JAN - FEV / 2019
O ACOLHIMENTO MÚTUO
Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 68 | Bimestral 1,00 €
“Como filhos de Deus, somos todos uma família, compartilhamos a mesma vida que vem de Cristo e, como tal, devemos servir-nos uns aos outros”. Tiago e Teresa Cruz Págs. 2-3
FORMAR DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS “O mundo necessita de autênticos servidores da humanidade; a Igreja precisa de presbíteros bem preparados; o povo quer ver nos seus pastores verdadeiros discípulos de Jesus Cristo”. João Carlos Castro, 6º ano Pág. 9
EDITORIAL
NO CALOR DO ABRAÇO NATALÍCIO... Todos nos recordamos do texto de Marcos, no capítulo 9, onde Jesus interpela os apóstolos com a seguinte máxima: “Se alguém quiser ser o primeiro, pode ser o último de todos e o servo de todos”. Este tempo de Natal recorda-nos, através da vinda de Deus feito menino, que o modus operandi do acolhimento cristão deve encontrar o seu modelo na pureza e simplicidade de uma criança. Reparemos que, face à oportuníssima pergunta dos seus apóstolos “qual de nós é o maior?”, Jesus educa-os através de um gesto: um abraço a uma criança. Neste caso, paradoxalmente, Deus é, como diz K. Jaspers, mais que omnipotente, é “omniabraçante”. A atitude de acolhimento deve encontrar na confiança da criança, como sugere o próprio Jesus, o paradigma que nos faz tocar no rosto de Deus. Cristo inquieta-nos, assim, respondendo à pergunta por Ele próprio estabelecida, afirmando que quem acolhe um dos seus irmãos mais pequeninos, acolhe-o a Ele. Por conseguinte, acolher é o verbo que gera o mundo como Deus o sonha, afirma Ermes Ronchi. Vejamos que este tema aparece hoje na velha Europa, em pleno século XXI, como estrutural no que concerne à aceitação ou rejeição dos “desesperados” que todos os dias cruzam distâncias inimagináveis para alcançar uma justa luta pelo sentido da sua existência e, até, em muitos casos, pela sobrevivência. Neste sentido, apercebemo-nos de que só e apenas deixamos de ser educados para a arte do bem acolher. Ao contrário das crianças, colocamos de lado os critérios fundamentais que permitem semear e gerar o acolhimento desinteressado: a confiança e o espanto. Neste contexto, abraçando o cenário de um Menino que nasce, de uma criança que nos é apontada como referência de maturidade humana e acolhimento evangélico, os Seminários Arquidiocesanos fazem votos, através deste seu jornal Voz de Esperança, de que o Natal seja uma realidade que nos convida ao fortalecimento mútuo dos abraços e da hospitalidade, e o ano de 2019 seja uma nova janela que se abre para um horizonte novo de fraternidade e verdadeira paz entre todos os homens.
