Voz de Esperança MaI/Jun 2017

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MAI - JUN / 2017

SINAIS VOCACIONAIS “Seminário (...) é uma casa de jovens com idades e questões semelhantes às minhas e às de tantos outros jovens sobre o futuro”.

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXII - 6ª Série | Nº 58 | Bimestral 1,00 €

Joana Silva Pág. 6

PASTORAL DE JOVENS “Jovens, Deus necessita de vós para continuar a ser a voz de esperança neste mundo”. Departamento Arquidiocesano de Pastoral Juvenil Pág. 12

EDITORIAL

PARA DEUS, SOBE-SE, DESCENDO!

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES MOSTEIRO DE SÃO MIGUEL DE REFOJOS (CABECEIRAS DE BASTO) 28 DE ABRIL | 21H00 CAPELA IMACULADA (SEMINÁRIO MENOR DE BRAGA) 4 DE MAIO | 21H15

«Porque estais a olhar para o céu?» (At 1, 11a). Esta interpelação é dirigida aos discípulos por dois homens vestidos de branco, na sequência da ascensão de Jesus ao céu. É verdade que não se lança apenas uma questão retórica; esta abre-se à promessa: «Esse Jesus que vos foi arrebatado para o céu virá da mesma maneira, como agora O vistes partir para o céu» (v. 11b). A partir desta esperança fundada no testemunho dos enviados de Deus, é importante reconhecer Jesus como presença na vida daqueles que n’Ele acreditam, porque Ele estabelece a verdadeira mediação entre Deus e a humanidade. Depois da ascensão de Jesus, torna-se legítima para os seus discípulos a seguinte indagação: como prosseguir, então, no caminho do discipulado? Se Jesus subiu para Deus, para mostrar que é missão do discípulo torná-l’O presente, mesmo numa aparente ausência, então, cada discípulo de Jesus deve viver sempre nesta configuração permanente com o Mestre, para ser o seu rosto vivo, para o testemunhar no mundo. Tanto mais credível será este testemunho quanto mais entrarmos nesta lógica da subida (anábasis) que, para Deus supõe e, em certa medida, corresponde a uma descida (kénosis). Como discípulos de Cristo, precisamos de estar conscientes da nossa correspondência, quase sempre parcial, a este dinamismo, pelo que somos chamados a estar atentos aos caminhos que Ele aponta para a vida de cada um de nós, numa constante atitude de inquietação, de discernimento e de confiança. Assim, poderá surgir a questão: «Queres dar-te a Deus?». Ao vivermos, em sintonia com toda a Igreja, a LIV Semana de Oração pelas Vocações – dinamizada, neste ano, pelo Departamento de Pastoral Vocacional no arciprestado de Cabeceiras de Basto –, todos somos, «com Maria, impelidos pelo Espírito para a Missão». Como? Na mensagem para este oitavário, o Papa Francisco sugere o modo de viver neste estilo profético e missionário: tomando parte na missão de Cristo, fazendo caminho com Ele e deixando que Ele faça germinar em nós a semente.


VISÃO

AS ALEGRIAS DE MARIA SUPLANTARAM AS SUAS DO Salvador de Sousa

Maria Imaculada, nova Eva escolhida por Deus para ser Mãe de Jesus e nossa Mãe, consoladora dos aflitos, refúgio dos pecadores, auxílio dos que choram, amada de seu Filho, compartilhando com Ele todas as alegrias e dores, nossa luz que orienta e ilumina o nosso caminho, é a mulher mais querida da humanidade, a bem-aventurada por todas as gerações, invocada pelo anjo: “Avé, Cheia de Graça”, regaço da humanidade… Maria e seu Filho Jesus sentiram muitas alegrias e muitas tristezas. As sete dores e as sete alegrias relatadas na Bíblia são momentos vividos por Maria, mas, com certeza, terão ultrapassado em muito esse número que é simbólico, podendo significar a perfeição, a grandeza de um ser, a realização total. A profecia de Simeão, a fuga para o Egito, a procura do Menino em Jerusalém, a Paixão de Cristo, a crucificação e morte de Jesus, o coração de Jesus trespassado pela lança e Maria diante do sepulcro são, claramente, passagens muito dolorosas na vida de Nossa Senhora, que tudo ultrapassou com divina bondade e na vivência no mistério de Cristo feito homem, tendo a fé “como ponto de partida e como meta”. Estas dores e sofrimentos resultaram sempre em vitórias que se transformaram em grandes alegrias, momentos fortes da Virgem Santíssima, discípula missionária, participante na obra redentora de seu Filho Jesus, acolhendo a palavra do anjo, anunciando que seria Mãe de Deus; visitando sua prima Isabel da qual ouviu e acolheu, num diálogo de carinho, de alegria, de fé e de amor; acreditando no Deus Altíssimo, doando-se totalmente a Ele; caminhando sempre guiada pelo Espírito Santo, numa harmonia do seu ser,

