SET - OUT / 2019
O ACOLHIMENTO DIFERIDO
Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 72 | Bimestral 1,00 €
“Só há comunicação quando nos atrevemos a deixar espaço ao território desconhecido do outro e do seu mistério. Por isso, a comunicação é o lugar que damos aos outros. Quando o fazemos, construímos comunidade.”. Pe. Rui Fernandes, sj Págs. 2-3
CAMINHO: O PRAGMATISMO DO NÓMADA “(...) porque não se deixa prender à lógica da tribo, o peregrino ensaia, a cada passo, o regresso à cidade. E, surpreendentemente, quanto mais próximo está da chegada, mais perto se encontra do retorno”. João Basto Pág. 9
EDITORIAL
LEVANTAR-SE E RETOMAR...
“JOVEM, EU TE DIGO, LEVANTA-TE” (LC 7, 14)
Setembro é o mês de todos os recomeços. Também nos Seminários de Braga, em comunidade, acontece o “retomar” dos percursos de discernimento vocacional em ordem ao sacramento da ordem. Neste viver em “comum unidade”, somos desafiados, neste número, desde logo, a reconhecer o outro tal como é, de forma a acolhê-lo ao estilo de Jesus, através de um olhar mais atento aos pormenores das virtudes do que aos defeitos, que podem ser meras projeções nossas na normal vida dos outros. Contudo, o acolhimento do outro poderá supor um “levantar-se”, tal como sugere o programa pastoral da nossa Arquidiocese de Braga. Este “esforço” de “levantar-se juntos”, com os espinhos dos defeitos e as almofadas das virtudes de cada um, requer que algum dos intervenientes assuma a atitude de quem se levanta primeiro, de quem toma a iniciativa de acolher e integrar o outro. No alinhamento do nosso jornal, concretamente na secção Visão, o Pe. Rui Fernandes, sj provoca-nos através de duas simples perguntas: como acolher o Evangelho? Como se adere a este novo estilo de vida? São provocações que nos fazem “saltar do sofá”, que nos inquietam na busca incessante de semearmos esperança no coração de todos. A construção das comunidades do Seminário, ao estilo de Jesus, de modo sempre novo e surpreendente, com acontecimentos e atividades, é testemunhada pelos vários textos que preenchem este jornal. Além disso, esta edificação vai acontecendo através de rostos concretos, como os dos formadores do Seminário que doam o seu ministério em total disponibilidade aos jovens que buscam este processo de configuração com Cristo. Sublinhamos este teor de gratidão aos que deixaram este exercício no ano transato: ao Pe. Rui Sousa, da equipa formadora do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, e ao Pe. Eduardo Miranda, diretor espiritual do mesmo Seminário, agradecemos o seu atento e profícuo trabalho no processo de crescimento de todos os jovens seminaristas e das comunidades formativas.
VISÃO
O ACOLHIMENTO DIFERIDO Pe. Rui Fernandes, sj
Que o cristianismo seja uma religião global, não é novidade: há muitos séculos que assim é. Mas este dado estatístico, embora parecendo quase banal, não deixa de ser surpreendente. Como é possível que, não obstante todas as diferenças entre pessoas e culturas, não obstante os quilómetros, línguas e tradições que nos mantêm além-fronteiras uns dos outros, haja algo sucessivamente partilhado por tantas pessoas? O fenómeno de difusão de ideias, em geral, e do cristianismo, em concreto, está longe de ser simples ou imediato. Mistura-se com política, trocas comerciais, exploração de territórios, afirmação de coroas e movimentos demográficos, mas também com o testemunho de homens, mulheres e comunidades que se identificaram com o evangelho de Jesus. Mas, no centro desse processo individual e coletivo está uma pergunta: como acolher o evangelho? Como se adere a esse novo estilo de vida? A provar que esta questão não é de hoje, mas acompanha a história do cristianismo, temos o relato do discurso de Paulo no Areópago de Atenas. Uma forma um pouco simplista de resumir o texto seria a seguinte: um grupo de atenienses, entre os quais alguns filósofos, tendo ouvido Paulo falar de Jesus, conduzem-no ao Areópago para que lhes explique a sua doutrina. Paulo procura mostrar-lhes que Deus não é um desconhecido distante que precisa de oferendas, mas é o Criador e Senhor, sempre presente e providente. Um sinal da sua presença é a vida e ressurreição de Jesus. Perante esse exemplo, as pessoas deveriam arrepender-se e mudar de vida, antes do julgamento. A maioria dos presentes considera ridícula a exposição de Paulo, alguns sentem curiosidade e uns poucos decidem segui-lo. Lido de repente, parece que estamos perante uma disputa entre bons e maus. De um lado, Paulo, que anuncia a novidade do Reino; do outro, os atenienses, que o recusam, preferindo as suas filosofias e idolatria. Será isso?
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Uma leitura atenta dos capítulos 16 e 17 dos Actos dos Apóstolos ajudar-nos-ia a tomar consciência da complexidade da questão. Paulo e Silas decidiram partir de Derbe e Listra (na atual Turquia) para a região da Macedónia (hoje, na Grécia). À medida que se distancia de Jerusalém, Paulo vai encontrando realidades bastante diferentes da sua. 2000 quilómetros depois do início da sua viagem, Paulo encontra, desde logo, um judaísmo diferente. Ali, as comunidades são compostas não só por judeus de origem israelita mas também por estrangeiros convertidos, alguns deles com estatuto social (cf. Act 17,4.12). À medida que prega, Paulo depara-se não só com as resistências e perseguições das autoridades (judaicas e civis), mas também com o interesse sério mas crítico dos seus ouvintes, que estudam e procuram confirmar a coerência da sua pregação (cf. Act 17,11). Mas, em Atenas o choque cultural será mais forte (cf. Act 17,16). Ali, Paulo confronta-se com uma religiosidade muito diferente da sua herança monoteísta judaica, por um lado, mas também com uma sociedade sofisticada e habituada ao debate de ideias, por outro. Mudam-se os
espaços, mudam-se os interlocutores. Paulo sentirá a urgência de discutir não só com a comunidade judaica mas também com os intelectuais de Atenas, muitos deles filósofos profissionais. A pregação deixa de acontecer apenas no templo, mas entra no espaço público (cf. Act 17,17). O discurso no Areópago reflete essa mudança de espaços e de interlocutores, e mostra ainda o esforço que Paulo fez por traduzir a sua mensagem num outro contexto cultural. O elogio do zelo religioso grego, a referência ao deus desconhecido e a alusão aos poetas mostra uma tentativa de estabelecer uma linguagem partilhada pelas duas tradições, com base no reconhecimento do seu desejo religioso. Visto de outro prisma, porém, o discurso de Paulo não deixa de ser um pouco apressado. Ao apresentar-se como aquele que vai dar a conhecer, Paulo corre o risco de reduzir os seus ouvintes a ignorantes, e toda a sua tradição a um erro. Mas, então, como anunciar uma novidade sem menosprezar o passado? Ou como anunciar a novidade do evangelho num contexto diferente? Há uma verdade discreta subjacente ao título «a um Deus desconhecido». O conhecimento de Deus está sempre inacabado; talvez por isso seja sempre novo; talvez por isso nos pareça tantas vezes estrangeiro. O relato do discurso no Areópago permanece, para nós, como testemunho do desafio sempre atual de tradução da nossa experiência (do evangelho e de vida), com a consciência de que a comunicação entre nós vai muito além da linguagem. Só há comunicação quando nos atrevemos a deixar espaço ao território desconhecido do outro e do seu mistério. Por isso, a comunicação é o lugar que damos aos outros. Quando o fazemos, construímos comunidade. É isso que Deus faz: comunica-se, abre-nos o seu Reino, torna-se casa, acolhe o estrangeiro.
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ARTE
S. PAULO NO AREÓPAGO Luís da Silva Pereira
O texto a partir do qual nos é proposta uma reflexão sobre a virtude do reconhecimento e elogio dos outros encontra-se nos Actos dos Apóstolos, cap. 17, 22-34. É o episódio do encontro de S. Paulo com os atenienses no areópago, que era o nome de uma colina consagrada ao deus Marte, na zona da acrópole, e uma instituição de sábios, uma espécie de supremo tribunal. S. Paulo aproveita a circunstância de ter deparado com uma multidão de deuses para elogiar os atenienses dizendo que são “os mais religiosos dos homens… Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ao Deus desconhecido. Pois bem, o que venerais sem conhecer é que eu vos anuncio”. E começou a falar de Jesus Cristo e da enorme novidade que era a ressurreição dos mortos. Alguns começaram a troçar dele e outros disseram, por uma questão de educação ou por ironia, que haviam de ouvi-lo outra vez. Um pouco antes, na ágora, ou praça pública, já alguns filósofos epicuristas e estóicos lhe tinham chamado gralha ou papagaio (depende da tradução). A ilustração que apresentamos deste célebre episódio é do grande Rafael Sanzio. Originalmente foi uma pintura a têmpera que serviu de
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modelo a uma das tapeçarias encomendadas por Leão X para a Capela Sistina. Como pintor do Renascimento que era, (estamos nos começos do séc. XVI), Rafael enquadra a cena num espaço cuja arquitetura imita a greco-romana. Repare-se no templo circular, chamado períptero, com estátuas de deuses nas paredes e rodeado de colunas dóricas, as mais despojadas de ornamentos. Do nosso lado esquerdo, vê-se uma sólida construção com arco de volta perfeita, posteriormente retomado, já na era cristã, na arquitetura religiosa e civil do românico. No meio da praça, eleva-se a estátua de Marte que, de facto, existia no areópago. Tem elmo na cabeça, lança na mão esquerda e escudo no braço direito. Repare-se que o apóstolo, com nimbo na cabeça, de pé, no patamar ao cimo da escadaria, se encontra ao nível da estátua. Julgo esta disposição intencional. Significa a oposição de dois mundos que, naquele momento, se enfrentam: o mundo politeísta e a mensagem cristã, que anuncia um Deus único, o tal desconhecido a quem os gregos veneravam sem saberem quem era. Segundo alguns intérpretes, são identificáveis, entre os ouvintes do apóstolo, dois grupos de filósofos: os estóicos, colocados mais perto do
pórtico que, em grego, se diz stoá, local onde tinham aulas (e por isso se chamavam estóicos), que parecem discutir entre si ou então começam a troçar de S. Paulo, apontando para ele. E há um outro grupo, o dos epicuristas, que ouvem, de pé, silenciosamente. Parecem meditativos ou talvez revelem apenas ceticismo e indiferença. Estas atitudes podiam perfeitamente mostrar a reação dos dois grupos a uma das partes da pregação de S. Paulo, aquela em que fala da ressurreição de Cristo, que mais contestação terá originado. Os Actos referem também que vários dos ouvintes concordaram com S. Paulo e abraçaram a fé. Identificam até duas delas: Dionísio Areopagita e Dâmaris (versículo 34). Serão as figuras que se encontram no canto inferior da pintura, do nosso lado direito. Os braços abertos do homem, correspondendo ao gesto de S. Paulo, e o rosto da mulher, que parece irradiar felicidade, indicam aceitação da mensagem de S. Paulo. A este Dionísio Areopagita se atribuiu, mais tarde e indevidamente, um célebre tratado intitulado “A Jerarquia Celeste”, que dividiu os anjos em nove “classes”, ou coros: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades; Principados, Arcanjos e Anjos, cada um deles com uma função específica.
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SEMINÁRIO MENOR
ENCONTRAR UM TESOURO Pe. Rui Sousa
Perante as opções que surgem na vida é preciso fazer escolhas. E, uma vez discernida a opção a tomar, devidamente escolhida, então é necessário tomar uma decisão, descartando as outras opções que outrora haviam sido motivo de ponderação demorada. É verdade que este processo não é fácil, mas é aquele que dá mais sen-
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tido à vida, porque consolida cada passo do caminho. O processo de discernimento vocacional também passa por estes trâmites, mas com uma tónica específica: perscrutar a vontade de Deus a respeito de quem está a fazer este percurso. Quando se manifesta uma comunhão de vontades, então co-
meça a fazer-se luz e a vida a ganhar sentido. Depois de mais um ano de discernimento, acompanhado pela comunidade do Seminário, pelas famílias e pelos párocos, através dos encontros de Pré-Seminário Jovem, alguns rapazes deram o passo para o estágio de admissão ao Seminário, que decorreu de 26 a 29 de junho. Ao longo destes dias, estes jovens tiveram a oportunidade de contactar de forma mais próxima com a vida quotidiana do Seminário, entendendo de que modo esta instituição pode ajudar no aprofundamento do seu processo de discernimento vocacional. Através de diversas atividades – momentos de oração, uma caminhada cultural, a gincana de jogos tradicionais, um filme educativo, encontros para acompanhamento na decisão –, que levaram os candidatos ao Seminário a encontrar o seu tesouro e a enriquecê-lo ainda mais, foi possível atingir uma decisão mais consciente e consolidada. Deste modo, a comunidade educativa do Seminário procurou cumprir, uma vez mais, a sua missão de ajudar estes jovens a dar passos na sua vida, segundo a vontade de Deus. Neste belo tempo da Igreja que vivemos, a admissão ao Seminário Menor pode ser um sinal de esperança, para continuarmos a propor este caminho a adolescentes e jovens das nossas comunidades cristãs, na certeza de que Deus continua a chamar, segundo o seu coração.
SEMINÁRIO MENOR
DAS PRAIAS DA ALEGRIA AOS CAMINHOS DA MISSÃO ENCONTRO DE FÉRIAS DO SEMINÁRIO MENOR João Rosas, 12º ano
Durante uma semana, com início no dia 8 de julho, a comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição realizou o seu encontro de férias, na cidade da Póvoa de Varzim. Este foi “composto por momentos de diverso cariz, desde o descanso até à aventura, da praia às cidades, permitindo um tempo de lazer e de particular alegria, mas também de oração, avaliação e consequente renovação do compromisso para com a missão a que cada um se sente chamado pelo Senhor Deus”. Quando chegamos à cidade dos pescadores, começamos com um momento de oração individual, preparada pelo Pe. Álvaro Balsas, diretor espiritual dos seminaristas do 12º ano. Esta oração desafiou-nos a evocar os momentos que vivemos ao longo da nossa caminhada como seminaristas e culminou com uma caminhada desde a capela da Nossa Senhora do Bom Sucesso até ao Mosteiro de Santa Clara. De seguida, tivemos um momento para prepararmos a avaliação deste último trimestre do ano que agora terminou. Seguiu-se a celebração da Eucaristia na igreja de São Francisco, junto ao Mosteiro de Santa Clara. Para terminar o dia, organizamos um piquenique também nas imediações do Mosteiro. O dia seguinte foi mais destinado à diversão e ao lazer, começando pela manhã na praia. Depois do almoço e de dedicarmos algum tempo à pri-
meira parte da avaliação do terceiro trimestre, a nossa tarde foi passada no Parque Aventura, em Azurara, Vila do Conde. Enfrentamos um touro mecânico, que deu luta a todos os que passaram por ele. Depois deste momento, as tensões subiram ao ver que iríamos realizar um percurso nas alturas, entre as copas das árvores, embora estando sempre garantida a máxima segurança. Terminado este percurso, esperava-nos um slide com cerca de 300m que todos adoraram. Depois disso, fizemos uma caminhada em busca de pistas. Terminamos o dia com um churrasco preparado pela comunidade. Na quarta-feira, todos os seminaristas tiveram formação humana com o intuito de promover uma retrospetiva da caminhada feita nos encontros ao longo do ano. De tarde, voltamos a disfrutar da praia. Às 19h00, na celebração da Eucaristia, os seminaristas mais novos, que participam nos encontros de Catequese realizados no Seminário, deram graças ao Senhor pelo caminho percorrido. No fim da celebração, todos os
seminaristas receberam uma lembrança que “evoca a necessidade de sintonizarmos a nossa vida em Cristo Jesus e de nos deixarmos enviar por Ele para a missão”. Já o penúltimo dia foi passado na Diocese do Porto. Começamos por visitar o Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia. Depois do almoço, passamos o rio Douro e continuamos o passeio pela cidade invicta. Visitamos a Sé, contemplando a beleza de cada detalhe. Seguiu-se a Torre dos Clérigos, de onde apreciamos uma vista magnífica. Depois do jantar, o serão foi preenchido com um último momento de avaliação. Foram também apresentados os caminhos que irão ser seguidos por alguns dos seminaristas, que, no final de uma etapa, decidiram tomar rumos diferentes para a sua vida. O último dia do encontro possibilitou ainda uma manhã de praia, seguindo-se a arrumação dos espaços, o regresso a Braga e a partida de cada seminarista para as suas comunidades e famílias, onde continuarão a disfrutar das suas férias. 7
SEMINÁRIO MAIOR
SEMINÁRIO CONCILIAR INVOCA OS PADROEIROS Luís Martins, 5º Ano
A 2 de julho, o Seminário Conciliar de Braga celebrou a festa dos seus Padroeiros, São Pedro e São Paulo (efeméride a 29 de Junho), numa solenidade em que a Igreja reconhece, não só a virtude cristã dos mais importantes apóstolos que deram a vida pelo Evangelho, mas também o seu “fundamento” e a sua “missão universal”. Por esse motivo, São Pedro e São Paulo são figuras inseparáveis na tradição da Igreja e delineiam o modelo formativo dos novos pastores. O dia começou muito cedo com o trabalho solidário de todos os seminaristas e funcionárias que, com muita alegria e boa disposição, começaram os preparativos para a festa. Neste dia tão especial, contamos com a estimada presença do nosso Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, que presidiu à Eucaristia comunitária. Na sua homilia, D. Jorge destacou as virtudes de São Pedro e São Paulo, exortando-nos a perspetivar as nossa vidas, configurando os nossos corações com o coração dos Apóstolos. Convidou todos os presentes, mas particularmente os seminaristas e diáconos, a tomarem como referência o exemplo dos quatro Arcebispos Santos de Braga, São Bartolomeu dos Mártires, São Frutuoso, São Martinho de Dume e São Geraldo, verdadeiros modelos de continuidade da vida apostólica e da tradição da Igreja. 8
Com as suas palavras, D. Jorge Ortiga aproximou-nos da vida dos seus antecessores, numa ponte histórica que é constantemente atravessada pelo Espírito Santo, que guia a sua Igreja. Esta celebração ficou ainda marcada pela Profissão de Fé e declaração jurada (ou juramento de fidelidade) de três diáconos: Fernando Carneiro, Vítor Gonçalves e Tiago Varanda, chamados a viver na fidelidade ao compromisso assumido e na obediência aos sucessores apostólicos. Na Eucaristia contamos também com a presença de muitos colaboradores e amigos que, com a sua alegria, alimentaram o espírito festivo. Por fim, como não podia deixar de ser, tivemos um momento de convívio que procurou seguir à risca o verdadeiro espírito do tradicional arraial minhoto, começando, desde
logo, com a tão desejada sardinhada que culminou com o típico caldo verde. Deste modo, louvamos todo o trabalho pensado e desempenhado por toda a comunidade que, uma vez mais, não quis fugir à tradição.
CAMINHO: O PRAGMATISMO DO NÓMADA João Basto, 5º Ano
Caminho e não estrada Mais fogo que distância, mais movimento que percurso, mais trânsito que lugar. Antes caminho que estrada, intensidade que paragem porque assim nos desvela a etimologia das palavras, dado que a um caminho corresponde a transitividade de “estar a” [caminho] e não a permanência de quem se detém em “estar na” [estrada]. De facto, ver o caminho [κάμινος], na sua origem, como forno e calor, reduz verdadeiramente a cinzas as nossas intenções de fantasia e bucolismo, de idealismo e narcisismo, substituindo-as por um exercício pragmático do coração que nos ensina a urgência das decisões e o engano de impasses e dilemas: Livrai-nos senhor do idealismo de horários e de estabilidade que nos cega. Livrai-nos da chegada que não promete outro caminho. Livrai-nos do esquecimento da partida quando se encurta o destino. Livrai-nos da idolatria da paisagem quando não nos deixa seguir. Livrai-nos da retenção do horizonte, da força bruta que não vê limites e os esconde. Livrai-nos da domesticação do mundo e dos percursos.
Livrai-nos de receitas e desfuturos Dai-nos o chão Dai-nos o encobrimento por Sol Dai-nos o coração Promete-nos a errância Ensina-nos a chegar O regresso do nómada No entanto, é a nossa condição de nómadas que nos confirma na pragmaticidade do caminho. Na verdade, não será por acaso que as comunidades primitivas subsistiam sem prisões ou densos códigos morais, como surgiram em sociedades imperiais de idade antiga como a Romana, mas antes através de laços relacionais profundos entre os membros. Porém, porque não se deixa prender à lógica da tribo, o peregrino ensaia,
a cada passo, o regresso à cidade. E, surpreendentemente, quanto mais próximo está da chegada, mais perto se encontra do retorno. Não se chega ao abraço sem primeiro se passar pelo pórtico, pois chegar é entrar/começar de novo, visto que o que até aqui se incendiou está mais ligado ao tempo que ao espaço e, assim, aos instantes que ainda nos faltam. 9
SEMINÁRIO MAIOR
ORDENAÇÕES PRESBITERAIS Tiago Costa, 3ºAno
No dia 14 de julho, o coração da Diocese pulsou três padres para todo o seu corpo, mantendo o ritmo cardíaco da Igreja estável. Paradoxalmente, nesse dia, houve uma aceleração rítmica que se deveu à alegria e júbilo de um corpo que se alegra com os seus membros. Fernando Carneiro, Tiago Varanda e Vítor Hugo são os novos membros do presbitério bracarense. Depois da caminhada no seminário onde participaram da comunhão de um coração que bombeia vida para um corpo, agora, serão parte mais ativa desse corpo, podendo ministrar o serviço ao mundo. Este ato vivificante realizou-se na Cripta do Sameiro que acolheu milhares de membros de uma Igreja, onde o desejo comunitário e o acolhimento dos recém-ordenados é o que move cada órgão da Igreja de Cristo. Num 10
espaço onde o calor acalentava sob a forma do amor, e onde cada participante é convidado a um culto verdadeiro que se traduz no serviço. Este convite foi elaborado pelo celebrante, D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e pastor de um rebanho que procura o melhor caminho. Nesta procura de um rebanho que se fazia sentir em grande número e expectativa, o nosso Pastor também nos convidou ao empenho, pois, hoje, ninguém progride se não se empenhar numa espiritualidade colectiva, do nós. Ora, dirigindo-se a uma parte do seu pastoreio, convidou à unidade do presbitério, já que estes, além de serem rebanho, também são pastores de comunidades, sendo necessário que o clero se mantenha fiel, obediente e unido no espírito de Cristo. Um alerta também ressurgiu da homilia do Sr. D. Jorge. A falta de pa-
dres é uma realidade do nosso tempo e da nossa diocese. Aliás, o Arcebispo Primaz fez uma análise sociológica sobre o número de sacerdotes na igreja local de Braga. Tendo chegado à conclusão que futuramente a situação pode ser insustentável, pois os operários não conseguirão trabalhar a longa messe com o mínimo de dignidade. É com enorme esperança que a comunidade de seminário vive estes momentos, pois, por um lado, os seminaristas podem ver no exemplo da caminhada dos novos padres um estimulo e uma motivação a continuarem a caminhar num caminho que vai sendo percorrido e que é diferente de caminhante para caminhante e, por outro lado, a esperança nesta nova etapa dos novos padres, na certeza de que prestarão um serviço à semelhança de Jesus.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
O PAPEL DA PASTORAL UNIVERSITÁRIA NO PERCURSO ACADÉMICO DE UM ESTUDANTE EM BRAGA Helena Sousa, 5º ano de Medicina, Universidade do Minho
A vida académica é, indubitavelmente, um marco na construção da identidade do estudante. Nela se constroem as amizades, o espírito crítico e a responsabilidade social. O percurso académico é o que quisermos que ele seja e o que quisermos fazer com ele. É cada vez mais fácil mergulhar numa experiência universitária danosa, assombrada pela competitividade, pela exigência, pela exaustão e pelo descontentamento. Podemos embarcar por uma visão fechada, focada no estudo, nas avaliações e nos prémios. Ou podemos querer ir mais além. É imperativo não nos conformarmos com o ensino clássico, desenvolvendo outras formas do saber. Saberes que nos permitem relacionar com os outros e com o mundo, contribuindo para uma vivência mais humana, eminentemente necessária. Disposta a desafiar os estudantes minhotos a ir mais além na sua espiritualidade, a Pastoral Universitária de Braga torna-se um espaço aberto aos que pretendem entrar numa viagem pelo seu “eu” interior. A Pastoral dispõe de salas de estudo luminosas e arejadas para os dias árduos de estudo. Dispõe também de uma capela para quando queremos desligar do mundo e ficar no silêncio, a conversar com Deus. A Pastoral desenvolve, ainda, vários projetos. O SEMENTES, um projeto de voluntariado de curta duração em países africanos de língua
oficial portuguesa. O VOLUNTARIADO LOCAL, que possibilita aos estudantes o contacto com realidades bem distintas do nosso quotidiano, mas tão próximas de nós. O recém-nascido projeto ICHTUS, um projeto de missão de curta duração em países do Médio Oriente. Os encontros de fé, as caminhadas Sem Escalas e tantos outros projetos. É uma infindável lista de oportunidades, a um pequeno passo do Campus de Gualtar. Eu bati à porta da Pastoral há cerca de três anos, no meu terceiro ano de universidade. Desde aí, tem sido a minha segunda casa. Cheguei pequenina e insegura, mas rapidamente a Pastoral se tornou um local de refúgio, de introspeção, de reflexão e de ligações humanas intensas, fazendo crescer em mim a vontade de me conhecer e de me superar. Fiz duas missões pelo Projeto Sementes: uma em
Cabo Verde e outra na Guiné Bissau. Fui extraordinariamente feliz em ambas. Estudo Medicina, na Universidade do Minho, um curso que amo, mas muito exigente, sendo fácil instalar-se o desânimo e a frustração. Sendo eu ainda mais exigente comigo própria, está montado o cenário perfeito para o caos. A Pastoral apresentou-me novas visões e trouxe-me tranquilidade, dando um novo significado à minha formação. Sei que serei melhor médica devido à minha vivência na Pastoral e sou eternamente grata por isso. Numa sociedade marcada pela competição desenfreada, é urgente remar contra a maré. A Pastoral Universitária torna-nos emocionalmente mais capazes. Num ambiente de partilha, prepara os estudantes para enfrentarem os desafios da vida adulta. Rumo a uma vida de ser e de estar, é essa a sua missão. 11
PASTORAL DE JOVENS
PEREGRINAR... PARA ALÉM DA QUILOMETRAGEM! Departamento Arquidiocesano de Pastoral Juvenil
O tempo de aulas fica para trás. Para uns, este é o tempo de descansar, de arrumar os livros e dar descanso ao intelecto, de, finalmente, divertir-se sem obrigações maiores. Para outros, este é um tempo de transição, de desafios face ao futuro. Um ano escolar terminou, mas agora há que fazer opções académicas, há que procurar um futuro que vá de encontro com o que sonhamos e, simultaneamente, nos permita viver condignamente no futuro mais distante. Em ambos os casos, este é um tempo de paragem! Uma paragem que significa, para muitos jovens da nossa Arquidiocese, poder permitir-se de viver um tempo mais próximo com Deus. De peregrinar para além de grandes caminhadas – de fazer um caminho interior de louvor a Deus e de comunhão com a Igreja. A ida a Taizé marca o início de um tempo que fecha as correrias de um ano de canseiras e abre para um tempo novo: de descanso e de espectativa face ao futuro. Não é por acaso que esta é uma paragem espiritual que continua a interpelar a juventude da nossa Igreja arquidiocesana. A oração pela unidade e para que o hino de louvor a Deus possa perpetuar-se ao longo dos dias e com a diversidade de idiomas, vozes e culturas torna-se força para uma vivência de fé eclesial renovada e revitalizada. Neste ano, cerca de uma centena de jovens aceitaram o desafio do Departamento Arquidiocesano para a Pastoral de
Jovens e rumam a Taizé com o desejo de fazer deste tempo de verão, um tempo de alegria na fé, um tempo em que a Esperança se configura como partilha de vida e de experiência de/em Deus. Não se trata de fazer “uma viagem a Taizé”, mas de uma peregrinação interior capaz de se traduzir num estilo de vida cristã.
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Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.
Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição
Taizé não ficará na memória destes jovens, mas nas suas vidas quotidianas. Não porque aqui se vive “uma experiência única”, mas porque a “experiência de Taizé” torna-se fonte de vida jovem, renovada, no coração da Igreja: uma força que nos ajuda a levantar e, desinstalando-nos, nos coloca ao serviço do Amor a Deus e aos irmãos.
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