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CAMINHAR DURANTE A NOITE
Fazer uma caminhada de noite tem muito de estímulo, desafio, surpresa... também de companheirismo, apoio mútuo, confiança no grupo de peregrinos. Ir ao S. Bentinho por montes e atalhos, numa noite sem estrelas, não é fácil; mas percorrer dezenas de quilómetros com o olhar fixo na meta, é uma aventura de gente destemida.
ideal e caminhamos nessa direção. Quando jogamos à «cabra-cega», mesmo sem ver o objeto que queremos encontrar, agimos em função dele. O importante na vida é nunca perder de vista o ponto de chegada; a atração emotiva para lá faz-nos avançar de forma certa e segura.
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por caminhos diferentes. A confusão e a incerteza na hora da escolha só abonam em favor da liberdade: percebemos que somos livres porque podemos escolher.
Com a mira na chegada No caminho vocacional percorremos a estrada da frente para trás, olhamos para o futuro para acertar com o presente; fixamos o olhar no
Na liturgia cantamos: «Se me envolve a noite escura e caminho sobre abismos de amargura, nada temo porque a Luz está comigo.» As propostas de vida que recebemos todos os dias, são multicolores e todas prometem a felicidade, embora
Como na peregrinação noturna, será mais fácil e seguro acertar no caminho se tivermos companhia; há uma força maior, uma palavra de estímulo, uma dúvida que se esbate, um medo que se vence, uma decisão que se toma.
Com os olhos tapados Muitas vezes andamos à deriva, sem escolher para onde ir; os avós, os pais, os amigos… foram por ali, eu vou também, sem perceber que cada pessoa é única, irrepetível, com um futuro desenhado só para si. Interpretando Séneca, Lewis Carroll integra em «Alice no país das maravilhas» a frase: «para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve», se vamos a parte nenhuma. Se continuarmos de olhos tapados pelos trilhos da nossa juventude, corremos o mesmo risco dos discípulos de Jesus, os quais só se viram livres da tempestade que os apanhou no meio do mar, quando caíram na conta de que Jesus ia com eles na barca.
Diz o hino: «Se me colhe a tempestade, e Jesus vai a dormir na minha barca, nada temo porque a Paz está comigo.» Só um coração pacificado recupera a visão. Quando surge a crise e o medo de avançar, mesmo intuindo o caminho certo, é preciso ter a ousadia de atirar fora as vendas, para que a luz se espelhe no chão das nossas decisões. É preciso falar com Jesus, orar, clamar, chorar. Pode acontecer que um jovem sente que Deus o chama para a vocação consagrada, sacerdotal, o matrimónio ou qualquer outro ministério na Igreja; porém, numa manhã de nevoeiro, essa intuição entra em crise e ele fica sem saber o que fazer.
Assim como no jogo da «cabra-cega» a habilidade é identificar, com os olhos vendados, a pessoa que temos à nossa frente, usando simplesmente o tacto, também no discernimento vocacional, precisamos de usar o tacto espiritual que nos permite identificar dentro de nós sentimentos, intuições, experiências, valores e dar-lhes nomes. São sinais para avançar no caminho.
Jesus vela dormindo
Os discípulos de Jesus gastaram as forças lutando, sem resultado, contra a tempestade no lago. Ao reparar que Jesus dormia tranquilamente na popa do barco, deram-lhe um abanão: Acorda, não vês que vamos ao fundo? O Mestre não nos abandona, antes, dá-nos a possibilidade de experimentar que Ele está connosco, tanto no meio das borrascas, como no tempo sereno. Foi Ele quem acalmou o mar e fez calar os ventos.
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Ao sentirmo-nos sozinhos, recordemos, de novo, o hino: «Se os amigos me deixarem em caminhos de miséria e orfandade, nada temo porque o Pai está comigo.» Quando tomarmos consciência desta verdade, saberemos que é tarde demais para voltar atrás na decisão vocacional. Somos pessoas limitadas, vulneráveis, com defeitos mais ou menos incómodos; mas também temos dons para desenvolver e colocar ao serviço. É com gente deste calibre que Deus conta para continuar a construção de um mundo justo, fraterno, pacífico, solidário, digno de ser habitado. Basta querer entrar neste projeto de recriação humana e aceitar ser constantemente recriado por Deus.
O sonho de ser Mais faz-nos rezar: «Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe... Não tenho aqui morada permanente: Leva-me mais longe... »
O discernimento e a decisão vocacional exigem um encontro de amigos entre quem chama e quem é chamado. A participação na Eucaristia, a leitura e meditação da Palavra de Deus e a oração pessoal são dinamismos que nos ajudam a discernir a vocação mesmo à luz das estrelas e a tomar a decisão de sermos discípulos de Jesus.