Voz de Esperança Nov/Dez 2020

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NOV - DEZ / 2020

UM HOMEM CAÍDO “Inspiremo-nos no exemplo de Cristo, o Bom Samaritano, que ao longo da sua vida, em tantas ocasiões, chegou, aproximou-se, viu com compaixão e quis curar a dor dos outros. (…) É a Misericórdia que nos salva! Escolhamos ser Misericordiosos!”

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 79 | Bimestral 1,00 €

Catarina Osório Págs. 2-3

UM SILÊNCIO INTERIOR… “Efetivamente, para que a alegria possa ser vivida com verdade, é necessário conhecer o outro e os seus limites. Devemos alegrar-nos com as alegrias dos nossos irmãos e ser solidários com suas tristezas.” Saul Barros Narciso Pág. 10

EDITORIAL

O SENHOR CHAMA… UM CONVITE À MISERICÓRDIA!

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELOS SEMINÁRIOS 6 NOV | 21H15

TRANSMISSÃO ONLINE NOS CANAIS DA ARQUIDIOCESE DE BRAGA

Carlo Acutis, beatificado no passado dia 10 de outubro, afirmava que “a tristeza é o olhar voltado para si; a felicidade é o olhar voltado para Jesus.” Efetivamente, a queda do homem, a sua perdição, a causa de todas as dores, começa nesse olhar mal direcionado, tomado pelo egocentrismo e pelos próprios interesses, assumindo uma posição claramente oposta àquela que se revela no olhar do Bom Samaritano, pleno de misericórdia, que vê o outro com os olhos do coração, que se aproxima e se compadece. Ter a ousadia de erguer o olhar e o coração em direção ao Senhor, saber encontrar n’Ele a verdadeira felicidade, implica, antes de mais, estar atento e ser capaz de acolher o Seu chamamento, respondendo-Lhe com fidelidade e entusiasmo, pois, como nos recorda o lema da Semana de Oração pelos Seminários de 2020, “O Senhor chamou os que queria e foram ter com Ele” (Mc 3, 13). Ora, aquele que se deixa interpelar pela voz do Senhor, deixa-se tocar pela Sua misericórdia, sente que Deus o levanta do chão e lhe devolve a dignidade, mesmo quando somos confrontados com as dificuldades dos tempos atuais, sob as restrições de uma pandemia. Aliás, quando nos sabemos e sentimos olhados pelo Amor, desperta em nós o imperativo de olharmos os outros da mesma forma, de modo a ajudarmos a erguer todos os que encontramos caídos, pois, como refere o texto visão, “sermos misericordiosos na nossa comunidade, não deixar ninguém para trás, não esquecer o outro, estar atento à realidade difícil das pessoas que nos rodeiam, levar a esperança, a bondade e o amor, é o que Cristo espera de nós”. Também as comunidades dos nossos Seminários, procuram, tal como as notícias aqui publicadas o comprovam, ser espaço e lugar onde se escuta e acolhe o chamamento do Senhor, onde o olhar se ergue para Jesus e a misericórdia se experimenta e vive como penhor de conversão e felicidade.


