MAR - ABR / 2016
COMO O PAI ENVIA
Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XXI - 6ª Série | Nº 51 | Bimestral 1,00 €
“ Os laços criados são expressão da paixão por Cristo e pelos irmãos com quem me cruzo” Ir. Graça Teixeira, cdpsf p. 2-3
LAUSPERENE QUARESMAL “ É preciso redescobrir no outro um irmão para termos um coração misericordioso e terno” Manuel Torre p. 8
EDITORIAL
DE NOVO, A VOCAÇÃO No coração do tempo pascal vivemos, cada ano, a jornada mundial de Oração pelas Vocações. Repetem-se não só o convite a centrarmo-nos nesta questão elementar da vida da Igreja, mas também as interpelações para os aspectos essenciais que deve suscitar na vida de cada crente e de cada comunidade. Apelos repetidos pela sua importância, e pelo entorpecimento que parece invadir-nos a propósito desta questão. Há quase vinte e cinco anos, são João Paulo II alertava para a falta de cultura vocacional e os riscos que esta ausência comporta. A vocação é dom de Deus e responsabilidade pessoal e eclesial. Como boa mãe, a Igreja faz germinar novas vocações através da sua oração e acção pastoral e, depois, no acompanhamento de quantos se sentem chamados a viver, por inteiro, o serviço aos irmãos. Mas, porque Deus chama pela mediação de cada comunidade, precisamos assumir cada vez mais, e com renovado ardor, o compromisso de fazer despertar novas vocações. A oração pelas vocações vai fazendo parte do quotidiano das nossas comunidades. Contudo, na sua missão evangelizadora e de transmissão da fé, talvez pudéssemos investir num cuidado maior e numa presença mais regular da dimensão vocacional, e sempre na proposição de todas as vocações. Começando, como nos recorda o papa Francisco na mensagem para esta jornada, por proporcionar a alegria de pertencer à Igreja, e a possibilidade de lhe consagrar a própria vida.
VISÃO
COMO O PAI ENVIA!!! Ir. Maria da Graça Teixeira Domingues, cdpsf
Naquele dia, 29 de Janeiro de 2015, concretizou-se um desejo que há muito tempo ardia no meu interior: partir para Angola. A partida era, afinal, a aceitação do meu «Eis-me aqui. Enviai-me» que dissera a Deus na pessoa da minha Superiora geral. Acolhi o envio como um verdadeiro presente dos meus 25 anos de consagração na vida religiosa, o que muito agradeci e agradeço a Deus providente, que sempre me olha com ternura e me impele a prolongar esse Seu olhar para com os outros, numa dinâmica de gratuidade permanente. A Comunidade de que faço parte tem ao seu cuidado, como primeira missão, a formação das candidatas à vida religiosa na Congregação da Divina Providência e Sagrada Família, da qual somos membros. Porém, tanto nós religiosas como as vocacionadas que fazem caminho vocacional connosco, temos um campo amplo de acção, onde podemos viver o carisma que recebemos para o bem comum, sendo enviadas a apoiar a vida e vocação de todo o ser humano, em ambiente de família, aprendendo da Sagrada Família de Nazaré a maneira se ser, estar e viver em Igreja e no mundo que nos rodeia. A nossa casa está situada no Bairro do Mulondu, Comuna da Funda, Município de Cacuaco, Diocese de Caxito, 30 km norte de Luanda. Este e outros dois Bairros cresceram depois de a Congregação ter adquirido o terreno para construir a casa onde habitamos. Por essa razão, as pessoas que ali se fixaram vieram de outras localidades de Angola e lançam profundos desafios aos Coordenadores dos Bairros e aos Missionários presentes.
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Desde o momento da chegada as provocações sucederam-se: primeira, VER a realidade humana, social, económica, eclesial e religiosa que nos circunda; segunda, ESCUTAR, acolhendo as preocupações verbalizadas tanto pelos Coordenadores dos Bairros como pelas populações que partilharam e pediram, insistentemente, soluções para os problemas que vivem; terceira, DEFINIR as prioridades de intervenção a privilegiar, após todo o processo e já com algum conhecimento do meio, tendo como luz a ousadia da esperança cristã e a força transformadora do Evangelho da vida. Actualmente direccionamos as nossas energias para o apoio à criança, promovendo-a como ser humano, a quem é devido valor e respeito, tentando implementar os seus direitos fundamentais, através de actividades lúdicas, da criação de laços afectivos e do Projecto Ensinar e Aprender a Contar e a Escrever, levado a cabo num espaço improvisado para o efeito, e ainda do diálogo com as mães, figura parental mais presente; o apoio aos adolescentes e jovens no ensino da língua portuguesa e de outros valores universais, através de aulas, debates temáticos e do Grupo de teatro Esperança e Vida; o apoio à mulher, realçando a sua dignidade e lugar na sociedade e na Igreja, fazendo-o através do diálogo pessoal. De momento aguardamos a construção de um espaço onde possamos desenvolver outras actividades que privilegiem um maior número de destinatários; e, a longo prazo, confiamos ser possível avançar com a construção de uma escola, tendo em conta a necessidade de criar estruturas físicas que permitam ampliar o acesso à
educação para todos, apostando num ensino de qualidade e no desenvolvimento da comunidade local em várias dimensões. Em termos eclesiais, acolhemos o pedido para colaborar na coordenação da catequese paroquial, na formação dos catequistas e no acompanhamento aos peregrinos que se deslocam ao Santuário de Santo António de Kifangondo, bem como o acompanhamento de grupos de vocacionados em algum dos Centros existentes. O envio recebido e assumido comporta o ser e estar com e para, bem como o agir em favor de, segundo a própria identidade carismática, com forte fisionomia de família. O tempo de entrega à presente missão é ainda insignificante. Todavia, os laços criados são expressão da paixão por Cristo e pelos irmãos com quem me cruzo no dia-a-dia, e a quem Deus me enviou porque ouviu o seu grito e conhece todas as suas vivências. Permanecer é o verbo de ordem, dando o melhor de mim mesma na simplicidade de cada momento: um sorriso oferecido, um olhar de atenção e reconhecimento da presença e importância do outro, uma saudação fraterna na confiança, a partilha do saber adquirido, o testemunho da fé recebida e cultivada ao longo da existência. Enfim, um apoio à vida e vocação de cada pessoa, fazendo profecia de um Amor que recebo e não posso reter, mas devo deixar transbordar para que possa ser saboreado e correspondido por um número cada vez maior de pessoas. Esse Amor providencial chama-se Deus e o Seu maior atributo é misericórdia, por isso todos nos podemos confiar e abandonar n’Ele.
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ARTE
ENVIO 4 Luís da Silva Pereira
A pintura que hoje comentamos é de Giotto di Bondone, um dos mais importantes pintores da História da Arte Ocidental. Nasceu na Toscânia, em 1267, e morreu em Florença, no ano de 1337. A sua importância deve-se ao facto de ter introduzido nas representações pictóricas a técnica da perspectiva linear, dando-lhes fundura, e não apenas comprimento e largura. Embora essa terceira dimensão seja uma ilusão óptica, podemos dizer que é um momento decisivo na evolução da arte de pintar. Estamos a passar da pintura gótica e bizantina para o Renascimento, quando a técnica da perspectiva linear é levada à perfeição. Não só por essa inovação, contudo, foi considerado um verdadeiro precursor da pintura renascentista. Foi-o também pelo realismo com que pintava as personagens, de aparência vulgar e com expressões faciais e gestuais que expressavam vigorosamente os sentimentos humanos. O afresco (pintura que se fazia sobre as massas das paredes ainda frescas) que podemos aqui observar, ilustra a Ascensão do Senhor, narrada por S. Lucas 24, 50-51, S. Marcos 16, 15-20, S. Mateus 28, 16-20 e, com mais alguns pormenores, nos Actos dos Apóstolos 1, 4-11. Como relata
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S. Mateus, nos momentos que precedem a Ascensão, Jesus envia os seus discípulos a todas as nações para as baptizarem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Giotto inspira-se claramente no texto dos Actos dos Apóstolos, o único que refere o pormenor da nuvem que acaba por ocultar o Senhor, e os dois anjos vestidos de branco, apontando para Cristo e anunciando a sua segunda vinda. Nas iconografias mais antigas, já no séc. IV, Cristo é elevado ao céu pela mão de Deus. Esta iconografia foi posteriormente abandonada porque podia levar-nos a supor, erroneamente, que Cristo não era todo-poderoso e que a ascensão fora, afinal, uma assunção. Noutras iconografias, Cristo senta-se num trono, à maneira bizantina; noutras, ainda, apresenta-se de pé, subindo, como no caso presente. Repare-se em que, para dar a ideia de movimento, Giotto pinta a parte do manto que cai para as costas, agitada pelo vento. O Senhor é representado de perfil, braços levantados, movimentando-se para o lado direito. O pintor interpreta literalmente o texto dos Actos 2, 33, onde se diz: “tendo sido elevado pela direita de Deus”. Repare-se também no pormenor de Cristo apresentar,
para além do nimbo dourado com a cruz inscrita (exclusivo dele), a mandorla, uma auréola em forma de amêndoa que envolve, em fundo, todo o corpo. Vem da tradição bizantina e aparece frequentemente nas esculturas dos tímpanos românicos e góticos. Segundo a tradição, Cristo, subindo aos céus, levou consigo todos os santos do Antigo Testamento. Estão aqui representados pelos dois grupos de figuras suspensas no ar, à direita e à esquerda. São acompanhados por anjos que representam a glória ou o céu onde vão ser recebidos. Em terra, vemos 11 apóstolos em atitude orante. Matias ainda não fora escolhido para suceder a Judas Iscariote. Além deles, vemos também Nossa Senhora, embora nem os evangelhos canónicos nem os apócrifos refiram a sua presença. Por isso, há uma tradição iconográfica que a não representa. Outra, porém, mesmo fugindo à letra dos evangelhos, coloca-a, verosímilmente, no grupo dos que acompanham a última manifestação de Cristo ressuscitado. O que Giotto não recolhe, porém, é a lenda segundo a qual os pés de Cristo teriam ficado gravados numa pedra do Monte das Oliveiras, lenda de origem britânica, dos finais do século X ou princípios do XI.
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SEMINÁRIO MENOR
UM DOMINGO EM FAMILIA Rui Machado, 11º ano
No passado dia 15 de Março, realizou-se, como é habitual no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, um encontro com as famílias dos seminaristas. Para além de ser mais um Domingo vivido em comunidade, este foi particularmente diferente… Com o raiar do dia recebemos na nossa casa as nossas famílias, que participariam neste encontro, com toda a nossa hospitalidade e afecto. No princípio do encontro celebrou-se a Eucaristia com todos os familiares, em que se refletiu sobre a parábola do filho prodigo, ou antes do “Bom Pai”, e de que modo os nossos pais estão dispostos a acolher a vocação de cada filho. Terminada a celebração deu-se tempo para o convívio, confraternização e para a partilha. Após este breve momento de intervalo, realizou-se um encontro bastante formativo em que se desenvolveram temas como a falta de comunicação entre os casais na resolução de problemas mais peculiares e distintos, de que forma terceiros influenciam as relações de casal (pais, sogros, irmãos…),como se pode realizar uma melhor educação dos filhos, bem como de que modo é a vida crista de cada pai, de que forma rezam, onde rezam e como rezam. Depois deste momento mais formativo, seguiu-se a reflexão pessoal entre casais, de forma a refletirem em torno destas vertentes tratadas 6
no encontro, que culminariam com a partilha de vivências e hábitos, úteis para um maior enriquecimento. Ao meio dia, realizou-se um almoço-convívio que permitiu o diálogo entre famílias, intensificando os laços de amizade e de fraternidade. Após algum tempo para tomar café e conversar-se um pouco, deu-se início a uma oração preparada pelos
seminaristas do 11º e 12º anos, em que se refletiu nos salmos e em que se preparou e desbravou um melhor caminho para a Páscoa. Deste modo o dia ficou marcado pela confraternização entre famílias e reflecção sobre o caminho quaresmal que cada casal poderia percorrer, em busca de uma melhor relação conjugal e com Deus.
CORAÇÃO NOVO Jorge Teixeira, 12º Ano
A Quaresma é um tempo de fazer uma pausa na rotina, e um tempo de encontro com Deus. É neste tempo que, de forma privilegiada, fazemos o nosso exame de consciência, olhamos o nosso interior de forma a melhorá-lo e moldá-lo à imagem d’Aquele que seguimos de forma especial. Estes quarenta dias são, para nós, um tempo em que o jejum, a abstinência e a partilha devem estar presentes. Em primeiro lugar, o jejum é símbolo de que devemos olhar para o essencial. Com refeições mais simples, procuramos identificar a verdadeira essência do alimento que nos devemos tornar para os outros. Em segundo lugar, a abstinência. Neste sentido, é necessário abstermo-nos daquilo que nos dá mais satisfação, e que, porventura, nem é tão essencial, não melhora a nossa vida. Abstemo-nos de palavras de ódio, da solidão. É por exemplo, o momento para nos colocarmos na pele das pessoas que mais necessitam. O tempo da Quaresma, é também tempo de partilhar. É através desta partilha que nós fazemos daquilo que somos, que podemos mudar a vida de muitas pessoas e, por isso, por mais pequeno que seja o contributo, fazer alguém feliz. Como outra ajuda, temos também as recoleções que nos são propostas ao longo desta Quaresma. Estas têm o propósito de nos mostrar o verdadeiro sentido desta época que
deve ser tão incomodativa, porque é aqui que sentimos a vida de Jesus, tal como Ele a viveu, como interpelação à nossa vivência. Vivemos, ainda, a oportunidade de nos reconciliarmos, momentos de introspeção e reflexão pessoal, oração pelos refugiados e cristãos perseguidos. Com a Páscoa, dia em que Jesus ressuscita, mostra-se que a morte não reina, mas sim a verdade e o amor, reina um sepulcro vazio de morte, um sepulcro vazio de palavras de ódio. Esta vida que Ele nos deu, para nós tem uma
enorme importância. Por isso, Ele não nos pede grandes favores, nem coisas que sejam impossíveis de realizar. Bem pelo contrário, o que nos pede é que doemos o nosso amor, a nossa generosidade em pequenas ações, que procuramos concretizar no seio da nossa comunidade. Dar um pouco daquilo que somos a alguém não nos tira nada, mas pelo contrário só no faz felizes. É este caminho de Quaresma, de partilha do nosso ser, que procuramos viver, olhando a Páscoa.
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SEMINÁRIO MAIOR
LAUSPERENE QUARESMAL 2016 Manuel José Sousa Torre
Lausperene é uma palavra que tem a sua origem em duas palavras latinas que significam “louvor perene”. Deste modo, a cidade de Braga preserva a antiga tradição instituída pelo Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, em 1710 de, no decurso da Quaresma, todos os dias expor à adoração dos fiéis o santíssimo sacramento da eucaristia, desde o princípio da manhã até ao fim da tarde, passando sucessivamente de igreja para igreja. Assim sendo, a igreja do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo de Braga, como vem sendo habitual, conserva e estimula esta longínqua tradição bracarense. Com efeito, nos dias 12 e 13 de Fevereiro, desde o final da eucaristia das 8h00 até ao seu encerramento às 18h30 com o canto das vésperas do santíssimo, decorreu a adoração ininterrupta do augusto sacramento da eucaristia. Este ano, repetindo a iniciativa do ano transato, sua santidade o Papa Francisco sob o mote “24 horas para o Senhor”, desafiou todas as comunidades cristãs a combater o “mundo da indiferença” que caracteriza o mundo moderno, e pediu à Igreja que, em atitude de conversão, se aproximasse mais de Deus, meditando no tema proposto para este ano jubilar «Deus é rico em misericórdia» (Ef 2, 4). Do mesmo modo, o Papa relembrou que «é preciso redescobrir no outro um irmão» para termos um coração misericordioso e terno. Para tal, estiveram à porta da igreja a
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cada hora dois seminaristas da nossa comunidade,à semelhança dos anos anteriores, para fazer um bom acolhimento a quem nos visita. De facto, não se pode amar Deus que não vemos, se não conseguimos amar o irmão que vemos (Cf. 1 Jo 4, 20). Na verdade, com o intuito de perfazer as 24 horas pedidas pelo Papa após o canto das vésperas do santíssimo na igreja, continuou-se no seio da nossa comunidade a adoração ao Senhor exposto durante toda a noite, na nossa capela de S. Pedro e S. Paulo. Deste modo, toda a comunidade distribuída por anos e também a nossa equipa formadora estiveram com o Senhor uma hora da noite até às 8h00, alcançando as tais 24 horas. Com efeito, é sempre oportunidade renovada de estar com o Senhor que «se deu todo não reservando nada para si»
(S. João Crisóstomo) e tantas vezes por nós esquecido e abandonado. Sendo já dia 13, demos início ao segundo dia de exposição do Senhor na nossa igreja, à semelhança do dia anterior, aberto a toda a cidade. Tendo principiado com a celebração da eucaristia, terminou com o canto de vésperas ao santíssimo sacramento que este ano, diferentemente dos últimos anos, contou alguma novidade musical, através da execução de algumas peças da autoria do cón. Manuel Faria, no ano em que se assinala o 100º aniversário do seu nascimento. Em suma, «a Eucaristia é o nosso tesouro mais precioso, é o sacramento por excelência; introduz-nos antecipadamente na vida eterna; contém em si todo o mistério da nossa salvação; é a fonte e o ápice da ação e da vida da Igreja» (Papa emérito Bento XVI).
RECOLEÇÃO DOS PAIS Nuno Mariz Oliveira
No dia 6 de Março teve lugar no Seminário Conciliar de Braga o encontro de recoleção dos pais dos seminaristas, sob a orientação do Sr. Padre Agostinho, diretor espiritual do seminário. O tema da recoleção foi a reconciliação. Durante a reflexão, o orientador percorreu alguns textos do livro do Génesis. Na verdade, nos relatos da criação, constatamos que Deus, após a criação, viu que toda a sua obra era bela e muito boa. Neste sentido, no princípio não havia pecado e, por conseguinte, não era preciso reconciliação. No entanto, no episódio de Adão e Eva, a história inverte-se, pois Adão deixa de confiar plenamente em Deus, o que origina o pecado, ou seja, a rutura da amizade com Deus que é provocada pela desconfiança na bondade de Deus, pelo desejo de autossuficiência e pela sedução do mal (Gén. 3). Por outro lado, a rutura com Deus traduz-se inevitavelmente em rutura com o outro, pois o outro já não é visto como um irmão, mas como um rival, tal como Caim e Abel (Gén. 4, 1-16). Assim, a terra, que era até então um jardim, torna-se agora inóspita e ameaçadora. Caim foge dela, pois o sentimento de culpa e o medo da vingança roubam-lhe a paz. Neste sentido, torna-se de primordial importância o surgimento da reconciliação. Jesus Cristo, ao dar a vida
na cruz, quebra a espiral de violência e inimizade. Portanto, a reconciliação que Jesus Cristo no traz é, primordialmente, dom de Deus e reconciliação com Deus que, por sua vez, implica necessariamente a reconciliação consigo mesmo, com os outros e com a própria criação. De igual forma, acolher o dom da reconciliação implica reconhecer que somos pecadores, radicalmente necessitados de perdão de Deus. Não obstante, ainda e sobretudo, reconhecer a bondade e misericórdia de Deus. No entanto, para reconhecermos o pecado é necessário termos fé. Se assim não for, temos apenas um mero sentimento de culpa por agir contrariamente a um ou mais valo-
res. Neste sentido, o sentimento de culpa pode ser muitas vezes confundido com a dor do pecado. No entanto, o pecado não se relaciona com a tristeza de ter fracassado, mas com a pena de ter ofendido a Deus. Neste sentido, a reconciliação com Deus implica o reconhecimento do meu pecado, mas sem deixar de fixar-me no amor e na misericórdia de Deus. Após o encontro de reflexão seguiram-se as habituais confissões na Igreja do Seminário e posteriormente, às 19 horas, a oração de vésperas seguida da Eucaristia. No final da Eucaristia, teve lugar o habitual convívio, com a refeição da noite.
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SEMINÁRIO MAIOR
“AMAI COMO EU VOS AMEI” INSTITUIÇÃO NO MINISTÉRIO DE ACÓLITOS Tiago Leonel A. Cunha
Amar alguém é dizer-lhe SIM. Foi com este SIM generoso, disponível e amadurecido que quatro seminaristas do 5º ano de Teologia, Carlos Leme (Celorico de Basto), Filipe Alves (Amares), Rui Araújo (Guimarães) e Tiago Cunha (Amares), iniciaram mais uma etapa no seu percurso de discernimento vocacional rumo ao sacerdócio ministerial, recebendo o ministério do acolitado, no passado dia 21 de Fevereiro. Nesta estrada de maturação vocacional, este ministério enquadra-se no itinerário dos seminaristas num contexto de passagem que nos aproxima mais do centro da vida da Igreja, que é a Eucaristia. Porém, diz-se de passagem porque nos prepara de forma gradual para o sacerdócio ministerial que é o corolário onde se realizará todos os ministérios, numa atitude de serviço à comunidade Cristã, tal como Jesus na Instituição da Eucaristia com o gesto do Lava10
-pés, em que abandona uma posição de poder para se colocar ao serviço do outro: coloca-o em posição de soberano, de Ele amar também. Neste sentido, torna-se acrescida a responsabilidade dos novos acólitos instituídos, pois o acólito, tendo como modelo Jesus Cristo e no horizonte o amor gratuito, é aquele que tem como função cuidar do serviço do altar, auxiliar o Diácono e o Sacerdote nas ações litúrgicas, sobretudo na Eucaristia e distribuir a Sagrada Comunhão aos fiéis e aos doentes. Este serviço solicita entrega, humildade e desgaste pelo outro. É neste horizonte que o amor é a máxima expressão da vida. É o Amor que nos permite olhar à nossa volta e contemplar o mundo como ele é na verdade. Conscientes já do profundo valor operativo e transformador deste ministério, não podemos esquecer as palavras fraternas repletas de esperança
de D. Francisco Senra, a quem agradecemos por ter presidido à celebração, bem como a mensagem deixada, que nos convidou arregaçar as mangas da nossa generosidade e gratuidade e a concretizar em nós a Palavra do Senhor: “Fazei isto em memória de mim”. É na Eucaristia que encontramos força e sustento para o resto da jornada, pois é a Eucaristia que constrói a nossas paredes internas, que embeleza os nossos recantos. É a Eucaristia que transfigura a nossa vida sedenta de água viva em vida nova. Assim sendo, transfigurados pela glória de Deus que faz resplandecer a vida em plenitude, Jesus Eucaristia, resta-nos pôr em prática os reptos lançados, unindo sempre o nosso serviço ao altar de Cristo e ao Cristo do lava-pés, na certeza de que ao permanecer em Cristo servimos a Igreja, fazendo-nos dádiva para aqueles que têm sede e fome de justiça.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
BÊNÇÃO DE FINALISTAS Eduardo Coturela
Com o aproximar do final do ano letivo aproxima-se também a missa da Bênção de Finalistas. A missa da Bênção de Finalistas é para muitos estudantes um dos momentos mais importantes e mais marcantes no decorrer das suas vivências académicas, é sem dúvida um momento ímpar no percurso académico e na vida de qualquer estudante do ensino superior. Chegar ao momento da missa da Bênção de Finalistas é o desejo que conduz e dá ânimo aos estudantes para seguir ao longo da jornada. É um momento carregado de sentimentos e da esclarecida intenção de Lhe agradecer pela sua presença
sempre constante, pelos caminhos indicados. É um agradecimento que se faz no interior de cada um, mas que se faz também em família e em comunidade. Invariavelmente o dia da missa de Bênção é um dia radioso, alegre e pleno. Este ano não será diferente! A Pastoral Universitária de Braga em conjunto com os estudantes finalistas e com as suas estruturas representativas já prepara a celebração da bênção de finalistas, que será presidida pelo Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, na tarde do dia 7 de maio. A preparação da bênção de finalistas está assente em dois princípios: o trabalho agregador e em processo.
Isto é, a bênção de finalistas não deve ser entendida como uma atividade de dentro para fora, não pode a dinâmica da bênção de finalistas surgir de um conjunto de imposições e prossupostos definidos exclusivamente pela Pastoral Universitária ou pelas Associações que representam os estudantes, devem os próprios finalistas tomar parte ativa da conceção deste momento único. Nesse sentido, são os próprios finalistas aqueles que numa primeira instância se apresentam para pedir a bênção e, consequentemente, para animarem a própria celebração, toda a dinâmica surge de um trabalho conjunto e agregador. Os estudantes finalistas que ao longo de semanas preparam a celebração da missa da bênção e, simultaneamente, preparam-se a si e aos seus colegas para a receber. Como consequência deste envolvimento agregador a bênção de finalistas surge numa dinâmica de ‘processo’, ou seja, entende-se a bênção de finalistas não apenas como a celebração da missa da bênção de finalistas mas sim como todo o processo, desde o primeiro dia de preparação até ao momento final. Assim, a bênção de finalistas é também todo o momento de preparação da própria bênção. Por isso, não surpreende que a missa da bênção de finalistas marque tão profundamente os estudantes. 11
PASTORAL DE JOVENS
Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.
Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 350,00 €.
Já estão disponíveis no site do DAPJ Catequeses de preparação para a JMJ Cracóvia 2016. Estas catequeses são uma forma de preparar a caminhada, daqueles que nelas vão participar, mas servem também como tema de trabalho para os Grupos de Jovens que querem reflectir sobre a misericórdia.
Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.
Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.
ENCONTRO FORMATIVO N.º 01
«O Reino de Deus está no meio de vós!» Está dentro de nós, no meio do mundo, no interior da História como semente... É este o maravilhoso tesouro a descobrir. Deus já está presente! E o que precisamos, é de nos tornar sensíveis a essa presença.
ENCONTRO FORMATIVO N.º 02
«Que hei-de eu fazer?» Quantas vezes não fizemos esta pergunta, indecisos, curiosos... É a pergunta de todos nós, à procura da resposta que chega no intimo do nosso coração. A alegria de saber-se amado por Deus, transfigura todas as realidades. A alegria é aliada da esperança! Que ele seja experiência do encontro com Cristo!
Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição
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DATAS A LEMBRAR
FÁTIMA JOVEM 2016: Fátima, 7-8 Maio DIA DIOCESANO DA JUVENTUDE/JUBILEU DOS JOVENS: Vila do Conde e Póvoa de Varzim, 4 de Junho
N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares