Voz de Esperança MaI/Jun 2019

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MAI - JUN / 2019

PESCA APEADA “Crescer dentro do horizonte das linhas que se lançam a partir de várias margens não tem uma finalidade extraordinária, mas sim uma oportunidade diária: reconhecer-me chamado, porque me sinto pescado!”.

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 70 | Bimestral 1,00 €

Rui Machado Pág. 9

CRISTO VIVE! “O Papa fala aos jovens de Esperança, assegurando a presença e o amor de Deus por cada um, em todas as circunstâncias, em todo o discernimento vocacional e em todos os caminhos dos jovens”. Dep. Arq. de Pastoral Juvenil Pág. 12

EDITORIAL

O TEU SER PARA OS OUTROS A coragem de arriscar pela promessa de

C O M I S S Ã O D A S

V O C A Ç Õ E S

E P I S C O PA L E

M I N I S T É R I O S

5 6.a S E M A N A D E O R AÇ ÃO P E L AS VO C AÇ Õ E S

Vigília de Oração pelas Vocações Igreja do Sagrado Coração de Jesus da Póvoa de Varzim │ 10 de maio | 21h30

Peregrinação Vocacional Partida de diversos locais até ao Espaço Agros │ 18 de maio | 14h30 – 24h00

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica aos Jovens, Cristo Vive, destaca a dimensão cristã da corresponsabilidade de cada um no processo de salvação dos outros, com quem nos cruzamos. Diz-nos ele, a certo ponto, que “a nossa vida na terra alcança a sua plenitude quando se converte em oferenda”. Por conseguinte, no mesmo nº 254, afirma: “devemos pensar que toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional”. Este “ser para” imprime, em perspetiva com a vida de Jesus, um saber acolher, não fazendo aceção de pessoas, e realiza-se na correção fraterna. É assim que somos a expressão visível do amor de Deus, deixando-nos habitar pela coragem de arriscar pela promessa de Deus, como refere o tema da Mensagem do Santo Padre para a 56ª Semana de Oração pelas Vocações, que acontecerá entre os dias 5 e 12 de maio. O nosso jornal Voz de Esperança, na qualidade de órgão de divulgação das atividades dos Seminários Arquidiocesanos, reservou a primeira página para apresentar o cartaz, rosto desta atividade a nível nacional. Para isso, nada melhor que retratar um navegante que não se deixa habitar pelo receio das perguntas sem resposta ou das respostas incompletas e vazias, mas faz da coragem o navegar para o “sonho maior”, arriscando pelo promessa de Deus que chama e desafia. O texto Visão é sintoma desta presença de Deus entre os homens. Reparemos como Deus prepara Cornélio antes da receção de Pedro. Agudiza o seu coração, como o daqueles discípulos que, perante o toque pessoal dado por Jesus enquanto laboravam na pesca, aceitam e seguem a proposta do Filho de Deus. Acompanhemos as comunidades dos Seminários. As notícias que aqui se encontram querem continuar a transportar-nos para este “mar alto” das nossas vidas. Continuemos, como Maria e tantos discípulos de Jesus, a disponibilizar-nos para que a vida não se torne prisioneira do banal, arrastada pela inércia dos hábitos de todos os dias. Tornemo-nos ágeis pela alegria do serviço e pela abertura ao Espírito que nos conduz a procurar novas rotas para a nossa navegação.