VISÃO

UM HOMEM CAÍDO Catarina Osório

O texto Gen 3, 1-13 remete-nos para a origem da imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda do homem. Deus deu a liberdade ao homem para escolher entre o bem e o mal. Fez o homem a sua escolha, quando, atraído pela serpente, comeu do fruto proibido. E assim, em Adão, tornamo-nos pecadores. Todos os dias, Deus dá-nos essa liberdade de escolher entre o bem e o mal. Todos os dias somos aliciados por “serpentes” que nos tentam desviar do caminho certo. E erramos… Cedemos às tentações mundanas, aos consumos imediatos, ao prazer instantâneo, às escolhas fáceis e ao pecado que nos afasta de Deus. O homem não peca apenas por ignorância. Peca também contra a sua própria consciência. E, por isso, somos muitas vezes confrontados com as nossas próprias escolhas, que nos causam dor, sofrimento, desalento e desilusão. O homem caído relembra-nos a fragilidade da nossa condição humana. Herdamos o pecado de Adão, mas recebemos de Cristo a justiça e o perdão. Fomos condenados através de Adão, mas redimidos por meio de Cristo. E é neste perdão e na misericórdia de Deus que devemos viver. Cristo aponta-nos o caminho das bem-aventuranças e, de forma especial, a bem-aventurada misericórdia: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). A misericórdia reconstrói vidas, e reveste um conjunto de atitudes essenciais da nossa vida, como bondade, compaixão, humildade, mansidão, paciência e perdão. Nas palavras do Papa Francisco, esta bem-aventurança contém uma particularidade: é a única em que a causa e a consequência da felicidade coincidem. Quem exerce misericórdia encontrará misericórdia, será “misericordiado”.

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Devemos escolher ser misericordiosos! Connosco próprios, com a nossa família, e para com a nossa comunidade eclesial, que queremos mais “sinodal e samaritana”. Num ano em que os afetos são substituídos pelas angústias, em que a proximidade é substituída pela distância, em que os abraços são evitados, e os receios nos fazem viver a medo, somos alertados pelo Papa Francisco para um vírus ainda pior: o da indiferença egoísta. Enquanto todos pensamos na recuperação da pandemia, há um perigo que se insinua: esquecer quem ficou para trás, pensando que “a vida melhora se vai melhor para mim, que tudo correrá bem se correr bem para mim”. Porém, lembremo-nos sempre de que “a misericórdia não abandona quem fica para trás”. “Todos somos pecadores. Todos. Em relação a Deus e em relação aos irmãos. Cada um sabe que não é o pai ou a mãe que deveria ser, o esposo ou a esposa, o irmão ou a irmã que deveria ser. Todos estamos em défice na vida e precisamos de misericórdia. Sabemos que, mesmo não cometendo o mal, sempre falta algo ao bem que deveríamos ter feito.” Nestas palavras do Papa Francisco resumimos o nosso pensamento. Pecamos. Consciente ou inconscientemente. Cada um de nós é, muitas vezes, um homem caído, em busca da redenção. E não conseguimos, por nós, redimir o nosso coração. Precisamos de algo mais. E esse algo mais é a Fé, que se materializa em misericórdia. Neste ano pastoral, dedicado à caridade, e consequentemente à compaixão, ao perdão, inspirado pela Parábola do Bom Samaritano, somos desafiados a deixarmo-nos tocar pela misericórdia de Deus. E num ano ainda mais desafiante, somos postos à prova pela dificuldade acrescida de servir o outro de forma mais distante. Sermos misericordiosos na nossa comunidade, não deixar ninguém para trás, não esquecer o outro, estar atento à realidade difícil das pessoas que nos ro-

deiam, levar a esperança, a bondade e o amor, é o que Cristo espera de nós. E é isto também que devemos esperar de nós próprios. Será que somos capazes? Disse o Papa São João Paulo II que “não existe cristianismo sem misericórdia! Se o nosso cristianismo não nos leva à misericórdia, erramos o caminho, porque a misericórdia é a única verdadeira meta de todo caminho espiritual, um dos frutos mais belos da caridade.” É este o caminho que nos devemos comprometer a fazer. O nosso erro leva-nos muitas vezes a desviarmo-nos deste caminho espiritual. E é nestas alturas que devemos encontrar Deus, deixando que Ele se aproxime de nós, e deixarmo-nos tocar por Ele. Inspiremo-nos no exemplo de Cristo, o Bom Samaritano, que ao longo da sua vida, em tantas ocasiões, chegou, aproximou-se, viu com compaixão e quis curar a dor dos outros. Aproximemo-nos do outro para cuidar das suas dores e deixemos que outros se aproximem para que também as nossas dores sejam cuidadas. É a Misericórdia que nos salva! Escolhamos ser Misericordiosos!