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ORES no agir e no pensar, numa contínua imprevisibilidade do acontecer, mas inviolável na fé, confiante, fervorosamente, no projeto de Deus, tendo em Jesus Cristo a sua luz. Esta pequena dissertação sobre Maria serviu para introduzir o tema que me foi proposto para desenvolver neste espaço: a quinta alegria – Ascensão – da nossa mais bela criatura, a Virgem Santíssima, nossa Mãe Bendita, pura e imaculada. A Ascensão, como sabemos, ocorreu quarenta dias após a Ressurreição de Cristo, sendo a Sua humanidade elevada ao céu, união entre Deus e o mundo que conduz à glória da imortalidade. Os Seus discípulos tudo presenciaram, segundo relatos evangélicos (Lucas 24:50,53 e Marcos 16:19), podendo, mais detalhadamente, ler-se, nos Atos dos Apóstolos, que Jesus, reunido com os Seus apóstolos numa refeição em Betânia, Jerusalém, anunciou uma nova etapa de Cristo Vitorioso, Glorioso que vai sentar-se à direita do Pai, vencendo o pecado, deixando os apóstolos como Seus mensageiros e prometendo-lhes o dom do Espírito Santo que lhes incutirá toda a força e toda a sabedoria para anunciarem a Boa Nova a todos os povos, marcando o início da Igreja (“Jesus instruiu e depois tomou Seu lugar”), cujo centro é Cristo, a cabeça que jamais se desligará do corpo totalmente renovado com a Sua vinda a este mundo: “… Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu, virá da mesma maneira, como agora O vistes partir para o Céu” (Atos dos Apóstolos 1:9-11). A Ascensão também marca, dez dias depois, o anúncio do mistério do Pentecostes na presença de Maria, os apóstolos e outros elementos da família de Deus – “Aque-

le que fizer a vontade de Deus – disse Jesus – esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe” (Marcos 3:35) –, que recebem o Espírito Santo, ficando imbuídos do poder divino que entra nos seus corações e os inspira a apregoar os ensinamentos do Mestre que continua unido a eles e a toda a humanidade. A presença da Mãe evoca a conceção do Filho de Deus por obra do Espírito Santo. O seu papel no início da obra redentora e agora a efusão do Espírito Santo imprimem na Mãe de Jesus os passos iniciais da Igreja, obra iniciada pelo seu Filho, que ela representa, como Mãe, acarinhando-a como “Corpo de Cristo” gerado no seu ventre por mistério divino. Maria, Mãe da Igreja, com a sua presença, une e favorece o entendimento entre os Apóstolos, no que constitui a figura maternal da comunidade dos crentes, orando constantemente para que os dons do Espírito Santo guiem a Igreja, incutindo, além disso, nos discípulos uma comunhão mais alicerçada com Deus. A Ascensão assinala, portanto, o triunfo de Jesus e o fim de uma vida com um misto de alegrias e de sofrimentos: o ministério terreno, regressando ao Pai; o cumprimento pleno da Sua vida terrena; a extinção da mácula do pecado dos nossos primeiros pais, abrindo o caminho do céu (“E, quando eu for elevado na terra, atrairei todos os homens a mim” (João 12:32); a exaltação pelo Pai, recebido com “honra e dando-Lhe um nome acima de todo o nome”, retomando a Sua Glória Celestial, aclamado Sumo-Sacerdote e Rei, mediador da Nova Aliança, tornou-nos participantes da Sua Divindade, mediador entre Deus e a humanidade redimida, juiz do mundo e Senhor do Universo.

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ARTE

ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA (5) ASCENSÃO DO SENHOR Luís da Silva Pereira

O quadro que vamos analisar – a Ascensão de Cristo ao céu – é de um grande pintor português já aqui apresentado, a propósito da Adoração dos Magos. Trata-se de Domingos António de Sequeira, nascido em Lisboa, em 1768, e falecido em Roma, em 1837. Este último episódio da vida de Cristo na terra é narrado muito brevemente em S. Marcos 16, 19, em S. Lucas 24, 50-53 e nos Actos dos Apóstolos 1, 9-11. São as fontes das iconografias da Ascensão. Contudo, alguns pormenores iconográficos derivam de tradições não evangélicas. Refiro, por exemplo, a presença de Nossa Senhora no momento da despedida ou a tradição segundo a qual Cristo deixou marcados os seus pés no rochedo de onde se elevou. A presença de Nossa Senhora ainda poderia deduzir-se dos Actos dos Apóstolos 1, 12-14. Aí se diz que os discípulos, depois da partida de Cristo, regressaram do Monte das Oliveiras a Jerusalém, onde perseveraram em oração com algumas mulheres entre as quais a mãe de Jesus. Ficamos com a ideia de que Maria também regressara do Monte das Oliveiras. Quanto às marcas dos pés no rochedo, é pormenor totalmente omisso nos textos canónicos. Há dois tipos iconográficos fun-

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damentais da Ascensão. Num deles representa-se Cristo em corpo inteiro elevando-se nos ares; no outro, apenas se vêem os pés, momentos antes de uma nuvem os ocultar. O pormenor da nuvem é rigorosamente evangélico porquanto nos Actos se diz que uma nuvem ocultou o Senhor dos olhos dos apóstolos. Domingos Sequeira opta por representar a figura inteira. O que nos impressiona imediatamente, como já acontecia na Adoração dos Magos, é a maravilhosa sensação de luminosidade que o pintor consegue dar-nos. Cristo e as suas vestes parecem dissolver-se já em luz, dada por subtis tonalidades de azul e branco. É uma luz que vem do seu lado direito e que podemos perfeitamente interpretar como o esplendor da glória para onde se dirige. É esse foco de luz que ilumina as personagens à nossa direita. Contudo, o próprio Cristo parece reflectir a luz, como um espelho, iluminando o grupo de personagens à nossa esquerda. Esta importância pictórica da luz aproxima, em nosso entender, a Ascensão da transfiguração no monte Tabor, o que mais ainda se confirma com a altura das montanhas em que a cena se desenrola. O Monte das Oliveiras, de que falam os Actos dos Apóstolos, não é mais do que uma colina de Jerusalém.

Domingos Sequeira interpreta, pois, a Ascensão como a apoteose final e definitiva de Cristo. A sensação de elevação e de voo é dada pelo facto de Cristo olhar para o alto, pela posição dos braços e das mãos virados para cima e ainda pelo facto de a túnica oscilar da direita de Cristo para a esquerda, como se um vento leve a agitasse. Repare-se ainda que os pés não se encontram paralelos ao chão, mas em posição vertical, acentuando a impressão de subida. Muito ao contrário das iconografias habituais, que figuram apenas a Virgem e os apóstolos, ora em número de 11, por falta de Judas, ora em número de 12, já com a presença do apóstolo Matias, que foi escolhido já depois de os discípulos terem regressado do Monte das Oliveira, Domingos Sequeira, muito a seu gosto, pinta um grupo numeroso de mais de 80 personagens. Delas apenas se distingue, do nosso lado esquerdo, Nossa Senhora, mais perto de Jesus. Do nosso lado direito, também no lugar mais perto de Cristo, parece estar S. Pedro, que se identifica pelas barbas. Mantendo a tradição iconográfica, Domingos Sequeira mostra o penedo a partir do qual Cristo se teria elevado, mas prescinde completamente da lendária marca dos pés que lá teriam ficado gravados.


