Voz de Esperança Nov/Dez 2017

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NOV - DEZ / 2017

MISSÃO: SOMOS CHAMADOS À ESPERANÇA

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXII - 6ª Série | Nº 61 | Bimestral 1,00 €

“Como jovens, somos todos chamados a despertar e a aumentar a esperança no mundo, porque trazemos connosco inúmeros sinais de Deus na nossa história, na fidelidade à nossa vocação e missão”. Sara Poças Págs. 2-3

SEMEAR ESPERANÇA “Só podemos colher o eco daquilo que vivenciamos, das nossas experiências, na medida em que nos deixarmos surpreender pela realidade do presente”. Carlos Pereira Pág. 11

EDITORIAL

INDICADORES DE ESPERANÇA

Vigílias de Oração pelos Seminários Igreja de São Paulo

(Seminário Conciliar de Braga) 17 de novembro | 21h15

Igreja Matriz Nova

(Vila Nova de Famalicão) 24 de novembro | 21h15

Os sinais de Deus são essenciais, assim já refilava o povo de Israel para “assentar” a sua fé no Deus único. Ora, esta sinalética de Deus em nós, os sinais interiores de estar sintonizado com Ele, e, portanto, de ter acertado com a sua vontade, faz-nos tranquilizar, produz em nós consolação espiritual, isto é, diria S. Agostinho, “todo o aumento (todo o movimento positivo) de fé, de esperança e de caridade”. Foi este o mote que, sustentado por Aquele que João Batista apresentou como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 35-51), não apenas assumiu o tema que arca o nosso ano pastoral, como também incentivou a descrição intensa de sentimento e alegria na secção visão, onde a missão acontece ladeada por sinais que nos chamam, indicam e conduzem na esperança e para a esperança. Interpelação semelhante a esta “Voz de Esperança” preenche sempre a antepenúltima semana do tempo litúrgico, habitualmente dedicada pela Igreja em Portugal aos seus Seminários. De 12 a 19 de Novembro, sob o tema “Fazei tudo o que Ele vos disser”, somos convidados a olhar mais de perto uma das dimensões específicas dos Seminários, precisamente a possibilidade que oferecem de fazer a experiência de vida em comunidade com Jesus, numa relação sempre íntima, una e única. Este ano os nossos Seminários estarão com as comunidades paroquiais do arciprestado de Vila Nova de Famalicão, nas celebrações, nas catequeses, mas sobretudo na Vigília de Oração. Pretendemos, por isso, desde já, manifestar o nosso agradecimento pelo carinho e pela generosidade que os Seminários encontram sempre nas nossas comunidades, conscientes de que todas têm uma missão fundamental e insubstituível na proposta, na formação, no crescimento e no amadurecimento de todas as vocações, e concretamente ao sacerdócio.


VISÃO

MISSÃO: SOMOS CHAMADOS Sara Poças

Tal como Jesus chama os seus primeiros discípulos das mais variadas formas, como nos diz o evangelho de São João, também nos chama a nós para a vocação e a missão. Sim, Jesus, que continua a dar-nos a Sua vida como o novo Cordeiro de Deus (cf. Jo 35-51), chama-nos para Si, desde o dia do nosso Batismo, ao longo da nossa vida, com sinais de vocação e de missão que se apresentam diante de nós das mais variadas formas e nos mais diversos lugares: “Vinde e vede” (Jo 1, 39). Será que estamos atentos? Foi um momento marcante na minha vocação missionária um testemunho de uma voluntária missionária que ouvi, ainda no secundário, sobre a sua experiência missionária em Moçambique. Mais tarde, à vocação missionária juntou-se a convicção de que, através da educação (minha área de formação), poderia ser um sinal de esperança para muitos, “a educação como a maior arma que temos para mudar o mundo”, como dizia Nelson Mandela, esse homem que ainda hoje é um indicador de esperança no mundo. Eu acredito que, através da educação e da formação para os valores, crescem pessoas mais conscientes e mais humanas, que terão um efeito multiplicador enorme, junto das comunidades onde habitam, que terão esperança numa vida melhor, num futuro que está nas suas mãos. Este é um grande indicador de esperança na dignidade humana, independentemente da parte do mundo onde a pessoa habite. Apesar de atualmente a descrença e a deceção terem mais destaque, existem imensos indicadores de esperança na nossa sociedade e na nossa “casa comum”. O papa Francisco é talvez o exemplo mais consensual: um Ho-

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S À ESPERANÇA mem que é conhecido por um estilo pessoal despojado e simples de viver, que não tem medo de lutar pelos seus ideais e está próximo da vida das pessoas, pois “a missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente uma paixão pelo seu povo” (EG 268). Mas não é só o Papa Francisco este indicador de esperança: todos nós conhecemos pessoas que dedicaram e dedicam a sua vida a causas, como Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, a jovem Malala, entre outras que não são tão mediáticas, como os nossos pais e até os nossos formadores. Assim, como missionários, somos todos convidados a “dar à luz” esse Deus que habita cada ser humano e, portanto, a sermos sinal de esperança. Também relativamente à nossa “casa comum”, este “condomínio” onde todos habitamos e que somos convidados a cuidar, mesmo que às vezes a vejamos a ser

impiedosamente destruída, é bom termos a convicção de que temos sempre algo a fazer para a melhorar: “A esperança convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar de rumo, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas” (LS 61). Por fim, como jovens, somos todos chamados a despertar e a aumentar a esperança no mundo, porque trazemos connosco inúmeros sinais de Deus na nossa história, na fidelidade à nossa vocação e missão, no fundo, as novas tendências da humanidade e a abertura ao futuro, não ficando encalhados na nostalgia de estruturas e de costumes que já não são fonte de vida no mundo atual (cf. EG 108). Como afirma o Papa Francisco, “basta um homem bom para haver esperança!” (LS 71) Felizmente, há muitos homens e mulheres de bom coração. Por isso, não percamos a esperança!

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ARTE

SINAIS DE ESPERANÇA (1) UM INDICADOR DE ESPERANÇA Luís da Silva Pereira

No começo do novo plano pastoral da arquidiocese de Braga, submetido ao tema da Esperança, é-nos proposta uma reflexão sobre Jesus Cristo, cordeiro de Deus, assim designado por S. João Batista. O episódio vem narrado no evangelho de S. João, cap. 1, 29: “No dia seguinte, ele (S. João Baptista) vê Jesus aproximar-se e diz: ”Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Identificar Jesus como cordeiro de Deus é apontar-nos o grande sinal e fundamento da Esperança, essa virtude que consiste na confiança de, um dia, alcançarmos o céu, não por nossos méritos, mas pelos méritos infinitos do Senhor. Esta apresentação de Jesus Cristo como Cordeiro está na origem de uma das características mais constantes da iconografia do Baptista, que é a de apontar com o indicador da mão direita para um cordeiro que, normalmente, se encontra aos pés ou no colo do santo. Além disso, é igualmente habitual colocar-lhe na mão uma cruz com uma filactera onde se lê “Ecce AgnusDei”, que significa “Eis o Cordeiro de Deus”. O cordeiro tornou-se, deste modo, o símbolo por excelência do cristianismo, símbolo riquíssimo de significado. Sintetiza todo o Antigo Testamento, desde a oferenda de Abel e o sacrifício de Abraão até ao sangue do cordeiro com que os judeus, no Egipto, mancharam as 4

portas das casas para evitarem a morte dos primogénitos. A partir desse momento, passaram a comer o cordeiro, por altura da Páscoa, recordando a saída do Egipto. Nestes episódios estão já delineados os dois significados fundamentais do símbolo: o cordeiro é vítima que se deixa mansamente sacrificar para nossa redenção, e é alimento que nos dá a vida eterna. A imagem que hoje comentamos encontra-se na porta de um sacrário da igreja do Convento de Areias de Vilar, aqui perto de Braga. Não sabemos quem o esculpiu, mas o artista seguiu uma tradição muito frequente, aqui no

norte, que é a de colocar nas portas dos sacrários ou um cordeiro ou o próprio Jesus Cristo ressuscitado, umas vezes aparecendo a sua mãe, outras a Maria Madalena, outras saindo triunfante do túmulo. A intenção do artista é clara. Está a dizer-nos que, guar-


dado no sacrário, se encontra não um símbolo, mas Cristo vivo, ressuscitado dos mortos, e que está ali para ser nosso alimento. O cordeiro está deitado em sinal de repouso e mansidão. Acho particularmente bonita a espessa lã encaracolada que o artista caprichou em esculpir, lã branca que pode ser símbolo da pureza, e tão abundante que dá a impressão de nunca ter sido tosquiada. Faz lembrar que aqueles que se dedicavam inteiramente ao serviço de Deus não cortavam nem o cabelo nem a barba. O cordeiro apresenta-se quase sempre de pé, como nos tímpanos das igrejas românicas, sobretudo nas portas laterais, segurando numa das patas uma cruz com um estandarte drapejando, iconografia que vem desde o séc. XII. A posição apeada e o estandarte simbolizam o triunfo de Cristo sobre a morte, com a qual travou uma batalha admirável, como se canta na sequência da missa do domingo de Páscoa: “a vida e a morte bateram-se num combate admirável; o chefe da vida, que morrera, reina agora vivo”. Pode também, como já dissemos, apresentar-se deitado, como quase sempre está sobre o livro dos sete selos, que só ele pode abrir, iconografia frequentíssima e que tem o seu fundamento no livro do Apocalipse, significando a glória triunfal de Jesus Cristo, quando vier julgar os vivos e os mortos. 5


SEMINÁRIO MENOR

FAMÍLIA E SEMINÁRIO, SINAIS VOCACIONAIS DE ESPERANÇA João Rosas, 11º ano

A família é a célula da sociedade, mas é-o também em relação ao discernimento vocacional. A este propósito, o papa Francisco, na exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, afirmou que “os laços familiares são fundamentais para fortificar a autoestima sadia dos seminaristas. Por isso, é importante que as famílias acompanhem todo o processo do seminário e do sacerdócio, pois ajudam a revigorá-lo de forma realista” (nº 203). Uma vez que a Igreja reconhece este papel ímpar das famílias, em articulação com outros agentes da formação dos seminaristas, no processo de discernimento vocacional, “o Seminário é chamado não só a desenvolver um trabalho educativo com os seminaristas, mas também a empreender uma verdadeira ação pastoral com as famílias. [...] O trabalho pastoral do Seminário em torno da família dos seminaristas contribui, seja para o amadurecimento cristão desta, seja para a aceitação do chamamento ao sacerdócio de um dos seus membros como uma bênção, valorizando-o e apoiando-o ao longo de toda a vida” (Congregação para o Clero, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, nº 149). Tendo em conta este enquadramento, a equipa formadora do Seminário de Nossa Senhora da Conceição propôs, no passado dia 8 de outubro, 6

um encontro com as famílias dos seminaristas, como rampa de lançamento do novo ano pastoral, letivo e de vida no Seminário. Sendo domingo, o encontro começou com a celebração da Eucaristia, na Capela Imaculada, para dar graças a Deus por mais um reinício. Esta celebração foi presidida pelo Pe. Mário Martins, diretor do Seminário Menor, que deixou uma palavra de esperança às famílias. Após um tempo de intervalo para o café e de convívio entre seminaristas, famílias e formadores, como forma de fortalecer os laços comunitários, os seminaristas tiveram um encontro com o diretor espiritual e confessor, Pe. Adelino Domingues, acerca da importância e da especificidade, quer da direção espiritual, quer do sacramento da reconciliação, como sinais de esperança e de alento na caminhada de discernimento vocacional.

Enquanto os seminaristas eram orientados nesta reflexão, os pais tiveram uma reunião com a equipa formadora, acerca dos aspetos que o Seminário vai oferecer e melhorar no acompanhamento dos jovens. Neste sentido, o Pe. Rui Sousa apresentou o projeto educativo do Seminário, a partir das mais recentes indicações contidas na Ratio Fundamentalis, publicada em dezembro de 2016, sublinhando particularmente o papel das famílias. Além disso, foi apresentado o plano anual de atividades do Seminário, pelo Pe. Rúben Cruz, que especificou com bastante relevo as atividades que dizem diretamente respeito aos pais e/ou às famílias. Esta manhã de encontro terminou com o almoço, em que se proporcionou o ambiente favorável para criar e reestabelecer laços de fraternidade, que constituirão sinais de esperança para viver em Seminário como verdadeira família.


PRÉ-SEMINÁRIO JOVEM LANÇA “SEMENTES DE ESPERANÇA” Rodrigo Mendes, 10º ano

No dia 21 de Outubro, a comunidade do Seminário Nossa Senhora da Conceição acolheu mais de trinta jovens provenientes de diversos arciprestados da arquidiocese, para os acompanhar neste caminho de descoberta vocacional. Esta é a missão fundamental dos encontros de Pré-Seminário Jovem, coordenados pelo Pe. Rui Sousa e que se destina a rapazes com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos. No decorrer dos encontros deste ano pastoral, subordinado ao tema “Sementes de Esperança”, a palavra “sementes” estará presente em acróstico, na qual se vão descobrindo o nome de figuras bíblicas que serão conhecidas em cada sessão, de tal modo que possam ser iluminadoras de um verdadeiro processo de discernimento. O grupo foi abordado com uma dinâmica, na qual tiveram a oportunidade de se conhecer e desse modo cerrar amizades, que certamente os irão acompanhar ao longo desta procura acerca da sua vocação. À semelhança da figura bíblica de Moisés, todos nós somos igualmente chamados a uma vocação e, por isso, foi apresentado a estes jovens o chamamento de Moisés, na esperança que todos eles consigam perceber os sinais enviados por Deus, destinados a cada um deles. Neste primeiro encontro de nove, que decorrerão até junho, contámos com a presença de três jovens,

que frequentaram o Pré-Seminário em diferentes épocas. Foi bastante interessante acolher o seu testemunho e a sua opinião sobre o mesmo. Luís Fernandes, um ex-seminarista, frequentou cinco anos de Pré-Seminário, contendo por isso um vasto testemunho acerca do assunto. Contámos também com a presença do seminarista João Pinto, que fez esta experiência durante o último ano e, agora, faz parte da comunidade do Seminário. Por último, tivemos a oportunidade de escutar o testemunho de um outro seminarista, Diogo Silva, que à semelhança do Luís e do João deu a conhecer o seu caminho de discernimento vocacional. Após um almoço revigorante e

de convívio, tivemos a oportunidade de realizar um jogo de futebol, onde foi possível conhecermo-nos melhor, e, dessa forma, criar laços de amizade. Posteriormente a um momento de convívio, nada melhor que um encontro com Deus, através da celebração da Eucaristia, em que os pré-seminaristas tiveram a oportunidade de “semear um compromisso na terra do seminário”. Como desfecho deste primeiro encontro, foi-lhes dirigida uma palavra fraterna por parte do Pe. Mário Martins, diretor do Seminário, pois, segundo ele, “dentro de vocês há uma semente que precisa de germinar”; é esse o seu conselho para um fecundo processo de discernimento.

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SEMINÁRIO MAIOR

NO REENCONTRO DA COMUNIDADE João Basto, Miguel Rodrigues, Paulo Pereira, Pedro Antunes, 4º Ano

Eis que, no passado dia 10 de setembro, decorreu no santuário de Porto d´Ave, arciprestado da Póvoa de Lanhoso, e espaços envolventes o Passeio anual das Famílias, que tem lugar na reabertura do ano letivo. É o reencontro, depois das férias, da Família Seminário: Equipas formadoras e colaboradores de ambos os seminários diocesanos de Braga, seminaristas de Braga e Viana do Castelo e as respetivas famílias. Iniciado com a celebração da Eucaristia, solenizada pelo coro do Seminário Conciliar e presidida pelo Pe. Rúben Cruz, formador no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, possibilitou, no encontro com a profundidade do mistério cristão, fazer memória do Pe. António Gomes Ferreira, que falecido durante essa mesma semana, dedicou a sua vida sacerdotal à formação nos Seminários. E como a vida do cristão acontece “à volta da mesa”, seguiu-se o momento de almoço partilhado no parque de merendas adjacente ao santuário. Foi a possibilidade de partilhar não só as iguarias alimentares, mas também todas as aventuras e peripécias que foram acontecendo ao longo das férias. Durante a tarde decorreu um torneio de futebol onde formadores, familiares e seminaristas tiveram a oportunidade de participar e mostrar as suas habilidades futebolísticas. Assim sendo, com o dia já a termi-

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nar foi dirigida uma palavra de acolhimento e incentivo aos novos elementos das comunidades do Seminário São Pedro e São Paulo e Seminário Nossa Senhora da Conceição. Com a atuação do Grupo de Cantares, estava aberto o apetite para o jantar, tempo para um renovado momento de convívio. Neste momento de partilha, também foi tempo de dar graças a Deus pelo dom da vida do Pe. Rúben Cruz e do Sr. Manuel. Este dia foi preparado pelo quarto ano do Seminário Conciliar, mas

só foi possível com a pronta colaboração do Pe. Augusto, pároco local, e da Confraria de Nossa Senhora de Porto d´Ave, a quem agradecemos o caloroso acolhimento e a pronta disponibilidade em receber a Família Seminário. Por fim, mas não menos importante, agradecemos todo o apoio que as várias colaboradoras do Seminário Conciliar nos deram, bem como o desafio de organizar este dia, que nos foi lançado pela Equipa Formadora.


PROGRAMAÇÃO DE ANO DO SEMINÁRIO MAIOR DE BRAGA Eduardo Amaral, 2º Ano

No dia 23 de Setembro, as atividades no Seminário Maior de Braga começaram, como habitual, com o fim-de-semana de programação do ano, no qual, em clima de convívio e oração, seminaristas e equipa formadora se reúnem para avaliar o ano que passou e programar o novo ano letivo. A jornada teve início em Refoios do Lima, na Igreja paroquial, igreja do antigo mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, onde rezámos Laudes, depois de uma visita ao templo e respetivo património artístico e cultural. Após momentos de silêncio e reflexão pessoal, o restante tempo da manhã foi ocupado na discussão, em grupos, de uma série de temas propostos pelo 2º ano, que organizou este momento de preparação do ano, para que os alunos, bem como a equipa formadora, pudessem partilhar a sua visão da vivência em comunidade, assim como os aspetos a aprofundar durante este novo ano letivo. De seguida, teve lugar o almoço no salão da junta de freguesia, a quem o Seminário agradece a disponibilidade, na pessoa do Presidente José Amaral. Ao almoço contámos com a presença do pároco da comunidade, Padre Passos Silva. Após o almoço, durante a tarde, num ambiente mais lúdico, a nossa comunidade seguiu para Ponte de Lima, a fim de melhor conhecermos

aquela que é a vila mais antiga do nosso país, bem como um pouco da sua história e dos seus recantos, que respiram ainda ares medievais, preservados nos edifícios da época. Com vista a aprofundar o conhecimento histórico do local, teve lugar a visita ao Museu dos Terceiros, espaço outrora pertencente à Ordem Terceira de São Francisco, que encerra agora conhecimento valioso acerca da história religiosa da Ordem e do Concelho de Ponte de Lima. Para alegria de todos, tivemos o privilégio da presença do Dr. José Dantas, atual diretor do museu, tendo sido ele próprio a guiar-nos durante a visita. Do outro lado do Lima, em cujas águas se esconde a lenda do rio Lethes, recordada pela figura de Brutus a cavalo, numa das suas margens, e restante exército romano na margem oposta. Passando a velha ponte medieval, celebrámos a Eucaristia na

Igreja de Santo António, na paróquia de Arcozelo, como forma de terminar esta jornada de encontro, partilha, convívio e cultura, depositando sobre o altar todo o trabalho desenvolvido. Não podemos terminar este apontamento, sem um fraterno agradecimento aos párocos das comunidades que nos acolheram: Padre Passos Silva e Padre Ricardo Barbosa.

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SEMINÁRIO MAIOR

INAUGURAÇÃO DO ÓRGÃO MANUEL DE SÁ COUTO, COM ATUAÇÃO DE SIETZE DE VRIES Miguel Rodrigues, 4º Ano

No passado dia 4 de outubro realizou-se na Igreja de S. Paulo, do Seminário Conciliar de Braga, o concerto inaugural do órgão de coro construído por Manuel de Sá Couto, depois de ter sido restaurado recentemente por Giovanni Pradella Bottega Organara, de Itália. Perante uma assembleia que esgotou a lotação, atuou Sietze de Vries, organista litúrgico holandês de renome internacional. Trata-se de um órgão com 185 anos de existência, o qual, depois de um período de inutilização, beneficiou de um restauro que o reabilitou a proporcionar uma vivência mais rica e profunda das celebrações litúrgicas, bem como a desempenhar uma função primordial na formação musical, no Seminário Conciliar. O seu restauro vem culminar o desejo de dotar todos os espaços de culto situados no Seminário com um órgão de tubos, proporcionando, além do conhecimento de tão antigo e valioso instrumento na história da Igreja, o gosto pela sua utilização e um estímulo para a sua preservação. Nos arquivos da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte do Collejo, nomeadamente no Quaderno dos recibos e despezas, está documentado o valor pago a Manuel de Sá Couto: «Despendi com Manuel de Sá Couto, do Orgão novo 150$000». Este, por sua vez, declara, num fólio que se encontra no livro de Receita 10

Tendo em conta toda a história, antiguidade e investimento realizado outrora, este concerto inaugural pretendeu não só ser um momento de reconhecimento das potencialidades sonoras do órgão, mas também, através da sua música, elevar cada um a uma dimensão de serenidade, encontro e repouso, tão urgente no nosso quotidiano.

e despeza da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, 1829-1839, no respeitante à Despeza que fez a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte de 15 d’Agosto de 1830 para o de 1831, a entrega da dita quantia: «Declaro em verdade que ressevi da mão do tizoureiro da Irmandade de N. Senhora da Boa Morte da cidade de Braga a coantia de sento e sincoenta mil reis em metal por que ajustei o Rialejo que fiz para a dita Irmandade, e por estar pago e satisfeito lhe passo este para sua clareza e abaixo asginado. Braga 30 de junho de 1832. Manoel de Sá Couto.»

Sietze tem desenvolvido uma carreira muito intensa como concertista, tocando frequentemente por toda a Europa, bem como nos Estados Unidos, Canadá, Rússia, África do Sul e Austrália. Em setembro de 2017 foi nomeado organista da Wijkgemeente Martinikerk em Groningen, Holanda. Publica regularmente artigos em revistas internacionais relacionados com a música sacra, improvisação e organaria, sendo editor de artigos para a revista holandesa ‘Het Orgel’. O programa desta inauguração/ concerto foi composto por diversas improvisações, com variações sobre cânticos e prática alternada, interpretadas pelo próprio organista convidado e pela Schola Cantorum do Seminário Conciliar. A fim de que o som e a história do Órgão Manuel de Sá Couto continuem a ecoar nas nossas memórias, será publicado, antes do Natal, um livro que traçará um percurso desde as origens deste órgão até ao processo de restauro a que foi submetido.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

SEMEAR ESPERANÇA Carlos Pereira (Equipa da Pastoral Universitária)

Todo o projeto que envolve a entrega gratuita e a dádiva de nós mesmos, facilmente se transforma em algo que nos supera e nos lança no mistério do transcendente e do infinito. Já em Portugal, encontro-me na minha terra, a refletir sobre mais uma missão passada em Cabo Verde, como voluntário do projeto “sementes”. Desta feita, na Ilha do Fogo. Feito o balanço, o resultado excede em muito aquilo que em tempos foram boas expetativas. Depois de uma noite de descanso, em Praia Baixo, Ilha de Santiago, embarquei rumo à ilha do Fogo. Nesta Ilha, todos os sentimentos e emoções são expressividade e demonstração do fundo da alma e coração dos que lá vivem e dos que, por bem, lá vão ter. Mil sentimentos surgem do nada: mágoas e risos, alegrias e lágrimas, ficam à flor da pele, que vão desaguar ao mesmo sítio, com um único sentido, a fusão da amizade e do afeto, entre aqueles que se predispõem a atravessar oceanos e a contemplar as estrelas. No Fogo, tivemos a possibilidade de um contacto mais próximo e regular com as pessoas, o que nos permitiu um conhecimento mais concreto e objetivo dos seus problemas. Através de uma proximidade com a realidade e do diálogo, tentámos perceber melhor as suas dificuldades e aspirações, bem como, estudar e melhorar o campo de execução das diferentes di-

nâmicas a serem implementadas. Esta questão diz respeito a uma vertente mais prática e técnica, contudo, muito necessária no âmbito da intervenção e da continuidade do projeto junto da comunidade. Todos temos alguma dificuldade em falar de nós próprios, principalmente, quando isso envolve os nossos sentimentos e medos, tristezas e alegrias. Porém, penso também que é neste receio de se expor ao desconhecido, misturado com a vontade e a ânsia de conhecer mais do inexplicável e do enigma (que também somos nós), que se encontra Jesus. Cada um de nós, carrega dentro de si um horizonte, que só se vislumbra e toma forma quando partilhado e confrontado com o horizonte que habita outro peito. Nas tristezas, nos abraços e nos sorrisos das pessoas está também o rosto de Cristo, chorando, dando abraços e sorrindo de uma forma que só estas crianças parecem saber fazer, como ninguém. É tão urgente assegurarmos o dia de amanhã, de qualquer forma, e caminharmos a passos largos para um desconhecido sem grandes surpresas, que nos esquecemos de viver, de sentir e fazer sentir a nossa presença, junto daqueles que mais enriquecem

e dão valor à nossa existência. Somos prisioneiros dos nossos próprios medos e daqueles em que nos fizeram acreditar. Preocupados que estamos em excesso (e o quão difícil é, em muitos casos e com legitima razão, não se preocuparem), facilmente nos esquecemos de viver o presente, porquanto o fazemos demasiado depressa. Desenganem-se aqueles(as), que pensam que este tipo de iniciativas tem como finalidade principal e exclusiva levar conforto, ajuda e esperança a um povo cheio de agruras e misérias. Pois, no que a mim me diz respeito, este curto espaço de tempo vivido em Cabo Verde, é bálsamo, um reunir de forças e vitalidade, para mais um ano de luta e de trabalho. No repassar da memória, reside a construção e a essência da vida. Só podemos colher o eco daquilo que vivenciamos, das nossas experiências, na medida em que nos deixarmos surpreender pela realidade do presente. É preciso viver o momento sem grandes defesas, para que este possa fazer eco na nossa consciência e ressoar na nossa espiritualidade. Agradeço a Deus a oportunidade e a imensa graça com que Ele me presenteou ao poder estar e sentir com este povo, com esperança renovada. 11


PASTORAL DE JOVENS

FÓRUM ECUMÉNICO JOVEM 2017

MUITO MAIS É O QUE NOS UNE

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 112,00 €.

DAPJ

A arquidiocese de Braga acolhe, a 4 de Novembro, o XIX Fórum Ecuménico Jovem (FEJ), cujo programa se inspira na expressão bíblica de Apocalipse (21, 5) “Eis que faço novas todas as coisas”. A responsabilidade destes encontros é dos Departamentos Juvenis, e neles se reúnem, todos os anos, centenas de jovens cristãos oriundos de vários pontos do país, motivo também pelo qual se realiza, a cada ano, em diferentes cidades. Na génese destes FEJ está o objetivo comum de pensar e concretizar o trabalho ecuménico com os jovens das diferentes Igrejas cristãs com representação em Portugal. E assim, desde 1999, ininterruptamente, cada ano e cada FEJ tem sido

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

manifestação e confissão juvenil de que “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef 4). Tendo ocorrido há bem pouco tempo os 500 anos sobre a Reforma iniciada por Lutero, o FEJ deste ano procura colocar em evidência os dons espirituais por ela trazidos. Há cerca de um ano, no discurso proferido aquando do Evento Ecuménico evocativo dessa data, o Papa Francisco deixou claro que a unidade entre os cristãos é uma prioridade, pois é muito mais aquilo que nos une do que aquilo que pode levar-nos a estar separados. Esta é a experiência concreta que estamos a preparar para os jovens participantes do XIX FEJ. O programa contempla momentos de oração e celebração em comum e um painel em torno da Reforma, com espaço de debate. Ao início da tarde, através de workshop’s criativos na área da música, teatro, dança, arte, pintura, ciência, etc., abordaremos as grandes intuições que a Reforma nos legou: a Palavra, a Fé, a Graça (dom de Deus), o Louvor. Não é necessária qualquer inscrição prévia, apenas trazer algo para partilhar durante o almoço. Por isso, contamos contigo para esta experiência ecuménica. Podes acompanhar toda a preparação em www.ecumenismojovem.org.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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