VISÃO
“O ACOLHIMENTO MÚTUO” Tiago e Teresa Cruz
O nosso papel, ao longo da nossa vida, só se cumpre verdadeiramente se implicarmos os outros nesta, uma vez que fomos (e somos) feitos uns para os outros. Todo o ser humano, quando nasce, tem necessidade de pertencer a um determinado grupo. Apesar do grupo poder ser constituído por diferentes raças ou etnias, os seus membros partilham os mesmos objetivos e necessidades. Os elementos do grupo regulam as suas interações, adaptando as mesmas crenças, normas, regras e padrões de comportamento. Como batizados em Cristo, pertencemos a um grupo que vive em comunhão com os outros, isto é, pertencemos a uma comunidade que, em conjunto, renuncia ao mal e luta contra o pecado. Já no tempo dos apóstolos existia este sentido de comunhão, que permaneceu nas escrituras para que nós seguíssemos os seus ensinamentos, com vista a fazer crescer a comunidade dos seguidores de Jesus Cristo. No capítulo 2 do livro dos Atos dos Apóstolos (segunda parte da obra de S. Lucas), mais precisamente nos versículos 42-47, encontramos as bases da Igreja primitiva de Jerusalém. Depois de uma leitura cuidada, podemos dizer que nestes seis versículos encontramos os pilares que constituem a comunidade cristã. Esta comunhão fraterna entre os irmãos simboliza a partilha entre eles, de bens ou de experiências de vida. Estas ações encorajavam outros a seguirem os seus exemplos, pois acreditavam que, se o fizessem, Deus os recompensaria, perdoando as suas faltas quando chegasse o dia do juízo final. “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42). Os milagres e prodígios realizados pelos apóstolos incentivavam o povo de Deus a seguir as suas ações. Para eles a adoração a Deus não se limitava a rezar dentro de quatro paredes. “Frequentavam diariamente o templo, par-
2
tiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração” (At 2, 46); a prática do bem para com o seu próximo era vivida intensamente durante todo o seu dia. A oração coletiva quer em igreja quer em casa, em família, forma pequenas brasas no coração de cada um, que resultam no aquecimento das nossas almas, intensificando assim o nosso clamor a Deus. Este momento de união é dos mais bonitos de se viver, pois temos a certeza que Deus está a escutar as nossas preces de uma forma especial. A vivência em comunidade, a oração em comunhão com o próximo e a partilha dos bens acabaram por não prosperar com o passar dos anos, no entanto, foram encontradas outras formas de viver em comunhão. Seríamos nós capazes de abdicar de um pouco do nosso tempo para ajudar o próximo? O acolhimento dentro da comunidade era mútuo, como se todos formassem um só. Para isso igualavam as suas condições de vida - “Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum” (At 2, 44). Ninguém tinha mais que ninguém, quem detivesse mais posses
vendia a sua riqueza e distribuía pelos que nada tinham e assim eram felizes. Nos dias de hoje, seríamos capazes de vender algum dos nossos bens e oferecer aos mais necessitados? A forma como vivemos hoje em comunhão não se afasta muito do que era praticado no tempo dos apóstolos. Vamos à missa, rezamos em conjunto…, mas nem sempre trazemos essa prática para dentro de casa. Para continuarmos os ensinamentos deixados pelos apóstolos devemos praticar a oração, quer na Igreja, quer fora dela. A comunhão não se resume apenas a ir à missa e a praticá-la dentro de quatro paredes. Este é um dos padrões da espiritualidade: quanto menos culto, menos realidade espiritual. Devemos sair e acolher o irmão. Levar esperança a quem a perdeu, levar conforto a quem se encontra desamparado. Devemos perseverar na doutrina como os apóstolos, pois perseverar é “continuar fazendo”, mesmo com todas as dificuldades e resistências de alguns irmãos em aceitar a nossa ajuda. Como filhos de Deus, somos todos uma família, compartilhamos a mesma vida que vem de Cristo e, como tal, devemos servir-nos uns aos outros.
3
ARTE
A COMUNIDADE PRIMITIVA Luís da Silva Pereira
Segundo os Actos dos Apóstolos (caps. 2 e 3), depois da descida do Espírito Santo, S. Pedro surge claramente como líder dos onze discípulos. Tomando a palavra, explica às pessoas atónitas o que tinha acontecido, começa a baptizar e realiza os primeiros milagres. Compreensivelmente, a iconografia de S. Pedro é abundantíssima, representando os vários episódios da sua vida. Numerosos são também os seus atributos: a barca, as redes, o peixe, alusões ao seu ofício de pescador; o galo, que recorda o episódio da negação de Cristo; as cadeias que lembram as prisões que sofreu; a cruz invertida, recordando que foi crucificado de cabeça para baixo. O atributo mais frequente, porém, são as chaves que surgem, pela primeira vez, em mosaicos do século V. Umas vezes empunha só uma, outras vezes, duas. Uma delas é de ouro e a outra de prata. Representam as chaves do céu e da terra, simbolizando o poder que Jesus Cristo lhe deu de ligar e desligar, de absolver e condenar. A pintura que vamos comentar é de Masaccio (1401-1428), um dos grandes artistas do chamado Quattrocento italiano, o conjunto das obras artísticas e culturais do séc. XV nesse país. É uma pintura a fresco, quer dizer, pintada quando o reboco das paredes ainda não tinha secado.
4
Encontra-se na famosa capela Brancacci, na igreja de Santa Maria del Carmine, em Florença. Deve o nome a Pietro Brancacci que a mandou construir, tendo convidado Masolino da Panicale para a decorar com cenas da vida de S. Pedro. Tinha como assistente Masaccio que, pela qualidade da sua arte, acabou por assumir a empreitada. Há quem lhe chame a Capela Sistina do Renascimento inicial. Vemos aqui ilustrado o que se narra nos Actos dos Apóstolos (cap. 5, 12-16), que é o grande número de milagres realizados pelos apóstolos. “Traziam os doentes para a rua e colocavam-nos em enxergas e catres a fim de que à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles”. É precisamente esse momento da passagem de S. Pedro que o pintor capta. Se bem reparamos, há duas sombras no chão que se dirigem para os doentes colocados à nossa esquerda, ladeando o caminho. São as sombras de S. Pedro e de S. João, que o segue, dando a precedência ao apóstolo mais velho. S. João é identificável pela sua juventude, pelo cabelo arruivado e por envergar uma túnica avermelhada. S. Pedro, por seu lado, de barba e cabelos brancos, enverga uma túnica amarelada, característica dele. Repare-se que ambos apresentam nimbo e caminham descalços, o que também é
próprio da iconografia dos apóstolos. Atrás deles, entre as suas cabeças, vemos ainda um ancião que poderá representar os convertidos que iam seguindo os apóstolos e formando a primitiva comunidade cristã. Um dos doentes, de pé, tem as mãos postas. Deduzimos que pede ao apóstolo a sua cura. Ao lado dele, debaixo da varanda da casa, com um capuz vermelho na cabeça, vemos outro doente apoiando-se num cajado. Um terceiro, de idade avançada, ajoelha-se e cruza os braços, em sinal de profunda veneração, mas também de súplica. O quarto doente é, por certo, um paralítico. Deduzimos isso pela deformidade das pernas e pela posição do tronco apoiado numa espécie de banquinho. Masaccio poderá ter-se inspirado, para o pintar, na cura do coxo de nascença, contada no cap. 3, fundindo assim as duas narrativas. O maior interesse da pintura está, porém, no vigor expressivo dos gestos e dos rostos das personagens. É essa uma das características mais distintivas do estilo de Masaccio, expressividade que terá aprendido com Giotto e que atinge talvez o seu ponto mais alto na famosa pintura da expulsão de Adão e Eva do paraíso. Nela se terá inspirado Miguel Ângelo para pintar o mesmo episódio na Capela Sistina.
5
SEMINÁRIO MENOR
O CORPO COMO MEIO DE EXPRESSÃO E RELAÇÃO Rúben Pinheiral, 11º ano
No passado dia 1 de dezembro, sábado, os seminaristas mais velhos (10.º, 11.º e 12.º anos) da comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, reuniram-se para mais um encontro de Formação Humana, cujo projeto se designa Form’arte. Desta feita, o grupo foi desafiado a refletir e perceber “como o nosso corpo é fundamental, enquanto forma de expressão do que somos e sentimos, e como meio de relação e interação com os outros e com Deus”. Iniciámos este momento com a apresentação do trabalho que tinha sido pedido previamente a cada um dos seminaristas. Este consistia na criação de uma bandeira, na qual, cada um se procuraria representar, da forma mais fiel e completa possível, tanto interior como exteriormen6
te. Assim, depois de um tempo de partilha, em que cada um apresentou e explicou a sua bandeira, seguiu-se um momento de confraternização e de pausa para o lanche. O encontro prosseguiu, sendo a segunda parte orientada pelo Pe. Paulo Duarte, sacerdote da Companhia de Jesus. O grupo começou por fazer uma breve apresentação ao sacerdote convidado, dado que este era o primeiro contacto que o mesmo tinha com os jovens desta comunidade. De seguida, cada um dos presentes foi interpelado a colocar-se da forma mais cómoda e relaxante possível, de modo a permitir que o exercício que se seguia se tornasse mais agradável e reconfortante. O Pe. Paulo começou por ajudar cada
um “a tomar consciência do seu interior e do seu ser”, propondo depois que os jovens se juntassem em pares para realizar uma dinâmica, à qual se dá o nome de “Espelho”, sendo que à medida que o jogo ia decorrendo, a dificuldade do mesmo também ia aumentando. Após este jogo, seguiu-se um outro que consistiu “num desafio à confiança no nosso próximo”, fazendo cada um, um caminho com a ajuda dos restantes colegas. Posto isto, finalizámos mais um encontro de Formação Humana, sendo confrontados com várias perguntas elaboradas pelo sacerdote jesuíta, estando as mesmas relacionadas com várias dimensões da nossa vida: pessoal, comunitária e humana, entre outras.
SEMINÁRIO MENOR
ESVAZIAR-SE PARA SE ENCHER DO PERDÃO DE DEUS Rui Esteves, 11º ano
No término de mais um período e com o propósito de refletir sobre este trimestre e ainda preparar de forma digna, sincera e livre esta vinda do Senhor, realizou-se no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, no passado dia 14 de dezembro, a Celebração Penitencial, que contou com a colaboração de seis sacerdotes, aos quais tanto a equipa formadora como os seminaristas se puderam confessar. A celebração teve lugar na capela Cheia de Graça com o principal objetivo de “celebrarmos, na alegria, o Natal do Senhor e nos apressarmos a ir ao Seu encontro”, tal como nos exortava o presidente da celebração logo no início da mesma. A este pro-
pósito, o sacerdote lembrou ainda “a necessidade de um coração purificado, capaz de acolher Jesus”. Posto isto, seguiu-se a Celebração da Palavra, sendo que as leituras proclamadas nos apresentaram “a necessidade de permanecer em Deus, para que assim Ele permaneça em nós e nós possamos dar muitos frutos”. Depois de saboreada, refletida e interiorizada a Palavra de Deus, e para nos sentirmos mais na presença d’Ele, seguiu-se um tempo de adoração eucarística, sendo que esta se prolongou durante todo o momento da reconciliação, “como sinal desta presença do Deus misericordioso, do Deus do perdão”.
Repletos do espírito de Deus, “espírito de sabedoria e de fortaleza”, fomos capazes, de forma mais sincera, de fazer o exame de consciência, para que pudéssemos rever a nossa vida à luz desta presença e de um modo mais verdadeiro. Depois disto, seguiu-se a confissão. Reconhecidos pecadores e depois de receber a graça do perdão, fomos desafiados a rezar uma breve oração frente a frente com Deus, na hóstia consagrada, na qual pedimos a graça de “compreendermos melhor que somos, n’Ele (Jesus Cristo), membros uns dos outros”, pois, aquando desta oração, foi feita por cada pessoa reconciliada uma doação à Cáritas diocesana. Esta oferta não foi de algo que não precisamos, mas de algo de que somos capazes de nos desprender, pois, tal como dizia S. Francisco de Assis, “Senhor, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado”. Deste modo, foi com este intuito que quisemos consolar pessoas que, por motivos económicos e sociais, não poderão celebrar esta Solenidade do Natal na sua plenitude. Terminado este momento de muita densidade, seguiu-se um tempo de maior descontração e confraternização, composto por um pequeno lanche como expressão de agradecimento aos sacerdotes que colaboraram, para que esta celebração fosse possível. 7
SEMINÁRIO MAIOR
CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA E MAGUSTO João Cruz, 2º ano
No passado dia 9 de novembro, como já tem vindo a ser tradição, a comunidade do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, juntamente com o Seminário de Nossa Senhora da Conceição, dirigiu-se ao arciprestado de Paredes de Coura, na diocese de Viana do Castelo, para a realização da consagração a Nossa Senhora e do tradicional magusto. Tudo começou, como tem sido habitual, com um momento cultural, tendo sido visitado o Museu Regional de Paredes de Coura. Este museu é composto por três galerias de exposição e uma casa rural. A primeira galeria é dedicada ao linho, a segunda à mobilização da terra e a terceira à arqueologia. A casa rural é composta por uma cozinha, onde se destacam a lareira e o forno do pão. Tem também dois quartos de dormir e uma sala no piso superior. No piso inferior,
8
está representada uma loja, onde outrora foram cortes de gado. Findada a visita, partimos em direção ao monte da Pena, na paróquia de Mozelos, onde se encontra a Capela de N. Sra. da Pena. Neste espaço, realizámos a consagração a Nossa Senhora, na qual o presidente da celebração abordou três pontos para reflexão. No primeiro ponto, apelou para que aquele dia, além de tudo o que já havia sido proporcionado, fosse um dia de boas conversas, de conhecer mais o outro e de analisar como somos uns para com os outros. No segundo ponto, levou a uma interrogação no interior de cada um, relativamente às maravilhas que o Senhor tem feito com cada um de nós. Assim como Maria contava à sua prima Sta. Isabel sobre as maravilhas que nela tinha feito, também nós nos deveríamos questionar sobre o que o Senhor tem feito comigo, com
cada um de nós, com a comunidade. No terceiro ponto, realçou a maternidade de Nossa Senhora, da ternura como mãe; contudo, pediu para aderirmos ao reino, pois Nossa Senhora é quem nos aponta o reino, um reino de justiça. Assim como S. Martinho cuidou do pobre, também Nossa Senhora deles cuidava, procurava os frágeis e os excluídos, um ícone de bondade aos pobres para com a justiça. Terminado o momento de reflexão, a comunidade dirigiu-se para a Escola Secundária de Paredes de Coura, local onde se realizou o magusto e onde foi proporcionado um ambiente de alegria e confraternização. Para terminar este dia e regressarmos ao local de partida, não poderiam ter faltado as castanhas e uma boa animação realizada pelo Grupo de Cantares, com as tradicionais músicas populares.
“FORMAR DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS”
SEMANA DOS SEMINÁRIOS 2018 João Carlos Castro, 6º ano
A Semana de Oração pelos Seminários é um momento caracterizado por um olhar atento e cuidadoso para esta importante realidade da vida da Igreja. Este olhar é marcado por duas atitudes: confiança e esperança no Senhor, que continuamente chama operários para a sua messe e com o seu Espírito os alimenta e capacita para serem verdadeiros discípulos missionários de que o mundo de hoje precisa. Nesse âmbito da Semana de Oração pelos Seminários, cujo tema deste ano é «Formar discípulos missionários», somos interpelados a construir e ser uma Igreja em “saída”, em missão, porque a Igreja é missão e todos nós somos missionários. Os Seminários Arquidiocesanos de Bra-
ga estiveram com mais incidência no arciprestado de Amares, onde fomos dar a conhecer e testemunhar o sentido da vocação sacerdotal e, também, levando aos jovens e às comunidades um pouco da nossa alegria e entusiasmo no anúncio de Jesus. Ninguém faz nada sozinho, somos seres criados em comunidade e para a comunidade, porque é das famílias e das comunidades que brotam as várias vocações da Igreja. Na catequese e nas Eucaristias, fomos dar a conhecer um pouco do que é e para que serve o Seminário. Como diz a Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis: «A ideia de fundo é que os seminários possam formar discípulos missionários, “enamorados do Mestre”, pastores com o “cheiro das ovelhas”, que vivam no meio delas para
servi-las e conduzi-las à misericórdia de Deus». Nesta semana ocorreram, também, duas vigílias de oração pelos Seminários: uma no Seminário Conciliar e outra na paróquia de Santa Maria de Bouro, no arciprestado de Amares. Foram marcadas pelo encontro com Deus, por um desejo, como nos dizia a música “Queira eu o que Deus quer!”, mas, também, pelo envio de Jesus, “Ide e ensinai todas as nações”. O mundo necessita de autênticos servidores da humanidade; a Igreja precisa de presbíteros bem preparados; o povo quer ver nos seus pastores verdadeiros discípulos de Jesus Cristo. Por isso, a preparação dos futuros presbíteros deve ser uma responsabilidade compartilhada por todos, mas de forma especial pelos seminários e seus formadores, que formam os futuros presbitérios e veem neles a certeza do seguimento à missão, para a qual o Senhor os chama.
9
SEMINÁRIO MAIOR
ABERTURA SOLENE DOS SEMINÁRIOS ARQUIDIOCESANOS DE BRAGA Feliciano Pinto, 1º ano
No passado dia 18 de novembro, domingo, realizou-se a Abertura Solene dos Seminários Arquidiocesanos de Braga, que teve lugar no Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, envolvendo os Seminários Maior e Menor daquela diocese. Esta data coincidiu com o encerramento da Semana dos Seminários, que decorreu este ano, em Amares. Na presença dos pais e dos seminaristas, a sessão contou com as intervenções do Pe. Mário Martins (em nome das equipas formadoras de ambos os seminários), do Sr. Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, e do convidado Fábio Pereira. De notar ainda, nesta sessão, a presença do Sr. Bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira. Iniciaram-se as intervenções com o Pe. Mário Martins, o qual apelou para a urgência de «uma maior maturidade do povo de Deus», na me10
dida em que este possa «contribuir para o crescimento da Igreja numa perspetiva sinodal». Seguiu-se a apresentação das atividades de ambos os seminários, decorridas no ano letivo 2017-2018, pelos seminaristas Manuel Matias (Seminário Menor) e Pedro Antunes (Seminário Maior). Após esta, interveio Fábio Pereira, que expôs reflexões sobre o Sínodo dos Jovens de 2018, subordinado ao tema “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, afirmando que «o Papa pretende formar a Igreja e atualizá-la, assim como colocar Cristo no centro». Deixou ainda um conselho para os seminaristas: «Queridos seminaristas, há bem que temos que fazer», assinalando que «não basta não fazer o mal». A sessão terminou com as palavras do nosso pastor, D. Jorge Ortiga, que nos deixou uma mensagem acer-
ca do Programa Pastoral da diocese: «Para tecermos as comunidades acolhedoras, como queremos através do Programa Pastoral da diocese, temos que nos unir por um grande amor, amor de Jesus Cristo, vivido na sua totalidade». Referiu também a necessidade de nos abrirmos aos outros, para chegarmos a uma «espiritualidade do nós», como refere o Papa Francisco. Por fim, desafiou os seminaristas a «desenvolver as suas qualidades e colocá-las ao serviço da comunidade, sem murmurar». Seguiu-se a Eucaristia dominical, presidida por D. Jorge Ortiga, que na sua homilia advertiu para o facto de que «encerrar a Semana dos Seminários não significa esquecer-se deles e abandoná-los». Finalizar-se-ia o dia com o habitual jantar-convívio com os seminaristas e seus familiares.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
NO CAMINHAR DA MISSÃO Mónica Magalhães, Engenharia e Gestão Industrial, Universidade do Minho
Ir em missão não é apenas o ato de partir, mas o culminar de um longo percurso. Há um ano, entrei para o Projeto Sementes sem saber bem o que esperar. Sabia que iríamos ter sessões de formação todas as semanas e, ainda que as achasse muito importantes, pois dali a uns meses iríamos estar num contexto muito diferente do nosso com a necessidade de preparação prévia para nos conseguirmos adaptar a qualquer situação, não fazia de todo ideia do tipo de formação que me aguardava. Realizado esse percurso, posso dizer com confiança que superou todas as expectativas que pudesse ter criado e tenho um grande carinho por todo o processo. Durante este período, uma das lições recebidas é que o espírito de ir em missão é independente do local para onde se vai. Trata-se de ter vontade de ajudar, partilhar com o próximo e o desejo de se desprender de tudo. Os meses de formação revelam-se, sem dúvida, uma fase de grande
crescimento pessoal. Muitos de nós reforçam a sua ligação com Deus, outros reencontram-na e alguns contactam com ela pela primeira vez. Aprendemos a conhecer-nos, a saber dar tudo o que de melhor há em nós, a refletir nas nossas decisões e a desafiar-nos cada vez mais. Na verdade, cada um é livre de traçar o seu próprio percurso e não há um “caminho correto”. Aprendemos, acima de tudo, a respeitar o outro e a aceitar diferentes pontos de vista. Agora sei que ir em missão sem todo este percurso seria impensável e acredito que fazer o percurso em si é, por si só, muito gratificante. Também tivemos sessões de formação a nível dos valores do projeto, onde abordámos situações reais com as quais nos poderíamos deparar em África. Fomos definindo temáticas que seriam importantes explorar em contexto de missão e pudemos ouvir testemunhos de outros voluntários. Estas partilhas foram o essencial da missão, pois
foram dando sentido ao caminho e foram, cada vez mais, dando vontade de continuar o percurso. No passado mês, iniciámos mais um ano de formação com os novos voluntários do projeto, que já vai na sua 6.ª edição, e é por acreditar tanto na importância da formação que aceitei pertencer à coordenação de mais uma edição do projeto. Sinto um enorme sentido de dever, em poder dar continuidade aos valores que me foram transmitidos. É o início de um novo caminho, quer para os voluntários, quer para a equipa de coordenadores. Tal como nenhuma missão se repete, também o percurso no papel de voluntário e coordenador é muito diferente. Penso que fazer parte de um projeto assim é uma oportunidade única, pela qual todos os jovens deviam passar. Quer o “bichinho” de ir em missão já esteja dentro deles ou estejam apenas à procura de respostas, há opções diferentes que podem seguir e este projeto é uma delas.
11
PASTORAL DE JOVENS
FORMAR NA ESPERANÇA Departamento Arquidiocesano de Pastoral Juvenil
Nas últimas Jornadas Mundiais da Juventude, o Papa Francisco convocou os jovens para a vivência de uma esperança verdadeira, longe de fantasias ilusórias, mas de acordo com a Verdade. Esta mensagem de esperança do Papa ecoou por todo o mundo e, pouco a pouco, os jovens tornaram-se seus embaixadores. Particularmente, na nossa Arquidiocese, esta mensagem tornou-se fundamento para um percurso que será trilhado ao longo de três anos. Hoje, a juventude arquidiocesana continua a olhar o futuro com as inquietações e desafios que este apresenta. Porém, é no desejo de continuar a ser voz de esperança para o mundo que os jovens empreendem um novo caminho formativo: formar na esperança, para que esta não desvaneça nem nos deixe à mercê de fatalismos e opiniões infundadas. A esperança, como nos diz o Papa Francisco, «não é um conceito, nem um sentimento, mas é uma Pessoa, o Senhor Jesus, vivo e presente em nós e nos nossos irmãos. Portanto dar razão da esperança não se faz em nível teórico, em palavras, mas, sobretudo, com o testemu-
nho da vida, dentro e fora da comunidade cristã». Nesta certeza, dar razões da nossa esperança tornou-se ponto de partida para um caminho de formação e vivência cristã renovado. Um caminho que é proposto pelo Departamento Arquidiocesano de Jovens em que, partindo de um percurso formativo, se abre as portas ao rezar a esperança e ao, verdadeiramente (no concreto da vida), dar razões de esperança no mundo de hoje. Porém, esta não é uma proposta cujo impacto só atinge os jovens. Ao contrário, cientes de que a esperança só pode ser vivida no coração da comunidade cristã através de gestos concretos de partilha e dom, procura-se, em comunidade, e para a comunidade, trilhar caminhos de verdadeira esperança. Uma esperança que nada tem de abstrato, nem que é possível viver isoladamente. Ao contrário, é uma esperança que implica sempre uma ação concreta em favor de todos. Uma ação que passará sempre pelo desinstalar-se e pelo sair ao encontro de outros sendo, a nossa ação, sinal de esperança deste Jesus que é Vida e nos dá vida em abundância.
Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.
Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 318,10 €.
Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.
Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.
Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição
Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares