Fazendo 78

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78 OUTUBRO ‘12

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O BOLETIM DO QUE POR CÁ SE FAZ MENSAL / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

David vs. Golias, em sonhos e todos os dias!


2. Fazendo Editorial

Editorial O Quinto Fazendo O Quinto Fazendo foi buscar o seu ordinal ao Impé-

sempre outros novos a surgir. Quanto mais rota está

Fazendo - Direcção

rio. Depois de uma terminologia tecnológica (versão

a rede menos buracos tem, também dizem.

Aurora Ribeiro Tomás Melo

4.0) procurou-se outro tipo de utopia. As dúvidas

Ainda é cedo para o Quinto Império. Talvez seja

humanas são eternas e a esperança na salvação

sempre cedo para Quintos Impérios. Uma concreti-

é das mais queridas formas de as combater. E foi

zação utópica tem contornos de paraíso. O paraíso

Coordenadores

por ela, pela salvação, que já se fez tudo. Mas tudo

é o “viveram felizes para sempre”. Depois disso

Albino

mesmo, porque por ela, até arrancar olhos vale. Foi

a novela acaba. Ou então a saga continua sob a for-

Carla Cook

pela salvação que a Inquisição e o Nacional Socialis-

ma de Quinto Império 2, que nunca será tão bom

Carlos Alberto Machado

mo actuaram. É pela salvação que o “Socialismo Real”

como o primeiro. Vamos vivendo, vamos fazendo,

Fernando Nunes

ainda actua, por exemplo na China. E pela salvação

enquanto ainda estamos mais ou menos sãos e...

Filipe Porteiro

(de quem??) se rebentaram duas bombas atómicas

salvos. Haja saúde.

Helena Krug

em cidades com pessoas vivas lá dentro. A salvação, a haver, terá que ser social. Porque a salvação individual, acreditando nas velhinhas

Mas o Quinto Império é o do espírito. Santo?

Lídia Silva

Talvez. Mas do espírito, e isso é bom que não fique

Pedro Gaspar

esquecido.

Pedro Afonso

Vidas de Santos e nos já não tão novos Livros de

Aurora Ribeiro

Auto-Ajuda, é mais comum. Já aconteceu. Cada uma

Capa

à sua maneira, mas parece que sim. Para o povo, as

Mauro Santos Pereira

gentes, as pessoas, a sociedade, a maralha, é que é mais complicado. Porque essa entidade colectiva

Colaboradores

não se entende a si própria. E nem morre (há quem

Cristina Lourido

seja salvo pela morte). Porque há sempre mais gen-

Francisco Henriques

te. E existindo sempre, sempre se interroga, sempre

Lia Goulart

se insatisfaz e mais procura. E espera. Por quem? Ou

Luís Henriques

pelo quê? Que trará a manhã de nevoeiro? E como

Marco Miranda

será que vamos merecer essa salvação? Como é que

Orlanda André

se consegue ser assim tão feliz como os desenhos

Paulo Ricardo Bicudo

das brochuras das Testemunhas de Jeová (mas com

Rui Prieto Ruth Bartenschlager

roupas mais modernas, de preferência...)?

Teresa Almeida

Não há salvação, dizem muitos. Mas há problemas e eles têm que ser resolvidos. Há desigualdades,

Terry Costa

há abusos ambientais, há crimes, há doenças. Há

Victor Rui Dores

insustentabilidade. Na impossibilidade de costurar uma nova realidade, que se remendem ao menos os

Design Editorial

buracos. Embora nunca deixem de existir e hajam

Mauro Santos Pereira www.comunicaratitude.pt Organização Editorial

Capa

Sandra Cristina Sousa www.comunicaratitude.pt

O sonho de regressar e o problema de não conseguir executar

Propriedade Associação Cultural Fazendo Sede

A beleza natural dos Açores faz-nos sonhar. Faz com

— causa também grandes questões culturais. A falta

que tenhamos orgulho de sermos Açorianos e de

de brio profissional e pensamentos como “trabalhar

Rua Concelheiro Medeiros

podermos dizer “somos um dos melhores sítios no

para desenrascar” e “ao preço que é está muito bom”,

nº 19 — ­­ 9900 Horta

mundo para se visitar, e até mesmo morar!”. Faz-nos

instalam-se e rebentam, literalmente, com qualquer

sonhar, sonhar para que, um dia mais tarde, depois

serviço, ideia, estratégia ou, até mesmo, orçamento.

Periodicidade

de formados, possamos voltar. Mas quando volta-

Na maioria das ocasiões, a razão pela qual o barato

Mensal

mos… É David vs. Golias, todos os dias!

sai caro, não é por ser barato, é por ser mal pensa-

O sedentarismo cultural que sobrevoou os Aço-

do — investe-se tempo, vontade e dinheiro em vão.

Tiragem

res, do qual tenho mais perceção na ilha do Pico, local

É um problema de bases. David não comprou um cão,

500 exemplares

de onde sou natural, alojou-se como o nevoeiro de

David pensou! Organizou-se e criou uma estratégia… Impressão

inverno — ora sobe, ora desce, mas nunca desapare-

Se as medidas e atitudes não são pensadas, se

ce — provocando inércia e falta de desenvolvimento

não existe uma estratégia, nunca haverá espaço para

sustentável. Torna-se muito complicado desenvol-

a cultura e, por sua vez, se a cultura não for pensa-

ver determinados papéis sociais, quando toda a gen-

da, nunca será autónoma. Se nunca pensarmos no

te quer “ter alguma coisa a ganhar” e só participa

desenvolvimento sustentável dos Açores, nunca

nesta edição são dos autores

quando lhe dão algo em troca.

seremos, na realidade, autónomos. É esse o sonho

e não necessariamente

de todos os dias, o sonho de um dia poder pensar,

da direcção do Fazendo

A nível profissional, a fraca capacidade de pensar a médio e longo prazo, e falta de informação que

executar e ter “pernas para andar”.

reina junto de empreendedores locais, para não referirmos o problema de falta de qualidade de produção — tudo tem de ser o mais barato e rápido possível

Mauro Santos Pereira

Gráfica O Telégrapho As opiniões expressas


.3 78 OUTUBRO ‘12

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O Banco dá! É verdade. O Banco de Portugal na Horta deixou definitivamente de garantir poupanças, atribuir empréstimos, cobrar juros e saldar créditos mal parados. Depois de um período de hibernação indefinida, despertou, mudou de nome e vai começar a dar. Dar tudo para que a cidade e a ilha continuem a crescer culturalmente num ambiente de partilha. Mas começemos pelo princípio...

Fazendo Actualidade

No início de 2012, a Empresa Municipal Hortaludus,

e outras crianças com quem brincar e sonhar. À noite,

de formação em pintura/artes plásticas, dança con-

em conjunto com a Câmara Municipal da Horta, lan-

houve projecções de filmes, concertos, oficinas de

temporânea, instrumentos tradicionais e clássicos,

çou um desafio às várias Associações culturais da

teatro e houve conversa e convívio espraiados no

canto e oficinas de carácter temporário (espera-se

ilha: elaborar uma proposta para dinamizar o Banco

“Bar dos Artistas” e nas mesas, cadeiras e adereços

ter uma oficina em construção de cordofones tradicionais, por exemplo). As Associações residentes

de Portugal, espaço de excelência da cidade, que

do Teatro de Giz que se espalharam por ali. Foi um

sob a alçada do munícipio se encontrava sem fun-

sucesso e um conforto a existência deste pequeno

mostrarão também ao público as suas mais recen-

ção própria, desocupado e desprovido da vida e do

mundo alternativo durante as festividades. Mais,

tes produções e outras serão levadas até lá, porque

papel social que um espaço daquela natureza pode

autofinanciou-se, sendo que as receitas das entra-

a troca de experiências e conhecimentos se quer

e deve abraçar. Depois de reunidas as necessárias

das (foram cobrados 5€ por dia por criança) e do Bar,

viva e pulsante.

forças sinergéticas, 3 Associações (FAZENDO, Tea-

foram suficientes para pagar as despesas materiais

Até lá, ainda há paredes por pintar, insonoriza-

tro de Giz e Música Vadia) apresentaram um pla-

para formação, auxiliares de educação, animadoras

ção de espaços, arrumação de materiais e espólios,

no concreto que assentava em duas vertentes: 1)

culturais, etc). Para este desfecho, também contri-

montagens e desmontagens e mais ideias que se

a da apresentação de produções (próprias ou não)

buíram algumas empresas locais que se sentiram

querem transformadas em acções para com pouco

e iniciativas ligadas às artes e 2) a da formação em

estimuladas pelo processo e que acabaram por for-

fazer o necessário. Precisam-se de mãos e cabeças

linguagens artísticas diversas. Paralelamente, em

necer alguns produtos para serem utilizados nas

e afirma-se já que todo aquele que sentir a necessi-

conjunto com as entidades já referidas, fizeram um

oficinas de formação para as crianças.

dade de concretizar e o prazer de criar em conjunto

levantamento da planta do local e definiram as intervenções físicas que o espaço deveria sofrer de forma a que, com um custo mínimo, se pudessem ter

Com o exemplo, retemperaram-se as forças e as vontades.

deve juntar-se ao colectivo. Mas para acabar e e em resumo - procurar-se-

Agora, as Associações concentram-se no pró- -à criar um espaço aconchegante mas espevitado,

as condições necessárias para desenvolver os tra-

ximo passo: inaugurar o espaço interior do Banco

balhos. A proposta foi aceite e o Banco passou a ter

e iniciar as actividades que se querem regulares

possa ter acesso à cultura e ao que cá e lá se vai fa-

novo apelido – BANCO de ARTISTAS.

e para todos. A saber – no início de Novembro, abrem-

zendo. Sem contenções, imposições nem pactos

A primeira amostra do “edifício” que se procurou

-se as portas pela primeira vez com uma tarde e noi-

(e se procura agora todos os dias) recriar e recons-

te rechedas de exposições, teatro, música e festa.

truir aconteceu poucos meses depois, em plena

A partir daí surge uma agenda que inclui módulos

Semana do Mar, que no mês de Agosto incita as pessoas a sair de casa e a estarem disponíveis para o que der e vier. No espaço exterior do Banco, no lado da Avenida marginal, as Associações compuseram um espaço e um plano de actividades diário que integrava um período infantil (das 18:00 às 21:00) e um período para todas as idades (das 21:00 à 1:00). Quer isto dizer que, durante a tarde, várias crianças (passaram por lá 95!) se encontraram com avós que contavam histórias, formadores que os levaram para o mundo dos jogos tradicionais, artes plásticas, pintura, ciência, teatro, dança, yoga

chamativo e peculiar, onde a população do Faial

papões!


4. 78 OUTUBRO ‘12

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Entrevistando a Baleação

Fazendo História

A caça à baleia nos Açores terminou em 1987 e já

Hoje em dia a baleação é malvista em muitas

teve o seu luto, mas as memórias individuais sobre-

culturas e os baleeiros são vistos como vilões;

E as mulheres dos baleeiros, o que sabemos sobre as suas vidas?

vivem, difusas, subjectivas e sempre insubstituíveis.

o teu trabalho pode ajudar a humanizar a balea-

Acho que se poderia fazer um projecto totalmente

Na senda de trabalhos feitos há demasiados anos

ção e os baleeiros?

independente com a perspectiva feminina sobre

por Dias de Melo, Gemina Garland-Lewis calcorreou

Acho que o meu trabalho é uma forma eficiente para

a baleação. Só consegui falar com duas senhoras,

as aldeias e vilas do Triângulo, subiu aos montes das

as pessoas humanizarem os baleeiros, embora não

mulheres de baleeiros, sobre como era a vida em

vigias e pediu para entrar nas casas dos baleeiros

acredite que todos queiram ver nesta perspectiva.

terra quando os homens estavam no mar. A maioria

e escutar as suas histórias.

Algumas pessoas opõem-se tanto à baleação que

das histórias que conhecemos sobre a baleação são

nada que se possa dizer as fará mudar de ideias,

contadas pelos homens, mas existem histórias igual-

Há 4 anos, vieste aos Açores e entrevistaste al-

principalmente a partir de um meio jornalístico.

mente interessantes daquelas que ficaram na reta-

guns antigos baleeiros. Este Verão, não pudes-

Apercebi-me disto quando recebi vários comentá-

guarda e viram os homens da sua família irem para

te reencontrar alguns porque já tinham faleci-

rios negativos dos leitores, sobre o meu trabalho

o mar, sem nunca saber se voltariam em segurança.

do ou estão muito doentes. Sentiste que o teu

e sobre os baleeiros que tinha entrevistado. Mas

Ouvir apenas as histórias daqueles que estiveram no

trabalho é urgente?

também recebi várias reacções positivas. Indepen-

mar significa perder metade do panorama.

Sem dúvida. O meu trabalho há quatro anos teve um

dentemente de concordar ou não com a baleação,

foco mais abrangente sobre as relações açorianas

o meu objectivo é mostrar como estes homens são

Na tua opinião, porque é que a cultura baleeira

com as baleias e não se limitou à baleação, razão

apenas humanos, conduzidos por circunstâncias

está tão viva nos Açores?

pela qual na altura só entrevistei quatro baleeiros.

que afectam a todos.

Desses quatro, um já tinha falecido quando regres-

Julgo que em parte se deve ao facto da baleação ter terminado muito recentemente nos Açores – não

sei e outro faleceu duas semanas depois de eu ter

Depois de teres falado com os baleeiros, acredi-

chegado. Pareceu-me claro que este trabalho tinha

tas que sentem falta dos dias da baleação?

da baleação e a sua envolvência. O contacto desta

que ser feito o mais rápido possível e tentei fazer

Sim, de uma maneira geral. Realizei 30 entrevistas

cultura baleeira com as festas religiosas é também

o máximo de entrevistas possível. As histórias des-

no Faial, Pico e São Jorge e embora a maioria sinta

um factor assinalável nos Açores. Será interessante

tes homens estão a desaparecer à frente dos nossos

falta dos tempos da baleação, a intensidade do que

ver como sobrevive esta cultura depois dos últimos

olhos e quanto mais tempo se esperar para as reco-

sentem e aquilo de que sentem falta varia. Alguns

baleeiros desaparecerem. Também registei algumas

lher, menos existirão para contar.

disseram-me prontamente que não tinham sauda-

opiniões discordantes sobre a definição de cultura

é preciso ser muito velho para recordar aspectos

des nenhumas, mas de uma forma geral isso aconte-

baleeira, já que muitos vêem a renovada utilização

cia em resultado de uma experiência negativa com

dos botes baleeiros em regatas e festividades como

a gestão da baleação. Por outro lado, outros disse-

a continuação da tradição, enquanto muitos ba-

ram-me que embarcariam num bote baleeiro sem

leeiros consideram isto completamente separado

pestanejar, mesmo com as pernas a fraquejar com a

daquilo que eles fizeram. Caçar uma baleia é dife-

idade, e arpoariam uma baleia se tivessem oportuni-

rente de ganhar uma regata, e as práticas e cultura

dade. Na Fábrica de São Roque do Pico, um baleeiro

associada aos botes baleeiros está a ser modificada,

subiu ao bote em exibição para me mostrar como

pouco a pouco. Penso, no entanto, que existe uma

se procedia a bordo, dizendo “fica-se mais fraco

grande esperança na preservação das histórias dos

mas não se esquece”. Normalmente, estes homens

baleeiros e da sua cultura, tendo em conta que vá-

recordar-se-iam do dinheiro que lhes trazia, da caça,

rias das pessoas que colaboraram comigo perten-

de estar no mar com a família, ou do estilo de vida

cem às gerações mais novas.

e daquilo que traziam para as suas povoações. Entrevista e tradução por: Francisco Henriques e Rui Prieto

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.5 78 OUTUBRO ‘12

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M, ou A busca de sentido

Fazendo Arte

O colectivo teatral As Descalças, sediado em Ponta

assídua da psiquiatria do Memorial de S. Francisco,

Delgada, editou em 2011 o texto teatral M. A sede

que “vai ser alguém!”, no seu desabamento huma-

dos outros, de Judite Canha Fernandes. O teatro

no. “Miriam”, a velha puta holandesa, artrite reuma-

também se faz no papel, a par das “tábuas do pal-

tóide, que foi aquilo que pôde ser mas se lhe fosse

co”, com autonomia ou sem ela. O importante é que

dada mais uma vida para viver seria “outra pessoa”.

o teatro também assim viva e assim possa estimu- “Kitty”, figura como que surgida de uma Manga japolar o surgimento de mais edições e de mais espectáculos.

nesa, jovem anoréxica que descobre que tem SIDA. “Faíza”, a jovem missionária moçambicana que per-

O texto de Judite Fernandes é uma matéria

deu o filho pequeno num atropelamento rodoviário

que claramente respira teatro. O que lhe falta aqui

e que aceita o condutor como esposo. E ainda a ou-

e ali, nada muito importante, de “literatura”, sobra-

tra metade de “M.”

-lhe em teatro. Uma análise aprofundada permitiria

Na sua busca de “seres incompletos – que todos,

perceber isso: na sua materialidade, na forma como

afinal, somos – “M.” “recolecta” todas estas mulheres

organiza e agencia os elementos da cena, na sua

que têm o sofrimento como denominador comum.

“respiração”, M. A sede dos outros é um texto teatral,

O contacto de “M.” com cada uma destas vidas é um

diferente de uma “peça” teatral, se aceitarmos que

processo de procura de sentido, para a vida passada

esta antecede a cena, e o primeiro nasce com ela,

e presente de cada uma, mas também de completa-

cresce com e para ela. Mas não termina nela, pois

mento: “Mabaça”, o “apelido” de “M.”, significa, embo-

creio que um texto assim criado é um desmultiplica-

ra algo imprecisamente, gémeo, e o gémeo é por de-

dor performativo.

finição um ser incompleto, em busca da sua metade

O texto que lemos pode ser considerado um

verdadeira.

monólogo, um monólogo especial. “M.” (enfermeira

“M. Mabaça” deambulou por mais de 40 países.

especialista em reabilitação) dialoga, desdobra-se

Após a ausência de 33 anos, voltou à sua terra na-

em várias outras figuras femininas: “Yara”, a índia

tal, os Açores. Apresentou-se aos outros, descalça,

brasileira que sofre com o quase desaparecimento

agradecida por a “recolectarem”. E nós com ela.

do seu povo. “Elisabeth”, a açoramericana, cliente Carlos Alberto Machado

Myosotis Azorica Se o sangue correr e subir ao cimo do verde da montanha agarra a única certeza reconhece pétala a pétala provavelmente assim provarás a sua existência é fruto de uma inglória narrativa pois à noite já não aguardamos o amanhã de te avistar Fajã Grande, verão de 2012 Fernando Nunes

Fazendo Arte


6. 78 OUTUBRO ‘12

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Bruta tormenta “Nadine” forma-se à velocidade de uma prova olímpica de 100m crawl.