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ARTE

A QUEDA Luís da Silva Pereira

O texto que hoje é proposto para reflexão encontra-se no Livro do Génesis 3, 1-13. Trata-se de um dos episódios bíblicos fundadores do pensamento cristão sobre a natureza humana. Narra, em linguagem mítica, a queda dos primeiros pais. Procura explicar a nossa inclinação para o mal, a origem do sofrimento e, sobretudo, o aparecimento da morte que, nas palavras de S. Paulo, se deveu precisamente ao pecado original. Como texto fundacional de toda uma civilização, produziu, naturalmente, uma iconografia imensa e variada. Adão e Eva, o demónio tentador, bem como a árvore e o fruto do conhecimento do bem e do mal, encontram-se invariavelmente em todas as representações desse dramático episódio. Os primeiros pais são sempre representados nus, significando a inocência anterior ao pecado, embora os artistas recorram a expedientes vários para evitarem, pudicamente, a exposição dos sexos. Ora representam as personagens de pé e de lado, ora as apresentam reclinadas, ligeiramente de costas. Outras vezes, o sexo é tapado por ramos de plantas ou pelas próprias mãos. No entanto, na época do Renascimento, o nu integral não levanta qualquer problema. Lembremos, por exemplo, as pinturas de Miguel Ângelo, na Capela Sistina.

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Só depois de comerem o fruto proibido é que Adão e Eva aparecem com um cinto de folhas à volta da cintura. Como o texto bíblico refere expressamente que eram folhas de figueira (v.7), o figo é um dos frutos que os artistas consideram como fruto da tentação. Porém, o mais frequentememnte escolhido é a maçã, mas também aparecem laranjas ou uvas. Segundo o relato bíblico, Eva é quem oferece o fruto proibido a Adão. Ou o recolhe da árvore ou é a serpente, enrolada no tronco ou nos ramos, que o traz na boca e lho apresenta. Por vezes, a serpente tem forma antropomórfica, com rosto e tronco humanos. Há, porém, outras iconografias mais raras e até estranhas. Num quadro de Hugo van der Goes, o tentador é pintado como um lagarto, de pé, encostando as patas ao tronco da árvore. Este lagarto não é mais do que o dragão apocalíptico que, por vezes, os artistas confundem com a serpente. Há também um demónio com duas cabeças, uma virada para Eva, outra para Adão, e um outro que mostra a Eva um espelho, acicatando a sua vaidade. A pintura que escolhi para ilustrar o tema pertence ao pintor e escultor colombiano Fernando Botero Angulo, nascido em 1932. É um artista muito original, sobretudo pelo aspecto rotundo das figuras humanas.

Reparemos, entretanto, que olhos, boca, nariz e orelhas são de tamanho “normal”, o que mostra bem que a deformidade é intencional e não uma inabilidade técnica. A deformidade, em arte, pode ser perfeitamente aceitável se, com ela, o artista torna a sua obra mais expressiva. Há quem relacione esta característica do seu estilo com a arte pré-colombiana e com a pintura mural do mexicano Diego Rivera. E há também quem o defina como um pintor pretensamente ingénuo e popular, à margem das correntes estéticas actuais. Neste caso, o volume dos corpos provoca em nós um estado de bom-humor, uma certa ternura pelas figuras que se olham sérias, quase tristes, como se tivessem consciência da gravidade do que vão fazer. Os rostos são de gente comum, o que até se nota nos penteados. Adão pega na mão de Eva, como acontece em quae todas as iconografias, significando o perfeito amor mútuo anterior ao pecado. No chão, vêem-se três maçãs optando, pois, o artista pela variante da macieira. Eva já trincou o fruto que o demónio lhe ofereceu. Adão prepara-se para o fazer. Por isso, a serpente, estilizada em dois traços coloridos, amarelo e vermelho, está agora virada para ele. É o momento em que o grande drama da humanidade se vai consumar.


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SEMINÁRIO MENOR

NA ESCOLA DA VOCAÇÃO PRIMEIRO ENCONTRO DO PRÉ-SEMINÁRIO JOVEM 2020/2021 Gonçalo Alves, 10º Ano

Escutar a voz de Deus nem sempre é fácil. As dificuldades e distrações do caminho levam-nos, muitas vezes, a achar que “não somos chamados”. O Pré-Seminário é esta oportunidade para rapazes que querem escutar a voz do Senhor e melhor discernir o que Ele pede e quer de cada um, rumo a um projeto de felicidade, constituindo uma verdadeira “Escola da Vocação”. Assim, nas atividades, na oração, na relação com os colegas, em Igreja, os jovens pré-seminaristas vão aprendendo a escutar o chamamento de Deus, que se revela na vida de cada um, respondendo-Lhe com confiança e fidelidade. Em cada encontro, procura-se cativar os destinatários para a densidade e integralidade do processo de discernimento. Por isso, estes são envolvidos numa proposta de diversas atividades, ao longo dos encontros, que implicam diferentes dimensões do crescimento: interpessoal, física, lúdica, espiritual, religiosa, comunitária, intelectual, testemunhal. Ora, nem mesmo o contexto de pandemia em que vivemos impediu que se realizasse o primeiro encontro de Pré- Seminário jovem deste ano 2020/2021, tendo o mesmo acontecido no passado dia 10 de outubro. Esta iniciativa, apesar de ter sido em modos diferentes, reduzida à parte da manhã, não deixou de ter o seu brilho e fulgor natural. Sempre 6

respeitando a distância de segurança necessária e com o devido uso de máscara, os jovens conviveram entre si, partilhando experiências uns com os outros. O encontro começou com o acolhimento dos participantes, seguindo-se o momento da inscrição para os novos pré-seminaristas. Depois disso, o Pe. Rui Sousa, Coordenador do Pré-Seminário Jovem, apresentou a

comunidade aos jovens presentes. Seguiu-se um momento musical preparado pelos seminaristas da casa, com a música “Estrela Polar”. Após um breve intervalo para recuperar energias, avançou-se para a segunda parte do encontro com a leitura de um texto bíblico, seguido de uma interpelação deixada a todos: “Para vós, quem é Jesus?”. A dinâmica realizou-se ainda na companhia do nosso amigo “Jota”, a mesma mascote que acompanhou os encontros de pré-seminário do ano passado, que, desta feita, desafiou os pré-seminaristas a participarem consigo numa aula de História na “Escola da Vocação”. O encontro terminou com um breve momento de oração e encontro com Jesus, com a exposição do Santíssimo na Capela Imaculada. Ao finalizar esta primeira jornada, tomou a palavra o Reitor do Seminário Menor de Braga, o Cón. Mário Martins, que apresentou “desejos de feliz caminhada aos jovens que aderiram a este importante projeto vocacional”.


SEMINÁRIO MENOR

FAMÍLIA DE FAMÍLIAS, BANQUETE DOS BANQUETES ENCONTRO DE PAIS DO SEMINÁRIO MENOR João Pinto, 11º ano

A Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis - o último documento orientador da formação dos Seminários emanado da Congregação para o Clero e Seminários -, no número 149, diz-nos que “O Seminário é chamado não só́ a desenvolver um trabalho educativo com os seminaristas, mas também a empreender uma verdadeira ação pastoral com as famílias. (...) O trabalho pastoral do Seminário em torno da família dos seminaristas contribui, seja para o amadurecimento cristão desta, seja para a aceitação da chamada ao sacerdócio de um de seus membros como uma bênção, valorizando-o e apoiando-o ao longo de toda a vida.” Assim sendo, no passado dia 11 de outubro, decorreu o primeiro Encontro de Pais da comunidade residente do Seminário de Nossa Senhora da Conceição deste ano pastoral e letivo 2020/21, tendo este apenas ocorrido da parte da manhã, devido à pandemia da Sars-Cov-2 (COVID-19). Sob o tema arquidiocesano, “Onde há amor há um olhar”, e sob a proposta dos Seminários Arquidiocesanos, “Aproximar-se. Ver. E compadecer-se”, este encontro possibilitou um primeiro contacto entre os pais dos novos alunos com aqueles que há um ou mais anos frequentam a instituição, procurando promover a construção de “Uma Igreja Sinodal e Samaritana”, tal como sugere o nosso Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga.

