Voz de Esperança Set/Out 2014

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SET - OUT / 2014

SEMANA DE INTEGRAÇÃO

90 ANOS “Oito mil e seiscentos jovens fizeram aqui a sua experiência de vida em comunidade de discernimento vocacional”

Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XX - 5ª Série | Nº 42 | Bimestral 1,00 €

“Durante esta semana foi possível de forma serena e tranquila iniciar uma boa adaptação a uma nova vida” Miguel Rodrigues p. 10

A. Amorim p. 6

EDITORIAL

FÉ VIVIDA Tomando a conclusão de Tiago, na sua Carta (2, 17), ao afirmar que a Fé sem obras estará completamente morta, a Arquidiocese de Braga apresenta-nos a dimensão vivencial da fé como horizonte do novo ano pastoral. Depois da fé professada e celebrada, chega-nos o convite ao testemunho da fé traduzido em obras concretas, e na diversidade dos ambientes quotidianos. Assumindo o caminho proposto, o Seminário procura sintonizar-se com o ritmo da igreja local, concretizando o seu programa no convite de Maria em Canã: Fazei tudo o que Ele vos disser. Esta aproximação mariana deve-se ao facto de o Seminário de Nossa Senhora da Conceição celebrar, no presente ano lectivo, o seu 90º aniversário. A Imaculada Conceição é, habitualmente, representada na arte através da translucidade. Assim como a luz que passa e inunda interiormente, assim o Fiat de Maria transbordou Deus, na sua própria vida e na vida da humanidade; bem diferente da opacidade da negativa do Génesis... A caridade é essência da Igreja, porque manifestação da fé e translucidade de Deus. Só o encontro com Cristo motiva o encontro com os irmãos, só a relação com Deus é capaz de nos colocar, verdadeiramente, no caminho e a caminho com os irmãos. Porque a caridade nasce do encontro com o amor de Deus, que nos devolve, de novo e continuamente, ao amor dos irmãos. Como Maria, que concretizou o Sim da Anunciação em cada momento e em cada situação da sua existência, fazendo tudo o que Lhe foi dito da parte do Senhor!


VISÃO

A IMACULADA CONCEIÇÃO M. M. Costa Santos

A Imaculada Conceição na expressão dogmática diz: Maria, a mãe de Jesus, foi concebida sem pecado. Por graça isenta e preservada do pecado (incapacidade de responder a Deus que chama), Maria é instituída figura da nova criação. Ao responder ao apelo de Deus, situase face ao homem fechado na alienação (pecado); ela é “a verdade da criatura realizada” (Evdokimov), que se encontra a si, respondendo. Uma antropologia relacional mostra que graça e a liberdade, aparentemente contraditórias, realmente se condicionam na conjunção misteriosa da resposta: “Eis a serva do Senhor. Faça-se”. A relação entre a gratuidade de Deus, que chama, e o homem, que responde, revela que Deus não é rival e concorrente do homem, e o homem não é o solitário protagonista da sua vida; Deus é o “Deus connosco”, que torna o homem compreensível, alguém. Maria, Imaculada, interlocutora singular de Deus, perguntando “como será?”, e “perguntar quem (me) chama? é uma pergunta de homem livre” (M. Gabriela Llansoll), entra no mundo relacional novo; nela emerge uma nova possibilidade, em que pessoas livres respondem a Deus que chama. E, se Deus criou o homem sem ele, não o salva sem a sua liberdade. A salvação é dialogal; e Deus ao homem “abre o coração para aderir”, e o homem, respondendo, encontra-se a si. A vocação do homem, “pastor do ser” (Heidegger), mostra-o

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como um ser de esperança, em que o possível, “a dádiva mais preciosa que o ser tem para oferecer”, é a construção dum mundo relacional. O homem é criatura de Deus, situado num mundo simbólico de que não é a origem. Deus quis concretizar em Maria a humanidade nova: o homem voltado para o céu, responsável pelo próximo num mundo fraternal. Só ela, foi plenamente (filha) de Deus, (irmã) de todos os homens e livre (senhora do mundo) (Boff). Isenta, antecipa no tempo da peregrinação o que seremos na consumação em que nós “somos” o que seremos, nova criação. Preservada, mostra como somos preservados, ao viver em Cristo, na Igreja, por que Jesus preserva e liberta ‘os que o Pai lhe deu’. Ela revela o que acontece a quem é chamado por Deus; não foi a única, mas a primeira, privilegiada; e “o que foi verdade uma vez, vale para todos” (Rahner). Esta “universalidade” deu-se na definição dogmática de Pio IX (08. 12. 1854); o dogma apoia-se no facto eclesial do consenso da fé (comunhão) de todos (bispos e dos fiéis). A Imaculada Conceição cresceu na consciência dos cristãos ao longo dos séculos até ser definida. E, como “o que foi verdade uma vez, vale para todos”, a Imaculada Conceição é um privilégio popular e participável. No futuro, seremos totalmente para Deus, irmãos e livres numa

nova criação em que a justiça é mundo e o mundo justiça; mas, diferente de nós, pecadores, Maria testemunha que Deus não nos abandona. Maria, interlocutora de Deus, está diante de Deus Pai como receptividade; ela é imagem do Filho e para os “filhos no Filho”, como dom. A “bem-aventurada porque acreditou” é o cume da Igreja, comunidade fé e modelo da humanidade querida por Deus. Na escola de Maria, os homens tornam-se mais humanos e a Igreja aprende a dever-ser “esposa imaculada” (Ratzinger); todos aprendem que o apelo de Deus à salvação já “atrai” a resposta da fé e se torna dom de si para os outros. Maria, dialogando consigo mesma, como quem procura uma “compreensão mais profunda”, é a terra boa da PALAVRA. O facto eclesial do consenso (a comunhão) dos bispos e dos fiéis é “e-vento” da Igreja, que, meditando a PALAVRA que se fez HOMEM, “sente” pela fé que Maria é sem pecado. E se o que valeu para o dogma, deve valer para sempre, a Igreja, peregrinando no tempo, caminha para o que deve ser (comunhão) nova criação, olhando para a IMACULADA; como Mãe, ela segue com olhar amoroso os filhos (peregrinos em viagem), deixando aprender a olhar a vida como ela será no fim, em Deus, e para ir sendo como quem “ouve” uma voz familiar.

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ARTE

IMACULADA CONCEIÇÃO (I) Luís da Silva Pereira

É quase obrigatório iniciar este ciclo iconográfico dedicado à Imaculada Conceição, com uma obra de Bartolomé Esteban Murrillo. Com efeito, a maneira de representar, desde o séc. XVII, esta invocação mariana deve-se, fundamentalmente, ao grande pintor sevilhano, um dos mais importantes do barroco espanhol. Murillo nasceu em Sevilha, quase de certeza em Dezembro de 1617, uma vez que foi baptizado a 1 de Janeiro de 1618. Em Sevilha morreu, em 3 de Abril de 1682. Sofreu influências dos mais importantes pintores do seu tempo como Zurbarán, Rubens ou Federico Barocci, caracterizando-se as suas telas por cores suaves e luminosas. Dedicou ao tema da Imaculada várias pinturas. Embora o tema seja o mesmo, apresentam, no entanto, numerosas variantes. A Senhora é figurada entre nuvens, de pé, sobre o globo terrestre, ora perfeitamente delineado, ora mal se distinguindo das nuvens, como no presente caso. Aos pés, quase sempre tapados pela túnica, vêem-se geralmente três ou quatro cabeças de anjos, mas também outros anjos de corpo inteiro. Com muita frequência, como neste quadro, empunham símbolos da pureza

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de Nossa Senhora, como açucenas e rosas. Um deles segura uma palma, significando o triunfo de Maria sobre o pecado. Lembremos que Imaculada Conceição quer dizer, precisamente, que foi isenta do pecado original. Também aos pés, encimando o globo terrestre, costumam aparecer, viradas para cima, as pontas de um crescente lunar (em algumas representações aparecem voltadas para baixo). No presente caso, apenas se mostra uma das pontas. Alude ao versículo do Apocalipse (cap.12, 1) que descreve uma mulher “revestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e uma coroa de 12 estrelas sobre a cabeça”. Nesta iconografia não se representam as estrelas, mas elas aparecem em muitas outras, como veremos. O rosto da Virgem é sempre juvenilíssimo, de acordo, aliás, com o preconizado pelo também sevilhano e pintor Francisco Pacheco, no seu tratado Arte de la Pintura (1649). Defende ele que a Imaculada deve ser figurada “na flor da idade, entre 12 e 13 anos, muito bela, olhos amorosos e solenes, nariz e boca perfeitos, faces rosadas, cabelo muito belo e longo”. Como se confirma pelo quadro que reproduzimos, a Imaculada en-

verga habitualmente túnica branca e manto azul. Aqui, o manto esvoaça; noutras representações, túnica e manto caem naturalmente. Quase sempre, as mãos encontram-se em atitude orante, umas vezes juntas e erguidas, outras, cruzadas sobre o peito (neste caso chama-se de tipo franciscano), característica difundida sobretudo por Murillo e Ribera. Mas podem apresentar-se em várias outras posições: ambos os braços estendidos ou com a mão direita sobre o peito e o braço esquerdo estendido. Como se pode ver neste quadro, a Imaculada olha para o céu, característica obrigatória na iconografia da Assunção. Contudo, pode olhar também para a terra ou em frente, a cabeça virada para a esquerda ou para a direita. Com muita frequência, embora neste quadro não apareça, a Senhora calca aos pés uma serpente. Esse atributo lembra que a Imaculada é a nova Eva (por isso a serpente aparece com uma maçã entre os dentes) e alude ao versículo do Génesis em que se profetiza que Deus fará reinar a inimizade entre a serpente e a mulher, e que esta lhe esmagará a cabeça, ao tentar mordê-la no calcanhar (Génesis 3, 15).

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SEMINÁRIO MENOR

90º ANIVERSÁRIO DO SEMINÁRIO Pe. Avelino Amorim

Completam-se, a 14 de Novembro próximo, 90 anos do edifício da Tamanca (assim vulgarmente conhecido!) como seminário menor ou Seminário de Nossa Senhora da Conceição. A história do edifício e desta instituição de acompanhamento vocacional fundem-se no ano de 1924, mas não se confundem, porque ambos anteriores a essa data. O contexto em que os seus caminhos se cruzam foi o jubileu das bodas de prata episcopais de D. Manuel Vieira de Matos. Desde aí e até aos dias de hoje, mais de oito mil e seiscentos jovens fizeram aqui a sua experiência de vida em comunidade de discernimento vocacional. Talvez o nosso olhar se fixe primeiro nos cardeais, arcebispos e bispos, e inúmeros sacerdotes que aqui deram os primeiros passos no aprofundamento da sua vocação, mas é mais que justo sublinhar também o número, ainda maior, de tantos homens que, abraçando a vida laical, aqui construíram os alicerces da sua dedicação à Igreja e à sociedade. Ao longo deste ano procuraremos celebrar condignamente este aniversário. Iniciativas de natureza diversa estão a ser preparadas, como pode conferir-se na página IV do suplemento desta edição. O olhar sobre a história e o passado, que fundamenta o presente, é o motivo do colóquio que, em Março, realizaremos com 6

especialistas na área das ciências humanas e do acompanhamento vocacional. Porque confiamos que o Seminário é o lugar desejado por Deus para o acompanhamento dos seus filhos mais jovens que sentem a possibilidade de serem por Ele chamados à vida sacerdotal, e por isso um lugar e experiência com futuro! Por feliz coincidência, o Seminário viu aprovada uma candidatura a fundos comunitários, já introduzida há cerca de 5 anos. Intitulada Requalificação dos espaços de serviços comum do Seminário, o projecto candidatado obedeceu a critérios muito específicos para a referida requalificação: a adequação dos espaços

utilizados pela comunidade eclesial e civil, sem prejuízo da função primeira e mais importante do edifício - continuar a ser seminário menor; o reforço de algumas instalações, insuficientes para o movimento que a casa regista, como são os acessos a pessoas com mobilidade reduzida ou idade sénior, e instalações sanitárias; a resolução de graves problemas estruturais e de segurança que reclamavam solução urgente. Tudo para melhor servir o Seminário e as pessoas e instituições que acolhe. Nas próximas edições do Voz de Esperança daremos conta das iniciativas programadas para celebrar data tão significativa!


DESCANSO PRÓSPERO José Miguel Silva, 11º ano

Decorreu entre os dias 14 e 20 de julho o Encontro de Férias da comunidade do Seminário Menor, este ano, no arciprestado de Póvoa de Varzim. Porque de férias a vida em comunidade faz sentido, deslocamonos para um ambiente diferente do nosso quotidiano, com o objetivo de desenvolver laços de amizade e o espírito de trabalho de equipa que vence as adversidades. Acantonados com o apoio da comunidade local, participamos na vida da mesma animando uma Eucaristia semanal, e pudemos contar sempre com a ajuda do pároco, ao qual podemos agradecer toda a amabilidade com que nos acolheu. Nos cinco dias passados fora do seminário, as tarefas dividiram-se, e, com as aptidões e “talentos” de cada um, desenvolvemos as atividades e refeições que, por vezes, eram preparadas por nós. Numa das refeições que fizemos em comunidade, pudemos contar com a presença do Sr. D. Jorge Ortiga, que partilhou do nosso espírito alegre e jovial. Com a presença dos formadores, fomos à praia e, também, à pesca por diversas zonas da costa, proporcionando uma experiência nova e enriquecedora para alguns de nós que nunca o fizéramos. Não esquecendo a vida do Seminário enquanto tempo de aprendizagem, tivemos a última recoleção do

ano com a presença dos diretores espirituais da nossa comunidade. Numa longa caminhada à beiramar, tivemos a oportunidade de refletir de forma única sobre as nossas fragilidades este ano e o que poderemos melhorar no próximo ano, com os elementos de cada ano. Escutar o que os outros acham de nós, tornouse, assim, forma de podermos olhar para o nosso interior e ver o que está mais escuro, e, de que forma, as “trevas” que existem em nós podem ser dissipadas. No mesmo âmbito, desenvolveram-se conversas pessoais entre os formadores e os seminaris-

tas, com o intuito de analisar o ano que termina, de que forma este ano foi proveitoso, ou não; de que forma fomos capazes de ser verdadeira comunidade ou nos afastamos do propósito do seminário; como podemos melhorar enquanto pessoas, e de que forma a nossa vocação pode ser ajudada por nós próprios. Este nosso encontro, terminou com o encontro de pais, culminar de um ano passado em família, e projeção de um novo ano que depressa começará, em vista a felicidade de cada um e de todos nós, como irmãos e comunidade. 7


SEMINÁRIO MENOR

ACAV II, O TEU RUMO! Jorge Fernandes, 12º Ano

Nos dias 10 a 13 de julho realizou-se, no seminário menor, o ACAV II. Um acampamento escutista que contou com a presença de 110 pioneiros de 6 agrupamentos (Duas Igrejas, Ribeirão, Cossourado, Joane, Nespereira e Bairro) sobre o imaginário “Asterix e Obelix nos Jogos Olímpicos”. Estes quatro dias na “Aldeia de Tamaclave” foram passados num verdadeiro espírito escutista onde reinava a alegria, a amizade, a entreajuda, a boa disposição, a partilha e o testemunho de fé. Este acampamento esteve repleto de atividades. Destacamos o fogo de conselho onde todos os agrupamentos presentes apresentaram uma peça de teatro ou jogo ou música para que os escuteiros se conheces-

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sem, um pedy-paper pela cidade que tinha como principal objetivo mostrar a união do grupo e criar espírito de entreajuda e partilha mas também dar a conhecer um pouco melhor a cidade. Foi realizada uma caminhada ao longo da ciclovia. A vocação a que somos chamados foi o principal objetivo. Ao longo da caminhada foram proporcionados momentos em que cada escuteiro era convidado a olhar para o seu interior e a fazer um exame de consciência. Nos vários pontos ao longo da caminhada existiram frases emblemáticas como: “O que dizem os teus olhos?”, “Há mais em nós!”, “ Podias viver sem fé? Podias mas não era a mesma coisa”. Foi também proporcionado assistir à sessão de cinema e ao concerto

musical levados a cabo pelo Auditório Vita. Ao longo destes quatro dias foi possível aos escuteiros participar na eucaristia diária e na qual se notou uma grande alegria pela parte dos jovens. No domingo realizou-se a eucaristia de acção de graças, seguindo-se a entrega das lembranças e a despedida na qual se notou uma enorme alegria no rosto e o sentimento de no próximo ano cá voltar. Na verdade, agora olhando para o que foi o Acampamento apercebemo-nos que a mensagem transmitida foi aquela que queríamos devido, principalmente, ao facto dos escuteiros estarem dispostos a escutar o que lhes era dito e a realizaram todas as atividades propostas com empenho e alegria.


UM TEMPO DIFERENTE Bruno Lopes, 12º Ano

Foi entre os dias 1 e 8 de agosto que os alunos do 11º ano do Seminário Menor de Braga, juntamente com mais nove adolescentes, deixaram o aconchego de suas casas para realizar a experiência de voluntariado na Casa de Saúde de São João de Deus em Barcelos. Um momento propício para pôr em prática o mandamento do amor com os mais abstraídos da sociedade. O objetivo deste voluntariado foi enriquecer o forte espírito de união entre o nosso ano, bem como a entrega total aos outros, não pondo de lado o mais fraco e o mais necessitado. Foi uma experiência cheia de fortes emoções, marcada pela curiosidade e o acolhimento próprio dos utentes. Sentimo-nos verdadeiramente úteis dando aquilo que quotidianamente desperdiçamos sem sentido: o nosso tempo. Tempo para

nos abraçarem, para conversarem connosco, para passear e até para os ajudar nas refeições. Mas a maior dificuldade daqueles nossos irmãos especiais é a solidão e o desprezo. Fiquei um pouco triste ao perceber que nem a própria família estava lá para lhes dar o apoio que tanto precisavam, pois muitos doentes estavam curados, mas continuavam na instituição por não terem ninguém capaz de lhes estender a mão. Reparei que eles eram capazes de esperar um dia inteiro por um familiar que não soube esperar por eles. Ao longo desta semana apercebime que os doentes bem como os auxiliares tinham por hábito participar na eucaristia de forma ativa, o que me chamou bastante a atenção, pois via que até mesmo aqueles doentes que eram mais nervosos, na presen-

ça de Deus, eram capazes de acalmar o seu coração e escutar com toda a atenção aquilo que Deus tinha para lhes dizer naquele dia, pois como um doente dizia “é bom tu estares aqui e eu estar aqui” e assim agradecia todos os dias a dádiva de Deus por poder estar ali, o que me deixou a pensar que tantas vezes não damos valor a tantas coisas quando a própria vida é uma dádiva e nem essa agradecemos. No fim desta experiência espero ter deixado a minha marca nesta casa tal como ela me deixou em mim, pois é muito difícil de esquecer os doentes que ficaram tristes com a nossa partida. Agora penso que todas as pessoas deveriam realizar esta fantástica experiência conhecendo assim novas realidades que tantas vezes nos passam completamente ao lado e nos são tão próximas. 9


SEMINÁRIO MAIOR

SEMANA DE INTEGRAÇÃO SEMINÁRIO CONCILIAR DE BRAGA Miguel Rodrigues 1ºAno Teologia

Nos dias 7 a 12 de Setembro de 2014, a Comunidade Seminário Maior acolheu e deu as boas vindas aos novos jovens que vão iniciar a sua caminhada no Seminário Maior. Esta semana de integração tem como principal objetivo a possibilidade de os novos jovens poderem contactar mais directamente com o quotidiano

guas clássicas leccionadas no 1º Ano de Teologia. Igualmente, foi também propiciado no Seminário Maior um apoio ao longo do ano ao nível da escrita e das línguas clássicas. Apoio que certamente proporcionará aos novos alunos um estudo mais organizado e efectivo conduzindo à obtenção de bons resultados a nível escolar.

e a vida em comunidade, assim como com as actividades que terão ao longo de todo ano. Neste sentido, foi ministrado um curso de revisão gramatical na Faculdade de Teologia de modo a fomentar bases essenciais no apoio às lín-

Por outro lado, existiu também durante a semana uma grande preocupação relacionada com o estado espiritual, tendo sido proporcionado um encontro com os directores espirituais na qual foi reforçada a importância da oração na vida de cada um.

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Para além da oração comunitária que é realizada todos os dias, é necessário um tempo individual de encontro com Deus de modo a que cada um possa agradecer e pedir a graça de Deus para o novo caminho que agora inicia. Deste modo, existiu igualmente uma formação ao nível litúrgico para que todos compreendam melhor as orações diárias e desse modo possam vivenciar mais intensivamente este dom maravilhoso que o encontro com Deus através da oração. Na vida qualquer mudança exige sempre uma adaptação por parte dos intervenientes. Assim, foram facultados aos jovens dois encontros que visam a motivação e auxílio a fazer face aos novos desafios. Desta forma, é possível adaptar-se da melhor forma ao afastamento físico da família e à organização e motivação para os novos desafios escolares, nomeadamente na escolha das melhores técnicas de estudo. Durante esta semana e com o constante apoio da equipa formadora, seminaristas dos anos superiores, directores espirituais, psicóloga e outros intervenientes, foi possível de forma serena e tranquila iniciar uma boa adaptação a uma nova vida, descobrindo uma nova família que está sempre disponível a apoiar. Tudo isto é imprescindível para fazermos face aos desafios que Deus nos coloca a cada momento, tornando-nos verdadeiros instrumentos em Suas mãos.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

TESTEMUNHOS DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS DA MISSÃO EM CABO VERDE

Há experiências que, de tão fortes e marcantes, se tornam difíceis de explicar. A missão a Cabo Verde é uma dessas experiências. A Pastoral Universitária de Braga proporcionou essa experiência de Missão a 12 jovens universitários, que decidiram pôr-se a caminho no mês de Agosto. (...) As atividades preparadas para os dias em Cabo Verde foram bastante fortes a nível emocional, humano e espiritual. É tão fácil apaixonarmonos por aquele povo! Amor disponível, sorriso fácil que nos prendia logo num primeiro contacto. Ensinámos e partilhamos mas, acima de tudo, aprendemos, tornámo-nos pessoas mais desprendidas e puras. Na verdade, tudo nesta experiência foi maravilhoso, mas aquilo que mais me marcou foi a prontidão com que nos receberam, o esforço que fizeram para nos dar tudo do melhor e o carinho que to-

dos demonstraram por nós. (...)Foi uma missão com um misto de alegria e, ao mesmo tempo, um sentimento de impotência por termos consciência de que não conseguimos “mudar o mundo”. Apesar disso, a felicidade em tê-los conhecido e saber que os marcamos e gostaram de nós tanto como nós deles, prevalece acima de tudo. Margarida Dias, Curso Serviço Social, UCP

Como a maioria dos jovens da minha idade, perseguia-me intensamente, desde criança, o desejo de fazer voluntariado. É, na nossa mente inocente, inexperiente e cheia de esperanças ilusórias, a forma que pensamos que pode mudar o mundo. (...) A questão é a seguinte: alimentamos o nosso espírito com trigo ou com joio? O grupo de missionários da Pastoral Universitária de Braga es-

colheu o trigo. Esse trigo foi ainda regado com a melhor e mais pura casta, o sangue do nosso Santíssimo Pai. (...) Ao longo do mês de Agosto, fomos subindo as escaleiras que nos eram apresentadas pelo Espírito Santo e nunca renunciámos a tal privilégio, o que nos foi tornando cada vez mais fortes e comprometidos. A cada semana, dia, hora, minuto e segundo, a intensidade ia crescendo e, olhando para trás, víamos todo o amor que vínhamos a receber pelo percurso e não conseguíamos racionalmente perceber a sua origem e motivação. É assim que se processa o transcendental, todo o racionalismo intelectual é demasiado pequeno para sequer questionar a obra de Deus. (...) Por fim regressámos ao nosso mundo, como se de um sonho se tivesse tratado. A questão que permanece é a seguinte: Quando acordar num novo reino, o que levarei deste reino para o novo? E o que deixarei no antigo? São estas duas questões que motivam a nossa vida de momento, saber como poderemos ter sonhos cada vez mais bonitos, de acordo com a vontade do nosso Pai, e ao mesmo tempo compreender, como podemos genuinamente melhorar o sonho de todos os nossos irmãos, mesmo daqueles que olham e não veem. José Gonçalves, Curso de Turismo, UCP

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PASTORAL DE JOVENS

FELIZ REINO DOS POBRES Pe. Eduardo Novo (Director do DNPJ) Felizes os que compreendem que a felicidade não é uma meta, mas um caminho: não deixarão de se alegrar a cada dia. Dedicarão a cada momento o entusiasmo que preenche a vida de afeto e de ousadia, reavivando sempre com um sabor a novidade a aspiração profunda que os habita a agarrarem o essencial com a coragem de quem deseja profundamente viver até ao extremo. Não se deixarão confundir com as promessas, tão fáceis quanto ilusórias e efémeras, do inebriamento que o sucesso, o prazer e a riqueza egoísta oferecem. Mas reconhecerão em Deus a única fonte inesgotável da alegria interior, que sacia e frutifica em vida abundante. Felizes os que ousam viver até às últimas consequências a revolução das bem-aventuranças, dessa lei libertadora oferecida pelo Nazareno para escândalo de um mundo demasiado focado na auto-satisfação. A lei dos felizes é a liberdade que o mundo não pode compreender. É a liberdade de quem vive contra a corrente, não porque deseje contrariar a todos, mas porque não pode ser fiel a si mesmo senão vivendo segundo uma outra lógica, falando uma linguagem diferente: a lógica e a linguagem da pró-existência, de quem vive para se dar, de quem vê no Cristo o jeito de ser que responde aos anseios mais profundos e sinceros do mistério do homem. Felizes os que se desprendem de quanto é supérfluo: não deixarão de encontrar Deus. Porque Deus se encontra para lá de todas as máscaras e subterfúgios, de todos os medos e justificações, ali onde o homem se confronta com a sua verdade. Na nudez da minha verdade, aí se encontra Deus. Só aí, desprendido de todas as «cisternas rotas que não podem reter as águas» (Jer 2,13), se constrói o Reino dos felizes, o Reino dos céus, o Reino do Deus que é «nascente de águas vivas». João Paulo II, que, a 27 de Abril, foi declarado feliz porque muito ousou a felicidade verdadeira que brota da cruz de Cristo, continua ainda hoje a desafiar os jovens a que abram, que escancarem as portas do seu coração a Cristo, que se deixem habitar pela lei da felicidade que é loucura para a mediocridade de um mundo auto-satisfeito, mas que é encontro verdadeiro de alegria plena com Aquele que dá resposta ao anseio mais profundo que nos habita. […..] Quem ousará construí-lo? Deixemo-nos invadir por este Reino. Não te conformes, transforma-te. Sê mensageiro e protagonista das Bem-aventuranças!

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.diocese-braga.pt/seminariomenor www.fazsentido.com.pt seminariomenor@diocese-braga.pt vozdeesperanca@diocese-braga.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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