JUL - AGO / 2018
ESPERAR SEM DESFALECER
Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIII - 6ª Série | Nº 65 | Bimestral 1,00 €
“Cristo continua a vir ao nosso encontro de variadíssimas maneiras e continua a interpelar-nos, a partir da verdade mais profunda do nosso coração – a verdade do que somos”. Susana Vilas Boas Págs. 2-3
HINO “AKATHISTOS” “Rezamos com a Mãe e pedimos pelas famílias, pelos sacerdotes, pelos seminaristas, pelos jovens em discernimento”.
João Castro Pág. 8
EDITORIAL
DEUS NÃO (DES)ESPERA! O episódio da cura do paralítico da piscina de Betzatá (cf. Jo 5, 1-18) deve ser para todos um exemplo de perseverança. Mais do que uma atitude, a práxis da perseverança pode ser considerada uma verdadeira arte, pois, na vida, não basta começar um trilho, há que saber terminá-lo. Ora, no decurso de um processo de discernimento vocacional, em que todos estamos imbuídos, não podemos buscar as forças nos movimentos interiores e exteriores perpetuamente iniciados. Todos sabemos o que acontecerá caso haja etapas que sejam apenas trepadas e não vividas, galgadas e não discernidas. A caminhada da vida não se coaduna com falsas partidas, nem acontece por meras provas precipitadas sem limite de “vidas”, onde os passos dados se apresentam de modo mais lento a cada metro conquistado. Para isso, esta verdadeira arte de persistir assemelha-se à respiração do caminhante, como sugeria o irmão Thierry-Dominique. Na verdade, toda a vocação traça um itinerário, sobe e desce, atravessa colinas, o sol ardente ou a chuva que enrijece os ossos. Todos estes episódios devem ser reconhecidos e integrados na nossa história vocacional, avaliando com verdade, sinceridade e perseverança o caminho que se trilha. Realmente, se esperamos que Deus atue em nosso lugar, decidindo por nós, ou nos dite o que devemos fazer, corremos o risco de esperar o não esperado. Perante uma real dificuldade hodierna em tomar decisões definitivas, acabamos por consentir com a ideia de que Deus devia fazer de cada um a sua marioneta particular. Não! Ele quer fazer-nos decidir, desinstalar-nos, fazer-nos recordar a dádiva da liberdade na relação com Ele, quando escutamos, hoje, a pergunta: “Queres ficar são?”.
VISÃO
ESPERAR SEM DESFALECER Susana Vilas Boas
Nem sempre é fácil manter a chama da Esperança acesa e, muitas vezes, é mais fácil olhar para o bem que acontece aos outros, comparando-o com o nosso sofrimento que parece não ter fim. Como guardar a Esperança? Como não desfalecer face à angústia da dor, quando esta se apresenta maior do que nós mesmos? Estas inquietações apresentam-se de modo muito evidente em Jo 5,1-18, o que nos permite ir mais longe na nossa reflexão e no nosso caminho de/na Esperança. A Esperança: vitória dos perseverantes Jo 5,1-18 narra a história de um homem doente; um homem que sofre há 38 anos e que, durante este tempo, permanece junto à piscina de Betzatá esperando a cura de Deus. Sem se deixar vencer pelo desespero, este homem não deixa esmorecer a sua fé nem permite que o desânimo mine a Esperança que o habita. Durante 38 anos ele vê outros doentes serem curados, sofre a solidão e o desprezo de todos, mas, ainda assim, mantém-se perseverante na Esperança. Que sentimentos habitariam este homem para continuar a acreditar ao longo de toda uma vida de sofrimento? Em quem colocaria ele a sua Esperança para, vendo a cura dos seus companheiros, não desesperar e revoltar-se contra Deus? Poderíamos ser levados a pensar que a perseverança deste homem, o levou a alcançar a cura. No entanto, todos os anos, que este viveu no sofrimento, tiveram uma recompensa maior: o encontro direto com o Deus da Esperança! A sua cura, porém, não resultou de um “mergulhar nas águas”, mas, antes, de um deixar-se tocar, de um acreditar decidido em Cristo, Deus Salvador. Esta é, sem dúvida, a recompensa dos que esperam contra toda a esperança: entrar em relação com o próprio Deus. A Esperança: caminho para o diálogo com Cristo «Jesus aproxima-se deste homem e pergunta “Queres ficar são?”» (Jo 5,6b). Jesus não se põe com
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rodeios, nem faz um discurso abstrato perante o sofrimento prolongado deste homem. Ao contrário, Jesus vem ao seu encontro, sem ser chamado; vem ao seu encontro e entra em diálogo a partir do desejo mais profundo do coração. O homem não percebe de imediato o que está a acontecer e a sua resposta é de limitação e de impossibilidade: «Senhor, não tenho ninguém que me meta na piscina quando se agita a água, pois, enquanto eu vou, algum outro desce antes de mim» (Jo 5,7). Jesus recompensa a perseverança da sua espera, respondendo-lhe com o poder ilimitado de Deus – o poder de tudo tornar possível – o poder da cura e da recuperação de uma vida com dignidade de pessoa salva. Esperança: imagem da conversão e desafio a uma resposta O Esperar sem desfalecer é um Esperar que se converte em vida! Este homem, após uma vida de condenação à dor, encontra a alegria de ser salvo; a alegria do encontro com o Senhor da Esperança que enche a sua vida de possibilidades, de alegria e de paz (cf. Rm 15,13). Uma vida de pessoa salva, marcada pela conversão Àquele que vem ao seu encontro e o liberta do sofrimento. Só assim se compreende a vida deste homem após a cura (após o encontro com Jesus): ele abandona a sua enxerga (símbolo de toda a dor) e empreende uma nova missão – anunciar, sem medo, Aquele que o curou! Jesus, porém, alerta-o para que a sua vida seja de conversão contínua, não suceda que o pecado venha quebrar a alegria do encontro e, de algum modo, fazer esmorecer a Esperança, o que seria ainda pior do que a doença que o prendeu à enxerga durante 38 anos (cf. Jo 5,14). A Esperança torna-se vivência de conversão. Uma vivência que é a única capaz de fazer perdurar a alegria do encontro com o Salvador.
O hoje da Esperança Nem sempre é fácil esperar sem desfalecer. Deixar-se levar pelo sofrimento e pela força dos acontecimentos que nos derrubam parece ser o mais fácil e, muitas vezes, até o mais acertado. Contudo, remar contra a corrente é seguir Aquele que, por excelência, é «sinal de contradição» (Lc 2,34) e colocar-se em posição propícia para o diálogo com o Senhor da Esperança, o Senhor para Quem tudo é possível. Tal como com o doente que jazia junto à piscina de Betzatá, hoje, Cristo continua a vir ao nosso encontro de variadíssimas maneiras e continua a interpelar-nos, a partir da verdade mais profunda do nosso coração – a verdade do que somos. Qual a nossa resposta? A nossa conversão urge para que um mar de possibilidades possa abrir-se diante de nós. O sonho de Deus para nós é, precisamente, con-vocação para uma vida de plena realização. No entanto, a conversão que nos permite entrar no sonho de Deus só pode acontecer pela perseverança na Esperança – a Esperança que nos torna capazes de entrar em diálogo/relação com Cristo e com os nossos irmãos, nesta certeza que Jesus nos assegura que continua a operar grandes obras no meio de nós (Jo 5,17), possibilitando-nos a vivência de uma vida em abundância (Jo 10,10) – uma vida em Deus.
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ARTE
SINAIS DE ESPERANÇA (5) A PISCINA DE BETSAIDA Luís da Silva Pereira
Artus Wolffort foi um pintor barroco que nasceu em Antuérpia, em 1581, e aí morreu em 1641. Trabalhou como assistente de Otto van Veen, um dos mestres de Rubens. Curiosamente, durante muito tempo foram atribuídas a Rubens obras de Artus Wolffort devido a algumas semelhanças estilísticas, entre as quais podemos apontar o gosto pelas formas cheias e vigorosas dos corpos, o colorido intenso, os movimentos dinâmicos das personagens, uma certa teatralidade dos gestos. Dedicou-se particularmente à pintura de temas bíblicos e mitológicos. O quadro que vemos ilustra a cura do paralítico na piscina de Bethzata, ou Betsaida, ou ainda Betesda, em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, milagre narrado por S. João, no cap. 5, 1-18. À volta da piscina jaziam cegos, coxos, paralíticos, doentes de toda a espécie, que esperavam o momento em que um anjo descia do céu e agitava as águas. O primeiro que nelas entrasse depois de serem agitadas ficava curado. Estava ali um paralítico que há 38 anos esperava por esse momento, mas como ninguém o levava, não conseguia nunca chegar a tempo. Sabendo disso, Jesus perguntou-lhe se queria ser curado. Perante a resposta afirmativa, ordena-lhe: “Toma o teu catre e caminha”. No mesmo instante, o homem ficou 4
curado. Apanhou o seu catre e começou a andar. O evangelho afirma que a piscina tinha cinco pórticos, nos quais jaziam os doentes. O pintor tem a preocupação de enquadrar a cena nesse espaço, respeitando a descrição. O pórtico é o espaço aberto que ostenta colunas e arcos de estilo renascentista, sobre as quais se levanta ainda uma “loggia”, ou varanda. Vemos um doente deitado no catre e um outro quase nu, de pernas entrapadas. Ao fundo, caminhando por entre edifícios em ruínas, aproxima-se um velho curvado e apoiado em duas muletas. As ruínas eram um motivo pictórico e literário muito apreciado pelos artistas barrocos. Permitia-lhes estabelecer um contraste violento com a magnificência das arquitecturas, incutindo a ideia da fugacidade da vida e da beleza. Voando do nosso lado direito para o centro da cena, podemos observar um anjo com o braço direito estendido, sinal de que se prepara para agitar as águas. Dois dos doentes, ao fundo, olham para cima. Dão-nos a ideia de que reparam na sua aproximação. Um terceiro parece mesmo já deslocar-se para as águas, apoiando-se no braço esquerdo que coloca num dos degraus da piscina. Como não podia deixar de ser, o pintor chama para primeiro plano o milagre de Cristo, que segura com a mão esquerda o manto vermelho,
sinal de que vinha a caminhar. A cor viva do manto faz com que sobressaia dos restantes personagens. Cristo acaba de realizar a grande transformação na vida daquele homem já encanecido e que olha para o Senhor com olhos de imensa gratidão. Os artistas barrocos gostam de captar o momento preciso da metamorfose: Cristo ainda fala com o miraculado, ordenando-lhe que se levante e caminhe, e ele já toma nos braços a roupa do catre e faz o gesto de se erguer pelo seu próprio pé. As personagens que acompanham Cristo representam, certamente, os apóstolos. São pintados descalços, como determinava a iconografia clássica, e observam atentamente o que faz Cristo. Do lado oposto, vemos, de costas para nós, um doente sentado no seu catre e um grupo de pessoas que olham espantadas para o que está a acontecer, entre as quais uma mulher que entrelaça as mãos em sinal de emoção intensa. Um homem seminu estende os braços para Cristo como que pedindo também a sua cura. Não sendo um pintor excecional, Artus Wolffort revela grande segurança na composição pictórica, sabendo distribuir sabiamente pelo espaço do quadro as personagens, de modo a captar o essencial da narrativa miraculosa no preciso momento em que se verifica a grande transformação na vida daquele homem.
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SEMINÁRIO MENOR
SEMINÁRIO, SEMENTEIRA DE ESPERANÇA Grupo de Catequese do 10º ano de Apúlia
No passado dia de 19 de maio, o Seminário de Nossa Senhora da Conceição evidenciou a sua identidade de sementeira, ao receber sementes de diversas comunidades da Arquidiocese: a catequese de infância da paróquia de Gandarela (Guimarães), os grupos do 7º ano das paróquias de Esmeriz e Cabeçudos (Vila Nova de Famalicão) e da Sé Primaz (Braga), bem como os adolescentes do 10º ano da paróquia de São Miguel de Apúlia (Esposende). Quando chegámos, fomos recebidos pela equipa formadora deste Seminário e pelos jovens seminaristas. As atividades dinamizadas, ao longo deste dia, foram adaptadas a cada grupo, conforme a sua faixa etária. Tivemos a oportunidade de conhecer o Seminário, através de um peddy paper, cujo tema era “Sinais vocacionais”. Com a ajuda dos seminaristas, fomos passando pelos diferentes espaços que eles habitam no dia-a-dia, 6
tendo a oportunidade de perceber as suas rotinas e de pensar e refletir na sua vocação e na nossa. A partir de enigmas descobríamos uma nova instalação do Seminário, onde refletíamos sobre uma passagem bíblica ou sobre a história de um santo, ficando assim a conhecer o Seminário e a vida dos jovens seminaristas. Esta aventura continuou com dois workshops: um deles constou de uma apresentação da Capela Imaculada, que ajudou a compreender a nossa presença no espaço litúrgico e como somos chamados, pessoalmente pelo próprio Jesus, para a celebração da fé; e o outro, sobre a relação entre fé e vocação dos jovens, que nos ajudou a refletir sobre o ponto de situação dos jovens em relação à fé e ao seu discernimento vocacional, como reconhecimento do dom que Deus oferece a cada um, o que exige uma resposta da nossa parte para se concretizar numa opção para o seu cami-
nho de vida. Esta jornada terminou com um momento de oração sobre a semente da vocação, que é lançada ao coração de cada jovem. Esta presença no Seminário foi muito interessante, porque nos ajudou a clarificar a nossa visão acerca dos Seminários e da Igreja. Além disso, este momento marcou a nossa caminhada catequética, como oportunidade para ponderar sobre o nosso próprio percurso vocacional e para sentirmos a necessidade de despertar a semente da vocação nos jovens. Para cada um destes grupos, foi uma descoberta ver que os Seminários abrem as portas a outras pessoas, à arte, ao desporto, o que certamente proporciona a estes jovens seminaristas uma formação mais completa, além da dimensão religiosa, tal como todos os outros jovens da sua idade. Sem dúvida que foi uma experiência única, permanecendo em nós o desejo de a voltar a repetir.
SEMINÁRIO MENOR
“HORIZONTE DE ESPERANÇA”
SEMINÁRIO MENOR ABRE AS PORTAS A NOVOS CANDIDATOS João Pinto, 8º ano
De 27 a 30 de junho decorreu o estágio de admissão ao Seminário Menor. Seis jovens, provenientes de vários arciprestados da nossa Arquidiocese, participaram neste encontro de candidatos a integrar esta comunidade formativa. Depois de um ano de preparação através do Pré-Seminário Jovem, despertados pelas “Sementes de Esperança” da Sagrada Escritura, foi com alegria que estes jovens receberam a notícia da sua participação no estágio de admissão. Com a mesma alegria, foram recebidos na tarde do dia 27, para entrarem numa experiência que, com certeza, mudou a vida de cada um. Durante estes dias, os jovens gozaram da possibilidade de um contacto direto e completo com as diversas áreas de formação de um jovem seminarista. Este contacto passou, nomeadamente, pela visita à instituição educativa, convivência com o projeto educativo do Seminário, entre outros. Durante estes dias, cada jovem viveu vários tempos de oração e reflexão, podendo aprofundar o convite do Senhor da Messe, que incessantemente chama. É certo que este chamamento deve ser discernido profundamente, esta escolha é radical, mas estes jovens levam a certeza de que o Senhor Deus traça um trajeto de felicidade para cada cristão. Ele nada tira, tudo dá.
O Seminário deve ser encarado como uma casa onde os jovens procuram responder ao convite de Jesus. “Esta é a casa de toda a diocese”, dizia D. Eurico Dias Nogueira. Foi com este espírito fraterno que este estágio decorreu da melhor forma, em ambiente de comunhão espiritual e humana. Por isso, nestes dias os jovens viveram, intensamente, um encontro pessoal com Cristo Jesus. No decorrer deste estágio houve lugar ainda para o convívio com o Seminário Conciliar e para várias visitas de cariz cultural e/ou religioso. Aconteceram também momentos mais descontraídos, como a gincana de jogos tradicionais.
Como conclusão do estágio de admissão, um convívio permitiu estabelecer laços de comunhão fraterna e de alegria, contando também com a presença do Senhor Arcebispo, D. Jorge Ortiga, e das famílias destes jovens. Além disso, foi apresentado um vídeo com as atividades do ano que terminara. Assim, os jovens concluíram um ciclo importante nas suas vidas, iniciando uma nova etapa. Radiantes pela “alegria de ser santuário”, estes jovens, alegres e felizes, voltaram para as suas casas, esperando ansiosamente o mês de setembro, que marcará um grande caminho para cada um.
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SEMINÁRIO MAIOR
HINO “AKATHISTOS” João Castro, 5º ano
O hino “Akathistos” foi cantado no passado dia 13 de Maio, o mês dedicado a Nossa Senhora de Fátima, na Igreja de São Paulo. Como tem sido hábito, o Seminário celebrou o nome de Maria, cantando uma das mais belas composições marianas do rito bizantino. O hino “Akathistos” (ou seja, “cantado de pé”) é a mais bela composição mariana do rito bizantino. Canta o mistério da encarnação salvífica do Verbo de Deus, desde a anunciação até à parusia, contemplando a Virgem Mãe indissoluvelmente unida a Cristo e à Igreja. Composto pouco depois do Concílio de Calcedónia (451 d.C.), apresenta, em forma de síntese orante, tudo o que a Igreja dos primeiros séculos acreditou e exprimiu sobre Maria em declarações do magistério e no consenso universal da fé. Vale, pois, a pena, que todos o cantem durante o mês de maio, dito «Mês de Maria», e no dia em que celebramos a Ascensão do Senhor. Maria, que concebeu o Verbo encarnado por obra do Espírito Santo e que, durante toda a sua existência, se deixou guiar pela sua ação interior, é a Mãe que ensina a todos os discípulos do Senhor a docilidade à voz do Espírito (Cf. TMA 48). Ao longo dos tempos, o povo cristão não só se dirigia à Virgem Maria como a Mãe de Jesus, mas também a reconhecia como Mãe de Deus. Essa 8
verdade foi aprofundada e compreendida de forma a fazer parte do património da fé de toda a Igreja. Desde os primeiros séculos do cristianismo, ano de 431 (Concílio de Éfeso), Maria é proclamada Theotokos, Mãe de Deus. Este título surge nas primeiras comunidades cristãs, em que Maria é vista como a Theotokos. Este título não surge explicitamente nas escrituras, embora Maria seja designada como Mãe de Jesus, Mãe do Emanuel, que quer dizer Deus connosco (Cf. Mt 1,22-23). Nos meados do século III, surge na Igreja uma antífona mariana, do qual em latim a Igreja reza “Sub tuum praesidium”, que na versão portuguesa se
assume como: “À Vossa proteção”, e essa tradição chega até aos dias de hoje, em que os fiéis se dirigem a Maria rezando: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita”, como está na Liturgia das Horas. É através deste antigo testemunho que surge a primeira expressão Theotokos, como “Mãe de Deus e Nossa Mãe”. Maria, também, possui o título de “Medianeira de todas as graças”. Esse título é atribuído a Nossa Senhora, por causa da participação da Mãe de Deus no Mistério Pascal de Jesus Cristo. Por isso, desde os primórdios do Cristianismo, o povo de Deus recorria à Virgem Santíssima, e a Tradição da Igreja já reconhecia a sua participação singular no Mistério de Cristo e na vida dos fiéis, onde Maria, por ser a cheia de graça, pode interceder junto de Deus por nós no caminho e na resposta ao plano de Deus. Por essa razão, Ela é modelo de todos os que dedicam a sua vida a Jesus, na procura de oferecer a sua vida, o seu “sim” a Deus em favor dos seus irmãos. Ao rezarmos o Hino “Akathistos”, rezamos com a Mãe e pedimos pelas famílias, pelos sacerdotes, pelos seminaristas, pelos jovens em discernimento, para que vivam cada vez mais com intensidade a sua entrega, a exemplo de Maria.
«NÓS TESTEMUNHAMOS UMA NOVA LUZ!» VIA LUCIS NO SEMINÁRIO CONCILIAR Miguel Neto, 5º ano
«Nós testemunhamos uma nova luz!». Foi esta a aclamação que ecoou pelos corredores e espaços do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, ao início da noite do dia 24 de maio, durante a Via Lucis, este ano realizada fora do Tempo Pascal, por condicionalismos de calendário. A Via Lucis é uma devoção que tem paralelismo com a Via Crucis, a qual habitualmente realizamos na Quaresma, e remonta à Idade Média. Por seu lado, a Via Luminosa, ou Caminho Luminoso, como também é conhecida, tem uma história mais recente, tendo sido apresentada pela primeira vez na Sexta-feira Santa de 1991, pelo Papa João Paulo II. Os acontecimentos da vida de Cristo a escolher como estações para esta devoção ainda não estão definidos de uma forma estanque, pelo que existem diversos modelos a adotar, e as autoridades da Igreja não têm emitido recomendações significativas a esse respeito, o que permite essa variedade, à semelhança do que aconteceu na história com a Via Crucis. A Via Lucis procura levar aqueles que nela participam a meditar no «outro» lado do mistério pascal de Jesus Cristo, que nos Evangelhos é apresentado por meio de acontecimentos de profunda significação espiritual. Se nas catorze estações da Via Crucis meditamos sobre os eventos da paixão e morte do Senhor, procurando seguir a Cristo no
seu caminho de despojamento e de sofrimento, nas catorze estações da Via Lucis somos convidados a refletir na Ressurreição de Cristo e nos acontecimentos posteriores, os quais vieram a culminar na Ascensão de Jesus ao céu e no Pentecostes, tentando, assim, participar no caminho de glória do Senhor Jesus. A temática da luz é muito importante para os cristãos, que veem nela o símbolo da Ressurreição de Cristo e da Sua vitória sobre a morte. Esta conceção deve-se ao facto de a luz ser, num espaço escuro, uma presença, uma revelação, tal como Cristo é luz nas nossas vidas, tantas vezes marcadas pela escuridão. No dizer de G. Ravasi, a «luz é assumida como símbolo da revelação de Deus e da sua presença na história. De um lado, Deus é transcendente, e isto expressa-se pelo facto de a luz ser exterior a nós, precede-nos, excede-nos, supera-nos. Deus, porém, está
também presente e ativo na criação e na história humana, mostrando-se imanente, e isto é ilustrado pelo facto de a luz nos envolver, distinguir, aquecer, invadir»1. Assim, com o círio pascal, símbolo de Cristo, a guiar o nosso caminho, nos diversos espaços do Seminário, desde os claustros às capelas, fomos procurando refletir sobre a nossa vida, à luz das passagens bíblicas proclamadas, e das meditações que nos foram sendo propostas, as quais tinham por base essas passagens escriturísticas. Após o momento de oração, o dia terminou com a realização de um pequeno convívio entre os formadores e seminaristas do Seminário Conciliar, que serviu para fortalecimento de laços e para retemperar das forças, com vista ao final de ano que se avizinha.
1 In http://www.snpcultura.org/ano_internacional_da_ luz_perspetiva_biblica_religiosa_cultural.html
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SEMINÁRIO MAIOR
INSTITUIÇÃO NO MINISTÉRIO DE LEITOR Paulo Pereira, 4º ano
No dia 27 de maio, um grupo de três seminaristas do 4º ano de Teologia deram mais um passo na sua caminhada, rumo ao sacerdócio, através da instituição no ministério de leitor. Este é um primeiro passo que os seminaristas do 4º ano são, na configuração com a Palavra, convidados a dar. Neste sentido, a instituição é fruto e consequência de uma caminhada, marcando um primeiro e importante passo no caminho rumo ao sacerdócio, vocação que cada seminarista, com a ajuda de Deus e dos outros, procura discernir. Esta celebração contou com a presença dos Seminários Arquidiocesanos de Braga, dos seminaristas de Viana do Castelo, bem como dos amigos e familiares dos seminaristas que se preparavam para receber o ministério. D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar da Arquidiocese de Braga, presidiu à celebração, exortando os 10
seminaristas a tomarem duas atitudes importantes perante a Palavra. Em primeiro lugar, desafiou-os a deixarem-se transformar pela Palavra, e em segundo, a olharem para a Palavra como uma bússola. Deixar-se transformar pela Palavra implica que, em primeiro lugar, nos deixemos moldar-se pela Palavra, pois não pode, nem deve ser esta a adaptar-se, nem a estar ao serviço dos nossos caprichos. O leitor é, essencialmente, aquele que coloca a sua disponibilidade ao serviço da Palavra, quer no anúncio, quer no ensinamento da mesma. Para tal, é importante que a procure transmitir à luz da fé e possa perceber o sentido da Liturgia da Palavra e a sua conexão com a Liturgia Eucarística. A analogia da Palavra com uma bússola foi o modo com que o bispo auxiliar terminou a homilia. Esta imagem é muito rica e realça quer a centralidade, quer a importância
que a Palavra tem no exercício deste ministério, pois tem, precisamente, a função de conduzir, ou melhor, de indicar um caminho. Para o leitor, a Palavra é o centro sobre o qual o seu ministério se desenvolve, e a Palavra, enquanto bússola, indica o rumo a seguir. Após a homilia, seguiu-se o rito de instituição de leitor que explica, de um modo sucinto, aquilo que o leitor é chamado a fazer: «recebereis no povo de Deus um ofício particular, e sereis designados para servir a fé, que tem a sua raiz na palavra de Deus. Haveis de ler a palavra de Deus na assembleia litúrgica, educareis na fé as crianças e os adultos, prepará-los-eis para receberem dignamente os Sacramentos, e anunciareis a Boa Nova da salvação aos homens que ainda a não conhecem. Deste modo, e com a vossa ajuda, os homens poderão chegar ao conhecimento de Deus Pai e de seu Filho Jesus Cristo, por Ele enviado, e conseguir a vida eterna». Esta oração, retirada do rito da instituição do leitor aborda, de uma forma concisa, os pilares que devem orientar a missão do leitor, e a centralidade da Palavra no exercício do seu ministério. Terminada a celebração da eucaristia, seguiu-se um pequeno momento de convívio, que congregou os pais e familiares dos seminaristas instituídos, bem como os seminaristas das dioceses de Braga e Viana do Castelo.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
BÊNÇÃO ABENÇOADA Marta Fernandes, Ciências da Comunicação (UMinho)
12 de maio de 2018. O dia pelo qual esperávamos começou escuro e chuvoso. Nas várias reuniões com a organização da Bênção de Finalistas, tínhamos colocado a possibilidade de vir a chover durante a cerimónia, mas mantivemo-nos positivos. Porém, ao ver a chuva naquela manhã, era difícil esconder o descontentamento e o sentimento de incerteza. No entanto, como que imitando as voltas da vida, o sol apareceu naquela tarde sem qualquer aviso, como se ele próprio quisesse iluminar o caminho dos finalistas que assistiam silenciosa e atentamente às palavras sábias de incentivo do Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, nesta que foi uma cerimónia que primou pela organização. Como uma das representantes do meu curso, tive oportunidade de assistir de perto a todo o processo, desde a organização até ao momento final, onde fomos abraçados e felicitados pelos nossos familiares e amigos, por cumprir mais uma etapa. Em primeiro lugar, é importante referir o empenho que vi em todos aqueles que estiveram envolvidos nos bastidores deste que é um dos momentos importantes do final do nosso percurso académico. Tanto a equipa da Pastoral Universitária, como os representantes dos cursos, mostraram-se dedicados a tornar esta cerimónia em algo bonito e com significado profundo para todos
aqueles que iriam participar. Se, por vezes, as perguntas exaustivas, umas atrás das outras, prolongavam a reunião e provocavam alguns suspiros de aborrecimento, isso só mostra o interesse por deixar tudo perfeito. Em segundo lugar, também foi determinante o empenho daqueles que assistiram. O silêncio característico deste tipo de momentos solenes esteve presente durante toda a cerimónia, e tive a oportunidade de reparar que este silêncio não era por desinteresse (como acontece por vezes nas aulas), mas porque escutavam com atenção as palavras e conselhos do Senhor Arcebispo, ou por respeito aos colegas que realizavam o Ofertório, faziam as leituras, ou construíam o muro no momento de Ação de Graças. Por falar no Senhor Arcebispo, acho que é relevante parabenizá-lo pela sua homilia. Num momento que podia ter sido facilmente utilizado para relevar a importância da Igreja, resultando indiferença na audiência, o seu discurso cativante distinguiu-se. Falando para nós, não com autoridade, mas sim como um amigo, congratulou-nos pelos nossos esforços
e conquistas ao longo destes anos e deu-nos dicas e conselhos para o nosso futuro, deixando claro que teríamos sempre uma porta aberta e um guia a quem recorrer nos momentos mais difíceis. Por fim, mas não menos importante, gostava de deixar os parabéns aos outros representantes que participaram. A dedicação com que se evolveram nos vários momentos da Bênção merece ser reconhecida. No meio de exames e entregas de trabalhos, assim como toda a incerteza sobre o que vem depois, arranjaram tempo e motivação para recolher as ofertas, elaborar os cestos do ofertório, decorar os tijolos para a Ação de Graças e preparar as leituras. Foi graças a todos, e ao trabalho em equipa, num espírito de interajuda, que fomos capazes de realizar este momento tão marcante do término do nosso percurso académico, que seguramente ficará gravado na nossa memória. Agora, resta-me apenas agradecer a todos os que participaram na Bênção de Finalistas e desejar boa sorte àqueles que irão participar no futuro e que, tal como para nós, o sol lhes sorria. 11
PASTORAL DE JOVENS
DIA ARQUIDIOCESANO DA JUVENTUDE: CELEBRAÇÃO E ENCONTRO Departamento Arquidiocesano de Pastoral Juvenil
No passado dia 2 de junho, os jovens da Arquidiocese celebraram a alegria da juventude cristã no coração do arciprestado de Vieira do Minho. Mais de cinco centenas quiseram marcar presença, num dia que se desenvolveu à luz do tema da Esperança. O desafio do Arcebispo Primaz, que marcou presença no encontro, ressoava no coração de cada um dos participantes: “delineai uma estratégia e sede ousados e sem medo de evangelizar com entusiasmo e convicção”. Este chamamento para a ousadia na Esperança levou os jovens a saírem das diferentes paróquias da Arquidiocese e a concentrarem-se num encontro cujo lema – Caminhar com Esperança – pautou as atividades do dia que se desenvolveram até ao início da noite. Após o acolhimento inicial, junto à Câmara Municipal de Vieira do Minho, os jovens percorreram diferentes workshops que, na sua diversidade (música, dança, fotografia, vocação, esperança, sementes, orientação e cartoon), ajudaram a aprofundar a reflexão neste primeiro ano do triénio dedicado à Esperança. As temáticas trabalhadas abriram as portas a um
caminhar com Esperança tendo Cristo como companheiro, motivação e meta do caminho. Assim, no coração do encontro, a celebração da Eucaristia, presidida pelo Senhor Arcebispo, foi vivida com grande entusiasmo e participação de todos. Aqui, jovens e sacerdotes vindos dos diferentes lugares da Arquidiocese, celebraram a alegria de ser cristão, uma alegria que, vinda de Deus, é sempre reflexo de juventude e Esperança verdadeira. Depois da Eucaristia, o convívio fraterno continuou, tanto com a partilha da refeição como com a partilha da alegria de ser jovem, ao ritmo das músicas de louvor e Esperança animadas pelo Padre Sandro. No fim do dia, a despedida foi feita com a bênção de Deus e o regresso a casa, apesar da hora avançada, foi vivido fazendo eco da Palavra de Deus proclamada na Eucaristia. De facto, como São Paulo, a juventude arquidiocesana terminou o dia com o coração inflamado, afirmando: sim, «o Deus que disse: das trevas brilhe a luz, foi quem brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus» (2 Cor 4,6).
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