Este encontro iniciou-se com a apresentação do Projeto Educativo para o Ano Pastoral 2020-21, apresentado pelo Cón. Mário Martins, Reitor do Seminário. Esta apresentação foi antecedida e precedida por dois momentos musicais, interpretados pelos seminaristas Filipe Rodrigues e Xavier Faria. Aos pais foram apresentadas as dimensões da formação integral de um candidato ao sacerdócio, no contexto do Seminário Menor, segundo o documento referido no início. Esclarecida a dinâmica do Seminário, foi tempo de se darem as apresentações formais dos pais dos seminaristas novos, que este ano ainda não tinham acontecido devido à impossibilidade da realização de um encontro dedicado a tal. A Eucaristia, banquete dos filhos chamados para o Pai, como referia

o Evangelho do XXVIII Domingo do Tempo Comum, congregou as famílias dos seminaristas à volta do altar, em jeito de agradecimento e de envio para o novo ano dos Seminários. O presidente da celebração, o Cón. Mário Martins, aludiu, por diversas vezes, à nova Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti - sobre a fraternidade e a amizade social, uma vez que este documento retrata os laços de amizade e de fraternidade que unem as comunidades cristãs, e, consequente e mais intimamente, a comunidade alargada do Seminário, na tríade pais-filhos-Equipa Formadora. A celebração preparada pelos seminaristas constituiu o ponto mais alto deste encontro, tornando-se, na visão dos pais, “o momento que em nos sentimos mais em comunhão uns com os outros e com a comunidade dos nossos filhos”. 7


SEMINÁRIO MAIOR

INTEGRA(ÇÃO) Adélio Moreira, Ano Propedêutico

Na semana de 21 a 25 de setembro começou uma nova fase na vida dos seminaristas do ano propedêutico, repleta de momentos e atividades que muito contribuíram para a adaptação dos novos elementos e para criação de laços de amizade e de comunhão. Não foi a pandemia nem o ruído exterior de um mundo que se escusa a fazer silêncio que impediu Deus de se manifestar e de chamar a si novas sementes para a “sua vinha”. Esta acabou de receber nove seminaristas que, mesmo em tempos difíceis, não se recusaram à escuta e ao convívio com Deus. Pelo contrário, esta semana revelou-se uma excelente oportunidade para estarmos algum tempo sozinhos com Deus, criar laços mais fortes e ganhar alento e alegria para este primeiro passo na caminhada da nossa vida de fé, sempre confiantes no chamamento do Senhor. 8

A semana começou com uma breve visita à casa e com a apresentação dos colaboradores que nos irão acompanhar neste percurso. De seguida, tivemos uma reunião com a Dra. Ângela Azevedo, a psicóloga que nos irá ajudar nesta integração na comunidade do Seminário Conciliar, pois, como é evidente, não estávamos habituados a viver numa comunidade tão alargada. A semana foi preenchida por muitos momentos introspetivos, mas também lúdicos: tivemos a oportunidade de assistir a dois filmes que, para além de nos fazerem descontrair, retratavam exemplos da vida sacerdotal, relatados ao pormenor e de forma bastante criativa. Estes filmes, propostos pelo Pe. Pedro Sousa, elemento da equipa formadora do Seminário Conciliar, permitiram-nos tomar consciência das constantes dúvidas

