MAR - ABR / 2022
ITINERÁRIO ESPIRITUAL
Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 87 | Bimestral 1,00 €
“O discípulo é chamado a crescer no amor da santidade, primeiramente evitando todo o pecado, seguidamente insistindo humildemente em todas as virtudes e no seu contínuo progresso e, finalmente, procurando a familiaridade com Deus por meio do afeto da devoção interior.” Cón. Hermenegildo Faria Pág. 2
A ALEGRIA DE O SEGUIR “Deus chama não para um caminho de tristezas, amarguras ou abandono, mas para um caminho de busca de algo mais profundo, que se traduz precisamente nesta procura da felicidade e na procura de perceber o que Deus quer para a minha vida.” Diogo Martins Pág. 10
EDITORIAL
LÂMPADA ARDENTE E LUMINOSA Continuando a destacar a celebração dos 450 anos da existência do Seminário Conciliar de Braga, debruçando-nos, desta feita, sobre a dimensão espiritual, imprescindível na vida de cada crente, e, consequentemente, no seio da comunidade do Seminário. Por isso, detemo-nos nos dois verbos que São Bartolomeu dos Mártires elegeu para seu lema episcopal, “Arder e Iluminar”, inspirado pela figura de João Baptista, que Jesus dizia ser uma “lâmpada ardente e luminosa” (Jo 5, 35). Arder, deixar-se consumir, queimar de amor, para irradiar luz, é, precisamente, a vocação de cada batizado e o desafio que o tempo da Quaresma e da Páscoa nos propõe, para que possamos cuidar da Igreja que somos, em caminho sinodal, tomando a Cruz de Jesus como ponto central e determinante para a nossa vida. Ora, nesta que é a primeira edição do Voz de Esperança depois da celebração de início do ministério pastoral de D. José Cordeiro como Arcebispo Primaz, recordamos que o Bispo, pastor diocesano, é também chamado a ser candeia acesa, chama onde se ateiam outras chamas, “o primeiro promotor e animador de uma espiritualidade de comunhão, nomeadamente nos seminários”, conforme já referia S. João Paulo II, em 2003, no nº 22 da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores Gregis. Nesta senda, também a secção Visão nos recorda que São Bartolomeu dos Mártires, fundador do Seminário Conciliar, desejava que este formasse “pastores com raízes espirituais profundas para que não sejam os futuros pastores a abandonar a luz do Evangelho no contacto com as trevas do mundo, mas que seja antes este a ser iluminado pelo testemunho dos pastores”. Ao terminar, recordamos com uma palavra de profunda gratidão o Cón. António Sepúlveda, que partiu para a Casa do Pai no passado dia 2 de março. Ele, que no seu ministério sacerdotal, nomeadamente como Reitor do Seminário Conciliar, soube “arder e iluminar”, deixa-nos como legado a reafirmação do imperativo que Jesus dirige ao coração de todos nós: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14)!
VISÃO
ITINERÁRIO ESPIRITUAL Cón. Hermenegildo Faria
Cerca de dez anos após a fundação do Seminário Conciliar e um ano depois da sua resignação como Arcebispo de Braga, São Bartolomeu dos Mártires publicava o seu livro “Compêndio de Doutrina Espiritual”. Esta obra de doutrina espiritual conheceu posteriormente diversas edições e traduções em várias línguas. Juntamente com o “Estímulo dos Pastores”, estas obras foram as que mais projeção deram às suas conceções sobre a vida espiritual e muito influenciaram os Bispos em toda a Europa pós-tridentina. Ao fundar o Seminário Conciliar, São Bartolomeu dos Mártires visava não somente fornecer ao futuro clero uma consistente formação humanista, mas também uma sólida formação espiritual para um frutuoso exercício do ministério pastoral. Essa formação espiritual é antes de mais uma resposta à atração que o chamamento de Cristo exerce em nós. Antes de chamar ao exercício de um determinado ministério, Cristo chama-nos, na sua maior liberalidade, dizendo: “Vinde a Mim todos os que andais afadigados…” (Mt, 11). Afastando-nos de todo o afeto desordenado pelas coisas terrenas, o chamamento de Cristo reorienta o nosso olhar para as coisas celestes. Assim, como Marta e Maria, somos convidados a largar o atarefamento pesado do mundo para procurar o repouso leve, consolador e sabático no Coração de Cristo. É este itinerário espiritual que o santo Arcebispo aprofunda no seu Compêndio de Doutrina Espiritual, no seguimento da tradição agostiniana relida por São Boaventura, e que ele propõe a todos aqueles que, respondendo ao chamamento, se aventuram pelos caminhos da vida espiritual. No início desse caminho temos o abandono incondicional da alma nas mãos do Senhor, abdicando de qualquer consolação terrena. Seguidamente, o discípulo deve aceitar a aspereza da purificação interior e exterior, para que, descendo pela humilhação, ele suba pela humildade, associando-se assim ao itinerário pascal de Cristo que se humilhou a si próprio, assumindo a condição de servo (cf. Fil, 2). Deste modo, o discípulo é chamado a crescer no 2
amor da santidade, primeiramente evitando todo o pecado, seguidamente insistindo humildemente em todas as virtudes e no seu contínuo progresso e, finalmente, procurando a familiaridade com Deus por meio do afeto da devoção interior. São Bartolomeu dos Mártires quer assim que o Seminário Conciliar por ele fundado forme pastores com raízes espirituais profundas para que não sejam os futuros pastores a abandonar a luz do Evangelho no contacto com as trevas do mundo, mas que seja antes este a ser iluminado pelo testemunho dos pastores.
PALAVRA AOS REITORES 1. Que atividades, dinâmicas e iniciativas devem ser promovidas por um Seminário, de modo a permitir uma formação espiritual plena que se coadune com a vocação em causa? Cón. António Macedo: Tudo aquilo que, em termos espirituais, é necessário para um bom sacerdote, com a formação adequada para viver a sua doação sacerdotal, segundo o exemplo de Jesus Cristo. 2. Como é que um Seminário, enquanto comunidade, pode ser laboratório para melhor preparar cada futuro sacerdote para a abertura ao encontro com Cristo e os irmãos? Mons. António Moreno: A vocação Sacerdotal é uma manifestação de muito carinho do nosso Deus. Quantos filhos de Deus poderão ou não encontrar a felicidade terrena e eterna mediante a ação de um sacerdote! Cada padre deve tomar consciência de tais consequências. E essa consciência deve ser já vivida nos Seminários. É de suma importância o encontro com Jesus, o grande Amigo, que nos convida a estar atentos ao irmão. 3. Na vida de um Seminário, que estratégias definir para evitar a “armadilha” de formar mais o nível de “saber” e a capacidade para “fazer” do que a essência do “ser”? Cón. António Sepúlveda: Há uma grande diferença entre o “fazer” e o “ser”. Formar mais o nível de “saber” e a capacidade para “fazer” do que a essência do “ser” pode ser uma tentação. Claro que é difícil colocar-nos no papel de quem é formador hoje, ou mesmo de um educando seminarista em fase de tomar decisões para a vida. Fazer um verdadeiro discernimento implica fazer um caminho interior, entrar dentro de cada um, ser.
4. Que inspiração poderá constituir o testemunho de vida dos padroeiros S. Pedro e S. Paulo para a espiritualidade de um seminarista dos nossos dias? Cón. Manuel Tinoco: São Pedro era pescador. Jesus chamou-o e confiou-lhe a missão de guiar e confirmar os irmãos na fé. Ele deixou tudo e seguiu Jesus. Paulo de Tarso, perseguidor acérrimo da Igreja, converte-se no caminho de Damasco. A partir daí, a sua vivacidade e brilhantismo são postos ao serviço do Evangelho. S. Pedro e S. Paulo, mestres de fé, simbolizam todo o Colégio Apostólico. São verdadeiro modelo para os jovens seminaristas. 5. Que testemunho e que serviço deve o Seminário prestar à comunidade arquidiocesana? E qual a importância do mesmo? Cón. José Paulo Abreu: Terá que existir uma relação umbilical entre os seminários e as comunidades cristãs. Os seminaristas nascem nas comunidades; as famílias cristãs integram as comunidades; as vocações despontam dentro das comunidades, tantas vezes sussurradas por quantos já sentiram o chamamento e o “toque” do divino. 6. Como é que os nossos Seminários podem ser hoje rosto de Jesus Cristo, o Bom Samaritano? Cón. Vítor Novais: A escola de misericórdia que o Seminário é chamado a ser concretiza-se em pequenos gestos patentes no ver, parar e tocar, vividos, quotidianamente, em comunidade. Não terá muito sentido pedir a misericórdia de Deus e não a oferecer ao meu companheiro de caminho no processo de discernimento. O que determina que eu me aproxime é a disponibilidade afetiva e efetiva para um encontro inesperado. Se queres saber quem é o teu próximo, aproxima-te. Sem toque na mágoa do outro, há deformação, nunca formação.
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ARTE
OS PÃES E OS PEIXES Luís da Silva Pereira
Voltamos a selecionar uma obra de arte que ilustre o tema escolhido para este novo ano pastoral, integrado ainda no triénio dedicado à virtude da caridade. “Onde há amor nascem gestos” é o pensamento que sintetiza esse tema. No último número da revista escolhemos o nascimento de Cristo como exemplo do maior gesto de amor que a humanidade já presenciou, e que é a oferta que o Pai faz à humanidade do seu Filho. Hoje escolhemos o milagre dos pães e dos peixes que, segundo os melhores intérpretes, prefigura o espantoso gesto de amor que é a Eucaristia, na qual o próprio Filho de Deus se dá aos homens como alimento. Todos os quatro evangelistas narram a multiplicação de cinco pães e dois peixes, mas apenas S. Mateus e S. Marcos referem um segundo milagre em que Cristo multiplica sete pães e alguns peixes. Para o ilustrar, escolhi uma tela de Giovanni Lanfranco, pintor italiano, nascido em Terenzo, Parma, a 26/1/1582 e falecido em Roma, a 30/11/1647. Teve como professor Agostino Carraci, irmão de Annibale Carraci, importantes pintores da escola de Bolonha. Foi também aluno de Correggio. Distinguiu-se como pintor de tetos, a ponto de o Papa Urbano VIII o convidar para pintar a capela da crucifixão na basílica de S.
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Pedro, entre 1629 e 1632. Em 1633, também os jesuítas o convidaram para decorar a cúpula do Gesù Nuovo, em Nápoles. A obra que hoje apresentamos foi encomendada para a capela do Santíssimo Sacramento na basílica de S. Paulo extra muros (fora das muralhas), em Roma. A figura de Cristo, cheia de serena majestade, é a que se encontra em posição central, dominando toda a composição. O halo luminoso à volta da cabeça não deixa qualquer dúvida sobre a sua indentificação. Toda a cena está construída de modo a dar-nos a impressão de que tudo gira à sua volta. Cristo parece ordenar serenamente a S. Pedro, identificado pela caraterística calva e que parece ter o manto cheio de pães, que os distribua por quem lhe estender a mão. À sua esquerda avistamos um homem carregando um cesto a abarrotar. A seus pés, entrevemos um outro cesto, e do nosso lado esquerdo, podemos ver ainda parte de um terceiro. No espaço ao fundo, outro apóstolo vai também distribuindo o pão que parece retirar do manto. Aos pés de Cristo, uma criança recebe da mãe um pão enquanto do nosso lado direito, outra mãe estende a mão pedindo que lhe dêem algo de comer. Ao fundo, mal conseguimos ainda divisar uma outra
criança que está a mamar. O relevo dado a estas crianças entre tantas personagens faz lembrar as palavras de Cristo quando diz que nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas aos nossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito a quem lhe pedir. Se bem repararmos, todas as personagens fazem movimentos, com as mãos, com os braços, com a cabeça, olhando em múltiplas direções. Isso acontece quer com as personagens em primeiro plano, quer com as que se encontram mais distantes. O pintor cria, desse modo, variadíssimos espaços, abrindo o quadro em todas as direções. Giovanni Lanfranco domina magistralmente essa técnica. Estamos assim, perante uma cena teatral, tipicamente barroca, cheia de dinamismo, que bem traduz a ansiedade das pessoas famintas, tentando conseguir alguma coisa para comer. Essa ansiedade é especialmente evidente no grupo à esquerda e naquele, ao fundo, em que todos convergem para o apóstolo que distribui o pão. À nossa direita, um jovem, de pé, aponta para o céu. Pela juventude e pelas cores das vestes podia ser S. João. Parece desvelar o sentido profundo do milagre: que Cristo é o verdadeiro pão da vida que desceu do céu.
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SEMINÁRIO MENOR
ENCANDEAR UMA CIDADE MODERNA, COMUNICAR UM DEUS BOM SAMARITANO João Pereira Pinto, 12º Ano
Uma obra de Timothy Schmalz, afamado escultor canadiano, figurando a imagem de Jesus Cristo reclinado sobre um banco de jardim, correu o mundo do digital, apresentando uma figuração do Deus-Filho como um “sem-abrigo”. No entanto, a sua mensagem não transitou do escasso momento de contemplação pictórica e interpretativa desta fascinante obra de arte para o concreto da nossa existência. Nas grandes cidades do Ocidente, ecoam vozes mudas que clamam pela nossa atenção, sem nos quererem incomodar. Também em Braga isto tristemente acontece. Num período em que, na nossa Igreja Particular, nos consciencializamos que “onde há amor nascem os gestos” permanecemos indiferentes aos problemas sociais que nos exigem uma resposta concreta e ime-
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diata, ousando neste processo propor Cristo como “Bom Samaritano” que dá sentido às nossas vidas. Para nos desinstalarmos do nosso comodismo e visitarmos a chagas da nossa sociedade, aceitamos o convite de rezarmos com as pessoas em situação de sem-abrigo que a Cáritas Arquidiocesana de Braga apoia nos mais variados campos. Desta forma, os seminaristas do 12º ano prepararam, em conjunto, um momento de oração que trouxesse a Palavra da Esperança ao encontro de cada um, experienciando um momento de intimidade com Cristo a partir da própria história pessoal. Pelas 20h30 do dia 9 de fevereiro de 2022, a malha urbana bracarense assistiu a uma experiência pública deste encontro com Cristo. No meio de uma cidade deserta, fria e escura surgiu uma presença habita-
da, o calor humano e a luz irradiada pelo facho da fé dos que ali se reuniram “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Junto da Igreja de Santa Cruz, trouxemos o Amor com que, pela mesma cruz, Cristo nos redimiu. No exterior do templo, procuramos torná-lo visível na reflexão orante da Parábola do Bom Samaritano, acompanhada pelo som de melódicas linguagens e da centralidade da Palavra que “é” desde sempre. Por meia hora também nós nos apartamos do nosso conforto e da nossa rotina alucinante, fazendo-nos próximos dos caídos cuja existência não queremos ignorar. Após esta metade de hora de oração, sucedeu-se um tempo de convívio e de diálogo, no qual cada um pôde apresentar o que o coração lhe suscitou e o que, por meio de uma prece inebriada pelo perfume do incenso, quis que ao céu subisse, possibilitando tal acontecimento que, a partir do Amor da relação íntima com Cristo, surgissem os verdadeiros gestos de amor com os irmãos. Deste modo, a comunidade residente do Seminário de Nossa Senhora da Conceição deixou-se também ela curar por “companheiros caídos” nos caminhos da vida que é estrada para a Eternidade, na certeza de que é a comunhão de feridas e feridos que gera a cura advinda pela ação salvífica de Jesus Cristo, o Eterno Bom Samaritano.
SEMINÁRIO MENOR
UM TEMPO DE AQUIETAÇÃO E SILÊNCIO
RETIRO ESPIRITUAL João Gonçalo Alves, 12º Ano
A comunidade do Seminário Menor de Braga realizou entre os dias 25 e 28 de fevereiro um momento único de Retiro Espiritual, tendo o mesmo coincidido com o último fim de semana do Tempo Comum, antes de iniciar a Quaresma, constituindo um desafiante convite ao silêncio e ao encontro com Deus. O Retiro tem como base a perceção de uma oportunidade de aquietação, onde é exigido o equilíbrio entre o corpo e o espírito que, unidos, conseguem perceber e descobrir a simplicidade da beleza de Deus. Na verdade, é determinante apercebermo-nos dos benefícios de realizar uma pausa no nosso quoti-
diano, a importância de um momento de conversão e reflexão. Assim, a comunidade dividiu-se em dois grupos. Um grupo constituído pelos seminaristas mais novos (do 8º ao 10º anos), viveu este retiro sob a orientação do Pe. Adelino Domingues, Diretor Espiritual no Seminário, sendo realizado na Casa de Retiros da Congregação da Divina Providência e Sagrada Família, nas proximidades do Santuário do Sameiro, em Braga. O outro grupo, composto pelos seminaristas mais velhos (do 11º e 12º anos) foi orientado pelo Pe. Álvaro Balsas, sj, também Diretor Espiritual no Seminário, tendo vivido esta experiência no Mosteiro de Santa Escolástica, em
Roriz, Santo Tirso. O Evangelho relata que, antes de tomar decisões ou realizar atos importantes, Jesus retirava-se para uma região montanhosa ou para o deserto com o propósito de realizar tempos de silêncio e oração. Seguindo o exemplo de Cristo, o retiro é considerado um local de “fuga” dos problemas e stresses diários onde somos tentados. Deste modo, a vivência deste retiro proporcionou aos seminaristas um autoconhecimento imensurável, uma reconexão de corpo e alma que fortalece a fé com o silêncio interior e exterior que, por sua vez, facilita a escuta incessante de Deus com o objetivo de evoluir e melhorar.
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SEMINÁRIO MAIOR
SEDE DE DEUS Hugo Iliescu, Ano Propedêutico
A comunidade do tempo Propedêutico esteve reunida no Convento de Santa Escolástica, em Roriz, de 26 a 29 de janeiro, em retiro espiritual, contando com a orientação do Pe. Vítor Ferros, sacerdote espiritano e diretor espiritual da comunidade, procurando, deste modo, discernir sobre as suas sedes e a forma de as saciar na inteireza do ser que só Deus nos oferece. Esta experiência foi um tempo profícuo para os seminaristas refletirem, de forma mais profunda, sobre o projeto de vida que Deus tem para cada um e de vivenciar melhor este tempo de inserção na Comunidade do Seminário Maior. Nesta experiência comunitária, todos os presentes experenciaram a alegria de poder disfrutar da tranquilidade e do silêncio que este espaço de oração proporciona e que foi, indubitavelmente, um convite à leitura atenta dos textos bíblicos que foram apresentados, bem como a uma reflexão profunda sobre todas as provocações que, ao longo desses dias, nos tempos de reflexão e de oração, iam sendo colocadas. Neste sentido, neste grande momento espiritual abordaram-se variadíssimas temáticas como, por exemplo, a importância da escuta, a partir de Mc 7, 31-37; a firmeza da escolha, segundo Jo 6, 60-69; e a semente que Deus cultiva em cada 8
um de nós, refletida a partir de Mt 13, 8-23. Para além de todos estes momentos, tivemos a oportunidade de realizar a Celebração Penitencial, onde fomos convidados a refletir sobre os diferentes tipos de terreno em que acolhemos esta semente da vocação. Todos nós somos seres repletos de fragilidades e de fraquezas e, ao reconhecermos esta condição humana, devemos buscar a nossa fortaleza em Deus, com o auxílio do Espirito Santo, para que esta nossa “terra” se torne cada vez mais fértil e a alegria do Evangelho nos oriente nesta busca de sermos inteiros, rejeitando a tentação da procura da perfeição. Este tempo possibilitou também que, a partir da oração, se pudesse previligiar o diálogo com Deus e com os colegas do ano, através dos sorrisos e dos olhares. O nosso próximo é elemento fundamental no nosso crescimento vocacional. Ele rega a nossa semente, e nós procuramos retribuir, pois é com o espírito fraterno e o reconhecimento àquele que está ao meu lado, seja com que rosto for, que nos tornamos capazes de fortalecer as competências do nosso discerniemento e que temos a certeza de que fazemos parte de uma comunidade que se ama. Toda esta envolvência é propícia ao devaneio e à poesia, pois as coisas belas também são assuntos de Deus:
A dama rosada do frio Já muito antes te aclamou Caeiro; Invocou-te carinhosamente Torga. Tu que livras o homem do cativeiro E pela sincera poesia outorgas: O Homem sinta tudo por inteiro! Dama do frio nacarada, Teu talhe acalenta o inverno. És plena e abençoada! Consagras este singelo caderno; Adoças qualquer alma amargurada. No álgido clima brilharás, Na alvura dos dias te destacas; Sem uma palavra tudo falarás, Moda perpétua tu implacas. Ó bela, nas noites vastas sonharás…
SEMINÁRIO MAIOR
CAMINHO SINODAL Saul Narciso, 5º Ano
No dia 1 de fevereiro, o Seminário Conciliar iniciou o seu caminho de reflexão relativo Sínodo, caminho este que é pedido a todo o povo de Deus. Para nos ajudar a refletir, tivemos connosco o Pe. Sérgio Torres, que integra a equipa da Arquidiocese de Braga que coordena todo este processo. Para começar, deixou um pensamento importante, e que devemos ter sempre em conta, não apenas durante o processo sinodal, mas mesmo no seu final, pois o Sínodo é “a abertura de uma porta que jamais podemos deixar que se feche”. Ao longo de todo o encontro, foi feita abordagem acerca da etimologia e semântica da palavra Sínodo, descortinando também cada termo que esta engloba. Soluções a que queremos chegar no final de todo o caminho e, para que estas possam ser mais bem conseguidas, deve existir um trabalho e um caminho em conjunto. Devemos aproveitar para fazer um retorno às fontes, no sentido de haver uma continuidade, e esta é uma nova oportunidade que deve ser aproveitada. Ao longo do caminho sinodal, devemos ter sempre em mente três objetivos: o Sínodo não deve ser um processo ocasional, mas sim estrutural; a Igreja deve focar-se na escuta, pausando os ritmos e simplesmente escutar; é uma oportunidade de vermos a Igreja como Deus sempre quis: uma Igreja de proximidade.
“Igreja e Sínodo são sinónimos”. Citando S. João Crisóstomo, apercebemo-nos da importância de regressar às fontes, procurando que estas sejam recuperadas sem, contudo, existir qualquer perda. Pelo batismo, todos fazemos parte da mesma Igreja, daí a relevância de estarmos todos juntos neste processo tão importante para toda a Igreja, pois ela é constitutivamente sinodal. Não às tentações. São enumeradas algumas tentações a que devemos sempre dizer não, procurando combatê-las: o formalismo (não devemos ver o Sínodo como um ato formal que acontece num determinado espaço de tempo); o intelectualismo (não cair num simples debitar de informações sem haver qualquer tipo de reflexão); o imobilismo (não deixar que o que se tem feito seja modelo, o “fez-se sempre assim” não deixa que haja evolução). Ouvir, simplesmente ouvir sem que haja qualquer contradição ou resposta. Num passo seguinte, pode
partilhar-se aquilo que o outro disse e que, por qualquer razão me motivou ou marcou. Deus. O protagonista do Sínodo é o Espírito Santo, mas, ao longo deste, também nós vamos percorrendo aquele que é o caminho que Deus quer para a Igreja. Oração como parte integrante de algo, e não como mais um evento na agenda, pois, se assim for, caímos na tentação do formalismo, como anteriormente referimos. Uma Igreja poderosa é uma Igreja orante. O Sínodo deve ter como mote ouvir, falar e discutir e, como o Papa Francisco nos convoca no Documento Preparatório, deve impelir-nos a “caminhar juntos”. A sinodalidade é uma aprendizagem constante, não é algo que simplesmente vai aparecer, pois é a primeira vez que o vivemos. Dessa forma, enquanto filhos da mesma Igreja, todo o caminho deve ser pensado e orado de forma a que dele se possa tirar um verdadeiro aproveitamento. 9
SEMINÁRIO MAIOR
A ALEGRIA DE O SEGUIR Diogo Martins, 6º Ano
É imensamente desafiante e fascinante saber que ao chamamento de Cristo esteja profundamente unido o sentimento de alegria. Penso que este é um dos modos mais interessantes de perceber a voz de Cristo na nossa vida, que nos chama a segui-Lo. E é com este sentimento de alegria que procuro viver os meus dias. Eu sou o Diogo Martins, tenho 25 anos, sou natural de Guimarães e estou no 6º ano no Seminário Conciliar de Braga. Se me pedissem para qualificar ou descrever o meu percurso vocacional com uma palavra, eu seguramente escolheria a alegria. De facto, um dos modos como concebo Deus é através da alegria, pois Ele é um Deus alegre. Assim, em todo o meu processo de discernimento, vou procurando que este sentimento esteja sempre presente e que me sirva de luz orientadora. Se, nas páginas da minha vida, procurar aquelas que primeiramen10
te foram escritas, aquelas de que tenho as primeiras recordações, aquelas em que está expresso o que guardo de quem comigo fazia e faz caminho, encontro nelas impressa um sentimento de imensa alegria. E este sentimento foi-se sempre manifestando até aos dias de hoje, mas, muito especialmente, no momento em que decidi entrar no Seminário. Quando propus para a minha vida um caminho que passasse pelo Seminário, escolhi fazer um percurso que certamente me traria muitos desafios, mas também dificuldades. Ainda assim, é, indubitavelmente, um caminho trilhado e percorrido tendo sempre em vista a felicidade. Neste tempo de Seminário, tempo de profundo e verdadeiro discernimento, conforta-me a ideia de saber que Deus chama a todos, e que ninguém fica fora deste chamamento. Ele chama a todos, mas a resposta a este chamamento e a de-
cisão de O seguir, essa fica do nosso lado, pois depende apenas de nós. Deus chama não para um caminho de tristezas, amarguras ou abandono, mas para um caminho de busca de algo mais profundo, que se traduz precisamente nesta procura da felicidade e na procura de perceber o que Deus quer para a minha vida. Mas, como já referi, este caminho é constantemente preenchido por uma alegria consoladora. E é com este espírito que vou percorrendo os meus dias. Procuro, diariamente, deixar que Deus me vá tocando, desafiando e moldando. Procuro que Ele me toque no desejo de O seguir e de O amar, amor este que se manifesta no amor aos irmãos. Procuro que Ele me desafie sempre a fazer algo novo e renovado, percebendo que a resposta ao seguimento não é algo que se dê num dia e que permaneça ao longo de toda a nossa vida, pelo contrário, é uma resposta diária e constante. Procuro que Ele me molde o coração e o espírito, de modo a poder configurar-me, cada dia mais, com Ele. Deste modo, neste caminho, tenho aprendido a admirar a beleza de caminhar com outros, a beleza de partilhar experiências e dificuldades, a beleza de trilhar as sendas da verdade e da esperança, a beleza de me colocar inteiro, tal como sou, diante de Deus e dos outros. Uma beleza que tem como pano de fundo a alegria de O seguir. «No dia da felicidade, sê alegre» (Ecl 7,14).
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
JOVENS UNIVERSITÁRIOS DE PAÍSES DE EXPRESSÃO PORTUGUESA UNIDOS PELA MESMA IGREJA Janete Mascarenhas, Psicologia | Maria Fátima, Direito | Silvério Samuel, Engenharia Informática | Kelly Coelho, Direitos e Garantias Fundamentais
A Pastoral Universitária de Braga continua a ser um porto seguro e um espaço acolhedor para tantos jovens que, deixando os seus países, procuraram em Portugal, de um modo especial em Braga, uma oportunidade para o enriquecimento académico e pessoal, mas também para o aprofundamento e continuidade da sua vivência cristã. É neste ambiente de fraterna convivência que jovens católicos a estudar na Universidade do Minho, provenientes de países como o Brasil, Cabo-verde, Moçambique ou Timor Leste partilham as suas experiências de fé num país irmão na língua, mas também na religião. As suas vivências e olhares espelham como tem sido a sua passagem por Portugal, em especial por Braga, e evidenciam a necessidade de construirmos pontes de fraternidade entre todos os jovens estrangeiros que escolheram Portugal para a sua formação académica. A jovem cabo-verdiana Janete, estudante de Psicologia, é um desses exemplos. Para ela, pensar na ideia da unidade e universalidade da Igreja, é pensar numa mãe que cuida de todos os seus filhos com o mesmo zelo e carinho, mesmo sendo filhos de diferentes nacionalidades e culturas. Por sua vez, Maria Flamínia, jovem timorense a estudar Direito, traz-nos uma realidade diferente, explicando primeiro que, tradicionalmente, o povo timorense organiza-se pelos trâmites de uma ho ahi (casa e fogo) e fatuk ho rai (pedra e terra),
cujos patronos espirituais são entes celestes com dignidade divinal - o sol, a lua e as estrelas - o que, segundo a cosmovisão timorense, corresponde à Santíssima Trindade. No entanto, com a presença missionária portuguesa, o povo timorense foi-se apercebendo que, mesmo distantes uns dos outros, ambos pareciam acreditar no mesmo Deus. O jovem moçambicano Silvério, estudante de Engenharia Informática, partilha que cada igreja em Moçambique tem a sua comunidade de jovens, orando e debatendo as suas dúvidas em conjunto, ajudando-se mutuamente. Todos os jovens sentem a responsabilidade de ajudar a comunidade a crescer. Silvério partilha ainda uma visão mais alargada, dizendo que o que distingue os jovens católicos é a iniciativa. Para ele, como tudo na vida, tem de haver quem dê o primeiro passo, para que haja espaço a uma maior colaboração. Esta viagem de reflexão termina com Kelly Coelho, jovem brasileira a
fazer o seu doutoramento em Direitos e Garantias Fundamentais, que nos explica que a experiência cristã de muitos brasileiros é vivida a partir da sua participação em grupos de jovens, um convite que surge logo na adolescência. Estes grupos dinamizam momentos de adoração e louvor com animação musical, que estimulam os jovens a participarem. Os encontros acontecem no próprio espaço das comunidades católicas, onde se reúnem também para diversas formações. É nestes espaços que muitos encontram a sua vocação religiosa. São estes olhares, de diferentes pontos do planeta, que nos deixam perceber que toda a distância geográfica, que carateriza a diversidade juvenil que circula pelas universidades, é estreitada pelos laços fraternos que nos unem na oração ao mesmo Deus. Fica bem plasmada, nesta partilha, a consciência cristã de que “embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Romanos, 12). 11
PASTORAL DE JOVENS
JÁ SE OUVEM OS PASSOS... DAS JMJ’23!
Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.
Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens
Aproximamo-nos, a passos largos, da JMJ2023. Os projetos “Rise Up” e “Dia 23 JMJ” são duas das principais iniciativas que dispomos e que temos vindo a desenvolver para caminharmos com os nossos jovens na preparação espiritual para esse encontro mundial da juventude com o Santo Padre, a decorrer no início de Agosto de 2023 em Lisboa. A pandemia não bloqueou nem arrefeceu o ânimo da nossa juventude arquidiocesana e hoje olhar para as JMJ é sentir que esta não é apenas “mais uma atividade bonita”; ao contrário, ela é um momento especial num caminho de encontro com Cristo que os jovens – à escala mundial – estão a trilhar. Para podermos organizarmo-nos da melhor forma, e, porque este será um empreendimento difícil e de logística apurada, para podermos acolher sem problemas de maior aqueles que nos procuram, como é nosso apanágio, informamos que: 1. Sempre que alguém for contactado por algum grupo ou diocese em vista a integrar as nossas atividades pré-jornadas, deve indicar que a inscrição deve ser feita, primeiro, na plataforma nacional, indicando aí a comunidade paroquial/religiosa onde pretende ficar. 2. Deve, ainda, entrar em contacto com os responsáveis do Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens (Alberto Gonçalves ou Pe. Avelino Amorim), manifestando a mesma intenção de viver os Dias nas Dioceses (Pré-Jornadas), na nossa Arquidiocese e na vossa comunidade. Poderá fazê-lo através do e-mail: codbraga@arquidiocese-braga.pt. 3. Estes procedimentos permitem acolher os grupos interessados, e, da parte desse grupo, usufruir das condições,
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Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição
Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares