Voz de Esperança Mar/Abr 2018

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MAR - ABR / 2018

AS NECESSÁRIAS CONVERSAS IMPROVÁVEIS!

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIII - 6ª Série | Nº 63 | Bimestral 1,00 €

“A vocação é fruto de uma relação entre pessoas, nasce e toma forma num diálogo aberto”. Pe. Rúben Cruz Págs. 2-3

HOMENS RENOVADOS NO ENCONTRO COM CRISTO “Para ouvirmos a Sua voz necessitamos de silêncio, de recolhimento interior que facilite o diálogo pessoal com Ele”. Feliciano Pinto Pág. 9

EDITORIAL

A VOCAÇÃO: PASSOS PARA UM ENCONTRO!

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES SÉ CATEDRAL DE BRAGA 20 DE ABRIL | 21H15

O Deus que guiou a história salvífica de Israel é o Deus que realizou a salvação definitiva em Jesus. O Deus da vida, que continua hoje a chamar, não podia abandonar na morte o justo, Jesus, mas, vencendo o poder da morte, ressuscitou-O e constituiu-O Messias. Ora, este é o jubiloso testemunho que ressoa ainda hoje na Igreja! À semelhança deste anúncio, o Papa Francisco, no contexto da 55º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, faz ecoar a seguinte sentença confiante: “não estamos submersos no acaso, nem à mercê duma série de eventos caóticos; pelo contrário, a nossa vida e a nossa presença no mundo são fruto duma vocação divina”. Realmente, o próprio mistério da Encarnação, recorda-nos Francisco, lembra-nos que Deus não cessa jamais de vir ao nosso encontro: “é Deus connosco, acompanha-nos ao longo das estradas por vezes poeirentas da nossa vida e, sabendo da nossa pungente nostalgia de amor e felicidade, chama-nos à alegria. Na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de escutar, discernir e viver esta Palavra que nos chama do Alto e, ao mesmo tempo que nos permite pôr a render os nossos talentos, faz de nós também instrumentos de salvação no mundo e orienta-nos para a plenitude da felicidade”. É neste contexto que acontece este novo número do seu jornal: o Deus que vem ao nosso encontro. Deus continua hoje a “descer” para salvar a nossa humanidade, apela-nos, carinhosamente, a fazermos parte da sua missão, numa particular relação de proximidade ao seu serviço. Portanto, temos que dar uma resposta, com passos pascais e de esperança, conscientes dos nossos limites e pecados, não deixando que o pânico destas limitações nos faça abortar o desejo de caminhar para o Senhor, acolhendo a Sua voz com o coração disponível.


VISÃO

AS NECESSÁRIAS CONVERSAS IMPROVÁVEIS! Pe. Rúben Cruz

Nicodemos, um príncipe dos Judeus, assim reconhecido à época de Jesus, concretiza uma adesão, após uma imprevisível, mas presumível conversão à mensagem de Cristo. Assim, podemos concluir quando lemos Jo 3, 2, onde nos é relatado que Nicodemos, de noite, vai ter com Jesus e afirma, como se de uma confissão pública se tratasse: “Rabi, nós sabemos que Tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que Tu fazes, se Deus não estiver com ele”. Vemos que Nicodemos aborda Jesus recorrendo a um termo de cortesia: “Mestre”. Porém, o que deve ser motivo da nossa atenção é o diálogo que se trava entre estes, principalmente quando o Salvador afirma a necessidade de “nascer de novo”, perante um velho homem como Nicodemos, conforme podemos atestar no decorrer do colóquio. Ora, desta passagem da Sagrada Escritura, poderíamos tirar duas conclusões imediatas: por um lado, Jesus, Alguém que gosta de conversar; e, por outro, Alguém com quem todos gostam de conversar, decididamente num conjunto engraçado de “conversas improváveis”, diríamos nós hoje. Pois bem, assim terá de acontecer com todo o ser humano que busca o sentido último para a vida, através de um caminho de descoberta vocacional. A determinado ponto, nesta caminhada, terá que provocar um diálogo com Jesus, engrossando assim as fileiras daqueles que até a um certo momento pensavam que a única interlocução existente seria com as palmilhas gastas dos ténis ou com a resistência dos seus musculados tendões, paradigma de uma sociedade que coloca a frágil condição humana a presidir à busca inata do ser. Assim, o que vem de Deus deve ser discutido com Ele, como ser pessoal que é. Por isso, devemos clarificar o sentido último destas “conversas improváveis, mas necessárias”, com Deus,

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num caminho de discernimento vocacional. Desde logo, a vocação é fruto de uma relação entre pessoas, nasce e toma forma num diálogo aberto. Ao contrário do que muitas vezes se vai pensando, esta não se trata de uma descoberta teórica de predestinação, nem de um voluntarismo assente na rigidez musculada das nossas capacidades. Coabita, com esta última, uma outra razão de peso: a proposta de Deus pede uma resposta do homem. A vocação é, pois, tornar-se companheiro, “andar nas alegrias e trabalhos...”, é uma atitude de viver-com..., concretiza-se numa verdadeira experiência de amizade, onde gradualmente findam as condições e cresce a intimidade, onde ambos recebem e dão continuamente. Contudo, penso ainda existir uma terceira clarificação a ter em conta neste processo de diálogo com Jesus. Para isso, sirvo-me da resposta de Sto. Inácio de Loyola, quando confrontado com a pergunta: “que significa para ele seguir?”. Sto. Inácio usa a expressão “ter parte comigo nos trabalhos e na vitória”. Na sequência desta questão, ele dá o seguinte conselho: “Pedir conhecimento interno (isto é, intimidade bastante e sintonia), do Senhor que por mim (pessoalmente) Se fez homem, para que mais O Ame e O Siga” (Exercícios Espirituais, 110). Posto isto, não nos serve de muito relacionarmo-nos com Deus, quando não somos capazes de reconhecer os sinais da presença d´Ele. Desde logo, os sinais em nós, os sinais de estar “sintonizados com Ele”, são experiências do que é característico do Espírito Santo. Assim, é próprio do Espírito de amor: consolar; deixar na pessoa uma paz profunda; uma alegria apostólica; dar-lhe convicção e sentido para a vida, bem como uma esperança realista. Podemos resumir todos estes sinais como um despertar para a construção do Reino, no meio de nós. No entan-

to, é necessário confirmá-los no dia-a-dia, pois, muitas vezes, são postos à prova por várias tentações para se purificarem e fortificarem ao longo da caminhada de descoberta vocacional. À semelhança do que aconteceu com Nicodemos, é só através do contacto pessoal com Cristo que descobrimos o nosso nome. O homem torna-se humano quando ouve a “voz”, o apelo interior e exterior a humanizar-se, o apelo à libertação, na medida em que somos chamados na liberdade. Percebemos, então, que esta caminhada não tem uma meta, quando muito é composta por etapas marcantes e necessárias, num percurso traçado por avanços e recuos, opções e receios, noite e luz... Mas que no fim, o que começa por conversa, transforma-se em vida, uma vida “provável”, na medida em que tem gosto, tem e faz sentido.

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ARTE

SINAIS DE ESPERANÇA (3) NICODEMOS Luís da Silva Pereira

Os quadros que hoje apreciamos são de Henry Ossawa Tanner. Nasceu em Pittsburgh, Pensilvânia, em 1859, e faleceu em Paris, no ano de 1937. Foi o primeiro pintor afro-americano a ser reconhecido internacionalmente. Considerado realista, pelo pormenor com que descreve paisagens e cenas da vida quotidiana, há nele também uma fase impressionista pela atenção aos efeitos causados pelas mutações da luz e pela técnica de rápidas pinceladas com que espalha as cores nas telas. O primeiro quadro evoca o encontro noturno entre Nicodemos e Jesus, descrito por S. João no cap. 3, 1-21, onde Cristo revela que quem não nascer de novo, pela água e pelo Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. Compreende-se que sejam muito raras as iconografias deste episódio. É difícil representar, pictoricamente, uma conversa. Nicodemos aparece muito mais frequentemente nas cenas da descida de Cristo da cruz, onde arranca, com uma turquês, os pregos dos pés de Cristo ou segura o seu corpo, na descida. Henry Tanner, além do quadro definitivo, deixou dois estudos preparatórios. Naquele é de notar a mestria com que nos dá a suave luminosidade da noite. Cristo

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e Nicodemos, de rostos vulgares, sentam-se numa açoteia e conversam serenamente. As suas sombras projetam-se no chão, sugerindo uma noite de luar. Nicodemos coloca ambas as mãos sobre os joelhos. As barbas esbranquiçadas e a leve curvatura das costas sugerem já alguma idade. Cristo, de frente para nós, levanta a mão esquerda, em atitude de quem ensina. Ele é o verdadeiro Mestre.

Em nossa opinião, o esboço, de estilo impressionista e abstratizante, é bem mais expressivo que o quadro definitivo. Os pormenores da paisagem, realistas no quadro definitivo, desaparecem aqui completamente. Não interessam para a significação final. Como também não interessam nem o rosto de Cristo nem as barbas do Nicodemos. Os vultos apenas esboçados deixam mais espaço para a imagi-


nação, e os tons azulados do fundo são mais misteriosos e dramáticos. Estabelecem um contraste mais intenso entre a luz e as sombras.

Aquele círculo luminoso atrás da cabeça de Cristo é um nimbo ou a Lua que surge? Pode ser as duas coisas. Tanner transforma muitas

vezes a luz em símbolo. O que interessa é que Nicodemos fica esclarecido. Há uma luz que nasce no meio da escuridão.

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SEMINÁRIO MENOR

SEMENTES DE ESPERANÇA Vítor Sá, 12º Ano

Iniciamos este ano de encontros de Pré-seminário com um novo tema “Sementes de Esperança”, e com uma renovada vontade de discernir, trazida pelos jovens que ponderam acerca da possibilidade de as suas vidas passarem, no futuro, pelo Seminário. Continuam a aumentar os jovens inscritos nestes encontros. Encontros em que participam, em média, cerca de trinta e cinco jovens. A estrutura dos encontros mensais consiste em dinâmicas em que os jovens participam ativamente, quer entre si, quer com os que já estão a fazer a experiência de Seminário. Algo muito positivo, pois é possível a troca de impressões entre quem está em pleno processo de discernimento vocacional: sejam seminaristas que se questionam sobre a possibilidade de seguirem a vida sacerdotal ou jovens que ainda questionam a possibilidade de vir a entrar para a comunidade. 6

Por vezes, também para não se cair no grande perigo da rotina, são planeadas atividades que fogem desse padrão das dinâmicas através da alteração do espaço onde são feitas. O facto de alguns encontros serem realizados em diferentes pontos de interesse da cidade, como no encontro de 24 de fevereiro, em que se visitou o convento franciscano de Montariol. É notável a curiosidade com que os jovens reagem a estas alterações e a forma mais vivaz com que vivem cada encontro. Apesar de toda a envolvência das dinâmicas de grupo, o auge dos encontros ainda continua a ser a Eucaristia, remetendo para um ambiente de oração comunitária. Após várias reflexões e atividades, chega a altura do dia em que podem apresentar diante de Deus as suas dúvidas e, com esperança e fé, pedir pistas para continuar a demanda da busca pela vocação a que Deus chama cada um de nós. Para isso, cada pré-semina-

rista é convidado a escrever na sua semente um compromisso para cumprir até ao encontro seguinte. Geralmente, existe a possibilidade de um momento de desporto com a participação dos jovens e dos seminaristas. Mais uma iniciativa que visa melhorar as ligações de amizade entre jovens, em diferentes pontos do processo de discernimento vocacional. Apesar de o futebol ser o desporto mais praticado nesses momentos, também se proporciona, em simultâneo, um tempo de confraternização na sala de estar, onde tem variadas atividades lúdicas à disposição como alternativa à prática de desporto ao ar livre. Após o tempo de desporto e lazer, todos os jovens podem usufruir de mais um momento em comunidade durante o lanche. Uma vez mais, a confraternização toma lugar no meio de todos. A partilha não se limita apenas aos alimentos, mas também às experiências de mais um encontro findo.


TESTEMUNHOS VOCACIONAIS

“O que não te desafia não te transforma” Após ter surgido a oportunidade de conhecer o Seminário da Nossa Senhora da Conceição, senti que desde o primeiro instante me foram abertas as portas desta aprazível casa. Fiquei maravilhado com a capacidade de acolhimento, dedicação e formação que nos concedem. Através dos encontros do Pré-seminário assimilamos testemunhos excelentes que marcam a nossa vida. Senti que esta casa contribui para o discernimento pessoal de cada um, acompanhando-nos no processo de maturidade para descobrir o verdadeiro caminho. Ajuda a descobrir a verdadeira vocação, para a qual alguns sentem o chamamento de seguir Cristo. Auxilia-me no aperfeiçoamento da bondade e da amizade com todas as pessoas que vivem comigo e ao meu redor. Apoia-me ainda a melhorar os meus conhecimentos através de temas instrutivos, colaborando na descoberta e escuta de Deus: “Deus está à espera de alguém que passa e saiba parar”. Tem a finalidade de sensibilizar para a descoberta da verdadeira missão como cristãos. Tudo tem o seu tempo e temos que aproveitar as oportunidades, Jesus deseja que todos o conheçamos. Com a persistência da oração alcançaremos a vida eterna, baseada na fé, esperança e caridade: “O que não te desafia não te transforma”. Evidencio também os responsáveis pela formação do Seminário de Nossa Senhora da Conceição pelo amor e dedicação com que se entregam em cada dia, sendo verdadeiros evangelizadores do projeto de Deus. Marco Dinis Araújo (8º ano) Pré-seminarista de Barqueiros – Barcelos

“Tentar descobrir qual a minha vocação” Eu entrei no Pré-seminário a convite do Sr. Pe. Francisco Carreira (pároco de S. Martinho de Brufe) e porque os meus pais percebiam que eu demonstrava interesse quando se falava das vocações e acharam oportuno para mim. Sinceramente, eu tenho gostado e é esse motivo que me faz continuar a participar. Os encontros do Pré-seminário têm-me mostrado algumas figuras bíblicas, alguns modelos de vida para eu conseguir alcançar a santidade. Também tenho vindo a tentar descobrir qual a minha vocação, ser padre, não ser, só o futuro o dirá. Francisco Azevedo (8º ano) Pré-seminarista de Brufe – V. N. de Famalicão

“Busca de respostas às perguntas que gosto de fazer sobre a vida” Os meus pais, sabendo da existência do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, falaram comigo sobre a possibilidade de frequentar os encontros mensais de Pré-Seminário, aos sábados, e ali fazer um percurso de observação interior, e de busca de respostas às perguntas que gosto de fazer sobre a vida. O percurso começou em 2017, e posso dizer que gosto do método como os temas são apresentados. Leva-nos a pensar, a trabalhar em grupo e a partilhar experiências. Sinto que os encontros têm sido proveitosos, porque para além de ir encontrando respostas para as minhas dúvidas, é viva a partilha de conhecimentos entre nós, e os desafios estão bem presentes. João Dinis Sousa (6º ano) Pré-seminarista de São Lázaro – Braga

“O que é que Deus quer de mim?” O meu nome é Rodrigo Mendes, sou oriundo da paróquia de S. Vicente de Penso e frequento o 10º ano de escolaridade. Encontro-me no Seminário desde setembro de 2016, e tenho sentido que o Seminário me ajuda de várias formas, tanto a nível intelectual como espiritual. Esta instituição tem proporcionado um encontro e uma permanência mais fiel com Deus e com todos aqueles que também se questionam: “O que é que Deus quer de mim?”. Como é óbvio, este caminho não é muito fácil de traçar, mas é isso que me ajuda a crescer e a ter força para seguir, confiadamente, as pisadas de Deus e assim me tornar seu discípulo. Rodrigo Mendes (10º ano) Seminarista de Penso (São Vicente) – Braga

“Fomentar a minha relação pessoal com Cristo” Sou o Pedro Martins, natural de Maximinos - Braga, tenho 16 anos, encontro-me no 11º ano e estou no Seminário de Nossa Senhora da Conceição desde o 7º ano, num processo de discernimento vocacional. De facto, o Seminário tem-me ajudado nesta caminhada, porque, em primeiro lugar, num ambiente de comunidade, tenho a oportunidade de crescer a nível humano, numa relação com os meus colegas e com a equipa formadora. Ajuda-me também, por outro lado, a fomentar a minha relação pessoal com Cristo. Assim, o Seminário torna-se importante para a minha vida, numa linha de abrir horizontes para o futuro. Pedro Martins (11º ano) Seminarista de Maximinos – Braga

“Vida em comunidade que leva a crescer na relação com os outros” Chamo-me João Pinto, tenho 14 anos e nasci na paróquia de S. Pedro de Maximinos. Encontro-me no Seminário Menor, desde setembro de 2017. O Seminário de Nossa Senhora da Conceição ajuda-me no meu processo de discernimento vocacional, a partir do momento em que proporciona uma vida em comunidade que leva a crescer na relação com os outros e numa vida com e em Cristo, através da oração mais frequente. Esta instituição dá-me, diariamente, oportunidades que nenhum jovem da minha idade tem. A grande família Seminário forma-me a cada momento e faz-me levar mais e melhor Cristo aos irmãos. João Pinto (8º ano) Seminarista de Maximinos – Braga

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SEMINÁRIO MAIOR

EUCARISTIA NO CENTRO DA VIDA E DO SERVIÇO DOS ACÓLITOS Ângelo Machado, João Castro, Miguel Neto e Pedro Sousa, 5º ano

«Vivei a Eucaristia para serdes eucaristia». Foi este o desafio lançado por D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar, aos seminaristas do 5.º ano da Arquidiocese de Braga, na homilia da missa de Instituição no Ministério dos Acólitos. Esta celebração decorreu no dia 28 de janeiro, na Igreja de S. Paulo, e nela foram instituídos os seminaristas Ângelo Machado, João Castro, Miguel Neto e Pedro Sousa, contando com a presença de familiares e amigos, que ajudaram a uma vivência mais profunda deste passo dado na caminhada para a ordenação presbiteral. De modo a desenvolvermos o nosso ministério de forma mais frutuosa, a celebração teve como momento prévio uma tarde de preparação espiritual, orientado pelo Pe. Afonso Sousa, diretor espiritual deste Seminário, na qual procuramos aprofundar o sentido da instituição no Ministério dos Acólitos. Segundo a Instrução Geral ao Missal Romano, um acólito é instituído para, no serviço ao altar, auxiliar o presbítero e o diácono, sendo sua competência principal preparar o altar e os vasos sagrados, e, em caso de necessidade, distribuir aos fiéis a Eucaristia, da qual é ministro extraordinário. Partindo deste pressuposto, durante os momentos de silêncio e de reflexão vividos nessa tarde, tendo por base passagens dos Evange-

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lhos e das Cartas Paulinas, pudemos perceber ainda que ser acólito instituído é algo que não se esgota no serviço ao altar durante a missa, pois tem, necessariamente, de se projetar no serviço ao próximo, particularmente aquele mais necessitado, não só levando a Comunhão aos que precisarem, como os doentes, mas, e sobretudo, através do exemplo de vida, contribuindo assim para a edificação e crescimento do povo de Deus, pois a Eucaristia é o vértice e a fonte da vida da Igreja, como é afirmado no Rito da Instituição. Na mesma linha, D. Francisco Senra Coelho exortou a que nos deixássemos conduzir por Cristo, e envolvidos pelo seu Amor misericordio-

so, nos aproximemos cada vez mais do seu Ministério, de modo a nos dedicarmos aos irmãos na caridade e com espírito de serviço. Pediu-nos, ainda, que nos tornemos «anunciadores da beleza do Reino de Deus a tempo pleno, exclusivo, de coração indiviso e total, à maneira de Paulo de Tarso», sendo portadores de esperança para o mundo de hoje.


HOMENS RENOVADOS NO ENCONTRO COM CRISTO Feliciano Pinto, Ano Propedêutico

O retiro espiritual é sempre um dos momentos mais importantes do ano de um seminarista. A paz de uns dias de retiro serve para pensar com calma no importante, longe das confusões e das corridas diárias, para refletir sobre as questões mais profundas da existência humana: a felicidade, o projeto de vida, os sonhos, as tristezas, as esperanças... É uma ocasião para pôr um pouco de ordem nas ideias e nas nossas prioridades. Família, trabalho, relação com Deus, amizades... Está cada coisa no seu lugar? Tenho que mudar o rumo de algum aspeto da minha vida? Fazer um retiro é um modo muito eficaz de nos aproximarmos de Deus. Para ouvirmos a Sua voz necessitamos de silêncio, de recolhimento interior que facilite o diálogo pessoal com Ele. A iniciar no dia 5 de fevereiro e a prolongar-se até ao dia 10, o Ano Propedêutico realizou o seu retiro, no Seminário dos Passionistas em Barroselas, Viana do Castelo. Para alguns, foi a primeira vez que participaram num retiro espiritual. Sob a orientação do diretor espiritual do ano, Pe. Agostinho Barros, o Propedêutico refletiu sobre várias dimensões da vida de um cristão, como o ser discípulo de Jesus, hoje, amanhã e sempre (através de um encontro pessoal e interior com Ele); o amor que cada um guarda para O

Pai; a inquietação que nos atinge no quotidiano; a coragem e o ânimo necessários para a vida; a transformação do Homem Velho para o Homem Novo. Várias questões foram, com certeza, acrescentadas às reflexões que cada um fez em particular, num encontro consigo mesmo e com Jesus, para a construção fiel de um “Homem Novo”. Num momento que sucedeu à azáfama dos exames, foram muitas

as oportunidades que cada um teve para se encontrar com Deus. Para além disso, a beleza do local favorecia imensamente este encontro pessoal com o Senhor. Terminado o retiro, é tempo de recentrar energias para enfrentar o segundo semestre, prestes a começar, juntamente com o tempo quaresmal, tempo esse propício a continuar a nossa vida em clima de recolhimento interior, sempre apoiados pelo jejum e pela oração.

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SEMINÁRIO MAIOR

LAUSPERENE NO SEMINÁRIO CONCILIAR Tiago Costa, 2º ano

Na conhecida cidade dos arcebispos, o Sagrado Lausperene é dos momentos mais altos do tempo quaresmal. Esta tradição mantém-se viva no coração de todos os habitantes da Roma portuguesa desde 1710, onde foi instituída pelo arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles. Efectivamente, este legado, deixada pela fé viva dos mortos é, nos dias de hoje, a fé viva dos vivos. O Santíssimo Sacramento viaja pelas diferentes igrejas da cidade de Braga, a fim de tocar todos os corações e para que todos o possam adorar. Neste sentido, também a comunidade de Seminário dá um pouco de si à viajem que, além de espacial, é essencialmente uma viagem interior. Este ano, a viagem teve início no dia 14 de fevereiro, na Sé Catedral onde os seminaristas entoaram os cânticos de vésperas do Santíssimo Sacramento, ajudando todos os fiéis a uma adoração mais autêntica. No dia 16, foi a vez do Seminário Conciliar acolher este Senhor viajante. Num ambiente de profunda adoração, as portas da igreja de São Paulo escancararam-se para toda a cidade, às 08h00, para a Eucaristia e, seguidamente, exposição do Santíssimo. Não obstante todos os seminaristas e a equipa formadora irem passando e repassando pela igreja, para uma adoração mais íntima, a comunidade juntamente com fiéis rezou, cantando, a oração de hora 10

intermédia, às 12h30. O ambiente silencioso alastrou-se da igreja para o resto da casa, onde pairou, sob os pingos da chuva que se ouviam lá fora, esta contínua adoração. De facto, também houve tempo para outra

oração coletiva, desta vez às 18h30, onde à semelhança do que acontecera na Sé Catedral, os seminaristas entoaram os cânticos de vésperas do Santíssimo Sacramento, na igreja de São Paulo. De seguida, a viagem seguiu rumo à capela de São Pedro e São Paulo, ainda dentro do Seminário Conciliar. Assim, na madrugada de 16 para 17 toda a comunidade do seminário teve a oportunidade de orar na noite escura, na presença luminosa do Senhor. Como forma de melhor nos organizarmos, os diferentes anos de Seminário tiveram uma hora atribuída de adoração, para que no meio do sono da noite, o Senhor não ficasse “sozinho” em nossa casa. Depois de termos passado a noite com o Santíssimo, Ele viajou novamente para a igreja de São Paulo, onde, às 08h00, do dia 17, as portas se escancararam, novamente para a cidade, tendo início a celebração da Eucaristia. O encerramento do Lausperene aconteceu às 18h30, com a oração de vésperas. Desta forma, a viagem seguiu o seu rumo em direção à igreja da Misericórdia. Interessantemente, o Lausperene é o momento em que cada seminarista, equipa formadora e fiéis da cidade sentem a autenticidade da sua fé atingir o seu auge. Aí a intimidade com o Senhor é, de facto, contínua, sucessiva e afectuosa.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

UMA CARTA ABERTA ACERCA DO CENTRO PASTORAL UNIVERSITÁRIO Nicolás F. Lori (Investigador do ICVS & Centro Algoritmi, Universidade do Minho)

Residência do Centro Pastoral Universitário

Neste Centro Pastoral sentimos paz. Cada um de nós cria laços de amizade e pratica a vida de estudo e de fé, ou nem uma nem outra, conforme quiser. Há pessoas que se dedicam ao estudo para tirar boas notas, outras que anseiam por uma vida de camaradagem; algumas pessoas vivem a fé católica nas suas variadas formas, para outras a fé não é um tema que lhes seja crucial. Entre todos nós, respira-se um ambiente de alegria e de grata confiança. Esta é a principal característica deste Centro Pastoral, a paz em liberdade de vida. O Centro Pastoral tem uma residência, onde vivo. Aqui, cada pessoa vive a sua vida na sua intimidade, mas muitas vezes reunimo-nos em pequenos encontros, agendados ou fortuitos, onde temos a oportunidade de criar e aprofundar estes elos de amizades. No CPU, todas as pessoas são

Sala de Convívio do Centro Pastoral Universitário

bem-vindas. Os estudantes recebem frequentemente visitas de familiares, seja para os vir buscar para casa, pois muitos vivem longe, seja para os vir deixar a este segundo lar. Quanto a namorados/as, não tenho memória de alguém ter trazido cá alguém. Penso que a razão principal é que se sente esta casa como uma casa de família, aqui somos irmãos e irmãs e respeitamos o espaço e integridade de cada um. E gostamos que assim seja. Ninguém aqui é pressionado para ter fé, mas há um ambiente de forte respeito pelos valores católicos, pelo que é normal ver os residentes na Eucaristia que aqui é celebrada pelo Pe. Eduardo. Estar aqui, é estar num espaço que, na medida do que nos é possível, tornámos num espaço santo e fazemo-lo, não através da nossa santidade, mas através daquilo que cada um pensa que a santidade deverá ser.

A Flávia, a Susana, o Orlando e o Pe. Duque são o CPU institucional e estão cá durante o dia e sempre disponíveis por telefone. Graças ao esforço da Pastoral Universitária, a nossa estadia nos quartos começou bem e tem sistematicamente melhorado. O CPU é também um local onde se realizam muitas reuniões, no âmbito de projetos dinamizados pela Pastoral Universitária; um deles, por exemplo, promove a ajuda a zonas mais desfavorecidas do mundo. O CPU é, pois, um local excelente para quem gostaria de incluir na sua vida o serviço aos mais desfavorecidos. No entanto, o convite para participar nestes projetos é sempre feito de forma suave, pois quem se disponibiliza para participar, nunca sente qualquer pressão no sentido de estar. Quem quiser vir é bem-vindo e, quem não quiser, continua a ser muito amado e bem-recebido. 11


PASTORAL DE JOVENS

CÁRITAS – «OS JOVENS NA EUROPA PRECISAM DE UM FUTURO!» Departamento Nacional de Pastoral Juvenil

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 166,00 €.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça. A Cáritas Portuguesa e a Cáritas Europa apresentaram no dia 27 de fevereiro, no Auditório Mário Murteira, no ISCTE-IUL, em Lisboa, o relatório «Os Jovens na Europa precisam de um futuro!», com cinco recomendações. A Cáritas Portuguesa adianta que o relatório aborda as “principais dificuldades” sentidas pelos jovens enquanto estudantes, no emprego e na vida familiar e apresenta recomendações aos decisores políticos. “A Cáritas permanece atenta à realidade social dos mais jovens, sem esquecer os demais. Este estudo é apenas um contributo para evidenciar a realidade que enfrentamos, mas também a nossa disponibilidade em colaborar para que a estabilidade da vida dos jovens portugueses possa ser melhor”, afirma o presidente da Cáritas Portuguesa. As políticas adotadas nos últimos dez anos não conseguiram “a quebra de ciclos de pobreza geracional”: “Com um desemprego juvenil de 20,8% (6,1% superior à média da UE) e 14% dos jovens que abandonaram a escola (4% acima da média da UE), um número significativo de jovens portugueses sente que não tem futuro”. O novo relatório «Os Jovens na Europa precisam de um futuro!» apresentou cinco

recomendações onde a instituição católica indica, por exemplo, a necessidade de “promover níveis salariais dignos, prevenir a precariedade laboral, as irregularidades e a evasão fiscal nos contratos laborais”. A Cáritas Europa alerta também para um “novo tipo de pobreza juvenil” que chama de “SINKIES”, jovens casais trabalhadores que “dificilmente conseguem suportar as suas despesas e que não podem construir uma família”. “Se a tendência se tornar normal, isso provocará sérias consequências para a coesão social da Europa, modelos sociais e sistemas de proteção social”, analisa o secretário-geral da Cáritas Europa. Foram oradores o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, o secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer, e Sofia Alves, chefe de representação da Comissão Europeia em Portugal. A sessão de apresentação inseriu-se na Semana Nacional da Cáritas, com o tema «Uma só família humana, cuidar da casa comum». A Cáritas em Portugal é composta por mais de mil e quatrocentos colaboradores profissionais, cerca de cem dirigentes e conta com a colaboração regular de cerca de duzentos e cinquenta voluntários e mais de quatro mil voluntários ocasionais.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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