MAR - ABR / 2017
A ALEGRIA DA RESSURREIÇÃO “Deixemos que a inexplicável alegria de Maria pela ressurreição do seu Filho nos contagie e, como o fogo da Páscoa, se espalhe rapidamente por toda a Igreja”.
Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXII - 6ª Série | Nº 57 | Bimestral 1,00 €
Simão Faria Págs. 2-3
ROTA – REFLETIR, ORAR E TRANSFORMAR NA ACADEMIA “O caminho espiritual só se faz cultivando este silêncio paciente para escutar a Sua voz” Sérgio Torres Pág. 11
EDITORIAL
RESSURREIÇÃO, A VOZ DA ESPERANÇA «Cristo Ressuscitou!» O grito de entusiasmo da Igreja nascente dá um sentido novo à vida e à História. Até este momento, vínhamos afirmando o desejo de imortalidade e a possibilidade de ressurreição dos mortos, como esperança para a condição humana, como exigência de uma antropologia marcada pela experiência, pela vida e reflexão teológica do povo bíblico. A partir do acontecimento da ressurreição de Cristo, todas as questões encontram uma resposta, a única resposta. Logo, se acreditamos em Jesus Cristo, nele poderemos encontrar as razões de uma esperança que se transforma em certeza, alimentada e alicerçada na fé: somos destinados à vida eterna. Porém, «se Cristo não ressuscitou… somos os mais miseráveis de todos os homens!» – dizia S. Paulo (1 Cor 15, 17-20). Realmente, a vida de Jesus não acaba com a sua morte. O relato evangélico prossegue dizendo que, na madrugada do domingo, algumas mulheres foram ao sepulcro e o encontraram vazio. Também os discípulos, incrédulos num primeiro momento, são levados a acreditar quando Jesus lhes aparece. Quem condenara Jesus, pensando que o fazia calar, enganou-se. O termo «aparição» pretende sublinhar o carácter concreto da cena: Jesus Cristo manifesta-se com o seu corpo ressuscitado, e é assim como ele pode ser percebido. Se os Evangelhos contaram a sua história, não foi para exaltar a figura de um herói, que soube aceitar a morte para permanecer fiel à sua missão, mas para dar a conhecer o Filho de Deus que viveu, morreu e ressuscitou pelos homens. Se fosse simplesmente a história de um mártir, teria ensinado como o homem deve comportar-se diante de Deus. Sendo, porém, o Filho de Deus, a história de Jesus mostra como Deus se coloca diante do homem. Para a fé dos primeiros cristãos, e para a Igreja de sempre, esta é a novidade de Jesus Cristo, que encontra nesta edição um grito de salvação, uma voz de esperança.
VISÃO
A ALEGRIA DA RESSURREIÇÃO Simão Faria
“Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou; não está aqui. Vede o lugar onde o tinham depositado. Ide, pois, e dizei aos seus discípulos e a Pedro: «Ele precede-vos a caminho da Galileia; lá o vereis, como vos tinha dito»” (Mc 16, 6-7). Se quiséssemos resumir numa só palavra a festa da Páscoa, com certeza a palavra seria alegria. Alegria imensa, que explode e contagia! Efetivamente, todas as passagens dos evangelhos acerca da ressurreição de Jesus relatam duas ações que se sucedem: encher-se de alegria e sair para comunicar aos outros. É este o sentimento que domina a ressurreição de Cristo: a alegria repleta de espanto, de grande surpresa, que vem de dentro e nos leva a anunciar esta boa nova aos demais. Maria, a mãe de Jesus, foi provavelmente testemunha privilegiada da Ressurreição de Cristo, tendo participado em todos os momentos essenciais do mistério pascal desde o caminho para o Calvário na Sexta-Feira Santa (cf. Jo 19, 25) até à sua presença no cenáculo, no Pentecostes (cf. Act 1, 14). Que alegria imensa terá sentido a Santíssima Virgem ao ver o seu Filho que tanto amava ressuscitado do sepulcro! Se sofreu tanto na sua morte, qual não terá sido a sua alegria ao vê-lo agora glorioso e triunfante? Como foi íntima e profunda a dor da Virgem Maria na Paixão e Morte do Seu Filho, a ponto de trespassar a sua alma, assim também foi a sua alegria na ressurreição. O papa João Paulo II, na sua Carta Encíclica “Mãe do Redentor”, refere que “Maria foi e é, sobretudo, aquela
