JAN - FEV / 2020
UMA MISSÃO COM DESASSOMBRO
Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 74 | Bimestral 1,00 €
“Precisamos de missionários com um rosto límpido e diferente, enigmático e provocador, que nos obrigue a não viver no acaso, na passividade dos dias que vêm e que nunca mais voltarão.” Pe. João Torres Págs. 2-3
A MISSÃO DA JUVENTUDE? TESTEMUNHAR A ESPERANÇA “Para nós, os jovens são o hoje! Um hoje que vivemos juntos, partilhando os desafios do quotidiano e encontrando rastos de Esperança que nos permitem olhar o futuro para além do medo.” Dep. Arq. de Pastoral Juvenil Pág. 12
EDITORIAL
MAS O AMOR… Celebrámos recentemente a grande festa do Natal, que nos renova na alegria de nos sabermos abraçados pelo amor imenso de Deus que, em Cristo Jesus, nossa Esperança, berço que humaniza, assume a nossa frágil condição para viver a nossa vida. Perante este presente de Deus, tocados pelo encanto e pelo espanto que o Emanuel em nós provoca, não podemos responder com ‘meias entregas’, com compromissos débeis e pouco firmes, com um “hoje sim, mas amanhã já não”! O encontro com o Senhor confronta-nos com a necessidade de respondermos com desassombro, não ficando reféns das nossas fraquezas, pois como o próprio Jesus nos recorda “quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la” (Mt 16, 25). Precisamos, por isso, de superar todos os ‘mas’ que nos impedem de O seguir. Ou talvez o que se impõe seja substituir cada uma das adversativas, mudando-lhe a configuração, num processo de conversão interior que se faz gradualmente. Em vez de respondermos com a reserva de um “mas não tenho tempo”, “mas tenho medo”, “mas não sei como fazer…”, entreguemo-nos antes à missão com a audácia de quem vence os seus medos e limites, afirmando “mas o Amor é que me chama”, “mas o Amor é maior e dispensa todas as justificações”, “mas Aquele que é o Amor amou-me primeiro e ganhou-me para Si…”, na vocação que escolheu para mim. Assim deve ser, à semelhança dos primeiros apóstolos, a nossa vida de missionários, isto é, vivida com o desassombro que, como nos recorda o texto visão, nos pede gestos concretos, tantas vezes revestidos da simplicidade de um sorriso, de uma palavra, de um aperto de mão. Este é também o lema que orienta a vida dos nossos Seminários que procuram testemunhar a esperança de Jesus através das suas inúmeras iniciativas, como as aqui apresentadas, sempre na certeza que tudo é feito por causa do Amor, com Amor e para anunciar o Amor!
VISÃO
UMA MISSÃO COM DESASSOMBRO Pe. João Torres
Viver com desassombro a missão é, antes de mais, fazer o acolhimento duma experiência de sentido que é a experiência de Jesus Cristo. Esta experiência não pode ficar fechada entre quatro paredes, devendo ser comunicada a todos. Se assim acontecer, teremos ao menos incutido em nós e nos outros que Jesus Cristo não está morto, mas que está bem vivo naquele que vive ao nosso lado. Cada um deve assumir pouco a pouco o compromisso de viver e anunciar Aquele em quem acredita, ou seja, tornar-se missionário, no seu lugar de trabalho, em casa, na sua comunidade e com os seus amigos. É necessário assumir esta tarefa de se ser missionário com desassombro e compreender que a mesma é um processo: não é num mês ou num ano que me torno missionário. É pela atitude, modo de estar e de me situar na vida, que paulatinamente me vou tornando um sinal de Deus e vou fazendo da minha vida quotidiana um lugar de missão. Se há uma preocupação constante em Cristo, que aparece no Evangelho, é a de reunir discípulos em comunidade à sua volta. Cristo reúne discípulos à sua pessoa e assim une-os entre si, para lhes revelar o amor do Pai por eles e lhes comunicar o seu próprio amor: “Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós... que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei” (Jo 15, 9; 13, 34). Este amor torna-se a vida dos discípulos, o princípio da sua unidade. Eu, como cristão, sou chamado a ser, um com os meus irmãos, que vivem em comunhão fraterna. Essa fraternidade resulta da identificação com Cristo e da vida de Cristo que anima cada crente – membros, todos eles, do mesmo corpo – o Corpo de Cristo. As manifestações de comunhão têm de ser concretizadas em ações, em vida, em testemunho, em exemplo, não podendo ficar apenas nas palavras, nas intenções e nos formalismos. A missão do Evangelho é fazer irmãos e é desta missão que o missionário bebe e se alimenta.
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Há, em cada ser humano, a tentação de se fechar em si, nas suas preocupações e nas suas pequenas coisas. É, muitas vezes, uma opção fácil e cómoda. A vida em missão é movida pela corrente da aventura, do desprendimento e do carinho que depositamos e recebemos das pessoas. Da experiência missionária que qualquer um de nós pode fazer, conquista para si pequenos pedaços de vida, palavras leves e silêncios densos. Aprende-se a viver de novo e a sentir-se povo de Deus e a servir a Igreja como membro e não como cliente. A vida missionária é simples e profunda. Porque os dias são amassados com lágrimas e suor e regados com alegrias e encantos. Trata-se de fazer dos dias, dias de paraíso nas mãos de Deus... Somos capazes de arranjar muitas e muitas coisas para os pobres, de levantar muitas obras para os pobres. No entanto, vivemos distantes deles, nunca comemos com eles o pão da amargura, o pão da angústia, o pão da dor, o pão da miséria, o pão das dificuldades de cada dia. Precisamos de quem viva mais de perto a angústia de muitos que moram perto ou longe. Precisamos de ser missionários que sonhem com uma Igreja diferente. Sem medo da mudança! Há sinais, mas o comodismo, as vaidades e luxos impedem-nos de sermos missionários. Nesta terra precisamos de missionários. Para partilhar gestos simples como um sorriso, um aperto de mão, parar para escutar o que o outro tem para dizer. Precisamos de sentir que somos de Deus em quem nos procura. Precisamos de ser Pentecostes. A imagem de marca do Pentecostes é a das línguas, à maneira de fogo, “que se iam dividindo e poisou uma sobre cada um” (At 2, 3) dos Apóstolos, com um efeito surpreendente: “começaram a falar outras línguas” (At 2, 4), de modo que, entre a multidão dos povos, cada qual “os ouvia falar na sua própria língua” e a proclamar com desassombro “as maravilhas do Senhor” (At 2, 8). Este é hoje o grande desafio da missão e da transmissão da fé: anunciarmos o Evangelho, fa-
lando a linguagem de cada pessoa, de cada povo, de cada cultura, valorizando a idade e a capacidade, a riqueza e a originalidade, a harmonia na diversidade. Precisamos de missionários com um rosto límpido e diferente, enigmático e provocador, que nos obrigue a não viver no acaso, na passividade dos dias que vêm e que nunca mais voltarão. Sentir a necessidade de ser peregrino, que caminha nesta terra, encontrando-se com o silêncio e o barulho do universo, e, no meio deste, com Deus. Acredito que a comunhão de bens, a unidade, a espiritualidade, o serviço, a fraternidade, o desprendimento e a disponibilidade são valores que nos ajudarão a “ser missionários”, aqui ou em qualquer lugar. Ser missionário é viver uma vocação, uma vida simples, de bolsos vazios, mas com o coração cheio de alegria e cheio de Deus. Continuo a discernir como é ser missionário no meio do povo, que, aqui, Deus me deu. Pois quem não é missionário é porque se dispensou de viver...
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ARTE
A INTREPIDEZ DOS APÓSTOLOS Luís da Silva Pereira
A pintura que hoje analisamos não tem directamente a ver com o texto proposto para reflexão, que se encontra nos Actos dos Apóstolos cap. 4, 1-22. Nele se narra a ida de S. Pedro e S. João ao Sinédrio para responderem às autoridades religiosas, no dia seguinte a terem sido presos. O quadro que vamos comentar ilustra o que aconteceu, no dia anterior, que foi a cura de um aleijado junto à Porta Formosa do Templo, milagre que deixou assombrada toda a gente e esteve na origem da conversão de cerca de cinco mil pessoas. Interrogado pelos membros do Sinédrio, S. Pedro responde, cheio de intrepidez e alegria, que é em nome de Jesus Cristo que prega a ressurreição e opera as maravilhas que os deixam estupefactos. O quadro é do pintor Pieter Aertsen, que nasceu em Amesterdão, em 1508, e aí morreu em 1575. Tem importância na história da arte porque a ele se atribui a invenção da chamada pintura de género. A pintura de género, ou de costumes, afasta-se dos temas clássicos e mitológicos característicos do Renascimento, das personagens nobres, das acções épicas e grandiosas, procurando abor-
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dar os temas da vida quotidiana, as pessoas comuns, os interiores das casas, as cozinhas, as feiras, tudo aquilo que a arte mais clássica considerava indigno de aparecer. Esta preferência pelo realismo quotidiano veio a influenciar profundamente a pintura barroca, da qual Pieter Aertsen é considerado precursor. Repare-se, em primeiro lugar, na maneira como ele distribui as pessoas que figuram no quadro: estão dispostas numa linha curva, tão do gosto dos artistas barrocos, que vai da nossa direita para a nossa esquerda. Vêem-se vários doentes e velhos. Uns chegam num carro puxado por um cavalo, outros a pé, outros numa carreta empurrada por um homem. Junto à porta do nosso lado esquerdo, vê-se uma mulher amparando um doente deitado num colchão, dentro de uma grande cesta de vime. Atrás dela, chega à praça um coxo, apoiado em duas muletas. Perto dele, um outro homem carrega uma trouxa de roupa, enquanto a seu lado, outro indivíduo transporta à cabeça o que parece ser um móvel. Ao fundo, um grupo de homens leva instrumentos de lavoura, dando a ideia de que vão para o campo trabalhar.
Um pouco antes, uma mulher transporta à cabeça um almofadão. Todas as personagens se movimentam, fazem qualquer coisa. São personagens dinâmicas, não estáticas. Executam tarefas da vida quotidiana. O gosto do artista pelas personagens comuns é de tal maneira notório que nem sequer distingue, por nenhum sinal particular, os apóstolos S. Pedro e S. João. Não têm nimbo, não transportam nenhum atributo específico, embora caminhem descalços, o que é característico dos apóstolos. Encontram-se junto à mulher que apresenta a S. João, de túnica vermelha e cabelo arruivado, uma criança deitada numa almofada. S. Pedro, de barbas brancas, olha para um paralítico sentado no degrau de um templete, no centro do quadro. Vemos que é o centro porque é à volta dele que se distribuem as pessoas, formando um círculo quase perfeito. Visíveis através dos pilares, os sacerdotes e os saduceus observam de longe, estáticos e hostis por verem os apóstolos fazendo o bem e convertendo tanta gente. São, claramente, as personagens menos importantes.
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SEMINÁRIO MENOR
UMA CASA COM 95 ANOS CELEBRAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DO SEMINÁRIO MENOR João Pinto, 10º ano
O Seminário de Nossa Senhora da Conceição nasceu a 14 de novembro de 1924, celebrando assim os seus 95 anos. Fundado por D. Manuel Vieira de Matos, esta instituição formou diáconos, presbíteros, bispos e, até, cardeais que perpetuaram a eterna memória da mesma casa. Sob a proteção mater-
nal de Nossa Senhora, o Seminário, “coração da Diocese”, como é referido nas palavras do nosso prelado, D. Jorge Ortiga, continua a ter como grande objetivo acompanhar, formar e animar jovens que perspetivam o sacerdócio como projeto de vida. Deste modo, o dia 14 de novembro foi festivamente celebrado, tendo como ponto alto a Missa de Ação de Graças. Nela foi invocada a memória dos que por esta casa 6
passaram, entre eles seminaristas, colaboradores, formadores e beneméritos que constituem a augusta história do Seminário. Em plena Semana de Oração pelos Seminários, em que toda a comunidade se encontrava particularmente desperta para a sua condição de “sinal visível do chamamento do Senhor”, fez-se
uma constante referência à “importância de rezar por nós próprios e por todos os jovens que se inquietam com a questão vocacional”, sendo, por isso, parte integrante nesta celebração comemorativa. Todo o reportório musical desta Eucaristia procurou alertar para a necessidade de “arder para iluminar”, lema do arquiepiscopado de S. Bartolomeu dos Mártires. Este arcebispo santo, recentemente canonizado, fundador de um dos primeiros seminários da Igreja, deixou na sua obra, “Estímulo dos Pastores”, muitos pensamentos e recomendações para os sacerdotes, procurando instruí-los no exercício da sua missão pastoral. As suas palavras são, ainda hoje, atuais para os nossos seminários e seus seminaristas. “Não vos conformeis a este mundo” e “Vós sois o sal da terra” foram dois dos chavões deixados pelo canto litúrgico. De referir que o hino desta instituição, composto pelo Pe. Manuel Borda (antigo aluno da casa) a 22 de novembro de 1950, na memória litúrgica de Santa Cecília, fez-se ouvir no final da celebração, exaltando a já longa história do Seminário de Nossa Senhora da Conceição. Assim, a celebração deste dia permitiu celebrar o Seminário no seu todo e perspetivar o centenário que será assinalado dentro de cinco anos, em novembro de 2024.
SEMINÁRIO MENOR
EU E AS MINHAS EMOÇÕES TERCEIRO ENCONTRO DE FORMAÇÃO HUMANA Pedro Cunha, 10º Ano
No passado dia 14 de dezembro, sábado, realizou-se o terceiro encontro de formação humana, Form’Arte, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, no qual foi desenvolvido e explorado o tema “Eu e as minhas emoções – Comunicar de forma ‘não agressiva’”. O encontro, preparado pela Dra. Rita e pelo Reitor do Seminário Menor, o Sr. Pe. Mário Martins, contou com a participação dos nove seminaristas que frequentam o ensino secundário, do décimo ao décimo segundo anos. Deste modo, esta terceira etapa formativa iniciou-se com um breve cântico, seguindo-se a partilha do trabalho de casa proposto no encontro anterior, no qual os jovens foram desafiados a refletir e a registar quais os sentimentos que tinham em cada dia, durante uma semana, e de que forma estes se refletem nas suas reações e pensamentos. Após a partilha de todos os jovens, estes e os responsáveis tiveram um momento de pausa para o lanche, que proporcionou também um tempo de fraterno convívio. Já na segunda e última parte do encontro, o diálogo centrou-se sobre a comunicação não violenta. A propósito disso, foi explicado que sempre que falamos de comunicação não violenta, não nos referimos, necessariamente, à ausência de violência física, pois esta pode ser psi-
cológica, podendo afetar ainda mais cada pessoa. Salientou-se ainda que isso pode acontecer, mesmo quando não nos apercebemos, no meio de um diálogo no dia a dia, no qual, muitas vezes, estamos mais preocupados connosco próprios, focados nas nossas preocupações, em vez de nos centrarmos nos outros. Na verdade, e como referido, muitas vezes, o diálogo é dificultado porque cada um dos intervenientes pensa e acredita estar numa situação pior que os
seus interlocutores, o que diminui a capacidade de escuta perante as necessidades do outro. Após esta partilha, foi feita a habitual avaliação do encontro, seguindo-se o momento final, no qual os seminaristas meditaram sobre uma passagem da Sagrada Escritura – Lc 10, 38-42 – que relata a visita de Jesus à casa de Lázaro e suas irmãs, salientando o diferente acolhimento e atenção recebidos por parte de cada uma, Marta e Maria.
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SEMINÁRIO MAIOR
MAGUSTO E CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA António Pires, 2ºAno
Na tarde do passado dia 8 de novembro, a comunidade dos Seminários Arquidiocesanos de Braga deslocou-se a Santa Maria de Landim, no Arciprestado de Vila Nova de Famalicão, para a habitual consagração a Nossa Senhora – este ano inserida na Eucaristia – e para o seu tradicional Magusto. O início da tarde foi marcado pela deslocação a São Miguel de Ceide, onde todos os presentes tiveram a oportunidade de visitar a exposição permanente de Camilo Castelo Branco, no Centro de Estudos Camilianos, bem como a casa onde o escritor viveu grande parte da sua vida. Estas visitas foram precedidas por uma valiosa intervenção do Professor João Paulo que, de forma clara e entusiasta, permitiu a todos conhecer um pouco mais sobre a vida e obra deste grande escritor. A estes gratificantes momentos culturais seguiu-se um pequeno lanche e uma visita ao Mosteiro de Santa Maria de Landim, onde pudemos apreciar o belíssimo claustro e os magníficos jardins deste edifício. Confortados por estes momentos, foi tempo de agradecer ao Senhor por tudo aquilo que foi a nossa tarde. Assim, com a presença de vários membros da comunidade de Santa Maria de Landim, e neste espírito de comunhão entre todos, celebramos a Eucaristia, presidida pelo Pe. Rúben Cruz, formador do Seminário Menor, que, na sua 8
homilia, referiu que “Maria é uma mulher que está sempre um passo à frente e, em simultâneo, é uma mãe atenta, com quem cada um de nós pode contar”. Antes de terminada a celebração, foi tempo de realizarmos a nossa consagração a Nossa Senhora, suplicando-lhe que nos conceda ajuda neste novo ano que iniciamos. Depois de termos alimentado o nosso espírito, chegou o momento de nos sentarmos à mesa, reunidos num ambiente de alegria, de partilha e de confraternização.
E foi assim que terminámos o nosso dia, convivendo com os demais colegas, degustando as castanhas e o bom vinho, acompanhados pelas vozes magníficas do nosso Grupo de Cantares. Com a alegria e a esperança de ser e de fazer melhor, a comunidade dos Seminários regressou a Braga, trazendo dentro si a certeza de que só descobre o verdadeiro segredo de Deus, quem realmente está disponível para O servir.
SEMANA E VIGÍLIAS DE ORAÇÃO PELOS SEMINÁRIOS Carlos Abreu, 3ºAno
Com o lema «O Senhor não pensa apenas naquilo que tu és, mas em tudo aquilo que poderás chegar a ser», como refere o Papa Francisco na Exortação Apostólica Christus vivit, iniciou-se a Semana de Oração pelos Seminários, momento caracterizado por um olhar atento e cuidadoso para esta importante realidade da vida e da Igreja. Para tal, nos fins de semana de 10 e 17 de novembro, deslocámo-nos ao Arciprestado de Vila Verde, da Arquidiocese de Braga, onde falámos um pouco dos Seminários de Braga, tanto do Seminário Maior, como do Seminário Menor. Neste contexto, fomos dar a conhecer as várias vocações, em especial a sacerdotal, levando aos jovens e às comunidades um pouco da nossa alegria e entusiasmo no anúncio de Jesus. Com o convite feito pelo Senhor que, incansavelmente, continua a chamar operários para a sua messe, levámos a Vila Verde um pouco da nossa alegria e procurámos esclarecer algumas dúvidas que nos foram sendo colocadas. Demos o nosso testemunho nas Eucaristias, e na catequese falámos do nosso chamamento, do nosso dia a dia no Seminário e do motivo que nos levou a aceitar este convite, desmitificando, assim, algumas das ideias pré-concebidas acerca dos Seminários e da sua função na comunidade. Ninguém faz nada sozinho, como seres criados em comunidade e para
a comunidade, é das famílias e das comunidades que brotam as várias vocações da Igreja. Nesta semana, tiveram também lugar duas vigílias de oração pelos Seminários, uma no Seminário Conciliar e a outra na Igreja Matriz de Vila Verde, que contaram com a presença de vários jovens e do Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga. O prelado desafiou os jovens a “deixarem-se tocar por Deus”, referindo “a importância dos Seminários na formação e na preparação dos futuros presbíteros”, mencionando que esta é “uma responsabilidade com-
partilhada por todos”. No entanto, salientou que, “sem propostas, não há respostas”, pelo que “todos nós somos chamados a potenciar a vocação”. Contudo, para que tal aconteça, “é necessário que os jovens se deixem tocar por Deus e que não tenham medo de dizer sim a esse chamamento, conscientes de que é nos Seminários que poderão contar com o apoio de uma equipa responsável de formadores que os acompanhará no caminho do seu discernimento, permitindo-lhes, assim, responder generosamente à missão para a qual o Senhor os chama”. 9
SEMINÁRIO MAIOR
ABERTURA SOLENE DOS SEMINÁRIOS Paulo Pereira, 6ºAno
Já perto do findar da Semana de Oração pelos Seminários, os Seminários Arquidiocesanos juntaram-se, num ambiente familiar, para realizar a abertura solene do novo ano. Ao canto do Hino do Seminário Conciliar de Braga, inicia-se a abertura solene, contando com a presença amiga do Bispo Auxiliar, D. Nuno Almeida, do convidado especial, Dr. Sérgio Pinto, do Pe. Vítor Novais, Reitor do Seminário Maior, do Pe. Mário Martins, Diretor do Seminário Menor, bem como dos familiares e amigos dos seminaristas. Neste sentido, e após a introdução musical, tomou a palavra o Pe. Mário, que propôs refletir sobre o tema O estímulo dos futuros pastores. Fazendo memória de S. Bartolomeu dos Mártires, recentemente canonizado, interpelou-nos a “seguir 10
o seu exemplo” e lembrou algumas das “características que um pastor de almas deve estimular, como a solicitude, a gratuidade, a misericórdia, a generosidade, entre outras”. De seguida, procedeu-se à apresentação do relatório de atividades do ano transato, desta feita num formato vídeo, onde se mostraram as dimensões essenciais na formação, nomeadamente a dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral, bem como os locais e as iniciativas em que estas foram desenvolvidas ao longo do ano. Após esse momento, teve lugar a intervenção do Dr. Sérgio Pinto, que nos falou das capacidades que os sacerdotes precisam de desenvolver na atualidade. Entre as inúmeras características, que depois explicou, destacou “a necessidade duma confi-
guração com Cristo, com a pessoa de Jesus, deixando-O entrar nas nossas vidas; a importância do presbítero olhar para o outro como um irmão, porque, assim, a carga torna-se mais leve”. Por fim, referiu “o imperativo do sacerdote aceitar trabalhar em parceria: em primeiro lugar com Jesus, sendo para tal necessária uma vida de oração bem trabalhada para que não caia no mero profissionalismo, mas que seja capaz de transmitir aos outros a sua própria experiência de oração. Depois de bem alimentada esta parceria na relação com Jesus, é que este deve ser chamado a trabalhar em comunhão com os outros”. Por último, mas não menos importante, tomou a palavra o Sr. D. Nuno, que nos apelou a “uma relação pessoal com Deus em Jesus Cristo e a um desenvolvimento espiritual sério, pois a fé tem um aspeto racional e intelectual, que lhe é essencial”. Referiu, ainda, a importância da “valorização da vida comunitária, sobretudo devido ao enriquecimento de uns para com os outros, enquanto servidores do mesmo Senhor”. Com o término da sessão solene, deu-se início à Eucaristia, presidida pelo Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, com a participação de toda a comunidade do Seminário, terminando o dia com o jantar, onde estiveram presentes todas as famílias.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
EXPERIÊNCIA DE UM RESIDENTE NO CPU João Silva, 2º ano de Bioquímica da Universidade do Minho
A entrada para o primeiro ano da universidade é, muitas vezes, acompanhada por um ritual que se prende com a escolha de um lugar que servirá de “casa” ao longo desse período. A tudo isto, acresce ainda a forte ansiedade que nos atravessa por ficarmos longe da nossa casa pela primeira vez. No meu caso, a primeira vez que ouvi falar no Centro Pastoral Universitário (CPU) foi através de um amigo meu, que me disse que iria lá viver. A minha mãe entrou em contacto para saber se ainda havia vagas. Apesar da minha relutância em visitar o espaço, por se tratar de uma residência associada à Igreja, acabei por visitar a Casa devido à falta de alternativas, e mais tarde, ser aceite como residente. Este é já o meu segundo ano na Residência do CPU. Desde o primeiro dia em que entrei para esta “casa” até aos dias de hoje, notei que em mim tinha acontecido uma grande transformação. Desde muito cedo, nunca me senti encaixado em lado nenhum, pois sempre me senti diferente dos outros, acabando por me envolver quase sempre numa grande solidão, quase existencial. Sentia que ninguém me entendia ou era verdadeiramente meu amigo, com algumas exceções, é claro. Senti-me, muitas vezes, só e humilhado. Estes foram, talvez, os sentimentos que mais me marcaram ao longo destes 18 anos de vida. Para fugir a isso, acabei por usar os estudos, o mundo da fantasia e a internet para escapar à realida-
de penosa em que sentia que vivia. Aos 18 anos de idade, a única coisa que me deixava verdadeiramente alegre quase que se resumia a jogar no computador. Posso dizer que a meio do meu primeiro ano de universitário, cheguei ao fundo do poço, senti uma solidão que nunca tinha conhecido. Embora isto tivesse continuado após a entrada na universidade, aos poucos sentia que algo ia mudando. Comecei a perceber que as pessoas com quem partilhava a mesma casa estavam a salvar-me. Ao contrário das pessoas com quem tinha convivido até então na minha adolescência. Senti que me aceitaram como era, me acolheram com as minhas próprias características e ajudaram-me a ultrapassar as dificuldades. Lentamente, o meu coração, partido e congelado, foi aquecendo e recuperando, foi começando a sentir o poder do amor ao próximo, ao irmão. Não sei o que chamar a isto. Talvez para uns, seja o poder da amizade, para outros, o poder do Espírito Santo. Só sei que, lentamente, comecei a largar os jogos online e fui novamente recuperando a alegria e a vontade de viver. Na verdade, já não me sentia sozinho.
Neste novo ano, comecei a entrar nas atividades da casa, como por exemplo, comecei a ir novamente à missa, coisa que já não fazia há anos. Sou uma pessoa racional, acreditar em algo como Deus sempre me pareceu algo saído do filme Matrix, como se fosse uma personagem de computador. Neste momento, acredito novamente em Deus, mas sei que Ele não tem a pretensão de me controlar na vida, mas somente de me acompanhar, como um pai, que quer que nós vivamos da melhor forma possível e que, se os nossos sonhos forem dignos, estará ao nosso lado e ajudar-nos-á a chegar a esse objetivo. Tentar descrever como foi a minha experiência é algo que não consigo medir, mas se tivesse que dar uma palavra, seria mágica. Ainda há coisas que preciso de melhorar. Acredito, no entanto, que irei continuar a evoluir, a fazer caminho, nesta que foi e é a minha segunda casa. Para aqueles que lerem estas minhas palavras e se sentirem como eu me sentia no passado, não se aflijam. No futuro, Deus irá dar-vos a conhecer pessoas boas, pois como dizia um homem carinhoso para uma menina triste, assustada e só: «Ninguém neste mundo nasce para ficar sozinho». 11
PASTORAL DE JOVENS
A MISSÃO DA JUVENTUDE? TESTEMUNHAR A ESPERANÇA Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens
Este novo ano tem trazido um novo alento aos jovens da nossa Arquidiocese. O desejo de caminhar e crescer em comunhão com toda a Igreja tem feito multiplicarem-se as ações da juventude. Desde os encontros dos grupos, às orações comunitárias e às ações de solidariedade, muitos têm sido os gestos jovens que vão manifestando a alegria de ser cristão no mundo e na Igreja de hoje. Impelidos a testemunhar a Esperança de Jesus Cristo, os jovens têm procurado todos os meios para que esse testemunho transmita a alegria do Encontro com o Senhor da Vida. Através de uma vivência cristã mais próxima da comunidade eclesial e através do seguimento de propostas formativas que ajudam a consolidar as razões da fé, os jovens experienciam a alegria de anunciar com desassombro e o entusiasmo em manter viva a chama da Esperança que não nos engana, antes, nos mantem vivos e expectantes rumo a uma vida mais autêntica e mais de acordo com a fé professada. Muito se tem falado dos jovens nos últimos meses. Para uns, eles representam o grupo de pessoas que, no seio da Igreja, melhor procuram preparar (aos mais diferentes níveis) a vinda do Papa a Portugal nas próximas Jornadas Mundiais da Juventude. Para outros, os jovens são o futuro da Igreja e da sociedade e, por isso mesmo, há que oferecer-lhes uma boa formação cristã... Para nós, enquanto Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens, a juventude da nossa Arquidiocese não é nem um grupo à procura de um momento
de festa e pleno de emoções junto ao Papa Francisco, nem um grupo de cristãos que “será o futuro”; para nós, os jovens são o hoje! Um hoje que vivemos juntos, partilhando os desafios do quotidiano e encontrando rastos de Esperança que nos permitem olhar o futuro para além do medo. Com os jovens, não promovemos apenas ações de formação. Com eles, pensamos, elaboramos e crescemos numa formação conjunta e integral – uma formação que diz respeito a toda a Igreja e não apenas a alguns dos seus membros. Com os jovens, não preparamos apenas para o futuro, antes, vivemos o presente de uma fé que é já fé experimentada e vivida em muitas das escolhas que pautam o “aqui e agora” da nossa juventude. Muitas são as vozes que exigem dos jovens: que deviam ter coragem, que deviam ter iniciativa, que deviam estar mais atentos e ser mais participativos em algumas ações pastorais ou... que não deviam meter-se tanto nas coisas que os adultos já fazem há tantos anos... Mas, não será desproporcional toda esta exigência? Que jovens temos na Igreja? Serão eles pessoas sem outros interesses na vida ou sem mais nada que fazer? Não! São cristãos que ousam anunciar com desassombro a Esperança em Jesus Cristo apesar das mil ofertas juvenis que a sociedade oferece. São cristãos que reconhecem a alegria da fé e que não deixam de manifestar a sua relação com Cristo através da sua juventude. São cristãos que ajudam a Igreja a manter a sua jovialidade e a perseverar na missão do anúncio do Evangelho.
Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.
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