Voz de Esperança Mai/Jun 2023

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CAMINHAR DURANTE A NOITE

“Como na peregrinação noturna, será mais fácil e seguro acertar no caminho se tivermos companhia; há uma força maior, uma palavra de estímulo, uma dúvida que se esbate, um medo que se vence, uma decisão que se toma.”

DINÂMICAS DE CONVERSÃO

“No Seminário, contemplamos a conversão como uma realidade fundante, como uma dinâmica de passagem da escuridão à luz, do desânimo à alegria, da morte à vida nova no Ressuscitado.”

EDITORIAL

À LUZ DA LUZ!

A Semana de Oração pelas Vocações, que celebramos este ano entre os dias 23 e 30 de abril, desafia-nos, segundo o Hino de Liturgia das Horas que inspirou a temática que lhe dá o mote, a “trocar o instante pelo eterno”, ou seja, interpela-nos a “seguir o caminho de Jesus”, deixando-nos iluminar pela Sua Luz, na certeza de que “a primavera vem depois do inverno” e “a alegria virá depois da Cruz.”

A grande festa da Páscoa que estamos a celebrar convida-nos a “alargar a tenda” da nossa vida, abre-nos as portas do futuro, para nos deixarmos enviar pelo próprio Jesus Ressuscitado, a Luz que nos orienta cada passo, a Luz que ilumina o caminho da nossa Vocação. À luz da Luz podemos ser mais e superar medos e dúvidas. Para tal, precisamos de permanecer na sintonia e na proximidade de Jesus, pois, como refere o texto da secção Visão, “o discernimento e a decisão vocacional exigem um encontro de amigos entre quem chama e quem é chamado. A participação na Eucaristia, a leitura e meditação da Palavra de Deus e a oração pessoal são dinamismos que nos ajudam a discernir a vocação mesmo à luz das estrelas e a tomar a decisão de sermos discípulos de Jesus.”

Na verdade, acolher o chamamento do Senhor, ousando dar-Lhe o nosso Sim, tal como Maria o fez, implica levantarmo-nos e partirmos apressadamente ao encontro dos irmãos, impelidos pela pressa do amor, como evoca o lema da JMJ’23. Essa entrega ilumina-nos, incendeia em nós uma chama mais bela e intensa, e faz-nos capazes de irradiar luz, pois, como o próprio Jesus nos recorda, “somos a luz do mundo” (cf. Mt. 5, 14). Essa entrega faz da nossa vida muito mais do que uma mera sucessão de instantes, permitindo-nos fazer de cada gesto e de cada dia uma expressão de eternidade!

Na vida quotidiana dos nossos Seminários também se procura viver à luz da Luz, fazendo de cada instante a melodia orante que canta e toca a eternidade na vida e no coração de cada um: “Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe... Não tenho aqui morada permanente: leva-me mais longe…”.

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 94 | Bimestral
MAI - JUN / 2023
Ir. Laurinda Faria Pág. 2 e 3 Pedro Zão Pág. 8

CAMINHAR DURANTE A NOITE

Fazer uma caminhada de noite tem muito de estímulo, desafio, surpresa... também de companheirismo, apoio mútuo, confiança no grupo de peregrinos. Ir ao S. Bentinho por montes e atalhos, numa noite sem estrelas, não é fácil; mas percorrer dezenas de quilómetros com o olhar fixo na meta, é uma aventura de gente destemida.

ideal e caminhamos nessa direção. Quando jogamos à «cabra-cega», mesmo sem ver o objeto que queremos encontrar, agimos em função dele. O importante na vida é nunca perder de vista o ponto de chegada; a atração emotiva para lá faz-nos avançar de forma certa e segura.

por caminhos diferentes. A confusão e a incerteza na hora da escolha só abonam em favor da liberdade: percebemos que somos livres porque podemos escolher.

Com a mira na chegada No caminho vocacional percorremos a estrada da frente para trás, olhamos para o futuro para acertar com o presente; fixamos o olhar no

Na liturgia cantamos: «Se me envolve a noite escura e caminho sobre abismos de amargura, nada temo porque a Luz está comigo.» As propostas de vida que recebemos todos os dias, são multicolores e todas prometem a felicidade, embora

Como na peregrinação noturna, será mais fácil e seguro acertar no caminho se tivermos companhia; há uma força maior, uma palavra de estímulo, uma dúvida que se esbate, um medo que se vence, uma decisão que se toma.

Com os olhos tapados Muitas vezes andamos à deriva, sem escolher para onde ir; os avós, os pais, os amigos… foram por ali, eu vou também, sem perceber que cada pessoa é única, irrepetível, com um futuro desenhado só para si. Interpretando Séneca, Lewis Carroll integra em «Alice no país das maravilhas» a frase: «para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve», se vamos a parte nenhuma. Se continuarmos de olhos tapados pelos trilhos da nossa juventude, corremos o mesmo risco dos discípulos de Jesus, os quais só se viram livres da tempestade que os apanhou no meio do mar, quando caíram na conta de que Jesus ia com eles na barca.

Diz o hino: «Se me colhe a tempestade, e Jesus vai a dormir na minha barca, nada temo porque a Paz está comigo.» Só um coração pacificado recupera a visão. Quando

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Ir. Laurinda Faria - Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus
VISÃO

surge a crise e o medo de avançar, mesmo intuindo o caminho certo, é preciso ter a ousadia de atirar fora as vendas, para que a luz se espelhe no chão das nossas decisões. É preciso falar com Jesus, orar, clamar, chorar. Pode acontecer que um jovem sente que Deus o chama para a vocação consagrada, sacerdotal, o matrimónio ou qualquer outro ministério na Igreja; porém, numa manhã de nevoeiro, essa intuição entra em crise e ele fica sem saber o que fazer.

Assim como no jogo da «cabra-cega» a habilidade é identificar, com os olhos vendados, a pessoa que temos à nossa frente, usando simplesmente o tacto, também no discernimento vocacional, precisamos de usar o tacto espiritual que nos permite identificar dentro de nós sentimentos, intuições, experiências, valores e dar-lhes nomes. São sinais para avançar no caminho.

Jesus vela dormindo

Os discípulos de Jesus gastaram as forças lutando, sem resultado, contra a tempestade no lago. Ao reparar que Jesus dormia tranquilamente na popa do barco, deram-lhe um abanão: Acorda, não vês que vamos ao fundo? O Mestre não nos abandona, antes, dá-nos a possibilidade de experimentar que Ele está connosco, tanto no meio das borrascas, como no tempo sereno. Foi Ele quem acalmou o mar e fez calar os ventos.

Ao sentirmo-nos sozinhos, recordemos, de novo, o hino: «Se os amigos me deixarem em caminhos de miséria e orfandade, nada temo porque o Pai está comigo.» Quando tomarmos consciência desta verdade, saberemos que é tarde demais para voltar atrás na decisão vocacional. Somos pessoas limitadas, vulneráveis, com defeitos mais ou menos incómodos; mas também temos dons para desenvolver e colocar ao serviço. É com gente deste calibre que Deus conta para continuar a construção de um mundo justo, fraterno, pacífico, solidário, digno de ser habitado. Basta querer entrar

neste projeto de recriação humana e aceitar ser constantemente recriado por Deus.

O sonho de ser Mais faz-nos rezar: «Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe... Não tenho aqui morada permanente: Leva-me mais longe... »

O discernimento e a decisão vocacional exigem um encontro de amigos entre quem chama e quem é chamado. A participação na Eucaristia, a leitura e meditação da Palavra de Deus e a oração pessoal são dinamismos que nos ajudam a discernir a vocação mesmo à luz das estrelas e a tomar a decisão de sermos discípulos de Jesus.

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S. JOÃO DE DEUS

Continuando a apresentar iconografias de santos que concretizaram de modo especial a máxima “do amor nascem gestos”, um dos lemas sujacentes ao triénio da Caridade que ainda estamos a viver, escolhemos a figura de um santo português que dedicou toda a vida ao serviço dos mais desprotegidos, S. João de Deus, figura extraordinária da vida da Igreja e uma das honras maiores de Portugal.

Nasceu em Montemor-o-Novo, em 1495, e morreu na cidade espanhola de Granada, a 8 de março de 1550. Teve uma vida agitada. Fugiu de casa para Castela onde foi pastor. Depois seguiu a vida de soldado, foi para Ceuta, onde trabalhou na construção das muralhas e, em Gibraltar, dedicou-se a vender livros, trabalho que continuou em Granada. Finalmente, tornou-se monge franciscano, depois de ouvir um sermão de S. João de Ávila. Ficou de tal maneira impressionado que o seu comportamento se alterou a ponto de o considerarem louco. Foi internado no Hospital Real onde sofreu os maus tratos que davam aos doentes mentais. Talvez tenha sido essa experiência que o levou a fundar, em 1539, um hospital para doenças contagiosas e incuráveis. Fundou, assim, a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros. Para além da assistência aos doentes, dava trabalho aos desempre -

gados, procurava mães adotivas para as crianças abandonadas e tentava encontrar honesta subsistência para as prostitutas. Por toda esta incansável atividade tornou-se o padroeiro dos hospitais, doentes e enfermeiros.

A especial ligação que tem com Granada terá nascido de um milagre. Conta-se que, ao passar por uma região inóspita, encontrou um menino sozinho e descalço, que magoava os pés nas pedras do caminho. Levou o menino às costas até uma fonte, deixou-o à sombra e foi buscar água. Ao voltar, encontrou-o resplandecente, tendo na mão uma romã (granada, em espanhol), sobre a qual reluzia uma cruz. Estendendo-lhe a fruta, exclamou:

— João de Deus, Granada será tua Cruz! - E desapareceu.

A pintura que escolhi para comentar é atribuída a Bartolomé Estéban Murillo, pintor barroco espanhol. Nasceu em Sevilha, em Dezembro de 1617, e aí faleceu em Abril de 1682. É sobretudo conhecido pelas pinturas de natureza religiosa, cheias de profunda piedade, nas quais predominam as cores suaves que lembram o colorido flamengo e veneziano. Ficou, sobretudo, famosa a iconografia da Imaculada Conceição. Contudo, ele tem uma outra faceta anterior de forte realismo onde se nota in -

fluência do tenebrismo de José de Ribera e Francisco Zurbarán, concretamente nos fundos escuros dos quadros.

Neste que podemos observar, Murillo evoca um dos milagres com que foi agraciado S. João de Deus. Quando regressava a casa, o santo encontrou um doente. Pô-lo às costas e levou-o para tratar dele. Exausto, o santo cai de joelhos. O arcanjo Gabriel vem ajudá-lo e revela que o doente é o próprio Deus.

Reparemos no fundo escuro do qual se destacam as três figuras. A do anjo é esguia e muito alta, com as asas iluminadas ainda por recolher, como se tivesse chegado naquele momento. Elas dão ao quadro a dimensão de movimento e verticalidade que contrasta com a horizontalidade da figura dobrada do santo e do doente. O anjo olha para a frente, o santo, para o lado, o doente para trás. Repare-se no paralelismo da perna do anjo e do doente. Por seu lado, o braço que ajuda o santo a levantar-se dá ao quadro a dimensão da obliquidade e aponta para o que é importante: o socorro a quem precisa.

Enquanto o anjo apresenta um rosto suave e sereno, S. João de Deus revela surpresa e espanto. Como é próprio do barroco, o quadro apresenta movimento, assim como forte expressividade dramática.

ARTE
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Luís da Silva Pereira
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PEDIR PERDÃO PARA SERVIR!

No 10 de março, teve lugar no Seminário de Nossa Senhora da Conceição um momento muito importante e fulcral para toda a comunidade, concretamente no que respeita a uma melhor e mais profunda preparação para a vivência da Semana Santa e da Páscoa. Tratou-se da Celebração Penitencial, uma iniciativa já habitual e central no tempo da Quaresma, que interpela cada um a pedir e a viver a graça do perdão para melhor servir e amar!

Esta celebração foi presidida pelo Pe. Pedro Antunes, Diretor Espiritual da comunidade, tendo também contando com a presença do Pe. Álvaro Balsas, também Diretor Espiritual, do Cón. Mário Martins, Diretor do Seminário Menor, do Pe. Rúben Cruz, Formador do Seminário, e do Pe. José Lopes, que faz parte da Direção da Universidade Católica de Braga.

A celebração começou por desafiar os presentes à escuta da Palavra de Deus, seguindo-se um tempo

dedicado ao exame de consciência, diante do Santíssimo Sacramento, entretanto exposto. Posteriormente, os seminaristas e os sacerdotes celebraram o Sacramento da Reconciliação, sendo que este é um momento de libertação, de entrega e também de festa e alegria, por se alcançar do Senhor o perdão pelos pecados cometidos.

Depois de todos terem recebido este Sacramento, encerrou-se a celebração com a bênção do Santíssimo.

MENOR
SEMINÁRIO
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Ângelo Novais, 12º Ano

Nos dias 17 e 18 de março, os seminaristas do Seminário Menor de Braga, juntamente com os seus formadores, uniram-se à iniciativa “24 horas para o Senhor”, promovendo um tempo de oração diante do Santíssimo Sacramento que se prolongou ao longo de um dia.

Tudo começou quando a comunidade se reuniu, na noite de sexta-feira, na Capela Cheia de Graça, onde o Santíssimo foi exposto no altar, dando início a estas horas oferecidas a Jesus.

Após isto, cada um, por turnos, teria uma hora a sós com Jesus Sacramentado, onde dedicariam todo esse tempo para adorar o Senhor.

UM DIA DIANTE DO SENHOR

Estes períodos de encontro com Cristo decorreram durante a madrugada e a manhã.

A comunidade do Seminário, às 8h30 de sábado, reuniu-se, mais uma vez, na Capela Cheia de Graça, onde rezou as Laudes, diante do Santíssimo, ficando, no fim da oração, toda gente a adorá-l’O individualmente e interiormente, para não causar distrações, melhorando, assim, o tempo ofertado a Jesus.

De seguida, os seminaristas foram convidados a passar parte do seu tempo de leitura a rezar diante do Senhor, ou até a ler junto d’Ele, pois, desta forma, poderiam refletir melhor sobre o livro que liam com o

auxílio do Santíssimo, e até podiam refletir sobre a influência deste Sacramento na sua vida, aprendizagem, percurso espiritual, entre outros. Para finalizar estas “24 horas para o Senhor”, os seminaristas do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, acompanhados pelos respetivos formadores, agradeceram a Deus pelos momentos de reflexão e oração que lhes foram proporcionados.

Na opinião de todos os que participaram, este dia foi muito bom para refletir sobre a vida espiritual de cada um, bem como para analisar melhor os livros que foram lidos durante o tempo dedicado à leitura.

SEMINÁRIO MENOR
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Manuel Valente, 9º Ano

DINÂMICAS DE CONVERSÃO

O Papa Francisco dizia que “o perdão é pedido a outra pessoa, e na Confissão pedimos o perdão a Jesus. O perdão não é fruto dos nossos esforços, mas uma dádiva, um dom do Espírito Santo, que nos enche do lavacro de misericórdia e de graça que brota incessantemente do Coração aberto de Cristo Crucificado e Ressuscitado.” No Seminário, contemplamos a conversão como uma realidade fundante, como uma dinâmica de passagem da escuridão à luz, do desânimo à alegria, da morte à vida nova no Ressuscitado. Em segundo lugar, recorda-nos novamente o Papa, “só se nos deixarmos reconciliar no Senhor Jesus com o Pai e com os irmãos, conseguiremos verdadeiramente alcançar a paz. E todos nós sentimos isto no coração, quando nos confessamos com um peso na alma, com um pou-

co de tristeza; e quando recebemos o perdão de Jesus, alcançamos a paz, aquela paz da alma tão boa que somente Jesus nos pode dar, só Ele.” Para que esta conversão se vá tornando possível, somos permanentemente convidados a refletir sobre estas dinâmicas que fazem parte do nosso caminho. E foi esta a mensagem que, num serão de domingo, o extraordinário filme “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” nos quis transmitir.

Ao longo da semana que se seguiu, também a Liturgia nos foi questionando e pedindo um olhar mais profundo e atendo sobre nós mesmos, tal como aos discípulos no monte Tabor, que “descobrem que a oração de Jesus é transfigurante”. Assim, na terça-feira, na Via-Sacra promovida pela Pastoral Universitária, e que teve lugar nos escadórios do

Santuário do Bom Jesus, pudemos fazer caminho interior, mas nunca sozinhos; antes, acompanhados por uma grande comunidade de jovens necessitados de perdão e de luz.

A quinta-feira foi um dia agraciado e pleno, como uma chuva de água batismal, que nos mostrou ser possível recomeçar o caminho de cabeça erguida, mas, sobretudo, com um nobre propósito: sermos novos e melhores seres humanos, sempre voltados para o Sol Nascente. Na celebração presidida pelo Pe. Bruno Nobre, este dava-nos conta de que a mensagem evangélica de Jesus está direcionada para a procura dos pecadores e dos pobres, pois é nisso que reside o próprio Evangelho e, como dizia Ruy Belo, “Feliz aquele que administra sabiamente / a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias / Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará / Oh! como é triste envelhecer à porta / entretecer nas mãos um coração tardio / Oh como é triste arriscar em humanos regressos / o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão / ao longo do mar transbordante de nós / no demorado adeus da nossa condição / É triste no jardim a solidão do sol / vê-lo desde o rumor e as casas da cidade / até uma vaga promessa de rio / e a pequenina vida que se concede às unhas / Mais triste é termos de nascer e morrer /e haver árvores ao fim da rua.”

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Pedro Zão, 5º Ano
SEMINÁRIO MAIOR

A VIAGEM DA NOSSA VIDA

A nossa vida é como uma viagem de comboio, com várias estações e apeadeiros, com vários embarques e desembarques. Foi com esta analogia que, no dia 12 de março, o Frei Luís de Oliveira iniciou o encontro com os pais dos seminaristas do Seminário Conciliar de Braga.

Referiu ainda que, no início da viagem, os pais são os dois passageiros que se encontram mais próximos de nós; contudo, chegará o momento em que terão de sair numa das estações, deixando-nos sem saber bem o que fazer, com um sentimento de orfandade.

Neste contexto, falou-se da importância que os elementos da equipa formadora, nossos companheiros de viagem, têm nas nossas vidas: eles entram numa determinada estação e, mais cedo ou mais tarde, acabarão por sair; no entanto, dei-

xam em cada um de nós um pedaço daquilo que são.

Tal como os comboios, que têm várias e diferentes carruagens, assim são as nossas vidas, cada uma distinta da outra. Mas, embora possam surgir algumas dificuldades, nada nos deve impedir de passar de uma para a outra carruagem, pois as viagens são feitas de tropeços, alegrias, tristezas, sonhos, chegadas e partidas. Por sorte, nestas distintas viagens, há alguém que, tendo um papel imprescindível e decisivo, jamais mudará — o maquinista da nossa viagem, Deus. É Ele que, ao colocar o carvão na fornalha do comboio, faz com que ele avance ou pare, ou seja, que permite que cada um cumpra o seu papel e saia na altura certa.

Nesta viagem, há uma dúvida que permanece em mim: em que es-

tação me devo apear? Mas há uma também certeza que me conforta: quando sair do comboio, recordarei com saudade os momentos lá vividos. Sei que todos têm de continuar as suas viagens, e eu de continuar a minha sem eles.

Foi com este convite de uma boa viagem que, nesta tarde, partimos para a celebração da Eucaristia. Aí, dirigindo-se aos pais, o Frei Luís realçou a grande importância das famílias e dos formadores que, dia a dia, acompanham diligentemente os seminaristas, cada um com as suas características e com o seu testemunho.

O dia terminou com um jantar, onde estiveram sempre presentes a alegria e a amizade que unem esta grande família.

«Para ti, que és parte do meu comboio, desejo-te uma…

… Viagem Feliz…»

9 SEMINÁRIO MAIOR
Pedro Cunha, Ano Propedêutico

VISITA DE D. JOSÉ CORDEIRO AO SEMINÁRIO CONCILIAR

arcebispo, D. José Cordeiro, lembrava-nos a necessidade de estarmos conscientes da Palavra de Deus porque, como afirma José Augusto Mourão: “Nós somos vivos no meio do Vivo. É a nossa vez: deixemo-nos habitar por essa palavra para que a nossa vida se torne autorrevelação da Vida.”

A Palavra de Deus é sempre um desafio à confiança na nossa fé, que consiste numa procura da espessura branca da vida. É ela que dá força da vida e que anula a morte, a força da vitória que nos ergue no mundo. Portanto, sermos humanos da Palavra é também o que nos atrai para o mistério pascal, em que Cristo se torna presente, por Ele sermos sua imagem, porque o nosso destino é pascal.

No passado dia 22 de março, a comunidade do Seminário Conciliar reuniu-se com o seu pastor, D. José Cordeiro, para celebrar a Eucaristia. Como dizia Sophia de Mello Breyner Andresen: “Senhor, como estás longe e oculto e presente!

Oiço apenas o ressoar do teu silêncio que avança para mim e a minha vida apenas toca a franja límpida da tua ausência. Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és Tu quem me lês e me conheces. Faz que nada do meu ser se esconda. Chama à tua claridade a totalidade do meu ser para que o

meu pensamento se torne transparente e possa escutar a palavra que desde sempre me dizes.”

Na Eucaristia, tivemos a oportunidade de experienciar, “como rebento interior” (Daniel Faria), a admissão às ordens sacras de oitos seminaristas, dois dos quais professaram ainda a sua Fé e fizeram o seu juramente de fidelidade, pois, como afirma Daniel Faria: “É que o alto está mais próximo e eu precisava que tivesse ficado muito claro isto que acabei de te dizer. Que te encontrei no meio do caminho, e depois segui o desvio.”

Neste contexto, a exortação do

Depois da leitura da Palavra, fomos levados à vida do Ressuscitado, que se partilha na espessura da nossa humanidade, como afirma Al Berto: “protege-te - leva-te no alado ácido das geadas e das incertezas dirás coisas alucinadas – as almas uma álea de roseiras e da bruma desprende-se o adocicado olor da morte”.

Posteriormente, o biénio reuniu-se com o seu arcebispo para uma agradável e enriquecedora tertúlia, onde foram abordados temas que nos preocupam no presente e confrontadas algumas ideias relativas ao futuro da Igreja.

Rúben Pinheiral, 2º Ano SEMINÁRIO
MAIOR
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A CAMINHO DA JMJ’23…

A caminho da JMJ’23, partilhamos o testemunho do Simão Fernandes, uma jovem seminarista que se encontra a frequentar o 12º ano no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, da paróquia de São Tiago da Carreira, Arciprestado de Vila Nova de Famalicão. O Simão aguarda com expetativa e desejo a realização da JMJ’23, acreditando que “ na brevidade daqueles dias” é possível descobrir “a eternidade que se esconde no projeto de vida de cada um”.

1. Enquanto jovem e também seminarista, como estás a viver estes meses que antecedem a realização da JMJ’23?

Esperar algo tão grande como uma JMJ tem sido, sem dúvida, um turbilhão de expetativas e desejo. Eu, como muitos outros jovens, nunca participei em algo tão grande como uma Jornada Mundial na minha vida, mas a curiosidade e os testemunhos que aqui e ali vierem ter comigo dão-me a certeza que aqueles dias de agosto guardam em si um mistério que, estando prestes a desvendar-se, promete marcar a vida de qualquer um que por ele passa. Saber que tudo isto acontecerá aqui, em Portugal, e que em breve milhares de todo o mundo se reunirão connosco para celebrar a juventude e a vida, só acresce este desejo comum de encurtar o tempo até lá.

2. Quando olhas para os símbolos da JMJ, Cruz peregrina e Ícone Mariano, que relação vês neles com a vocação, na certeza de que todos somos chamados por Deus a viver um projeto de verdadeira felicidade?

Olhar para os Símbolos da JMJ, na minha experiência pessoal, é ouvir, vezes sem conta, aquele grito de São João Paulo II: “Não tenhais medo de olhar para Ele!”. Como um pai que aponta o bom caminho a seus filhos, deu-nos uma cruz e um ícone como símbolos de uma busca comum por um projeto que nos satisfaça por completo. Num tempo em que nós, jovens, podemos ser tudo o que bem desejarmos, uma estranha sede por felicidade parece nos assaltar. Voltar o nosso olhar para Cristo e Sua Mãe é, antes de tudo, recordar que somos chamados a algo muito maior que nós e que a vitória se esconde por detrás do doce sacrifico que é amar sem medida.

3. “Troquemos o instante pelo eterno” é o tema que dá o mote à Semana de Oração pelas Vocações deste ano. Como te parece que uma JMJ pode ser uma ocasião privilegiada para fazer de cada instante vivido e partilhado uma expressão de eternidade?

Sem dúvida o conforto do “sofá” é das coisas mais difíceis de se largar enquanto jovem. Mas o sonho que em nós palpita diz-nos que há todo um longo caminho pela frente e que ficar parado é desperdiçar um enorme tesouro que

nos foi confiado. Por isso, trilhar os paços da JMJ parece-me, antes de mais, um partir para a aventura, sem medo e com firmeza. É descobrir, na brevidade daqueles dias, a eternidade que se esconde no projeto de vida de cada um. Viver um momento histórico como este não me parece apenas uma memória que se guarda numa gaveta e nunca mais se esquece, mas uma experiência capaz de mudar alguém para o resto de uma vida.

4. Depois da JMJ’23, terminada a festa e quando todos regressarem aos seus países e às suas casas, que frutos gostarias de ver gerados no seio da vida de cada jovem e da própria Igreja? É difícil prever o que quer que seja quando os frutos não partem de nós. Até agora, já ouvi prognósticos de todo o género, desde os mais otimistas aos mais pessimistas. Eu, porém, deixo-me guiar pela certeza que Cristo sabe o que quer de nós e os meios para lá chegar e, por mais sombrios que os tempos pareçam ser, Ele não nos deixa de chamar para Si. Não tenho dúvidas de que qualquer jovem que participe nesta JMJ sairá diferente e com um novo olhar para as coisas, alguns iniciarão ou tomarão, até, rumos antes inimagináveis. Em tudo isto, cabe à Igreja abrir as suas portas à juventude, escutando as suas preocupações e desejos, na certeza que este caminho não termina a 7 de agosto de 2023, antes dá início a um novo tempo que consigo traz novos desafios e frutos imprevistos.

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PASTORAL DE JOVENS

JMJ’23: FAMÍLIAS/ESPAÇOS DE ACOLHIMENTO DURANTE OS DIAS NA DIOCESE

Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

Estamos em contagem decrescente rumo à JMJ’23. Todos se precipitam para encontrar a melhor forma – material e espiritual – para chegar do melhor modo à celebração da alegria da fé partilhada e jovem na próxima JMJ. Aquilo que se apresentava como um evento de massas ‘sempre adiado’ por causa da pandemia, afigura-se agora como algo de muito concreto, próximo e cujas dimensões grandiosas não anulam a presença de ninguém. Ao contrário, este é um momento especial em que ninguém se funde na multidão; antes, cada um ao seu nível, é chamado a assumir um compromisso de fé com manifestações concretas na ação antes, durante e após a JMJ.

De 26 a 31 de julho de 2023 a Arquidiocese irá receber milhares de jovens vindos de todas as partes do mundo. Para estes jovens, o que está em causa não é nem um passeio turístico nem uma aventura com outros jovens. Antes, estes jovens buscam viver uma experiência de fé numa dimensão eclesial que só as JMJ proporcionam. Esta experiência de fé só é possível se se propicia uma proximidade quotidiana aos jovens, muito maior do que qualquer ideia de criação de ‘muitas atividades’ e/ou ‘fazer muitas coisas’ para/com os jovens.

Neste sentido, as famílias cristãs e todos que têm a responsabilidade de espaços que podem acolher jovens durante estes Dias na Diocese são chamados a responder, de modo concreto e objetivo, aos apelos da nossa Igreja diocesana, dentro do esquema que se desenvolve em

todos os países que, ao longo dos anos, têm acolhido as JMJ. Quem quiser acolher esta con-vocação, poderá organizar-se junto das suas paróquias e, consequentemente, com os respetivos COA’S.

As famílias que receberem jovens durante estes Dias na Diocese comprometem-se a providenciar dormida para, pelo menos, dois jovens durante os Dias na Diocese; disponibilizar um local onde os jovens possam fazer a sua higiene diária; garantir os pequenos-almoços e, pontualmente, uma outra refeição principal. Se possível, facilitar o transporte de e para os pontos de encontro (de manhã e ao final do dia). Além disso, em espírito eclesial, comunicar e dialogar com os jovens; mesmo que não se domine a língua de origem, devem procurar-se outras formas de interação.

Todos estamos con-vocados para uma ação capaz de expressar a fé que professamos. Juntos faremos da JMJ um encontro conjunto de fé entre jovens e menos jovens com Cristo.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga

Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821

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N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91

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