Voz de Esperança Jan/Fev 2021

Page 1

JAN - FEV / 2021

UM CAMINHO POR ONDE TODOS PASSAM

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 80 | Bimestral 1,00 €

“O desafio surge em colocarmos os outros no centro, de privilegiarmos atitudes de solidariedade e gestos de caridade, ao jeito do Bom Samaritano… entendo que é por aqui o caminho a trilhar.” Catarina Alves Págs. 2-3

A CRUZ: SÍMBOLO D’AQUELE QUE NOS UNE E NOS MOVE “A Cruz das JMJ irá peregrinar e fazer mover centenas de jovens nos próximos meses. (…) Este será sempre um movimento de comunhão e de verdadeira vivência pessoal e comunitária da fé em Jesus Cristo.” Dep. Arq. de Pastoral Juvenil Pág. 12

EDITORIAL

A CAMINHO… CORAÇÃO A CORAÇÃO! “Felizes os que esperam no Senhor, e seguem os seus caminhos” (Sl 127 [128], 1). O canto do salmista reafirma-nos na certeza de que o penhor da verdadeira alegria está na audácia de nos pormos a caminho, em movimento, na direção certa, rumo a Deus, que nos ama e chama, e, consequentemente, coloca na direção dos outros, sobretudo daqueles que mais precisam de nós, porque Deus nos envia por amor e para o amor, interpelando-nos a assumirmos, em Igreja, uma verdadeira atitude sinodal e samaritana. A festa do Natal, que recentemente celebrámos, e no início de um novo ano, instala nos nossos corações a verdadeira App da Caridade, pois o próprio Deus Se faz homem em Jesus Cristo para vir às nossas vidas, percorrer os nossos caminhos, com todas as dificuldades, irregularidades e sobressaltos que os marcam, ainda em contexto pandémico, e chamar-nos ao caminho que nos salva, restaura e dá um sentido autêntico à nossa existência. É nesse caminho da verdadeira vocação de cristãos, do encontro e da comunhão com o Senhor, que podemos caminhar juntos com os irmãos, lado a lado, diligentes e misericordiosos no cuidado de não deixarmos ninguém para trás, ninguém caído sem amparo, ninguém ferido sem o bálsamo do afeto, ninguém triste sem um olhar que consola e acende a luz de uma nova esperança. A este propósito, recorda-nos o texto visão que este deve ser para nós um imperativo constante, uma missão sem interrupções ou distrações, pois “o desejo de irmos mais longe no amor a Deus e ao próximo leva-nos a não descansarmos até sentirmos que a vida está orientada no caminho do Senhor e para o Senhor”. De igual modo, também nos nossos Seminários, como as notícias aqui publicadas o atestam, se procura percorrer este caminho de proximidade, de discernimento, de escuta, de descoberta, de oração, de partilha, de alegria e de amor… este caminho que só pode ser trilhado, como é próprio da nossa vocação cristã, coração a coração!


VISÃO

UM CAMINHO POR ONDE TO Catarina Alves

Ao longo da nossa vida trilhamos um caminho próprio, marcado por avanços e recuos, com um objetivo mais ou menos definido. O percurso nem sempre é linear, diria que poucas vezes o é, e ainda bem! No início da nossa existência somos carinhosamente amparados e educados para seguir um determinado rumo. Vemos e conhecemos os diversos exemplos da nossa família, chegando mesmo a ser influenciados. Desde logo, aprendemos a primeira lição para sermos bem-sucedidos: o caminho não se faz sozinho. Há sempre uma presença, alguém que nos tenta relembrar o que estamos a fazer, para quê e porque o estamos a fazer. Importa fazermos a pergunta certa a cada momento para ser possível avançar, não tanto “o que posso fazer de mais e de melhor por mim, pelos meus e pelos outros?”, mas “o que me é pedido realmente?”. D. José Tolentino Mendonça partilha que “a nossa vida não depende apenas de nós e das nossas escolhas: todos estamos nas mãos uns dos outros, todos experimentamos como é vital esta interdependência” e esta relação na construção de um bem maior. O desafio surge em colocarmos os outros no centro, de privilegiarmos atitudes de solidariedade e gestos de caridade, ao jeito do Bom Samaritano… entendo que é por aqui o caminho a trilhar. No entanto, é muito fácil cairmos na tentação do desvio, do atalho ou, simplesmente, do parar demasiado tempo para lá do necessário e proveitoso. As distrações são muitas e tentadoras, dispersam do essencial. É preciso treinar o olhar, para olharmos com o coração. Analisarmos as prioridades… as da cabeça ou as do coração? E é neste ponto que todos os caminhos são semelhantes… “Então o Senhor disse a Moisés: Vai, desce, porque o teu povo, o povo que

2


DOS PASSAM tiraste do Egito, corrompeu-se e depressa se desviou do caminho que eu lhe havia ordenado” (Ex 32, 7-8). Imaginemos o quanto dependemos das coisas mundanas e colocamos nossa confiança em objetos ou pessoas que não são o Deus verdadeiro, o Deus libertador? Poderíamos fazer o exercício de tentarmos enumerar todas essas coisas ou pessoas e colocá-las numa espécie de check-list, para nada ou nenhuma escapar, mas mais do que enumerarmos ou fazermos “check”, esta é a atitude com que nos dispomos a fazer o exame de consciência do nosso caminho. E é aqui que surge a segunda lição por onde todos passam: a oportunidade de corrigirmos e de recomeçarmos de novo as vezes que forem precisas – o perdão. Limpa o passado, dá energias para seguirmos e recuperarmos o perdido e, pela ressurreição que opera em nós, abre-nos a novos tempos (Vasco Pinto Magalhães, sj). O desejo de irmos mais longe no amor a Deus e ao próximo leva-nos a não descansarmos até sentirmos que a vida está orientada no caminho do Senhor e para o Senhor. Estamos diante de Alguém que nos ama tal como somos, ao ponto de ter dado a vida por nós. Ao que parece, o segredo está na sabedoria de amadurecermos através das muitas oportunidades e desafios que a vida nos traz, e também com as dificuldades, crises e fracassos. É isso que vai construindo o caminho da mais plena comunhão com Deus e com os outros. E Ele vem ao nosso encontro, fazendo-Se próximo e pleno de amor, quando nós temos a ousadia de colocar pés a caminho, sair de nós mesmos e ir, caminhando na Sua direção. Um caminho por onde todos são chamados a passar!

3


ARTE

MOISÉS Luís da Silva Pereira

O texto que nos é proposto para reflexão encontra-se no Livro do Êxodo, cap. 32, 1-14. Narra o episódio do bezerro de ouro, quando o povo de Israel, cansado de esperar pelo regresso de Moisés do monte Sinai, e não sabendo o que lhe acontecera, se desvia do caminho que Deus lhe havia traçado e fabrica um ídolo de ouro para adorar. Ao descer do monte, Moisés, cheio de cólera ao ver o comportamento do povo, quebra as tábuas da lei, reduz o bezerro a pó que lança à água, obrigando o povo a bebê-la. No capítulo 34, vamos reencontrar Moisés subindo outra vez à montanha para receber as novas tábuas da lei, donde volta com o rosto resplandecente. A tradução latina diz que o seu rosto “tinha chifres”: Videbant faciem Moysi esse cornutam (viam que o rosto de Moisés tinha chifres). A tradução resulta de a palavra hebraica qaran, que refere o brilho do rosto, derivar de outra, qeren, que significa chifre. Daqui terá nascido o costume de representar Moisés com essas ligeiras protuberâncias na cabeça. Tão invulgar atributo nada mais representa, afinal, do que os raios luminosos que do rosto emanavam. Escolhi duas iconografias que ilustram o episódio bíblico. A mais fa-

4

mosa é a estátua sedente de Moisés (fig. 1), esculpida por Miguel Ângelo para o túmulo de Júlio II, o papa que mais favoreceu os artistas do Renascimento. Repare-se na majestade da sua postura: costas direitas, cabeça virada para a esquerda, olhar vigoroso fixo num ponto determinado, lábios cerrados, tábuas da lei sobraçadas, parece ter acabado de tomar uma decisão. A perna esquerda fletida dá a impressão de que vai levantar-se e pôr em prática a decisão tomada. Repare-se ainda nos pormenores da musculatura, das veias da mão esquerda, que indiciam um homem na plenitude das suas forças. Todos estes elementos iconográficos compõem uma figura admirável, de indómita vontade, cheia da força de quem acaba de falar com Deus e dele recebeu as leis fundamentais que traçam o caminho que o povo eleito deveria seguir. E como era habitual, lá encontramos as duas protuberâncias na cabeça. Miguel Ângelo não foi, de modo nenhum, o primeiro - pelo contrário, foi dos últimos - a utilizar esse atributo. Em regra, representava-se assim Moisés desde o séc. XII, mas depois da reforma iconográfica resultante do concílio de Trento, essa iconografia foi completamente abandonada,

certamente para evitar o escárnio dos críticos protestantes. Ficou também famoso um outro Moisés de um escultor anterior a Miguel Ângelo, Claus Sluter, nascido em Haarlem, Países Baixos, cerca de 1340, e falecido em Dijon, provavelmente em 1406. Esculpiu-o para a Fonte de Moisés, no claustro do mosteiro cartuxo de Champmol, em Dijon (fig. 2). Claus Sluter é talvez o mais importante escultor do chamado gótico internacional, nos finais da Idade Média, que se caraterizava por um estilo de forte realismo dramático. Miguel Ângelo poderia ter-se inspirado nesta bela escultura. Embora Moisés se encontre de pé, nele encontramos as mesmas longas barbas divididas que descem quase até à cintura. O rosto volta-se também para a esquerda e os olhos parecem fixados num ponto distante, enquanto os lábios cerrados mostram a mesma voluntariosa determinação. A impressão geral é, igualmente, a de majestade, de vontade férrea, de viva consciência de ser líder de um povo. E, como era habitual, lá encontramos as mesmas saliências na cabeça que significam, como dissemos, os raios de luz que brilhavam no seu rosto. É esse o seu significado.


Figura 1. Miguel Ângelo, Moisés

Figura 2. Claus Sluter, Moisés

5


SEMINÁRIO MENOR

SOMOS TODOS DIFERENTES, MAS IGUAIS… FORMAÇÃO HUMANA Ângelo Novais, 10º ano

No passado dia 14 de novembro, sábado, realizou-se no Seminário de Nossa Senhora da Conceição o segundo encontro de Formação Humana - Form’arte – sendo, desta feita, dedicado ao tema “O preconceito”, ajudando o grupo a refletir sobre as diferenças que nos caracterizam e distinguem, sem, no entanto, nos diferençar ou separar dos outros enquanto seres humanos. Como é habitual, o encontro destinou-se aos seminaristas que frequentam os 10º, 11º e 12º anos de escolaridade, sendo conduzido pela Dra. Rita Fernandes e pelo Cón. Mário Martins, Reitor do Seminário. De salientar que a preparação deste encontro contou com o contributo de dois seminaristas, com a ajuda da Equipa Formadora, de modo a incrementar-se o envolvimento de cada um nestes momentos tão importantes para a sua formação intelectual e espiritual. O encontro iniciou com uma pequena oração, para melhor preparar o coração e o espírito dos participantes para aproveitar quele momento formação, curto, mas muito produtivo. Depois foi apresentado o tema a trabalhar, tendo os jovens sido interpelados a responder a perguntas de ordem mais pessoal sobre o mesmo. Posto isto, os participantes foram divididos em dois grupos. Um grupo foi convidado a trabalhar um artigo sobre o racismo, enquanto o outro 6

se debruçou sobre o albinismo. Esses artigos falavam sobre a exploração dos albinos e também das pessoas de raça negra, sendo que os seminaristas foram desafiados a fazer uma campanha sobre a defesa das vítimas desses tipos de preconceito, o que ajudou a descodificar as perceções de cada um e a melhor aceitar as diferentes formas de pensar. Depois de uma pausa para um breve convívio, o encontro prosseguiu com cada um dos grupos a apresentar a sua campanha. Esta dinâmica ajudou os seminaristas

“a perceber que, muitas vezes, até sem percebermos, alimentamos determinados preconceitos e agimos condicionados pelos mesmos. Estes devem ser superados e vencidos, no respeito por todos, pois, apesar das diferenças que nos marcam, sejam ao nível da personalidade, da raça ou da cultura de onde cada um provém, somos todos iguais, ou seja, com os mesmos direitos e merecedores da mesma dignidade”. No fecho do encontro, e ainda antes de um momento de oração final, foram apresentados alguns exemplos que tiveram grande impacto na história como “a II Guerra Mundial, com a influência do estado nazi, os contínuos campos de trabalhos forçados existentes na Rússia, sem esquecer a quantidade de pessoas que se suicidam todos os dias por causa do preconceito, seja pela cor da pele ou pela religião que cada uma professa”.


SEMINÁRIO MENOR

DA CULTURA À CELEBRAÇÃO DA IMACULADA, DO ESTUDO AO LAZER, DO INDIVIDUAL AO COMUNITÁRIO

UM FIM DE SEMANA PROLONGADO, VIVIDO EM COMUNIDADE João Pinto, 11º ano

Cada vez mais, somos interpelados e estimulados pelo ambiente que nos envolve. Mais do que nunca é necessário discernir o que, de facto, é lapidar na nossa vida e de que modo podemos potenciar os efeitos e as experiências resultantes das atividades em que nos comprometemos. Consciente desta realidade, a comunidade do Seminário Menor de Braga procurou viver o fim de semana prolongado de 5 a 8 de dezembro de uma forma intensa, sendo este um tempo de crescimento pessoal e comunitário, dedicado a várias atividades, numa casa que procura fomentar e propor uma formação integral e completa. O fim de semana iniciou-se com uma conferência online com o Dr. Pedro Seixas, docente de Educação Moral Religiosa Católica (EMRC) e cronista em vários jornais nacionais de renome, que, a partir da sua experiência, orientou um fórum acerca da relação entre a fé e a cultura na sociedade hodierna. O orador, apaixonado pela cultura e pela Teologia, desenvolveu um

colóquio no qual mostrou a necessidade e a complementaridade entre este binómico (cultura-fé). Segundo ele, “se quisermos compreender o mundo cultural que nos rodeia é imperioso dominar a cultura e a linguagem do cristianismo”, uma vez que é nele que muita, senão a maioria, das artes se debruça. A tarde contou com um momento lúdico, através do qual se valorizaram a cultura geral e as relações interpessoais. Através de quizs virtuais e da amigável disputa intracomunitária, os seminaristas e a Equipa Formadora conviveram num tempo que, para além do seu fim pedagógico, permitiu momentos de gargalhadas e boa disposição. O dia de sábado terminou com o visionamento de um filme, de nome Into the Wild (em português, O lado selvagem), que retrata a experiência de um jovem americano cuja vida entrega à aventura e ao risco, viajando pelos recônditos dos EUA. A manhã de domingo começou com uma recoleção, orientada pelo Pe. Adelino Domingues. Este tempo

de crescimento e amadurecimento espiritual alicerçou-se na experiência judaica da libertação do Egito, povo este que se volta contra o próprio Deus e que incorre em idolatria. A manhã cessou com a celebração da Eucaristia. Já na tarde de domingo, decorreu o Torneio Anual de Sueca, vencido este ano pelos seminaristas Pedro André e Francisco Xavier (11º ano). O dia 7 foi dedicado ao estudo e às atividades letivas. Ao final do dia, a comunidade reuniu-se, cantando aquela que lhe dá nome e padroado. Em unidade espiritual com a comunidade do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo e com a Igreja Universal que a proclama “Cheia de Graça”, a comunidade do Seminário Menor entoou solenemente as primeiras vésperas da solenidade, concluindo a novena à Virgem Imaculada. A Solenidade de Nossa Senhora da Conceição, que se reveste de singular importância pela sua dignidade e preponderância, ficou marcada pela ausência das famílias e da tarde cultural. Este dia ficou, no entanto, enriquecido com a já habitual Eucaristia que congrega as duas comunidades em torno da devoção da Imaculada, com a presença do Bispo Auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida. Pela beleza do canto, pela vivência profunda da liturgia e pela proclamação dos louvores da Virgem Maria, Equipas Formadoras e formandos celebraram na simplicidade a Conceição Imaculada de Maria Santíssima. 7


SEMINÁRIO MAIOR

O SENHOR CHAMA… SEMANA DE ORAÇÃO PELOS SEMINÁRIOS Manuel Matias, 1º ano

A Semana de Oração pelos Seminários realizou-se entre os dias 1 e 8 de novembro. Dada a nova situação pandémica, a programação desta semana explorou novos meios para alcançar a comunhão na oração e procurou sensibilizar os participantes para a importância que cada crente tem na vida do Seminário, na medida em que cada um é chamado a agir proativamente no apoio ao discernimento vocacional dos jovens. Partindo do lema “Jesus chamou os que queria e foram ter com Ele (Mc 3, 13)”, a semana iniciou com um encontro virtual, intitulado “(Pro) vocação: uma conversa provocante”, que contou com a participação de um padre, de um ex-seminarista e ainda dos pais de um seminarista para que, como afirmou o Cónego Vítor Novais, que moderou o encontro, “possamos ver o Seminário como uma causa que promove uma certa arte”. Neste sentido, também o Pe. Rúben Cruz, enquanto membro da Equipa Formadora do Seminário Menor, procurou 8

explicitar o modo como o discernimento e o acompanhamento aos jovens é feito, como as suas vocações são olhadas, tendo em conta as fragilidades de cada um, e sem esquecer que, “em cada seminarista, antes de tudo, se encontra alguém igual a todos os outros, mas que se decide a arriscar e a questionar um percurso de vida totalmente diferente”. De forma a compreender o modo como Deus chama cada um, no seu contexto particular, a comunidade do Seminário partilhou um vídeo com o testemunho pessoal de alguns membros, procurando apresentar exemplos concretos de cristãos que se sentiram chamados por Deus à vida sacerdotal que, tal como refere o Bruno Pinto, aluno do segundo ano de Teologia, “não são sinais muito objetivos, uma vez que se fazem de rostos e situações pessoais”. Para finalizar esta Semana de Oração pelos Seminários, organizou-se uma Vigília que foi transmitida em direto, e também aberta ao públi-

co, cumprindo, contudo, as restrições impostas pela Direção Geral de Saúde (DGS). Nesta celebração esteve presente D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga, que presidiu à mesma, e que, no decorrer deste momento de oração, salientou a importância de toda a comunidade diocesana para a vitalidade do Seminário. Questionou também os jovens sobre o seu sentido de discernimento e compromisso relativamente a uma possível vida sacerdotal, na medida em que estes “se dispõem a aceitar o desafio de, à semelhança de Jesus, se darem aos outros sem medida, desafio este que os chama a situarem-se fora do centro onde todos os outros se encontram para, assim, seguirem uma via de entrega total, fundada no amor e na dedicação ao outro e a Cristo”.


SEMINÁRIO MAIOR

SOB O OLHAR PROTETOR DA MÃE Guilherme Andeni, 2º ano

Os Seminários Arquidiocesanos de Braga reuniram-se no passado dia 13 de novembro, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Braga, para uma celebração de consagração a Nossa Senhora. Como é habitual, dois dias depois da festa de S. Martinho, estes Seminários promovem este momento de oração, colocando-se sob o olhar protetor da Mãe. Na sua homilia, o celebrante referiu que, neste dia, “consagramo-nos a Maria para, juntos, irmos confiantes ao trono de graça, que é Cristo”, acrescentando que “Maria concebeu na sua escuta da palavra, na sua virgindade, humildade e, numa abertura plena”. Por isso, se hoje nos consagramos a Maria é porque pretendemos voltar para as nossas origens humanas, que nos dão o reconhecimento do nosso batismo. Como nos adverte S. Luís Maria de Montfort, sacerdote reconhecido como pregador e escritor, a «consagração total à Santíssima Virgem é um caminho rápido e seguro de santificação e, por isso, um caminho rápido e seguro que nos leva a Jesus Cristo e à salvação que Ele alcançou para nós. A consagração não dispensa o nosso esforço para vencer as dificuldades e para corresponder à vontade de Deus, porém, é um caminho mais fácil de santificação e de alcançar a salvação. Unidos à Virgem Maria, que está connosco sempre para nos ajudar, estaremos mais unidos a Jesus. Ainda que soframos alguma queda, Ela nos

ajuda a levantar e a continuar no caminho que conduz a Cristo e, com Ele, à salvação». Com Maria, conseguimos abrir os novos horizontes que nos permitem seguir os nossos passos para a frente, numa entrega ilimitada, rumo ao encontro com o seu filho, Jesus, para o qual ela nos aponta. Por sua vez, o Papa Francisco, por ocasião da comemoração da consagração a Nossa Senhora, na sua oração diante da sua imagem, interpelou-nos a rezar assim: «Bem-aventurada, Maria, Virgem de Fátima, com renovada gratidão pela tua presença materna unimos a nossa voz àquela de todas as gerações que te chamam bem-aventurada. Celebramos em ti as grandes obras de Deus, que jamais se cansa de prostrar-se com misericórdia sobre a humanidade, afligida pelo mal e ferida pelo pecado, para curá-la e para

salvá-la. Acolhe com benevolência de Mãe o ato de consagração que hoje fazemos, com confiança, diante desta tua imagem tão querida a nós. Estamos certos de que cada um de nós é precioso aos teus olhos e que nada é a ti estranho de tudo aquilo que habita em nossos corações. Deixamo-nos alcançar pelo teu dulcíssimo olhar e recebemos o afago consolador do teu sorriso. Protege a nossa vida nos teus braços: abençoa e reforça todo desejo de bem; reaviva e alimenta a fé; ampara e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia todos nós no caminho da santidade. Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção pelos pequenos e pelos pobres, pelos excluídos e pelos sofredores, pelos pecadores e pelos dispersos de coração: reúne a todos sob a tua proteção e entrega-os ao teu Filho amado, o Senhor nosso, Jesus. Amém.» 9


SEMINÁRIO MAIOR

DE CORAÇÃO ABERTO E DISPONÍVEL PARA DEUS SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO António Pires, 3º ano

Com a certeza de que a vinda do Senhor é a resposta de amor que Deus oferece diante da escuridão, e envolvidos num tempo atípico e de grande incerteza, foi assim que, no dia 8 de dezembro, as comunidades dos Seminários se reuniram para celebrar a Solenidade da Imaculada Conceição. Um dia que costumava ser de grande festa, pois reunia todas as famílias, e que acabou por se tornar num dia mais simples, marcado apenas pela celebração da Eucaristia, presidida pelo nosso Bispo Auxiliar, D. Nuno Almeida, e que contou com a presença dos Seminaristas e Formadores. Como habitualmente acontece, a celebração decorreu na Capela Imaculada, no Seminário Menor. Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Assim, ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, mulher de coração puro e 10

de olhar limpo, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos que Deus tem para nós e para o mundo. Ao longo da Eucaristia, fomos percebendo que a Virgem de Nazaré, como nos dizia o Sr. D. Nuno, é Amor e Gratidão, é a mãe que contempla. Escutamos ainda que este é um dia importante para iniciarmos a construção do presépio nas nossas casas, bem como no Seminário, uma vez que, através dele, conseguimos perceber que toda a criação participa na festa da vinda do Messias. Também nós fomos desafiados a sermos como Maria, ou seja, capazes de dar o nosso “Sim” a Deus, sempre atentos e movidos pelo amor do Espírito. Ainda antes do término da celebração, o Sr. D. Nuno partilhou connosco uma pequena história sobre dois testemunhos de pessoas com projetos de vida diferentes com o objetivo de nos fazer ver que Deus se

encontra, de variadas maneiras, em cada um de nós. Foi assim, com este espírito, que a celebração terminou, deixando em cada um de nós o compromisso de preparamos a vinda do Salvador, vindo até nós através de Maria, anunciada pelo anjo quando diz: “Avé, cheia de graça, o Senhor está contigo”. É assim, nesta simplicidade, que Maria se torna a mais bela morada de Deus.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

JOVENS NA CONSTRUÇÃO DE PONTES MULTICULTURAIS UMA PERSPETIVA DE 3 JOVENS UNIVERSITÁRIOS DA GUINÉ-BISSAU, DE TIMOR-LESTE E DE PORTUGAL André Cardoso (UCP Porto - Portugal); Osório Ximenes (UCP Braga – Timor-Leste); Sumaila Jaló (Universidade do Porto – Guiné-Bissau)

No passado mês de novembro, tivemos a oportunidade de refletir, num evento promovido pela Pastoral Universitária de Braga, no âmbito do projeto Encontro de Culturas, sobre “A importância da juventude no desenvolvimento da sociedade”. O diálogo foi desenvolvido de um ponto de vista multicultural com três jovens universitários, um guineense, um timorense e um português, que, a partir das realidades de origem, conversaram sobre os desafios e obstáculos que são colocados aos jovens do mundo nos dias de hoje. Para o jovem português, André Cardoso, “a realidade social e cultural ainda não é capaz de ser uma ferramenta que permita um igual acesso às oportunidades. Apesar de vivermos na era da globalização, as diferenças ainda são enormes e merecem um travão naquilo que é a construção de muros. Há algo que nós, jovens de diferentes partes do mundo, temos em comum: a vontade da mudança. Cada vez mais há um interesse em mostrarmos que também somos capazes de trazer algo de bom, pois afinal também somos atores da sociedade e merecemos tempo de antena. Mas não nos basta sermos oposição àquilo que está mal se não formos capazes de assumirmos a responsabilidade de nós próprios mudarmos. Reagir a favor de uma sociedade mais desenvolvida deve implicar a apresen-

tação de soluções e o desapego ao conforto dos bastidores. Devemos sempre ter a audácia de reivindicar e de querer mais, não esquecendo que, quanto mais pedimos, mais temos de dar.” Por sua vez, Osório Ximenes refere que, em Timor, “mais de metade da população tem uma idade inferior a 30 anos, pelo que se procura incentivar os jovens a exercerem os direitos e deveres que lhes são inerentes como cidadãos, de forma esclarecida e responsável, como base fundamental para o desenvolvimento sustentável. O papel dos jovens é essencial para o futuro de Timor.” Sumaila Jaló, estudante guineense, partilhou a certeza de que “a juventude guineense, que representa 60% do total dos habitantes da Guiné-Bissau, tem-se mobilizado em torno de várias iniciativas de cidadania, com vista a participar no processo de desenvolvimento do país. Entretanto, para garantir que a força da juventude contribua efetivamente para mudanças radicais na vida dos guineenses, é urgente que

se adote uma ampla política pela juventude, que priorize o investimento essencialmente no setor educativo como elemento chave para a formação profissional.” Numa perspetiva partilhada, os presentes concluíram que falar de juventude em Timor, na Guiné, ou em Portugal, é falar no contributo ativo dos vários jovens nas suas comunidades e perceber que, sem investirmos na educação e na formação pessoal e vocacional, não será possível dar voz às necessidades e sonhos e contribuir para um mundo mais humano e desenvolvido. Nas palavras de André Cardoso, “apesar de todos os quilómetros que nos separam, da diferença cultural e social que nos distingue, os desafios e a vontade que caraterizam a geração mais jovem acabam por ser semelhantes. É altura de a restante sociedade olhar com bons olhos para aquilo que nós, jovens, dizemos e de não terem medo de nos reconhecer algum mérito, pois a juventude é a esperança de qualquer país, o principal motor do seu processo de desenvolvimento”. 11


PASTORAL DE JOVENS

A CRUZ: SÍMBOLO D’AQUELE QUE NOS UNE E NOS MOVE Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

Portugal foi a Roma receber, do Papa Francisco, a Cruz e o ícone de Maria – símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude. Estes símbolos foram recebidos na consciência que, em tempo de pandemia, não será fácil de os fazer peregrinar entre as diferentes dioceses do país. Porém, a ousadia e criatividade que tanto carateriza a juventude, levou ao traçar de uma programação capaz de conciliar os cuidados necessários que devemos manter por causa da Covid-19, com o peregrinar destes símbolos que, há 30 anos, são também representantes da fé e da força da juventude cristã em todo o mundo. Maria, mãe da juventude, acompanha e aponta para a Cruz Redentora. Com a Cruz nas mãos, os jovens manifestam a fé que os habita e, na vivência desta fé, fazem resplandecer o encontro com Cristo que vai para além de toda a simbologia: este é um encontro que se traduz em ação quotidiana, seja pelo crescimento formativo e intelectual, seja por uma adesão de vida em Cristo que não fecha os olhos ao sofrimento dos outros. A Cruz das JMJ irá peregrinar e fazer mover centenas de jovens nos próximos meses. Este será um movimento cheio de “restrições e distanciamento social”, mas não será nunca um movimento de afastamento nem de distância. Ao contrário, pela própria natureza dos símbolos, este será sempre um movimento de comunhão e de

verdadeira vivência pessoal e comunitária da fé em Jesus Cristo. As catequeses para melhor preparar o encontro mundial de 2023, já se encontram disponíveis (https://www. lisboa2023.org/pt/preparacao/catequeses) e a ser trabalhadas em todas as dioceses; os programas estão a ser definidos

e o modo como a juventude se une como Igreja vai ganhando cada vez mais expressão. Em Portugal, e particularmente na nossa Diocese, vamos vivendo este caminho pastoral conjunto sob a tónica nacional: “Faz Missão e leva a esperança e alegria da JMJ”. De facto, as JMJ não são momentos isolados da vida cristã, são etapas de um caminho, de uma missão que se move na Alegria e na Esperança de Cristo Redentor.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 40 €.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.