MAR - ABR / 2020
OS FUNDAMENTOS DA MISSÃO: ORAÇÃO, TESTEMUNHO E PARTILHA
Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 75 | Bimestral 1,00 €
“Entregar-se ao serviço de Deus e dos irmãos – esta é a finalidade da nossa vida em resposta aos desafios que Deus nos propõem, à missão que nos confia e ao caminho de santidade que nos apresenta.” Diogo Silva Págs. 2-3
NO SILÊNCIO DAS ONDAS DO MAR! “O som das ondas a rebentarem na praia transforma-se em condição de possibilidade para nos deixarmos habitar pelo silêncio no qual escutamos a voz que realmente importa: a voz de Deus!” Pedro Joaquim Antunes Pág. 10
EDITORIAL
ENTREGAR-SE… E SER MISSÃO! Missão rima com entrega. Não na fonia das palavras, mas na poesia da vida daqueles que respondem com um Sim convicto, apaixonado e comprometido ao chamamento do Senhor. Na verdade, na missão que o batismo inscreve em nós, joga-se a vida toda, a amplitude de todas as suas múltiplas dimensões e a profundidade de todos os sonhos e jornadas. Não basta a entrega de uma porção do nosso tempo; é muito pobre e muito pouco um dom que se faz serviço pontualmente, nesta ou naquela ocasião. A missão traz em si a urgência da radicalidade da entrega, do serviço fiel e entusiasmado a Deus e aos irmãos. Por essa razão, a missão fundamenta-se nos recantos da oração, porque é a partir do encontro com Cristo Jesus, no aconchego da sua intimidade, a que os tempos fortes da Quaresma e Páscoa nos desafiam, que cada um se descobre missionário do amor e da esperança e se sente “atirado” a escrever esta mesma atitude com palavras e gestos de festa nas páginas de outros corações e nas palmas de outras mãos! Por isso, a missão concretiza-se no testemunho e na partilha… a partilha da vida inteira, e não de pedaços de momentos soltos, desprovidos de musicalidade e sentido. O testemunho e a partilha têm de implicar a inteireza do que somos, uma vida totalmente penhorada nos braços da compaixão, da misericórdia e dos afetos, ancorada no imperativo de se dar e ser para o outro sinal de alegria e espaço de descanso, de cura e de paz! É precisamente a esta ousadia que nos desafia o texto Visão, recordando-nos que é pela entrega que podemos ser missão e percorrer a beleza dos caminhos de santidade a que Deus nos interpela, qualquer que seja a nossa opção de vida. Também nos nossos Seminários, na vivência quotidiana e através das suas inúmeras iniciativas, se procuram reescrever os versos da entrega, pois, afinal, a vocação é a poesia que embala e anima a vida e reinventa as novas rimas da esperança que queremos continuar a semear, a escrever e a cantar em cada coração!
VISÃO
“OS FUNDAMENTOS DA MISSÃO: ORAÇÃO, TESTEMU Diogo Silva
A missão é algo muito pessoal; não é algo que corresponde aos outros, mas sim que é confiado por Deus a cada um e só cada um pode cumprir, partindo, porém, rumo a um destino comum, a santidade! Como refere o título, são três os fundamentos da missão. A oração na missão: “Tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, comecando a anunciar a palavra de Deus com desassombro” (At 4, 31). A oração é o princípio da missão. É no encontro pessoal com Deus que recebemos a sua mensagem e acolhemos a sua vontade para a nossa vida. Fortalecer a fé é fundamental, pois não podemos realizar a missão a nós confiada de maneira leviana e descomprometida; é preciso acreditar e confiar em Deus que nos escolheu, a cada um. A fé urge tanto em nossos corações, mesmo sem sequer imaginarmos, que só o percebemos quando descobrimos 2
que estamos a seguir na direção errada há muito tempo e teremos de fazer o dobro do caminho para corrigir o erro. A missão é um sim para a vida e exige o compromisso de cada um, constituindo o caminho para a santidade. Como o Papa Francisco nos recorda na “Gaudete et exultate”, Exortação Apostólica sobre a chamada à santidade no mundo atual, “uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quanto Deus colocou nele de muito pessoal (cf. 1 Cor 12, 7)”. O testemunho na missão: “Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus Cristo, e uma grande graça operava em todos eles”
NHO E PARTILHA”
(At 4, 33). Aqui se explica a importância de viver a fé. A nossa fé só pode ser testemunhada através das nossas obras; o nosso próximo só vai aderir à nossa proposta se a nossa fé for palpável através daquilo que realizamos para com o outro e só se essa mesma fé for tão forte que convença, apaixone e prenda o olhar de cada irmão. Não pode simplesmente ser algo adorável em cima de um altar, algo que fique bonito! E quem melhor que os jovens para o fazer, com o seu ímpeto de viver, com a sua alegria de realizar. Como o Papa Francisco procurar interpelar na “Christus Vivit”, Exortação Apostólica aos jovens e a todo o povo de Deus, “jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não fiqueis a observar a vida da sacada. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante dum visor. E tão-pouco vos reduzais ao triste espetáculo dum veículo abandonado. Não sejais carros estacionados, mas deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Ainda que vos enganeis, arriscai. Não sobrevivais com a alma anestesiada, nem olheis o mundo como se fôsseis turistas. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri as portas da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes do tempo.” A partilha na missão: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia mas entre eles tudo era comum” (At 4, 32). Com a fé vivida, a missão faz sentido, mas já não faz sentido só para nós; torna-se como um remoinho, repleto de um campo magnético que é o amor de Deus, e que em conjunto atraem mais e mais, não só os que se identificam mas também os que estranham, os que só querem dar uma olhada de longe. Mas, atenção, a missão passa a ser exemplo, mas não pode ser O exemplo, pois a sua vivência tem que ser pessoal. E isto pode parecer pleno e suficiente, mas Deus ainda nos pede mais… Que possamos acolher e contagiar os
que estão nas periferias e aqueles que querem caminhar e viver, mas as amarras do passado não lhes permitem ou facilitam. Como exorta o Papa Francisco na “Christus Vivit”, já antes citada, “queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi «atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós.”. Entregar-se ao serviço de Deus e dos irmãos – esta é a finalidade da nossa vida em resposta aos desafios que Deus nos propõem, à missão que nos confia e ao caminho de santidade que nos apresenta. Agora que viveste, experienciaste, sentiste e partilhaste, ajuda com isso os que mais precisam, o outro, o próximo, ou melhor dizendo, aqueles aos quais o teu bom dia irá fazer a diferença!
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ARTE
NA CIDADE DE LISTRA Luís da Silva Pereira
O texto que hoje nos é proposto para reflexão encontra-se nos Actos dos Apóstolos, cap. 4, 23-37. Aí se conta que S. Pedro e S. João, depois de libertados da cadeia, foram ter com os seus irmãos na fé, tendo todos um só coração e uma só alma. Por isso mesmo, um levita a quem os apóstolos chamaram Barnabé, vendeu uma terra que possuía e depositou a importância da venda aos pés dos apóstolos. Foi este Barnabé que apresentou S. Paulo aos apóstolos. Trabalharam juntos vários anos, anunciando a palavra de Deus. Numa dessas missões, na cidade de Listra (Actos, 14, 8-18), S. Paulo curou um coxo de nascença. Vendo o milagre, os habitantes da cidade julgaram que S. Paulo era o deus Mercúrio e S. Barnabé, Zeus, e quiseram oferecer-lhes um sacrifício. A pintura que vamos comentar e que ilustra esse curioso episódio é do grande Rafael Sanzio, um dos maiores artistas do Renascimento italiano. Rafael nasceu em Urbino, a 6.4.1483 e faleceu em Roma, a 6.4.1520. Foi não apenas um grandíssimo pintor, de estilo suavíssimo e harmonioso, mas também um notável arquitecto. A obra que vamos comen-
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tar, de grandes dimensões, foi feita como cartão ou modelo para uma das dez tapeçarias encomendadas pelo Papa Leão X para a Capela Sistina. A pintura segue com fidelidade o essencial do texto dos Actos que narra o sucedido na cidade de Listra. Podemos observar, do nosso lado esquerdo, S. Paulo, à frente de S. Barnabé, rasgando a túnica em sinal de indignada reprovação por quererem oferecer-lhes um sacrifício. “Ao terem conhecimento disso, os apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as suas túnicas e precipitaram-se para a multidão, gritando: ‘amigos, que fazeis? Também nós somos homens da mesma condição que vós”. No centro da pintura mostra-se um touro prestes a ser degolado; outro encontra-se no meio da multidão, do nosso lado direito; do nosso lado esquerdo podemos ver um carneiro que os sacerdotes tinham igualmente trazido para o sacrifício. O pormenor dos homens com grinaldas na cabeça segue ainda a narrativa dos Actos: “Então os sacerdotes de Zeus trouxeram touros e grinaldas”. O coxo miraculado, com a perna à mostra, encontra-se logo atrás do homem que subjuga o boi pelos cornos.
Com as mãos postas, em sinal de gratidão, olha para os apóstolos e é olhado com curiosidade por um homem que para ele se inclina, querendo observar bem a perna curada. As muletas encontram-se caídas no chão, significando que já não são precisas. Ao pé de S. Paulo vemos duas crianças. Uma delas toca flauta dupla e a outra, com o cotovelo apoiado no altar, segura uma caixa que deverá conter incenso para o sacrifício. Eram elementos próprios do ritual. Como os habitantes de Listra pensavam que S. Paulo era o deus Hermes, Rafael não se esqueceu de o pintar. É aquela estátua, ao fundo, em cima do pedestal. Sabemos que é Hermes (ou Mercúrio, entre os romanos) porque tem um chapéu de abas largas, o pétaso, e empunha o seu atributo principal, o caduceu, vara à volta da qual se entrelaçam duas serpentes e é adornada com asas na parte superior. Calçava também sandálias aladas, porque era o mensageiro de Zeus. Talvez por esse motivo, os habitantes de Listra tenham pensado que ele era S. Paulo, por ser o apóstolo que vinha anunciar “o Deus vivo que fez o Céu, a Terra, o mar e tudo quanto neles se encontra” (v.16).
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SEMINÁRIO MENOR
UM TESTEMUNHO QUE ESTIMULA E ANIMA SEMINÁRIO MENOR RECEBEU VISITA DOS PÁROCOS Simão Pedro, 9º ano
No passado dia 22 de janeiro, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, realizou-se, como é habitual, o encontro anual dos párocos dos vários seminaristas, com o intuito de assegurar a estes últimos um melhor acompanhamento no seu percurso vocacional, na certeza de que o testemunho de cada pároco é um importante estímulo e fonte de ânimo para aqueles que, sendo mais jovens, se questionam perante o chamamento do Senhor e procuram discernir se o sacerdócio é o caminho a percorrer rumo à felicidade e à realização pessoal. Deste modo, após o acolhimento, logo pela manhã, por parte dos 6
sacerdotes que compõem a Equipa Formadora do Seminário, o encontro iniciou-se no espaço da Capela Cheia de Graça, com a oração de Intermédias. Após a oração da Liturgia das Horas, os sacerdotes realizaram uma reunião, um importante tempo de diálogo e reflexão, onde debateram e trabalharam várias questões como a importância dos seminaristas e do seu testemunho na vida de uma paróquia, como os ajudar neste seu caminho de discernimento vocacional e como melhorar a relação de cada pároco com os seminaristas e o Seminário, acompanhando-os de forma mais atenta e mais próxima e procuran-
do conhecer melhor a realidade e o contexto em que vivem. Após a reunião, realizou-se o almoço, onde, para além dos párocos e formadores, também se encontraram os seminaristas que, entretanto, chegaram das aulas. Este foi um momento enriquecedor e particularmente alegre, de verdadeira partilha e especial convívio, onde todos tiveram oportunidade de conversar, contar histórias e trocar experiências e pareceres. Assim, enquanto uns aproveitaram para continuar a conversa da manhã com a equipa formadora, outros procuraram falar ou com o seu respetivo seminarista ou com outros. Desta forma, este foi um almoço que permitiu, não só, um aprofundar das relações entre cada seminarista e o seu pároco, mas também se revelou uma oportunidade para estes jovens conhecerem outros sacerdotes e aquilo que os seus colegas seminaristas fazem nas suas comunidades e como as procuram servir. Depois do almoço, e após os agradecimentos endereçados a todos pelo Reitor do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, o Pe. Mário Martins, chegou ao fim mais um encontro de párocos, que, como já antes referido, sempre procura promover e estimular a relação entre estes, os seminaristas, as respetivas paróquias e toda a comunidade do Seminário.
