Voz de Esperança SetI/Out 2017

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SET - OUT / 2017

FELIZ ÉS TU, RAINHA DO CÉU E DA TERRA! “Maria é Rainha porque está unida de modo único ao Seu Filho, nosso Rei. Na vida de Maria tudo é relativo a Jesus e dependente d’Ele”.

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXII - 6ª Série | Nº 60 | Bimestral 1,00 €

Ir. Ana Luísa Pinto Págs. 2-3

POR QUE “FUNCIONAM” OS GRUPOS DE JOVENS? “Onde estão os jovens? Por que se afastam da Igreja? O que pretendem da vida e da Igreja? Em que acreditam?”. Filipa Silva Pág. 12

EDITORIAL

A COROA DE SERVA SEMINÁRIOS ARQUIDIOCESANOS 2017 | 18

Dar-vos-ei um futuro de esperança Jr 29,11

Maria é rainha do Céu e da Terra, fragmento no qual o Todo se tornou presente, mulher concreta e verdadeira, ícone do Mistério que uniu o céu e a terra, desígnio divino, ao qual ela deu o seu consentimento e a sua aceitação ao plano salvífico de Deus: «como Maria está ao serviço do mistério da encarnação, assim a Igreja permanece ao serviço do mistério da adoção de filhos, mediante a graça» (RM 43). Mãe na Graça, permanece atenta aos sinais de Deus, realizando, assim, a primeira dimensão do amor de gratuidade, que é por excelência o amor materno, que antecede a necessidade ou compreende mesmo na ausência de palavras, entrecruzando atenção, decisão e ação. Neste contexto, aproveitamos também para colocar no regaço de Nossa Senhora o Padre Manuel Baptista e o Padre Agostinho Tavares, agradecendo pela sua entrega, durante vários anos, à causa do discernimento vocacional nos Seminários Arquidiocesanos como diretores espirituais, desejando-lhes todas as bênçãos do Céu e, tal como toda a Igreja, possam orar o exemplo de Maria, serva e humilde, coroada rainha, verdadeiro modelo a imitar e a seguir. Porque Maria suscita em toda a comunidade dos Seminários Arquidiocesanos uma memória agradecida, queremos confiar ao seu regaço materno o Pe. António Gomes Ferreira, que dedicou todo o seu ministério presbiteral à vida e à formação dos seminaristas. Invocamos a misericórdia divina para que coroe este seu servo na alegria eterna do Seu Reino. No início de um novo ano nos nossos Seminários, como a intercessão de Maria, nossa Mãe e Rainha, auguramos um futuro de esperança para a nossa Igreja arquidiocesana, tal como sugere o tema escolhido para o caminho que sinodalmente queremos trilhar durante este ano e o próximo triénio.


VISÃO

FELIZ ÉS TU, RAINHA DO CÉ Ir. Ana Luísa Pinto, RSCM

O título de “Rainha”, atribuído a Maria a partir do século IV, evidencia o lugar preponderante que a fé do povo cristão sempre reconheceu na Mulher de quem nasceu o Filho de Deus. No decurso da história, esta invocação foi entrando nos hábitos linguísticos até se tornar expressão tanto da liturgia, como da piedade popular e da iconografia que representa, com frequência, a Coroação de Maria. De tal modo são inumeráveis os testemunhos da antiguidade e da devoção cristã, que exaltam a incomparável dignidade real de Maria que, em 1954, ao coroar a Virgem na Basílica de Santa Maria Maior, o Papa Pio XII institui a festa litúrgica de Nossa Senhora Rainha, ao mesmo tempo que promulga o documento principal do Magistério da Igreja sobre a realeza de Maria, a Carta Encíclica Ad Caeli Reginam. Desde o concílio de Éfeso, a arte cristã representa Maria como Rainha sentada num trono e adornada com as insígnias reais, de coroa na cabeça, rodeada da corte dos anjos e santos. Hoje, como ao longo dos séculos, a liturgia canta sem cessar as glórias da celestial Rainha: «Salve, Rainha!», «Rainha do Céu, alegra-te!». Que dizer de Maria, Rainha? O que significa esta realeza de Maria? A primeira geração cristã, ao qualificar Jesus de “Rei”, recorria à analogia histórico-cultural da antiguidade, segundo a qual o rei era um ponto de referência absoluto e indiscutível, acreditado por Deus. Esta é a raiz da realeza de Maria: Maria é Rainha porque está unida de modo único ao Seu Filho, nosso Rei. Na vida de Maria tudo é relativo a Jesus e dependente d’Ele. Foi precisamente em vista d’Ele

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U E DA TERRA! que Deus Pai A escolheu como Mãe e A plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos (Cf. Paulo VI, Marialis Cultus, 25). É usual a ideia de “rei” ou “rainha” associada a alguém com poder, prestígio e riqueza. Mas este não foi o tipo de realeza de Maria, tal como não foi o tipo de realeza de Jesus. O “reinar” de Jesus foi sinónimo de servir, amar, perdoar. Assim o demonstrou durante toda a Sua vida e, de modo particular, quando foi proclamado Rei na cruz, com a inscrição redigida por Pilatos: «rei dos judeus» (Mt 15,26). Naquele momento revela-se como Ele é Rei: sofrendo por nós, connosco, entregando a vida e amando até ao fim e, assim, criando verdade, amor e justiça. O mesmo é válido para Maria: Ela é Rainha no dom total de si a Deus e aos irmãos. Maria escutou o mensageiro de Deus e deu-Lhe consentimento. Não interpretou a Sua maternidade divina como soberania, mas proclamou-Se «a serva do Senhor» (Lc 1,38), plenamente disponível para colaborar com Deus no Seu projeto de salvação. No Magnificat cantou: «Deus olhou para a humildade da sua serva» (Lc 1,48). Maria entendeu a vida como serviço, que é no que a realeza consiste, segundo o Evangelho. Maria é Rainha graças à excelência da Sua existência como Mãe e primeira Discípula de Jesus, como expressão do amor misericordioso de Deus. É profunda a nossa confiança quando pedimos a Maria que rogue por nós, na certeza de que Ela nos conhece, intercede por nós e abre o nosso coração às maravilhas que Deus quer operar em nós. Ela conheceu e partilhou

a nossa condição, teve de caminhar por vezes na obscuridade, viveu a alegria da maternidade, foi atravessada pela dor e pelo sofrimento… A Ela nos dirigimos para agradecer e pedir consolo, conselho e proteção, para nos ajudar a ler a vida à luz de Deus, para aprender d’Ela a viver em Cristo. A Maria confiamos a nossa caminhada na fé, os desejos do nosso coração, as nossas necessidades, as carências do mundo inteiro, especialmente a fome de paz, de justiça, de Deus. Maria é a Rainha do Céu próxima de Deus, em plena comunhão com Deus. E é também a Rainha da Terra próxima de cada um de nós. A maior alegria de Maria é acompanhar, amar e servir os Seus filhos. “Temos Mãe!” – lembrou-nos o Papa Francisco, em Fátima. É com razão que nós, os Seus filhos, olhamos com confiança para Maria, invocando-A como Mãe da nossa esperança, como causa da nossa alegria. Maria - entronizada na glória junto do Filho, «vestida de sol e coroada de estrelas» (Ap 12,1) - vive já a alegria perfeita que nos está prometida, enquanto Se inclina para nós com ternura e a todos acolhe no Seu coração de Mãe. Este amor terno e ativo de Maria prolonga-se na missão da Igreja no mundo. Maria ensina-nos a traduzir a nossa fé em anúncio, jubiloso e sem fronteiras, do Evangelho. A Apóstola que «tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes» (Cf. Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, 284) continuamente nos impele a sair de nós mesmos para nos lançar na alegria de gastar a vida para que também outros se encontrem com o Filho e tenham vida em abundância.

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ARTE

ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA (7) A COROAÇÃO Luís da Silva Pereira

A obra que escolhemos para rematar este ciclo das Alegrias de Nossa Senhora é uma obra de Gentile da Fabriano (1370-1427), considerado um dos mais importantes pintores do chamado “gótico internacional”. Por volta de 1405, encontrava-se a trabalhar em Veneza. Depois dirige-se para Foligno, Brescia e Florença (1420), onde passa cinco anos, e onde pintou aquela que é considerada a obra-prima do gótico internacional, a célebre Adoração dos Magos. Em 1425, passa por Siena e Orvieto, e em 1427 está em Roma a decorar a nave da basílica de S. João de Latrão. Aí morre nesse mesmo ano. A Coroação de Nossa Senhora é alheia aos textos evangélicos. Quem primeiro a ela se referiu foi Militão, bispo de Sardes, cidade perto de Esmirna, falecido em finais do século II. No século VI, o tema foi popularizado por Gregório de Tours e ainda mais divulgado, no século XII, por Jacopo da Voragine, na sua famosíssima Legenda Aurea, uma das grandes fontes de iconografia medieval. Há vários tipos iconográficos da Coroação da Senhora, cuja evolução manifesta a importância gradualmente maior que este mistério foi adquirindo na piedade cristã. O primeiro tipo, predominante no séc. XII, apresenta Nossa Senhora já coroada, à direita de

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Cristo que a abençoa. Seguem-se mais quatro tipos iconográficos que vão da coroação da Senhora por um anjo (século XIII); depois coroação pelo próprio Cristo, na posição de sentada (séculos XIII e XIV) ou ajoelhada (princípios do séc. XV); coroação por Deus Pai, iconografia sobretudo italiana; e por fim, coroação pela Santíssima Trindade. Esta iconografia aparece na Itália, em Espanha e França, desde os princípios do séc. XV e torna-se predominante em toda a arte europeia até ao séc. XVII. Como verificamos, a importância da coroação é como que paralela à importância das pessoas que a coroam: anjo, Cristo, Deus Pai, Trindade completa. A pintura de Gentile da Fabriano que podemos aqui observar pertence ao terceiro tipo, aquele em que a Virgem está a ser coroada por seu filho, mas ainda mantém um pormenor do primeiro tipo: Cristo, ao mesmo tempo que coroa sua mãe, também a abençoa, graciosamente, com a mão direita. Como geralmente acontece, o Espírito Santo está representado em forma de pomba. A sua presença acentua que a Senhora concebeu por acção do Espírito Santo. Cristo e sua mãe têm nimbo, embora mal se distinga do fundo dourado. O Espírito Santo emite raios de luz. As figuras dão-nos a impressão

de uma beleza suave e espiritual. O desenho das faces, o olhar, a elegância dos gestos, a cabeça inclinada da Senhora, a cor ligeiramente avermelhada das maçãs do rosto, tudo contribui para essa sensação de delicada beleza. Repare-se na decoração exuberante e colorida dos tecidos, significando riqueza e poder, e acentuando que estamos perante um rei que coroa uma rainha. A coroação é a glorificação final da Senhora. Na iconografia da glória costumam aparecer anjos sobre as nuvens, com os seus nimbos à volta da cabeça, tocando instrumentos variados, trombetas, violas, alaúdes, harpas e até órgãos portáteis. Esta iconografia surge, principalmente, a partir do séc. XV. Aqui, as nuvens são substituídas por uma espécie de jardim florido, o paraíso, e Gentile da Fabriano, em vez de pintar os instrumentos musicais, apresenta, com muita originalidade, os anjos segurando partituras e cantando. Podemos ver que as asas dos anjos do nosso lado direito estão pintadas de várias cores, mas principalmente de vermelho e azul. O vermelho era a cor dos serafins, e a cor azul, dos querubins. Quando os pintores pintam as asas de várias cores, estão a dizer-nos que os anjos são seres luminosos.


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SEMINÁRIO MENOR

ESTÁGIO DE ADMISSÃO AO SEMINÁRIO MENOR A Equipa Formadora

A comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição acolheu, entre os dias 28 de junho e 1 de julho, 11 adolescentes e jovens para o seu estágio de admissão. Após uma caminhada de Pré-Seminário, sobre o lema «A Alegria da Descoberta», estes jovens, oriundos dos arciprestados de Amares, Barcelos, Braga, Celorico de Basto, Esposende, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Terras do Bouro e Vila Verde, acolheram o convite para integrar o estágio de admissão ao Seminário Menor de Braga. Fazer uma experiência mais intensa de contacto com o ritmo desta comunidade educativa, assim como abeirar-se do seu projeto educativo, são apenas alguns dos objetivos desta atividade. Cada adolescente foi interpelado, ao longo destes dias, a escutar a voz de Deus, promotor do chamamento, e, por seu turno, a escrutinar uma possível resposta. Entre perguntas e respostas, medos, expectativas, incertezas e compromissos, respirava-se, acima de qualquer destas emoções, uma vontade radical, própria do ser jovem, de uma entrega confiante a um convite ao qual não querem virar as costas. O Seminário é um tempo especial onde cada jovem pode fazer um processo de discernimento vocacional, isto é a capacidade, por dom de Deus, de distinguir o que o Espírito Santo sugere ao seu coração, de pro6

curar o sentido interior das vontades e expetativas. Concretiza-se, muitas vezes, com a pronta e vigilante capacidade de compreender e escolher o que Deus quer para a vida de cada um. Ao longo destes dias, houve momentos intensos quer de oração e de relação com Deus, promotor do chamamento a cada um destes adolescentes, quer de cariz lúdico e cultural, contando com a presença do Sr. D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar da nossa Arquidiocese, assim como com a presença do Sr. D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz que, no contexto da comemoração das suas bodas de

ouro sacerdotais, interpelou, cada adolescente, a viver à imagem de Cristo sacerdote, numa entrega total e incondicional à sua mensagem e ao seu chamamento. Após o convívio final, os adolescentes, juntamente com as suas famílias, partiram com uma vontade esclarecida de abraçar e responder afirmativamente ao chamamento de Cristo.


AGRADECER O CAMINHO Rafael Cepa e Rui Machado, 12º Ano

Agora, é tempo de agradecer. De trazer à memória todos os momentos de felicidade e de crescimento, de sorrir, refletir e agir perante tudo aquilo que nos fez ganhar forma, quebrar tijolos. Este é o tempo de fazer com que o obrigado soe mais alto, no rosto, na atitude, na palavra que dirigimos uns aos outros com alegria, com uma vontade desmedida de abraçar, de estar e deixar que a gargalhada encha o espaço e o coração. Assim, entre os dias 9 e 14 de julho, a comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição realizou o seu encontro de férias no arciprestado da Póvoa de Varzim, nomeadamente, na paróquia de Laúndos. Esta atividade de conclusão de ano ficou marcada por vários momentos, que marcaram distintamente cada dia. Após a chegada ao alojamento e a preparação dos espaços, o primeiro dia ficou marcado pelo reavivar de memórias, através de um olhar retrospetivo sobre o ano vivido e os seus melhores momentos. O segundo dia começou com a oportunidade de testarmos os nossos dotes para o exercício físico através de uma caminhada até S. Pedro de Rates. Com a chegada a esta paróquia, visitámos a sua igreja paroquial, que possui uma arquitetura peculiar. Como “cereja no topo do bolo”, visitámos o padre António Gomes Ferreira, homem que deu a vida pela causa

dos Seminários e que é um grande testemunho para cada um de nós. Da parte da tarde, demos asas ao espírito aventureiro com a execução de atividades radicais no RatesPark. Com a hora do jantar a aproximar-se, dirigimo-nos para a casa de um paroquiano do padre Guilherme Peixoto, onde fomos recebidos muito bem e aí fizemos um churrasco. No terceiro dia é de realçar a visita ao santuário de S. Félix, que culminou com um tempo de avaliação, que também fora repartido pelos restantes dias. Depois do almoço, tivemos o prazer de visitar o museu etnográfico da Póvoa de Varzim, de forma a conhecer de melhor forma o concelho em que estávamos. Contudo, até ao

fim do dia, ainda existiu tempo para desfrutar da praia, bem como para celebrar a Eucaristia com a comunidade de Laúndos. O penúltimo dia foi tempo de reflexão, realizando-se a recoleção, que permitiu fazer o ponto de situação do crescimento de cada um. Da parte da tarde, como o calor era muito, fizemos proveito das águas do mar para nos refrescarmos. Antes do jantar, celebrámos a Eucaristia com a comunidade de Amorim, onde deixámos o nosso testemunho e alegria. No fim do jantar, teve lugar um passeio junto à praia, o que permitiu conviver e confraternizar. Com o fim quase a chegar, foi o momento de fazer as malas e partir para o Seminário. Antes de nos fazermos à estrada, ainda houve tempo para uma partida de paintball, o que nos permitiu conviver de perto com as cores da esperança, que a todos marcaram. De coração agradecido, sentimos que alargar a nossa casa a outros espaços e a outras pessoas significa que somos verdadeira família capaz de acolher e ser acolhida, crescer no mundo e para o mundo. 7


SEMINÁRIO MAIOR

SEMINÁRIO, A CASA DE TODOS Rúben Ferreira, 5º ano

No passado dia 26 de maio, realizou-se na paróquia de Fonte Arcada, arciprestado de Póvoa de Lanhoso, um concerto interpretado pelo coro do Seminário Conciliar de Braga. Esta iniciativa surge no seguimento do trabalho que se tem vindo a desenvolver aquando da Semana dos Seminários. O concerto dividiu-se em duas partes: uma primeira, retratando a Semana Santa, a Páscoa e o Pentecostes, e outra dedicada ao Ano Mariano. Assim sendo, em representação do Domingo de Ramos, foi interpretado o cântico “Pai, se este cálice” do Padre Ferreira dos Santos, com harmonização do Dr. José Carlos Miranda, a três vozes iguais; em representação da Quinta-feira Santa, “Tantum ergo”, do Padre Manuel Faria, a quatro vozes iguais; para a Sexta-feira Santa, o Cântico “Morreu o nosso Pastor” do Padre Manuel Faria, para quatro vozes iguais; para o Sábado Santo, o cântico “Que todos sejam um”, do Dr. Eurico Carrapatoso, a quatro vozes iguais; para o Domingo da Ressurreição o cântico “Rainha do céu” de Paredes-Rezende, com harmonização do Padre Manuel Simões, a quatro vozes iguais; para o período que vai até ao Pentecostes, o cântico do Dr. Sousa Marques, com arranjo para quatro vozes iguais do Dr. José Carlos Miranda, “Reina o Senhor”; e, finalmente, para o domingo de Pentecostes, o cântico “Mandai, Senhor,

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o vosso Espírito”, do Padre Manuel Simões, para três vozes iguais. A segunda parte introduziu-se com o cântico “Ave Maria” do Padre Manuel Faria a três vozes iguais; depois a peça “Tota Pulchra”, do Dr. Mário Sousa Santos para três vozes iguais e órgão; em seguida, o “Magnificat” para quatro vozes iguais do Padre Manuel Faria; por fim, o cântico “Senhora, nós Vos louvamos”, a quatro vozes iguais, do Padre Manuel Faria. Em sinal de agradecimento, o Padre Armindo, arcipreste de Póvoa de Lanhoso, proferiu algumas palavras. Disse ele: “O seminário é uma casa de portas abertas, e não fechadas, dispostas a acolher a todos; todos os

que por lá passaram sentiram e sentem isso, daí o Seminário ser a casa de todos, pois todos somos Seminário”. Para terminar, e dado ser este um ano dedicado a Maria, mais concretamente, ao centenário das “Aparições” em Fátima, o coro ainda abrilhantou com o hino do centenário de Marco Daniel Duarte e José Joaquim Ribeiro intitulado “Mestra do Anúncio, Profecia do Amor”. Deve destacar-se que esta iniciativa, que tem como culminar o projeto iniciado na Semana dos Seminários, foi desfrutada por todos quantos a puderam escutar assim como por todos os que lhe emprestaram as suas vozes para a levar a bom termo.


ORDENAÇÕES DIACONAIS E PRESBITERAIS EM BRAGA Seminários Arquidiocesanos de Braga

O que entendemos por Ordenações na Igreja? A palavra Ordem, na antiguidade romana, designava corpos constituídos no sentido civil, sobretudo o corpo dos que governavam, Ordinatio designa a integração num ordo. Na Igreja existem corpos constituídos que a Tradição, não sem fundamento na Sagrada Escritura, designa, desde tempos antigos, com o nome de táxeis (em grego), ordines (em latim): a liturgia fala assim do ordo episcoporum – ordem dos bispos –, do ordo presbyterorum ordem dos presbíteros – e do ordo diaconorum – ordem dos diáconos (Cf. CIC 1537). A integração num destes corpos da Igreja fazia-se através de um rito chamado ordinatio, ato religioso e litúrgico que era uma consagração, uma bênção ou um sacramento. Hoje, a palavra ordinatio é reservada ao ato sacramental que integra na ordem dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos, e que ultrapassa a simples eleição, designação, delegação ou instituição pela comunidade, pois confere um dom do Espírito Santo que permite o exercício de um «poder sagrado» (sacra potestas) que só pode vir do próprio Cristo, pela sua Igreja. A ordenação também é chamada consecratio, consagração – porque é um pôr à parte e uma investidura feita pelo próprio Cristo para a sua Igreja. A imposição das mãos do bispo, com a oração consecratória,

constitui o sinal visível desta consagração (Cf. CIC 1538). Ao longo do passado mês de julho, a Arquidiocese de Braga rejubilou com as Ordenações Diaconais e Presbiterais que decorreram nos dias 9 e 16, respetivamente. Os novos diáconos, com vista ao sacerdócio, chamam-se: Tiago Cunha, Carlos Leme, Rui Araújo e Filipe Alves; com vista ao diaconado permanente estão Joaquim Ferreira e José Silva. Os novos presbíteros da Arquidiocese de Braga chamam-se: Paulo Jorge Gomes, Fernando Torres, José Pedro Oliveira, Fernando Machado, Rúben Cruz e Vítor Emanuel Sá. Também foi ordenado Wilson Santos da Comunidade Cristo de Betânia. Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e padres, a presença de Cristo como cabeça da

Igreja torna-se visível no meio da comunidade dos crentes. Segundo a bela expressão de Santo Inácio de Antioquia, o bispo é týpos toû Patrós, como que a imagem viva de Deus Pai (Cf. CIC 1549). A doutrina católica, expressa na liturgia, no Magistério e na prática constante da Igreja, reconhece que existem dois graus de participação ministerial no sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O diaconado destina-se a ajudá-los e a servi-los. Por isso, o termo «sacerdos» designa, no uso atual, os bispos e os presbíteros, mas não os diáconos. Todavia, a doutrina católica ensina que os graus de participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o grau de serviço (diaconado) são conferidos por um ato sacramental chamado «ordenação», ou seja, pelo sacramento da Ordem (Cf. CIC 1554).

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SEMINÁRIO MAIOR

GRUPO DE TEATRO SÃO JOÃO BOSCO MEMÓRIA AGRADECIDA Pedro Sousa, 4º ano

Em 1967, um grupo de seminaristas fundava o Grupo de Teatro S. João Bosco: não procurava a certeza do sucesso, mas conduzia-o a convicção de que esse ideal que o movia, um dia, ia perdurar. Hoje, passados 50 anos, a nossa memória afetiva jamais poderia deixar de agradecer. Afinal, na celeridade dos dias que se escoam só permanece a gratidão profunda. O Grupo de Teatro S. João Bosco, nesta história de 50 anos, apresenta-se como um grupo amador, de aprendizes do teatro. E sê-lo-emos até ao fim. Não amador no sentido de um teatro inócuo, ingénuo ou superficial, ou como antitético do teatro profissional. Pelo contrário, somos personagens de um teatro que aponta para a nobre missão de ser eternamente amador, isto é, eterno amante da arte de mostrar ao homem aquilo que é, perante aquilo que ele deve ser. A peça, apresentada entre os meses de dezembro e maio, num total de 8 atuações, está intitulada de Variações sobre o Teorema de Clinto e as Vantagens de uma Espiga ao Sol¸ escrita e encenada pelo Professor José Miguel Braga, faz pensar e dá que pensar, convidando a ver o que lá não está, sempre num tom cómico, mas não menos sério. Na certeza de que, como alguém escrevia, a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. 10

A peça torna visível uma mensagem de esperança, pois, no teatro, como na vida, os fins podem ser inícios ou indícios… Em palco, vemos um grupo de amigos que passa por dificuldades, entre um dilúvio e um deserto, mas todos percebem que a única vida que vale a pena ser vivida é aquela que é tecida por laços vitais. É a esperança no amanhã que os conduz, mas conscientes do caminho que têm de trilhar, porque a maior beleza do amanhã é quando ele se

transforma em hoje. E se é importante sonhá-lo, não é menos fundamental vivê-lo! Efetivamente, este ano revelou-se histórico para o Grupo de Teatro S. João Bosco, não somente pela efeméride que se comemorava, mas pela primigénia passagem pelo histórico palco do Theatro Circo. Um momento único numa história de 50 anos. Em breve, em Setembro, os ensaios começam e a história promete continuar!


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

EQUIPA DA PASTORAL UNIVERSITÁRIA EM PEDRÓGÃO GRANDE Raquel Martins (Curso de Medicina da Universidade do Minho)

Nada se assemelha à perceção de tragédia que fomos observando quando já estávamos na estrada em direção a Pedrógão Grande. Um cenário apocalítico; o “fim do mundo”, como nos relatavam. Uma casa aqui e ali que chorava em solidão a morte dos seus e dos outros. Partimos no dia 29 de junho, em direção a Pedrógão Grande, num grupo de 7 elementos da Pastoral Universitária de Braga, ao qual se juntou no sábado o Pe. Eduardo Duque, e aí ficamos até domingo. Quatro dias intensos, uma experiência que testa todos os nossos sentidos, desde o odor a incendiado que se faz sentir inevitavelmente nestas paisagens, até aos murmúrios e diálogos sobre as histórias de vida e de morte (ou de quase vida e de quase morte) que foram chegando aos nossos ouvidos, à medida que nos abeirávamos dos seus habitantes com vista a levar a nossa mensagem de esperança. Aquecer as almas foi o que nos foi pedido. Parece irónico falar em “aquecer” quando aplicado a esta tragédia, mas as chamas nos corações têm um efeito reverso. Começámos, então, por visitar as comunidades afetadas, percorrendo aldeia a aldeia, dando um pouco do nosso carinho, perguntando e, se possível, colmatando as suas necessidades, nem tanto com bens materiais, mas assentando na base de quem lá vai para cuidar, o que nem

sempre tem como pedra basilar a ação. Nestes casos, a comunicação torna-se a ferramenta central de zelar pelo outro. Assim, como que numa espécie de monólogo, os sofridos encarnavam a sua dor e referenciavam as suas perdas, e nós sentíamo-nos impelidos a responder na base da compreensão do seu sofrimento. Das maiores dificuldades. Uma coisa é escutar o sofrimento do outro e estar atento ao mesmo, outra, completamente diferente, é saber partilhá-lo. Sentir que ambas as partes partilham a mesma angústia, ainda que não a tenham experienciado de igual forma, talvez mais que a esperança que podemos levar, chega a ser notavelmente reconfortante para aquele que nada tem ou que tudo perdeu. E assim foi, escutámos. Escutámos histórias de quem perdeu as suas terras, escutámos histórias de habitações consumidas pelas chamas, escutámos histórias de sobrevivência, mas também de pesar, escutámos o silêncio e os apelos de ajuda e escutámos,

muitas vezes, um “(…) obrigado, mas não é preciso. Há pessoas, por aí, a precisarem mais do que eu!” quando inquiridos sobre a sua necessidade de alguns bens alimentares ou materiais. A entreajuda dos coabitantes era de tal ordem notória que nos remete impreterivelmente para reflexões pessoais bastante profundas. Agradecer o que temos é uma forma de respeito pelo outro. Entrando no espírito da comunidade, também o nosso grupo uniu esforços, valorizando aquilo que nos foi oferecido. Uma capacitação para aquilo que é o trabalho de grupo, mas também uma reflexão crítica sobre o que nos rodeia. Urge a necessidade de acompanhamento psicológico qualificado, urge que o trabalho de apoio realizado nas diversas vertentes não se limite apenas ao que a nossa memória nos permite lembrar, urge que todo este trabalho seja contínuo, urge a nossa aprendizagem com os acontecimentos, urge a esperança, urge a necessidade de sermos mais humanos!

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PASTORAL DE JOVENS

POR QUE “FUNCIONAM” OS GRUPOS DE JOVENS? Filipa Silva

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Não raras vezes, nos últimos anos, os responsáveis de departamentos, paróquias e movimentos da Igreja Católica se têm deparado com algumas questões inquietantes: Onde estão os jovens? Por que se afastam da Igreja? O que pretendem da vida e da Igreja? Em que acreditam? Quem trabalha diretamente com os jovens tem assistido ao assinalável decréscimo de jovens comprometidos com a Igreja ao longo do tempo e este é um assunto que tem vindo a ser alvo de discussão e muito questionamento de párocos, bispos e leigos responsáveis pelo trabalho com jovens. No sentido de preparar formação que responda às necessidade dos jovens e de responder a algumas questões relacionadas com o Sínodo dos Bispos, o Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens (DAPJ) foi desafiado a procurar respostas concretas às questões iniciais e outras relacionadas com a vida dos jovens, as suas crenças e motivações, dentro e fora da Igreja. O DAPJ reuniu, refletiu e desenvolveu um trabalho de proximidade com os grupos de jovens da Diocese. Sobre a questão

acerca do que afasta os jovens da Igreja, já tínhamos muitas respostas. Mas, neste trabalho, a questão que nos guiou na procura destas respostas foi: “Se há grupos de jovens comprometidos com a Igreja e que funcionam, por que funcionam eles? E como? O que os compromete? Quais são as suas experiências de fé? Como foi o seu trajeto de vida e de fé?” Com espírito de abertura e sentido de missão, fomos visitar alguns grupos de jovens da Diocese. O trabalho consistiu, sobretudo, em ouvir os jovens: ouvir as suas razões e crenças, ouvir as suas angústias e preocupações, ouvir as suas histórias e vivências; conhecê-los, com profundidade e com tempo. Estas visitas permitiram-nos recolher informações fundamentais sobre como pode a Igreja responder ao repto dos jovens de hoje e como podemos ajudar os jovens a comprometerem-se com a Igreja. Da riqueza destes testemunhos resultarão conclusões importantes que, certamente, nos permitirão responder com mais certezas às questões que nos inquietam e traçar rumos novos na Pastoral de Jovens.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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