passado. Desde criança que sinto uma forte associação com a arte. Antes da Academia, estudei em diversas escolas artísticas. Descrevendo-me como um escultor multimédia, o meu campo são instalações que reflictam o interesse no tempo e a sua relatividade, a relação dialética entre a ordem e a desordem, a fronteira e recorrência do poder. O meu processo de desenvolvimento de uma obra artística é frequentemente acompanhado da experiência com diferentes materiais. Para ideias é importante estar em locais diferentes para ter diferentes experiências. Cada exposição, actividade artística ou apensas participação, dá-me o incentivo de criar novas e interessantes obras de arte. INSTALAÇÃO DURANTE TODO O FESTIVAL
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I am from Latvia and I studied sculpture in the Latvian Academy of Fine Arts, where I got a master’s degree last summer. Since childhood I have associated myself with art. Before the Academy I studied in several art schools. Describing myself as a multimedia sculptor, my field is art installations, reflecting the interest in time and its relativity, the dialectic relationship of order and disorder, the edge and recurrence of power. In addition, my artwork is often accompanied by experimentation with different materials. New experiences in a range of locations are important to create ideas. Each exhibition, art activity or just participation, gives me the incentive to create new and interesting works of art. INSTALLATION DURING ALL THE FESTIVAL’S LENGTH
Howard Barker é uma das mais controversas figuras do teatro contemporâneo. “O êxtase do Tecelão face à descoberta de uma nova cor”, traduz a complexidade do seu teatro: “Quando escrevo não estou a dar nenhuma lição, mas sim a especular sobre o comportamento humano. Isto pode ser perigoso, mas é assim que deve ser. O teatro é um sítio escuro, e o melhor que temos a fazer é manter a luz do lado de fora”. SEXTA 21H30
banda inte MÚSICA
A única banda de rua do Faial é quase tão natural como a sua sede. Joseph Lewin, Álvaro Medeiros e Diego Samir Merhi. Voz, cordas e percussão, em improviso interventivo, brotam com uma espontaneidade impagável, tecendo a ambiência certa para cultivar relações entre as almas. SÁBADO 22H
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DIA 10
o de giz HORTA
Howard Barker is one of the more controversial figures in the area of contemporary theatre. “The Weaver’s Ecstasy at the Discovery of a New Colour”, reflects the complexity of his theatre: “When I am writing, I am not giving any lesson, but I am speculating about human behaviour. This might be dangerous, but it is what it is. Theatre is a dark place, and the best we can do is to keep the light coming from outside.” FRIDAY 21H30
ervimprov HORTA
The only street band of Faial sounds as natural as rainfall. Joseph Lewin, Álvaro Medeiros and Diego Samir Merhi. Voice, strings and drums in an interventive improvisation, sprout with priceless spontaneity, weaving just the right ambience to make souls get closer. SATURDAY 22H
Lone Lisbonaires MÚSICA LISBOA
Banda portuguesa formada em 2012 por Moorish Boy (voz, guitarra e foot drum) e Spranger P. (harmónica), inspirada na cultura musical afro-americana do delta do rio Mississipi, filtrada pela luz particular de uma tarde à beira Tejo. Actualmente a banda apresenta-se ao vivo com o Fernando Raposo na bateria. Cultivam o gosto pelas expressões mais rudimentares do blues e da folk, actualizadas pela energia rock’n’roll que transforma os concertos em momentos de partilha intensos. Deported Songs é um trabalho que resulta do cruzamento de múltiplas influências, um conjunto de canções em trânsito entre Portugal, África e os EUA. SEXTA 23H
A Portuguese band formed in 2012 by Moorish Boy (voice, guitar and foot drum) and Spranger P. (harmonica), inspired by the Afro-American music culture born in the delta of the Mississippi River but filtered by the light particular to an evening on the edge of Rio Tejo. At the moment, the band is accompanied by Fernando Raposo on the drums. They embody the most rudimentary expressions of blues and folk music, enhanced by a rock’n’roll energy which transforms their concerts into intense, shared moments. Deported Songs is a work that comes out of the combination of multiple influences, a combination of songs in transit between Portugal, Africa and USA. FRIDAY 23H
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DIAS 9, 10 & 11
Parada CULTURAL
Ching Yu Cheng ARTISTA RESIDENTE TAIPEI
Estou a viver no Porto, Portugal, onde acabei o mestrado na Faculdade de Belas Artes (FBAUP) em Arte e Design para o Espaço Público. Antes disso, estudei arquitectura durante 5 anos na Universidade Shih-Chien em Taipei, Taiwan. Pode parecer que troquei a arquitectura pelas belas artes, mas na verdade nunca me vi a abandonar a arquitectura. Sinto que a estou a abordar de uma forma mais suave e gentil, algo que altera ligeiramente a perspectiva do espaço através da arte.
Currently I live in Oporto, Portugal, where I finished my master’s degree in the Faculty of Fine Arts (FBAUP) in Art and Design for Public Space. Before this, I was an architect student for 5 years in Shih-Chien University in Taipei, Taiwan. It might seem like I gave up architecture for fine arts, but actually I’ve never seen myself leaving architecture. I feel myself approaching architecture in another, softer and gentler way that slightly alters the perspective of space through art.
O primeiro projecto artístico que desenvolvi foi sobre o velho hotel dos meus avós em Luo Dong, uma pequena cidade em Taiwan. Foi um projecto crucial que definiu a forma como abordo e encaro o modo da arte acontecer, trabalhando com pessoas exteriores ao mundo artístico. O diálogo gerado durante o processo deixa de ser uma linguagem académica, rígida e abstracta. E agora, tendo mudado para outro território cultural, a discordância com que me confronto é ainda maior. Alarga a minha perspectiva para sentir as coisas ao meu redor e sou sempre inspirada por este conflito no meu trabalho.
The very first art project I made was about the old hotel owned by my grandparents in Luo Dong, a small town in Taiwan. It was a crucial project that defines how I approach art or see how art happens through working with the people who are from outside the art realm. The dialogue generated during the process is no longer the language used in the academic system, stiff and abstract. And now, since I moved to another cultural territory, the discordance I’m confronting is even bigger, while simultaneously enlarging my perspective to sense things around me and be inspired by this conflict for my work.
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INSTALLATION DURING ALL THE FESTIVAL’S LENGTH
A Parada Cultural é o momento em que todo o tipo de manifestações culturais da ilha saem à rua ao mesmo tempo. Os artistas convidados juntar-se-ão às Associações Culturais locais (filarmónicas, grupos folclóricos, grupos corais, foliões) numa celebração conjunta e alegre da pluralidade de expressões. Venha participar ou assistir. SÁBADO 16H
DIA
Chama MÚSICA / BAILE Em quase todas as festas locais há momentos de Chamarritas. Juntar no mesmo palco os melhores tocadores do canal numa Chamarrita descontraída, que junte quem quiser e souber bailar, com versões do Pico e do Faial, dando jus ao que a Chamarrita tem de melhor: o convívio e a festa. É um dos melhores cartões de visita dos Açores. SÁBADO NO FIM DA PARADA
DIA 9 & 10
Cultural PARADE The moment when all cultural manifestations of the island hit the streets at once. The invited artists of the Festival will join local cultural associations (brass bands, folk groups, choirs and foliões) in a joyous, joint celebration of the plurality of expressions. You can take part or watch the show.
