Voz de Esperança Set/Out 2021

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SET - OUT / 2021

ACOLHER E AMAR A TODOS

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 84 | Bimestral 1,00 €

“A caminho de Jerusalém, Jesus ensina os discípulos a tornaremse Resposta. (…) Para multiplicar a esperança, no acolhimento e no amor a todos, implica que decidamos ser Respostas de Deus às necessidades e fomes do outro.” Patrícia Correia Págs. 2-3

PENTECOSTES “O que nos fascinava era saber que a obra de todos crescia, que se alargava, mas não a víamos. Estava nas Suas mãos, e era isso que nos descansava. Queríamos que as nossas mãos se fizessem tal como as Suas. Aliás, que se entregassem “in manus tuas”. Queríamos…” Rui Machado Pág. 8

EDITORIAL

NA ESTALAGEM DO CORAÇÃO… O melhor lugar onde devemos desejar estar, onde encontramos refúgio, conforto e amparo é sempre no coração do outro! Ao mesmo tempo, o coração é o único lugar onde, guardando os outros, jamais os perderemos! Na verdade, mais que um lugar de destaque numa festa, mais que uma mesa num restaurante de luxo, um emprego que nos confere estatuto ou uma imagem de cartaz, a nossa grande alegria deverá estar na certeza de que encontramos estalagem no coração e na vida dos irmãos e somos, por sua vez, também para os outros, lugar de repouso, de descanso, de alento e de esperança que a melhor suíte do mais requintado hotel do mundo jamais pode superar. Neste aconchego e afeto mútuos, ligam-se e curam-se todas as feridas com o azeite e o vinho do que somos e da vocação a que somos chamados! Jesus desafia-nos a ser estalajadeiro exemplar, aquele que estende a mão, que dá do que é seu, que abriga o desamparado, que acolhe, que cuida, que zela. Por isso, e como enfatiza o texto visão, “ao longo dos caminhos, Jesus gerava, em torno do próprio anúncio, o encontro permanente entre pessoas, criando em muitos dos momentos as condições e situações necessárias para os verdadeiros encontros, sobretudo com os mais frágeis e esquecidos.” Sob este abrigo com que o Evangelho nos cobre e guarda, os nossos Seminários serão, certamente, o tempo e o espaço privilegiados para que todos se sintam acolhidos e amados ao jeito de Jesus, como as atividades aqui relatadas também o atestam. O cuidado das feridas é também feito da gratidão e do abraço. Por isso, no início de uma nova etapa, manifestamos a nosso profundo agradecimento ao Pe. Agostinho Barros, que deixa de colaborar com o Seminário Conciliar no que respeita ao seu trabalho dedicado à direção espiritual, e, ao mesmo tempo, damos as boas vindas ao Pe. Vítor Ferros, que passará a assumir esta mesma missão entre nós.


VISÃO

ACOLHER E AMAR A TODOS Patrícia Correia

A imagem de uma grande toalha presa pelas quatro pontas que descia do Céu deixa Pedro em êxtase, qual sentido maior por este amor no serviço aos outros. Realmente, o Amor, o próprio Jesus, multiplica-se e é estalagem para todos quando decidimos ser verbos de comunhão uns com os outros. No processo da catequese que Jesus promove com os seus discípulos, pelos caminhos das existências com quem se cruzavam, o exagero no amor tinha sempre consequências: multiplicar. Jesus confiava neles e amava-os a ponto de não deixar nenhum deles para trás… daí fazer cumprir o critério para se ser o primeiro, para se ser o maior, nunca deixar ninguém para trás. Para isso, temos que nos tornar os últimos. Ser último significa que mais ninguém está depois de nós. A caminho de Jerusalém, Jesus ensina os discípulos a tornarem-se Resposta. Não basta fazer dos púlpitos frigoríficos de boas pregações, que agarramos a todo o vapor para que a validade seja esticada no tempo. Não! Para multiplicar a esperança, no acolhimento e no amor

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a todos, implica que decidamos ser Respostas de Deus às necessidades e fomes do outro. É assim que se gera, a partir do que se tem, a dinâmica da partilha, que torna o tudo de poucos em muitos com tudo. Nestas respostas de multiplicação, percebemos que Jesus sabia que o fundamental não se diz com palavras. Não escondeu os gestos concretos e marcantes na vida dos outros. Sempre tão diferentes, mas sempre surpreendentes. Como alguém refere: “viam-se n´Ele todas as palavras que dizia e compreendiam-se nos seus gestos as parábolas que contava”. Quando olhamos o modo como Jesus ensinava os discípulos, não para uma vida ideal e indiferente aos outros, sem conflitos nem contradições, vemos que sempre os desafiou a deixar vida nos caminhos percorridos, a assumir opções que implicam tantas vezes dificuldades e dores. Sempre na perspetiva de dar a conhecer o Reino de Deus, multiplicar a Caridade entre todos, informava-os da necessidade de educar para a vigilância, onde se torna claro que a esperança é o agir de Deus que não esmaga, mas sim irrompe, abres caminhos, multiplica a partir da


realidade do homem. Desta forma percebemos porque se manifesta sempre pelos mais pobres, os mais fracos, os mais necessitados. Todo este processo de acolher e amar advém do modo autêntico como Jesus tocava as pessoas por dentro, libertando-as. No evangelho esta ação aparece em forma de expulsão dos espíritos impuros e curas. Assim, com uma autoridade verdadeira, Jesus implica uma adesão confiante da pessoa, a sua abertura à graça de Deus. Ao longo dos caminhos, Jesus gerava, em torno do próprio anúncio, o encontro permanente entre pessoas, criando em muitos dos momentos as condições e situações necessárias

para os verdadeiros encontros, sobretudo com os mais frágeis e esquecidos. Um dos aspetos que nunca podemos esquecer é que o Salvador, ao chamar os diversos discípulos, comprometia-se com eles, dando-se a eles incondicionalmente. Ele não compromete simplesmente pessoas consigo ou para a sua causa. Jesus compromete-se neste multiplicar de esperança e alegria. Quando Ele passa tudo fica diferente! Essa é a experiência maior do sentir-se chamado em Deus: não os rouba do seu mundo, antes entra nele. O reino constrói-se do lado de dentro das vidas dos discípulos, da sua realidade, do seu caminho percorrido.

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ARTE

BOM SAMARITANO Luís da Silva Pereira

O ciclo de reflexões que nos foram propostas neste ano encerra com um texto do Livro dos Juízes que se encontra no cap.19. Aí se conta o acolhimento feito por um ancião da cidade de Gabaá a um levita de Efraim que viajava com a mulher. Tendo-os encontrado na praça da cidade, ofereceu-lhes generosamente refeição e casa para pernoitarem, cumprindo assim o sagrado dever da hospitalidade. Como não encontrei nenhuma iconografia deste episódio, escolhi como exemplo da virtude do acolhimento a história do Bom Samaritano, que se encontra em S. Lucas, cap. 10, 25-37. É a parábola moral, juntamente com a do Filho Pródigo, que melhor esclarece o preceito evangélico do amor ao próximo. Para ilustrar a narrativa, selecionei um óleo sobre tela de Giovanni Battista ou Giambattista Langetti, pintor italiano tardobarroco. Nasceu em Génova, no ano de 1635, e faleceu no ano de 1676, em Veneza, cidade onde passou a maior parte da vida. Foi o principal inovador da pintura veneziana. Estudou com Pietro da Cortona, importante pintor e arquiteto, e terá sido influenciado pelo espanhol José de Ribera, igualmente pintor, que viveu na Itália, principalmente em Nápoles, a maior parte da vida. Dele terá Langetti re-

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cebido a influência do tenebrismo. Por outro lado, o gosto pelas figuras e cenas dramáticas, destacando-se de fundos escuros completamente lisos, ter-lhe-á vindo do estilo de Caravaggio. Não sendo, portanto, Giovanni Battista Langetti um artista de primordial importância é, no entanto, um bom artista, apreciado por importantes patronos de quem pintou, aliás, os bustos. A figura central do quadro, e contrariamente ao que poderíamos esperar, não é o samaritano, mas a vítima dos salteadores, moído de pancada e roubado até ficar nu. A boca meio aberta, a expressão dolorida do rosto, assim como o braço esquerdo descaído e frouxo indicam ainda que se encontra exangue, meio morto, como, aliás, o texto refere. É ele quem ocupa mais de metade do quadro. Essa importância conferida pelo pintor à vítima do assalto responde, pictoricamente, à pergunta que fez a Jesus Cristo o doutor da Lei: “E quem é o meu próximo?”. O próximo é todo aquele que precisa da nossa ajuda. Há, contudo, um pormenor muito interessante que julgo revelar a interpretação mais inteligente e profunda do episódio feita por Giovanni Langetti. Reparemos que a ferida que o bom samaritano trata cuidadosamente está coloca-

da do lado direito, sensivelmente no mesmo lugar onde os pintores costumam abrir a chaga do lado de Cristo. Parece-me clara a mensagem: o próximo é o mesmo Jesus presente naquele que sofre e necessita de auxílio. Também a disposição reclinada do ferido lembra flagrantemente a iconografia de Cristo morto descido da cruz, que José de Arimateia costuma segurar pelos sovacos. Aqui, quem o segura é o criado do samaritano. O próprio corpo e rosto da vítima evocam a beleza do corpo de Cristo, tal como é representado depois do tormento da cruz. Mais ainda: a posição do bom samaritano inteiramente concentrado sobre a chaga, limpando-a cuidadosamente com um pano branco, depois de lhe deitar azeite e vinho, como pormenoriza o texto evangélico, lembra de modo flagrante o quadro de Caravaggio que representa S. Tomé, inserindo o dedo no lado de Jesus Cristo. A posição e a expressão de curiosidade e admiração do criado evocam, por seu lado, um dos outros apóstolos representados no mesmo quadro de Caravaggio. Resumindo, a mensagem que o pintor nos quer deixar, segundo a nossa interpretação, é que, afinal, o próximo necessitado da nossa ajuda é o próprio Jesus Cristo.


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SEMINÁRIO MENOR

UM HOMEM EXEMPLAR: ACOLHER E AMAR AO JEITO DE JESUS RECOLEÇÃO ESPIRITUAL Simão Fernandes, 11º Ano

No passado dia 10 de junho teve lugar o sétimo encontro de recoleção espiritual do Seminário Menor de Braga, do ano letivo de 2020/2021. Neste encontro deu-se a conclusão da análise do texto bíblico do Bom Samaritano, retirado do Evangelho de S. Lucas, com o olhar focado, desta vez, na figura do estalajadeiro, que trata do homem ferido no caminho de Jerusalém para Jericó. A esta figura associamos a pessoa de Jesus Cristo, que acolhe todos aqueles que se afastam de Jerusalém e acabam feridos pelo caminho, isto é, que são atormentados pelo pecado. Cristo não nos quer ver nesta condição e, por isso, não só cuida das nossas feridas, como nos dá muito mais do que aquilo que merecemos. A sua misericórdia revela-se, assim, na sua atenção e agir para com a nossa situação, não julgando aqueles que caiem, mas levantando-os enquanto ainda é possível. Deste modo, reconhecemos que a caridade e a misericórdia devem ser um imperativo, não só para todo o Cristão, que, à semelhança do seu Mestre, deve buscar acolher todo o que está caído na berma do atual mundo, caracterizado pela hostilidade e indiferença, e convidá-lo ao arrependimento, como para toda a Igreja, que deve ser arquétipo de toda a caridade e não deve ignorar os ferimentos da atual sociedade, levando até ela a pessoa de Cristo, cabeça da mesma.

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SEMINÁRIO MENOR

“DISPARAR” AS CORES DA PARTILHA E DA ALEGRIA… CONTAR A HISTÓRIA DA COMUNHÃO!

ENCONTRO DE FÉRIAS Rodrigo Costa, 10º Ano

Na semana de 12 a 16 de julho, os seminaristas do Seminário de Nossa Senhora da Conceição de Braga, acompanhados pelos sacerdotes que compõem a Equipa Formadora, viveram o seu encontro de férias, centrado, desta feita, na freguesia das Marinhas, em Esposende. Esta semana foi, por isso, composta por inúmeras atividades de carácter lúdico, que permitiram ao grupo viver momentos de verdadeira descontração e confraternização, capazes de fazer “disparar” as cores da amizade, da partilha e da alegria e de permitir a todos ser contadores e edificadores de uma história de comunhão! Além disso, e como é habitual, decorreu também no contexto deste encontro a avaliação do 3º período, assim como de todo o ano letivo, com todo o grupo a refletir sobre os aspetos mais ou menos positivos que

pautaram a vida da comunidade do Seminário ao longo dos últimos meses. Esta avaliação visa essencialmente quatro dimensões fundamentais na vida e formação destes jovens: Dimensão Humana, Dimensão Espiritual, Dimensão Intelectual e Dimensão Pastoral.

De resto, uma das atividades realizadas durante esta semana foi o paintball, no Clube dos Rangers da Póvoa Clube, localizado na Póvoa de Varzim. Para além das idas à praia de Esposende, num dos dias os seminaristas visitaram a paróquia das Marinhas, onde ficaram a conhecer o Pe. Avelino Filipe, que é pároco desta comunidade há 50 anos. Outro dos locais visitados foi o Castro de S. Lourenço, onde um historiador explicou aos jovens o que foi descoberto naquele local e como o fizeram. A visita a uma exposição, as brincadeiras à volta da piscina e um churrasco preparado pelos seminaristas foram mais alguns dos momentos que preencheram esta semana. Durante todos os dias que compuseram o encontro não faltaram também os momentos de oração diários, assim como a celebração da Eucaristia.

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SEMINÁRIO MAIOR

PENTECOSTES AUDIÇÃO DE GUITARRA Rui Machado, 3º Ano

Tudo se deseja, se sonha, se projeta, se decalca, se idealiza e se dá. Por mãos timbradas. Em línguas distintas. Em sopros. Em tempos. Em címbalos. Cítaras. Nas harpas. Nas vozes… No Pentecostes de cada corda… Lembro-me dos ensaios, no novo que aí nascia e se revelava. Lembro-me do Ensemble que ganhava vida, lembro-me das mãos que, de semana a semana, se tornavam mais esguias, mais libertas e mais longas. Por momentos, já conseguíamos fazer como o Professor Fernando. Afinal, o impossível era possível. Às quintas-feiras e aos sábados, cada um, à sua hora, cuidava da sua pauta como quem cuida de uma planta. Uns faziam a poda dos ramos secos no principiar, outros esperavam que 8

amadurecessem os últimos frutos para concluírem a obra. O que nos fascinava era saber que a obra de todos crescia, que se alargava, mas não a víamos. Estava nas Suas mãos, e era isso que nos descansava. Queríamos que as nossas mãos se fizessem tal como as Suas. Aliás, que se entregassem “in manus tuas”. Queríamos… A dia 24 de junho, alçada a perna, o corpo abraçando a guitarra, deixamo-nos tocar. Primeiro o Rúben e o Manuel, depois o Yessé e o Ricardo. De seguida, o António e Eu, posteriormente o João e o Paulo e, por fim, o Professor Fernando, com a Lágrima e o Capricho Árabe de Tárrega. Ao nosso redor, havia sede! Todos dispunham os ouvidos para escuta, todos ansiavam por novas paisagens musicais, por novas línguas que pu-

dessem dizer a mesma beleza. Estávamos cercados, as cadeiras, a sala parecia inclinar-se para ouvir. Chegara o tempo de se desvelar a obra de cada um, o tempo de se fazer dom escutante. Escutávamos cada nota como quem escuta e contempla o nascimento matinal do mundo. Sentíamos o orvalho da manhã levantar-se. Cumprimentávamos Bach, que se apresentara com um quarteto de amigos. Chegados ao fim, fica na habitação do ser algo que lá não estava. O doce passomezzo e o acorde inicial do capricho árabe. Como alguém disse, precisamos de música como quem precisa de línguas. Cada um fala uma língua materna. E é com essa língua que fala com os outros e com Deus. A música é Pentecostes!


SEMINÁRIO MAIOR

ATIVIDADE ESCUTISTA EM GUIMARÃES Rui Machado, 3º Ano

No dia 18 do mês de julho, o clã 8 do Seminário Conciliar juntou-se aos alunos do 4° ano de Teologia para participar numa atividade escutista, que teve lugar na cidade de Guimarães. Num primeiro momento, esta atividade deu especial destaque à descoberta daqueles que são considerados os principais pontos de interesse da cidade, bem como à sua história. Assim, os escuteiros juntaram-se numa caminhada por toda a cidade em busca de alguns monumentos emblemáticos, dos quais se destacam o Paço dos Duques e o Santuário da Penha, ao mesmo tempo que procuravam responder a pequenas questões relacionadas com a sua história. Já num segundo momento, o grupo teve a oportunidade de disfrutar de uma viagem de teleférico que, à medida que ia subindo, proporcionou aos participantes uma impressionante vista panorâmica sobre a cidade. Chegados ao santuário, foi tempo de se admirar a beleza arquitetónica deste monumento e de todo o seu espaço envolvente. Encerrou-se esta atividade com a habitual celebração eucarística, que decorreu no PCEG, tendo sido presidida pelo Pe. Pedro Sousa. O sacerdote, membro da Equipa Formadora do Seminário Conciliar, realçou a importância salutar que os períodos de descanso têm na vida académica e pessoal dos estudantes, alertando para o erro em que muitos jovens incorrem ao não dedicarem tempo suficiente ao descanso. Relembrou aos presentes que, mesmo nas alturas mais preenchidas do ano, devem procurar descansar, pois mais importante que o trabalho e os resultados académicos é a pessoa. Então, após a eucaristia, já reforçados espiritualmente, foi tempo de avaliar a atividade. O culminar deste dia deu-se com a descida do monte da Penha, mas desta vez, a pé. 9


SEMINÁRIO MAIOR

TESTEMUNHO Bruno Lopes, 6º Ano

A maior beleza do amanhã é quando ele se transforma em hoje. Ora, se é importante sonhá-lo, não é menos fundamental vivê-lo. É nesta certeza firme de querer viver este sonho que, diariamente, procuro com os meus colegas, não só sonhá-lo, mas sobretudo vivê-lo. O meu nome é Bruno Lopes, tenho 24 anos e tive a feliz sorte de nascer em Calendário, Vila Nova de Famalicão. Neste momento, estou no 6º ano, no Seminário Conciliar. Em 2009, com apenas 12 anos, decidi iniciar este sonho e entrei para o Seminário Menor de Braga, para o 7º ano. Porém, esta caminhada começou um pouco antes, com o convite do meu antigo pároco (Pe. 10

Vítor Ribeiro) para ir conhecer o Seminário. Mal sabia eu que este momento ia provocar uma grande volta à minha vida, pois essa visita mexeu comigo. Foi aí que percebi como Deus lança os seus convites e que devemos procurar responder a esse convite não desperdiçando nenhuma oportunidade. Se os primeiros tempos foram difíceis, ao ter de deixar família, casa, escola e amigos para trás em busca de um sonho, que para muitos é incompreensível, hoje, em cada dia que passa, sinto uma plena felicidade em aqui estar. Sim, porque na realidade a vida num Seminário expressa-se nas palavras família e felicidade que nos dão força para seguir o rumo certo.

No entanto, muitos de vocês estão a perguntar-se: mas Bruno, o que leva um rapaz com 12 anos a entrar para o Seminário? A resposta é simples, a mesma que leva qualquer outro jovem a fazer opções e a tomar decisões. Se tantos dos vossos filhos e netos procuram respostas para o futuro, eu não sou diferente. Neste sentido, tenho como meta para a minha vida o sacerdócio. Sendo que este é um caminho que se faz progressivamente e nunca sozinho, na certeza que “sozinho vou mais rápido, mas juntos vamos mais longe”. Ao longo desta caminhada há duas perguntas que carrego na minha bagagem: “O que Deus quer para a minha vida?” e “O que eu quero para a minha vida?”. E a elas procuro responder a cada passo que dou. Foi sobre esta linha que fui regendo os meus passos. E se não tiveres medo de arriscar é este mesmo convite que lanço a ti, jovem, que ainda não deste espaço no teu coração a Deus para ele o encher até transbordar de amor. Esta palavra não é só para os jovens, é também para vocês, pais e avós: não sejam mais um obstáculo à felicidade dos vossos filhos e netos, mas antes sejam alicerces firmes onde lhes seja possível, através de vós, construírem pontes rumo à felicidade. Façam o favor de serem muito felizes!


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

(RE)VIVER O ANO ACADÉMICO EM PANDEMIA UMA ESPERANÇA RENOVADA PELA PASTORAL UNIVERSITÁRIA António Rocha, Engenharia Biomédica (UMinho)

Com o início de um novo ano, muitas são as expectativas para a nossa rotina académica, e muito poucas são as esperanças para o enredo pandémico que estamos a viver. Como qualquer jovem universitário, também eu tive de me adaptar a este novo contexto, e, acima de tudo, saber gerir as ansiedades, frustrações e receios para amenizar todo o constrangimento que esta conjuntura nos trouxe. No último ano académico, foram muitas as dúvidas que envolveram a minha mente sobre se este iria ser um ano positivo, mas, à medida que o tempo passava, fui percebendo que, no meio de tanta adversidade e más notícias, o meu caminho foi sendo iluminado por uma luz brilhante e acolhedora, uma luz que me guiou num ano que se antecipava frio e distante, mas se revelou profícuo e fraternal. Convictamente, posso afirmar que fazer parte da Pastoral Universitária de Braga foi o ponto alto desta jornada. Sentir que estava em casa, no Centro Pastoral Universitário, após dias cansativos em frente ao computador, num ensino que passou a ser essencialmente à distância, ou dominados pelo stress dos estudos, relatórios e entrega de trabalhos, funcionou como uma espécie de boost de energia que tornou possível atingir os objetivos pessoais e coletivos ao longo deste ano letivo.

Mas a minha presença no CPU não se resume apenas à minha condição de residente, ela está muito marcada pelo facto de me envolver em vários projetos da Pastoral Universitária, quer como coordenador, quer como voluntário ou participante. Muitas vezes perguntam-me porque é que me envolvo em tantos projetos, em detrimento de mais horas de estudo ou de descanso, ao que normalmente respondo que, na realidade, não estou a perder tempo, mas sim a ganhar. Sim, a ganhar! Depois de cada atividade, saímos mudados, aprendemos sempre algo, convivemos com alguém que gostamos ou conhecemos pessoas novas que se podem tornar nossos amigos e com quem podemos aprender. Tenho-me apercebido, nestes últimos três anos de estudante, o quão bem me faz pertencer a estas iniciativas, juntamente com outros jovens com as mesmas convicções e vontades que eu, ou até mesmo diferentes. Sobretudo, o quão gratificante é a missão de um coorde-

nador, saber que o nosso trabalho tem impacto numa pessoa, numa comunidade, é, sem dúvida alguma, um sentimento que deixa a sua marca no nosso coração. E este ano que passou, apesar de toda a logística pandémica, não deitamos a toalha ao chão. Procuramos sempre dar o nosso máximo para que outros estudantes pudessem agarrar a mesma oportunidade que nós agarramos, pudessem encontrar a mesma magia que nós encontrámos nas atividades da Pastoral Universitária de Braga. Agora, no início de um novo ano académico, deixo alguns conselhos para todos aqueles que querem fazer mais do que apenas concluir o seu curso: aventura-te nestes projetos, procura ajudar o próximo, cria laços de amizade e fraternidade, reza sozinho ou com os amigos… Podes ter a certeza, de jovem universitário para jovem universitário, que não te vais arrepender! A Pastoral Universitária de Braga está de portas abertas para te receber! Um bom ano para todos, cheio de esperança. 11


PASTORAL DE JOVENS

ACOLHER A MISSÃO – VIVER A ESPERANÇA Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Neste caminho que temos vindo a trilhar, apesar de todos os contratempos trazidos pela pandemia, o desafio pessoal e comunitário relativamente à fé que professamos continua a alertar e a ser elemento motivador para uma vivência autêntica de um encontro incessante com a pessoa de Jesus Cristo. Como Maria, a juventude da Arquidiocese não se acomoda face às dificuldades nem desanima perante a imensidão de necessidades gritantes que proliferam à nossa volta. Antes, os nossos jovens levantam-se e abandonam o seu comodismo para partir apressadamente rumo à missão que lhes é confiada – a missão que é consequência do batismo e da fé professada: a missão de evangelizar com palavras e ações. Esta missão tem ganho maior dimensão e vai sendo alimentada por inúmeros encontros de oração, de partilha de vida e de formação, de maneira que este ‘levantar-se e partir apressadamente’ não seja confundido com um impulso irrefletido ou como consequência de uma ansiedade exacerbada. Como alerta o Papa Francisco, a missão

de evangelizar é de toda a Igreja: «onde nos envia Jesus? Não há fronteiras, não há limites: Ele envia-nos a todos. O Evangelho não é para alguns, mas para todos» (Exortação Apostólica Christus Vivit, 177). Neste sentido, a vida cristã, o discernimento vocacional e o modo como vamos configurando (e transfigurando) o nosso estilo de vida, não tem por base o fim último – a meta a atingir (essa é: evangelizar) – mas, antes, o compreender a especificidade do modo como cada um é chamado a viver e a realizar a missão evangelizadora. Este é o aspeto fundamental que tem vindo a ser trabalhado no Departamento Arquidiocesano de Pastoral de Jovens, através da oferta de um programa formativo e de atividades que permite que cada um, de acordo com a sua especificidade (de acordo com aquilo que é e com a realidade que o circunda), viva a plenitude do encontro com Cristo, abrindo portas a um compromisso pastoral e de fé capaz de manter viva a Esperança por mais difíceis que sejam as circunstâncias que a vida e o mundo nos imponham.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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