Voz de Esperança Nov/Dez 2022

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CHAMADOS PELO NOME

“A vocação é como o canto: quando menos esperamos, somos surpreendidos por uma melodia que, de qualquer lado, desperta a nossa atenção.”

Ir. Laurinda Faria Pág. 2 e 3

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues

XXIV - 6ª Série | Nº 91 | Bimestral

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELOS SEMINÁRIOS

IGREJA DE S. PEDRO E S. PAULO (SEMINÁRIO CONCILIAR DE BRAGA)

4 DE NOVEMBRO | 21H15

IGREJA DE S. JOSÉ (FAFE)

11 DE NOVEMBRO | 21H15

«EFFATHÁ»: ABRAM-SE OS OLHOS, OS OUVIDOS E O CORAÇÃO!

“Em profunda vigilância, entendemos a primordialidade de adestrar os passos futuros, enquanto a Luz nos indica o caminho. A via da graça pede-nos abertura de coração, visão clara e escuta atenta.”

João Conde Pág. 9

EDITORIAL

DE OLHOS ERGUIDOS E COM A PRESSA DO AMOR… PARADARTESTEMUNHO DECRISTO!

As últimas seis edições do jornal Voz de Esperança procu raram destacar a celebração dos 450 anos de existência do Se minário Conciliar de Braga. Na mesma linha, e para coroar de forma bela estas comemorações, acontecerá entre os dias 16 a 19 de novembro um Congresso Internacional sobre a pro blemática dos Seminários Católicos e subordinado ao tema “Erguendo os olhos e vendo”.

Por sua vez, toda a Igreja em Portugal se anima com a aproximação da Jornada Mundial da Juventude, procurando interpelar a todos, particularmente os jovens, para a mesma coragem de Maria que “se levantou e partiu apressadamente” (cf. Lc 1, 39). Em comunhão com este grande acontecimento, também o Voz de Esperança procurará promover este cami nho de preparação, contando com testemunhos de diferentes jovens da nossa Arquidiocese, já a partir da presente edição.

Deste modo, e porque “a Igreja deposita uma grande con fiança nos mais jovens e o apelo a que sejam capazes de dar um testemunho alegre da fé assenta no reconhecimento das suas capacidades, energia, audácia e criatividade”, na certe za de que “a todos e cada um, Jesus Cristo, o grande amigo, chama a uma vocação”, como refere D. António Augusto na Mensagem publicada a propósito da Semana de Oração pelos Seminários de 2022, sob o tema “Não te envergonhes de dar testemunho de Cristo” (cf. 2 Tm 1, 8), também a secção Visão se apresenta agora com uma nova configuração, com um con junto de orientações muito práticas e concretas para um des pertar vocacional e para um processo de discernimento voca cional, através de um conteúdo interpelativo, claro e objetivo. De facto, e como menciona este mesmo texto Visão, todos os conteúdos aqui publicados, que narram o quotidiano dos nossos Seminários arquidiocesanos, procuram expressar que “o desejo de ir mais além, alcançar o impossível, semear a jus tiça e a fraternidade, construir um mundo melhor, acusam o toque de Deus, a fresta por onde Ele quer entrar para encher de beleza e verdade a nossa vida”, pois “este chamamento à felicidade é a vocação”.

Ano
1,00 €
NOV - DEZ / 2022

CHAMADOS PELO NOME

A secção visão vai oferecer um texto sequencial sobre a vocação. Se julgas que é coisa de padres e freiras, para de pensar. Vocação é assunto meu, teu, de todas as pessoas em todas as idades e circuns tâncias.

em forma de pregão, apesar de ser a notícia mais im portante que todos esperamos.

Quando perguntamos «quem sou eu? para que serve a minha vida?», estamos a interrogar-nos sobre a origem e o fim da nossa história pessoal. Estas per guntas são o primeiro passo no caminho da vocação: desafiam-nos a identificar o que em nós há de mais humano, e sobre o qual se inscreve o divino que envolve a vocação.

Vocação não é o que eu gosto ou de cido fazer (isso pode ser profissão!). Não é um atalho ao lado da estrada, por onde alguns enveredam para escapar aos in convenientes do caminho. Vocação é um horizonte de vida e esperança que estru tura a nossa existência e lhe dá um senti do totalizante; é o caminho da felicidade. Toda a gente é chamada. Todos temos uma missão. O Papa Francisco di-lo de forma mais incisiva: somos uma missão.

Ouvir o próprio nome

“Vocação” deriva do termo latino vocare, chamar. Temos um nome que nos identifica e faz existir peran te os outros, dizemo-lo com uma entoação especial. Quando alguém nos chama pelo nome, sentimos cer ta emoção e ficamos à espera de ouvir algo mais. A isto chama-se vocação.

A vocação é como o canto: quando menos espera mos, somos surpreendidos por uma melodia que, de qualquer lado, desperta a nossa atenção. Antigamen te havia os pregoeiros que iam pelas ruas e caminhos gritando as notícias de interesse geral, local ou até pessoal. O chamamento vocacional, porém, não surge

Horizonte de felicidade

Pensando na vocação em ambiente de fé cristã, diremos que se trata do chamamento de Deus à fe licidade plena. O projeto vocacional começa quando, ao ouvir o nosso nome, escutamos com o coração, amamos com a mente, acariciamos com os olhos e seguimos com as mãos. Tudo ao contrário das coisas habituais, num movimento contracorrente que vai ga nhando significado.

Os estímulos e propósitos da cultura atual convi dam-nos a buscar o aparentemente mais fácil e gra tificante. Este encantamento visceral confunde-nos facilmente dificultando encontrar a verdadeira orien tação da vida.

Ir. Laurinda Faria Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus
VISÃO 2

O mito da criação que lemos no Génesis (Gn 1-2) mostra que Deus tem um sonho para cada um de nós, porque nos ama e quer felizes. O seu projeto está inscrito na nossa humanidade marcada pela fraque za e vulnerabilidade, mas também pela insatisfação e busca de infinito. O desejo de ir mais além, alcançar o impossível, semear a justiça e a fraternidade, cons truir um mundo melhor, acusam o toque de Deus, a fresta por onde Ele quer entrar para encher de beleza e verdade a nossa vida. Este chamamento à felicidade é a vocação.

O segredo da descoberta

O chamamento de Deus surge, normalmente, como o toque suave da brisa da manhã, sem sinais ex traordinários, e concretiza-se em diferentes modos de

vida. É um caminho de paz e alegria, não isento das di ficuldades inerentes à condição humana, mas com um final feliz, porque não caminhamos sozinhos. Aquele que nos chama vai connosco, e temos a companhia de outros chamados.

Viver a vida como vocação exige ter-se deixado encontrar por Jesus Cristo, como aconteceu com os discípulos de que fala o Evangelho. A relação de pro ximidade, a escuta dos seus ensinamentos, a confian ça nas horas da certeza e da dúvida, faziam-lhes en tender melhor as suas palavras. Jesus chamava pelo próprio nome e usava o imperativo: vem, segue-me, deixa, vai, faz… O segredo da descoberta vocacional está nesta proximidade com Cristo. Só Ele pode dar sentido pleno às nossas escolhas e fazer-nos intuir a missão que nos confia.

As perguntas «onde me sentirei melhor, como poderei ser mais feliz?» não conduzem à desco berta da vocação. Não nascemos para viver incli nados sobre nós próprios, mas para olhar à nossa volta. Perguntemos: Onde e como poderei servir melhor, dar mais felicidade aos outros?

Acertar na decisão é difícil, pois vivemos numa época de enganos e de poucas luzes. A prolifera ção de vozes obscurece a mente e paralisa o co ração. Então, é momento de parar, olhar, escutar, orar, voltar à pergunta original: «Quem sou eu? Que sentido tem a minha vida?»

Enquanto esperamos pelo próximo texto, po demos perguntar-nos: Que importância tem, para mim, sentir a vida como vocação? Acredito que tenho uma missão pessoal a realizar no mundo? Que emo ção experimento ao ouvir Deus dizer o meu nome?

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A TOALHA DE S. FRANCISCO

UMA INTERESSANTE ICONOGRAFIA

Tive, recentemente, oportuni dade de observar uma pequena es cultura de madeira que representa S. Francisco de Assis. A princípio, duvidei de que se tratasse do fun dador dos franciscanos, embora envergue o caraterístico hábito cas tanho, ajustado por uma corda com três nós. Estranhei, sobretudo, a ausência das chagas nas mãos, nos pés e no lado direito do tronco. São as caraterísticas iconográficas que permitem identificar, de imediato, o primeiro estigmatizado do cristia nismo. A ausência de estigmas, con tudo, tem uma explicação lógica. É que a estatueta representa, como veremos, um episódio da vida do santo anterior à estigmatização.

O que mais me intrigou na es cultura foi um pedacinho de tecido pendente sob o braço direito, como podemos observar na figura 1. Nas pesquisas que fiz para ver se existi ria outra escultura com os mesmos elementos iconográficos, encontrei algumas parecidas, mas nenhuma que se pudesse identificar com esta.

Foi grande a minha surpresa quando contactei com a Tavola Bar di (fig. 2), assim chamada por se encontrar na capela da família Bar di, na igreja franciscana de Santa Croce, em Florença. É uma pintura do séc. XIII. Representa S. Francisco

de Assis, de pé, já estigmatizado, ostentando na mão esquerda um livro, atributo dos apóstolos, dos fundadores de ordens religiosas e dos doutores da Igreja.

Na Tavola Bardi, à volta da fi gura do santo, podem ver-se 20 pequenas pinturas que evocam outros tantos episódios da sua bio grafia. Observando com atenção, verificamos que, no lado direito de quem olha, na sétima pintura, con tando a partir de cima, se encontra representado um célebre episódio da vida de S. Francisco, aquele em que lava as chagas dos leprosos. O santo inclina-se para um deles, com os pés mergulhados numa bacia, e pode ver-se, pendendo do cordão, do seu lado direito, uma toalha branca, com a qual, obviamente, o enxugará (fig. 3). O sublime ges to de amor é contado por Tomás de Celano na Vida de S. Francisco, Livro I, cap. VII: “Pouco depois, o verdadeiro amante da santa humil dade, mudou-se para um lugar de leprosos e com eles vivia, servindo -os a todos com solícito cuidado por amor de Deus, lavando as suas carnes e limpando-lhes a podridão das chagas” (traduzo da ed. caste lhana da BAC – Biblioteca de Auto res Cristianos).

A semelhança dessa toalha com a da escultura que estamos a anali

sar é flagrante. Sem pretendermos ser categóricos, atrevemo-nos a dizer que estará na Tavola Bardi a origem da caraterística iconográfica da toalha que tanto nos encantou.

Uma iconografia tão específica leva-nos a pensar que poderia des tinar-se à igreja de alguma Miseri córdia ou leprosaria, já que chama a atenção para a obra de misericór dia que é tratar dos doentes.

Aproveitamos a oportunidade para esclarecer os leitores acerca do epíteto de “seráfico” atribuído a S. Francisco e à própria ordem religiosa por ele fundada – a or dem seráfica. O epíteto advém-lhe de um verso de Dante na Divina Comédia. No volume terceiro, O Paraíso, vv. 37-39, referindo-se a S. Francisco e a S. Domingos, escre ve o poeta: “L’un fu tutto serafico in ardore; / l’altro per sapienza in terra fue / di cherubinica luce un splendore” (Um foi todo seráfico no ardor, / o outro, em sabedo ria, foi na terra / um esplendor de querubínica luz.” O ardor é o amor. Portanto, S. Francisco é seráfico pelo amor a Cristo. Segundo Dio nísio Areopagita, no tratado A Je rarquia Celeste, é próprio dos se rafins arderem de amor. Por isso, são representados todos pintados de vermelho ou só com as penas das asas vermelhas.

ARTE
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5 Figura 1 Figura 2 Figura 3

COLHEITA

RUMO

A HORIZONTES LARGOS DE SERVIÇO E DE MISSÃO ENCONTRO DE PROGRAMAÇÃO DO ANO DO SEMINÁRIO MENOR

Ângelo Novais, 12º Ano

Nos passados dias 24 e 25 de se tembro, a comunidade do Seminá rio de Nossa Senhora da Conceição reuniu-se nas Marinhas, Esposende, para o Encontro de Programação do ano letivo de 2022/2023, num ambiente de colheita alegre e par tilhada de afetos e sonhos, rumo a horizontes largos, como são os do serviço e da missão.

A saída de Braga realizou-se na manhã de sábado, dia 24, logo após a oração de laudes. A primei ra paragem foi em Barcelos, onde a comunidade teve oportunidade de participar nas vindimas, sobretudo na parte da colheita. Já o ano pas sado o Seminário participou nesta atividade, sendo a mesma sempre feita com grande entusiasmo, muito pelo sentido de participação, parti lha e amizade a que a mesma nos convida.

Depois de almoço, a viagem prosseguiu até às Marinhas, onde cada um se alojou nos respetivos quartos. As três equipas em que es tão divididos os elementos da comu nidade, liturgia, logística e tempos livres, apresentaram o seu plano de atividades para o próximo ano. Logo após a apresentação de cada equi pa, foram expostas as regras do pla no educativo do Seminário.

O resto da tarde foi aproveitado por toda a comunidade para dedicar ao lazer, como jogar futebol e ver

televisão. Ao fim da tarde, os se minaristas foram até à praia, onde, individualmente, rezaram as Véspe ras I de Domingo. À noite, antes do jantar, assistiram ao jogo da Seleção Nacional de Futebol que defrontou a Chéquia. Após o jantar, desfruta ram de um confortável momento em comunidade, saboreando crepes com chocolate e gelado, preparados pela equipa formadora, ao som de um concerto em direto realizado em França e trans mitido pela te levisão.

No dia seguinte, do mingo, depois do pequeno -almoço, a co munidade do Seminário diri giu-se à Igreja Paroquial de São Miguel das Marinhas, onde teve lu gar a celebra ção da Eucaris tia dominical, presidida pelo Reitor do Se minário, o Sr. Cón. Mário Martins, tendo com ele con celebrado o Sr.

Padre Rúben Cruz, também forma dor do Seminário, e o Sr. Padre Ave lino Peres Filipe, o pároco.

Depois da celebração, iniciou-se a viagem de regresso até ao Semi nário, em Braga, onde os pais dos seminaristas os esperavam para que cada um pudesse disfrutar do resto do fim de semana em ambiente fa miliar, na sua respetiva casa.

SEMINÁRIO MENOR
PARTILHADA
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DA PROVOCAÇÃO AO ENCONTRO PRIMEIRO ENCONTRO DE PRÉSEMINÁRIO JOVEM

No passado dia 22 de outubro, a comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição recebeu jo vens pré-seminaristas, que vieram ao Seminário fazer a sua experiência de adesão à pessoa de Jesus, discer nindo sobre a vocação ao sacerdó cio e procurando conhecer como é o dia-a-dia nesta casa, deixando-se provocar e encontrar.

O dia começou pelas 9h30, com o acolhimento, onde foi apresenta do o novo hino do pré-seminário, e o programa do novo ano de ativida des, desta feita sob o tema “A arte de seguir Jesus”. Os jovens recebe ram um pequeno caderno, onde po dem fazer as suas anotações sobre as diferentes dinâmicas.

A fase inicial da formação passou por uma pequena exposição, onde a professora Maria José e o seu alu no António apresentaram a arte de transformar diferentes materiais re cicláveis que, à partida, seriam ape nas encaminhados para o lixo, em esculturas que podem ter grande significado.

Seguiu-se uma fase de execução, onde cada jovem pôde criar a pró pria escultura através de rolhas, gar rafas, cartões colados, entre outros. Desta atividade saíram bons tra balhos, desde helicópteros, torres, pontes, árvores, animais, alteres, ampulhetas, etc.

Após o almoço, que todos apre

ciaram, houve um momento de ex posição dos trabalhos e cada um pôde dar um significado ou uma in terpretação aos mesmos.

Depois deste tempo de reflexão sobre as interpretações dos objetos de cada um, seguiu-se um momento de oração com o principal objetivo de nos reconhecermos como barro nas mãos do oleiro, que é Deus, com simplicidade e humildade.

Em comunidade, todos partici param no jogo de futebol, parte que todos destacam como algo bom, para fortalecer as relações entre pré-seminaristas e seminaristas.

Este encontro de pré-seminário terminou com o lanche onde, dando votos de bom regresso a casa e cum primentos aos respetivos párocos e familiares, foi lembrado o encontro seguinte, agendado para o dia 19 do mês de novembro.

SEMINÁRIO MENOR
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Marco Magalhães, 11º Ano

O INQUIETANTE ESTADO DE RECOMEÇO SEMANA DE INTEGRAÇÃO DO TEMPO PROPEDÊUTICO

“Recomeça... se puderes, sem an gústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade. E, nunca sa ciado, vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo o logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura onde, com lucidez, te reconheças...”.

Era assim que clamava, no passado século, o poeta Miguel Torga, talvez em resposta a uma sucessiva e demorada contemplação da paisagem transmon tana que, na sua aridez, metaforiza o trabalho daquelas gentes que, sol após sol, recomeçavam as lides rotineiras de cada dia, esperando a novidade de um amanhecer sempre novo.

Com este espírito, também o Tem po Propedêutico, este ano composto por quatro jovens, iniciou a sua Sema na de Integração, tendo esta decorrido no contexto da comunidade alargada do Seminário Conciliar de Braga. Ao longo de seis dias, compreendidos en tre domingo, dia 4, e sexta-feira, dia 9 de setembro, estes quatros seminaris tas experienciaram diferentes ativida des e propostas que permitiram uma melhor adaptação a uma nova realida de formativa e contextual.

As atividades que decorreram de segunda a quarta-feira procuraram dar sentido ao chavão para eles previsto, “Conhece-te. Aceita-te. Supera-te”, com o objetivo de despertar um de sejo de autoconhecimento e de acei

tação pessoal, de modo a conviveram harmonicamente consigo mesmos e com os pares que os rodeiam. Antes da partida dos colegas mais velhos para retiro, toda a comunidade do Semi nário Maior assinalou o início do Ano Académico e Letivo com a celebração da Eucaristia, presidida por D. Nuno Almeida, bispo auxiliar da Arquidioce se de Braga, que, também em repre sentação de D. José Cordeiro, saudou os presentes e elencou os aspetos que considera serem os alicerces da vida comunitária nesta casa. Na tarde deste dia, houve ainda tempo para visitar a Faculdade de Teologia da UCP – Braga, local onde são lecionadas as cadeiras que, em parte, constituem a forma ção académica de um jovem teólogo. No dia seguinte, terça-feira, teve lugar um encontro com a Prof.ª Dr.ª Ângela Azevedo, com a perspetiva de promo ver um maior autoconhecimento que propicie uma relação harmoniosa e saudável entre os elementos do ano. Após o almoço deste dia, teve lugar a primeira parte da recoleção espiritual, orientada pelo Pe. Vítor Ferros, CSSp, que procurou fazer uma reflexão acer ca da verdade e transparência necessá

rias para um pleno conhecimento de si próprio. O encontro com os recém -ordenados diáconos, os primeiros a frequentar, em Braga, o Tempo Prope dêutico, foi espaço e tempo para uma troca de experiências e testemunhos entre aqueles que partem desta casa e aqueles que agora chegam para consti tuir comunidade neste ano.

“E tu, o que queres ver?” foi o tema que nos acompanhou no dia de quinta -feira, iniciado com um pequeno diálo go com o Pe. Pedro Sousa, relativo às dimensões da vida comunitária que se esperam trabalhar ao longo deste ano. Já o dia de sexta-feira esteve sujeito ao slogan “No caminho, habita a promes sa de não ficarmos iguais...”, no qual se destacou a Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial das Missões 2022, a decorrer no próximo dia 23 de outu bro, assim como outras passagens da Sagrada Escritura que apontam chaves e caminhos a delinear ao longo deste tempo.

Assim, no meio de tantas ativida des e contextos, resta o mote para a vivência em Igreja no mundo, hoje: vi ver reconhecendo que Deus nos ama “inteiros, não perfeitos!”.

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SEMINÁRIO MAIOR

«EFFATHÁ»: ABRAM-SE OS OLHOS, OS OUVIDOS E O CORAÇÃO!

A pele em tom escurecido, pelo ardente sol de verão, o corpo tem perado, dos cálidos dias de agosto, e o coração enternecido na afeição salutar da casa familiar. Quem nos viu, assim chegar de sorriso no ros to, descrevera-o perfeitamente. Em olhares atenciosos e comprimentos fraternos vincamos a amizade, que vivia em saudade do tempo ausente. Então, para imergir vocacionalmente no ano que nos é dado, abrimos o coração ao Espírito, numa semana de Retiro Espiritual.

As orientações eram distintas, mas a disposição interior asseme lhava-se. Logo, toda a comunidade partiu em busca de água viva, para que no peito a terra árida fosse trans formada em prado reverdecido. Aos seminaristas dos 5º, 6º e 7º anos foi possível penetrar na solitude do

Mosteiro Beneditino de Santa Maria de Oseira. À luz clara da montanho sa paisagem bucólica, que desponta num olhar exterior, apuramos os sen tidos e aprimoramos as imagens de Deus. Em berços de ramagens fron dosas, que a mãe natureza oferece, reclinamos o corpo, para diluir a visão sobre a criação e abrir os sentidos à oração cósmica. Pelo princípio chega mos ao centro.

Neste sentido, com indicações de São Bento, na regra que escrevera, descemos a escada da humildade, em integral obediência, para tocar na fímbria silenciosa do próprio inte rior. Pela escuta do orientador, o Pe. Hermenegildo, e dos louvores que ecoam das orações dos monges, in corporamos a via contemplativa, em permanente louvor a Deus. Em pro funda vigilância, entendemos a pri

mordialidade de adestrar os passos futuros, enquanto a Luz nos indica o caminho. A via da graça pede-nos abertura de coração, visão clara e es cuta atenta.

Assim, em cortês saudação, das aves migratórias, que na aurora voli tavam os campanários da igreja, dei xámos a casa que nos hospedou, com um profundo sentimento de grati dão. Destes dias levámos um saboro so paladar e o desejo de querer sole nizar os gestos e ações, que marcarão o ritmo diário. Nesta resiliente cami nhada de discernimento, enraizámos a relação com Cristo e saboreamos os mistérios trinitários. Na verdade, esta primeira semana de setembro serve de mote para o tempo vindoiro que viveremos. Com o Espírito de Deus esperamos abrir horizontes de felici dade, que brotam de Jesus.

9 SEMINÁRIO MAIOR
João Conde, 7º Ano

DA(S)

À FORÇA DA COMUNHÃO ENCONTRO DE PROGRAMAÇÃO ANUAL DO SEMINÁRIO

CONCILIAR

De 23 a 25 de setembro decorreu no Seminário Conciliar o fim de sema na de programação anual, que teve como mote uma reflexão sobre a “fra gilidade”.

Assim, na noite do dia 23, deu-se início a três dias de preparação para o novo ano letivo com a visualização do filme “Cafarnaum”, que serviu de in trodução ao tema proposto para este encontro.

O dia 24 foi ocupado com reuniões matinais, onde se pretendia que cada um refletisse sobre as suas atitudes perante a fragilidade do outro, tanto a nível do grupo como individualmente. Após um fecundo debate, foram de lineados alguns pontos orientadores para o ano e que deverão ser tidos em conta pelos presentes como aspetos a melhorar.

Da parte da tarde, os seminaris tas rumaram em direção à casa de São Roque, no Porto, onde tiveram a oportunidade de apreciar a exposição “Warhol, pessoas e coisas”, composta

por peças de media art de variados autores. Aqui também nos foi possí vel apreciar a beleza de um imenso e aprazível jardim, ambiente extrema mente propício a uma saudável con fraternização com todos os elementos desta comunidade, particularmente com aqueles que ingressaram recen temente na casa.

Seguiu-se uma visita à Torre dos Clérigos, no centro do Porto. No espa ço interior da Igreja dos Clérigos, pu demos apreciar a exposição “Spiritus”, exposição esta mais sensitiva, onde se destacam as sensações visuais e auditivas. Realmente, é de ressaltar o modo como se procurou tirar par tido deste espaço conciliando, com o recurso a técnicas audiovisuais, as diferentes formas de arte: a literatu ra, a arquitetura e a tecnologia. O dia terminou com um pequeno convívio que se seguiu ao jantar, e que contri bui, uma vez mais, para a integração dos novos alunos e também para for talecer os laços de amizade existentes

entre aqueles que já faziam parte da nossa comunidade.

O último dia foi dedicado a um torneio de futebol, onde participaram algumas equipas formadas pelos se minaristas, e que decorreu num am biente de comunhão e boa disposição que desejamos que permaneça na nossa comunidade ao longo de todo este ano letivo.

Verdadeiramente, o fim de sema na de programação é muito mais do que uma viagem feita pela comunida de; é um dos momentos cruciais para se iniciar um ano letivo que se pre tende que decorra com tranquilidade e com responsabilidade, não só por que nos ajuda a definir as metas que pretendemos alcançar ao longo do nosso percurso, mas também porque proporciona um momento de união e permite que esta comunidade se mantenha coesa e, deste modo, inicie uma nova etapa com a certeza de que, no seu seio, existem valores e atitudes que devemos cultivar.

Manuel Matias, 3º Ano
SEMINÁRIO MAIOR
FRAGILIDADE(S)
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A CAMINHO DA JMJ’23…

A caminho da JMJ’23, partilha mos o testemu nho da Catarina Carneiro, uma jovem da paró quia de S. Cristó vão de Cabeçudos, Arciprestado de Vila Nova de Famali cão. A Catarina já viveu a experiência de participar numa JMJ, em 2016, na Polónia, e considera-se “uma jovem sonhadora, que acredita na possibi lidade de uma mudança na Igreja”, esperando que esta conte ainda com “mais jovens como principais impul sionadores”.

1. Tendo já participado numa JMJ, o que mais te marcou nessa expe riência?

A minha principal motivação para a participar nas JMJ’16, na Polónia, era ter um contacto mais próximo com o Papa Francisco, mas com o passar dos dias nas JMJ, rapidamen te, outras motivações se associaram: a hospitalidade e enorme carinho das famílias de acolhimento; a ex periência e crescimento de fé que as JMJ proporcionam aos jovens; e a capacidade de interajuda que surge no grupo em momentos difíceis (re cordo-me, ainda hoje, da enorme ca minhada que fizemos e, também, da

troca de barras de cereais, e outros alimentos, que íamos fazendo, com o objetivo de que todos chegássemos ao fim).

2. Que importância consideras que um Grupo de Jovens pode ter no seio de uma comunidade paroquial?

Um Grupo de Jovens, no seio de uma comunidade paroquial, é o modo de assegurar a continuidade da mesma.

O caminho sinodal fez-nos per ceber que, realmente, não podemos continuar a ser Igreja segundo as normas e/ou motes do passado. Nós, jovens, temos vontade de arriscar mudar, aprendendo com os mais sá bios, adequando os ensinamentos à nossa juventude. Nós, jovens, quere mos fazer/ser parte da revolução que a Igreja tanto precisa; queremos ser voz nas nossas comunidades, dando do nosso tempo aos outros. Quere mos ser, tal como nos dizia São João Paulo II, “santos modernos, santos do século XXI, sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres e compa nheiros”.

3. Maria, a Senhora da Visitação, dá o mote para a temática das JMJ’23. De que modo te parece que o seu testemunho pode hoje influenciar o rumo da vida de um jovem?

Considero-me uma jovem sonha dora, que acredita na possibilidade de uma mudança na Igreja, tendo, ainda, mais jovens como principais impulsionadores. Tal como a Senho ra da Visitação, levou ajuda e apoio à sua prima Isabel, nós jovens também somos capazes do mesmo.

Só precisamos de trocar as séries, as consolas, os computadores e as televisões, por um par de sapatilhas e pelos caminhos da nossa paróquia; e trocar algumas festas e/ou ativida des, por um encontro às 18h00, na sala do grupo de jovens.

Há pressa no ar, mas nós, jovens, precisamos de ter pressa em asso ciarmo-nos à mudança, e querer ser mudança!

4. O que esperas da JMJ’23?

Acima de tudo, espero que es tas JMJ’23 sejam um momento de encontro(s); de união e partilha; de crescimento espiritual e humano; de alegria e de transformação. Que todos os jovens que participarão nas JMJ venham capazes, e com vontade, de arriscar fazer parte da revolução, positiva e inovadora, que a Igreja precisa, a começar pela paróquia de cada um. Não deixemos que nos roubem a nossa juventude, mas não queiramos ser jovens indiferentes, do século do “tanto faz”.

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ESTAMOS CONVOCADOS!

Na reta final do caminho organizativo e pastoral em direção às Jornadas Mun diais da Juventudes, multiplicam-se contactos, perguntas e a antevisão de um encontro jovem que será bem mais do que um momento de festa e partilha de experiências e culturas. De todo o mundo, os jovens têm contactado com o desejo de partilhar com a nossa Arqui diocese, não apenas as JMJ em Lisboa, mas também os dias de preparação que as antecedem. Este desejo surge em consequência de experiência de parti lhas de fé feitas em anteriores JMJ e da vontade de, numa perspetiva multicul tural, viver este momento de encontro com Deus de maneira especial. Esta é uma oportunidade singular para toda a Igreja e, de modo particular, para a Igreja Bracarense. No entanto, estar à altura de responder aos desafios deste caminho pastoral, implica trilhar um caminho conjunto de articulação, onde cada um desempenha um papel único e imprescindível para que as JMJ e os Dias na Diocese (DND) decorram da melhor maneira e sejam, verdadeiramente, pro pícios ao encontro com Deus e à partilha de fé. Assim, todos estamos convoca

dos a entrar neste ‘comboio’ pastoral e organizacional! É tempo de pensar em inscrever-se – seja como voluntário, seja como família de acolhimento durante os DND, seja como participante. Como fazê-lo? Nada mais simples! Bastará seguir o mesmo caminho dos jovens de todo o mundo que procuram vir aos DND – bastará que cada um contacte a sua equipa arciprestal. Esta é a primeira instância para a articulação com a orga nização central da Arquidiocese e com o plano nacional das JMJ.

Assim, quem quiser inscrever-se e/ou tiver conhecimento de algum grupo ou paróquia estrangeira, que deseje viver os DND na nossa Arquidiocese, deve contactar / pedir para contactar as equipas arciprestais, uma vez que, depois, será a Arquidiocese a organizar a distribuição dos jovens pelos diferentes arciprestados. Apenas juntos consegui mos, desde já, testemunhar a fé que nos move: uma fé capaz de acolher e de se dar. Este é o momento de responder à convocatória pastoral das JMJ e, sem demora, fazê-lo, como Maria, apressa damente

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Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt

N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91

Tiragem: 4000 Exemplares

Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens
PASTORAL DE JOVENS
JMJ’23:
SUPLEMENTO

O seminário, um laboratório de esperança para o futuro

A boa oportunidade da celebração da semana dos Seminários diocesanos na Igreja pre sente em Portugal, de 30 de outubro a 6 de novembro, sob o tema: «não te envergonhes de dar testemunho de Cristo (2Tim 1,8)», desafia-nos a erguer os olhos e ver o Seminário como um laboratório de esperança para o presente do futuro. Igualmente nos convoca a comemo ração dos 450 anos da fundação do Seminário Conciliar de Braga.

A esperança é um tesouro raro e frágil. Temos necessidade de uma grande reserva de esperança e precisamos de uma enorme mobilização afetiva orante de todo o povo santo de Deus.

S. Paulo exortou a Timóteo a reavivar o dom recebido pela imposição das mãos e não ter medo ao testemunhar a Jesus Cristo: «Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de for taleza, de caridade e moderação» (2Tim 1,7). Hoje é preciso voltar a recordar a cada cristão, a fim de ser um discípulo missionário sem medo. Todavia, o testemunho é precedido da oração e do sentir-se chamado e chamar.

O tempo que vivemos não pode deixar de fazer-nos refletir também sobre as nossas res ponsabilidades, enquanto crentes e chamados a testemunhar o dom da fé e a disponibilidade ao chamamento de Deus e da sua Igreja.

Numa Igreja toda vocacional, sinodal e samaritana, todos somos corresponsáveis por to das as vocações ao presbiterado, ao diaconado, à vida consagrada e ao matrimónio.

Aos jovens e, nomeadamente, aos jovens seminaristas, reafirmamos que o amor é o sen tido pleno da vida. Só o amor transforma. Não tenhamos medo. A nossa vocação é a esperança; o medo é o maior obstáculo da esperança.

Às vezes perdemos o entusiasmo, mas é sempre tempo de recomeçar. Experi mentemos na oração, no chamamento, no testemunho e no seguimento de Cris to «a doce e confortante alegria de evangelizar» (São Paulo VI).

Todos somos convidados a rezar por todas vocações, a contribuir para a vida quotidiana dos seminaristas e sobretudo para a melhor formação hu mana, espiritual, comunitária, pastoral e intelectual nos Seminários. Bem sabemos que esta formação depende da oração e da generosidade das famílias e das comunidades cristãs.

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“Uma sede que se torne o mapa e a viagem”

Acolher bem é típico de Fafe, considerada, por isso, a “sala de visitas do Minho”. Por isso, é com alegria que acolhemos, não só ao longo de uma semana, mas ao longo de um ano, os nossos Seminários Arquidiocesanos. Ainda para mais em ano de especial jubileu pela celebração dos 450 anos do nosso Seminário Conciliar de S. Pedro e de S. Paulo.

O nosso arciprestado de Fafe tem atualmente em percurso de discernimento vocacional cinco jovens naturais das nossas comunidades paroquiais. Um sinal de esperança no presente que cons truímos com a graça de Deus.

Estou certo que abrir as portas das nossas comunidades, grupos e famílias, depois de tempos de fechamento que a pandemia impôs, é sinal do envolvimento de todos os párocos e paróquias na promoção da vocação ao ministério ordenado.

Os desafios do tempo presente são muitos e variados. Vivemos, como Igreja, no meio de mui tas mudanças. Aliás, mais do que uma época de mudanças, como já tantos o disseram, vivemos uma mudança de época.

Estas mudanças também exigem a reflexão sobre o ministério sacerdotal. Até porque é certo que Deus não se cansou de chamar, mas não podemos negar uma crise vocacional que interpela e questiona.

Numa “opção preferencial pela transparência”, sob inspiração de Etty Hillesum, não podemos cair em ilusões e dissimulações que escondam a realidade que é mais importante que a ideia (Papa Francisco).

Estou em crer que o nosso testemunho cristão, nos tempos que correm, também passa por ajudar a reconhecer as múltiplas interrogações que assolam a pessoa e as sedes que habitam o coração humano. E que nem todas essas interrogações são plenamente satisfeitas, nem todas as sedes devem ser saciadas.

Reza bem o Cardeal Tolentino: “ensina-me, Senhor, a rezar a minha sede / a pedir-Te não que a arranques de mim ou a resolvas depressa / mas a amplies ainda”.

Faço votos para que esta semana seja tempo de graça. Que nela e com ela possamos ser culti vadores de uma “sede que se torne o mapa e a viagem”.

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Chamados a colaborar na obra criadora de Deus

PAULO, PEDRO E BERNARDO

Somos o casal Eduarda & Paulo, unidos pelo sacramento do matri mónio há 23 anos. Temos dois filhos: o Pedro e o Bernardo, com 21 e 18 anos, respetivamente. E neste nosso projeto de vida e de amor, os valores do Evangelho, como a defesa da vida, da dignidade, da liberdade, do amor, da paciência, da gratidão, da partilha e do perdão são, de facto, estruturais. São, na verdade, alicerçados numa referência pessoal, Jesus Cristo, que nos mostrou ser possível viver de for ma diferente, autêntica, inteira e feliz. É fácil? Não, não é... mas acreditamos que fomos chamados a ser colabora dores na obra criadora de Deus e a ser o rosto vivo do Seu amor na nossa relação familiar, com o próximo, o ambiente, a nossa casa comum…

Certamente que esta nossa opção de vida e a da maior parte das famílias cristãs confronta-se com inúmeros desafios e dificuldades, pois, como nos diz o Papa Francisco, estamos dominados por uma “economia que mata”, uma economia cega, refém e ao serviço do poder, da ganância, do consumis mo desenfreado, do desperdício, da futilidade e da utilização dos recursos naturais até a exaustão… que não está ao serviço da humanidade, mas em luta com a mesma.

Paralelamente, e a nível social, instalou-se a cultura do in dividualismo, em que o homem é autorreferencial, egocêntrico e egoísta, alheio aos problemas dos mais pobres e frágeis, aos

seus sofrimentos e sacrifícios… Tudo é provisório e descartável.

Neste contexto, quem quer e sonha constituir família e ain da mais para quem quer aumentá-la é um enorme desafio. Ve ja-se, por exemplo, o preço das rendas das casas, a precaridade no emprego, a falta de um dia livre para que a família possa estar junta, a falta de uma política fiscal que apoie as famílias com mais filhos e que incentive a natalidade.

Relativamente ao despertar vocacional no seio da família, achamos que é muito importante darmos espaço à descober ta e ao conhecimento, ao diálogo, à partilha, ao respeito pela diversidade de opiniões e à liberdade e responsabilidade das decisões tomadas. Pois é no seio das famílias que se formam os valores e apoiam os sonhos e os anseios

no Arciprestado de

Fafe.

de acólitos, em Fafe

janeiro: encontro de formação para leitores, em Fafe, coordenado pelo Pe. Hermenegildo, juntamente com alguns seminaristas.

o Grupo de Teatro São João Bosco apresentará uma peça de teatro. A data será confirmada posteriormente.

a 26 março, no Seminário Menor, realiza-se Arrisca-te: arder para iluminar. Um acampamento para jovens (10º anos e grupos de jovens) do arciprestado de Fafe.

(noite de dia 29), em Fafe, realiza-se Temperar e Iluminar. Para que te serve a religião?, que propõe a partilha de testemunhos de jovens da nossa Arquidiocese.

de cada um.
EDUARDA,
4 Semana de Oração pelos Seminários
Fafe 21 outubro: Fórum Vocacional 29 e 30 outubro e 5 e 6 novembro: Presença do Seminário nas comunidades. 4 novembro: Vigília Vocacional, na Igreja de São Paulo, em Braga. 11 novembro: Vigília Vocacional, em
21 janeiro: encontro
28
Fevereiro:
24
Abril

Cristo seduziu-me, e eu deixei-me seduzir

Gonçalo André Pereira Lopes, nascido a 27 de janeiro de 2006, é natural de Fafe, e reside nesta localidade desde sempre. Atual mente, frequenta o 11.º ano do curso de Ciências e Tecnologias (CT). Gosta de escrever com regularidade, e publica, com fre quência, alguns dos seus textos em boletins, páginas e jornais.

Enamorei-me daquele nazareno no dia em que O conheci.

E acredito que foi, depois de Ele me brilhar, que abracei, sem medo, a minha cruz.

De facto, tenho concluído com frequência que, na vida, gozei do raro privilégio de poder construir o meu próprio caminho, à medida de Cristo, em liberdade. E que, tal como a Paulo, o meu bom amigo Jesus também me derrubou do cavalo, quando eu ia em direção a Damasco, confrontando -me com uma vida inteiramente preenchida por Ele. Cristo encarava-me em qualquer lugar: na escola, em casa, na catequese. Para onde eu ia sentia que Ele não me deixava largá-Lo. Era impelido a lembrá -Lo naquilo que dizia, nas coisas que fazia e na forma como conduzia a minha vida. Tentei negar a responsabilidade muitas vezes. Mas não adianta fugir, por que Ele nunca Se cansa de trespassar as vidas, tal qual como Lhe trespassaram o lado. Cristo segredou-me a força, quando cruzei o vale da fraqueza. Confi denciou-me as coisas mais bonitas, quando os meus olhos só viam o que era feio; e deu-me a vida, quando, no horizonte, só se avistava a algidez da morte.

As sessões do pré-seminário (em que participei, com alguma regularidade) foram um complemento para entender o que queria. Mais ainda, para enten der aquilo que não queria. E acima de tudo, para entender aquilo que Cristo queria. Foi onde Jesus me colocou face a face com as perguntas que lancei para trás, para que eu pudesse perceber que só anda para a frente aquele que sabe ser corajoso em frente ao que fica para trás. Cristo não está nos templos. Está nos viadutos, está nos becos. Está onde os homens não estão. E é porque os homens não estão lá, que Ele lá continua, à espera de quem Lhe estenda a mão. O mundo está cheio de sacrários abandonados.

As formações do pré-seminário mostram um Cristo que não se cansa de esperar; mostram um Cristo que seduz. Cristo seduziu-me; e eu, sem qualquer réplica ou troco, deixei-me seduzir. Sou agora escravo de um homem que foi mais forte do que eu, e me venceu no Seu amor.

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Seminarista

Bruno

A voz de Deus é desconcertante: leva-nos para lugares que não conhe cemos, arrasta-nos para projetos que nunca ousámos construir, faz-nos dar respostas que jamais pensámos ser capazes de dar. E, ainda assim, escutá-la é a maior e mais extraordinária sensação de liberdade. Chamo-me Bruno Pinto, tenho 22 anos, sou da Paróquia de Santa Eulália de Fafe e, no meio de muitos, sou mais um dos que se sentem chamados a responder a esta inquietante voz. Desde muito novo, foi-me incutida uma educação profundamente marcada pela proximidade à comunidade paro quial, na qual fui acólito, leitor, coralista, etc.

Era aí que olhava para os meus párocos e me detinha no seu testemunho alegre de entrega. De facto, neste olhar provocado pelo exemplo, estava o de sejo de um dia estar naquele lugar, daquele modo, testemunhando a mesma alegria e doação. Mas a verdade é que tal desejo permanecia calado.

De todas as vezes que me questionavam se eu queria ser padre, eu res pondia com aquele humor próprio de quem quer despistar a conversa. Não era prioridade nas minhas opções, mas a questão permanecia acesa. Mais tar de, por convite dos meus párocos, frequentei os encontros de pré-seminário. Desde esse momento, percebi que já não respondia apenas a uma insistência de outros para comigo, mas sobretudo respondia a um desejo pessoal. Em bora houvesse resistências e receios, entendi que era o momento certo para dar a resposta.

No dia 9 de Setembro de 2018, entrei no Seminário. Neste momento, fre quento o 4º ano de Teologia e sinto-me muito feliz com o caminho trilhado, nesta aventura que apenas se faz na confiança, na disponibilidade e na gene rosidade.

A liberdade de arriscar e responder com um sim ao chamamento é a ati tude de não mais questionarmos Deus, mas deixarmos que Ele faça de nós a questão do seu amor, como sugere Sophia: «Senhor como estás longe e oculto e presente! [...] Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és Tu que me lês e me conheces».

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Padre CarlosJosé

Chamo-me José Carlos e tenho 36 anos. Depois de um percurso de discernimento vocacional nas casas de forma ção dos Missionários do Espírito Santo, em Portugal (20002010) e em França (2013-2017), e estágio missionário em Taiwan (2010-2012), fui ordenado padre a 9 de setembro de 2018, na paróquia de S. Miguel da Carreira, Barcelos, por D. Nuno Almeida. Parti para uma experiência pastoral em terras do Douro e, em 2021, abracei o desafio não menos missionário de servir a igreja arquidiocesana de Braga junto de 5 paróquias de Fafe (Aboim, Gontim, Felgueiras, Pedraí do e Revelhe) e do Santuário de Nossa Senhora das Neves.

Quando, em 1999, um missionário espiritano me visi tou em casa dos meus pais, para me comprometer num aprofundamento vocacional em contexto de seminário, disse-me uma frase que me tem ajudado em todos os mo mentos de decisões: “O futuro constrói-se no presente”. O constante discernimento do presente de Deus foi-me ajudando a limar arestas e a tomar consciência da minha primeira vocação, daquele momento em que, desde tenra idade, a Sabedoria divina me enamora e me faz construir a minha vida à procura d’Aquele Jesus, que me cativara atra vés da visualização de desenhos animados bíblicos. Essas manhãs de domingo com a TVI, vividas, outrora, na sim plicidade da construção de um mundo de reis, princesas, dragões, personagens bons e maus, heróis e perdedores em muito contribuíram para traçar um percurso pessoal de discernimento, onde não faltaram os saltos de alegria e de procura, os trambolhões e as quedas de quem busca, os ânimos de quem encontra, se encontra e se sente amado,

assim como os desânimos de quem desespera. Mas, tudo faz sentido, porque “A Sabedoria é árvore da vida para aqueles que a alcançam” (Pr 3,18), lema escolhido para a ordenação. Apesar de muitas vezes confuso e cheio de al tos e baixos, continua a fazer sentido o caminho aberto por Deus, desafiando-me a oferecer a minha vida como servo humilde da Palavra, onde quer que esteja.

“Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5), “de tudo sou capaz naquele que me dá força” (Fl 4,13). Um padre je suíta que me acompanhava espiritualmente em Taiwan relembrava-me frequentemente estas frases. Elas ajudam -me ainda hoje a viver as minhas fraquezas como aberturas para acolher em mim a ação de Deus. Na oração pessoal e comunitária, sinto-me encorajado pela oração de muita gente a quem não terei oportunidade de agradecer.

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Pastoral

Juvenil

Sempre gostei de trabalhar com os jovens, mas há cerca de um ano e meio este gosto transformou-se em missão, sinto a necessidade de fazer sempre algo mais por eles.

Atualmente estou a trabalhar com alguns jovens da paróquia de Santa Eulália de Fafe, iniciei o percurso Sayes há 4 anos, uma catequese diferente mais virada para o próximo, para as periferias. Este ano, e por estarmos pró ximos da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, vamos preparar ativi dades para ajudar a custear as despesas. Recentemente fomos convidados pelos párocos da comunidade para integrarmos o coro juvenil e dinamizar a Eucaristia da catequese, já dinamizada pelo grupo Criar Asas. Porém, este grupo, por dificuldades humanas e profissionais, não conseguia assegurar todas as Eucaristias, então alguns elementos do grupo Sayes, juntamente com as suas animadoras, começaram a integrar o coro. Apesar de ser uma tarefa um pouco difícil, pois há poucos jovens a gostar de cantar.

Neste momento, a grande dificuldade dos jovens é a de ter uma pa nóplia de atividades tão aliciantes que lhes é difícil dizer não, facto, que, a meu ver, os impede de assumir um compromisso constante na Igreja. Te mos alguns que fazem este caminho regular, outros que é preciso andar sempre de “sentinela” e lembrar-lhes o compromisso assumido no Crisma. Este trabalho é um pouco árduo, pois é necessário pensar em algo para os entusiasmar, para não os perder… E quando algum desiste, chateio, cha teio… até que alguns deixam de me responder, não aparecem, mas lêem as mensagens. Mesmo assim, não baixo os braços e ponho-me logo em alerta, falo com as minhas colegas (catequistas e animadoras) e incentivo -as a fazerem o mesmo. O importante é nós não desistirmos dos jovens, mesmo que sejam irreverentes, inconstantes e com projetos diferentes da missão. Cabe aos adultos, “convidar”, “insistir”, “elogiar”, “acompanhar”, pois, como disse o Papa Francisco “os jovens são o agora de Deus”.

A semente foi lançada e é preciso reacender a chama, mas como? Per gunto eu muitas vezes. Continuo a pensar que o melhor é não os deixar ‘sossegar’ e dizer-lhes com regularidade “Deus precisa de vós”, “eu preciso de vós”, é preciso “dar” aquilo que recebestes! Depois, também é impor tante dar testemunho, estar presente e saber escutá-los.

Por isso, peço muito a Deus discernimento para os compreender e para os ajudar a não desistir, se essa for a vontade de Deus.

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