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que é «feliz porque acreditou»: foi ela quem primeiro acreditou. O anjo tinha-lhe dito então: «Conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande... e reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim» (Lc 1, 32-33). Os acontecimentos do Calvário tinham, pouco antes, envolvido em trevas esta promessa. Contudo, mesmo junto à Cruz, não tinha desfalecido a fé de Maria. Mesmo ali, permanecia aquela que, como Abraão, «acreditou esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18)” (RM 26). Com efeito, mesmo após a deposição de Jesus no sepulcro, Maria é a única que permanece a ter viva a chama da fé, preparando-se para acolher o anúncio jubiloso e surpreendente da ressurreição. A espera vivida no Sábado Santo constitui um dos momentos mais altos da fé da Mãe do Senhor: na obscuridade que envolve o universo, ela entrega-se plenamente ao Deus da vida e, recordando as palavras do Filho, espera a realização plena das promessas divinas. Desde sexta até à manhã de domingo, a Virgem Maria não perdeu a esperança: contemplamo-la como a Senhora das Dores, mas ao mesmo tempo como Mãe cheia de esperança. O Papa Francisco, na Praça de S. Pedro, no dia 21 de abril de 2014, referiu que, “tendo passado através da experiência de morte e ressurreição do seu Filho, vistas na fé como a expressão suprema do amor de Deus, o Coração de Maria tornou-se um manancial de paz, consolação, esperança e misericórdia”. De facto, a experiência da Vir-
gem como Mãe e discípula não terminou ao pé da Cruz. Maria é chamada a dar continuidade ao mistério de Cristo na dimensão do Espírito, que se inaugura na manhã de Páscoa e tem como momento fundamental a descida do Espírito Santo, no Pentecostes. Esta vivência de Maria enriquece-se, cresce e adquire, como no Calvário (cf. Jo 19, 26-27), uma dimensão de “experiência eclesial”, quando a Mãe de Jesus se torna a Mãe de todos os homens, a Mãe da Igreja. A alegria da Virgem na Páscoa é a alegria da Igreja que exulta pelo triunfo de Cristo e encontra a cada ano, no Mistério Pascal, a fonte do seu regozijo, da sua esperança e do seu contentamento. Por esta razão, Ela é justamente chamada pela Santa Mãe Igreja “Causa Nostrae Laetitiae”, a “Causa da Nossa Alegria”. Por isso, no tempo pascal, a comunidade cristã, ao dirigir-se à Mãe do Senhor, convida-a a alegrar-se: “Regina caeli, laetare. Aleluia!”, “Rainha do céu, alegra-te. Aleluia!”. Esta oração capta toda a essência da alegria da Páscoa ao deixar-nos contemplar a alegria da Virgem Maria na ressurreição de Jesus e ao prolongar no tempo o “alegra-te” que lhe fora dirigido pelo Anjo na anunciação (cf. Lc 1, 28), para que se tornasse “causa de júbilo” para a humanidade inteira. Deixemos que a inexplicável alegria de Maria pela ressurreição do seu Filho nos contagie e, como o fogo da Páscoa, se espalhe rapidamente por toda a Igreja. Que, a exemplo de Maria, o nosso encontro com Jesus Ressuscitado nos encha de alegria, daquela alegria profunda que só Deus nos pode dar.
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ARTE
ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA (4) RESSURREIÇÃO DE JESUS Luís da Silva Pereira
O quadro que vamos comentar foi pintado em 1529 e é atribuído ao célebre pintor Frei Carlos, cuja data de nascimento desconhecemos, mas que morreu em 1540. Era de origem flamenga. Terá estudado em Bruges e entrou para a Ordem de S. Jerónimo, em 1517, no convento do Espinheiro, perto de Évora. É considerado um dos mais importantes pintores quinhentistas portugueses. Além de trabalhar para o Convento do Espinheiro, pintou igualmente para o Mosteiro de Belém e de Santa Marinha da Costa, em Guimarães. É um pintor que já domina com perfeição a técnica da perspectiva e se caracteriza por um grande realismo narrativo e por um intenso colorismo. Escolhi esta pintura por combinar o tema da ressurreição de Cristo, uma das alegrias de Nossa Senhora, com o tema da visita de Cristo a sua mãe. É uma iconografia rara. E é compreensível que assim seja. Com efeito, nenhum dos evangelhos canónicos nem dos apócrifos relata este episódio. No entanto, também desde os tempos mais antigos que o povo cristão acreditou que a primeira pessoa a quem Cristo apareceu depois de ressuscitar foi Nossa Senhora. É inimaginável que o não tivesse feito,
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que tivesse aparecido a Maria Madalena, por exemplo, antes de aparecer a sua mãe. Esta pintura de Frei Carlos combina ainda um terceiro tema iconográfico, que é a descida de Cristo ao limbo, ou às regiões inferiores, para levar consigo ao paraíso os reis, os patriarcas, os profetas, Adão e Eva, enfim, todos os justos do Antigo Testamento. Podemos vê-los atrás de Cristo, ao fundo, entre os quais se distingue pela nudez e longas barbas, Adão, que está de joelhos e mãos postas, tendo a seu lado Eva. Num quadro do pintor Jorge Afonso sobre o mesmo tema, vemos Adão, ao lado de S. João Baptista, empunhando até na mão esquerda uma maçã, enquanto segura com a direita uma folha que lhe tapa o sexo. Noutras iconografias, porém, Cristo aparece sozinho, como em quadros de Guido Reni, Guercino, João de Flandres, Roger van der Weyden ou do nosso Garcia Fernandes. Captadas no momento em que chegam à casa onde se encontra a Virgem, podemos ver também um grupo de três mulheres, entre as quais se identifica Santa Maria Madalena pelo atributo da caixa que traz na mão. Uma delas bate à porta. São, obviamente, as santas mulheres
que se dirigiram ao sepulcro, na manhã de domingo, para ungirem o corpo de Cristo e o encontraram vazio. Segundo esta interpretação de Frei Carlos, elas vieram imediatamente a casa de Nossa Senhora contar-lhe a novidade, antes mesmo de Cristo aparecer a Santa Maria Madalena. Portanto, o pintor reafirma a tradição de que Cristo apareceu a Nossa Senhora antes de aparecer a qualquer outra pessoa. As figuras centrais da pintura são, obviamente, Cristo ressuscitado, de pé, nu sob o manto vermelho, segurando a cruz. Neste caso, ao contrário do que se vê noutras iconografias, a cruz não apresenta o estandarte que simboliza a vitória sobre a morte. Neste caso, Cristo não toca em sua mãe, mas há iconografias em que lhe coloca a mão no ombro, num gesto de ternura e consolação. Nossa Senhora, de joelhos, supomos que em oração, pelos livros sobre a mesa, deixa cair ainda pelo rosto algumas lágrimas. São lágrimas de tristeza condizentes com o manto negro do luto. A posição das mãos revela, ao mesmo tempo, surpresa e súbita alegria pelo aparecimento de seu filho. Repare-se que a data da pintura, 1529, se encontra inscrita na cartela, ao lado um anjo, na cornija do edifício.
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SEMINÁRIO MENOR
TOQUE DE SANTIDADE Ricardo Silva, 11.º ano
No passado dia 15 de Janeiro, os seminaristas do Seminário de Nossa Senhora da Conceição foram convidados pelo Pároco José Alves para participar na festa de Santo Amaro em Vieira do Minho. Primeiramente, participámos na Eucaristia Solene de Santo Amaro, padroeiro da freguesia de S. João da Cova, a qual foi presidida pelo Senhor D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar da Arquidiocese de Braga. Neste âmbito, D. Francisco contou-nos a história de vida de Santo Amaro, para, partindo dela, sublinhar a importância da vocação junto de todos os presentes, sob o lema “illum oportet crescere me autem minui” (“Que Ele cresça e eu diminua”) de S. João Batista, como expressão maior da necessidade de a vocação estar aberta ao serviço. Após a Eucaristia, foi-nos oferecido pelo Centro Social Paroquial Ribeira-Cávado o almoço, durante o qual pudemos contar com a companhia do Senhor D. Francisco, do Pároco José Alves, do Sr. Presidente da Câmara, António Cardoso, e de outras entidades oficiais. Seguidamente, o Senhor Padre José Alves mostrou-nos as instalações do Centro Social, falou-nos um pouco acerca das origens do mesmo Centro e do quotidiano dos seus utentes. A festa de Santo Amaro continuou de tarde, animada pelos tocadores 6
de Concertinas. Depois de disfrutarmos do ambiente, fomos passear até à Barragem de Salamonde e apreciar a bela paisagem circundante. Para finalizar esta visita, foi proporcionado a todos os semi-
naristas e formadores um lanche onde tiveram especial destaque as especialidades da gastronomia local. Assim findou uma incursão memorável por terras de Vieira do Minho.
À DESCOBERTA DA VOCAÇÃO… Diogo Silva, 11.º ano
Foi com alegria e entusiasmo que no dia 28 de Fevereiro de 2017 teve lugar, na Comunidade do Seminário Nossa Senhora da Conceição, mais um encontro do Pré-Seminário Jovem. A alegria da continuidade de um caminho de descoberta levou a que 22 jovens de diferentes arciprestados rumassem a Braga para passar o dia no referido Seminário. O encontro iniciou com o habitual acolhimento: Hino do Pré-Seminário, atualização de dados, inscrições para os que frequentam o encontro pela primeira vez e a atividade inicial: cada um teria de encontrar uma pista escondida. Seguiu-se a introdução do Pe. Rui Sousa, que recordou antes de mais o tema do ano: “A Alegria da Descoberta” e apresentou o respetivo percurso temático: Dúvidas, Atenção e Escuta. Foi igualmente dado a conhecer o novo passo do percurso: a Vocação, que correspondeu ao tema do encontro. Após a introdução, teve lugar a dinâmica Pro Vocação, onde foram refletidos 3 temas, a saber: “Entre sonhos e ilusões”, “Confiar e Arriscar” e “Ser Chamado e Enviado”. A partir destes temas desenvolveram-se subtemas como a capacidade de sonhar e os desejos; o papel dos desejos na construção da pessoa; os sonhos; os desejos e as ilusões; das dúvidas à confiança; arriscar em função do que se deseja; arriscar porque se confia; chamados à felicidade; seguir Jesus:
vocação à vida; o exemplo de vocação no chamamento dos primeiros discípulos; o encontro com Jesus como abertura ao projeto de felicidade e as diferentes vocações: modos diversos de ser feliz. Terminada a dinâmica Pro Vocação, teve início um peddy paper, denominado “Sinais Vocacionais”, onde exemplos de personagens conhecidas da Igreja ajudaram os pré-seminaristas a perceber melhor o mistério da entrega e confiança em Deus. A esta atividade seguiram-se testemunhos de diferentes vocações. O Cónego Manuel Joaquim falou do Sacerdócio, a Irmã Célia da vida religiosa e o Casal Manuela e Carlos do Matrimónio. Todos os participantes foram unânimes em considerar que a felicidade e a entrega da vida a Deus devem guiar a nossa vida.
Depois de escutar atentamente os testemunhos foi hora de revigorar o corpo através do alimento e por isso deu-se início ao almoço, que nos deu forças para o momento de Desporto (jogo de futebol) e outros Jogos (na sala de jogos). Como término do dia foi celebrada a Eucaristia com o habitual compromisso, na seta da caminhada, até ao próximo encontro. De seguida, juntámo-nos para o Lanche com a habitual entrega do “Voz de Esperança” e do convite para a próxima “visita à casa”, a realizar-se no dia 18 de Fevereiro. Este encontro não só ficou marcado pelo início para uns e continuidade para outros de uma caminhada pessoal, como veio encher de alegria e rejuvenescer a comunidade do Seminário.
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SEMINÁRIO MAIOR
ENCONTRO NATALÍCIO DAS FAMÍLIAS Carlos Leme, 6.º ano de Teologia
No passado dia 8 de janeiro de 2017, dia da Epifania, realizou-se na comunidade dos seminários de Braga a tradicional festa de Natal das famílias, convívio que habitualmente costuma realizar-se aquando da festa litúrgica da Sagrada Família, mas que este ano, por motivos de calendário, foi alterado, passando para o dia de Reis. Neste contexto, a festa teve um momento cultural, o qual contou com a presença e atuação do Coro da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde, coordenado por Júlio Dinis e dirigido por Ilídio Nunes. O espetáculo desenvolveu-se em duas partes; na primeira foram interpretados cânticos subordinados ao tema da quadra que se está a viver; a segunda, seguiu a proposta do ano mariano e fé contemplada, dedicada a Maria. 8
A meio do espetáculo, o seminarista Filipe Alves declamou um poema da autora mística Hildgarde Von Bingen, intitulado “Ave, generosa”. No momento derradeiro da atuação todos os presentes foram convidados a, juntamente com o coro, entoar o cântico dos Reis do compositor bracarense Fernandes da Silva, intitulado “Uns Magos vindos do além”. Findo o momento musical, tomou a palavra o Sr. Arcebispo. Este, inspirado no discurso do Papa Francisco por ocasião dos cumprimentos de Natal à Cúria romana, abordou e apresentou as categorias “individualidade”, “missionariedade”, “modernidade”, “sobriedade”, “sinodalidade” e “gradualidade”, como mote para todas as famílias da Arquidiocese bracarense em geral e para as famílias dos se-
minaristas em particular, bem como para o coro dos funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde, que se encontrava presente no palco. Acabado o momento cultural e a intervenção proferida pelo Prelado, seguiu-se a eucaristia presidida pelo Sr. D. Jorge Ortiga, o qual, no momento da homilia, exortou todas as famílias a cumprirem a sua missão na fidelidade a Cristo e, à semelhança dos Reis Magos, a colocarem-se a caminho, oferecerem-se ao Menino Deus como dádiva e a serem capazes de empreender um caminho que não o palmilhado pelas massas. Dada a bênção final, todos os presentes puderam beijar o Menino Jesus, ao mesmo tempo que o grupo de cantares do Seminário Conciliar de Braga entoava os tradicionais e populares cantares de Reis. Finalmente, todas as famílias dos seminaristas, bem como a comunidade dos seminários Maior e Menor, foram presenteadas com jantar convívio, momento em que toda a comunidade e respetivos familiares puderam confraternizar e sociabilizar.
INSTITUIÇÃO DE ACÓLITOS Manuel Torre, 5.º ano de Teologia
No passado dia 29 de Janeiro, os Seminários Arquidiocesanos de Braga regozijaram-se com a instituição de quatro seminaristas no ministério do acolitado, a saber: Fernando Carneiro de Guilhofrei (Vieira do Minho), Tiago Varanda de Refojos de Basto (Cabeceiras de Basto), Manuel Torre de Balasar (Vila do Conde / Póvoa de Varzim) e Vítor Gonçalves de Balança (Terras de Bouro). Nesse sentido, presidiu à celebração D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga, que juntamente com os párocos, outros sacerdotes, diáconos, seminaristas, família e paroquianos dos instituídos, leigos e leigas participaram nesta importante ocasião para a comunidade. Uma vez que a liturgia desse domingo incidia sobre as bem-aventuranças, D. Nuno Almeida, na homilia, chamou à atenção para o paradoxo da felicidade proposta por Jesus no
seu programa catequético do Sermão da Montanha e a proposta pela paz do nosso mundo. De igual modo, frisou a necessidade de sermos felizes e autênticos, de modo particular, nós os instituídos, a fim de que esta felicidade verdadeira e genuína marque a nossa forma de agir, de servir ao altar e de servir os nossos irmãos. Com efeito, esta instituição no ministério dos acólitos, que é um ministério laical, enquadra-se no percurso do seminarista em ordem ao sacerdócio. Os alunos do 5.º ano de Teologia, no ano dedicado ao serviço ao altar, são convidados a conformar, ainda com maior veemência e compromisso dedicado, a sua vida com o mistério insondável de amor que é a Eucaristia. A função do acólito prende-se com o serviço ao altar, auxiliando o diácono e servindo o sacerdote. Pode distribuir a sagrada comunhão como ministro extraordinário
da comunhão, levar a sagrada comunhão aos doentes e expôr o Santíssimo Sacramento, em circunstâncias extraordinárias, porém, não pode dar a bênção. Deve, portanto, procurar «conhecer o que diz respeito ao culto divino e compreender o seu significado íntimo e espiritual, de modo que, em cada dia, se ofereça a si próprio totalmente a Deus e, por sua atitude grave e respeitosa, seja para todos exemplo no templo sagrado, amando sinceramente o corpo místico de Cristo ou povo de Deus, sobretudo os fracos e os doentes» (Carta Apostólica Ministeria Quaedam, 6). Em suma, este é um serviço de amor a Jesus Eucaristia que extravasa para um serviço à comunidade. No fundo, aprender com o Mestre do serviço e da humildade a estar no meio dos irmãos como aquele que serve (cf. Lc 22, 27). 9
SEMINÁRIO MAIOR
RETIRO ESPIRITUAL DOS SEMINARISTAS DO TEMPO PROPEDÊUTICO Pedro Fraga, Ano Propedêutico
Terminada a época de exames, o tempo propedêutico teve a oportunidade de se recolher na casa de retiros de Barroselas, diocese de Viana do Castelo, para o seu exercício anual de silêncio e introspeção. Realizado entre os dias 6 e 11, o retiro teve a orientação do diretor espiritual, Pe. Agostinho Barros, que procurou inquietar os presentes e levá-los a refletir nos seus propósitos enquanto jovens que procuram trilhar um caminho baseado numa fé que se prova e que procura crescer. Partindo do mote “Como ser discípulo de Jesus”, procurámos olhar a nossa fé, o caminho percorrido até agora, e questionar não só o valor que consideramos que temos para Deus, mas também o valor que damos a esta relação que temos de alimentar. Desvendar a Voz que nos interpela no silêncio pressupõe oração, tempo e espírito de abertura. Neste contexto, a oração da liturgia das horas, a celebração da Eucaristia, a Lectio Divina e a Via Sacra são caminhos que procuram ser semente para a nossa reflexão pessoal. Além disso, através da Escritura e de passagens relacionadas com a temática da fé e do “ser discípulo”, procurámos iluminar a caminhada vocacional que nos propomos percorrer, olhando o sentido que a vida assume nas nossas vivências enquanto comunidade. Poder percorrer as margens do rio Neiva em silêncio, afasta10
dos do caos da cidade, dos horários e da rotina são oportunidades que se afloram raras no nosso tempo e por isso devem ser aproveitadas ao máximo, na alegria e na disposição de crescer.
Terminada a semana, fomos interpelados a tomar consciência de que é necessário aplicar na vida concreta e relacional o que procuramos desvendar, no nosso íntimo, como sendo a vontade de Deus.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
ROTA - REFLETIR, ORAR E TRANSFORMAR NA ACADEMIA Sérgio Torres (Membro da Comissão Executiva da Pastoral Universitária)
Deixamos que Deus fizesse a sua vontade em nós e a ideia foi ganhando forma. O nome do grupo de oração foi já em si uma inspiração: ROTA – Refletir, Orar e Transformar na Academia. ROTA porque, crentes ou não crentes, somos todos peregrinos, caminhantes nesta vida, aprendizes de viajante. É necessário projetarmos o objetivo último da nossa vida, o cais derradeiro aonde queremos aportar o nosso barco. E é aí que a ROTA é fundamental, caso contrário falhamos o nosso alvo, falhamos o projeto de vida que Deus tem para cada um de nós – um projeto de vida em pleno onde pomos a render todos os dons recebidos. O grupo de oração tem como ponto de partida o princípio “onde dois ou mais se reúnam em meu nome, Eu estarei no meio deles” (Mt 18, 20). Quem faz parte deste grupo de oração sente uma espécie de sintonia nas reuniões, de outro comprimento de onda, sintonizados na amizade em Cristo e com Cristo. As reuniões são quinzenais e, durante os quinze dias que medeiam cada uma das reuniões, é proposto rezar coordenadas que servem para afinar/ alterar a ROTA, numa analogia clara com as coordenadas geográficas, latitudes, longitudes, graus, minutos e segundos. Mas esta orientação é mais profunda, interior. A base de orientação espiritual é Cristo e, por
isso, as coordenadas têm como base passagens do Evangelho. Criámos três tipos de coordenadas – de reflexão, de oração e de transformação. A coordenada de reflexão incita à nossa interioridade. A reflexão faz-nos parar no caminho, refrescar o ânimo e vislumbrar o horizonte com outro olhar, com outra clarividência. A coordenada de oração é uma conversa sincera com o Pai, rezando com Ele a coordenada de reflexão. Deus trabalha e fala no silêncio. O caminho espiritual só se faz cultivando este silêncio paciente para escutar a Sua voz. A coordenada de transformação é um convite a refazermos os nossos passos, pois estamos a caminho mas não estamos fechados dentro do nosso egoísmo, da nossa comodidade, antes corajosos e determinados em levar aos ou-
tros a mensagem do Senhor, a ir em missão. As coordenadas vão sendo completadas pelo livro “Livres para Acreditar: Dez Passos para a Fé” de Michael Paul Gallagher S.J., de 2011. O autor disserta sobre as amarras que nos prendem e não nos deixam livres para ter fé na sociedade atual. Somos transformados por dentro, por um Deus que não impõe, mas propõe, por uma resposta sincera de amor ao infinito amor do Pai. A transformação começa em nós e, se nos tornamos semelhantes a Deus, as nossas atitudes irão refletir essa semelhança. Através dessas atitudes talvez seja possível ajudarmos a transformar o nosso próximo e, pacientemente, poderemos transformar na academia. Se assim acontecer, a criação do ROTA já fez todo o sentido. 11
PASTORAL DE JOVENS
Caríssimos jovens! É-me grato anunciar-vos que em outubro de 2018 se celebrará o Sínodo dos Bispos sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional». Eu quis que vós estivésseis no centro da atenção, porque vos trago no coração. Exatamente hoje é apresentado o Documento preparatório, que confio também a vós como «bússola» ao longo deste caminho. Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai da tua terra, deixa a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te mostrar!» (Gn 12, 1). Hoje estas palavras são dirigidas também a vós: são palavras de um Pai que vos convida a «sair» a fim de vos lançardes em direção de um futuro desconhecido, mas portador de realizações seguras, ao encontro do qual Ele mesmo vos acompanha. Convido-vos a ouvir a voz de Deus que ressoa nos vossos corações através do sopro do Espírito Santo. Quando Deus disse a Abraão «Sai!», o que é que lhe queria dizer? Certamente, não para fugir dos seus, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna, à qual vós aspirais profundamente e que desejais construir até às periferias do mundo? Mas hoje, infelizmente, o «Sai!» adquire inclusive um significado diferente. O da prevaricação, da injustiça e da guerra. Muitos de vós, jovens, estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir da sua terra natal. O seu clamor sobe até Deus, como aquele de Israel, escravo da opressão do Faraó (cf. Êx 2, 23). Desejo recordar-vos também as palavras que certo dia Jesus dirigiu aos discípulos, que lhe perguntavam: «Rabi, onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e vede!» (cf. Jo 1, 38-39). Jesus dirige o seu olhar também a vós, convidando-vos a caminhar com Ele. Caríssimos jovens, encontrastes este olhar? Ouvistes esta voz? Sentistes este impulso a pôr-vos a caminho? Estou convicto de que, não obstante a confusão e o atordoamento deem a impressão de reinar no mundo, este apelo continua a ressoar no vosso espírito para o abrir à alegria completa. Isto será possível na
medida em que, inclusive através do acompanhamento de guias especializados, souberdes empreender um itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus na vossa vida. Mesmo quando o vosso caminho estiver marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico de misericórdia estende a sua mão para vos erguer. Na inauguração da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, perguntei-vos várias vezes: «As coisas podem mudar?». E juntos, vós gritastes um «Sim!» retumbante. Aquele brado nasce do vosso jovem coração, que não suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descartável, nem ceder à globalização da indiferença. Escutai aquele clamor que provém do vosso íntimo! Mesmo quando sentirdes, como o profeta Jeremias, a inexperiência da vossa jovem idade, Deus encoraja-vos a ir para onde Ele vos envia: «Não deves ter medo […] porque Eu estarei contigo para te libertar» (cf. Jr 1, 8). Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante, consultassem também os jovens porque «muitas vezes é exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução» (Regra de São Bento III, 3). Assim, inclusive através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos queremos, ainda mais, «contribuir para a vossa alegria» (2 Cor 1, 24). Confio-vos a Maria de Nazaré, uma jovem como vós, à qual Deus dirigiu o seu olhar amoroso, a fim de que vos tome pela mão e vos guie para a alegria de um «Eis-me!» pleno e generoso (cf. Lc 1, 38). Com afeto paterno, FRANCISCO Vaticano, 13 de janeiro de 2017. DOCUMENTO PREPARATÓRIO: http://www.arquidiocese-braga.pt/pastoraljovens/noticia/14378/
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