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SEMINÁRIO MENOR

SINAIS VOCACIONAIS VISITA AO SEMINÁRIO Joana Silva, catequese de Barcelos

Com os jovens do 9º e 10º anos da catequese da zona pastoral da cidade de Barcelos, visitei o Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, no passado dia 11 de Março, uma experiência muito diferente do que eu imaginara. Antes de mais, um Seminário é um edifício. Mas muito para lá das paredes é uma casa de jovens com idades e questões semelhantes às minhas e às de tantos outros jovens sobre o futuro. O enorme edifício que conheci à chegada é, no seu interior, um espaço acolhedor e dinâmico. Fomos recebidos pelo reitor no claustro. Feitas as apresentações, com alegria e boa disposição, conhecemos os atuais seminaristas. Para conhecer o espaço e as atividades aí desenvolvidas, em lugar da esperada “visita guiada” com direito a “guia turístico”, fomos presenteados com uma espécie de caça ao tesouro, com pistas, partilhas e descobertas. Como éramos cerca de 200 visitantes, fomos convidados a “caçar” a primeira pista, numa dinâmica que permitiu dividir-nos em 6 grupos. Em cada espaço, após a explicação dada pelos jovens da casa, os visitantes eram convidados a encontrar 2 envelopes. O primeiro continha um texto para leitura e realização de uma pequena dinâmica com o grupo; o segundo continha a pista que nos permitiria encontrar o local a visitar seguidamente. A pista que me coube ditou que 6

o primeiro local a visitar seria a Capela Cheia de Graça, a qual se revelou uma verdadeira surpresa! Esta capela encontra-se suspensa por pilares de madeira dentro da capela maior, chamada Capela Imaculada. No interior daquele espaço, pequeno e acolhedor, todo ele construído em madeira, pudemos ouvir 2 jovens explicar que o seu dia também passa por ali. Além de se reunirem para a oração comunitária, esse espaço é também para a oração individual, o sacramento da reconciliação e outros momentos de oração. De todos os que visitei, este foi o espaço que mais me impressionou pela sua forma e luminosidade. Depois de encontrada a pista, dirigimo-nos então para a sala de jogos, pois há lugar e tempo para tudo! O jardim interior e o exterior do Seminário são dois locais relaxantes e belos. No primeiro, encontramos uma imagem de Nossa Senhora e descobrimos que, em diversos dias, é ali que os seminaristas fazem a oração do terço. O jardim exterior, mais amplo, é o palco dos jogos de

futebol, que têm lugar à sexta-feira. A visita à sala de música e à sala de estudo lembrou-me que aqueles jovens estudantes frequentam uma escola igual à minha e têm deveres e obrigações iguais ao meus: TPC’s, testes e trabalhos. No final da atividade, dirigimo-nos para a Capela Imaculada, onde decorreu a vigília de oração, que envolveu todos os jovens. Depois deste momento mais solene, voltamos ao convívio num jantar partilhado. No diálogo que pude estabelecer com os seminaristas, descobri que eles são felizes. Estão a descobrir o que pretendem para o seu futuro e, para isso, relacionam-se com jovens com questões semelhantes a fim de encontrarem a sua resposta pessoal. Não são diferentes dos jovens que comigo frequentam a catequese ou a escola. Apenas têm outras questões. Conhecer o Seminário foi uma excelente experiência. Não é apenas um local de devoção; é a casa de uma grande família, onde se pretende que cada um descubra a sua vocação.


CAMINHAR NA E PELA VERDADE PRÉ-SEMINÁRIO João Rosas, 10.º Ano

No primeiro dia de abril, vivemos um novo encontro de Pré-seminário. Os 32 jovens presentes iniciaram o dia com uma caminhada até ao Bom Jesus, envoltos num ambiente de divertimento, mas também interpelados a refletir no tema que dominou todo este encontro: Verdade. Após o acolhimento e breve reflexão sobre o tema do dia, o grupo caminhou ao longo da cidade de Braga, aproveitando para conversar e conviver ao longo dos 5kms que permeiam o seminário do santuário do Bom Jesus do Monte. Um dos pontos fortes deste encontro foi a dinâmica das «fontes dos sentidos» e das «fontes das virtudes». Foi um óptimo percurso: alegre e reflexivo em ordem à descoberta vocacional, um importante caminho na verdade de si mesmo para acolher a verdade da proposta de Deus. Chegados ao santuário, foi celebrada a Eucaristia, dando continuidade à caminhada quaresmal «com Maria junto à cruz» proposta pela arquidiocese. Após o almoço, e já fortalecida para o regresso, toda a comunidade regressou ao seminário, onde todos puderam participar num momento de desporto. Mas o dia estava longe de terminar. Após o futebol, todos se alegraram com a presença do Sr. D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz, o qual convidou a comunidade do Pré-seminá-

rio a continuar esta caminhada, sem medos e sem receios, «porque Cristo está sempre presente na nossa vida e a Sua voz nunca pode ficar sem uma resposta séria e concreta da parte de qualquer jovem», fazendo eco, tam-

bém, do seu testemunho vocacional. À semelhança dos demais encontros, este terminou com um lanche-convívio, onde reinou a boa disposição e a alegria de caminhar em verdade.

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SEMINÁRIO MAIOR

A FAMÍLIA, “CASA” ONDE MARIA MORA Fátima Lopes, mãe de Bruno Lopes, 1.º ano

No dia 12 de Março, decorreu no seminário S. Pedro e S. Paulo a “recoleção dos pais”, momento de interioridade, mas também de diálogo agradável e saudável com outros casais. Após o acolhimento, o encontro iniciou com alguns vídeos sobre a Quaresma, enquanto tempo litúrgico da conversão e preparação para a festa da Páscoa. Segundo o Papa Francisco, a Quaresma é um tempo propício a abrir a porta a cada necessitado e n ele reconhecer o rosto de Cristo, à semelhança da parábola do homem rico e do pobre Lázaro. Lázaro ensina-nos que o outro é um dom, pelo que cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito e amor. Fechar o coração ao dom de Deus que fala é fechar o coração ao dom do irmão. Também na sua mensagem quaresmal, D. Jorge refere que este é o tempo de espera: são quarenta dias que Deus oferece para nos desvincularmos das preocupações quotidianas e nos centrarmos n’Ele. É verdade que existe um certo Tomé em cada um de nós, o que experimentamos na família, entre pais e filhos, avós e netos. Daí a necessidade de tornar a família uma “casa” onde o amor não cansa,uu uma “casa” onde Maria mora. De seguida, o Pe. Hermenegildo apresentou-nos o Evangelho como Boa Nova para a Família, a partir de uma escultura de 1619 que representa três gerações: Eneias, Anquises e Ascânio, ou seja, avô, pai

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e filho que fogem da destruição de Tróia. A figura de Eneias, o homem da família que honra a sua mãe, respeita a sua esposa e protege os seus filhos, é profundamente simbólica. A situação das famílias no mundo de hoje permanece, t, ,al como foi caracterizada por João Paulo II, m,,arcada pela degradação preocupante de alguns valores fundamentais; uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambiguidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas, que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; o número crescente de divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais frequente à esterilização; a instauração de uma mentalidade contraceptiva. Vivemos tempos difíceis, em que a liberdade é força autónoma de afirmação para o próprio bem-estar. No contexto das complexidades da família, os jovens têm dificuldades próprias: resistem à aprendizagem

pelo esforço e a superar as contrariedades; não têm grande capacidade de sofrer com paciência ou de saber esperar pelos frutos do que dá trabalho, muitas vezes devido à dependência exagerada das novas tecnologias. Estes são desafios colocados às famílias que querem ver os seus filhos crescer. Contudo, nas famílias, o mais importante ffoi bem sintetizado no poema “Juramento” de Miguel Trigueiros. Há que promover a vida comum no respeito que se projeta e realiza na própria eternidade: “só um do outro e os dois de Deus!”. Após o intervalo, teve lugar a Reconciliação, com o Santíssimo exposto e o texto do encontro de Jesus com Zaqueu, a partir do qual fizemos o exame de consciência. Como corolário deste dia, celebrámos a Eucaristia, presidida pelo Pe. Hermenegildo, em cuja homilia compreendemos que Deus quer que tenhamos um coração que escuta desprendido. Finalizámos o encontro com o jantar e bons momentos de convívio entre as várias famílias.


ESTAVA A MÃE DOLOROSA JUNTO À CRUZ Ângelo Machado, 4.º ano

“Stabat Mater dolorosa iuxta crucem lacrimosa dum pendebat Filius”. Foi ao som deste harmonioso cântico de Z. Kodaly que a Comunidade do Seminário Conciliar de Braga, juntamente com familiares e amigos, viveu um momento singular, no passado dia 30 de Março, com um concerto/oração quaresmal na Igreja de S. Pedro e S. Paulo. A música que intitula esta notícia começa com uma entrada de coro que diz: “Estava a Mãe dolorosa junto à cruz lacrimosa, enquanto Jesus, Seu Filho sofria”. Assim pudemos fazer memória de uma ocasião tão particular de Maria junto à Cruz do Seu Filho, que o grupo Ensemble Cant’arte, com as suas vozes, colocou ao serviço e fruição da nossa comunidade. Por meio do diversificado reportório pudemos afinar os nossos ouvidos, ritmar os nossos corações, harmonizar as nossas palavras e dirigir as nossas vidas por Maria até à cruz do Seu Filho Jesus. Refira-se que este grupo nasceu no seio de uma família de músicos, aos quais se juntaram alguns amigos, sendo que todos têm em comum o facto de gostarem da boa música, em particular da música vocal/coral, que intercalaram com textos meditativos de forma muito bela. Engrandecidos por nos terem ajudado a consertar a nossa a vida de alguns desconser-

tos inevitáveis, assim inspirados certamente olharemos com um outro olhar o mistério da Ressurreição de Jesus. Com o seu elevado reportório, o Ensemble Cant´arte conduziu o nosso olhar até à cruz encontrando nela duas respostas: a primeira de que só um Deus de Amor é capaz de dar a vida por um filho, de uma forma tão silenciosa. Cristo, na Cruz, um inocente que sofre, responde-nos não com palavras, mas com amor. E a segunda resposta é a de que Deus nos procura em cada dia, Ele vem em busca dos nossos sonhos e tempestades. Onde estás, meu Deus? Ele esteve e está com cada um de nós que vive com autenticidade este caminho quaresmal, esteve e está connosco para nos enxugar todas as lágrimas que por vezes surgem nas nossas histórias e assim contemplarmos Deus com um outro olhar, num “face to face”. Embalados, escutámos o grupo, que, sobre uma lindíssima harmonia, cantava: “Oh! Quão triste e quão aflita padecia a Mãe bendita, entre blasfémias e pragas. Quem não choraria, ao ver a Virgem Maria, rasgada em seu coração?”. Com este concerto/oração quaresmal na nossa casa, num momento que é já tradicional e indispensável à nossa caminhada quaresmal no Seminário, não podemos esquecer todas as oportunidades e momentos vividos ao longo do tempo da Quaresma,

não podemos esquecer as mudanças de atitude e comportamentos que fomos operando nas nossas narrativas, o perdão que fomos capazes de receber e de dar, a nossa caridade e partilha que enriqueceram as nossas amizades. Este momento especial serve, sobretudo, para dizer ao Senhor, Deus da Vida, que continuamos a confiar na Sua vontade, mas também entendendo que Ele, o Senhor Nosso Deus está disposto a ajudar-nos, a ajudar os que n’Ele têm fé, pois quem confia n’Ele não será abandonado. Vivermos este momento tão intenso não serve só para dizer muitas palavras, mas para transformarmos estas nossas palavras em presença, fazermos das nossas palavras mudança para vivermos uma Páscoa mais feliz, pois habita nos nossos corações a grande notícia: Cristo Ressuscitou!

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SEMINÁRIO MAIOR

COM DESERTO E COM DEUS Pedro Pinto, Pré-Seminário

A experiência de pré-seminário que vivo há cerca de um ano, se mais não cabe neste espaço, seja previamente entendida nos 39 anos de idade que tenho, nos 13 de trabalho como engenheiro, no ser solteiro, filho único, na paixão pelo surf e pelo mar, no voluntariado, no grupo de leigos missionários de que faço parte, na catequese e, mais importante, no encontro pessoal e reconhecido com Jesus, no meu coração, há 6 anos. Se há 10 anos porventura me questionassem se alguma vez pensaria em apaixonar-me pelo surf, diria que não, pois vivi sempre distante do mar e nunca me atrevera sequer a tentar essa prática. Do mesmo modo, se me fosse nessa altura colocada a hipótese de fazer discernimento vocacional numa comunidade que propõe o sacerdócio como opção de vida, na hora diria que tal me seria impossível. Contudo, tanto para o surf como o pré-seminário, eventos e pessoas que se cruzam na nossa vida interpelam-nos e, no meu caso, mostraram-me portas que não pensava ser possível abrir nesta idade. Após uma série de circunstâncias que considero simbólicas, quer em termos de mensagem, quer em termos de conexão e encontro improváveis, decidi nesse seguimento lançarme no desafio do pré-seminário, sem pensar bem na balança da justiça a 10

que terei de recorrer no momento da minha decisão. A experiência do tempo de discernimento gerou em mim uma moção interior: colocou-me a meditar dolorosa e continuamente nas coisas “aparentemente simples e resolvidas”, que agora são sinceros dilemas que tocam no propósito e sentido da minha vida. Atualmente, de tão árduo caminhar, em fatiga emocional e psicológica, sinto-me como um pêndulo que oscila entre avanços e recuos, enquanto escrutina tudo o que sente, sinais, acontecimentos, desafios e até outras saídas, na expetativa de encontrar firmeza e alento para continuar ou abdicar. É um combate honestamente difícil, subestimado, aparentemente insuportável e irresolúvel, com o mais

íntimo de mim mesmo, dos meus sonhos e paixões já sedimentados. Neste caminho, enfrentei quedas e ganhei forças que só foram desvendadas quando me dispus a atravessa-lo e permaneci com os olhos numa meta que ainda não sei se alcançarei. O percurso, não sendo óbvio, é duro, apesar da suavidade aplicada pelo bálsamo do encontro com a comunidade ou grupo de pré-seminário onde se cantam as vésperas, se partilha o pão, se trocam experiências e contam histórias de vida. Assim se revê, à distância, a minha caminhada de discernimento vocacional, com oração, com avanços e recuos, com tristeza e alegria, com forças e fraqueza, com ânimo e desânimo, com questões e respostas, com partilhas e em silêncio, no deserto e com Deus.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

BRAGA COMPROMETIDA COM PROJETO SEMENTES Susana Machado

Preparar uma missão de voluntariado em África é muito mais do que reunir um grupo, comprar os bilhetes de avião e fazer as malas. Os voluntários do projeto Sementes têm feito, desde novembro, um caminho de preparação pessoal, espiritual, mas também de dinamização de atividades de sensibilização da comunidade académica e bracarense para a causa deste projeto. O desafio que a Pastoral Universitária de Braga propõe a cada um dos voluntários é que sejam capazes de viver a Missão em primeiro lugar na comunidade de Braga, na universidade, e que levem além do campus universitário os valores de solidariedade em que acreditam e que são a base do projeto Sementes. Este ano o projeto envolve um grupo de 20 voluntários universitários de diferentes áreas do conhecimento (Medicina, Psicologia, Educação, Música, Biologia, Enfermagem,

entre outras) que irão fazer parte de 4 diferentes missões em Cabo Verde e na Guiné-Bissau. A organização destas missões envolve muito trabalho logístico de angariação de fundos e bens necessários à concretização dos trabalhos que se pretendem desenvolver nos países de acolhimento. Braga tem sido solidária com o projeto Sementes. Têm sido várias as instituições/entidades que se sentiram movidas pela causa do projeto e que, em conjunto com a Pastoral Universitária, têm desenvolvido ações de solidariedade em benefício do projeto e da sua causa. Das várias iniciativas promovidas, apresentamos em seguida algumas das mais envolventes: o Conservatório de Música Calouste Gulbenkian promoveu, no passado dia 24 de março, um concerto solidário com a Orquestra Sinfónica do Conservatório, no auditório Adelina Caravana, onde marcaram presença mais de

100 pessoas, que se sentiram movidas a apoiar a missão; a AAUM – Associação Académica da Universidade do Minho, a RUM – Rádio Universitária do Minho e o ginásio Holmes Place apoiam a Caminhada Solidária Sementes que se irá realizar, de Gualtar ao Sameiro, no próximo dia 25 de abril, com saída às 9h; o grupo musical WE FIND YOU, com a Escola Secundária Sá de Miranda, aceitou o convite do Sementes e irá promover um concerto solidário no próximo dia 5 de maio, pelas 21h30, na sala TEATRO deste estabelecimento escolar. Estas ações de solidariedade não são apenas atividades de angariação de fundos para o projeto Sementes. Para a Pastoral Universitária são muito mais do que isso: verdadeiras oportunidades de sensibilização da comunidade bracarense para as necessidades de ser mais solidária e de saber partilhar; de ser mais sensível e apoiar as causas que os jovens universitários hoje abraçam; de refletir sobre os motivos que impelem estes jovens a ir em Missão para África; de querer colaborar na construção de um mundo mais justo e equitativo. Em síntese, trata-se de uma oportunidade que a Pastoral Universitária quer dar a todos os que se sentem interpelados a fazerem parte de uma missão. Partirão 20 jovens para o terreno, mas foram muitos aqueles que por cá ajudaram a construir esta Missão das Sementes. 11


PASTORAL DE JOVENS

OBRIGADO PAPA FRANCISCO

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15. Obrigado, Papa Francisco, por trazeres os jovens no coração. Obrigado por esta lufada de ânimo, por fazê-los sentir que há quem se preocupe com eles, quem os ame e quem vá ao seu encontro e os inclua nas reflexões e na procura de novos caminhos para a Igreja. Obrigado por esta brilhante ideia de dedicar um Sínodo aos jovens. Na carta inaugural, o Papa Francisco exorta os jovens a participar ativamente no caminho sinodal: “fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores”. Por isso, jovens, esmerai-vos na preparação deste Sínodo e fazei ouvir as vossas vozes com amor e caridade. Ainda que fisicamente não estejais lá, não deixeis de vos fazer presentes com as vossas reflexões e sugestões, falai do que vos vai no coração. Jovens, Deus necessita de vós para continuar a ser a voz de esperança neste mundo. Deus necessita de vós para continuar a dizer: “A vida é bela e vale a pena viver. Foi para serdes felizes que Eu vos criei”. Deus quer que escolhamos caminhos de felicidade e de vida. Por isso é tão importante discernir o que Ele quer para cada um de nós e qual o nosso lugar no Seu plano de amor para o mundo. Armando Matteo afirma que “a juventude é o luxo de ter tempo para decidir que tipo de pessoa se pretende ser” (A primeira geração incrédula). Acredito que os jovens querem ser excelentes pessoas, querem escolher a realização

concreta da sua vida na alegria do amor e na plenitude do dom de si a Deus e aos outros. É no encontro com Jesus, no diálogo que podemos estabelecer com Ele, na sua companhia – “Vinde e vede” –, que podemos encontrar o nosso “sítio”, o nosso caminho. Jesus quer que sejamos felizes: “disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11). Jesus sempre transmitiu alegria às pessoas que encontrava, uma alegria verdadeira, plena, transbordante, precisamente porque tinha vindo ao mundo “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Queridos jovens, o Papa Francisco dá-vos coragem e confia em vós: “Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre”. Respondam com ânimo ao seu desafio, sejam capazes de sonhar e lutar pelos vossos sonhos. A exortação é feita aos jovens, mas o Papa não esquece que, com colaboração e comunhão, o caminho tem de ser feito em conjunto. Cabe também aos adultos assumir “o compromisso próprio – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir”.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

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