VISÃO

ENCONTRADOS POR ELE… ENVIADOS AO ENCONTRO Irmã Etelvina Nunes

«Pedro acolhido por Cornélio» (At 10, 23b-43). Esta passagem narra-nos um facto extraordinário que marcou o início da pregação dos apóstolos e o dinamismo da Igreja primitiva. Movido pelo Espírito Santo, Pedro vai ao encontro de Cornélio. Este era um homem justo cujas orações e práticas agradaram a Deus. Foi o próprio Deus, através do seu anjo, que preparou Cornélio para acolher Pedro. Este encontro entre Pedro e Cornélio não é apenas um encontro entre dois homens de tradições diferentes, mas um encontro entre duas comunidades distintas. Pedro toma consigo alguns homens de Jope que, através dele, serão testemunhas da ação de Deus. Cornélio, por sua vez, também não acolhe Pedro individualmente, mas reúne toda a sua família. Este encontro é preparado pelo próprio Deus, que escuta a oração de Cornélio, vê e acolhe as suas obras e a sua fé e deseja revelar-se mais profunda e claramente para lhe dar a plenitude da vida. Por sua vez, é também o próprio Deus que prepara Pedro para compreender que ele veio para todos, novidade que é fruto da morte e Ressurreição de Cristo. Como proferirá o apóstolo, ‘Deus não faz aceção de pessoas’, mas quer aceder ao coração do homem naquilo que ele tem de mais nobre e quer revelar-se plenamente a este. Por isso, o Espírito Santo prepara Pedro e Cornélio e ambos são convidados a predispor-se para algo que Cristo quer realizar neles e por meio deles. Toda a ação missionária pode encontrar nesta passagem uma inspiração. De facto, ela revela-nos que o imperativo missionário parte sempre de uma iniciativa de Cristo, o qual envia a anunciar que ‘Ele vive’, e, por meio do Seu Espírito, ajuda o enviado a descobrir os corações que anseiam pela plena revelação, que esperam a adoção de filhos. Averiguamos como os corações de Pedro e Cornélio estão abertos à ação de Deus e à escuta da Palavra. O Espírito Santo impele ainda hoje o enviado para aqueles que procuram Deus sem o conhecerem ou que têm um

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DOS IRMÃOS! conhecimento apenas histórico. Ouviram porventura falar que Cristo existiu, mas ainda não experimentaram a sua plenitude por meio de uma relação viva, pessoal e íntima com Ele. Deus, através do Espírito Santo, quer vir habitar no coração de cada homem, para lhe oferecer muitos irmãos e fazer dele membro de uma comunidade. Cristo precisa de cada um de nós, precisa de uma renovada abertura à sua graça, à ação do Seu Espírito Santo, para que nós, que já experimentámos a sua presença, nos deixemos enviar. Pedro tinha acompanhado Jesus durante a sua vida terrena, tinha assistido a muitos milagres, tinha comido com Ele depois da sua Ressurreição, e permanece agora unido a Ele pela oração e age movido pela ação do Espírito; é Ele que vem ao encontro de Cornélio e que move Pedro para ir ao seu encontro. Pedro comunica a sua experiência, o seu conhecimento de Cristo. Como diz a Escritura: “Como hão de acreditar se não houver quem anuncie?”. É com grande clareza que Pedro expõe o essencial da fé e da vida terrena de Jesus, da Sua morte e Ressurreição. Hoje, na ação evangelizadora, é necessário partir do anúncio direto de Cristo, pois é por Ele que vamos ao Pai e é por Ele que podemos acolher a vida do Espírito. Na casa de Cornélio acontece algo de extraordinário, pois, pela abertura à escuta da Palavra e pela fé, em presença da comunidade (as testemunhas que acompa-

nhavam Pedro e a família de Cornélio), o Espírito Santo desce, à semelhança do que tinha acontecido no dia de Pentecostes. Esse mesmo Espírito que tinha ungido Cristo no momento do seu batismo no Jordão, que tinha sido prometido e que transformara os apóstolos, desce também agora, revelando que a Boa Nova é para todos, todos aqueles que se abrem à Palavra e aderem à Salvação que Cristo veio oferecer. Por este facto, a Igreja primitiva compreendeu que Cristo não faz ‘aceção de pessoas’, que pela sua morte e Ressurreição fazemos parte de um ‘novo povo’ que tem n’Ele o seu fundamento e que manifesta a sua vida. O homem novo é aquele que foi revestido de Cristo, que o acolhe e que procura viver n’Ele e por Ele. Este homem é membro de um Corpo, é irmão de outros irmãos. Este texto coloca-nos hoje a pergunta de como estar abertos ao Espírito Santo. Como discernir as atitudes e comportamentos que correspondem ao homem novo, àquela obra que Deus está a realizar em mim. O que é necessário fazer na vida pessoal de cada um de nós para viver a vocação batismal, isto é: para aderir a Cristo, para completar, pela própria vida, aquela parte que ainda falta ao seu corpo? A alegria da missão está, por um lado, na conformidade da minha vida a Cristo, e, por outro lado, na experiência a que o Espírito Santo nos conduz e se faz presente quando O procuramos e invocamos.

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ARTE

A VISÃO DE PEDRO Luís da Silva Pereira

A visão de Pedro, quadro que vamos comentar, é da autoria de Domenico Fetti, pintor barroco italiano. Nasceu em Roma, em 1589 e morreu em Veneza, em 1623. Enquanto trabalhou em Roma sofreu influência dos Caravaggistas, visível no rico cromatismo e nos contrastes de luz e sombra. De 1613 a 1622, trabalhou em Mântua, ao serviço do cardeal Fernando Gonzaga, que se tornou duque da cidade sob o nome de Fernando II. Aí contactou com a pintura de Rubens. Em 1622 foi viver para Veneza onde a maneira veneziana de pintar também deixou marcas na sua arte, a qual, por sua vez, veio a influenciar pintores como Pietro della Vecchia e Sebastiano Mazzoni. O quadro que observamos ilustra a famosa e bela visão de Pedro, reportada nos Atos dos Apóstolos, capítulo 10, 11-16, e capítulo 11, 5-10, aqui narrada pelo próprio Pedro: “Estava eu em oração na cidade de Jope quando, em êxtase, tive uma visão. Um objeto semelhante a uma grande toalha descia do céu, preso pelas quatro pontas e chegou até junto de mim. Fitei os olhos nele, pus-me a observar e vi os quadrúpedes da Terra, os animais ferozes, os répteis e as aves do céu. Ouvi também uma voz dizer-me: ‘Vamos, Pedro, mata e come’. Mas

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eu respondi: ‘De modo algum, Senhor! Nunca entrou na minha boca nada de profano ou impuro!’. A voz fez-se ouvir pela segunda vez: ‘O que Deus purificou não o consideres tu impuro’. Isto repetiu-se três vezes”. Segundo os comentadores, a visão inculca no apóstolo a ideia de que não deve continuar a desconsiderar os não-judeus. Cristo não faz aceção de pessoas e, portanto, a Boa Nova não se destina apenas ao povo eleito, mas também aos gentios, a quem os judeus consideravam impuros. E é neste momento que chegam os mensageiros do centurião Cornélio à procura de Pedro para o levarem até ele, a fim de o instruir na fé. O centurião acaba por ser batizado, depois de sobre ele e seus familiares ter descido o Espírito Santo. O texto dos Atos diz que Pedro subiu a um terraço por volta da hora sexta (meio-dia) para rezar, mas sentiu fome e quis comer alguma coisa. Enquanto lhe preparavam a refeição foi arrebatado em êxtase. Na pintura, Pedro, pelos olhos fechados, pela posição da cabeça reclinada na mão direita, enquanto o braço esquerdo repousa no colo, mais parece estar a dormir ou a sonhar do que a ter uma visão. No entanto, Domenico Fetti, em nos-

so entender, não comete nenhum erro. Com efeito, os antigos consideravam que o sonho durante o sono não é incompatível com o conhecimento verdadeiro. A própria Bíblia o considerava como instrumento de revelação da vontade de Deus. O artista não pintou o atributo mais comum de Pedro, que são as chaves, mas pintou o manto amarelo, característico dele. Vemos pousado no chão um livro aberto que é também atributo dos apóstolos, significando que são eles os primeiros difusores do Evangelho. Verificamos ainda que está descalço, como são habitualmente representados todos os apóstolos. No ar, sobre a cabeça, vemos a tal toalha de que fala o texto, suspensa por alguém de quem só vemos uma perna, dois pés e um pedaço de manto azul, sugerindo que se trata de um ser celeste, talvez um anjo. Dentro da toalha encontram-se coelhos, um boi e outro animal que parece um cão, considerado animal impuro. Bastam estes poucos elementos para que a mensagem seja transmitida. Eles representam todos os animais da Terra. Frequentemente, a arte ganha mais força expressiva apenas com a sugestão do que com a descrição minuciosa de objetos e personagens. É este o caso.


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SEMINÁRIO MENOR

A MELODIOSA ESPERANÇA QUE SE CULTIVA NO SEMINÁRIO João Pinto, 9º ano

Na conclusão do mês de fevereiro, no dia 28, decorreram no Seminário de Nossa Senhora da Conceição as Audições de Instrumento e Canto Coral das Classes do Professor Dr. André Carvalho e do Professor Dr. Tiago Magalhães, ambos docentes da instituição. Em casa notabilizada pela música desde a sua fundação, com os contributos do Cónego Manuel Faria e do Pe. Benjamim Salgado, alunos deste Seminário, entre muitos outros, não se pode deixar esmorecer o gosto pela cultura musical, crucial na vida da comunidade. Iniciaram-se as demonstrações do trabalho realizado ao longo dos primeiros seis meses do ano letivo, por parte de todos os seminaristas, sendo precedidas por uma breve contextualização feita pelo Professor Tiago Magalhães, que falou em nome do corpo docente e que exaltou o papel da música, colocando-a numa posi-

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ção central e fulcral. As intervenções demostrativas dos alunos intercalaram-se entre as duas classes. Desde o período Barroco Português, com uma composição de Carlos Seixas, interpretada por Pedro Martins, passando pelo Romantismo, com Bela Bartok e sonorizado por vários aspirantes, até à Música Contemporânea, com uma incrível prestação do seminarista João Rosas, que encantou com duas obras de Ópera Italiana. Os alunos concluíram as suas atuações com uma interpretação de classes conjuntas de Canto Coral, com uma estreia por parte do Seminário, com o cântico do compositor Fernando Lapa, “O Senhor te cobrirá”, e com um Sanctus contemporâneo do mesmo autor. O momento conclui-se com uma composição mariana de Miguel Carneiro, “Desde toda a eternidade”, como agradecimento à padroeira do Seminário pela sua intercessão maternal.

O Pe. Rúben Cruz, membro da Equipa Formadora do Seminário Menor, referiu que, “desde já, devemos realçar o empenho de todos os seminaristas, assim como o modo como demonstraram os resultados alcançados, sendo que estes estão sempre relacionados com a dedicação e a entrega de cada um a esta arte. Da parte da Equipa Formadora fica a garantia de continuidade na proposta séria e importante da formação musical no percurso formativo dos seminaristas. As audições têm sempre como principais objetivos a avaliação de competências adquiridas, a motivação ao estudo da música e a partilha de conhecimentos com a comunidade”. O mesmo referiu o Pe. Mário Martins, reitor do Seminário Menor de Braga, que na sua intervenção conclusiva salientou “a centralidade da música na vida da comunidade, sem esquecer a importância que a mesma tem na formação de um candidato ao presbitério”.


SEMINÁRIO MENOR

“O QUE ME REALIZA?” ENCONTRO DE PRÉ-SEMINÁRIO Rúben Pinheiral, 11º ano

No passado dia 6 de abril, sábado, realizou-se no Seminário Nossa Senhora da Conceição mais um encontro de Pré-seminário, contando com a presença de cerca de 25 jovens das diferentes paróquias da Arquidiocese de Braga. Dando continuidade à dinâmica que já se vem a realizar desde o início do percurso de pré-seminário deste ano, os participantes tiveram oportunidade de refletir sobre a questão “O que me realiza?”. Este encontro iniciou com o acolhimento aos pré-seminaristas, dando-lhes as boas vindas. Seguiu-se uma dinâmica na Capela Imaculada, em que os jovens foram interpelados a escolher um lugar, dentro deste espaço, onde se sentissem mais confortáveis diante de Deus, sendo-lhes colocada a questão principal do encontro - “O que me realiza?”. Entretanto, seguiu-se na sala Pe. António a introdução ao tema

do encontro, sendo fornecidas aos pré-seminaristas algumas pistas sobre o que deve ser mais importante na vida e para a felicidade de cada um, apontando-se para o que os deve realizar mais, futuramente. Após esta introdução, o grupo foi convidado a refletir a partir do texto bíblico das irmãs de Lázaro, Marta e Maria, e das diferentes formas como cada uma acolhe Jesus em sua casa. A manhã prosseguiu com uma dinâmica de representação dramática por parte de todos os pré-seminaristas, que se reuniram em grupos para trabalharem a mesma. Seguiu-se a celebração da Eucaristia, na Capela Imaculada, presidida pelo Sr. D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Braga. Na partilha proferida, o prelado salientou “a importância de dois remos na barca da nossa vida, a oração e o serviço, sendo necessário que os

dois se movimentem em perfeita sintonia”. Seguiu-se então o almoço, ainda com a presença do Sr. D. Nuno, em que foi possível fortalecer tanto amizades como a cordialidade e o espírito de partilha entre todos. Ao início da tarde, o grupo foi convidado a assistir ao filme “Realizar o Impossível”, uma história verídica de um jovem de apenas 15 anos que não teve medo de realizar o seu grande sonho, que surgiu a partir de um exemplo de vida. Após terminar a visualização do mesmo, seguiu-se um breve comentário ao filme, em que o Sr. Pe. Rui Sousa, membro da equipa formadora do Seminário, interpelou os jovens a nunca desistir dos seus sonhos e a lutar sempre pelos mesmos, ainda que isso, por vezes, possa ser bastante difícil. O encontro terminou com um lanche convívio de partilha entre todos os seminaristas, pré-seminaristas e respetiva equipa formadora.

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SEMINÁRIO MAIOR

SEDES Jorge Fernandes, 3º ano

Entre os dias 15 e 17 de março, a comunidade do Seminário teve a sua habitual recoleção da Quaresma. Ainda que vivamos na era da velocidade, onde tudo tem de ser rápido ou extremamente rápido, este é um tempo, um dom, que nos permite abrandar o ritmo desenfreado do quotidiano e pensar a nossa existência de uma forma mais simples. De facto, este tempo que vivemos é um tempo de mudança interior e de arrependimento. Como nos desafia o Papa Francisco, “peçamos a Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira conversão. Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa de Jesus; façamo-nos próximos dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com eles os nossos bens espirituais e materiais.” Como de costume, os seminaristas encontravam-se divididos em vários grupos consoante a etapa de formação em que se encontram. O 3.º ano, em particular, deslocou-se até ao Convento Franciscano de Montariol, em Braga – uma casa tão bem conhecida para o nosso orientador, o Frei Luís. Este encontro decorreu sob o tema: «Todos nós temos “sedes”». Neste sentido, fomos convidados a refletir sobre as “sedes” que assolam o nosso coração e que, conscientemente ou inconscientemente, nos influenciam e marcam a nossa existência. 8

Iniciámos estes dias de encontro dando continuidade a uma caminhada que vem sendo proposta pelo Seminário para o tempo da Quaresma. Assim, tivemos um momento de oração a partir dos “Passos de contrição”, uma proposta para que cada cristão possa tocar o sofrimento de todos aqueles que foram vítimas de abusos sexuais, e rezar para que a Igreja seja capaz de encontrar as melhores formas de reparar estes pecados e feridas. O orientador apresentou algumas “sedes” para que assim pudéssemos ter um momento de reflexão mais profundo. De entre várias possíveis, apontou: sede de amor, sede

de transcendência, sede de sentido, sede de esperança, sede de liberdade, sede de uma existência redimida e sede de morrer. Para além de momentos de reflexão pessoal, tivemos, ainda, a possibilidade de momentos de partilha e reflexão em grupo. Este fim de semana em recoleção terminou com um encontro no Seminário para os pais. Estes tiveram, assim, a possibilidade de, em conjunto, poderem refletir acerca do mesmo tema e perceberam, também eles, as “sedes” que os inquietam. Tivemos ainda a habitual Eucaristia dominical e, para findar, o jantar e convívio entre as famílias.


PESCA APEADA Rui Machado, 1º ano

Passar à outra margem não significa necessariamente uma deslocação para outra parte diferente daquela em que já nos encontramos. É simplesmente caminhar, com outro passo, pelos caminhos que já fazemos todos os dias. É abrir as quotidianas janelas ao inesperado, mas devagar, tendo consciência de que as abrimos. É reaprender outra qualidade, quantitativamente boa, de forma a que o quotidiano, demasiadamente abandonado às rotinas e aos seus frenesins, ceda o seu lugar à salutar transformação que vai de uma incerta inquietude a uma certa quietude. É lançar as linhas e apear as canas nas margens do outro que caminha ao nosso lado, permitindo que a vida que está no âmago do seu coração venha enrolada à nossa linha e que,

inadvertidamente, arraste para a nossa margem as incomensuráveis respostas. No sentido em que o caminho nunca se faz só, mas sim acompanhado, os testemunhos dos que nos acompanham revelam-se como lufadas de ar fresco, são as mãos que sentimos nas costas, que nos empurram e nos sustentam quando os nossos passos são maiores do que as pernas. Assim foi, no passado dia 21 de março, dia em que a comunidade do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo recebeu a habitual visita do Sr. Arcebispo, D. Jorge Ortiga. Desta feita, o prelado celebrou a Eucaristia com a comunidade, impelindo cada um dos presentes a ver esperança na elementaridade de cada ação e de cada irmão que passa por nós.

Após o jantar, que contou com a declamação de alguns poemas no contexto da celebração do Dia Nacional da Poesia, o primeiro e segundo ano tiveram a oportunidade de se encontrarem com o Sr. Arcebispo, encontro que ficou marcado pelo caráter informal, visto que os presentes, a pedido do seu pastor, tomaram a iniciativa de formular algumas questões que foram respondidas com muita alegria e humildade. Resumindo, as questões apresentadas foram desde a experiência pastoral do prelado até à vida da Arquidiocese, bem como à sua própria vida vocacional. Por fim, crescer dentro do horizonte das linhas que se lançam a partir de várias margens não tem uma finalidade extraordinária, mas sim uma oportunidade diária: reconhecer-me chamado, porque me sinto pescado!

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SEMINÁRIO MAIOR

PELO CAMINHO DO PERDÃO Pedro Joaquim Antunes, 5º ano

A comunidade do Seminário Conciliar de Braga iniciou, no dia 8 de abril, a preparação para a celebração do sacramento da Reconciliação, que viria a acontecer no dia 11 de abril. O início dessa preparação centrou-se na visualização de um filme chamado Correio de Droga (2019), realizado e protagonizado por Clint Eastwood. Um dos temas do filme é este, o estranho caminho para a redenção de um homem marginalizado pela própria família, e pelas boas razões de a ter descurado durante décadas, justificando-se com o trabalho, quando a verdadeira razão, no fundo, era uma forma de egoísmo e autocentramento. Essa perceção, “corrigir-se”, é determinante no movimento da sua personagem, e isso 10

implica, levado às extremas consequências, algum sofrimento, talvez mesmo “masoquista”. É, por isso, surpreendente que este homem se sinta mais “livre” e redimido, precisamente quando se vê privado da sua liberdade. O filme mostrou à comunidade que o caminho da redenção acontece quando colocamos aqueles que amamos à frente de tudo, mesmo que isso implique colocar a própria vida em risco. Neste caminho rumo ao perdão, o Seminário Conciliar de Braga acolheu os sacerdotes que se disponibilizaram para ministrar o sacramento da Reconciliação, o que aconteceu na celebração penitencial que decorreu, como habitualmente, inserida na ce-

lebração da Eucaristia. Após esta celebração, os sacerdotes presentes, os formadores e seminaristas juntaram-se à volta da mesa, para um convívio em que se celebrava a alegria do perdão recebido. Estes momentos permitiram-nos aproximar da misericórdia de Deus e do amor aos irmãos, pois “aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência, obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e ao mesmo tempo reconciliam-se com a Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão (LG 11)”. Neste sentido, é importante reconhecermos que este sacramento tanto pode ser chamado de sacramento do perdão, como de sacramento da reconciliação: “é chamado sacramento do perdão, porque, pela absolvição sacramental do sacerdote Deus concede ao penitente «o perdão e a paz». E chamado sacramento da Reconciliação, porque dá ao pecador o amor de Deus que reconcilia: «Deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20). Aquele que vive do amor misericordioso de Deus está pronto para responder ao apelo do Senhor: «Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão» (Mt 5, 24)” (CCE 1424). É neste espírito de fraternidade que a comunidade do Seminário Conciliar de Braga se prepara para melhor viver o tempo pascal.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

APRESENTAÇÃO DO PROJETO ICTHUS Departamento Arquidiocesano de Pastoral Universitária

A Pastoral Universitária de Braga lançou este ano um novo projeto junto da comunidade universitária. O ICTHUS é um projeto que consiste numa missão de curta duração em países do Médio Oriente, marcados por conflitos ideológicos, religiosos, políticos e territoriais, dos quais surgem desigualdades, tensões e vulnerabilidades que ameaçam constantemente a paz. Com este projeto, a Pastoral pretende levar os jovens universitários a refletir sobre a origem da dimensão valorativa e religiosa que carateriza o nosso contexto ocidental. Por outro lado, procura-se o estreitar de relações entre as diferentes culturas e religiões, sensibilizando os jovens para os conflitos e para o papel das missões cristãs nos países em causa. Nesta que é a primeira edição do projeto, contamos com um pequeno grupo de dez jovens voluntários, que se encontram a fazer uma caminhada de preparação de sete meses, na qual lhes é apresentado um conjunto de ações, que os leve a refletir sobre as diversas dimensões de um projeto missionário, sendo uma delas, a realização de ações de voluntariado de

forma contínua, na comunidade em que se encontram inseridos. O nome e o logo do ICTHUS* surge por se tratar do símbolo dos primeiros cristãos, que eram persegui-

dos e que usavam o símbolo do peixe como forma de se identificarem. Para a Pastoral Universitária representa o voltar à origem, aos princípios do Cristianismo.

* A palavra “ICTHUS”, que em grego significa “peixe”, representa o código que os primeiros cristãos usavam, “IESUS CHRISTOS THEOS UIOS SOTER”, que à letra significa “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.

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PASTORAL DE JOVENS

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

CRISTO VIVE! Departamento Arquidiocesano de Pastoral Juvenil

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 125,00 €.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

«Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enchese de vida» (CV 1). É com estas palavras que o Papa Francisco inicia a sua mais recente Exortação Apostólica. Esta é dirigida, de modo muito particular, aos jovens, mas amplia o seu sentido e destinatários na medida em que coloca Cristo como fonte de toda a juventude, capaz de renovar todas as coisas e de tornar jovem todo o crente que ousa viver, com esperança e alegria, a fé cristã. Esta Exortação Apostólica Pós-sinodal coloca de mãos dadas a juventude de hoje com toda a tradição bíblico-cristã, tornando indissociável a juventude e a essência da Igreja peregrina. Neste sentido, o Papa fala de um Deus que é próximo do ser humano e que se manifesta junto da juventude. Além disso, sem fechar os olhos à realidade atual, o Papa alerta para os perigos de hoje face ao desejo desenfreado de todos se quererem manter (aparentemente) jovens: a ambição de adultos roubarem a juventude, manipulando a forma de pensar e de agir dos jovens; os perigos e oportunidades

que se entrecruzam na Internet e redes sociais, sendo esta uma realidade que atinge, sobretudo, os mais jovens; os desafios que são colocados à juventude face à realidade das migrações, da falta de emprego e da interculturalidade. Não obstante estes desafios, o Papa fala aos jovens de Esperança, assegurando a presença e o amor de Deus por cada um, em todas as circunstâncias, em todo o discernimento vocacional e em todos os caminhos dos jovens. De facto, se grandes são os desafios do mundo de hoje, que maior seja a nossa fé e a nossa esperança! Deste modo, sem negar os desafios, o Papa exorta os jovens: «Se és jovem em idade, mas te sentes frágil, cansado ou desiludido, pede a Jesus que te renove. Com Ele, não se extingue a esperança. E o mesmo podes fazer, se te sentires imerso nos vícios, em maus hábitos, no egoísmo ou na comodidade morbosa. Cheio de vida, Jesus quer ajudar-te para que valha a pena ser jovem. Assim, não privarás o mundo daquela contribuição que só tu – único e irrepetível, como és – lhe podes dar» (CV 109).

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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