Fazendo Arte

Sim, as ladeiras começaram a chorar

No dia em que as ladeiras choraram

as casas. O que estava a acontecer só

as casas e as árvores e as pessoas,

São 19 horas.

podia ser um absurdo, as casas e as ár-

mesmo as que estavam longe, sabiam

A chuva varre numa grande corti-

vores a saírem do sítio, como em pas-

que a terra nem sempre tem tempo

na cinzenta em forma de ilha que se

seio mas desencontradas e logo numa

de beber toda a água dos céus.

dirige a nós sem hesitar. Estacamos,

ilha tão florida em pleno mar.

Cresci a esperar que as casas construíssem o mar como os búzios e brin-

de coração a bater descompassado.

Relembro os homens velhos jo-

O vento desabafa nas fajãs semelhan-

gando dominó em frente à “casa dos

cassem com as árvores, esses seres

do uma manada a correr matos fora,

botes”. O olhar dos baleeiros era mais

tão grandes e maravilhosos, como

profundo e mais vasto, à luz difusa

se fossem gente comprida a enfeitar

Perto, uma enorme araucária can-

e cintilante do Oceano Atlântico. O

o mundo.

sada de resistir faz o pino, desnudan-

charme dos rostos curtidos pelo tem-

Gostava de ter um martelo e pre-

do as raízes despenteadas. Surgem

po fascina neste ambiente vulcânico,

gos mágicos que ajoujassem as casas

rios como se nascentes jorrassem do

escarpado e agressivo.

ao centro do chão, para garantir que

acocoramo-nos para não voar.

solo. Já não há céu nem terra, apenas

Cresci a ver as casas semeadas

nenhuma outra casa ou árvore ou

essa mancha coalhada de lama e ven-

pelas ruas, pelas encostas, iguais a

vaca se poria a passear. E assim cuidar,

pedras grandes, inteligentes, todas

acarinhar e vigiar, como quem se põe

De tanto derrocar a montanha per-

senhoras dos seus narizes. Era uma

à espreita a meter juízo na mãe-natu-

de volume, casas desbotadas derre-

ideia muito peregrina, a de pensar que

reza, que ela às vezes também dispa-

tem-se e diluem-se na paisagem. Não

as casas eram para sempre, infinitas,

rata sem pensar.

houve tempo de acautelar hortas nem

erguidas à noite e ao frio sem medo.

to e árvores voadoras.

galinhas. O céu parece um papagaio de

Cristina Lourido

papel demasiado veloz. Os caminhos estragados de silêncio e casas.

Canhões de Paz Porque não lançar sementes aladas?

Coração verde Lusitano

Oh mas que chuva de flechas quereis ter pelo ar A da gentil senhora da iluminação?

Nas asas de mil mãos humanas semeadas Em vôos intermináveis

Olho teus filhos ao longe,

Um facho de luz em cada braço, traçado,

Espalhadas.

Desamparados...

O renascer da canção?

Como que para sempre libertadas.

Mas que prado quereis mais

Marítima... O Esperado, amor - as suas fontes

Que aquele que nunca jaz?

Como canhões de flores e música

Infindáveis.

Ao redor da Alva pomba dourada

Em minha alma, rimbombarás.

que se ergue de seu coração, (No redondo azul)

Emplumada.

A tua volta, ao mundo retorna Em apertos de mão retribuída.

De canhões sonantes, Músicai sem fim,

A partilha que teu povo é capaz,

Lágrimas nos olhos dos que vão,

No Roteiro de paz,

Tão a mais!..

Abraços que ficam,

Energia, triunfante.

Alcança tempo

Para sempre

Tão eterno... Paz...

no coração.

Sentida. Como canhões de flores e música .

Em minha alma, rimbombarás.

Paulo Ricardo Bicudo


.7 78 OUTUBRO ‘12

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A Bela Aurora Fazendo Arte

Mantém-se nos Açores uma tradição bem portugue-

Cada um, à sua maneira, exprimia e exteriorizava

sa que consiste em cantar e bailar nas grandes ro-

a sua alegria. É o caso da canção “Bela Aurora”:

marias. Refiro-me a um tempo em que o povo bailava, no arraial ou no terreiro, as folgas ou os chamados bailes de roda; por sua vez, as pessoas pertencentes às classes mais privilegiadas dançavam, nos salões, o minueto, a gavota e, já no século XIX, a quadrilha, a polca ou a valsa.

Datam do século XVIII as primeiras informações sobre esta cantiga que, segundo alguns estudiosos, começou por ter algumas afinidades marroquinas,

A Bela Aurora no mato Decerto que não tem medo Faz a cama, dorme só Debaixo do arvoredo.

mas que ao longo do tempo foi perdendo esse caráter e hoje, pela índole musical em que se enquadra, poderemos considerar uma canção dos Açores. Aliás, o insuspeito César das Neves, no seu Cancioneiro de Músicas Populares (Porto, 1893-1899), considera-a precisamente de criação açoriana. A “Bela Aurora” é cantada em todas as ilhas dos Açores, com variantes poéticas e musicais. Victor Rui Dores

Manuel de Tavares Uma Nota Biográfica

Fazendo Arte

Manuel de Tavares terá nascido em Portalegre por

A obra musical de Manuel de Tavares que sobreviveu

volta de 1585 e morreu em Cuenca (Espanha), a 14

até à actualidade encontra-se distribuída pelos ar-

de Outubro de 1638. Terá estudado em Portalegre

quivos das catedrais de Baeza, Las Palmas, Valência,

com António Ferro, mestre de capela da Catedral.

Saragoça, Salamanca e Puebla (México). Conta vinte

Por volta de 1611 Tavares aparece como mestre de

e oito obras para um ou mais coros, compreendendo

capela da Catedral de Baeza (Andaluzia) e, em 1612,

missas, motetes, e vilancicos.

torna-se mestre de capela na Catedral de Murcia. Em 1629 concorre pela segunda vez, vinte anos após

Luís Henriques

o primeiro concurso, ao posto de mestre de capela

www.luiscfhenriques.com

na Catedral de Las Palmas (Gran Canária) obtendo o posto em 1631. Em 1638 muda-se novamente para a Península, mais concretamente para Cuenca, a fim de ocupar o cargo de mestre de capela na Catedral. À chegada a esta cidade, em Setembro, adoeceu gravemente vindo a morrer um mês depois.


8. 78 OUTUBRO ‘12

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From the desk of MiratecaArts

Fazendo Arte

Estou numa sala cheia de crianças de

e internet ocupam a maior parte do

sibilidades que podemos desfrutar

derrubar muros psicológicos, voltar

4 a 6 anos de idade. Não interessa o

seu dia-a-dia e não necessariamente

das oportunidades lançadas na nossa

a ser herói no nosso dia-a-dia é neces-

tópico, cenário ou a sugestão mais

os programas educativos que podem

frente. Chegando à idade adulta, os

sário para que o progresso exista na

surrealista que tentamos encenar,

dar lugar ao novo professor. A edu-

artistas de crianças por vezes não co-

nossa realidade como uma verdade.

existe sempre participação total. To-

cação de escravatura para com ideo-

nhecem o museu, o teatro, a escola de

Desafio todos vós que lêm estas pa-

das estas crianças são os melhores

logias de globalização começa a ter

artes ou mesmo o palheiro do vizinho.

lavras para se inscreverem numa aula

pilotos ou arqueólogos, piratas ou

forma e a criar muros mentais que im-

Começamos a viver num mundo vir-

artística. Se já o fazem, então procu-

extraterrestres do mundo. A criati-

pedem o progresso total do ser huma-

tual em que os nossos pensamentos

rem uma área diferente, algo que ain-

vidade desde o mais simples ao mais

no. Mas mesmo assim, ainda se conse-

são apenas a matéria que visionámos

da ontem pensavam “não é para mim”.

abstracto está viva e com abundân-

gue concretizar algum surrealismo de

naquela manhã num site na Internet.

Só assim é que nos vamos compreen-

cia. Ao ver algo concretizar-se dá es-

beleza. Talvez seja mesmo a partir dos

Temos que começar a aprender nova-

der uns aos outros…

perança não só aos colegas da aula

12, 13 anos de idade que já fica muito

mente o que é ser único, ter as nossas

mas também ao professor, esperança

mais difícil, pois é aqui que imagens de

opiniões mesmo que às vezes sejam

Terry Costa

que um dia esta criatividade se ma-

violência e o que há de errado no nosso

contra o estabelecido pelos nossos

www.mirateca.com

terialize transformando um mundo

mundo ocupam muito espaço na men-

patrões ou país, lutar por aquilo que

de política e pessimismo num mundo

te destes futuros líderes da socieda-

acreditamos mesmo…

mais criativo e optimista. Mas não leva

de. Os tais pilotos criativos já praticam

A educação artística e criativa está

muito mais tempo e já antes dos 10

a religião do “não posso”, “não con-

a ficar cada vez mais importante não

anos de idade a turma tem uma visão

sigo”, ”não é para mim”, assim desfo-

só para as nossas crianças mas tam-

completamente diferente. A televisão

cando a mentalidade de todas as pos-

bém na fase adulta. Abrir a mente,

Agnes Juten Uma questão de forma (A matter of form) Exposição de esculturas, desenhos e projectos na Sala de Exposições da Biblioteca da Horta Agnes Juten (Free Academy of Art -

Agnes já fez várias exposições a solo e

The Hague / Holanda 1986-72) iniciou

participou em muitas colectivas. O seu

a sua carreira trabalhando sobretudo

trabalho encontra-se na Dutch Na-

em cerâmica. Em 1972/73 foi convida-

tional Collection, em alguns museus

da pela prestigiada “European Ceramic

e em colecções privadas. Foi membro

Work Centre” como artista residente,

da Dutch Society of Sculptors, como

o que se repetiu em 1980 e 1990. Foi no “Work Centre” que em 1980,

curadora convidada, organizando diversas exposições.

criou a sua primeira obra monumental

Três esculturas de aço da sua auto-

“Eleven Columns” e em 1990 a escul-

ria estão colocadas em espaço público

tura em nove partes “After Image”, da qual um dos elementos está patente nesta exposição. A partir de 1990 mudou a sua forma de trabalhar, optando por uma

numa cidade no norte da Holanda. Na exposição estarão algumas obras mais antigas da colecção da artista bem como trabalhos novos feitos desde 2010 no seu atelier da Horta.

maior variedade de materiais. Actualmente é raro trabalhar em argila.

Dieter Ludwig

Fazendo Arte


.9 78 OUTUBRO ‘12

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Singular / Plural Há pessoas “singulares” e pessoas “plurais”

Fazendo Arte

O Singular é talhado para um caminho, um objectivo, um destino. O Plural não se revê em nada em concreto mas tudo o atrai. O Singular não toma atalhos. O Plural não conhece estradas. O Singular planeia a viagem, previne-se da eventualidade. O plural espera pelo inesperado para que a viagem aconteça. O Singular conhece um, ama um, casa um. O plural ama vários ou não ama nenhum. O Singular tem raízes. O Plural tem asas (mas nem sabe as sabe usar). O Singular não percebe a constante instabilidade e insegurança da vida de um Plural. O Plural não percebe que a vida possa ser formatada e balizada como a vida de um Singular. Singular é a unidade. O plural é a multiplicação. Lia Goulart

Duplas Cidade da Horta - 1852 versus 2011

Fazendo Arte

Tomás Melo


10. 78 OUTUBRO ‘12

#

O dever cumprido e ... a Kima Maracujá !!!

(des)Fazendo

Pierluigi Bragaglia é italiano e chegou há vinte e seis

Como é que foi a tua chegada à Ilha das Flores?

cerca de uma década. Com o apoio iluminado do

anos à Ilha das Flores. Fundaria entretanto a casa de

Recordas-te do primeiro dia que chegaste à Ilha?

então Presidente da autarquia Cristiano Gomes, edi-

hóspedes “Argonauta” e por ali ficou, na Fajã Gran-

A memória do primeiro dia em que cheguei às Flores

támos nas Lajes das Flores o 1º roteiro pedestre (e

de, actual capital da balneação do grupo ocidental.

como backpacker, em Agosto de 1986, é de um for-

histórico) do Arquipélago dos Açores, sobre os an-

Amante de pergil e Kima Maracujá, foi através dos li-

tíssimo vendaval de chuva e vento que impediu de

tigos caminhos do concelho das Lajes. Esse roteiro

vros que ele publica regularmente sobre a belíssima

acampar na Fajã Grande. Completamente encharca-

foi publicado em 4 línguas: Inglesa, Francesa e Ale-

ilha das Flores que quisemos saber mais um pouco

do, tive que aceitar boleia de um táxi com passagei-

mã para além da Portuguesa. Só com o novo roteiro

sobre este “neo-açoriano” que, para lá de todo o en-

ro italiano (!) que me levou até às Lajes, onde conse-

histórico-pedestre sobre o concelho de Santa Cruz

cantamento florentino, também já se desiludiu.

gui acampar por 3 dias antes de voltar – dessa vez

das Flores, em 1999, e graças ao excelente apoio do

com sucesso – à Fajã Grande…

então Presidente Vasco Avelar, concebi a sinalização dos caminhos, tendo sido instaladas uma série

Qual foi a reação da população à tua chegada/

de placas de madeira ao longo de todo o concelho,

presença na Ilha?

com vários anos de avanço sobre as sinalizações go-

A reação da população foi sempre uma mistura de

vernativas oficiais.

desconfiança (de uns) e grande amizade (de outros), mas sempre num contexto geral de grande hospita-

Como é que te sentes na “capital da balneação”

lidade.

da Ilha das Flores tantos anos depois? Actualmente, na “capital da baleação e pôr-do-sol

Porque decidiste permanecer?

etc.” da ilha sinto-me bem, livre de qualquer preo-

A decisão de permanecer foi um processo que ama-

cupação sobre o futuro da ilha das Flores com o

dureceu no espaço de vários anos, com muitas eta-

sentimento de “dever cumprido”( e comprido...) em

pas importantes, como separar-me da namorada

relação à defesa do ambiente e das característi-

italiana, aprender Português em Lisboa, conduzir os

cas únicas desta ilha. Escrevi e disse publicamente

meus estudos para áreas açorianas, conseguir com-

o que penso, nestes mais de vinte anos de residên-

prar a casa que agora é o “Argonauta” com dois ami-

cia no arquipélago, sobre os modelos de gestão que

gos e, finalmente, instalar-me na Fajã Grande com

se deveriam aplicar ao turismo nas ilhas, e mais não

uma bolsa do atual Instituto Camões de Lisboa, para

posso fazer. Deixo agora às atuais e às vindouras ge-

a redação da minha tese de licenciatura em Bolonha.

rações de florentinos, de nascimento ou adotados,

O mar, a pesca e o mergulho, o campo com suas la-

as decisões sobre os trilhos a percorrer…

goas, ribeiras e cascatas, a qualidade do ambiente e de vida, a baixa densidade populacional e de trânsi-

Quando foi a última vez que te desiludiste?

to automóvel são geralmente os atrativos principais

A última vez que me desiludi foi em 2012, quando

de quem decide ficar-se pelos Açores, como foram

vi a construção da horrível e completamente inútil

para mim.

nova estrada costeira, aqui na Fajã Grande…

Tens um trabalho imenso à volta dos trilhos

Para além da Kima maracujá, o que continuas

e roteiros pedestres. Quando é que iniciaste

a recomendar aos visitantes que aqui chegam

este trabalho?

pela primeira vez?

Por volta de 1995 apresentei à Câmara das Lajes

Para além da Kima, continuo a recomendar os pas-

uma proposta para a realização de um roteiro pe-

téis de algas e o pergil (pickles de crithmum mari-

destre, depois de andar fascinado pelos trilhos há

timum), especialidades hoje em dia quase exclusivamente da ilha das Flores, o araçá, fruto tropical desconhecido na Europa, o ananás, o vinho do Pico, o café de S. Jorge, o peixe e a carne, mas sobretudo, o mar, as paisagens e o silêncio… Entrevista realizada por: Fernando Nunes


.11 78 OUTUBRO ‘12

#

What makes Açores look like Açores?

(des)Fazendo

Todas as cidades têm uma identidade, algo que as distingue de todas as outras cidades do mundo. Ao vermos uma fotografia de uma rua perdida em Paris sabemos logo que é Paris. O mesmo acontece com Londres ou Nova Iorque, Lisboa ou Porto. Elementos que criam saudades, que tornam cada recanto da cidade singular. São estes elementos que dão um carácter especial aos lugares. São o típico. Quem os vê todos os dias quer continuar. Quem nunca os viu quer vir ser turista, fotografar, conhecer, visitar. Os elementos típicos podem ter muitos anos como as arcadas da cidade de Évora, podem ser muito recentes como as placas das ruas de Nova Iorque, podem ser muito difíceis de conceber como as entradas de metro de Paris ou muito fáceis de conseguir como as cores das casas em Siena. E na Horta? E no Pico? O que temos de especial? O que temos de típico? O que é que podemos e devemos preservar e multiplicar? O que é que podemos construir ou repensar para se tornar típico? Tomás Melo

Corvo

(des)Fazendo

Dobra o teu destino aguarda em comoção à partida um fio de linho no gorro a tradição amplexo ao tempo presente roda antiga de ternura é ainda longíquo o sonho desfaz-se briosa na despedida pequena rocha de aventura... Corvo, verão de 2012 Publicidade

Fernando Nunes


12. 78 OUTUBRO ‘12

#

O que a terra nos oferece Faz do teu alimento o teu medicamento Hipócrates Muito se tem escrito sobre alimentação saudável e, na verdade, no íntimo

Fazendo Saúde

Menu 1

Legumes no forno

de cada um todos nós sabemos o que é, porém, muitas vezes resistimos à

- 3 cebolas médias

mudança ou tentamos, durante al- - 3 batatas doces gum tempo fazê-la mas acabamos

- 200 gramas de abóbora

por voltar à alimentação tradicional. - 1 fio de azeite Justificamos esta resistência, ou pou- - Um pouco de água ca persistência, com a falta de tempo, - Sal q.b. desconhecimento de receitas gostosas, ingredientes caros ou até mesmo

Descasque as cebolas e corte-as

pouca variedade de sabores. E, assim,

em meias luas.

continuamos de costas voltadas à aliDescasque as batatas e corte-as

mentação saudável. Depois surgem os resultados das

às rodelas.

primeiras análises: triglicéridos altos, colesterol elevado… e os médicos

Lave a abóbora e corte-a,

falam-nos de dietas e restrições ali-

com a casca, em fatias finas.

mentares. Porque

não

começámos

mais

cedo? É a questão que surge de imediato nas nossas mentes. É de facto importante começar mais cedo. Deste modo, não só pre-

Misture tudo num tabuleiro, tempere com sal, azeite, acrescente um pouco de água e leve ao forno cerca de 30 minutos.

paramos as papilas gustativas das nossas crianças com novos sabores

Sirva com uma fatia de tofu

e texturas como também nos prote-

grelhada, temperada com limão

gemos da doença.

e ervas aromáticas e acompanhe

É neste sentido que aqui deixa-

com uma salada de beldroegas,

mos algumas receitas saudáveis, para

rabanetes e maçã temperada

que experimentem um pouco do que

com azeite e limão.

se pode fazer pela nossa saúde, de forma rápida, apetitosa, recorrendo a ingredientes comuns e a baixo custo. Deliciem-se! Teresa Almeida e J.A.

Fazendo Saúde

Fazendo Saúde

Desbravando terreno lançamos a semente: o que é isso da saúde? Tem saúde? Tem a certeza que é saudável?! E se fracturar um dedo? E se vomitar a noite inteira, continua com saúde? E quem tem uma doença incurável está irremediavelmente condenado a ser um doente? E se quiser tornar-se doente mental? É fácil! O psiquiatra José Luis Pio Abreu explica no seu livro: “Como tornar-se doente mental”. Mesmo que não queira tornar-se doente mental, leia o livro. Orlanda André


.13 78 OUTUBRO ‘12

#

Cartas do Exílio IV

Fazendo Viagens

Algumas horas antes de já falar fluen-

Leva mais de uma hora para sair dos

A melhor coisa no comboio é o Sa-

do a olhar para as janelas, as bétulas

temente em russo chega o momento

subúrbios de Moscovo até as bétulas

movar ao fundo de cada carruagem.

finalmente foram substituídas pelos

de montar num comboio novamen-

começarem a ladear os carris. Às 2 da

Uma máquina, provavelmente do séc.

pinheiros e de vez em quando cruza-

te: o transiberiano que, no meu caso,

manhã ainda há bétulas, agora tapa-

XIX, com dezenas de válvulas e tubos

mos um rio.

é um comboio chinês com condutores

das com neve. Às 6 da manhã: bétulas

propulsionada a carvão, que dá água

Dia 4: Passámos o poste do quiló-

chineses e tudo escrito em chinês!

com neve. Meio dia: neve com bétulas.

quente 24 horas por dia, o que é per-

metro 3932. A cada 10 km há um poste

feito para chá, café ou sopas.

ao lado dos ferros a indicar a distância

Apesar de ser uma estação gigan-

Às 5 da tarde: uma casa interrompe

tesca (uma das várias em Moscovo)

o cenário das bétulas com neve. No

Evidentemente há também um

é muito fácil encontrar o meu cami-

dia seguinte... mais bétulas e menos

restaurante, que é de uma empresa

ra estamos mais perto de Pequim do

nho – simplesmente seguindo a mul-

neve, agora de vez em quando apa-

privada, só os empregados é que ain-

que de Moscovo, agora o outro oceano aproxima-se a cada dia.

tidão que tem o maior número de ba-

rece uma fábrica abandonada dentro

da não sabem disso – o seu serviço

gagens. Caixas, malas, sacos, móveis

das bétulas.

é de há 30 anos atrás, comunismo

embrulhados, barris e mais caixas,

Há 3 classes diferentes nas car-

no seu pico; nem um sorriso nas ca-

aproximadamente 8 peças por pas-

ruagens: a 1ª tem cabines de 2 camas,

ras chateadas à entrada, a ementa

sageiro; um grande movimento de

uma em cima da outra, uma mesa e

é atirada (deitada com força) à tua

carga começa a mexer-se no momen-

um sofá cadeira – a 2ª classe tem 4

frente e mais de ¾ do que está ilus-

to em que o número da plataforma

camas e nenhum espaço a mais do

trado (sempre com informação sobre

é anunciado.

que o necessário para 4 camas e a

o peso em gramas e do preço), eles

Há 3 tipos de transiberianos, o

3ª, chamada Platzkart tem lugar para

não têm.

mais tradicional vai para Vladivostok

54 passageiros que dormem, comem,

Dia 3: Houve alguma vez vida fora

(mas quem é que quer estar em Vla-

ressonam, peidam,... todos juntos.

do comboio? Uma certa rotina come-

divostok???), os outros dois terminam,

Para manter alguma sanidade mental

ça a dominar os dias; refeições, jogos

depois de quase 8000 km, em Pequim,

nisto, toda a gente bebe vodka duran-

de cartas, fumar ao fundo do corredor,

um via Manchúria, outro via Mongólia.

te todo o dia e durante toda a noite.

ler... mas a maior parte do dia é passa-

de/até Moscovo, 3932 é metade, ago-

Ruth Bartenschlager

A(s) ilha(s) que vamos deixando de ser

Fazendo Viagens

O núcleo histórico de Estrasburgo,

tais que são mais insulares do que

pontifícia em direcção ao outro pois

insula chinesa – que acampavam des-

dominado pela sua catedral – outro-

ilhas de verdade.

apenas neste ir-e-vir entre a penínsu-

de há 11 meses diante do banco HSBC,

ra o edifício mais alto da Cristanda-

Nas penínsulas que somos e que nos

la que somos e a península que vamos

esse sim, uma verdadeira ilha.

de – encontra-se numa quase-ilha

vamos tornando cabem ilhas de amar-

sendo, i.e. o outro, vamos descons-

Muitas (pen)insulas a todos!

(“presqu’île”), numa espécie de pe-

gura, de bondade, de abraços, de afei-

truindo a ilha que queremos deixar de

nínsula, diríamos nós, que apresenta

ção, de coragem, de desespero, de bo-

ser (e que, na realidade, nunca fomos).

MARco Miranda

vários istmos – como se querem as

nomia, em suma, de humanidade.

Nem o governo poder ser uma ilha

ventanianomar@yahoo.co.uk

“(paene) insulae” modernas. Há canais e barcas por todos os lados

As nossas penínsulas vão-se deli-

pois pode tornar-se uma metáfora de

www.homem-em-pe.blogspot.com

neando e ocupando continentes de

si mesmo. Contudo, a pior ilha será,

(v. fotografia, infra, da minha autoria e que mostra

mas, mesmo assim, não parece es-

beleza que trazemos por dentro. Uma

certamente, a da indiferença como

dois arco-íris que iluminam a Praça Kléber, em

tarmos numa quase-ilha, isto é, numa

das coisas mais importantes nas pe-

aquela em que foram evacuados os

Estrasburgo; um dos arco-íris parte da torre da Catedral, o edifício mais alto à direita da fotografia).

península. Há quase ilhas que não se

nínsulas que somos são os istmos,

representantes do Movimento dos In-

sentem ilhas e há pedaços continen-

o cesto da gávea da nossa actividade

dignados, em Hong Kong – uma (pen)

Fotografia tirada no dia 24 de Setembro de 2012.


14. 78 OUTUBRO ‘12

#

Entrevista com o Morcego Helena Maria de Noronha Krug O que é que pequeno-almoçaste? Bebi uma caneca de nescafé a acompanhar duas torradas de pão com doce de amora. Quando te-

Nome: Helena Maria de Noronha Krug

nho laranjas do meu quintal, inicio o p. a. com sumo

Idade: é para dizer? (55)

de laranja.

Profissão: Bióloga e Pintora nas horas vagas.

Se o Conde Drácula viesse cá às ilhas onde o levarias? A parte nenhuma, não me foi apresentado. Um amigo dele que tratasse disso. Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial? Pedaço de terra rodeado de mar por todos os lados. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer? Consigo aguentar a chuva, porque quando aparece o sol já me esqueci dela. Na escola que outra “disciplina” deveria ser obrigatória? O inicio à Filosofia, logo na primária, para fazer as criancinhas começarem a pensar e a conhecer o eu e o outro… Porque é que tens alguns projectos na gaveta? Porque vou fazendo tudo com muita calma… não stressar é o lema de quem vive nas ilhas. O que é que mais odeias na internet? Quando está muito lenta…e roda, roda… ou quando quero tirar uma simples dúvida e me aparecem milhares de resoluções, e tenho de descobrir a que me convém. Que forma de arte é que te aguça os caninos? Aguça os caninos com indignação? Exibirem seres vivos como peças de arte em exposições… Ou tipo, uma tela rectangular pintada de preto ser a atracção de uma exposição de arte. Ou aguça os caninos de prazer? Pinturas de Van Gogh, Matisse, Manet, … Júlio Pomar. O que é que gostavas de ter nascido? Estou bem assim, obrigada. Gostavas de ir morrer longe? Não, por acaso nasci nos Açores, e por acaso vim para cá viver, posso morrer por cá também.

Fazendo Avarias


.15 78 OUTUBRO ‘12

#

Agenda Outubro / novembro ‘12 Exposições

Hora: 21:00

Baleeiros, Lajes do Pico

e Karina Aksenova

Ilha do Pico

(piano)

Local: Centro de Artes

Data: 16 novembro

e Ciências do Mar

Hora: 21h30

(Fábrica da Baleia SIBIL)

Local: Salão Nobre da

Lajes do Pico, Ilha do Pico

Câmara Municipal de São Roque do Pico Esculturas, Projectos

Ilha do Pico

e Desenhos

Data: 17 novembro

Autor: Agnes Juten

Hora: 21h30

Local de Realização:

ailleurs

Local: Teatro Faialense

Biblioteca Pública ARJJG

Autor: Helena Lousinha

Horta, Ilha do Faial

Horta, Ilha do Faial

Terça a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das

Aniversário de Adiaspora,

Actividades

o verbo viageiro

14h00 às 17h30

Data: 27 e 28 de Outubro

Local: Casa Manuel

Local: Sociedade

Arriaga, Horta

Filarmónica União

Ilha do Faial

e Progresso Madalena, Ilha do Pico

Música

Cartoons “Paródias no Pico” Autor: Rui Pimentel Segunda a sexta-feira das 9h00 às 12h30 e das

Encontro Descobrir

14h00 às 17h30

Artistas nas Lajes

Fins-de-semana: 14h00

Recital de Violoncelo

do Pico + Lançamento

às 17h30

e Piano

do Quinto Jornal

Data: até 2012-12-16

Músicos: Varoujan

Fazendo

Local: Museu dos

Bartikian (violoncelo)

Data: 26 Outubro

Gatafunhos

Publicidade

Tomás Melo

Todos os desenhos estão à mesma escala


Horários

Índice O Banco dá!

.3

Entrevistando

.4

a Baleação Horta — ­ Madalena M, ou A busca

7h30; 10h30; 13h15; 15h15; 17h15

.5

de sentido

Madalena — Horta

Myosotis Azorica

.5

Bruta tormenta

.6

Canhões de Paz

.6

A Bela Aurora

.7

Manuel

.7

8h15; 11h15; 14h00; 16h00; 18h00 de Tavares

Cedros — Horta

Horta — Cedros

P. Norte — Horta

Horta — P. Norte

7h00; 12h45; 16h00;

11h45; 15h20 (Hospital);

7h00; 12h45;

11h45; 17h30;

Sábados: 8h00

18h15;

Sábados: 8h00

Sábados: 13h15

From the desk of

.8

Agnes Juten

.8

Singular / Plural

.9

Duplas

.9

Sábados: 13h15 O dever cumprido

.10

e ... a Kima Maracujá!!! Piedade — S. Roque — Madalena

Madalena — S. Roque

Piedade — Lajes

Madalena — Lajes

— Piedade

— Madalena

— Piedade

What makes

6h15; 13h30;

10h00; 17h45;

5h45; 12h55;

10h00; 17h45;

Açores look like

Domingos e feriados: 13h15

Domingos e feriados: 9h30

Domingos e feriados: 12h55

Domingos e feriados: 9h30

Açores?

.11

Corvo

.11

O que a terra

.12

nos oferece

envia textos e publicidade para vai.se.fazendo@gmail.com lê todas as edições em fazendofazendo.blogspot.com

Fazendo Saúde

.12

Cartas do Exilio IV

.13

A(s) ilha(s) que

.13

vamos deixando de ser Entrevista com

.14

o Morcego Agenda

.15

Gatafunhos

.15


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