NOV - DEZ / 2015
PELOS CAMINHOS DA ITINERÂNCIA “Hoje, Deus continua a desafiar-me por caminhos sempre novos”
Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XX - 5ª Série | Nº 49 | Bimestral 1,00 €
Pe. Afonso, csh p. 2-3
LÁ NO ALTO, À DESCOBERTA! “Procuramos viver este ano enraizados em Cristo e na sua Palavra” José Miguel Silva p. 6
EDITORIAL
ROSTO E VOZ DA MISERICÓRDIA Há bem pouco tempo, pudemos viver um dos momentos mais significativos da história recente do Seminário. Refiro-me ao encontro dos Antigos Alunos, promovido conjuntamente com a ASSASB, e cujo objectivo maior se centrava no aproximar as diferentes gerações e fortalecer os laços que unem todos aqueles que tiveram a grata oportunidade, ao longo destes 90 anos, de fazer a experiência de vida em comunidade no Seminário de Nossa Senhora da Conceição. Aproxima-se, ainda, a Semana dos Seminários sob o lema Olhou-os com Misericórdia. De facto, toda a vocação e chamamento, e particularmente ao sacerdócio, nasce do olhar amoroso de Deus, único, que em cada pessoa entusiasma uma resposta, concretizada numa diversidade de caminhos escolhidos, mas vividos sempre com a mesma intensidade e entrega, à Igreja e ao mundo. Se a ligação ao Seminário é tão forte e sempre presente, em todos nós que por aqui passamos, é porque o Seminário se tornou tempo e lugar privilegiado para tomar consciência desse olhar, e para suscitar uma opção responsável. A presença de quase trezentos alunos no referido encontro, com alguns dos seus familiares, é disso sinal bem eloquente, juntamente com o sentimento de profunda gratidão que fizeram questão de sublinhar. Porque sabemos e nos sentimos, nas diferentes opções de vida, rosto visível e voz inconfundível que anuncia e testemunha a Misericórdia de Deus, que dá sentido à nossa história, pessoal e comum.
VISÃO
PELOS CAMINHOS DA ITINERÂNCIA Pe. Afonso, csh
Um dia senti que o Seminário de Braga era a minha casa. Havia algo que me empurrava para lá. Pequeno ainda, quis fazer um caminho de discernimento para aquilo que começava a intuir poder vir a ser a minha vida. O caminho foi acontecendo. E o discernimento também. Até que, anos mais tarde, o desafio de ser padre religioso apareceu no horizonte. A Comunidade Shalom tinha aberto uma casa em Portugal. Na altura, eram dois padres. Trabalhavam com jovens. Viviam o desafio da itinerância. Ir onde os jovens estão. Falando-lhes de Jesus Cristo na sua linguagem. Vivendo uma vida de simplicidade. E isso também começou a encantar-me. Em 1985 entrei para a Comunidade Shalom. O Brasil foi nessa altura oportunidade para novas descobertas, novos desafios, lugares e pessoas. Outra vivência de Igreja. Outra proposta de formação. Outro carisma: evangelizar a juventude. O coração abriu-se a esse mar de possibilidades tão grandes quanto o oceano que separava o primeiro despertar e o agora. Ordenei-me padre em Dezembro de 1988. Há pouco mais de 25 anos, Deus quis fazer de um coração pobre, um servidor do reino. Uma etapa nova começava. Mas o primeiro chamamento ardia no coração. Deus ia revelando misteriosamente por entre desafios, projetos, presenças, pessoas, e a própria Comunidade, a sua presença amorosa e fiel. A fidelidade de Deus manifesta-se na vida e na história de quem permanece fiel, apesar das dificuldades do caminhar. Essa é hoje a leitura da minha história vocacional. Deus chama. Desafia. Atrai. Encanta! Aquele que é chamado vai se perdendo neste constante desafiar de Deus. Sinto hoje, que a minha vida-vocação tem sido dom de Deus para tantos jovens das realidades por onde tenho passado e para tantas pessoas que se cruzam com a minha história. Nela encontro rostos de pessoas, desafios,