Las Çarandas
MÚSICA MIRANDA DO DOURO
SATURDAY 4PM
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arritas PICO E FAIAL In almost all local festivities one encounters moments of Chamarritas. The best instrumentalists from the channel will get together for an informal Chamarrita where anybody who knows the steps can join in. Adaptations from Pico and Faial offer the best elements of Chamarrita: community spirit, warmth and joy. It’s one of the best cards the Azores can play. SATURDAY, END OF THE PARADE
Grupo de música de Terras de Miranda, tem vindo a desenvolver um trabalho na área da Música Tradicional Mirandesa dando-lhe um ar fresco e renovado. As características que o provam são muitas e vão desde os figurinos com que se apresentam, que aliam um design actual usando os materiais de outros tempos, ao repertório que tocam que é vasto, original e que inspira o Baile. Em Março de 2016, com a estreia do seu primeiro álbum, “Hai que beilar!” o grupo Las Çarandas reforçou o trabalho feito durante os 6 anos de existência, inspirando-se no gosto em ver as pessoas a dançar com a mesma espontaneidade de outros tempos. O concerto de Palco, permite os temas cantados e o toque de outros instrumentos tradicionais como a Flauta Tamborileira ou o Pandeiro Mirandês. Durante este concerto podem-se ouvir temas originais ou adaptações de temas tradicionais do Norte de Portugal, Espanha e até do Brasil! QUINTA 23H, SEXTA (ARRUADA)19H
A music group from the lands of Miranda do Douro, their work concentrates on the traditional music of Miranda, offering a new and fresh touch. This is reflected, in part, by their outfits which are developed using materials from past times but have a modern touch, and their repertoire which is vast, original and inspires dancing. In March of 2016, the release of their first album “Hai que beilar!” compiled the group’s work from the last 6 years. It is inspired by the taste for watching people dance with the same spontaneity of the old times. Live concerts permit them to explore their vocal music and play traditional instruments like the Tamboril Flute and the Mirandese tambourine. During the concerts, one can listen to original stories, or adaptations of traditions from North Portugal, Spain or even Brazil. THURSDAY 23H, FRIDAY 19H 9 | fazENDO
APOIARAM O / THEY SUPPORTED THE
festival maravilha APOIO FINANCEIRO / FINANCIAL SUPPORT
mitriates
APOIO / SUPPORT
DJ PONTA DELGADA Sou muito indeciso. Nem consigo sequer escolher um nome: às vezes chamo-me Doni, outras Mitriates, outras ainda simplesmente Bruno Sousa. Não quero deixar nada de fora, quero provar de tudo. Na realidade, não quero ter que escolher. E esta cobardia transpira na música que passo também. Tento ir a todas as capelas, mas não deixo esmola em nenhuma. A única coisa segura é que levo sempre uma mala às costas com um fio condutor de House onde depois posso pendurar variantes mais ou menos distantes do veio principal. O importante é que a malta esteja contente a dançar. Eu cá não quero conversa dentro da pista de dança. Queres conversar, vais lá para fora ver o mar. Aqui dentro é para dançar, está ali o sinal na parede. SEXTA 01H BAR CLUBE NAVAL
I am very indecisive. I am not even able to choose my own name: sometimes I’m Doni, sometimes I’m Mitriates, and some other times, I am simply Bruno Sousa. I do not want to reject anything, I want to taste everything. In reality, I do not want to be forced to choose. And, this cowardice goes into my music sets, too. I try to visit every chapel, but I do not leave my marks behind. My only constant element is the fact that I always carry a backpack with a House conducting wire, where I can then hang some variants in various distances from the main streak. The important thing is to make people dance happily. I do not like people chatting on the dance floor. If you want to talk, go outside and watch the sea. Here you have to dance, can’t you see the sign on the wall?
MID ATLANTIC YACHT SERVICES
FRIDAY 01H CLUBE NAVAL’S BAR
ORGANIZAÇÃO / ORGANISATION
AGRADECIMENTOS / ACKNOWLEDGMENTS
sofia e wilson
BANDOLIM / PERFORMANCE PICO
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SÁBADO 21H
SATURDAY 21H
Agnes Juten . Ana Alves . Anaïs Sylvan . Carla Nunes . Christian Eckert . Claudia Viegas . Dália Reis . David Figueras . Dieter Ludwig . Eva Giacomello . Família Afonso . Fernanda Cerqueira . Frederico Pessanha . Gina Ávila Macedo . Isabel Areosa . Isabel Melo . João Carlos Fraga . João Cerqueira . João Stattmiller . Jorge Dinis . Jorge Machete . Julião Silva . Júlio Correia . Lélia Agostinho . Lia Goulart . Lomelino Vieira . Luís Madeira . Marc Larose . Maria Rakka . Mid Yacht Services . Miguel Schreck Pedro Escobar . Pedro Lucas . Pedro Rosa . Petra Bartenschlager . Preza Fernandes . Raquel Vila . Rita Mendes . Stephan Loos . Susana Salema . Teresa Cerqueira . Vera Goulart e a todas as Filarmónicas, Grupos Folclóricos e Foliões que participam na Parada Cultural.
h o rta marina 1986-2016
30 Anos 30 years 11 | fazENDO
João Carlos Fr a perfeita figura de ligação entre o iatismo
Da Rua Nova ao porto da Horta são três passos. Nos anos 50 aquele rapazito ainda não sabia que a curiosidade que o fazia correr ao cais, com os amigos, perguntando: “Parlez-vous français? Parlezvous français?” seria a mesma que o entusiasmaria a aprender línguas, a estabelecer amizade e correspondência com os mais bravos aventureiros do mundo, a introduzir nos Açores os sapatos de vela e o surf (em pranchas de criptoméria), a dar o pontapé de saída para a Semana do Mar e a ser a fonte de saber e inspiração para a construção da Marina. A curiosidade é dos mais claros sinais de inteligência. E também não há melhor sinal da genialidade de uma ideia do que a sociedade a abraçar como sua, natural e obviamente como se sempre tivesse existido.
Introduziu nos Açores os sapatos de vela e o surf (em pranchas de criptoméria)
Já admiravaJoão Carlos Fragapelo que li noslivros e excertos que fui encontrando: não se perde em lugares comuns nem cai na tentação de ostentar de intelectualidade. Mostra sim grande conhecimento náuticoededicaçãodesinteressadaà sua terra e à sociedade local. Mas foi quando meencaminharam para um dos seus amigosde sempre, Jorge Diniz, que pude comprovar o que tem contribuído para a Horta ser o que hoje é. Tudo começou no Cais de Sta. Cruz, na altura uma praia onde aprenderam a nadar, já que Porto Pim alagava em sangue de baleia. Instituíram chamarlhes os “aventureiros”. Entre marinheiros, iatistas, velejadores, era esta a palavra que lhes assentava a todos. Os iates ancoravam no porto ou encostavam no único cais existente. Jorge Diniz descreve-me toda uma rede informal que recebia estes visitantes ousados. O Café Sport, já conhecido, Oton Silveira, poliglota, artesão de Scrimshaw e radioamador. Alberto Peixoto que o s levava em voltas à ilha.
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Rua Nova and the port of Horta are divided by only three steps. In the 50s this young boy still didn’t know that the very same curiosity which made him run to the dock with his friends, asking “Parlez-vous français? Parlez-vous français?” would also be the reason for his enthusiasm to learn languages, meet and keep in contact with the most brave adventurers of the world, introduce sailing shoes and surfing (with boards made of Cryptomeria) in the Azores, make the first step for the establishment of the “Semana do mar” festival and be the source of knowledge and inspiration for the construction of the Marina. Curiosity is the clearest signal of intelligence. Moreover, there is no better signal for the geniusness of an idea than is being embraced by the local community as if it was something natural, as if it always existed. I have always admired João Carlos Fraga from what I read in books and excerpts that I came across: he never loses himself in commonness or give into temptation of ostentatious intellect. He has great nautical knowledge and authentic dedication to his land and the local society. But it was only when I was directed to one of his best friends, Jorge Diniz, that I could confirm what this man has in fact contributed to Horta, in order for it to be what it is today. It all started at the Cais of Santa Cruz, which at the time was a beach where kids were learning to swim, since Porto Pim was full of whale blood. They used to call them “the adventurers”. That was a word that could be used for all of them: skippers, sailors and yachtsmen. The yachts used to anchor in the port or moor at the only dock that existed. Jorge Diniz starts describing the unofficial gang which was receiving all these visitors. Café Sport, which was already famous, Oton Silveira, a multilingual, artist of Scrimshaw and radio operator. Alberto Peixoto, who was taking them around the island. La Cantina that was serving the famous 275 (steak with egg and sautéed potatoes). ... And Fraga who left the island to study Law, despite his dislike, and came back to Faial after his father passed away. He was offered a position at Sata. Using his position and inherent skills, he worked as an intermediate between local entities and created bonds with many sailors. The fascination that Fraga was feeling for adventure and freshness started growing in the world and the city: more adventurers started going to the sea and
Fraga AURORA RIBEIRO
e a ilha
the possibility of this providing profit was foreseen in Horta. The idea of building a Marina was already established and Fraga was asked to be a consultant, being the perfect figure of connection between yachts and the island. An active member of the Oceans Cruising Club, he participated in the organization of the first international regatta which passed through and actually finished in the port of Horta and served as a starting point for the festival of “Semana do Mar”, the biggest party in our city today. La Cantina que servia o famoso 275 (bife com ovo a cavalo e batatas salteadas)... E o Fraga, que andou fora a estudar Direito a contragosto e que voltou ao Faial após a morte do pai onde teve colocação na Sata. Pela posição e aptidões natas, servia de intermediário com as entidades locais e criou laços com muitos dos marinheiros. O mesmo fascínio que Fraga partilhava pela aventurae pela novidadeespalhava-se pelo mundo e pela cidade: mais aventureiros se começaram a fazer ao mar e viu-se na Horta a possibilidade de obter rendimento. A ideia da Marina já vinha de trás e Fraga foi chamado como consultor, ele, a perfeita figura de ligação entre o iatismo e a ilha.
Agradecimento
Special
especial
Aknowledgment
All the members of the organization of Festival Maravilha would like to leave a very special acknowledgment to this man with insatiable curiosity, a man in love with maritime life, companionship and good stories. His work, dedicated to the preservation and sharing of the memories created at the Marina of Horta, has inspired us since the very first moment. It is especially this person and his work which reflects in the best way all the adventurous and unique spirit of this place and all the marvel that it encompasses.
Queremos, todos os da organização do Festival Maravilha, deixar um agradecimento muito especial a este curioso insaciável, apaixonado pela vida náutica, pelo companheirismo e por boas histórias. O seu trabalho dedicado à preservação e partilha das memórias da Marina da Horta inspirou-nos desde o primeiro momento e é na sua pessoa e obra que melhor se espelha o espírito aventureiro e singular deste espaço que tanta maravilha abarca.
May his curiosity never end and inspire us for much longer.
Que a sua curiosidade não se esgote e nos inspire por muito mais tempo..
The Organization Team of Festival Maravilha
A Organização do Festival Maravilha
Membro do Oceans Cruising Club, fez parte da organização da primeira Regata Internacional a passar (na verdade a terminar) no Porto da Horta e que serviu de pretexto ao festival náutico da Semana do Mar, hoje a festa maior da nossa cidade.
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1986-
As pinturas
The Drawings
Em primeiro lugar, podemos dizer que as pinturas não começaram na Marina, mas sim na doca e não começaram com os iatistas, mas sim com as tripulações dos patrulhas portugueses com base aqui na Horta. Hoje, essas, mais antigas, já desapareceram. A mais antiga ainda existente está na doca, é de 1976 e é do Captain Browne.
First of all, we should mention that the first drawings did not appear at the Marina but at the dock and were not a tradition of the yachtists but of the crew of the Portuguese patrols which were based in Horta. Today, these older drawings have already disappeared. The oldest drawing still standing at the dock is from 1976, painted by Captain Browne.
Não se sabe exactamente quem terá sido o primeiro iatista a deixar a sua marca. Tudo começou muito discretamente. No fim de contas é sempre assim. O primeiro motivo a ser pintado talvez tenha sido o nome de um navio. Depois um marinheiro, se calhar mais habilidoso, tenta fazer melhor e pinta o seu próprio barco.
It is not known who was the very first yachtist who left his mark. Everything started discretely. And in the end it’s always like this. The first drawing must have included just the name of a boat. Consequently, some sailor, maybe a little bit more skillful, tried to do better and decided to make a drawing of his whole yacht.
A verdade é que nos salões de convívio, nos bares e nos serões cheios de fumo de cada porto, nos cockpits cheios de sol ou de rociada do mar e pelas belas noites de navegação fala-se e diz-se: Aqueles que fizerem escala no porto da Horta e não pintarem nada de alusivo ao seu barco na muralha, mais cedo ou mais tarde, uma vez que não perderão pela demora, vão ter um azar! Escala após escala a história faz-se, os casos repetem-se, os factos acumulam-se e esta lenda criou-se sub-repticiamente minando a confiança de alguns mais cépticos.” Nesta muralha, que é um impressionante museu em pleno ar, pintaram os mais famosos navegadores do mundo, que depois de o fazerem puderam partir de consciência tranquila.
The truth is that in the various salons and full-of-smoke bars at the ports, in the sprinkled with seawater sunny cockpits and during the beautiful nights of navigation, it is often said and well known: Those who passed by the port of Horta and did not paint anything representative of their boat on the wall, sooner or later will experience bad luck. Passage after passage, the history is made, the cases are repeated, the facts are accumulating and this legend has been created almost secretly, challenging the faith of those more sceptic. On this wall, which is an impressive outdoor museum, one can find paintings by the most famous navigators of the world, who only after leaving their mark managed to embark with their conscience clear.
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Convi É quando a sombra da cidade se estende pela baía, o sol se reflecte vermelho nas vidraças do casario do Pico e o vento parece ter parado para respirar, espelhando o mar, que a magia do porto se revela. Era Julho de 1985 e a Marina, quase acabada e ainda deserta, era uma mole agreste de betão tentando chegar-se à Cidade e ao Mundo. Sentado no extremo norte do seu molhe um iatista dedilhava a sua guitarra que envolvia num abraço de ciúme Andaluz. Era Patrick Burke quem tocava Francisco Tárrega, Los Recuerdos de la Allambra, e as notas, pelo silêncio do entardecer, ecoavam pela Marina vazia até aos yachts do Mundo num convite, brevemente aceite, para nela virem amarrar.
JOÃO CARLOS FRAGA, TEXTOS ADAPTAD (EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 10 ANOS DA MARINA, PUBLICADA P
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The opening Party offered by the sailors
Festa de inauguração
oferecida pelos iatistas The invitation
ite
It is when the shadow of the city reaches out in the bay and the red sunrays are reflected in the windows of the houses in Pico, when the wind seems as if it stopped to take a breath, turning the sea into a mirror, that the magic of the port is revealed. It was July of 1985 and the marina, almost finished but still desert, was a rough construction of cement struggling to reach out to the city and the world. Sitting at the very end of the pier, a yachtist was strumming his guitar. It was Patrick Burke who was playing “The memories of Allambra” by Francisco Tárrega. The notes, in the silence of the nightfall, were echoing at the empty marina reaching all the yachts of the world as an invitation to moor at its piers. An invitation that soon would be accepted.
Para Daniel Catz (armador e fiel skipper do “Marie Galante”) uma marina no porto da Horta, já de si tão acolhedor, merecia uma festa. “Vamos organizar uma festa e convidar os faialenses que trabalharam para nos oferecer esta marina!” E lá foi de yacht em yacht, agora mais próximos, preparando tudo. Do comando técnico e culinário foi encarregado, merecidamente, o Vittorio. Entardecia. Vieram iatistas franceses, americanos, ingleses, alemães, sul africanos, escandinavos e até mesmo o Félix, aquele conhecido pintor naif da Dominica, receber os convidados faialenses. Desembarcaram as hospedeiras dos yachts de charter que, rápida e eficientemente, começaram a servir martinis e outros aperitivos aos convidados, antecipando um agradável repasto de caldeirada de cabrito. Depois foi a vez dos ti-punch, rhums e outros digestivos. Fizeram-se ouvir as últimas novidades de calypso e reggae e começou o baile. Refrescando de cervejas os calorosos ritmos antilhanos a festa continuou pela noite fora. Um acontecimento a não esquecer. A primeira marina do Mundo em que os iatistas nela amarrados organizaram uma festa para comemorar a sua inauguração.
DOS DE: MARINA DA HORTA 1986 – 1996 PELA JUNTA AUTÓNOMA DO PORTO DA HORTA EM MAIO DE1996)
For Daniel Catz (owner and faithful skipper of the “Marie Galante”) the marina at the port of Horta, so cozy as it was, deserved a party. “Let’s organize a party and invite all the people from Faial who worked in order to offer this marina to us!”. So he went from yacht to yacht to prepare everything. Under technical and culinary duties, was Vittorio. Night had fallen. Several yachtists from France, US, England, Germany, South Africa and Scandinavia, even Félix- this famous naif painter from Dominica, came to receive the local guests. The hosts of the yachts started serving martinis and other aperitifs to their guests, quite quickly and efficiently, A pleasant main dish of goat stew followed. Afterwards, it was the time of ti-punch, rum and other digestive drinks. After listening to the last releases of calypso and a little bit of reggae, dancing started. Beer came to refresh the warm Antillean rhythms and the party continued out in the night. An unforgettable event. The first marina in the world in which the docked yachtists organized a party, to celebrate its opening. 15 | fazENDO
{ BALEIAS
e
Golfinhos WHALES and Dolphins
O “Song of the Whale” foi o percursor do estudo e observação de cetáceos no mar dos Açores. Há vários anos que o Dr. Jonathan Gordon dirige, a bordo deste yacht devidamente apetrechado para este fim, uma equipa de cientistas e cineastas que têm colocado estes animais no mapa mundial. Na esteira do “Song of the whale” têm aparecido muitos outros veleiros que se dedicam a esta actividade marítimo-turística, embora alguns o façam com fins meramente educativos. João Carlos Fraga textos adaptados de Marina da Horta 1986 – 1996 (Edição Comemorativa dos 10 anos da Marina, publicada pela Junta Autónoma do Porto da Horta em Maio de 1996).
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The “Song of the Whale” was the very beginning of a great era of study and observation of cetaceans at sea in the Azores. For many years Dr. Jonathan Gordon was directing, while on board of this yacht, which was specially made for this purpose, there was a group of scientists and cinematographers who built the foundation of knowledge for these animals. Along with the “Song of the whale”, there have been many sailboats, dedicated to this maritime-touristic activity with some of them having simply educative objectives. João Carlos Fraga Adapted texts about the Marina of Horta, 1986-1996 (Commemorative Edition of the 10 years of the Marina, published by the Autonomous Council of the Port of Horta, in May 1996)
BI
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Fish Mas é tempo de se falar como o Big Game Fishing apareceu na Marina da Horta. Talvez não tenha sido um homem de records, mas Trevor Housby foi um grande pescador. Era grande em todos os sentidos, desde o seu robusto arcaboiço, ao seu amor pelo mar e incrível capacidade para pressentir os peixes. Numa das animadas noitadas do velho Clube Naval, bem jantado, confidenciou: “Os grandes peixes estão a chegar.” Em poucos anos aquele pressentimento sobre a aproximação de grandes peixes concretizou-se. Os agulhões, dos quais os pescadores descreviam os aparecimentos esporádicos e a ferocidade, apareceram em número e tamanho nunca esperados. Passaram a ser chamados espadins azuis ou brancos. Com eles outras “novidades” surgiram, tais como os wahoos. Uma pequena frota especializada no Big Game Fishing organizou-se rapidamente, operando a partir da Marina da Horta. Comandada por skippers experientes possibilita grandes pescarias aos seus clientes.
JOÃO CARLOS FRAGA, TEXTOS ADAPTAD (EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 10 ANOS DA MARINA, PUBLICADA P
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hing But it’s time to talk about how Big Game Fishing appeared at the Marina of Horta. Maybe Trevor Housby has not been a man of big records but he was definitely a great fisherman. He was great in many senses, from his robust structure to his great love for the sea and his incredible capacity to sense the fish. One of the great nights at the old Clube Naval, being full after dinner, he revealed to some friends: “Big fish are coming”. A few years later, this premonition about the arrival of big fish became true. Marlins, characterized by fishermen as sporadic but fierce, appeared in sizes and numbers that had never been recorded before. People started calling them blue or white “espadins” (i.e. sword-like fish). Along with them, other new species arrived, such as the wahoos. A small fleet specialized in Big Game Fishing was organized rapidly and started operating at the Marina of Horta. Directed by very experienced skippers, it could guarantee great fishing to their clients.
VISITANTES de quem não se fala nobody talks about THIS VISITORS
São cardumes de muges e salemas de riscas horizontais, contrastando com as verticais dos sargos, disputando refeições distribuídas, normalmente, por mãos de pequenos iatistas.
It is shoals of striped bass and salpas, with their horizontal lines being in contrast to the vertical lines of the seabream, which fight for the meals, normally distributed by the hands of young yachtsmen.
Frequentadoras de todo o ano são as gaivotas que, no inverno, gozam a companhia de irmãs de outras paragens, mesmo da gelada Islândia, e das gavinas.
Seagulls, frequenting all year round, enjoy the company of siblings during the winter who arrive from other lands, even from frozen Iceland. At the pier, one occasionally can find an elegant heron fishing, accompanied by groups of fearless sandpipers, a wide seabird group including the various sanderling species and the ruddy turnstone. During their movements and various formations the sandpipers look like small robots, searching in the slime and boulders for small crustaceans on which they prey. At the tip of a pontoon, a rosy tern shows off, offering a small sprat, still alive, to its significant other, who looks back rather contemptuously.
No quebra mar pesca uma elegante e ocasional garça escoltada por bandos de afoitos maçaricos, nome por que são conhecidos os diversos pilritos, tanto o sanderlingo, como o escuro e a rôla do mar. Nas suas deslocações e formações os maçaricos fazem lembrar pássaros electrónicos procurando nos limos do enrocamento os pequenos crustáceos de que se alimentam. Na cabeça de um pontão um garajau rosado faz a sua corte oferecendo uma petinga, ainda viva, à sua favorita que o olha desdenhosa.
DOS DE: MARINA DA HORTA 1986 – 1996 PELA JUNTA AUTÓNOMA DO PORTO DA HORTA EM MAIO DE1996)
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O DIÁRIO GRÁFICO DE
CHING YU CHENG
ARTISTA RESIDENTE DO FESTIVAL MARAVIL GRAPHIC DIARY ARTIST IN RESIDENCY OF THE MARAVILHA FESTI
4 MAIO MAY OSKAR
O dia em que me mudei para a minha nova casa, que é um barco parado no Oceano Atlântico, na Marina da Horta da Ilha do Faial, Açores, Portugal. The day I moved to my new house, Oskar, which is a yacht moored in the middle of the Atlantic ocean, at Horta Marina, Faial Island, Azores, Portugal.
6 MAIO MAY
GAS AND WATER
O dia em que comecei a ter água e gás a bordo, o q transforma a vida numa perfeição. Posso fazer chá, cozin pratos caseiros e depois posso lavar o que quiser. Ainda cima posso fazer xixi como deve ser, e há algo de interessa em ter um autoclismo manual para esta vida ser perfe
The day I started to have gas and water board, which makes life perfect. I can make tea, I c cook some home dishes, then I can wash whatever stu want. Moreover, I can pee properly, and there’s someth interesting about manually flushing for this perfect yacht l
14-15 MAIO MAY ILHA DO PICO
O dia em que saí da Ilha do Faial. Uma viagem de dois dias ao Pico num barco. Do que me lembro melhor é das paredes de pedra negra com plantas dentro, em toda a ilha.
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The day I got away from Faial island. A two day trip on Pico reached by ferry. What I remember most is the black stone with plants growing from it that constitutes most of the island.
10 MAIO MAY
G
INSOMNIA
O dia em que tive insónias. O vento soprou que nem doido, e as ondas estavam doidas também. O que fez com que o Oskar se agitasse como doido em modo turbo. Ouvi dizer que o meio do barco é mais estável e que também se ouve menos o som da água a bater no barco. Assim, desde essa noite, mudei o quarto para a sala (que é a parte central do Oskar) e com umas engenhocas para suportar a tábua de madeira, fiquei com uma cama de tamanho duplo a sair do sofá.
LHA
IVAL
que nhar por ante eita.
r on can uff I hing life.
The day I had insomnia. The wind blew like crazy, and the waves went crazy as well. After this Oskar was shaking like crazy in turbo mode. I had heard that the middle of a boat is more stable and that the sound of water slapping against the hull is less. Thus, since that night I have moved the bedroom to the living room (which is in the center of Oskar), with some gadgets to make a structure that supports the wooden board, I ended up with a double bed extended from the sofa.
10 MAIO MAY
PADARIA POPULAR
O dia em que entrei na Padaria Popular pela primeira vez. Um café local com uma parede giratória para vender pão fresco. The day I stepped into this really popular “Padaria Popular” for the first time. A local cafe with a spinning wall for selling fresh bread.
17 MAIO MAY
HORTA MARINA
O dia a dia na Marina é andar de trás para a frente do Oskar para terra. O meu caminho para ir tomar banho, lavar roupa e deitar o lixo fora. The daily life in the Marina involves going back and forth from Oskar to the land. The route of me taking a shower, doing laundry and throwing away the rubbish.
19 MAIO MAY
CAPELINHOS AND CALDEIRA
O dia em que dei a volta ao The day trip by scooter around Faial numa scooter, a ilha com a Faial Island with the coolest paisagem vulcânica mais fixe. volcano landscape.
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E ANTES DE HAVER MARINA... AND BEFORE THE MARINA...
A inspiradora história d
Otília Frayã
JOÃO CARLOS FRAGA
No dia 28 de Outubro de 1950, fundeia no porto da Horta o veleiro inglês “Temptress”. Apresentava sinais de avarias múltiplas, resultantes dos vários temporais que o açoitaram durante a viagem desde New York. A bordo, o navegador solitário e arquitecto naval inglês Edward Allcard. Depois de várias semanas, muitas delas passadas em reparações, numa noite de Janeiro o “Temptress” fazse ao mar. Enfim, iniciava a última tirada da sua travessia do Atlântico em solitário. Após uma noite fria com vento soprando de NW e passada enregelado ao leme, quando esperava condições que lhe permitissem ir fazer um café bem quente, Allcard depara-se com uma mulher que assomava à escotilha com ar de criatura apanhada numa armadilha e sem esperança.
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On the 28th of October 1950, the English sailing boat “Temptress” arrived at the port of Horta. Having weathered several storms on its passage from New York, the yacht arrived with some damage. On board, was the solitary navigator and architect Edward Allcard. In January, several weeks later, following many days of repairs, the night came that “Temptress” was launched back to sea. Finally, Allcard was starting the last leg of his solitary crossing of the Atlantic. After a cold night with the wind blowing from the northwest, he found the right conditions which permitted him to make a hot coffee, having spent hours freezing at the wheel . Allcard came across a woman appearing from a hatch like a small, hopeless kid that was caught in a trap.
Era Otília Frayão que embarcara clandestinamente, e assim iniciava a viagem que modificou a sua vida e que foi inspiradora para centenas, talvez milhares, de pessoas. O mar, visto por muita gente como uma muralha, agora abria-se a Otília como um caminho para a sua liberdade e para o Mundo. Allcard, enquanto raciocinava ferozmente para resolver a situação, conseguiu que o seu clássico sentido de humor e sangue frio prevalecessem. Conhecendo bem a Horta, avaliadas as consequências deste imprevisto e os efeitos negativos de um desembarque num porto português, ficou decidido aceder ao pedido de Otília e transportá-la até Inglaterra, para onde queria ir. De imediato, e voluntariamente, Otília começou a aprendizagem que fez dela uma grande navegadora.
de
ão The prettiest stowaway ever is from Faial
Para surpresa do skipper, embora um pouco enjoada e apreensiva, passou para o leme e, segundo Allcard, corria-lhe nas veias sangue dos antigos navegadores portugueses. Além disso ele conversara na Horta com muitos homens que diziam quererem, mas... e logo se apercebeu da coragem desta jovem bonita, inteligente e culta em ultrapassar o “MAS” e aventurar-se à procura da realização do seu “QUERER”. Finalmente, após 24 dias de mar, no dia 1 de Fevereiro fundeiam em Casablanca. A notícia da viagem do “Temptress” espalhou-se e este foi abordado por uma multidão de jornalistas e fotógrafos. Depois de ter aprendido a lidar com o Oceano Atlântico no Inverno, foi a vez de Otília enfrentar a ferocidade dos media, o que não deve ter sido tarefa muito fácil. A notícia da sua grande aventura espalhou-se
A passageira clandestina mais bonita de sempre é Faialense It was Otília Frayão who had boarded illegally, starting a journey that changed her life and inspired hundreds, or even millions of people. The ocean, considered by many as an obstacle, was now open to Otília as a passage towards the world and her freedom. Whilst resolving the situation, Allcard, managed to keep his classic sense of humour and remained calm. As he knew Horta quite well and after evaluating the consequences of such an unexpected event and the negative impacts of disembarking in a Portuguese port, he decided to accept Otília’s request and transfer her to England, which was her desired destination. Immediately
mundialmente e abriram-se novos horizontes para a sua vida. Numa sociedade onde, ainda hoje, a mulher continua a lutar pelos seus direitos, é fácil avaliar o impacto social desta viagem em 1951. Em pouco tempo começou a chegar correspondência de remetentes mais diversos até que, um dia, Otília Frayão recebeu o convite de uma senhora de Londres, oferecendo-lhe a passagem de avião e alojamento por um ano. Depois de muitas cartas, resolveu aceitar esta proposta e embarcou num avião rumo à Inglaterra. João Carlos Fraga, in Fazendo nº62, 2011 (Adaptado) 21 | fazENDO
and voluntarily, Otília started her apprenticeship which transformed her into a great navigator. To the surprise of the skipper, except being a little bit seasick and apprehensive, she grabbed the wheel and, according to Allcard, showed that the blood of the old Portuguese navigators was running in her veins. Moreover, he had previously talked to several men in Horta who claimed they would want to set sail but...and soon he realized the courage of this young beautiful lady, intelligent and educated enough to pass the “BUT” and take her chances in venturing out and realizing her dreams. After 24 days at sea, on the 1st of February, they reached Casablanca. The news of the voyage of “Temptress” spread and attracted a crowd of journalists and photographers. After learning to deal with the Atlantic Ocean in the winter, Otília had to confront the ferocity of the media, which would not have been an easy task. The news about her adventure spread worldwide and opened up new horizons in her life. It is easy to imagine the social impact of such a voyage in 1951, in a society, in which women continue to fight for their rights even today. In a short time, Otília started receiving mail from various senders until one day she received an invitation from a woman in London who was offering her flight tickets and accommodation for a year. After exchanging many letters, she decided to accept the proposal and got the first flight to England. João Carlos Fraga, in Fazendo nº62, 2011 (Adapted)
Edward Allcard recalls Otília Frayão in his book “Temptress Returns”(1952)
“I was in need of a hot cup of coffee, to warm me after the cold and cramped hours at the helm. Then my heart rolled over in momentary fear at the sight of a clutching hand, followed by a frightened white face halfhidden by straggling black hair. Unbelievingly I stared; open mouthed; speechless. It was the girl that had come on the trial sail.” (...) On the basis of her attitude, there was no other alternative but to go on. Who was I to ruin someone else’s life? Besides so many coincidences had occurred to allow her to get aboard in the first place, that I felt it would be challenging Fate herself not to help with her plan. (...) What strange trick of fate had sent this girl stowaway to me – to me of all the people! In Britain some had dubbed me “Woman-hater”. Heavens knows why. I seek neither fame nor riches, but freedom. Without freedom there is no life, just a physical existence of the body. This then was my singleness of purpose which had induced me to decline the most tempting offers of companionship. (...) She looked up, with questioning eyes. “What is?” (I knew that “What is?” in Otília – language meant “What are you thinking about?”) “Oh. Thinking that your waist is pinched in just enough to make room for a man’s arm.” She inclined her head on one side interrogatively, “What ees peenched?” I waved her attention back to the sea, and said: “Look, more Portuguese men-of-war?” “Why are they called Portuguese men-of-war?” “Oo-er, well” I replied rather vaguely, then with an inspiration: “It is a tribute to the great Portuguese navigators of yore. “What is yore?” I gave up the unequal struggle and, leaning forward, frowned into the bowl of the compass. (...) Some papers ran a story that we had parted company; others said we were about to marry; and one went so far as to say that we were married, even stating where – the town of Marrakesh. (I do not think, anyway, that I could ever marry a girl who could not put on the toothpaste cap properly!) (...) Two hours later I stood in my hatch and gazed towards the east; roaring through the dawn mists was the four-engined air-liner taking my Otilia away to new adventures. I prayed that the new world to which she was flying would not prove a disappointment to her island dreams. (...)
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Note of the editor: It did not. Otília married an English man and she is still living abroad. As far as we know, she never had plans to come back to the island. Edward Allcard is now 101 years old and a long time married to Clare Allcard. Whether Clare is able to cap her toothpaste properly or not is beyond our knowledge.
Edward Allcard relembra Otília Frayão no seu livro
“Temptress Returns”(1952) Estava a precisar de uma caneca de café quente, para aquecer depois das horas frias e difíceis ao leme. Foi então que o meu coração estacou momentaneamente apavorado ao ver uma mão agarrada à escotilha, seguida por uma cara branca e assustada meio escondida por cabelos pretos despenteados. Sem acreditar, fitei-a mudo e de boca aberta. Era a rapariga que tinha vindo na saída experimental. (...) Tendo em conta a sua atitude, não havia nenhuma outra alternativa senão continuar. Quem era eu para arruinar a vida de outra pessoa? Além do mais e em primeiro lugar, tinham sido muitas as coincidências a permitirem que chegasse a bordo, percebi que estaria a desafiar o próprio Destino se não a ajudasse no seu plano. (...) Que estranho truque do destino me teria enviado esta clandestina a mim - a mim entre todas as pessoas? No Reino Unido alguns conheciamme por “odiar mulheres”. Sabese lá porquê. Não ando à procura de fama nem de riqueza, mas de liberdade. Sem liberdade não há vida, só a existência física do corpo. A liberdade é o meu único objectivo e tem-me induzido a declinar as mais tentadoras propostas de relacionamento. (...) Ela olhou para cima, com olhos inquiridores. “What is?” (Eu sabia que na linguagem de Otília isto queria dizer “Em que é que estás a pensar?”) “Oh, estava a pensar que a tua cintura se estreita (pinched) na exacta medida do braço de um homem.” Ela inclinou a cabeça para o lado e perguntou “O que é peenched?” Eu chamei-lhe a atenção de volta para ao mar e disse: “Olha, mais caravelas portuguesas?”
“Porque é que se chamam caravelas portuguesas?” “Aaahhh, bem..” Respondi de modo vago, e depois com uma inspiração: “É um tributo aos grandes navegadores portugueses de antanho (yore)” “O que é yore?” Desisti da luta desigual e inclinei-me para a frente, muito concentrado no que indicava a bússola. (...) Alguns jornais contavam a história de que nos tínhamos separado, outros diziam que estávamos para casar; e um chegou ao ponto de dizer que tínhamos já casado, até dizendo onde - a cidade de Marraquexe. (Não me parece, seja como for, que eu alguma vez pudesse casar com uma rapariga que não é capaz de pôr convenientemente a tampa na pasta de dentes!) (...)
Duas horas depois, na escotilha do meu barco, olhei para leste; roncando na bruma da alvorada, a minha Otília era levada por um avião de quatro motores para novas aventuras. Rezei para que o novo mundo que a esperava não se tornasse um desapontamento depois dos seus sonhos insulares. (...) Nota editorial: Não se tornou. Otília casou com um inglês e ainda vive no estrangeiro. Tanto quanto sabemos, nunca teve planos de voltar à ilha. Edward Allcard tem hoje 101 anos e há muito que é casado com Clare Allard. Se Clare é hábil a tapar a sua pasta de dentes ou não é algo que nos permanece desconhecido. 23 | fazENDO
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Há Festa
na Marina! FERNANDO NUNES
Não há, com toda a certeza, neste arquipélago açoriano, uma cidade que esteja tão defronte para o mar como esta. É uma alegria ver a marina nestes dias solarengos ou com a montanha do Pico descoberta. A entrada da Primavera no calendário dá o mote e a partir daqui é aquilo que já se sabe e se avista: centenas de iates e outro tipo de embarcações que entram pela marina adentro à procura do primeiro abrigo antes de rumar a casa ou outras paragens.
Imaginemos, por isso, a chegada destes primeiros dias do mês de Junho, assinalada pelo regresso dos garajaus e pelo mais que aguardado Festival Maravilha que celebrará a cidade portuária em festa, com as artes dos sons e de palco para todos os gostos e feitios. O ambiente, para quem decide aqui amarar os seus barcos é, sem dúvida, peculiar.
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there is a PARTY in the Marina!
There is for sure, no other city in this Azorean Archipelago that faces the sea as this one does. It is such a joy to see this marina on sunny days or when the mountain of Pico is uncovered. As spring enters onto the calendar it gives us this idea, and from then on, such a familiar and well-known image: hundreds of yachts and other boats arrive in the marina looking for their first shelter before they move on to other destinations. Let’s imagine, therefore, that we are already in the first days of June, when the terns come back and the Festival Maravilha will be celebrated with a party at the city’s harbour, with sound and stage arts for every taste. For people that decide to moor their boats here, the atmosphere will be peculiar. You only have to follow the parade of paintings along the walls of the marina, the amount of different spoken languages, the texts and memories that have been left here. And there is the most important thing: the life you can live and breathe here.
Basta acompanhar o estendal de bandeiras ao longo das paredes da marinha, as línguas que se escutam, os textos e recordações aqui deixados, sendo aquilo que é mais importante a vida que por aqui se vive e respira. É, sem dúvida, muito raro encontrar numa marina, tanto nas ilhas e até mesmo no continente português, com semelhante proximidade entre iatistas/marinheiros e locais, existindo por isso vizinhança e convívio, muita partilha e trocas interessantes. A confiança que tantas vezes se instala é enorme e digna de curiosidade, que há quem acabe por conhecer o interior dos veleiros – há, inclusivamente, alguns exemplares dignos da arte da construção naval e réplicas de embarcações de séculos anteriores que aqui aportam. Depois, há também quem compartilhe refeições e demais conhecimentos de navegação e chega mesmo a haver locais que viajam inter-ilhas ou realizam pequenos passeios com alguns destes aventureiros ou navegadores solitários. Tendo eu, também, partilhado já com tripulação de afamado navio um pão-de-ló encontrado na caixa do correio, após envio de embalagem
ORTA fresquinha via continente mas com sérias dificuldades em mastigar. Ou ainda aquela vez em que transportei em ombros um jovem marinheiro alcoolizado que me quis oferecer a carteira e cartões de crédito aquando de chegada ao seu catamaran pois estaria convicto que eu lhe queria assaltar. Não esquecendo os relatos de gente que vai permanecendo por aqui uma temporada infinda ou mesmo marinheiros que decidem voltar e fixar morada nas ilhas dos Açores. É, certamente, um acontecimento e contentamento visual, assistir à chegada de muitas “casquinhas de nozes” que atravessam o atlântico e aportam na cidade da Horta, causando-nos a maior das ternuras e admirações. Ainda um respeito imenso pelas tripulações de skippers que galgam ondas e demais agitação marítima para colocar os veleiros em curto espaço de tempo na Europa mediterrânica. Ou também aqueles navios-escola carregados de gente nova que encontram no mar espaço de aprendizagem, ciência e conhecimento ou, quem sabe, terapia, para além do célebre “Tres Hombres” que todos os anos regressa para servir de exemplo enquanto modelo de embarcação do comércio justo, resistindo assim ao transporte de mercadorias ao sabor do vento e das velas. O Festival Maravilha está aí, aproveitem para viver a marina e a folia destes três dias ao sabor da luz e das artes!
It is very rare to find a marina, be it on the islands or in the Portuguese mainland, with the same proximity and companionship between sailors and local people, sharing and exchanging so many interesting things.. The trust established is sometimes immense and the curiosity pure, with some local people even going aboard the sailing boats – there are even examples of wonderful works of naval construction and some replicas of ancient ships passing by and mooring here. There are those who share meals and navigation knowledge, while some locals set sail to other islands, or go onboard for shorter trips. I remember having shared with the crew of a famous ship, a sponge cake, quite hard to chew, that was sent to me from the mainland. There was also this night, when I carried on my back a young drunk sailor that wanted to give me his wallet and credit cards when we arrived to his catamaran, thinking that I wanted to rob him.
And we shall not forget the stories of the people who stay forever and those sailors that decide to come back and live in the Azores islands. It is, most certainly, a real happening and a visual contentment, to watch the arrival of many “nut shells” that cross the Atlantic and moor in Horta, causing us a lot of compassion and admiration. There is also much respect for the skippers and crews jumping over the waves and through storms to ship the yachts as quickly as possible to the Mediterranean. Or for those school ships, loaded with young people who find space for learning, science and knowledge at sea. Not to forget, the “Tres Hombres” yacht that comes back every year as an example and a model of fair trade.. The Maravilha Festival is upon us, so, enjoy the marina and the party during these days of light and arts. 25 | fazENDO
HORTA MARINA
Os marinheiros dizem Sailors say
Para nós a marina é o coração e a alma da Horta, um oásis no meio do Atlântico que demorámos 29 dias a alcançar e da qual gostámos tantos que nunca mais a deixámos. Gjalt e Corinna, Holanda Iate Stella Maris For us the marina is the heart and soul of Horta, a mid-Atlantic oasis, which we sailed for 29 days to reach and loved so much that we never left. Gjalt and Corinna, The Netherlands Yacht Stella Maris
Melhor do que isto, só nas Caraíbas. Senhora Eduardina, Lavandaria da Marina da Horta (frase recorrente) Better than this, only in the Caribbean. Ms. Eduardina, Laundry Facilities of Horta marina (oft-repeated)
Os Açores ainda são para mim as pérolas do oceano, lindas, verdes, pessoas amigáveis, vida barata. Vitali, Holanda, Iate Cula The Azores for me still remain as the pearls of the ocean, beautiful, green, friendly people, cheap living. Vitali, The Netherlands, Yacht Cula
I knew little of the Azores, other than in reference to the high pressure zone, generally causing bad weather in northern Europe. The pilots - traveling guides for sailors - I had were a bit outdated, and spoke of exotic islands, with friendly people, but treacherous coastlines and tricky anchorages and harbors. After a three year solo circumnavigation, nearing the end, it was almost tempting to skip the whole thing and sail on straight home. I was intrigued though, so I didn’t, fortunately. The Azores turned out to be a highlight, maybe the highlight of those three years. Starting in Flores, then on to Faial. Staying much longer than intended, I visited almost every island. Each has it’s own unique beauty, but nowhere I felt more at home than in Horta, where sailors are not tourists, but members of the community. Maarten, The Netherlands, Yacht Aletis
Dia 19 de Maio de 2015, ao fim de 23 dias a velejar desde Antigua e a esquivarmo-nos a uma grande baixa pressão. O tempo estava cinzento com uma chuva ligeira que cobria tudo num raio de 14 milhas. Não víamos terra, entrámos no cockpit e de repente vimos a Ilha do Faial... preta e verde, uma maravilha da criação, estávamos excitados e comovidos com lágrimas nos olhos. Dentro do porto, o cais estava cheio de gente, um polícia faz-nos sinal para atracar junto à bomba de combustível. Apanharam as nossas amarras e... ESTAMOS EM TERRA! Desembarcámos no pontão da recepção às 19h30. Polícia, autoridades portuárias, tudo em 10 minutos, duches limpos e quentes, aqui, depois das Caraíbas, parece ser um paraíso! Antonella e Angelo, Itália, Iate Stranizza
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A marina da Horta é um porto colorido e com pessoas amigáveis, um cais seguro no qual me sinto em casa. Lammert Osinga, Holanda Capitão do Três Hombres
Uma porta aberta sobre o paraíso, uma escala inesquecível! Manu An open door to paradise, an unforgettable stopover! Manu
The marina of Horta is a colourful harbour with helpful people, it’s a safe port in which I feel at home. Lammert Osinga, The Netherlands Captain of the Tres Hombres
A marina da Horta é a nossa favorita entre todas por ser tão amigável e por nos permitir ficar e visitar todos os amigos que vivem na melhor ilha do mundo, o Faial. Paul e Jenny Davies Inglaterra, Iate Ninita Horta marina is our favorite of all because it is so friendly and it enables us to stay and visit all our friends who live on the best little island in the world, Faial. Paul and Jenny Davies England, Yacht Ninita
Conhecia pouco mais sobre os Açores do que a referência à zona de alta pressão que costuma causar mau tempo no norte da Europa. Os pilotos – guias de viagem para marinheiros – que eu tinha estavam ligeiramente desactualizados, e falavam de ilhas exóticas, com gente amigável, mas de costas traiçoeiras e portos e ancoradouros tortuosos. Depois de três anos de circum-navegação a solo, e perto do fim, era quase tentador omitir a etapa e rumar directo a casa. Mas como estava intrigado não o fiz, felizmente. Os Açores acabaram por ser um dos pontos altos, se não mesmo o ponto alto destes três anos. Começando nas Flores, e depois o Faial. Fiquei muito mais tempo que o previsto, visitei quase todas as ilhas. Cada uma com a sua beleza única, mas em nenhuma me senti tão em casa como na Horta, onde os marinheiros não são turistas, mas membros da comunidade. Maarten, Holanda, Iate Aletis
On the 19th of May 2015, after 23 days sailing from Antigua, avoiding a big low pressure. The weather was grey with light rain covering 14 miles. We could not see land, but suddenly from the cockpit we spotted the island of Faial... black and green, a wonder of creation, we were excited and overwhelmed with tears in our eyes. Inside the harbour the wharf was crowded, a policemen signalled for us to moor at the fuel station. They took our lines and WE ARE ASHORE! We landed in Horta at 19:30 on the Marina reception pontoon. Police, port authority, everything in 10 minutes, clean hot showers. Here after the Caribbean seems like a paradise! Antonella and Angelo, Italy, Yacht Stranizza
Descobri a ilha do Faial com o meu pai, depois de uma tormenta durante a nossa primeira travessia. Foi mágico ver aparecer no horizonte o cume do vulcão. Parece-me que sejam quais forem as tempestades que o mar joga na ilha, nenhuma consegue molhar o coração dos moradores, nem os impedirá de sorrir, comer bem e fazer a festa! Fred, França, Iate Karma I discovered the island of Faial with my father, following a storm on our first crossing. Seeing the summit of the volcano appearing on the horizon was magic. It seems to me that it doesn’t matter how many storms tease the island, none of them will be enough to soak the heart of the residents, or stop them from smiling, eating well and partying! Fred, France, Yacht Karma
E ANTES DE HAVER MARINA... AND BEFORE THE MARINA...
SÉRGIO PAIXÃO
JACQUES BRE na ilha do Faia Uma curta passagem ainda hoje relembrada A short passage that we still remember today
O ASKOY foi o 134º iate a entrar no Porto da Horta em 1974. O Jornal O Telégrafo mantinha uma agenda diária de entrada de iates, mas nem sempre com dados correctos sobre essas entradas.
ASKOY was the 134 th yacht which entered the Harbour of Horta in 1974. The newspaper “Telégrapho” used to have a daily column for yachts entering the harbour, although sometimes various flaws were presented in the published data. In this short text published on the 3 rd of September, there are several mistakes: the yacht was called ASKOY and not ASHOY, it weighed 42 and not 45 tonnes, its crew consisted of 3 people (Brel, France and Maddly) instead of 5 and its next destination was Madeira and not Graciosa.
Nesta pequena notícia do dia 3 de Setembro de 1974, há vários erros: O Iate não se chama ASHOY, mas ASKOY, tinha 42 Toneladas e não 45, não tinha 5 tripulantes mas 3 (Brel, France e Maddly) e não se destinava à Graciosa, mas sim à Madeira.
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Brel’s full name was JACQUES ROMAIN GEORGE BREL. Therefore, George Brel was the name presented to the port authorities in Horta. Jacques Brel, more French than most Belgian singers, more Belgian than most French singers, passed by Horta. It is this short stay that I would like to explain. Brel passed by the Azores, not as a singer, but as a sailor. In February of that year, he bought a sailing yacht with the aim to circumnavigate the globe
O nome completo de Brel era JACQUES ROMAIN GEORGE BREL. Portanto, George Brel foi o nome com que se identificou perante as autoridades marítimas do Porto da Horta. Jacques Brel, o mais francês dos cantores belgas, ou mais belga dos cantores franceses, passou pela Horta. É sobre essa curta estada que eu vos vou falar. Brel Esteve nos Açores, não na qualidade de cantor, mas na de iatista. Em Fevereiro daquele ano, ele tinha comprado um veleiro com a intenção de dar a volta ao mundo em 3 anos. Em 24 de Julho partiu de Anvers, na Bélgica, escalou as ilhas Scily, no sul da Inglaterra, e no primeiro dia do mês de Setembro ancorou o seu barco, de nome Askoy, na baía da Horta. Acabado de chegar, recebe de Paris a notícia que o seu grande amigo Jacques Pasquier (Jojo) falecera vítima de cancro. Brel segue de imediato no navio Ponta Delgada para a ilha Terceira, e de lá apanha um avião para Paris, para assistir ao funeral do amigo no dia 3 de Setembro.
EL al within 3 years. On the 24 th of July he left Anvers, in Belgium, passed by the Scily islands, in south UK, and on the first day of September he anchored his boat in the bay of Horta. As soon as Brel arrives in Horta, he gets some news from Paris, saying that his good friend Jacques Pasquier (Jojo) passed away, after losing a fight with cancer. Brel immediately boards the ship from Ponta Delgada to Terceira and from there takes a plane to Paris, in order to be present at his friend’s funeral on September the 3 rd . In the meantime, his daughter France Brel and girlfriend Maddly Bammy, stay in Horta so as to take care of the boat. After some days Brel comes back to the Azores, in a friend’s private jet. But he feels a bit sick, and calls a Belgian doctor, Dr. Luis Decq Mota, to visit him on the boat. He is diagnosed with a flu, however the doctor’s visit sparkles a friendship between the two men, and Jacques Brel ends up going around the
Entretanto, na Horta, ficam a filha France Brel e a amiga do cantor, Maddly Bammy, a tomar conta do barco. Brel regressa dias depois aos Açores, no avião particular de um amigo que lhe deu uma boleia até ao Faial. Mas regressa adoentado, e consegue que o Doutor Luís Decq Mota, médico de ascendência belga, o vá ver a bordo do Askoy. Trata-se de uma gripe. Porém, estabelece-se uma amizade entre os dois homens, e Jacques Brel acaba por passear pela ilha do Faial na companhia da família Decq Mota.
island with the company of the Decq Mota family. He visits the Oton da SIlveira’s scrimshaw workshop and frequently attends Peter Café Sport. He leaves Horta on the 18 th of September, setting sail to Madeira, and afterwards crosses the Atlantic towards the Panama Channel. Meanwhile, what appeared to be a simple flu, got worse, and forced the singer to go back to Europe. In Paris, he was diagnosed with lung cancer. Brel never managed to finish his circumnavigation. After being operated on, he departed again
tinha comprado um veleiro com a intenção de dar a volta ao mundo
he bought a sailing yacht with the aim to circumnavigate the globe
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Brel was only looking for Brel só buscava o peace and solitude sossego e o isolamento Visita a oficina do artesão de scrimshaw Oton da Silveira e frequenta o Café Peter. Deixa o Porto da Horta a 18 de Setembro, rumo à Madeira, e depois atravessa o Atlântico com destino ao Canal do Panamá. Entretanto, o que se pensava ser uma gripe, piorou, e obrigou o cantor a regressar à Europa. Em Paris foi-lhe detectado um tumor num pulmão. Brel já não fez a volta ao mundo. Depois de operado, retomou a viagem marítima e levou o Askoy até às Ilhas Marquesas, em pleno
with Askoy in a maritime trip to the Marquesas Islands, in the Pacific Ocean. He lived there for 4 years and died in October 1978. His body rests on one of those islands, close to the body of Gauguin. When Brel was 38 years old and at the peak of his fame, he left the stage, as he did not want to get old in front of his audience and become the old snob singer that receives applauses
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Oceano Pacífico. Lá, viveu mais 4 anos, e acabou por falecer em Outubro de 1978. O seu corpo jaz ao lado do de Gauguin, numa das ilhas daquele arquipélago. Brel, quando deixou os palcos, com 38 anos de idade e no apogeu da fama, fê-lo porque não queria envelhecer à frente do público e porque não se queria tornar no velho cantor cabotino que é aplaudido por deferência. Quando, com 45 anos de idade, se meteu num barco para dar a volta ao mundo, fê-lo para estar muito longe dos oportunistas, dos falsos amigos e dos jornalistas,
because of plain deference. When he was 45, he boarded a boat to perform this world tour in order to escape from opportunists, fake friends and journalists who would not give him a break. After living and working in such an intense and exhausting environment, Brel was only looking for peace and solitude. When his illness interrupted the realization of his dream of circumnavigation, he opted to live on a distant island of
que não o deixavam em paz. Depois de uma vida de trabalho intenso e esgotante, Brel só buscava o sossego e o isolamento. Como a doença lhe interrompeu o sonho da circum-navegação, optou por ficar a viver numa distante ilha do Oceano Pacífico, onde ninguém o conhecia. Jacques Brel só não ficou na Horta porque estava demasiado perto da Europa. No Faial corria o risco de perder a privacidade que ele procurava desesperadamente. Texto de Sérgio Paixão no blog “O Canto do Brel”. (adaptado)
the Pacific, where no one knew him. The only reason for which Jacques Brel did not stay in Horta is the fact that it is too close to Europe. On Faial he would risk the privacy he was so desperately looking for. From the blog “O Canto do Brel” by Sérgio Paixão
Jacques Brel LA CATHÉDRALE
Prenez une cathédrale Et offrez-lui quelques mâts Un beaupré, de vastes cales Des haubans et halebas Prenez une cathédrale Haute en ciel et large au ventre Une cathédrale à tendre De clinfoc et de grand-voiles Prenez une cathédrale De Picardie ou de Flandre Une cathédrale à vendre Par des prêtres sans étoile Cette cathédrale en pierre Qui sera débondieurisée Traînez-la à travers prés Jusqu’où vient fleurir la mer Hissez la toile en riant Et filez sur l’Angleterre L’Angleterre est douce à voir Du haut d’une cathédrale Même si le thé fait pleuvoir Quelqu’ennui sur les escales Les Cornouailles sont à prendre Quand elles accouchent du jour Et qu’on flotte entre le tendre Entre le tendre et l’amour Prenez une cathédrale Et offrez-lui quelques mâts Un beaupré, de vastes cales Mais ne vous réveillez pas Filez toutes voiles dehors Et ho hisse les matelots A chasser les cachalots Qui vous mèneront aux Açores Puis Madère avec ses filles Canarian et l’Océan Qui vous poussera en riant En riant jusqu’aux Antilles Prenez une cathédrale De Picardie ou d’Artois Hissez le petit pavois Partez cueillir les étoiles Et faites chanter les voiles Mais ne vous réveillez pas Mais ne vous réveillez pas Putain, les Antilles sont belles Elles vous croquent sous la dent On se coucherait bien sur elles Mais repartez de l’avant Car toutes cloches en branle-bas Votre cathédrale se voile Transpercera le canal Le canal de Panama Prenez une cathédrale
Et voici le Pacifique Longue houle qui roule au vent Et ronronne sa musique Jusqu’aux îles droit devant Et que l’on vous veuille absoudre Si là-bas bien plus qu’ailleurs Vous tendez de vous dissoudre Entre les fleurs et les fleurs
Prenez une cathédrale Hissez le petit pavois Et faites chanter les voiles Mais ne vous réveillez pas Prenez une cathédrale De Picardie ou d’Artois Partez pêcher les étoiles Mais ne vous réveillez pas Cette cathédrale est en pierre Traînez-la à travers bois Jusqu’où vient fleurir la mer Mais ne vous réveillez pas Mais ne vous réveillez pas. 31 | fazENDO
INFO grafias INFOgrafics
TOMÁS MELO
let’s accomplish the energetic auto-subsistence
+ CORRIDAS EM TRILHOS
+ REGATAS NO MAR
MAS O GRANDE PRÉMIO DO MÓNACO NÃO CABE NA CIDADE DA HORTA
+trail races +ocean regattas but the gp mónaco does not fit in our city
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O tamanho real de cada ilha, o exacto tamanho de cada arquipĂŠlago The real size of each island, the exact size of each archipelago
scaled maps show how these two corners of earth are not as different from each other as they seem
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s d a o d A n u lé m t o R Faço um esclarecimento prévio relativamente a esta encomenda. António Frasco, presidente vitalício da Associação de Estudos Genealógicos do Património sedeada em Mãe Martins, veio ter comigo. Mostrou-me esta imagem e disse-me: “João, gostaria que analisasse esta rotunda”. “Sob que ponto de vista?” – perguntei eu. “Como assim?” – perguntou ele, que não estava habituado a perguntas. “do ponto de vista da sua beleza? Da sua história? Ou quê?”. “isso!” – disse ele. Percebi então que António Frasco apenas necessitava de uma análise, uma qualquer. Prontamente lhe disse: “Meu caro, eu sou especialista em rotundas, e isto não é uma rotunda!”. “Não é mas podia ser. Conto com a sua compreensão relativamente a este assunto.” – Disse ele, batendo com a porta e deixando-me a sós na redacção. I will start by explaining some things regarding this enquiry. António Frasco, perpetual president of the Association of Genealogic Studies of Heritage, headquartered in Mãe Martins, came to talk to me. He showed me this image and said: “João, I would like you to analyse this roundabout”. “From which point of view?” – I asked. “What do you mean?” – he asked, because he is not used to being questioned. “From the perspective of its beauty? Of its History? Or what?”. “That’s it!” – he said. From that answer I understood that António Frasco just needed an analysis, any analysis would suit him. I told him promptly:
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JOÃO VENCESLAU
Gostaria que me analisasse esta rotunda I would like you to analyze this roundabout
E foi assim que, partindo do zero, me dirigi à Torre do Congo em busca de documentação sobre a origem desta peça urbana erigida na cidade da Horta. No meio de documentos cheios de pó e carcomidos por térmitas, pude apurar através de uma investigação cuidadosa que a autoria da peça pertence a Zé Paulo, também conhecido apenas por Zé, mestre português da época em embelezamento de espaços públicos. Sem mais informações disponíveis, limitei-me a observar a peça, tendo feito duas descobertas relevantes: 1. Esta construção em forma de estrela tinha uma dupla função – indicar os pontos cardeais, e servir de armadilha para apanhar ratos (através das pequenas portinholas que se podem ver na foto); 2. Zé Paulo assinava todas as suas obras com um “Z”, que nesta em particular se pode ver no lado direito da foto. Mas não ficamos apenas pelo passado e pelo presente. Trabalhamos todos
os dias na investigação destes fenómenos de forma a evitar divagações futuristas, e a fornecer assim ao estimado apreciador a mais fidedigna informação. Foi com este intuito que através de uma audiência com o presidente da câmara dessa cidade, fiquei a saber que esta pequena estrutura será futuramente adaptada a uma pista de aterragem para drones, ou seja, um dronódromo. Um objecto do passado na vanguarda futurista, e adeus adeus, até à vista! My dear, I’m a roundabout specialist, and this is not a roundabout!
Meu caro, eu sou especialista em rotundas, e isto não é uma rotunda!
AURORA RIBEIRO
REBUS
EVA GIACOMELLO
Lacking more information, I could only stare at the work, and managed to make two relevant discoveries: 1. Its star shaped construction had a double function – to indicate the cardinal points, and to be used as a mouse trap (through little doors that you can notice in the picture); 2. Zé Paulo used to sign all his work with a “Z”, that you can note, in this particular case, on the right side of the picture. But we still have more than the past and the present. We work every day, studying these phenomena in order to avoid futuristic divagations, and to provide to our dear connoisseur the most reliable information. With that in mind I, after a presentation given by the mayor of the town hall, was informed that this structure will be adapted and transformed into a drone runway, i.e., a dronodrome. An object from the past passing to the futuristic avant-garde, and…bye bye, see you next time!
Palavras: 1 Letras: 21
“My dear, I’m a roundabout specialist, and this is not a roundabout!”. “It is not, indeed, but it could be. I count on your understanding regarding this subject.” – He said, slamming the door and leaving me alone in the reception. So, starting from scratch, I went to the Congo Tower, searching for documentation on the origin of this urban art piece that was built in the city of Horta. In between dusty documents, full of termites, and after a meticulous investigation I discovered that this structure was designed by Zé Paulo, aka Zé, who was a Portuguese specialist of his time, mastering the embellishment of public spaces.
Letras e imagens são usadas para formar novas palavras, da esquerda para a direita. Abaixo da figura indica-se o nº de palavras que compõem o enigma e o nº de letras de cada. Letras entre parêntesis subtraem-se da palavra da imagem correspondente. Símbolo com duas setas contrárias indica que a palavra em baixo deve ser lida inversamente.
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