SEMINÁRIO MENOR
CRISES, FÉ E (PRO)VOCAÇÃO SEXTO ENCONTRO DE PRÉ-SEMINÁRIO JOVEM João Pinto, 10º ano
No passado dia 15 de fevereiro, sábado, realizou-se o sexto encontro de Pré-Seminário Jovem, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição. O tema desta jornada foram as crises interiores, nas quais se inserem as crises vocacionais, e a necessidade de agir, tantas vezes de forma corajosa e provocadora, para as vencer. O dia iniciou-se com os habituais procedimentos, seguindo-se a primeira dinâmica, na qual cada pré-seminarista se deparou com um cenário bélico. Este procurou orientar os jovens a fim de descobrirem a nação ou continente onde irão atracar com o seu amigo “J”, dando continuidade à viagem que tem vindo a ser traçada desde o início do ano pastoral. Ao som do Hino da Síria, os jovens, repartidos em dois grupos, tinham a missão de defender o seu território, no caso de um dos grupos, e capturarem um bem da força rival, no caso do outro grupo. Ainda sem saber qual seria o país de paragem, os jovens lançaram vários palpites, de vários países onde surgem conflitos e guerras. Depois de descoberto o ponto de chegada, a Síria, foi tempo de “incarnar” a cultura local, bastante diferente da cultura ocidental cristã. Seguidamente, os jovens visualizaram uma reportagem sobre a guerra na Síria e as condições desumanas desta região do globo. Este levou cada um a inquirir-se e a confrontar-
-se com as indubitáveis crises que um caminho em ordem à felicidade, isto é, a vocação, implica. Posteriormente, seguiu-se uma conversa com Aahamad Sib, um refugiado sírio que em 2013 teve de abandonar o seu país, permanecendo em Portugal depois de quase quatro anos de vida difícil e percursos errantes, residindo atualmente em Braga. Este, a partir da sua experiência pessoal, ajudou os jovens a melhor interpretar e a procurar vencer as errâncias da vida e a necessidade intrínseca de superação, para um crescimento e, consequente, realização pessoal. No ponto mais alto do dia, a Eucaristia, presidida pelo Pe. Mário Martins, Reitor do Seminário, cada adolescente foi impelido a discernir as suas crises e divisões internas para “viver de forma esclarecida a vocação
a que o Senhor o chama”. O Evangelho (Lc 4, 21-30) relatava a passagem em que Jesus é mal recebido pelas gentes de Nazaré, lembrando-nos que esse mau acolhimento pode ser um entrave para cada jovem. O dia terminou com o lanche final. Depois deste momento, cada jovem partiu para as suas terras, na esperança de novas viagens, novos rumos e novos desafios.
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SEMINÁRIO MAIOR
LUZ E FAMÍLIA ENCONTRO COM AS FAMÍLIAS João Conde, 4º Ano
No passado mês de janeiro, os Seminários Arquidiocesanos de Braga, não querendo quebrar tradições, realizaram o seu memorável Encontro com as Famílias. Aquecidos pelo belo sol de inverno de uma tarde que já caminhava para o seu término, seminaristas, familiares e formadores reuniram-se para um caloroso recital, que prometia deleitar a todos de forma extraordinária. Vindo do litoral, da nossa Arquidiocese, o Coro Capela Marta, fazendo jus aos seus setenta anos de existência, brindou todos os presentes com belas peças musicais, referentes à quadra natalícia, ora de composição própria, ora de conhecidas composições de Natal. Encantados e deliciados os ouvidos dos presentes, até dos mais irrequietos, foi a vez de dar ouvidos a outra mensagem. Durante este evento, o Sr. D. Nuno Almeida, bispo auxiliar da nossa Arquidiocese, enriqueceu-nos com as suas belas palavras, lembrando-nos de que “a luz do presépio deve chegar ao 8
lar, porque uma família missionária guia-se por uma única estrela”. Deste modo, “cada um de nós deve irradiar amor na vida familiar, numa atitude de alegria em família”. Com isto, servindo-se de uma expressão do Papa Francisco, referiu que “o melhor presente é estar presente”, por inteiro, tendo presente a verdadeira impor-
vindos do Oriente, rumo a Belém, guiados por uma estrela, ao encontro do Menino. Ora, durante a homilia, foi-nos dito que “é necessário seguir a verdadeira luz, para chegar ao encontro de Jesus, adorando-O e prostrando-se diante d’Ele. Esta postura dever ser tomada em modo de gratidão a Jesus, que nos quer como somos, com as nossas fragilidades e dons”. Logo, “acolher os dons gratuitos de Deus é saber agradecer. Só um coração recetivo ao amor poderá acolher as dádivas de Deus, sem se enganar nunca”. Assim, fortalecidos espiritualmente e para colmatar este fervoroso encontro, partilhamos emoções e fortalecemos relações num agradável e reconfortante jantar, no qual se
tância da família para evitar que possamos cair num relativismo familiar. Terminado o recital, foi tempo de celebrarmos os mistérios de Cristo na Eucaristia, unidos pelo amor no corpo místico de Jesus. Esta celebração foi presidida pelo Sr. Bispo, na comemoração da viagem dos magos,
ouviram risos, palavras de contentamento e felicidade à mistura. É sendo relação que a possibilidade se torna real, se concretiza e dá consistência ao que pode afirmar-se. Querer e ser família abre o coração ao amor, à partilha e à relação. Aqui, todos somos e seremos família.
CELEBRAÇÃO PENITENCIAL João Pedro Santos, 3º ano
«Procuro o trânsito de um homem que repousa em ti Como se desvia um homem do seu coração para seguir viagem Como deixa ficar tudo e acrescenta à sua herança» Partir de um lugar para outro é o quotidiano que o ser humano vive e experiencia, numa azáfama contínua de escolhas que tem de fazer instantaneamente. No entanto, muitas dessas escolhas levam-nos a fardos pesados que nos distanciam de um caminho de aproximação a um Deus que se manifestou de forma perfeita. Foi com base nas palavras do poeta Daniel Faria que a comunidade do Seminário Conciliar percorreu um caminho de escuta no inaudito do ser, para que, na celebração penitencial, pudéssemos, de novo, encontrarmo-nos com Aquele que se manifestou e se manifesta na humanidade. No entanto, esta caminhada principiou com um filme, sobre o qual fomos convidados a fazer uma nova hermenêutica refletida na nossa existência, como em todas as artes, que podem ser espaços empreendedores ou, como dizia o filósofo, «levar a pensar o não pensado». Foi através de um filme que fomos interpelados a refletir sobre o modo como se estabelecem as nossas relações e, de que forma, enquanto seres relacionais, conseguimos compreender a fragi-
lidade do outro e, ao mesmo tempo, a diferença. A grande experiência de Deus não se faz numa fuga à realidade. Pelo contrário, é a partir da nossa entrega, na partilha do dom de si mesmo, que podemos encontrar uma maior experiência do que é o amor de Deus. Tendo em conta esta temática, a Lectio Divina, como espaço de oração, foi um comungar desta mesma realidade, em que o nosso olhar foi alertado, assim como o nosso sentir, à diferença, que é própria da experiência e da manifestação de Deus. Como diz o poeta: «a graça é paciência/ a mi-
sericórdia que se apressa./ A um leve movimento do amor/ a um murmúrio ainda que inaudível da nascente/ ela antecipa-se/ ao erro do que erra/ e ao choro do que chora.» Neste contexto penitencial, percorrer um caminho de conversão e saída para o encontro com o próximo poderia ser considerado algo simples, mas, o facto de ter de deixar tudo para acrescentar algo maior e superior à nossa herança, pode não ser tão fácil quanto as palavras nos transmitem, pois é árduo desprendermo-nos de algo que nos traz recordações, confiança ou, até mesmo, segurança. 9
SEMINÁRIO MAIOR
NO SILÊNCIO DAS ONDAS DO MAR! RETIRO DE PREPARAÇÃO PARA A ORDENAÇÃO DIACONAL Pedro Joaquim Antunes, 6º Ano
A nossa vida oferece-nos, por vezes, experiências paradoxais. Uma dessas experiências podemos vivê-la junto ao mar. O mar, por estes dias, apresenta-se inquieto, agitado pela rebentação de incontáveis ondas que reproduzem a expressão sonora dessa inquietação. O vento também sopra intensamente. Contudo, é precisamente essa agitação, esse som contínuo e permanente que nos permite apurar o silêncio da nossa vida. Por vezes, necessitamos colocar a nossa vida em perspetiva, de forma a podermos valorizar o que realmente importa e a recentrarmo-nos no essencial. O que é verdadeiramente prioritário na nossa vida? Em quem, e em que coisas colocamos realmente o nosso coração? Foi esta mudança de perspetiva que levou Zaqueu, o cobrador de impostos, ao encontro com 10
Jesus. Deus revelou-se a Zaqueu, porque este ousou mudar a sua perspetiva, ousou ir ao encontro, subindo ao sicómoro (Cf. Lc 19, 1-10). Neste episódio, reconhecemos a persistência e a resiliência de quem queria ver Jesus que, por sua vez, queria ser visto, encontrado por Zaqueu. Foi nesta dialética entre este duplo olhar que os seminaristas Miguel Rodrigues, Paulo Pereira e Pedro Antunes realizaram o seu retiro de preparação para o Diaconado e que o seminarista Luís Martins realizou o retiro de preparação para a Instituição de Leitor. O local escolhido para viver estes momentos de preparação, oração e silêncio, foi Ílhavo, no Centro de Espiritualidade Jean Gailhac. Ficou em nós um sentimento de profunda gratidão às Irmãs Religiosas do Sagrado Coração de Maria, pelo fraterno aco-
lhimento e pela dedicação, ao longo da semana. Na última semana de janeiro, as reflexões de Frei Luís de Oliveira orientaram a nossa atenção para alguns aspetos fundamentais da nossa vida cristã, como o amor a Cristo, mas também a aspetos relacionados com a vocação a que nos sentimos chamados. Nessa linha, uma postura de serviço, humildade, escuta e atenção pelo próximo, fundada na vivência da alegria e também da dor de Jesus poderá fazer toda a diferença no nosso ministério. Por outras palavras, precisamos de deixar que seja a voz de Deus a ecoar no mais fundo do nosso ser, através de uma escolha livre e comprometida que requer sempre um caminho de discernimento espiritual. Como refere o sacerdote Henri J. M. Nouwen «para escutar com obediência a voz de Deus, é necessário desenvolver uma resistência a todas as outras vozes que competem pela nossa atenção». O som das ondas a rebentarem na praia transforma-se, por isso, em condição de possibilidade para nos deixarmos habitar pelo silêncio no qual escutamos a voz que realmente importa: a voz de Deus!
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
PROJETO ICTHUS
UMA CAMINHADA QUE A PASTORAL UNIVERSITÁRIA CONTINUA A PROPOR AOS UNIVERSITÁRIOS Francisco Claudino, 2º ano, Engenharia Informática, Universidade do Minho
O Projeto ICTHUS, uma iniciativa da Pastoral Universitária de Braga que conta já com a sua 2ª edição, é um projeto que desafia os jovens universitários a fazer uma caminhada espiritual, levando-nos a refletir sobre a vida de Jesus Cristo, os seus ensinamentos, os milagres praticados e as suas boas e misericordiosas ações. Um percurso de crescimento cristão que culminará com uma viagem à Terra Santa, local onde confrontaremos a vida de Jesus Cristo com as pedras vivas da história! Esta ano académico decidi fazer parte do Projeto ICTHUS, pois vi nele uma oportunidade para me tornar uma pessoa melhor, para procurar orientações, inspirando-me na vida de Cristo na Terra. Entrei, pois, com o objetivo de desenvolver a minha fé e aprofundar os meus conhecimentos sobre a vinda de Jesus e o seu significado, procurando desta forma valorizar ainda mais na minha vida os seus atos de bondade, caridade e misericórdia e o sofrimento ao qual Jesus se sujeitou e se submeteu para nos salvar. O plano formativo desta caminhada convida-nos a uma sessão de formação semanal, onde abordamos diversos assuntos. Começamos por conhecer as Religiões e as suas principais diferenças e semelhanças, bem como as figuras mais importantes da história destas religiões. Refletimos também sobre o conflito
israelo-palestino ao longo dos anos, os avanços e recuos dos territórios israelitas e palestinianos e os motivos pelos quais este conflito ainda ocorre nos dias de hoje. À medida que nos fomos familiarizando com o contexto histórico-cultural da Terra Santa, passamos para o estágio seguinte, a reflexão e partilha de assuntos de carácter mais pessoal e espiritual, nos quais vamos sendo confrontados com questões que, no dia a dia, não colocamos e não nos debruçamos sobre elas de uma forma séria e profunda. Este percurso formativo coloca-nos diante de per-
guntas como as seguintes: “Quem é Deus para nós?”, “De que forma vemos a Igreja?”, “O que nos diz a figura de Jesus Cristo?”. Ainda é muito cedo para perceber o impacto que este projeto vai ter na minha vida, mas nesta fase já posso dizer que tem valido a pena este caminho. Tanto eu, como os jovens universitários que assumiram este desafio de reflexão profunda da fé cristã, estamos expectantes por saber como será o desenrolar desta nossa caminhada espiritual, que certamente não terminará, nem pode terminar, em Belém ou em Jerusalém. 11
PASTORAL DE JOVENS
UMA JUVENTUDE PEREGRINA E À PROCURA DE SÍMBOLOS Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens
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Muitos são os jovens que têm os olhos postos no calendário de 2022. As Jornadas Mundiais da Juventude serão, para eles, um momento alto de partilha de experiências com outros jovens e (quem sabe!) até será o momento de conhecer de mais perto o Papa Francisco. Contudo, a juventude não é marcada apenas pela procura de grandes experiências emocionais, em que a adrenalina parece não conhecer limites. Os nossos jovens são, antes de tudo, cristãos – homens e mulheres que vivem e procuram experienciar o encontro com Cristo em todos os momentos e de todas as formas. Por isso mesmo, o calendário de 2022 não é apenas referência por causa de um grande encontro jovem. Antes, é uma etapa no peregrinar, no caminho que se trilha em comunhão com a Igreja. Neste mês de abril, os jovens dão mais um passo nesta caminhada de encontro: vão a Roma à procura dos símbolos das Jornadas. Não se trata de, simplesmente, recebê-los, mas de ir, procurar e, compreendendo-os, acolhê-los, regressando com eles – física e espiritualmente – para casa. Os jovens ousam sair de casa, não
para ver o Papa, nem para fazer mais uma viagem pela Europa. Eles partem de todas as Dioceses do país em busca de uma linguagem nova, uma linguagem simbólica que faça sentido e dê novo brilho à vida cristã que desejam experienciar na fé e na alegria. Estes jovens partilharão, deste modo, a alegria da sua juventude, prestando um serviço a todos, naquele que é por excelência o dia dos jovens – o Domingo de Ramos – dia em que toda a Arquidiocese celebrará o Dia Mundial da Juventude quer ao nível paroquial quer ao nível arquidiocesano! Este será mais do que um encontro de jovens, será um encontro cristão em que a alegria da comunhão com Cristo transfigurará a nossa linguagem, os nossos gestos e o nosso quotidiano. Os símbolos das Jornadas serão acolhidos, não como estandartes de uma festa maior, mas como símbolos de fé que auxiliam no peregrinar. A Cruz e o ícone de Maria serão recebidos em Portugal, não para “passearem” pelas Dioceses, mas para que, com eles, os jovens peregrinem rumo a uma maior comunhão, ou seja, a uma maior proximidade com Deus e com os irmãos.
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