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O JOGO DAS ESCONDIDAS

Todos nós jogámos às escondidas, quando éramos crianças: «… 28, 29, 30! Alerta, alerta, minha cara descoberta!» E corríamos à procura dos jogadores agachados detrás das portas ou em qualquer esquina, para os apanhar.

A pachorra de Deus

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No caminho da vocação, muitas vezes jogamos às escondidas com Deus, e o engraçado é que Deus entra no jogo. Ouvimo-lo chamar pelo nosso nome e escondemo-nos, mas a sua insistência vai criando em nós: saudades inexplicáveis do infinito; desejo sincero de espiritualidade; sensação de pertencer a Alguém que está-para-além-de-tudo; sonho de vencer os próprios limites; sensibilidade perante pessoas que vivem na solidão e no abandono; desafio de lutar pela justiça e pela paz… Sentimos que a nossa vida pode construir uma história diferente, mas não nos decidimos a avançar.

Como «a pachorra do Senhor é maravilhosa», Ele não se cansa de es- perar, nem desiste de apontar-nos a meta da felicidade. Caminha ao nosso lado com tanta delicadeza que mal damos pela sua presença; e só espera que o nosso olhar se cruze com o seu. Jesus fez assim com os primeiros companheiros que escolheu para partilharem a sua missão: chamou-os, acompanhou-os nas lides quotidianas, mostrou-lhes um caminho diferente, comunicou-lhes o entusiasmo por um mundo novo, realizou ações extraordinárias diante deles. Mas nem isto bastou para os transformar imediatamente em seus discípulos. A cada passo, eram invadidos pela dúvida, o medo do desconhecido, a surpresa diante da escolha de Jesus… e perguntavam a si próprios: quem sou eu para entrar nesta aventura? Que sei, que posso, que tenho que sirva para algo? Como ter a certeza da vocação? A ousadia e a capacidade de arriscar desses pescadores simples e ignorantes das letras, foram-lhes dadas pelo Espírito Santo no dia de Pentecostes: «Sereis minhas testemunhas… até os confins do mundo» (At 1, 8).

O clube dos resistentes

No jogo das escondidas, há os afoitos que procuram todas as vias de saída para chegarem à meta sem serem «apanhados», querem responder à chamada, arriscam tudo e vivem com alegria. Há também os resistentes que, para não serem descobertos, permanecem inertes e agachadinhos no seu buraco; estes perdem o jogo, com certeza, e não vão a sítio nenhum.

No itinerário vocacional surge frequentemente a mesma tentação: julgamos que não valemos grande coisa, que Deus não tem nada a lucrar com a nossa colaboração, que não estamos preparados para ser discípulos, que não encontramos na comunidade cristã o fogo do discipulado, que… e que… Tudo isso é verdade, mas quem disse que seria diferente? Jesus escolheu homens e mulheres com defeitos e limitações, e avisou-os de que segui-lo não seria fácil, não se tratava de ganhar poder, facilidades ou benesses políticas. Deixou claro: «Estou no meio de vós como quem serve» (Lc 22, 27), «dei-vos o exemplo para que façais como eu fiz» (Jo 13, 15). Os que ousaram arriscar tiveram a mesma sorte que o seu Mestre, mas nasceu dentro deles uma fonte de felicidade.

A sorte de perder o jogo

No jogo das escondidas, o contador não desiste enquanto não encontra todos os participantes. Quando um dos jogadores chega à meta gloria-se: «Não me apanhaste, ganhei!» mostrando o poder da liberdade.

Jesus não desiste de procurar-nos, por mais que nos escondamos. No jogo vocacional, perder é ganhar. O apóstolo Paulo reconhece a sua maestria no jogo das escondidas. Orgulhoso cidadão romano, genuíno fariseu bem-falante, profundo conhecedor da lei, corajoso defensor dos costumes, poderoso nas palavras e feroz na luta contra todos os que ele julgava «infiéis» à religião, um dia perdeu o jogo: «Jesus Cristo chamou-me» (Gal 1, 1), «fui alcançado por Cristo» (Fp 3, 13). Viu uma luz e ouviu uma voz, levantou-se do chão em que vivia (At 9, 1-10) e seguiu aquele Mestre, com uma confiança inteligente e uma entrega absoluta.

Paulo foi firme na sua decisão, porque viu na sua vocação um projeto de maior valor: «esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direção à meta» (Fp 3, 13-14). Atirou-se de cabeça.

Para descobrir a própria vocação, ajudará conversar com pessoas em quem confiamos e podem desfazer as nossas dúvidas: catequista, sacerdote, religiosa ou outras pessoas comprometidas nos ministérios eclesiais. Os jovens, especialmente, ganharão integrando-se em algum grupo de catequese, acólitos, cantores, leitores, acolhimento, voluntariado, etc. A oração, o retiro espiritual, a meditação de textos bíblicos, as experiências de solidariedade darão uma ótima ajuda para o discernimento vocacional.

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