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lugares, horizontes abertos e outros que não souberam ser contemplados. Nela descubro tanta riqueza e tantos dons partilhados. Nela aceito a presença da possibilidade e do limite, do pecado e da graça, da perda e do reencontro, da generosidade e do temor-resistência. Resisti muitas vezes. Muitas vezes nesse resistir dei comigo afastado de mim e daquele que me chamou e enviou aos caminhos do reino. Mas senti-me sempre perto. Sempre procurado. Sempre desejado e amado. Deus procura-nos sempre. A minha história de vida como padre fala desta procura de Deus. Ele procura-nos para que um dia nos deixemos encontrar… e vencer. Porque Deus pode vencer-nos. Vai nos conquistando. Para que a nossa vida inteira seja d’Ele. Para que o nosso coração lhe pertença. Para que os nossos pés caminhem na sua direção e na direção do mundo. Para que o nosso olhar tenha a sua luz. Para que a sua Palavra acompanhe tantos passos mal andados. Para que a vida tenha aquela fecundidade da eucaristia celebrada e partilhada nas idas e vindas do quotidiano. Hoje, padre, religioso-consagrado da Comunidade Shalom, Deus continua a desafiar-me por caminhos sempre novos. Os jovens de Portugal e do Brasil continuam no horizonte. Continuo a arriscar estar presente e a falar-lhes de um Cristo jovem que também os desafia a uma vida de disponibilidade e de serviço. Continuo a gastar a minha vida e a empregar os meus dons ao serviço da Igreja. Continuo disponível para ir onde Deus me chamar. Sinto que a presença de Deus na minha vida e na minha vocação é uma realidade que me empurra sempre para a frente, mesmo quando o desafio parece mais difícil. Não há desafios difíceis quando a confiança naquele que nos chama permanece intocável.
Sinto-me desafiado hoje, a uma vida de maior intimidade com Aquele que sempre me habitou. A fazer dos desafios, das responsabilidades pastorais, dos simples encontros do quotidiano, momentos de intimidade, de crescimento e de aprendizagem. Sinto que a minha história vai sendo perdoada e refeita. Habitada por um coração mais inteiro. Tocada por muitas fragilidades. Mas continuamente modelada pelo Amor e pela bondade daquele por quem decidi entregar a vida. A salvação e a graça que dispensamos como mediadores também nos transforma, nos reconfigura, nos salva. Sinto algumas vezes o cansaço dos muitos afazeres. A alegria quando os frutos aparecem mais depressa. A tristeza quando a resposta não é a esperada. Mas vou aprendendo com a paciência do semeador que lança a semente e a deixa livre para que brote, porque nela vive o dinamismo do despertar silencioso. Sou o padre Afonso. Religioso da Comunidade Shalom. Moro em Braga, em Oeiras e nos lugares do reino. Na casa das pessoas e nas comunidades por onde passo. Vou gastando a vida nos caminhos da itinerância. Aprendendo a cada dia a traduzir de modo mais fiel o lema do meu ministério: “esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo” (Fil 2,7).
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ARTE
ENVIO 2 Luís da Silva Pereira
O quadro que escolhemos para comentar é um dos mais famosos de Michelangelo Merisi da Caravaggio e um dos que mais acesa polémica levantaram em toda a história da arte sacra. Trata-se da conversão de S. Paulo, do momento em que Deus chama o violento perseguidor dos cristãos, - uma espécie de jiadista do judaísmo -, a fim de o enviar para o meio dos gentios a anunciar o evangelho. O episódio vem narrado nos Actos dos Apóstolos 9, 1-19. Em nenhum passo da narrativa se diz que Saulo caiu de um cavalo. No entanto, já pelo menos desde o séc. XIV que os artistas imaginaram esse pormenor. Com alguma razão, pois é verosímil que, de Jerusalém a Damasco, para onde se dirigiam, os perseguidores dos cristãos se deslocassem não a pé, mas a cavalo. Contudo, no versículo 9, diz-se também: “ Saulo ergueu-se do chão, mas embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão, e assim entrou em Damasco”. Se ele viajava a cavalo, por que o não voltaram a colocar em cima da montada? Seria o mais lógico. O quadro deve datar do ano de
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1600 ou 1601. Destinava-se, juntamente com a Crucifixão de S. Pedro, à Capela Cerasi, na igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma, onde se encontra. O que chama imediatamente a atenção é o tamanho do cavalo, que ocupa um pouco mais de metade do quadro, relativamente ao apóstolo que nem sequer é apresentado de frente. A experiência mística por que está a passar é dada, sobretudo, pela posição das mãos, que se levantam para o céu. Os olhos fechados, aludindo à cegueira que o atacou, e o rosto sério contribuem também para transmitir a profunda transformação espiritual por que S. Paulo está a passar. Repare-se que também o manto vermelho, a espada e o elmo jazem por terra, significando a derrota da violência e a fragilidade do homem perante a força divina. A posição vertical do cavalo, iluminado por uma luz que vem de cima, - “do céu”, como afirma o texto dos Actos -, contrasta violentamente com a posição tombada e oblíqua do apóstolo. Em nosso entender, o pintor pretende acentuar dramaticamente a fragilidade e a pequenez
do ser humano (Paulo significa, precisamente pequeno), perante a força de Deus, simbolizada na robustez do animal. Ela é-nos dada através do volume dos quartos traseiros e da barriga, bem como da grossura das pernas e das patas. É uma força serena. Repare-se na indiferença do pajem e do animal. A tradição iconográfica era apresentar o cavalo espantado perante a luz intensa e a voz que se fez ouvir. Assim o representaram, por exemplo, Miguel Ângelo, Ludovico Carracci ou Alessandro Bonvicino. Caravaggio, porém, foge completamente a essa tradição. O seu cavalo permanece sereno, levanta a pata dianteira para não pisar o apóstolo, e parece até olhar para ele compassivamente. Também o criado não mostra qualquer sinal de perturbação. A única figura verdadeiramente transtornada é S. Paulo. É um quadro tipicamente caravaggiano e barroco, pelo contraste violento entre o fundo negro e a luz, o movimento teatral do apóstolo e a serenidade das outras “personagens”, o êxtase místico e o realismo grosseiro do pajem, rosto rude, meio calvo e de cabelo desalinhado, descalço e com varizes nas pernas.
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SEMINÁRIO MENOR
LÁ NO ALTO, À DESCOBERTA! José Miguel Silva, 12º ano
Iniciar um novo ano implica conhecer e acolher os novos membros da comunidade! Sem isso, não seríamos “um só corpo”. Por isso, a comunidade do Seminário Menor realizou um acantonamento na Paróquia de Santa Isabel do Monte, em Terras de Bouro. À “Casa dos Bernardos” que nos acolheu, e ao padre Almerindo Costa, pároco, agradecemos todo o suporte logístico. Iniciamos o encontro na sexta-feira, dia 18 de setembro, e até dia 20, domingo, realizamos atividades conjuntas e culturais que proporcionaram, num ambiente familiar, preparar o novo ano letivo. Preparando as refeições, foram vividos momentos de partilha de experiência e opiniões em que todos colaboraram. No sábado de manhã, deslocamo-nos até aos «4 caminhos», local onde impera a natureza, e de onde, de um extremo da nossa Arquidiocese se consegue ver a Basílica do Sameiro e, diz-se, o mar! Neste contexto de surpresa e maravilha pela Criação, a comunidade organizou-se em grupos de trabalho, elaborando propostas para atividades culturais, mas também para o quotidiano da casa. Na tarde de sábado, deslocamo-nos ao campo de jogos da junta de freguesia de Souto, do mesmo concelho. Agradecemos ao presidente da junta toda a pre6
disposição com que nos acolheu! Aí realizamos uma partida de futebol em que a alegria esteve sempre presente, bem como o companheirismo. Ao entardecer celebramos a Eucaristia na capela de S. João Batista, obra do séc. XVIII, tornando-se, como sempre, o momento central de todo o nosso dia. À noite, depois de jantar, realizamos uma caminhada pelos caminhos da freguesia, até à Igreja e percorrendo o Calvário, construídos no séc. XIX. Envoltos na História do local, e no luar que nos acompanhava, terminamos assim o dia, repletos de alegria e satisfação. No domingo, como não podia deixar de ser, participamos e animamos a Eucaristia da comunidade, que, em espírito de alegria e oração pelas vocações, nos acolheu. Dando o nosso testemunho, pelo testemunho pessoal de um seminarista, procuramos aí deixar uma semente que possa germinar e tornar-se numa árvore frondosa e repleta de bons frutos! Rezamos ao Senhor que faça despertar no seio da sua Igreja santas vocações. Regressamos à nossa casa, e neste espírito de família e verdadeira comunidade, procuramos viver este ano da melhor forma, enraizados em Cristo e na sua Palavra. “Como o Pai me enviou, também vos envio a vós”!
DIA DO ANTIGO ALUNO Rafael Cepa, 11º Ano
O dia do Antigo Aluno do Seminário de Nossa Senhora da Conceição foi celebrado a 26 de Setembro e subordinou-se ao tema “Aproximar gerações, fortalecer a amizade e compromisso”. Neste ano em que o Seminário celebra o seu nonagésimo aniversário, este dia foi especialmente participado, logo desde o acolhimento às 10 horas. O primeiro momento do dia, teve início com a conferência de abertura, que ficou a cargo do senhor diretor do Seminário Menor, cónego Avelino Amorim, e do presidente da Associação dos Antigos Alunos, José Maria Lima Cruz. Na sessão de boas vindas do encontro evocativo do Dia do Antigo Aluno, o diretor do Seminário de Nossa da Conceição começou por sublinhar o «papel fundamental» que a Associação dos Antigos Alunos tem exercido e o «trabalho abnegado» dos seus diretores. «São nossos parceiros desde a primeira hora como decisores e também como concretizadores deste programa celebrativo dos 90 anos do Seminário», evidenciou o cónego Avelino Amorim, que espera que mais antigos alunos possam aproximar-se e sentir a “sua casa”, que foi recentemente objeto de uma intervenção. O presidente da direção da Associação de Antigos Alunos, fez votos para que este encontro em ano celebrativo, que termina em Dezembro, «dê fruto para o futuro e que faça com que a Asso-
ciação cresça mais e possa criar mais eventos e dinâmicas que sejam boas não só para os antigos alunos como para o Seminário e a Arquidiocese.» Neste sentido, a Associação distribuiu durante este encontro fichas de inscrição no sentido de engrossar
Posteriormente celebrou-se a eucaristia na capela do Seminário, atualmente em processo de renovação, presidida pelo Senhor Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga. O Arcebispo de Braga pediu aos Antigos Alunos do Seminário de Nossa Senhora da Conceição «maior
o número de associados, que atualmente ascende a 400. Com mais pessoas a contribuir com cotas, a Direção espera poder realizar mais eventos de índole cultural, formativa e recreativa, e também dar apoio aos antigos alunos que necessitem de ajuda, incluindo os doentes. Em seguida coube ao rancho folclórico de Moreira de Cónegos a tarefa de abrilhantar o encontro evocativo, predispondo a todos para o convívio.
empenho e dedicação na edificação da Igreja». Desta forma, foi possível àqueles que não têm acompanhado o andamento dos trabalhos, inteirar-se dos mesmos e sensibilizarem-se perante a beleza que a capela possui. Finalmente, a Banda Musical de Vila Nova de Anha, Viana do Castelo, encerrou o encontro, vivido por todos em ambiente de grande festa e alegria, honrando tudo aquilo que esta casa deu a sucessivas gerações e à sociedade. 7
SEMINÁRIO MAIOR
ENFERMAGEM E CONVERSA FORTUITA
PRÉ-SEMINÁRIO JOVEM / ADULTO 20 DE OUTUBRO DE 2015 Miguel Neto
Como interiorizas as dificuldades e as oportunidades de tantos enfermeiros e enfermeiras que, como sabemos até por recurso a greves, têm reivindicado melhores condições de trabalho? Como tens interpretado o êxodo de tantos profissionais deste setor para outros países?
Quem é o Miguel Neto? O Miguel Neto é um jovem natural da paróquia de S. Martinho de Dume, em Braga; tem 30 anos e está, neste momento, a frequentar o 3.º ano do Seminário Conciliar de Braga. Gosto, nos tempos livres, de ler, sobretudo livros policiais, de ouvir música, particularmente música para órgão e música rock, e também de ver alguns programas de televisão. Ainda ocupo parte dos meus tempos livres no estudo de órgão. Foste acolhido no Seminário Conciliar de Braga, depois de teres concluído o Curso de Enfermagem. Que Escola de Enfermagem frequentaste? Que recordações mais significativas conservas desse tempo? Frequentei a Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian de Braga, atual Escola de Enfermagem da Universidade do Minho. Do tempo passado na Escola de Enfermagem, recordo as pessoas que conheci, com que ainda mantenho um contacto regular pois, em certos casos, fazem parte do meu grupo de amigos. Recordo também muitas das experiências que tive, sobretudo ao nível do contacto com doentes em meio hospitalar, durante os ensinos clínicos, que me proporcionaram conhecimentos que ainda hoje são úteis no dia-a-dia. 8
Por quanto tempo e em que instituições exerceste a tua profissão? Exerci durante cinco anos. Comecei por trabalhar durante um período de seis meses no Serviço de Urgência do Hospital Particular de Lisboa. Em seguida, trabalhei dois anos e meio no Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta, também em Lisboa. Por fim, trabalhei dois anos no Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de S. João, no Porto.
Atualmente, as condições de trabalho para a maioria dos enfermeiros em Portugal não são as ideais para uma prestação de cuidados de enfermagem de excelência. Essas “más” condições repercutem-se sobretudo no rácio enfermeiro/doente, que está aquém do preconizado pelas instituições internacionais como a Organização Mundial de Saúde, o que implica uma maior carga de turnos de trabalho para os profissionais dos serviços. Esta é talvez a maior causa de dificuldades, a que se vêm associar outras como, por exemplo, as baixas remunerações mensais e a perda de benefícios, além da inexistência de uma carreira de enfermagem definida e implementada, o que impede a progressão na carreira por parte dos enfermeiros. Algumas destas dificuldades já eram sentidas no tempo em que eu exercia a profissão, e geram alguma desmotivação nos enfermeiros, pois é difícil trabalhar sem perspetivas de progressão na carreira. O êxodo de enfermeiros tem acontecido porque as admissões destes profissionais em hospitais e
centros de saúde em Portugal, sobretudo no setor público, têm sido mínimas,além do que muitos dos contratos propostos oferecem condições precárias de trabalho (contratos de curto prazo, remuneração abaixo do limite permitido por lei, etc.). Saliente-se que o plano de estudos de uma licenciatura em enfermagem em Portugal é muito completo e muito mais especializado que na maioria dos países europeus. Associada a essa elevada formação e especialização está a falta de enfermeiros nesses países, os quais, propondo condições de trabalho muito superiores às oferecidas em Portugal, são muito atrativos para os enfermeiros portugueses. É claro que esta situação não é a ideal, pois estes profissionais fazem falta em Portugal, mas no mundo globalizado de hoje é fácil perceber a opção tomada por muitos enfermeiros que abandonam o nosso país em busca de melhores condições de vida, pois para a grande maioria dos recém-licenciados a perspetiva é o desemprego. No teu caso, tinhas já um local de trabalho estável. Ainda assim, o teu discernimento levou-te a migrar para outra Instituição, o Seminário. Como se processou esta ‘páscoa’ pessoal? Decidi deixar de exercer a profissão de enfermeiro porque, a dado
momento do meu percurso profissional, comecei a perceber que, apesar de gostar do que fazia como enfermeiro, não me estava a sentir plenamente realizado e feliz. Comecei então a pensar em alternativas, desde a mudança de país até à mudança de profissão. Durante esse período de reflexão acerca do futuro, relembrei um convite que me tinha sido feito por um sacerdote, quando eu tinha dezanove, vinte anos. Nessa altura, numa conversa fortuita, esse sacerdote propôs-me a entrada para o Seminário. Eu recusei porque não me parecia um caminho que me fizesse feliz, além do que, na época, estava determinado em prosseguir os meus estudos na Escola de Enfermagem. Porém, apesar de essa memória ter vindo de novo ao pensamento, durante uns tempos, decidi continuar a ignorá-la dado o meu percurso profissional, em parte porque tinha medo da reação dos amigos e familiares por, aos vinte e oito anos, resolver fazer uma mudança de vida que para muitos é demasiado radical. Só mais tarde decidi saber como poderia fazer um discernimento vocacional acompanhado. Que instâncias e pessoas encontraste disponíveis para te acompanhar no processo de discernimento vocacional?
Quando tomei a decisão de iniciar o discernimento vocacional, tive o apoio dos meus pais, dos meus amigos e do meu pároco. Por intermédio de um outro sacerdote,foi-me recomendado entrar em contacto com o responsável pelo Pré-Seminário para adultos, o padre Joaquim Félix, do Seminário Conciliar de Braga. Como chegaste ao Pré-Seminário? Que balanço fazes desse tempo e das dinâmicas desenvolvidas nos encontros que participaste? Como disse anteriormente, cheguei ao Pré-Seminário, após entrar em contato com o padre Joaquim Félix. Mas também pesquisei algumas informações no website do Seminário. O tempo de Pré-Seminário foi um tempo muito importante para o discernimento vocacional. Nele tive oportunidade de contactar com outros jovens que se encontravam na mesma situação que eu, com seminaristas e com sacerdotes, quer da equipa formadora, quer outros sacerdotes convidados, que, ao longo dos encontros mensais em que participei, foram dando o seu testemunho vocacional, partilhando experiências e respondendo às dúvidas que eu tinha. Essas conversas, e as dinâmicas desenvolvidas nesses encontros, permitiram-me formar uma base na qual assentou a minha decisão. 9
SEMINÁRIO MAIOR
“PERDOO, MAS NÃO ESQUEÇO?” Ângelo Machado
«Era uma vez um sacerdote estava farto de uma beata que todos os dias vinha contar revelações que Deus lhe fazia pessoalmente. Semana após semana, a boa senhora entrava em comunicação direta com o céu e recebia mensagens atrás de mensagens. O padre, querendo desmascarar de uma vez por todas tudo o que havia de superstição nestas correspondências, disse à mulher: “Olhe, da próxima vez que vir Deus, para eu me convencer de que é Ele que lhe fala, peça que lhe diga quais são os meus pecados, esses que só eu conheço”. Com isto, pensou o sacerdote, a mulher vai calar-se. Mas passados poucos dias, a mulher voltou. “Falou com Deus?” “Sim”. “E contou-lhe os meus pecados?” “Disse-me que não os podia dizer porque já os tinha esquecido”». Com esta estória, vamos ao encontro daquela velha frase do “Perdoo, mas não esqueço” que com tanta frequência se apresenta como modelo de perdão e de virtude, dois temas abordados no encontro mensal de espiritualidade orientado pelo Pe. Agostinho, sob o tema da Reconciliação. Inspirados pelo Relato da Criação percebemos que “o nosso mundo é dado ao homem como um jardim”. Nele, o homem é colocado por Deus, à Sua semelhança, numa situação de graça. Maso homem perde a beleza quando é tentado pelo pecado, não 10
por culpa de Deus, mas “por minha culpa, minha tão grande culpa”. Sempre que assim acontece perdemos a harmonia com Deus e com os outros, perdemos a paz, sentimo-nos desassossegados. Por conseguinte, o nosso diretor espiritual evidenciou que “o pecado é uma ruptura, quebra a nossa relação com Deus e depois com os outros”. Essa quebra provoca “o desejo de autossuficiência” e a “sedução do mal”, como adita Génesis 3. Com o pecado “o outro não é visto mais como irmão, mas um rival: Caim mata Abel”. (Gn. 4, 1-16) Na verdade, “o pecado quebra todos os laços de comunhão entre os irmãos e com Deus”, partilhou o Pe. Agostinho. O pecado quebra a fraternidade gerando uma espiral de inimizade, de incapacidade, de comunicação, de escutar o outro, colocando o orgulho, no lugar de Deus. A “desarmonia do pecado não afecta apenas as relações interpessoais, mas também
atinge o coração da cada ser humano”. Importa, então, meditar as três dimensões do pecado: com Deus, com o outro e comigo. Com efeito, “a história da salvação é a história da reconciliação. Jesus, ao dar a vida na cruz reconcilia-nos como o Pai. Quebra a espiral de violência e inimizade”. Por este motivo, “a reconciliação é, antes de mais, um dom do Senhor ressuscitado”, dom que Ele nos dá com a força do Espírito. A reconciliação é um dom que vem de Cristo, pois “Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. A reconciliação que Jesus nos traz é, primordialmente, uma reconciliação com Deus, é o fundamento da reconciliação da pessoa consigo e com os outros Em suma, este encontro permitiu-nos perceber que a razão pela qual Deus, além de perdoar, esquece os pecados: é porque tem de se dedicar tanto a amar que nem tem tempo de recordar o mal.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
VOLUNTARIADO NA PASTORAL UNIVERSITÁRIA DE BRAGA Sandra Pereira
Após mais um início de ano letivo repleto de propostas e atividades académicas para os estudantes universitários que chegaram este ano às nossas academias ou que regressaram para mais um ano de trabalho e estudo, a Pastoral Universitária de Braga propôs novamente um desafio a estes jovens: o voluntariado. Com esta iniciativa pretende-se mostrar que o voluntariado se pode assumir como uma das forças de transformação social, como meio de participação cívica dos cidadãos, como um espaço onde a sociedade dá voz aos seus anseios e expressa a sua vontade de mudança em prol dos
mais desfavorecidos e desprotegidos socialmente. As propostas passam por acompanhar as senhoras portadoras de doença mental na Casa de Saúde do Bom Jesus, desenvolver atividades de integração e motivação para jovens com dependências no Projeto Homem e proporcionar apoio escolar a jovens que revelam dificuldades de aprendizagem e motivação face ao seu percurso escolar com o projeto Mais Horizonte. A Pastoral Universitária procura proporcionar ao grupo de voluntários a possibilidade de vivenciarem experiências junto daqueles que pre-
cisam e colaborar no seu percurso de vida cristã e de fé num processo que se procura cada vez mais formal e sério, na medida em que cada um seja responsabilizado e responsável pelo trabalho a que se propôs, através de sessões de formação em voluntariado e encontros mensais de partilha e colaboração entre o grupo. Nas palavras do diretor da Pastoral Universitária, “ser voluntário é sair de nós para estarmos junto ao próximo”, é sair do nosso conforto para poder confortar outros, é dar ao outro um pouco de cada um e no final refletir no que realmente importa: a felicidade.
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PASTORAL DE JOVENS
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A XXXI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
Queridos jovens! Chegamos à última etapa da nossa peregrinação para Cracóvia, onde juntos, no mês de Julho do próximo ano, celebraremos a XXXI Jornada Mundial da Juventude. No nosso longo e exigente caminho, temos sido guiados pelas palavras de Jesus tiradas do «Sermão da Montanha». Iniciámos este percurso em 2014, meditando juntos sobre a primeira Bem-aventurança: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O ano de 2015 teve como tema «felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8). No ano que temos pela frente, queremos deixar-nos inspirar pelas palavras: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»(Mt 5, 7). 1. O Jubileu da Misericórdia Com este tema, a JMJ de Cracóvia 2016 insere-se no Ano Santo da Misericórdia, tornando-se um verdadeiro e próprio Jubileu dos Jovens a nível mundial. Não é a primeira vez que um encontro internacional dos jovens coincide com um Ano Jubilar. De facto, foi durante o Ano Santo da Redenção (1983/1984) que São João Paulo II convocou pela primeira vez os jovens de todo o mundo para o Domingo de Ramos. Depois durante o Grande Jubileu do ano 2000, mais de dois milhões de jovens, provenientes de cerca 165 países, reuniram-se em Roma para a XV Jornada Mundial da Juventude. Como aconteceu nestes dois casos anteriores, tenho certeza de que o Jubileu dos Jovens em Cracóvia será um dos momentos fortes deste Ano Santo. Talvez algum de vós se interrogue: Que é este Ano Jubilar celebrado na Igreja? O texto bíblico de Levítico 25 ajuda-nos a compreender o significado que tinha um «jubileu» para o povo de Israel: de cinquenta em cinquenta anos, os judeus ouviam ressoar a trombeta (jobel) que os convocava (jobil) para celebrarem um ano santo como tem-
po de reconciliação (jobal) para todos. Neste período, devia-se recuperar uma relação boa com Deus, com o próximo e com a criação, baseada na gratuidade. Por isso, entre outras coisas, promovia-se o perdão das dívidas, uma particular ajuda a quem caíra na miséria, a melhoria das relações entre as pessoas e a libertação dos escravos. Jesus Cristo veio anunciar e realizar o tempo perene da graça do Senhor, levando a boa nova aos pobres, a liberdade aos prisioneiros, a vista aos cegos e a libertação aos oprimidos (cf. Lc 4, 18-19). N’Ele, especialmente no seu Mistério Pascal, realiza-se plenamente o sentido mais profundo do jubileu. Quando, em nome de Cristo, a Igreja convoca um jubileu, somos todos convidados a viver um tempo extraordinário de graça. A própria Igreja é chamada a oferecer, com abundância, sinais da presença e proximidade de Deus, a despertar nos corações a capacidade de olhar para o essencial. Nomeadamente este Ano Santo da Misericórdia «é o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no dia de Páscoa: ser instrumento da misericórdia do Pai» (Homilia nas Primeiras Vésperas do Domingo da Misericórdia Divina, 11 de Abril de 2015). (………………..) Vaticano, 15 de Agosto – Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria – de 2015. FRANCISCUS (Mensagem Completa em: www.arquidiocese-braga.pt/pastoraljovens/noticia)
Dia Arquidiocesano do Animador Juvenil Será a partir da mensagem do Papa Francisco para a JMJ «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7) e da “Fé Anunciada” que iremos no próximo dia 28 de Novembro, no Centro Pastoral Diocesano, ter um dia de oração, formação e reflexão. Programa e inscrições em www. arquidiocese-braga.pt/pastoraljovens
Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.
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AGENDA (Seminários) 15 DE NOVEMBRO 06 DE DEZEMBRO
ABERTURA SOLENE DAS AULAS 15H30 - DEDICAÇÃO CAPELA 18H00 - APRESENTAÇÃO LIVRO “PLURALIDADE DE OLHARES”, SOBRE OS 90 ANOS 21H00 - CONCERTO C/ TERESA SALGUEIRO
08 DE DEZEMBRO
IMACULADA CONCEIÇÃO E FESTA DAS FAMÍLIAS
Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição
Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares