SET - OUT / 2020
UMA MISSÃO PARA TODOS OS POVOS
Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 78 | Bimestral 1,00 €
“Cumpre(-nos), neste contexto: revisitar modos de presença de Deus no mundo (…); fazer pedagogia quanto a um confinamento que contemple o outro, no evitamento de um abraço que potencialmente o pode ameaçar, mas que nunca o negue (porque sem parceiros a vida falha).” Pedro Miranda Págs. 2-3
“2 MINUTOS DE PAUSA” “Agora que se aproxima um novo ano académico e o estudo mais intenso, vale a pena pensar no sentido que tem saber parar para falar com Deus. (…) A oração é, pois, um recomeçar constante, que traz muita alegria e ânimo à vida.” Constância Machado Pág. 11
EDITORIAL
É PRECISO… APROXIMAR-SE, VER, COMPADECER-SE “É preciso sarar as feridas abertas, dizer as palavras certas, acalmar um coração. É preciso dar o melhor que nós temos, todo o amor é de menos, é preciso levantar do chão”. Abrimos esta edição do Voz de Esperança com este texto que compõe parte da letra da nova música de Miguel Gameiro, que tem como título “É preciso”. Na hora do recomeço, depois de um merecido tempo de pausa e descanso, e particularmente neste ano marcado por todas as dificuldades trazidas pelo contexto da pandemia que assola o mundo, este imperativo assume uma nova centralidade, missão para todos os povos, impondo-se com forças renovadas no contexto da nossa Igreja particular de Braga, que nos recorda isso mesmo, ao desafiar-nos a sermos edificadores de “uma Igreja Sinodal e Samaritana”. Esta urgência perene de fazermos algo pelos outros, este “é preciso” que jamais caduca ou pode ficar esquecido no fundo da gaveta do nosso comodismo, pode resumir-se a três verbos / atitudes que os nossos Seminários Arquidiocesanos pretendem destacar ao longo deste novo ano. É preciso “aproximar-se”, é preciso “ver”, é preciso “compadecer-se”, pois, como afirma o texto Visão, a “missão para todos os povos pode ser redescobrirmos o modo como podemos ser auxílio uns dos outros”. Guiados por estas coordenadas, aprendidas no Evangelho, e concretamente no testemunho do bom samaritano, os nossos Seminários serão, certamente, o tempo e o espaço privilegiados para se multiplicar a esperança na comunhão com todos, como as atividades aqui relatadas também o atestam. Na mesma linha de pensamento, é também preciso agradecer e acolher. Por isso, no início de uma nova etapa, manifestamos a nossa gratidão ao Pe. Daniel Neves, que deixa a equipa formadora do Seminário Conciliar e parte para uma nova missão, pelos anos de profícuo trabalho e dedicação à formação dos jovens seminaristas, e, ao mesmo tempo, damos as boas vindas ao Pe. Pedro Sousa que passará a integrar esta mesma equipa.
VISÃO
UMA MISSÃO PARA TODOS OS POVOS Pedro Miranda
1. Se uma das vozes mais interpelantes do nosso tempo, o Pe. Tomás Halík, situa, no interior de cada pessoa a simultânea existência de um “crente” e um “descrente”, como bem recordou o padre e pintor Adelino Ascenso em recente intervenção no ciclo “Espiritualidade, Arte e Poesia: o ser humano procura o que está longe”, organizado pela Pastoral da Cultura da Arquidiocese de Braga, e se aquele pensador checo propõe, de modo audaz, e cremos que com acerto, para estes nossos dias, a Igreja como escola de sabedoria, em procura da verdade, de forma livre e em profunda contemplação, em ilhas de espiritualidade e diálogo, servindo uma inteira sociedade (sem apartar ninguém do convite), então a necessidade/capacidade de, hoje por hoje, interpelar (o humano), permeada, certamente, por linguagens e registos diversos mas convergentes no rasgar de horizontes, podendo fazer (a) metáfora necessária para superar idolatrias e a banalidade da repetição – “toda a repetição é anti-espiritual” (José Tolentino de Mendonça) -, encontra-se entre esses indeclináveis trabalhos dessa comunidade – de hodiernos apóstolos - inscrita em este magma de busca (nocturna) que pode incarnar a palavra do dia: “à procura” (“seekers”). Tal como na encíclica Spe Salvi, de Bento XVI, também podemos encontrar no mundo (e pensamento) secular a perspectiva segunda a qual só com Deus a Vida tem sentido (vide, por exemplo, a posição da filósofa Susan Wolf). Ora, convocar para o significado – muito estudando/investigando/trabalhando para alcançar instigar/tocar o próximo – constitui-se como missão para todos os povos – há sentido na própria procura deste, quer dizer, numa vida não apática nem indiferente, numa vida levada a sério -, e só nessa tangente ao Transcendente a esperança poderá ser multiplicada. 2. O tempo pandémico, incontornável nesta hora, demanda uma resiliência que só em comunidade – “suportai-vos uns aos outros” (Cl 3:13) – poderá ser, verdadeiramente, ancorada. Se “não há maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15-13), então cumpre-nos, por um lado,
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reconhecer – e como esse reconhecimento é importante! -, na história acabada de escrever, a resposta de muitos a um chamamento amoroso e de entrega (total de si, em função dos outros), pegadas e sinais que não podem deixar de ser luz (na noite) e, por outro, subtrairmo-nos, tanto quanto possível, a um discurso e a uma prática de pânico, remetida a um completo auto-centramento, à preservação da «vida nua», da mera sobrevivência, sem aspiração à «vida boa», à «grande vida», aquela que aprendemos, em Jesus Cristo, a extravasar para os outros. Cumpre(-nos), neste contexto: revisitar modos de presença de Deus no mundo, sem declinações (fáceis) de tipo mágico; escutar, em densidade, a resposta dos que dão corpo amoroso à cidade, quando esta deserta; fazer pedagogia quanto a um confinamento que contemple o outro, no evitamento de um abraço que potencialmente o pode ameaçar, mas que nunca o negue (porque sem parceiros a vida falha). Missão para todos os povos pode, pois, ser redescobrirmos o modo como podemos ser auxílio uns dos outros – a nossa alegria, própria de cristãos, há-de ajudar à «reversão do afecto», à transformação de um momento traumático, como aquele que vimos vivendo, na modelação do humor dos mais pequenos que temos a nosso encargo; iremos, com certeza, recordar a cada irmão as suas forças resilientes e os diversos motivos porque “queremos que ele seja!” (T. Halík), assim como os talentos dele com que continuamos a contar - numa hora em que a troca de experiências, informações, conhecimentos à escala global se conta como decisiva para a superação do momento difícil perante o qual nos encontramos. Em vez do outro percepcionado como ameaça, hostilidade, vírus, este recebido, antes, com hospitalidade, acolhimento, pertença comum (na religação ao mesmo Pai, uma fraternidade reclamada). Na criação deste chão, em anos recentes tão abalado a nível global, os apóstolos de Jesus Cristo podem desempenhar um papel muito relevante (uma seiva que dê o seu específico contributo para alimentar um espaço público menos vociferante
e mais compassivo, com a recordação dos Testamentos e da exortação, nestes, a bem tratar o estrangeiro). 3. Como ensina Maria Clara Bingemer, ler as vidas dos místicos será ler a revelação de Deus em si mesmo, o qual está a escrever, pelo Espírito, no corpo e na vida do místico. Os místicos, segundo a teóloga - em um incisivo que pode ser interpretado como um ensejo/estímulo mais para uma Igreja em saída, não auto-centrada -, encontram-se, muitas vezes, em fábricas, no meio do ritmo barulhento e stressante das máquinas e indústrias. Ou nas ruas com os mais pobres e deserdados do chamado «progresso». Ou na prisão, devido à sua actividade e compromisso, considerados perigosos pelas autoridades estabelecidas. Ou no inferno dos lagers e gulags de todas as origens e formas. Ou seja, em situações muito seculares. Bingemer dá o exemplo de Etty Hillesum como uma mística por excelência. E sabemos como esta, mesmo em Auschwitz, contemplava o jasmim do campo e não conseguia achar a vida desprovida de sentido. Que o espantoso testemunho de Etty, cujos Diários acabam de ser reeditados, continue a abalar-nos e nos dê a esperança resiliente e confiada ao eco amoroso que sempre continuará a soprar (em nós).
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ARTE
VISÃO DE S. PEDRO Luís da Silva Pereira
O texto que, desta vez, nos é proposto encontra-se nos Actos dos Apóstolos, cap. 11, 1-18. A partir dele, sugere-se para reflexão o tema “Uma missão para todos os povos”. Neste capítulo 11, é o próprio S. Pedro que narra, em discurso directo, o êxtase durante o qual viu uma espécie de grande lençol ou toalha descendo do céu, dentro do qual se viam quadrúpedes da terra, feras, répteis e aves do céu. Ouviu uma voz que lhe ordenava: “Levanta-te, Pedro, imola e come”. Pedro respondeu: “De modo nenhum, Senhor, pois nada de profano ou impuro entrou jamais na minha boca!”. A voz tornou a falar: “Não chames profano ao que Deus purificou”. O diálogo repetiu-se três vezes, e o lençol voltou para o céu. Segundo os comentadores, a visão inculca no apóstolo a ideia de que não deve continuar a desconsiderar os não-judeus ou incircuncisos. Cristo não faz acepção de pessoas e, portanto, a Boa Nova destina-se também aos gentios, a quem os judeus consideravam impuros. E é neste momento que chegam os mensageiros do centurião Cornélio à procura de S. Pedro para o levarem até ele, a fim de o instruir na fé. É um pouco estranho que episódio tão central na revelação cristã,
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por estabelecer a universalidade da Boa Nova, tenha sido escassamente tratado pelos artistas. São muito poucas as iconografias que abordam o tema. Vamos analisar uma delas, uma xilografia inspirada num desenho do excelente pintor alemão Julius Schnorr von Carolsfeld, que nasceu em Leipzig, em 1794, e aí morreu em 1872. Fez parte do grupo chamado Nazarenos que se inspiravam no primitivo Renascimento alemão e no seu principal representante, Albrecht Durer. A xilogravura é uma técnica que utiliza a madeira como matriz da impressão. Por desbaste com instrumentos cortantes, talha-se na madeira a forma que se quer reproduzir. Depois passa-se um rolo com tinta que só toca nas partes elevadas do entalhe. A seguir imprime-se em papel ou outro suporte. É uma espécie de carimbo. O artista procura seguir fielmente a narrativa dos Actos. Coloca S. Pedro, em primeiro plano, numa açoteia ou terraço. O cabelo e a barba abundantes mostram que é um homem na força da idade. O nimbo sobre a cabeça identifica-o como santo. A posição reclinada da cabeça indica que está a dormir. É durante o sono que tem o êxtase. O artista coloca mesmo à sua
frente a grande toalha dentro da qual se vêem animais. Entre eles ainda conseguimos identificar uma ovelha, uma ave de bico aberto, um cavalo e serpentes, estas representando os répteis da terra. A narrativa não fala em anjos, mas o facto de serem eles quem segura a toalha indica que se trata de uma manifestação divina. A nuvem sobre a qual são desenhados reforça a ideia de que vêm do céu, enviados por Deus. Um deles aponta para as figuras masculinas que se encontram na rua, como que avisando S. Pedro da sua presença. Pelos pratos ou escudelas que segura na mão, a figura feminina será a mulher que, entretanto, preparava a refeição para S. Pedro. Aponta aos viajantes acabados de chegar (ainda seguram na mão o bordão de caminhantes) o lugar onde se encontra hospedado o apóstolo. O que bate à porta é militar (tem capacete na cabeça e gládio à cintura), indiciando que vem da parte do centurião romano Cornélio. Pormenor interessante, que mostra como o artista procura seguir fielmente a narrativa bíblica, são as peles de bovinos penduradas dum varão sobre a cabeça da mulher. Com efeito, a narrativa diz que S. Pedro estava hospedado em casa de um curtidor de peles chamado Simão.
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SEMINÁRIO MENOR
UMA AVENTURA… EM ESTÁGIO DE ADMISSÃO AO SEMINÁRIO João Pinto, 10º ano
No fim de semana de 11 e 12 de julho, decorreu o Estágio de Admissão ao Seminário de Nossa Senhora da Conceição. Três candidatos visitaram o Seminário na sequência de um percurso no Pré-Seminário Jovem, este ano subordinado ao tema “Uma aventura...”, a fim de aferirem o seu ingresso nesta instituição. Em contacto com alguns elementos da comunidade residente, este estágio revelou-se para os jovens como “um tempo muito importante de discernimento e opção”. Assim, no sábado, os três jovens chegaram ansiosos e empolgados ao Seminário Menor de Braga, sendo recebidos pelos sacerdotes que compõem a Equipa Formadora. Como primeira dinâmica, foram convidados a participar numa atividade de reflexão e autoconhecimento em grupo, denominada “Agora que eu chego ao Seminário”, na qual refletiram sobre a sua história pessoal, fundamental para um bom discernimento vocacional; um exercício de reconhecimento de defeitos e virtudes pessoais e um brainstorm, no qual cada um procurou responder à questão “O que o Seminário espera de mim?”. Findo este momento de partilha, que permitiu alicerçar a convivência e a confiança em grupo, seguiu-se um Peddy Paper em que os jovens percorreram vários espaços da Casa-Seminário, respondendo a questionários acerca de cultura bíblica, litúrgica e doutrinal. 6
Já de tarde, o grupo partiu para uma caminhada vocacional através dos trilhos das Sete Fontes, em Braga, no sentido ascendente do caminho que à fonte conduz e acompanhados pelas descendentes águas que abastecem a cidade. Nesta dinâmica chamada “À procura do rumo certo”, concretizada numa jornada de mais de 5 km, aprofundaram-se laços de confiança, união e comunhão que alicerçam os princípios comunitários do Seminário. Um momento de Adoração Eucarística, ao cair da tarde, permitiu que cada jovem se confrontasse consigo mesmo e com a sua etapa de discernimento vocacional num diálogo pessoal e coloquial de oração com Jesus Sacramentado. O dia chegou ao seu ocaso com o visionamento do filme Boychoir (menino de coro), associado muitas vezes à questão vocacional graças ao seu enredo. O segundo e último dia de estágio, este ano mais curto devido à pandemia de SARS- CoV-2, iniciou-se com a oração da Hora de Laudes em
comunidade. Mais tarde, abriu-se um espaço para a partilha de opiniões acerca do filme visto na véspera. Após este momento, o Pe. Rui Sousa apresentou as diversas dimensões da formação do Seminário, esclarecendo as dúvidas dos candidatos. Depois do almoço, os jovens estagiários e os seminaristas residentes visitaram o Santuário do Bom Jesus do Monte, Património Mundial da UNESCO. Do ascensor à Basílica, do recém-criado núcleo museológico à exposição permanente, esta foi uma tarde animada e de convívio. À chegada, houve um tempo de colóquio individual com a Equipa Formadora e, de seguida, entre os pais, os candidatos e os formadores. Um dos pontos altos foi a celebração da Eucaristia onde se agradeceu ao Senhor o dom da vocação e o “Sim” generoso destes jovens que abraçam desde agora esta comunidade e o Projeto do Seminário. O estágio findou com o jantar de despedida, esperando-se agora o mês de setembro para o reencontro.
SEMINÁRIO MENOR
CAMINHADA DE PROGRESSÃO ANUAL ENCONTRO DE FÉRIAS E DE AVALIAÇÃO Filipe Rodrigues, 10ºano
No passado dia 16 de julho, no culminar de um ano de bem-estar, alegria, felicidade, amor, entrega e trabalho, os Seminaristas do Seminário Menor de Braga, juntamente com os sacerdotes da Equipa Formadora, reuniram-se no Monte de São Lourenço, na paróquia de Alheira, Arciprestado de Barcelos, para a realização de um encontro de férias, marcado pelo convívio e descontração, mas também pela sempre importante avaliação do ano agora terminado. Este ano, devido à pandemia que pelo mundo passa, o encontro foi realizado em moldes diferentes. Habitualmente, o Encontro de Férias de Avaliação de Ano realiza-se durante uma semana e seria, obviamente, uma melhor experiência para toda a comunidade. Porém, e apesar de todas as contrariedades pelas quais passamos, a comunidade empenhou-se para que a qualidade deste encontro fosse garantida, sendo igualmente bom e positivo para todos os envolvidos. Deste modo, o encontro iniciou pelas 9h30 da manhã, com o momento de acolhimento junto da Capela de São Lourenço. O programa seguiu-se com a oração “Passo a Rezar”, já com o grupo recolhido no interior da Capela. Esta oração ajudou toda a comunidade a perceber a importância da confiança nas pessoas que a rodeiam e nas pes-
soas da própria comunidade. Depois disso, o grupo realizou uma caminhada pelo Monte do Facho, que fez os Seminaristas refletir sobre os progressos feitos na sua caminhada espiritual ao longo do ano letivo 2019/2020. De seguida, celebrou-se a Eucaristia na Capela da Senhora do Facho. Terminada a celebração, o grupo fez uma nova caminhada de regresso à Capela de São Lourenço, para a degustação do almoço, que contou também com a presença do Sr. Pe. Vítor Nogueira, pároco de Carapeços, e do Sr. Pe. Carlos Leme, também pároco no Arciprestado de Barcelos, assim como de alguns dos colaboradores do Seminário de Nossa Senhora da Conceição. Após o almoço, houve um momento de lazer em que os Seminaristas se reuniram para jogarem à malha, sem esquecer a partilha de situações mais cari-
catas sucedidas no Seminário durante este ano. Posteriormente, ocorreu a avaliação do ano, que procurou incidir em todos os momentos, dos mais positivos aos mais negativos, apontando-se estes últimos como objeto de trabalho para o próximo ano, com o objetivo de os ultrapassar ou melhorar, sempre a partir das quatro dimensões essenciais para a vida de um jovem seminarista (humana, espiritual, pastoral e intelectual). Após a partilha do lanche, o encontro foi dado como terminado. Ficou a alegria por mais um ano concluído e pela saída de três seminaristas que, tendo terminado o 12º ano, continuarão agora o seu percurso no Seminário Conciliar. Além disso, fica também a esperança, sempre renovada, de que esta comunidade permaneça unida na fé e no amor. 7
SEMINÁRIO MAIOR
PILARES DE FÉ Ricardo Silva, 1º Ano
No passado dia 23 de junho, os seminaristas do Seminário Conciliar de Braga festejaram, como já é hábito desta casa, a noite de São João. Esta festa começou às 16h00, com a celebração da eucaristia, presidida pelo Pe. Agostinho, onde pudemos conhecer um pouco mais da vida de São João, considerado um exemplo que cada um de nós deve procurar seguir. Terminado este momento de oração e de reflexão, demos início ao nosso animado convívio, respeitando, criteriosamente, as normas impostas pela DGS para este tipo de eventos. Foi, então, tempo de usufruirmos, em comunhão, deste dia memorável para todos, de estreitarmos os laços que nos unem, usufruindo de tudo aquilo que de mais importante existe em nós e, sobretu8
do, no outro: o carinho, a amizade, o companheirismo e o espírito de partilha. Como não poderia deixar de ser, saboreamos as tradicionais sardinhas assadas e todos os petiscos característicos desta festa. Sendo junho o mês dos santos populares, na noite do dia 29 tivemos também o privilégio de poder festejar, mais uma vez no seio da nossa comunidade, São Pedro e São Paulo, padroeiros do nosso Seminário. A eucaristia foi presidida pelo Sr. D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, que realçou a importância destes dois santos, considerados “pilares imprescindíveis à vida do Seminário”, e demonstrando, através das suas sábias palavras, que “as suas vidas podem ser luz para os nossos caminhos”. Terminado este momento de co-
munhão com os sagrados mistérios de Deus, recarregámos as nossas energias com um agradável jantar, ao qual se juntaram alguns convidados que fazem parte da formação dos seminaristas. Todos estes momentos servem para fortalecer amizades, abrir caminhos, mas também para percebermos a importância que têm os exemplos de vida destes santos para a comunidade em geral, o seu contributo para a construção de uma Igreja forte e acolhedora e, mais especificamente, a significância que têm para cada um de nós que fazemos esta caminhada rumo ao sacerdócio, sempre acompanhados por uma família que nos proporciona uma excelente formação espiritual e académica e, simultaneamente, muitos momentos de verdadeira felicidade.
CHAMADOS AO SERVIÇO E À CARIDADE ORDENAÇÕES DIACONAIS Tiago Nogueira, 3º Ano
No passado dia 28 de junho, na Cripta do Sameiro, a Arquidiocese de Braga rejubilou com a ordenação de três novos diáconos: Jorge Miguel Rodrigues, da paróquia de S. João Batista de Nogueira, Arciprestado de Braga; Paulo Pereira, da paróquia de Santa Marinha de Covide, Arciprestado de Terras de Bouro; e Pedro Antunes, da paróquia de Santa Maria de Bouro, Arciprestado de Amares. Celebrou-se, nessa tarde, a Vigília dos Apóstolos Pedro e Paulo, Padroeiros do Seminário. Na liturgia da Palavra desse dia memorável, transparecia uma exortação ao serviço, que é dom (e que deve ser) gratuito, proveniente do amor que somos convidados a partilhar. Na reflexão desta Palavra, o Pastor desta Igreja Particular de Braga, D. Jorge Ortiga, convidou os neo-diáconos a assumirem “a proposta exigente de Jesus Cristo para os tempos atuais da Igreja”, afirmando ainda que “os diáconos foram escolhidos pela Igreja primitiva e pelo Espírito Santo para se dedicarem à caridade da Igreja”. Realçou que “estes tempos de pandemia trouxeram ao Ser Humano, enquanto sujeito individual e enquanto pessoa coletiva, a perceção da sua vulnerabilidade e dependência”. Referiu, também, que, “para o crente, a morte e o sofrimento não têm a última palavra, e que a Páscoa da Ressurreição mostra exatamente isso: que a morte e Ressurreição de
Cristo não é apenas um momento histórico, mas sim um momento presente que faz ressoar uma mensagem de esperança e de vida”. D. Jorge chamou à atenção que “todo o crente é chamado a servir e a ser diácono, enquanto membro da Igreja”, convidando, uma vez mais, os eleitos ao diaconado a serem a “presença amorosa… as mãos que acolhem, os olhos que têm a vontade de encarar e o coração que vem trazer a esperança”. Ressaltou, ainda, que “é para o serviço que eles devem viver, sendo chamados a deixarem-se tocar pelas feridas do Homem moderno, curando-as”. O prelado terminou a homilia sublinhando que todos “so-
mos discípulos de Cristo, discípulos da Páscoa!”. Após a proclamação da Palavra e respetiva reflexão, os eleitos ao diaconado fizeram as suas promessas de obediência, de reverência, de caridade, de proclamarem o Evangelho, de cumprirem o celibato e castidade, de rezarem a Liturgia das Horas e imitarem o exemplo de Cristo. Depois das promessas feitas, o Bispo, como sucessor dos Apóstolos, impôs sobre os diáconos as mãos, para que o Espírito Santo descesse sobre eles, entregando-lhes o Evangelho de Cristo com a missão de proclamarem, crerem o que leem, ensinarem o que creem e viverem o que ensinam. 9
SEMINÁRIO MAIOR
UMA IGREJA EM FESTA ORDENAÇÃO DE QUATRO NOVOS PRESBÍTEROS Vítor Couto, 4º Ano
No passado dia 19 de julho, a Arquidiocese de Braga vivenciou um dia de alegria e festa com a ordenação de 4 novos sacerdotes. O Pe. João Carlos Castro, de 33 anos, natural de Quinchães, Arciprestado de Fafe, o Pe. Manuel José Torre, de 26 anos, de Santa Eulália de Balasar, Arciprestado de Vila de Conde e Póvoa de Varzim, o Pe. Pedro Sousa, de 24 anos, de Ronfe, Arciprestado de Guimarães/Vizela e o Pe. Miguel Neto, de 34 anos, natural de Dume, Arciprestado de Braga, foram ordenados pelo Arcebispo, D. Jorge Ortiga, numa cerimónia que teve lugar na Cripta do Santuário do Sameiro. Para além das habituais 551 paróquias da Arquidiocese de Braga, também esteve representada a paróquia de Ocua, Diocese de Pemba, Moçambique, que receberá, este ano, 3 novos missionários arquidiocesanos de Braga. Cumprindo-se as ordens emanadas pela DGS, também esta cerimónia acabou por ser marcada pelas contingências da pandemia associada ao vírus Covid-19, o que limitou a presença e participação a um número mais reduzido de pessoas. Todavia, 10
apesar das máscaras esconderem os sorrisos, foi possível verificar que muitos foram os olhos que brilharam de emoção e de alegria por este momento de júbilo para a Arquidiocese bracarense. No que toca à homilia, D. Jorge Ortiga referiu aos presentes que o tempo do confinamento rigoroso lhe permitiu rever e relembrar os seus conhecimentos da Igreja primitiva de Jerusalém a partir “da existência de dois novos modelos de confronto”. Por um lado, “o modelo de Jerusalém que se apoiava numa realidade monocultural, fechado num judaísmo rigoroso e que colocava o templo no centro, à volta do qual tudo deveria girar, conservando e defendendo as instituições de modo a dar realce à força da lei e, particularmente, às classes sacerdotais”. Porém, “mais tarde, apareceu o chamado modelo de Antioquia, marcado por uma acentuada tendência pluricultural, mais distante dos templos e aberto às casas que emergiam como verdadeiras igrejas domésticas. Hoje temos de regressar a este valor da proximidade manifestado pelo modelo de Antioquia. Nesta ordenação, quero deixar
esta referência à Igreja que somos e queremos ser. Interrogamo-nos muitas vezes sobre que Igreja queremos para o futuro. Não a vejo centrada nos sacerdotes, mas impelindo estes para o meio do povo que escutam, acolhem, orientam, acompanham. Tudo num grande respeito pela dignidade de todos e, particularmente, acreditando nos talentos sem nunca pretender impor. É uma Igreja que caminha com todos e, por isso, sinodal”. No final das ordenações, o Arcebispo agradeceu aos pais dos novos sacerdotes, dirigindo-lhes as seguintes palavras: “as famílias, particularmente os pais, são aqueles Cireneus incansáveis que lutam persistentemente para que nada falte numa caminhada espiritual de oração e de comunhão a solicitar renúncias a coisas importantes para acompanhar os encargos financeiros que os anos vão trazendo, uns após outros. Deus vos recompensará por tantos sacrifícios. Tende a certeza…, [que] um irmão, um sobrinho, ou um filho padre, dar-vos-á muito mais do que possais imaginar”. Por fim, D. Jorge manifestou a sua gratidão por todo o esforço diário empreendido pelas equipas formadoras dos Seminários, para que as ordenações sacerdotais possam ser o espelho dos valores conscientes e exigentes da Igreja Católica e para que tenhamos santos sacerdotes para os tempos contemporâneos que vivemos.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
“2 MINUTOS DE PAUSA” MAS PARA QUE É QUE ISTO ME IRÁ SERVIR? PARA QUE É QUE ISTO ME SERVIU? Constância Machado , Ciências da Comunicação, UMinho
Vivemos numa sociedade de consumo, do imediato, do útil, do prático. Quando surge a hipótese de fazer algo que exija tempo, vem-nos à mente a pergunta: “Mas para que é que isto me irá servir?”. O tempo escorre-nos pelas mãos e, por isso, ponderamos bem antes de nos lançarmos em alguma nova tarefa. É precisamente aqui que surge o tema da oração e da iniciativa dos “2 minutos de pausa”, um conjunto de orações lançadas através de um podcast pela Pastoral Universitária de Braga! Em maio, logo após o tempo de confinamento, mas enquanto nós, estudantes universitários, ainda vivíamos academicamente confinados, eu e mais 29 universitários fomos desafiados a fazer um breve áudio de oração que fizesse parte de uma rede de reflexão que iria chegar a vários jovens durante todo o mês de junho. Perante este desafio, muitas foram as questões que se levantaram: Será que vale a pena reservar tempo do nosso dia para estar a sós com Deus, falar com Ele na intimidade do nosso coração? Será que faz falta parar? Talvez ao fim desses 30 dias, depois de ouvir 30 diferentes jovens a partilhar a sua oração, consigamos responder. A mim ajudou-me! É bom ver que somos muitos, que não estamos sós neste caminho de quem quer chegar até Deus e/ou de marcar a diferença no mundo à
nossa volta! Para quem é crente, esta jornada de oração é uma rampa de lançamento no diálogo com Jesus. Para quem não o é, é um repto a parar e a refletir sobre vários temas, a abrir horizontes e a saber olhar para as necessidades dos outros. Talvez essas vozes diferentes nos façam ver as coisas de uma perspetiva que nunca tivemos antes. É bonito ver como o Espírito Santo sopra de maneira diferente a cada pessoa, concretamente a cada jovem. E que, com toda esta diversidade de pensamento, enriquecemos ainda mais a nossa vida interior. A um nível imediato, os efeitos destes “2 minutos de pausa” poderão não ser palpáveis da forma que gostaríamos. Mas aos poucos, e à medida que nos deixamos levar pelas palavras dos diferentes jovens e com a perseverança da oração ao longo dos dias, notamos o crescimento interior, da fé e da confiança que temos em Deus. Agora que se aproxima um novo ano académico e o estudo mais intenso, vale a pena pensar no sentido que tem saber parar para falar com Deus. Talvez passemos a ver a nossa vida académica de outra forma e
aprendamos a oferecê-la a Deus e a vê-la como um serviço à sociedade. Se não visse, uma vez e outra, a grandeza do estudo na oração, quantas vezes me apeteceria desistir, deixar para mais tarde. A oração é, pois, um recomeçar constante, que traz muita alegria e ânimo à vida. Para concluir, gostava de colocar a pergunta inicial, mas de outra forma: “Mas para que é que isto me serviu?”. Ajudou-me a ver que reservar um tempo do dia para parar e fazer oração não só é útil, como é essencial. Estes “2 minutos de pausa” fizeram e farão a diferença. O desafio é, acima de tudo, para continuar, de modo a ver na oração o recurso que nos ajuda e orienta. Se calhar o importante é saber encontrar a hora do dia em que nos sentimos melhor para continuar e/ou começar a fazer a nossa oração. Eu aprendi e cresci ao longo desse mês de oração com “2 minutos de pausa”. Espero que outros jovens também. Obrigada à Pastoral Universitária por esta iniciativa e a todos os universitários que aceitaram o desafio e o tornaram possível! Para quem quiser conhecer e ouvir as orações: soundcloud. com/2minutos-pausa 11
PASTORAL DE JOVENS
MULTIPLICAR A ESPERANÇA NA COMUNHÃO COM TODOS Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens
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Após uns meses de descanso, e de todas as azáfamas para que o novo ano letivo e pastoral pudesse começar da melhor maneira, eis-nos chegados ao momento de retomar atividades e de encontrar novos ritmos e rotinas, atendendo à realidade do mundo em que nos encontramos. Durante os últimos meses, o acompanhamento e o caminho trilhado pela nossa juventude foi marcado por muitos questionamentos que, por diferentes canais on-line, foram sendo respondidos e sobre os quais se foi falando. O tempo de pandemia, prejudicial a tantos níveis, foi também um tempo de reflexão e de diálogo sobre as questões prementes da fé e das razões da nossa Esperança. Com os jovens fizemos caminho e crescemos em conhecimento e em partilha, redescobrindo o ADN cristão que nos impele a um acreditar que não é apático nem cómodo. Antes, nos leva a sair de nós mesmos e a “Esperar contra toda a esperança”. A Esperança da fé, é precisamente o motor que permite alimentar a nossa relação com Deus e com os irmãos. Na comunidade essa esperança torna-se fecunda e frutifica, tornando-nos capazes de ir mais longe, tanto na nossa vida pessoal (cheia de incertezas e questionamentos), como na nossa vida comunitária (tantas vezes marcada por conflitos e incompreensões). Neste desejo de multiplicar a esperan-
ça e tornar a comunidade cada vez mais fecunda, o Departamento Arquidiocesano de Jovens continuará a responder aos anseios de tantos animadores que procuram amadurecer a sua vocação e crescer na missão que lhes é confiada, através de uma oferta formativa, quer para aqueles que iniciam agora a sua missão de animadores, quer para aqueles que desejam continuar a fazê-lo com maior seriedade e responsabilidade. Os diferentes níveis de formação permitirão ir ao encontro das necessidades sentidas pelos jovens, e mesmo pelos responsáveis paroquiais e pelos Movimentos. Uma necessidade que foi evidenciada de forma premente nos inquéritos realizados pelo DAPJ e aos quais temos vindo a dar resposta desde então. Agora, é tempo de “recuperar o tempo perdido”, o tempo em que tivemos de interromper a formação por causa da pandemia. Interrompemos a formação presencial, mas não aquela que podemos ir fazendo on-line. Interrompemos atividades, mas não matamos a Esperança que nos anima a realizá-las e a vivê-las como expressão da nossa fé. Este novo ano pastoral é, portanto, o tempo favorável para retomar a alegria da nossa juventude! É o tempo favorável para crescer na Esperança! Uma Esperança “que não nos engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.
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