Voz de Esperança Set/Out 2022

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A FORMAÇÃO NO SEMINÁRIO CONCILIAR NA ATUALIDADE

“O caminho do Seminário é um caminho de transformação simultaneamente comunitário e pessoal. É um caminho comunitário, uma vez que se caminha para uma escolha e adesão a determinados ideais de vida, mas também enfaticamente pessoal, ou seja, está atento à história de vida da pessoa.”

EDITORIAL

COMCAMINHAREPARA OS OUTROS

“O ato de caminhar é, sem dúvida, uma experiência espiritual que nos lança numa inquietude da fonte do sentido. (…) O caminhar permite a viagem da procura de algo e de alguém que, na sua premência, suscita um desejo que não conseguimos denominar.”

UMA CONVERSÃO AO

ESTILO SEMPRE ‘NOVO’ DA CARIDADE

No rescaldo do X Simpósio do Clero, D. António Augusto Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Mi nistérios, enfatizou que “o futuro vai exigir sacerdotes com estilo novo”. A propósito, o prelado citava a síntese sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa. O documento refere que “é importante que haja uma maior exigência e continui dade na formação em várias dimensões, tanto dos sacerdotes como dos leigos”, acrescentado que, “nesta vertente formati va, apresenta-se como essencial a reestruturação do caminho formativo dos Seminários, que exibe lacunas na dimensão hu mana, espiritual, afetiva e cultural, devendo enquadrar-se nos desafios e exigências do nosso tempo”.

Por sua vez, também D. José Cordeiro, na sua primeira Carta Pastoral como Arcebispo de Braga, refere que “a for mação inicial e permanente nos Seminários”, assim como noutros contextos eclesiais, “é um caminho a consolidar nos processos de conversão pastoral e missionária”.

Ora, este é o olhar sobre a atualidade, quando celebramos ainda os 450 anos da fundação do Seminário Conciliar de Bra ga. Na verdade, para que, “juntos”, possamos ser, efetivamen te, “Igreja sinodal e samaritana”, é necessária uma conversão ao estilo sempre ‘novo’ da Caridade, conforme aprendido do próprio Jesus. Nesta linha, o texto Visão destaca, precisamen te, que, “no Seminário, somos chamados a edificar uma Igreja que procura caminhos ousados e criativos”.

São esses caminhos de conversão, trilhados pela ousadia da vocação, que estão também expressos nas diferentes notí cias e textos aqui publicados.

Estes são os caminhos que o Senhor nos convida a percor rer também sob a senda da gratidão e da partilha. Por isso, no início de uma nova etapa, manifestamos a nosso profundo agradecimento ao Pe. Adelino Domingues, que deixa de co laborar com o Seminário de Nossa Senhora da Conceição no que respeita ao seu trabalho dedicado à direção espiritual, e, ao mesmo tempo, damos as boas vindas ao Pe. Pedro Antu nes, que passará a assumir esta mesma missão entre nós.

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 90 | Bimestral 1,00 €
Rafael Gonçalve Pág. 2 SET - OUT / 2022
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A NOFORMAÇÃOSEMINÁRIO CONCILIAR NA ATUALIDADE

O Seminário é uma comunida de eclesial educativa que procura formar e desenvolver a dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral dos futuros presbíteros. Outro aspeto a sublinhar é que o Seminário vela também pela indivi dualidade dos seus membros, visto que a obra educativa, por natureza, é o acompanhamento de pessoas históricas, concretas, que caminham para a escolha e adesão a determi nados ideais de vida, o sacerdócio (cf. João Paulo II, “Pastores Dabo Vo bis”, n. Assim,61).o caminho do Seminário é um caminho de transformação simultaneamente comunitário e pessoal. É um caminho comunitá rio, uma vez que se caminha para uma escolha e adesão a determi nados ideais de vida, mas também enfaticamente pessoal, ou seja, está atento à história de vida da pessoa.

«Isto exige uma sapiente elasticida de, que não significa, de facto, tran sigência sobre os valores nem sobre o empenhamento consciente e livre, mas amor verdadeiro e respeito sin cero por quem, nas suas condições pessoais, está caminhando para o sacerdócio» (Ibidem).

A atual formação nos Seminários está dividida em quatro etapas: a propedêutica, a dos estudos filosófi cos, a dos estudos teológicos e, por fim, a pastoral. A etapa propedêu tica tem a duração de um ano, cujo objetivo principal consiste no desen volvimento e no crescimento tanto pessoal como espiritual. A etapa dos estudos filosóficos (ou do discipula do) tem em especial atenção a di mensão humana, em harmonia com o crescimento espiritual. Ao mesmo tempo, procura adquirir o necessá rio conhecimento da filosofia e das ciências humanas. A etapa dos estu

dos teológicos (ou da configuração) visa uma relação mais íntima e pes soal com Cristo. Para isso, desenvol ve-se uma fecunda e harmónica in teração entre a maturidade humana e espiritual, e entre a vida de oração e a aprendizagem teológica. Por fim, a etapa pastoral visa a inserção na vida pastoral, com a devida prepa ração e acompanhamento de um presbítero, e o gradual serviço res ponsável a uma comunidade.

Todo o caminho, por mais árduo que seja, é sempre suavizado quan do se faz acompanhado. Por con seguinte, é extremamente impor tante o envolvimento da família, da equipa formadora, da comunidade e do diretor espiritual, pois permi te a quem faz este percurso tomar consciência das suas fragilidades e, portanto, da necessidade da graça de Deus e da correção fraterna para as superar.

VISÃO2

PALAVRA AOS REITORES

1. O Papa Francisco fala-nos muito da necessidade de promovermos uma Igreja em “saída”. De que modo um Seminário deve contribuir para a persecução deste objetivo?Cón.António

Macedo: Toda a formação de um pas tor na Igreja deverá configurá-lo a um verdadeiro segui dor de Cristo, dos apóstolos e todos os servidores por vocação. Esta proposta levou um sacerdote muito zelo so a deixar-nos uma quadra. Muitos neo-sacerdotes, na sua Missa Nova, transcreviam numa estampa: Há! Sabei amigos meus / ser padre é isto somente: / não ser de si nem dos seus / para ser de toda a gente.

2. A nossa Arquidiocese recorda-nos, neste triénio dedicado à Caridade, que a Igreja deve ser cada vez mais samaritana. Qual o papel do Seminário neste campo?Mons.

António Moreno: O Sacerdote tem a missão sublime que Jesus lhe confiou. Jesus que foi particular mente o amigo dos marginalizados, pobres e pecadores. Tal missão só será possível com um verdadeiro espírito samaritano. Concretamente a participação, por exem plo, nas Conferências Vicentinas e visitas aos doentes e marginalizados. Importa, pois, que todos quantos vi vem nos Seminários tudo façam por caridade, isto é, por amor de Deus e dos irmãos.

3. Nestes tempos hodiernos ouvimos muito falar em “crise de vocações”. Não se tratando, certamente, de uma crise, quais os desafios que hoje nos são colo cados?Cón.

António Sepúlveda: É uma pergunta difícil. Os desafios que hoje são colocados passam sempre por uma identificação cada vez maior com a realidade dos Seminá rios hoje. Uma linguagem e uma maneira de pensar e ser mais ajustada aos tempos que vivemos e à realidade de cada jovem pode ajudar a tomar decisões e a ultrapassar ventos mais desfavoráveis por que estejamos a passar.

4. Como despertar no seio das famílias um maior cuidado, atenção e amor para com a vocação sacerdo tal?Cón.

Manuel Tinoco: Todas as famílias devem esfor çar-se por seguir a Família de Nazaré. Se o fizerem, serão terrenos propícios para nelas nascerem, prosperarem e perseverarem vocações sacerdotais. Importa, com a nossa presença amiga e verdadeira, termos com as famí lias um verdadeiro diálogo eclesial. Assim, ajudaremos as famílias a ter a alegria de dar sacerdotes à Igreja.

5. Como potenciar a riqueza proporcionada pelo Pré-Seminário, podendo chegar a mais jovens?

Cón. José Paulo Abreu: Investir nos acólitos; cuidar muito bem da catequese; encarar cada aula de Religião e Moral como um “Kairos”; apostar forte na pastoral juve nil (responsabilizando os jovens, envolvendo-os na dinâ mica paroquial…); fazer jus à motivação radical católica dos nossos colégios; não ter medo de falar das vocações e acordar as famílias… tudo isso são caminhos de poten ciação do Pré-Seminário.

6. Que Igreja queremos hoje? Serão os nossos Semi nários expressão fiel e visível da Igreja que queremos edificar?Cón.

Vítor Novais: Em tempos de ‘agitação parali sante’ e ‘paralisia agitante’ não serve reciclar respostas dadas no passado para responder a questões de hoje.

Ora, tal reclama do Seminário um ato de ‘tradução da tradição’, ou seja, a coragem e franqueza de exprimir em inéditos processos eclesiais aquilo que recebemos. No Seminário, somos chamados a edificar uma Igreja que procura caminhos ousados e criativos. Mediante os im pulsos do Evangelho, somos chamados a construir uma Igreja que seja território de celebração da vida, atraves sado pelo quotidiano, mas que não fique sequestrada pelo formalismo e pelo zelo em vez da misericórdia e da alegria.

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OARTE

BOM SAMARITANO

Este é o último comentário do ciclo dedicado ao tema “onde há amor nascem gestos”, integrado no presente ano pastoral, ainda subordinado à virtude da caridade.

Escolhi para ilustrar o tema a parábola do Bom Samaritano, uma das mais conhecidas e tocantes, juntamente com a do Bom Pastor e a do Filho Pródigo. Vem narrada no evangelho segundo S. Lucas, cap. 10, 25-37, e constitui a resposta de Jesus Cristo a uma pergunta cap ciosa feita por um doutor da Lei que pretendia mais confundi-lo do que esclarecer-se a si próprio.

Convém recordar que, na pará bola, antes do samaritano se depa rar com o ferido, tinham passado por ele, sem o socorrerem, um sa cerdote e um levita. Relembro este pormenor porque, em praticamen te todas as representações pictóri cas da parábola, se podem ver dois vultos, mais ou menos distintos e distantes, afastando-se do lugar onde o assalto ocorreu.

São fundamentalmente dois os tipos iconográficos desta pará bola. Um deles representa o Bom Samaritano reclinado sobre o fe rido, ligando-lhe cuidadosamente as chagas, ou derramando sobre elas o vinho e o azeite de que fala o evangelho. O outro tipo mostra o Bom Samaritano carregando a víti ma para cima de um burro ou de um cavalo (o texto evangélico não

os distingue), a fim de o levar para uma hospedaria.

O quadro que vamos comentar é atribuído a Domenico Fetti, pin tor barroco italiano, nascido em Roma, no ano de 1589, e falecido em Veneza, em 1623. Trabalhou principalmente em Roma, Veneza e Mântua, para cujo duque pintou uma série de pequenas telas que tinham como tema as parábolas evangélicas. Foi influenciado pelo estilo de Peter Paul Rubens e Ca ravaggio, de quem aprendeu a téc nica do claro-escuro. Pelo uso da cor, da luz e da pincelada solta e nervosa revela também influência da escola veneziana.

Como podemos observar, Do menico Fetti opta pela iconografia que representa o Bom Samaritano esforçando-se por colocar em cima de um burro a vítima dos ladrões que descia de Jerusalém para Jeri có. O pintor coloca-o no centro do quadro, pois é o seu gesto enér gico que exemplifica o que Jesus Cristo queria ensinar ao doutor da Lei sobre o amor ao próximo. Não se lhe vê o rosto nem as mãos porque aquilo que verdadeiramen te interessa é o gesto de socorro que qualquer pessoa deve praticar para com aquele que necessita. A figura do Bom Samaritano tem, pois, um significado universal. Ele é a personificação dos gestos de amor. O seu rosto concreto não in

teressa.Vemos, sim, de relance o rosto do homem atacado. Por meio dele se nos comunica expressivamente o estado de desfalecimento em que se encontra. O texto evangé lico diz mesmo que ele ficou semi morto. No braço à volta do pesco ço do Bom Samaritanpo veem-se dois golpes profundos. Isso basta para compreendermos a gravidade dos ferimentos infligidos.

A cena é tão comovente que até o burrinho parece impressio nado. Reparemos em como inclina a cabeça e olha para o seu lado direito, onde o Bom Samaritano carrega o homem com esforço. A sua atenção ao gesto de bondade é deliciosamente reforçada pelo movimento da orelha direita. Tam bém ela aponta para o centro da cena, acentuando que é lá que se encontra o sentido profundo da parábola.Presença quase infalível nes tas iconografias é a do sacerdo te e do levita que passaram pelo moribundo sem se deterem para o socorrer. Domenico Fetti não se esqueceu deles. Como podemos verificar, também aqui se encon tram, do nosso lado esquerdo. O que segue mais à frente, vai a pé. O que o segue monta um cavalo, indiciando o seu status social e lembrando que lhe teria sido fácil transportar o ferido.

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NAREPOUSARPRESENÇA DO OUTRO ENCONTRO DE FÉRIAS

Entre os dias 11 e 14 do passa do mês de julho, a comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em conjunto com al guns pré-seminaristas, reuniu-se na freguesia de Laúndos, Póvoa de Varzim, para realizar, como já é habi tual, o seu encontro de férias anual, podendo cada um experimentar a alegria de repousar na presença do outro.Oprimeiro dia, a segunda-feira, foi reservado para a preparação da residência que iríamos ocupar pro visoriamente e o reencontro entre seminaristas após o término do pe ríodo letivo, o que, evidentemente, tornou propício um ambiente de maior descontração e alegria.

Já o segundo dia, por sua vez, fi cou marcado pela sua agitação, ten do este começado com uma longa caminhada em grupo a diferentes pontos de interesse na região, na companhia do nosso diretor espiri tual. O primeiro dos locais a visitar foi a antiga Igreja de São Pedro de

Rates, antigo mosteiro da Ordem de Cluny ao qual se associa a lenda do martírio do mítico primeiro bispo de Braga (São Pedro de Rates), onde tivemos a oportunidade de contem plar o esplendor e beleza de um mo numentoProsseguindoromânico.viagem, caminha mos em direção a Balasar, onde pudemos visitar a casa onde viveu a Beata Alexandrina e conhecer um pouco mais de sua vida e espirituali dade, profundamente enraizada no amor à Eucaristia, à Paixão de Cristo e a Nossa Senhora.

Após o almoço no local, o nos so próximo destino foi um parque de atividades radicais, o Rates Park, onde atividades como o arborismo ou o slide colocaram a nossa coragem à prova. Por último, este dia ainda foi marcado por uma ida à praia e um churrasco em conjunto, o que nos permitiu refrescar e descansar após horas tão exaustivas de atividade.

O dia seguinte, a quarta-feira, não ficou atrás e iniciou-se com uma

outra caminhada, desta vez ao mon te de São Félix, em Laúndos, no âm bito de um encontro de Formação Humana. O objetivo era, através de momentos de lazer e jogos tradicio nais, permitir à comunidade refletir sobre as suas relações interpessoais e demarcar novos horizontes de me lhoria nesta dimensão.

Nessa mesma tarde, já almo çados, regressamos à praia, onde, mais uma vez, conseguimos nos di vertir em conjunto à boa maneira do verão. Para findar o dia e o encontro, viajamos até ao centro da cidade do Porto para assistir, no interior da Igreja dos Clérigos, a um espetácu lo multimédia intitulado “Spiritus”, bem como percorrer alguns lugares icónicos desta cidade e deixarmo -nos deslumbrar com vistas únicas.

No entanto, e em jeito de nota final, não foram os lugares que visi tamos ao longo destes dias que real mente marcaram as nossas almas, mas as vivências e as gargalhadas que, ainda hoje, ecoam em nós.

SEMINÁRIO MENOR
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No passado dia 17 de julho, realizou-se no Seminário de Nossa Senhora da Conceição o último en contro de pais do ano, que foi tam bém a última atividade do ano letivo 2021/2022, numa clara expressão da comunhão vivida no seio da comu nidade do Seminário, alargada tam bém às famílias dos seminaristas.

Primeiramente, teve lugar o acolhimento, como habitualmen te feito pela equipa formadora, na pessoa do Reitor, o Cón. Mário Mar tins, e também do Pe. Rúben Cruz. Depois de estarem todos reunidos, foi explicada a dinâmica que pedia aos pais que se organizassem por grupos de anos, para ser mais fácil ouvir todos e para que nada fosse esquecido, permitindo avaliar o ano que passou e também as atividades realizadas. Na verdade, no término de cada ano é sempre importante a avaliação, pois é desta forma que podemos sempre melhorar e tam bém perceber o que correu bem e menos bem.

A meio da manhã foi tempo de fazer uma pausa para o lanche, que sempre ajuda no convívio e partilha entre todos, sem esquecer que é tam bém através da mesa que se valorizam as amizades que se foram construindo entre famílias durante todo o ano.

De seguida, foram retomados os trabalhos, sendo o porta-voz de cada grupo convidado a partilhar com todos, de forma resumida, a

avaliação feita, tendo sido referidos aspetos positivos e negativos, de modo a que seja possível melhorar e crescer, procurando também servir cada vez melhor os jovens que pas sam pelo Seminário.

Chegada a hora de almoço, ce lebramos por todos estarmos jun tos e também por esta ser a última refeição partilhada neste ano pas toral em que a comunidade soube ultrapassar todas as dificuldades no apoio mútuo e na certeza de que este é um caminho feito em conjunto.Nofinal da refeição, foi tempo da despedida dos seminaristas mais ve lhos para com os mais novos, sendo também dada uma palavra de força pelos mesmos e também de agrade cimento a todos os sacerdotes e co laboradores por tantos momentos e

esperiências partilhadas e também por servirem sempre generosamen te os seminaristas.

A tarde de domingo ficou marca da pela celebração da ordenação de diaconado de quatro jovens: Bruno André Lopes, Rafael Gonçalves, Tia go Costa e Vítor Couto. No decorrer da Eucaristia, D. José Cordeiro, Ar cebispo de Braga, referiu o amor no serviço, dirigindo-se aos novos diá conos e a todo o povo de Deus, mas também a nós, seminaristas, como futuros servidores de Cristo.

Com esta celebração terminou este encontro e também a última atividade de mais um ano, onde to dos procuramos crescer, aprender, de modo a continuarmos a promo ver uma Igreja sinodal e samaritana, onde todos se sentem acolhidos e amados.

CHAMADOS À COMUNHÃO ENCONTRO DE PAIS7

Ângelo Novais, 12º Ano
SEMINÁRIO MENOR

CAMINHAR COM E PARA OS OUTROS APEREGRINAÇÃOSANTIAGODE COMPOSTELA

O ato de caminhar é, sem dúvida, uma experiência espiritual que nos lança numa inquietude da fonte do sentido. Toda a caminhada é uma es tima na imersão corporal, que muda a nossa relação com o espaço e com os outros. Na verdade, foi com este mote que o 5 º ano iniciou a já tradicional pe regrinação a Santiago de Compostela.

O “caminhar permite este encon tro físico com os elementos, com os odores e a luz, os animais, com os habitantes também, aqueles que en contramos por acaso, aqueles que nos albergam, aqueles com quem parti lhamos uma refeição” (Jean-Paul Kau ffmann). Por isso mesmo, o caminhar permite a viagem da procura de algo e de alguém que, na sua premência, suscita um desejo que não consegui mos denominar.

Ora, caminhar é um memorial da vida, pois, como dizia Georg Simmel, “ruína é lugar da vida, de onde a vida se retirou”. De facto, procurar cami nhar é sempre uma condição para a nossa sobrevivência, porque nos estimula a sairmos de nós e a passar além do confinamento territorial, a caminhar em novas e inesperadas alianças que, neste mergulho espi ritual, permite receber a gratuidade de um abraço estendido e de nos reconhecermos a nós mesmos sob uma outra perspetiva, de uma forma mais autêntica. O escritor americano Henry David Thoreau escrevia que “a esperança e o futuro não residem

nos campos relvados nem nas terras de cultivo, nas cidades nem nas vilas, mas nos impenetráveis pântanos de soloSeguramente,instável”. a realidade do êxo do não é apenas um facto histórico e bélico; ele faz parte da nossa condição existencial, porque caminhar é uma abertura para o tempo habitado, para o lugar em que nos movemos e exis timos.Desta forma, o caminhar é sempre um caminhar com e para os outros. «Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões. / Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo/ Se se recorda dos movimentos migratórios /E das estações. /Mas não me importo de adoecer no teu colo/ De dormir ao relento entre as tuas mãos.» (“Dos Líquidos”, Daniel Faria).

É no caminhar que é construída a balança que nos faz herdar o mundo da vida (Husserl). Realmente, aquilo que nos faz enraizar na vida é a capa cidade de sabermos receber e de ser mos recebidos por aqueles que por ali passam, e que, no seu anonimato, são testemunhas da nossa subida para Je rusalém, (cf. Lc, 9, 51-19,28). Porque, afinal, todos os caminhos se consti tuem no plural, e é punhada por ser uma caminhada para além da nossa existência confortável, tal como escre ve Simone«FuturoWeil:não nos traz nada, não nos dá nada, somos nós que, para o construirmos, temos de lhe dar tudo,

dar-lhe até a nossa própria vida. Mas para dar é preciso possuir, e não te mos outra vida, outra seiva, a não ser os tesouros herdados do passado e di geridos, assimilados, que recriámos.»

Portanto, nesta semana, cami nhamos nessa procura do instante do mistério último, nesta procura que nos faz abeirar do tempo e que, na meta morfose do tempo, nos abre para esse segmento de luz que escapa a toda demonstração lógica que nos permite viver a experiência que franqueia todos os limites. Como diz Carlos Poças Falcão, «Há um rumor de ódio a toda à volta/, mas Deus vem abraçar o nosso abraço».

8 Pedro Fraga, 6º Ano SEMINÁRIO MAIOR

A ALEGRIA DE SER E FAZER COMUNIDADE CELEBRAÇÃO DOS PADROEIROS DO SEMINÁRIO CONCILIAR

Depois das festas da cidade em honra de S. João, a comunidade do Seminário Conciliar de Braga voltou a ter motivos de festa! No dia 29 de junho, dia de São Pedro e São Paulo, o Seminário celebrou com alegria os seus padroeiros.

Este dia, neste ano, revestiu-se de grande significado e alegria. Por um lado, findava mais um ano leti vo e aproximava-se o fim da época de exames; e, por outro lado, com maior júbilo, quatro seminaristas viveram o seu momento de profis são jurada de admissão às ordens sacras: o Bruno Lopes, da paróquia de S. Julião de Calendário, Arcipres tado de Vila Nova de Famalicão; o Rafael Gonçalves, da paróquia de S. Eulália de Oliveira, Arciprestado de Barcelos; e o Tiago Costa e o Vítor Couto, ambos da paróquia de S. Ma

mede de Ribeirão, Arciprestado de Vila Nova de Famalicão.

O momento alto das celebrações foi a celebração da Eucaristia, presidi da pelo Sr. Bispo Auxiliar, D. Nuno Al meida, que na homilia proferida par tilhou uma importante reflexão sobre os padroeiros, salientando também a importância da oração na nossa vida, à imagem dos Santos Apóstolos: “A oração faz-nos amados e permite-nos amar. Acende a luz de Deus, mesmo que seja uma luz pequena e permite -nos avançar. A oração é a força que nos une e combate o isolamento. Sem a oração não se abrem as prisões interiores que nos mantêm agarrados a situações terríveis, por vezes”.

Esta data festiva é sempre mar cada pelo trabalho em equipa. Os vários anos dividem-se e cada qual tem a sua tarefa, concorrendo para

uma preparação briosa do dia dos Padroeiros. Uns decoram o local da festa, outros cuidam da sala de re feições, outros ficam a preparar o jantar, outros preparam as anima ções, outros ainda tratam da arru mação e limpeza. Todos juntos, em comunidade, trabalham e servem para que tudo fique impecável.

Depois da celebração da Eucaris tia, a comunidade reuniu-se à volta da mesa, juntamente com os res tantes colaboradores e professores que assistem na formação dos Semi nários, onde se partilham sorrisos e momentos de alegria, recordando acontecimentos e momentos que foram marcando o ano que finda. E assim se festejou à maneira popular os nossos Padroeiros, com as típicas e tradicionais sardinhas da época dos Santos Populares.

Tiago Nogueira, 6º Ano
9 SEMINÁRIO MAIOR

JUNTOS NO CAMINHO

CAMINHADADEFINALDE ANO

No passado dia oito de julho, a comunidade do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo foi até Ca beceiras de Basto para a tradicional caminhada de final de ano.

Caminhamos ao longo do per curso da Levada da Víbora - assim se denomina o circuito feito pelos seminaristas e pela equipa formado ra – ao sabor da natureza e sempre acompanhados por uma fiel amiga de quatro patas que connosco fez todo o percurso. Durante o trajeto, houve um momento de reflexão para se fazer o balanço de tudo o que se vivenciou no ano prestes a terminar. Na verdade, esta caminhada foi o reflexo do per curso feito ao longo do ano, também

ele com altos e baixos, com zonas de passagem mais fácil ou até de extre ma dificuldade. O que importa é que cada um seguiu o seu ritmo, sem, con tudo, deixar ninguém para trás. Sem dúvida, esta é a imagem do que deve ser uma verdadeira comunidade.

No final, teve lugar uma reunião de avaliação, orientada pela equipa formadora, onde foi feito o balanço de alguns pontos referentes à comu nidade, bem como das atividades realizadas pelos seminaristas. Termi nada a reunião, e ainda antes do al moço, houve oportunidade para se definirem alguns objetivos e para se assumirem compromissos para o pró ximo ano letivo.

O dia estava bastante quente, mas agradável. Sem dúvida, o dia ideal para este momento de con fraternização e para o merecido al moço, em jeito de piquenique, que nos foi trazido por um elemento do Seminário que, infelizmente, se le sionou. Ainda assim, apesar de não poder ter a alegria de acompanhar o grupo na caminhada, contribuiu para a tornar inesquecível.

No fim da caminhada, houve tempo para alguns momentos de la zer em que os formadores, os semi naristas e o professor de desporto, guia do grupo neste desafio, convi veram neste ambiente tão propício à amizade. Tivemos ainda oportuni dade de refrescar o corpo com uns mergulhos na Praia Fluvial do Oural ou para consumir algo refrescante no bar que lá havia.

Se o dia começou em grande, com a celebração da Eucaristia na capela de São Pedro e São Paulo, terminou também de uma forma muito agradável, com o jantar de aniversário natalício de um dos ha bitantes da casa.

Sem margem de dúvida que este dia foi o verdadeiro reflexo do que deve ser, efetivamente, um Seminá rio: uma casa que tem Deus no cen tro da sua vida e que transmite essa alegria de O ter, partilhando-a com todos, independentemente do cami nho que se tenha de fazer ou das difi culdades que terão de se ultrapassar para o percorrer. Uma vida verdadei ramente comunitária e cristã.

Jorge Silva, 1º Ano
SEMINÁRIO MAIOR
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O REGRESSO DAS UNIVERSITÁRIASMISSÕES DO PROJETO SEMENTES A TERRAS AFRICANASPASTORALUNIVERSITÁRIA

O ano letivo 2021-2022 foi, em grande parte, um ano de regresso às rotinas existentes antes da pandemia e o Projeto Sementes, desenvolvido no âmbito da Pastoral Universitária de Braga, não foi exceção. Depois de um 2020 sem missões e de um 2021 com missões apenas nacionais, na Ma deira, o grande desafio do Sementes para o ano letivo que terminou foi o de preparar o regresso às missões in ternacionais em África. Não obstante algumas incertezas e inseguranças pe rante o quadro pandémico que ainda vivíamos, com o avançar do tempo e o evoluir da situação a nível mundial fo mos ganhando mais confiança de que este seria o ano do regresso à norma lidade. E foi isso que aconteceu: 15 jovens partiram em 3 diferentes mis sões para Cabo Verde e Guiné-Bissau, neste verão.

As inseguranças, se ainda as hou vesse, desapareceram quando che gamos às comunidades onde iríamos fazer a nossa missão, pois fomos re cebidos com alegria e de uma forma calorosa por toda a gente. O que mais me surpreendeu no primeiro contac to com a comunidade de Salineiro, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, onde fiz missão, foi a felicidade que partilhavam com a nossa chegada. Durante os primeiros dias, quando ainda nos estávamos a ambientar, fo ram várias as pessoas que nos procu ravam, não só para nos conhecer, mas também para perguntar pelos jovens missionários do Projeto Sementes que por ali tinham feito a sua missão

em anos anteriores.

Não é, por isso, de estranhar que tenhamos sido recebidos como se de família se tratasse. Penso que a aber tura e afabilidade que toda a comuni dade demonstrou para connosco des de o início se deveu às boas memórias que tinham dos grupos passados, o que foi essencial para a nossa inte gração inicial. Porém, acredito que a forma como fomos desempenhando a nossa missão e o espírito tipicamen te acolhedor que caracteriza o povo de Cabo Verde só contribuiu para uma aproximação ainda maior. Ninguém ficou indiferente à nossa presença, de um modo particular, à presença de um grupo de jovens do Projeto Sementes, pois era visível nas nossas visitas do miciliárias às pessoas mais debilitadas da comunidade, já que, enquanto ca minhávamos de uma casa para outra recebíamos inúmeros convites para entrar em casa de outras pessoas. Ainda que não estivéssemos a contar com toda esta hospitalidade, fomos

respondendo à maioria dos convi tes, partilhando histórias e vivências. A cada dia que passava recebíamos mais convites, conhecíamos mais pes soas, mais famílias e mais histórias de vida e sentíamo-nos cada vez mais parte da comunidade. Contudo, sem dúvida que o fator determinante para a nossa integração ao longo de toda a missão foram as crianças que, desde o primeiro dia, corriam para nós de bra ços abertos, sem quaisquer medos.

Partir em missão, sem dúvida, foi uma experiência transformadora e uma oportunidade para viver uma di mensão da hospitalidade e fraternida de que, por vezes, parece esquecida da nossa realidade.

Já em Portugal, fazendo uma re trospetiva da minha missão e das dos meus colegas, é com alegria que pos so dizer que, apesar da pandemia ter mudado muitas coisas no mundo e nas nossas vidas, não mudou em nada a essência das missões do Projeto Se mentes em África.

Beatriz la Féria, Curso de Medicina, UMinho
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JMJ’23: DOS SÍMBOLOS REALIDADE

O tempo de férias terminou e são ago ra retomadas todas as atividades. A vida que nos últimos tempos foi tranquila, agora apresenta-se cheia de solicitações. No meio desta azáfama, também as atividades pasto rais são retomadas e a consciência de que estamos cada vez mais perto de receber os símbolos das JMJ, de viver a experiência de tê-los perto da realidade em que estamos inseridos e de ser testemunhas da fé que nos anima a continuar a caminhar rumo às JMJ’23. A alegria e a fé n’Aquele em quem acreditamos não nos faz baixar os braços, antes, anima-nos a seguir em frente e a pre parar o caminho para viver estes momentos da melhor maneira.

Entre finais de janeiro e finais de fe vereiro teremos os símbolos das JMJ em itinerância pelos nossos arciprestados e, logo depois, de 26 a 31 de julho de 2023, teremos os dias na Diocese (pré-jornadas).

Dias estes que culminam com as JMJ’23 em Lisboa. Muito trabalho já tem sido desen volvido para que estejamos todos a 100% para este encontro internacional de mani festação de fé, mas muito ainda há para pre ver e realizar. Neste sentido, continuamos a apelar para que cada um, na medida das suas possibilidades, se possa inscrever como

FAMÍLIAS DE ACOLHIMENTO e/ou como VO LUNTÁRIOS. Lembramos que Braga acolherá cerca de 20.000 jovens durante os dias na Diocese e, por isso, contamos com o auxílio de todas as famílias. Estas, aceitando este desafio pastoral e de evangelização, deve rão inscrever-se mostrando a sua disponi bilidade para: 1. Providenciar dormida para, pelo menos, dois jovens durante os dias na Diocese; 2. Disponibilizar um local onde os jovens possam fazer a sua higiene diária; 3. Garantir os pequenos-almoços e, pontual mente, uma outra refeição principal; 4. Se possível, facilitar o transporte de e para os pontos de encontro (de manhã e ao final do dia); 5. Comunicar e dialogar com os jovens, mesmo que não domine a língua de origem, deve procurar outras formas de interação. Ao longo destes dias, sobretudo para os momentos de grandes atividades e/ou ce lebrações conjuntas, serão também preci sos voluntários que, em estreita articulação com o DAPJ, serão os grandes auxiliadores para que tudo corra pelo melhor durante este tempo especial para toda a Juventude e IgrejaParaArquidiocesana.esclarecimento de dúvidas e/ou mais informações, cada um poderá contac tar o seu pároco ou a sua Equipa Arciprestal.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821

Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens
Tiragem:DepósitoN.ºvozdeesperanca@fazsentido.ptseminariomenor@fazsentido.ptwww.fazsentido.ptdeRegisto:115288LegalN.º40196/914000Exemplares
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