e dificuldades que ocorrem no discernimento do sacerdócio. No entanto, apesar destes obstáculos que ocorrem, ou que podem ocorrer, durante a nossa caminhada, teremos sempre confiança no Senhor e estaremos dispostos para responder ao seu chamamento, sem medo de avançar e de errar, pois estaremos preparados para enfrentar os desafios que Ele nos apresenta. Deste modo, acabámos a semana de integração com uma outra visão da vida em comunidade e com um conhecimento mais profundo dos nossos colegas e da sua história de vida. Então, é com este espírito de querer crescer cada vez mais que pretendemos enfrentar o novo ano, colocando os nossos talentos a render nas mãos do Senhor, vivendo-o com a mesma intensidade com que o começámos.


SEMINÁRIO MAIOR

UMA PALAVRA “CADA VEZ MAIS VIVA NO CORAÇÃO DOS HOMENS” Carlos Furtado, 2º Ano

O fim de semana de 9 a 11 de outubro foi intenso para toda a comunidade do Seminário Conciliar, uma vez que, devido à atual situação pandémica, se procurou conciliar duas importantes atividades: a Programação do Ano e a Instituição dos novos Leitores. A Programação do Ano iniciou na sexta, dia 9, com a Oração de Vésperas, contando com um vasto e interessante programa de atividades que se estendeu até domingo, e onde todo o Seminário foi convidado a refletir acerca da comunidade, bem como do modo como cada um nela se integra. Deste modo, aos vários momentos de Oração juntaram-se atividades enriquecedoras que convidavam à reflexão, ao convívio e ao fortalecimento dos laços entre os membros da comunidade do Seminário. O filme “O Professor e o Louco”, bem como um texto de Enzo Bianchi sobre a correção fraterna do cristão, serviram de mote para uma reflexão sobre o modo como corrigimos o outro, como perdoamos e como olhamos o próximo. A tarde de sábado foi dedicada ao convívio, com torneios no salão de jogos do Seminário e visitas culturais pela cidade de Braga. Tivemos, assim, oportunidade de conhecer a Zet Gallery, no recinto da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, e a Casa-Museu dos Biscainhos. Estes mo-

mentos de convívio prolongaram-se pelo jantar e serão de sábado. Já no domingo, dia 11, foram apresentados os nove novos seminaristas que integram o Ano Propedêutico, bem como as diferentes equipas de trabalho do Seminário: Liturgia, Animação, Comunicação e Movimentos. Todas estas atividades culminaram com a Eucaristia de Instituição dos Leitores, presidida pelo Bispo Auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida, e que contou com a presença de familiares, párocos e amigos dos novos leitores instituídos, embora com uma participação muito limitada imposta pelas restrições fruto do contexto de pandemia que vivemos atualmente. A comunidade do Seminário alegra-se, assim, com a

instituição de nove novos leitores – Bruno Lopes, João Conde, Diogo Martins, João Martins, Luís Martins, Rafael Gonçalves, Sérgio Araújo, Tiago Costa e Vítor Couto. Na homilia, D. Nuno Almeida destacou a importante função do leitor na Liturgia, servindo a fé, que tem a sua raiz na Palavra de Deus, anunciando-a e meditando-a, sendo este o compromisso dos novos instituídos, para que esta Palavra seja “cada vez mais viva no coração dos homens” (Rito da Instituição dos Leitores). Este foi, por isso, um momento significativo, não só para os instituídos, mas também para todo o Seminário e para a Arquidiocese de Braga, que vêm nove seminaristas dar este grande passo no seu percurso vocacional. 9


SEMINÁRIO MAIOR

UM SILÊNCIO INTERIOR… RETIRO ESPIRITUAL DO 4º ANO Saul Barros Narciso, 4º Ano

Resguardados de um mundo agitado e cheio de preocupações, começamos uma semana de profunda interiorização. No Mosteiro de Santa Escolástica em Roriz, Santo Tirso, o quarto ano do Seminário Conciliar encontrou, com a ajuda do Frei Luís Oliveira, refúgio do mundo. Ao longo do Retiro, a reflexão baseou-se no capítulo IV da Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, do Papa Francisco. Todo o Retiro foi direcionado também, de uma certa forma, para o viver em comunidade. Desde o primeiro dia, abordamos a paciência e a mansidão, destacando essencialmente a necessidade de ficar em paz, mesmo em situações que nos levam ao extremo. No segundo dia, refletimos a alegria e o sentido de humor, que se revela estruturante numa vivência em comunidade. Efetivamente, para que a alegria possa 10

ser vivida com verdade, é necessário conhecer o outro e os seus limites. Devemos alegrar-nos com as alegrias dos nossos irmãos e ser solidários com suas tristezas. A reflexão seguinte levou-nos a pensar um pouco mais além. Refletimos sobre a ousadia e o ardor. “Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava” (Lc 24,32), diziam os discípulos. É esta sensação calorosa que nos leva a procurar, que nos leva mais longe. Num outro dia, a reflexão focou-se no grupo e na comunidade. Devemos procurar sempre aquilo que nos une, e não o que nos separa. Só assim podemos sair todos vencedores. Tal como referido relativamente à questão da alegria, aqui aplica-se também a dos limites e a do respeito de uns para com os outros, saber respeitar os gostos e o espaço, sem nunca deixarmos o outro à deriva.

E nada melhor para terminar o dia que a oração. Assim, rezamos, nos claustros do mosteiro, a Via Sacra, toda ela ilustrada com belas imagens de Cláudio Pastro colocadas em azulejo por P. José Alfredo, que acompanham o caminho de Jesus até à Cruz. O último dia de retiro terminou com a trágica notícia do falecimento de D. Anacleto, Bispo de Viana do Castelo. No entanto, tivemo-lo sempre presente na Eucaristia de encerramento do retiro, bem como a sua Diocese e diocesanos, a quem deixa em sentidas lágrimas. Com o fim do retiro, e num misto de emoções, sentimos que, acima do silêncio exterior, esteve sempre presente entre nós um silêncio interior que se abriu à voz do Senhor da messe. Imbuído nesse mesmo espírito, o Seminário Conciliar inicia mais um ano letivo.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

UM DESAFIO AUDAZ PARA OS JOVENS UNIVERSITÁRIOS EM TEMPOS DE PANDEMIA: SAIR DO “EU” E LUTAR MAIS PELO “NÓS” Bárbara Alves, Mestrado em Direito Judiciário | Universidade do Minho

O ano académico que recentemente começou tem tanto de encantador, como de assustador. O regresso que tanto ansiamos é o regresso que todos receamos. Encanta-nos o facto de revermos os sítios, os caminhos, os rostos que, repentinamente, deixaram de fazer parte do nosso dia a dia. Encanta-nos e move-nos a ânsia de recuperar o tempo perdido, de fazer acontecer os momentos que nos foram “roubados” do dia para a noite. Encanta-nos a possibilidade de podermos finalizar ciclos, alcançar metas ou concretizar projetos que tiveram, forçosamente, de ficar guardados na gaveta dos sonhos… e não na gaveta da realidade. No entanto, assusta-nos o facto de não sabermos como tudo isso vai

acontecer. Por isso mesmo, será um ano repleto de desafios para cada um de nós, jovens universitários. Não só para os que vão continuar os seus estudos académicos, mas também para os que agora iniciam um novo percurso na sua vida, com a entrada na universidade. Estes anos são, sem dúvida, uma viagem e só nos resta continuar a aproveitá-la, sem hesitações! Será um ano especialmente exigente que pede que cada um seja capaz de ser corajoso e de se reinventar. Não podemos deixar que o medo nos paralise ou nos faça cair na tentação de nos voltarmos para nós próprios, para dentro. Por outro lado, não nos podemos deixar cair nos mesmos erros que nos orientavam as deci-

sões da vida. Esta paragem fez-nos perceber o quão automática e mecanicamente íamos enfrentando as tarefas do dia a dia, por isso, não devemos deixar que a vida volte a ser alucinante ao acelerarmos o ritmo, como antes. É tempo de colocar humanidade em tudo o que fazemos: em casa, no trabalho, nos estudos, nas relações humanas, nos mais diversos projetos que se colocarem no nosso caminho. O mundo que nos rodeia precisa, cada vez mais, que nós, jovens, não desanimemos e que tentemos ser algo maior que nós mesmos, pelos outros. Acredito, firmemente, que a passagem pela Universidade não se pode subsumir a um caminho regular e convencional que passa pelo ingresso, aprovação, umas quantas celebrações e conclusão. É o tempo certo para arriscarmos, alargarmos os nossos horizontes e nos voltarmos para o próximo. E há tantas formas de o fazer! Só temos de ser criativos, destemidos e ousados nas opções de vida que fazemos. As oportunidades de marcarmos a diferença estão mesmo à nossa volta. A distância física pode ter vindo para ficar durante muito mais tempo, mas cabe-nos a nós não permitir que essa distância se alastre aos nossos corações. Cabe a nós conseguirmos sair do “eu” e lutar mais pelo “nós”. Um bom ano para toda a comunidade académica! 11


PASTORAL DE JOVENS

PASTORAL JUVENIL: MISSÃO E ESPERANÇA Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

O tempo presente é de redescoberta pastoral em todos os âmbitos eclesiais. A pandemia arrastou consigo exigências às quais a Igreja não fica indiferente. Pensar a Pastoral hoje é pensá-la como caminho de possibilidades e como oportunidade de viver, com alegria e verdadeira esperança, o paradoxo imposto pela realidade em que estamos mergulhados. Hoje somos chamados a continuar a viver uma pastoral de encontro, de proximidade e de toque. No entanto, somos convocados a fazê-lo responsavelmente e segundo um distanciamento social capaz de promover a vida. Como combinar e articular estas realidades? Os jovens têm realizado a sua missão no seio da comunidade de variadíssimas formas. Atualmente, muitas são as vozes que se levantam contra o comportamento: um comportamento, muitas vezes, negligente e não respeitador das normas de segurança a que todos estamos obrigados por causa da pandemia. Porém, estas críti-

cas parecem não olhar nem para as ações de responsabilidade social dos jovens nem ter a preocupação em promover e fomentar uma atitude mais sana entre as classes sociais juvenis. De facto, parece haver um esquecimento generalizado da ação dos jovens durante o tempo de confinamento. Estes tornaram-se grandes missionários da proximidade, dispondo-se e colocando-se ao serviço dos mais velhos, tanto no auxílio das suas necessidades básicas, como no auxílio pastoral, uma vez que a vivência comunitária se viu a braços com as limitações da tecnologia e com a falta de conhecimentos informáticos por parte dos mais idosos. A Pastoral Juvenil continua a ir ao encontro desta realidade dos jovens: por um lado, uma realidade que os provoca para uma rebeldia face às normas de segurança estabelecidas; por outro lado, a realidade imana da riqueza interior que os habita e do desejo intrínseco de ir ao encontro dos que sofrem, dos isolados e dos “caídos”. Para uma Pastoral Juvenil fecunda, esta é a missão de hoje. Uma missão que nada tem de fatalismo, antes é chamada a uma ousadia capaz de transfigurar comportamentos, não apenas no seio da comunidade eclesial, mas também além dos limites paroquiais. Mais do que nunca, a Pastoral Juvenil, como toda a ação Pastoral, não pode ser pensada nem vivida unicamente a partir de um agente da pastoral. Antes, urge uma ação conjunta em que todos são agentes ativos, corresponsáveis e fomentadores de uma pastoral integral e integrante que se vive intrinsecamente em todos os âmbitos sociais e eclesiais, em vista do bem de todos e de cada um.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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