NOV - DEZ / 2016
MARIA, MÃE DA ALEGRIA ““Aquele que é fonte de Vida, é quem inunda de alegria a maternidade de Maria”.
Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXI - 6ª Série | Nº 55 | Bimestral 1,00 €
Elisabete Moreira e Elvira Rebelo p. 2-3
MÚSICA PARA OS MEUS OUVIDOS “A música é celeste, pois é a sua natureza divina que encanta, pela beleza, a alma, levando-a a sonhar” Rui Araújo p. 9
EDITORIAL
MOVIDOS PELA MISERICÓRDIA DE DEUS Aproxima-se a Semana de Oração pelos Seminários, este ano sob o lema “Movidos pela misericórdia de Deus”. De facto, etimologicamente, misericórdia é a virtude de quem “abre o coração ao miserável”, isto é, de quem, à luz da misericórdia de Deus, está inclinado para a compaixão ao próximo. Neste sentido, a vocação sacerdotal não nasce somente de um chamamento, mas brota como fruto do encontro de Deus misericordioso com o homem perdido e encontrado, concretizado numa diversidade de caminhos escolhidos, sempre vividos com a intensidade de uma entrega absoluta e incondicional à Igreja e ao mundo. No contexto da Semana dos Seminários, colocamos também no regaço da Senhora da Conceição os formadores que, ao longo dos últimos anos, deram corpo, como ícone de alegria, a uma total disponibilidade aos jovens que se propõem a um processo de discernimento vocacional em Cristo. A todos os que, ao longo de tantos anos e séculos, ajudaram a que as semina (sementes) fossem lançadas e cultivadas no seminarium (seminário), enquanto verdadeiro viveiro de vocações, e sublinhando o teor de gratidão aos que deixaram este exercício no ano transato, o Cón. Avelino Amorim e o Pe. Marc Monteiro, equipa formadora, bem como ao Pe. José Granja, diretor espiritual, os seminários arquidiocesanos e toda a nossa arquidiocese, nesta semana maior, subscrevem o seu profundo reconhecimento pelo bem e dons recebidos. Em suma, este número projeta-nos para uma tomada de atitude, à semelhança de Maria, a cheia de graça, que vive com entusiasmo a Alegria recebida no seu seio maternal. Não obstante a presença de justificadas dúvidas no seu “sim”, estas encontraram no nascimento do seu Filho Jesus a prova de que vale a pena ser instrumentos de Deus ao serviço da vida, quando ela gera “pro-vocação” naqueles que connosco se cruzam e aceitam ser tocados pela misericórdia de Deus que chama.
VISÃO
MARIA, MÃE DA ALEGRIA Elisabete Moreira e Elvira Rebelo
A boa notícia veio ao nosso encontro e de imediato nos desinstalou da rotina do quotidiano: é preciso anunciar a alegria de Maria no Nascimento de Jesus! Mas… não será isto uma evidência? Não é verdade que a maternidade caminha de mãos dadas com a alegria pelo dom da vida? Lamentavelmente, a experiência humana diz-nos que nem sempre é assim. Aqui, a partir deste lugar que ocupamos na geografia do mundo, vemos que a Europa se afasta perigosamente da cultura da vida. «Na raiz da crise da esperança, está a tentativa de fazer prevalecer uma antropologia sem Deus e sem Cristo. Esta forma de pensar levou a considerar o homem como “o centro absoluto da realidade, fazendo-o ocupar astuciosamente o lugar de Deus e esquecendo que não é o homem que cria Deus, mas é Deus que cria o homem (…). Os sinais da diminuição da esperança manifestam-se às vezes através de formas preocupantes daquilo que se pode chamar uma “cultura de morte”» (Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, nº 9) Recentremo-nos, pois, naquela que é a boa notícia! Maria é Mãe. Mãe de Jesus, Mãe da Igreja. Mãe nossa. Maria está inteiramente do lado da vida. E Jesus, Aquele que é fonte de Vida, é quem inunda de alegria a maternidade de Maria. O segredo da sua alegria está em deixar-se habitar por Aquele que é a própria vida. A alegria de Maria nasce desta intimidade, que não só é profunda mas visceral. Também assim é a alegria autêntica. Ela não é coisa epidérmica, sorriso fácil, gesto descontraído ou passo ligeiro… A verdadeira alegria está antes e para além de todas estas coisas. Observemos pois a alegria de Maria,
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que começa por ser uma alegria desassossegada, visto que «o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”. Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação» (Lc 1, 27-28), no contexto de uma gravidez sobressaltada. Segundo o relato de S. Mateus, «o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente» (Mt 1, 18-19). Numa atitude física e emocionalmente exigente, «por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”» (Lc 1, 3941). O esforço emocional e físico de Maria foi sentido inclusive no momento do parto. «E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7). O momento do parto constituiu uma grande dificuldade para Maria, para não falar nos momentos depois dele. S. Mateus diz-
-nos também que Maria e José, «avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho. Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar”» (Mt 2, 12-14). Maria, habitada pela própria vida que é Jesus, encontrou-se, na verdade, com a Alegria. Mas só conseguiremos vislumbrar a alegria de Maria no nascimento de Jesus, se, efetivamente, tomarmos consciência da sua adesão, livre e inteira, ao projeto de Deus. Maria não “tem” um filho, Maria “dá” o filho para a nossa Salvação. Esta alegria não pode abrigar a dor maior, dado tratar-se já de um amor maior, de um amor de mãe, de um amor da Mãe, aquela que, sobretudo neste ano mariano na nossa arquidiocese, nos ensina o valor maior do dom da vida alegre que deve ser partilhado com todos. «Não pode haver dores inconsoláveis nem alegrias exclusivas», escrevia Frederic Ozanam. Não há alegria sem partilha e a alegria de Maria no Nascimento de Jesus é plena, pois Maria dá tudo, dá-O todo… Podemos olhar para as invocações de Maria ao longo da História e nelas ver faces da alegria da maternidade. Tudo em Maria diz Mãe: «Maria é o corpo humano em “quem” se dá a incarnação» (J.C. Miranda, O Corpo e a Glória). Ela é a Imaculada Conceição, a Senhora da Expectação, a Senhora do Ó (lembrando a invocação inicial das sete Antífonas do Magnificat), a Senhora da Anunciação, a Senhora da Visitação e, também, a Mãe da Alegria.
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ARTE
ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA (2) NASCIMENTO DO MENINO Luís da Silva Pereira
O nascimento de Jesus Cristo, juntamente com a paixão e morte na cruz, é o mistério cristão que mais abundante criação artística suscitou, apesar de apenas S. Lucas (2, 1-20) narrar com algum pormenor o acontecimento transcendental para a Humanidade. S. Mateus (2, 2) também o refere, embora laconicamente: “Tendo nascido Jesus em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes”. Imediatamente, passa a contar a chegada dos Magos. Provavelmente, a maioria das pessoas que frequenta a igreja dos Congregados nunca reparou no presépio que lá existe, permanentemente montado, todo o ano. Está na porta do sacrário do altar da Senhora das Dores, o último do lado direito de quem entra. A presença de um presépio em porta de sacrário é, quanto sei, raríssima. É mesmo o único caso que conheço. Quem foi o artista que o moldou, ninguém sabe. Podemos colocar a hipótese de ter sido o próprio André Soares, o autor do retábulo. Mas não há documentos que o confirmem. Enquadrado numa moldura oval, com as figuras finamente esculpidas em cera, de tamanho muito reduzido, quase miniatural, apresenta as personagens comuns a quase todos os presépios. Dentro de um edifício
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em ruínas, elemento que começa a parecer em finais do séc. XV, e significará o mundo destruído pelo pecado, o Menino, envolto em panos, deitado sobre palhas, ocupa o lugar central. À sua direita e no lugar mais próximo dele - o lado direito é o lado de maior dignidade – encontra-se Nossa Senhora. S. José está logo atrás. Do lado esquerdo, quatro pastores, de diferentes idades, o burro e a vaca. No chão, vê-se uma cesta de ovos. Os artistas, sobretudo na época barroca – lembremos só Machado de Castro – gostam de povoar os presépios de figuras populares trazendo ao Menino toda a espécie de oferendas. Na zona superior, três anjos esvoaçam entre nuvens. Dois deles, já de braços mutilados, desenrolam uma filactera onde se pode ler ainda “Gloria in”, que é o começo do cântico com que anunciaram aos pastores o nascimento de Cristo (Gloria in excelsis Deo). Todos estes elementos são convencionais, combinando-se de infinitas maneiras, segundo a inspiração dos artistas e as escolas a que pertencem, desde os tempos mais antigos. O elemento iconograficamente supreendente, porém, é aquela massa esbranquiçada que, do meio dos anjos, se despenha das nuvens em direcção ao Menino. Como po-
deremos interpretá-la? Julgo que representará a chuva, uma chuva abundante, torrencial, caindo sobre a Terra. A que propósito se encontrará ali representada? Se está correcta a nossa interpretação, será uma ilustração escultórica da antífona própria do Advento “Rorate coeli desuper et nubes pluant justum”, texto retirado do profeta Isaías, cap. 45, 8, que poderemos traduzir assim: “Ó céus, orvalhai lá do alto e que as nuvens chovam o Justo”. É uma antífona que, muito poeticamente, implora a vinda do Salvador. Estaremos, portanto, diante de um presépio especialíssimo que poderíamos classificar de tipo “Rorate Coeli”. É, como já disse, uma iconografia muito original e rara, uma verdadeira preciosidade que a cidade de Braga possui e que devia ser muito mais conhecida. Entretanto, que relação haverá entre o nascimento do Menino e a reserva Eucaristia guardada atrás dessa porta? A escultura pretende, em nossa opinião, ensinar-nos que o que ali está guardado, no sacrário, é Cristo vivo, encarnado, é o seu corpo e sangue, a sua inteira humanidade, tal como nasceu da Virgem Maria e se deitou, envolta em panos, nas palhas do estábulo. É o espantoso mistério da encarnação.
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SEMINÁRIO MENOR
DAR A VIDA AO AMOR DE DEUS Manuel Matias, 10º ano
A tomada de posse dos três novos formadores do Seminário de Nossa Senhora da Conceição teve lugar no dia 22 de setembro, tendo servido também de arranque para o novo ano letivo de 2016/2017. Na celebração da Eucaristia, D. Jorge Ortiga desafiou os seminaristas a “acolherem e aprofundarem o dom da fé, para que no futuro possam partilhar a alegria e ousadia de transmitirem a mensagem de Deus a todos os que lhes forem confiados”. Por isso, exortou todos os presentes: “não tenhais medo de dar a vossa vida ao amor de Deus, pois é Ele que nos interpela”. O Sr. Arcebispo agradeceu ainda “a disponibilidade e o espírito de unidade” dos sacerdotes Mário Martins e Rui Sousa e do diácono Rúben Cruz, que vão
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continuar a missão anteriormente desempenhada pelos padres Avelino Amorim e Marc Monteiro, que passaram a servir diversas comunidades paroquiais da diocese. O empossamento dos novos responsáveis pela formação contou ainda com a participação da equipa formadora do Seminário Maior, de todos os seminaristas diocesanos e dos familiares destes três responsáveis pela formação dos seminaristas, que fizeram promessa de fidelidade no serviço e testemunharam a sua profissão de fé, perante todos os presents, na renovada capela Imaculada. “A igreja não vive para fazer coisas, mas para ser instrumento de comunicação entre Deus e a sociedade”, enfatizou o prelado, salientando
que o “Seminário tem de ser local de experiência profunda da fé em Deus, para que depois O possam mostrar à sociedade e a todos aqueles que querem ver a Cristo”. Assim, “a fé tem que ser vivida com alegria e anunciada com ousadia, pois não é o mundo que determina a nossa maneira de ser e de proceder, mas o Evangelho que orienta a atitude e trabalho a realizar”. Aos responsáveis, o titular da Igreja de Braga agradeceu “a disponibilidade para servirem a Igreja, prestando fiel ajuda aos bispos diocesanos”, notando que “o ato de posse não é um ato burocrático, como de um qualquer cargo público, mas uma promessa de fidelidade àquilo que Deus quer, acatando a disciplina e a ordem da igreja”.
A ALEGRIA DA DESCOBERTA Rafael Cepa, 12º ano
O Seminário de Nossa Senhora da Conceição iniciou, no passado sábado, dia 22 de outubro, os encontros de Pré-Seminário, que decorrem, ao longo de todo o ano, uma vez por mês, tendo como tema central deste ano “A Alegria da Descoberta”, em consonância com o programa pastoral diocesano dedicado à “Fé Comtemplada em Maria”. Numa receção calorosa no átrio do Seminário, os pré-seminaristas deixaram-se envolver por todo um ambiente de alegria e entusiasmo, onde a música foi crucial para se criarem laços de amizade que permitam fazer um caminho conjunto, de valorização comunitária. Neste primeiro encontro participaram jovens, entre os 12 e os 16 anos, provenientes de quase todos os arciprestados da Arquidiocese. A maior parte destes candidatos participou pela primeira vez num encontro de discernimento vocacional, aceitando o convite para
se auto-descobrir, num caminho pedregoso, mas alegre, onde a dúvida reina e a alegria impera. Neste sentido, na primeira parte da manhã, os jovens foram convidados a refletir sobre as dúvidas, discernindo o local que estas ocupam no nosso percurso de vida, e, particularmente, neste caminho que procuram percorrer. O diálogo vocacional começou, antes de mais, pelo conhecimento da casa que os acolhe. Por esse motivo, fizeram uma visita guiada ao Seminário, passando por cinco espaços cruciais na vida da comunidade, os quais os ajudaram a fazer um bom discernimento por meio de uma dinâmica introspetiva em cada um dos espaços. Para uma melhor compreensão da temática das dúvidas, e já depois de almoço, os pré-seminaristas, num encontro na sala Padre António, abriram o seu coração à escuta, contando, para tal, com a ajuda de dois testemu-
nhos que, através do Pré-Seminário, fizeram o seu discernimento vocacional, seguindo caminhos vocacionais diferentes. O Simão e o Rui expressaram-lhes a ideia de que o bom discernimento só se faz na medida em que cada um se dispõe a dialogar, a partilhar e a escutar, de forma comprometida, a voz de Deus e a do próximo. Depois de um dia intenso, mas proveitoso, houve ainda oportunidade para um jogo de futebol, reforçando a ideia do companheirismo e da entre-ajuda. No final de um pequeno lanche, o diretor do Seminário, padre Mário Martins, transmitiu uma palavra de entusiasmo e motivação para este caminho que iremos percorrer juntos. Esta proposta de caminho tem de ser uma realidade nas nossas comunidades, porque Deus chama a todos, só que por vezes é difícil ouvir a sua voz. Para isso, não nos devemos cansar de propor aos jovens a alegria da descoberta. 7
SEMINÁRIO MAIOR
INCARNAÇÃO MISSIONÁRIA Tiago Leonel Cunha, 6º ano de Teologia
Outubro é o mês em que a Igreja, por natureza, missionária (cf. AG 5; RM 62), foca o seu olhar nas obras missionárias. Neste sentido, a comunidade do Seminário Conciliar de Braga promoveu, no dia 12 de Outubro, uma atividade missionária, contando com a colaboração habitual do CMAB (Centro Missionário Arquidiocesano de Braga), uma equipa da nossa Arquidiocese constituída por sacerdotes, religiosas e leigos, que promovem e coordenam a formação, animação e cooperação missionária entre todos os cristãos. A atividade começou com a celebração da Eucaristia, fonte por excelência de toda atividade missionária, presidida pelo Padre Guedes (Missionário da Boa Nova), que desafiou toda a comunidade a deixar-se iluminar pelo Espírito, para todos sermos verdadeiras testemunhas do amor misericordioso de Deus. Após o jantar convívio, fomos agraciados por duas partilhas de sa-
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cerdotes missionários da Boa Nova, que testemunharam como são as atividades missionárias em Moçambique e na Zâmbia, partindo da ideia de que um sacerdote tem de ter sempre um espírito missionário. Pelas experiências partilhadas, percebemos que esta é uma tarefa árdua, dadas as desigualdades sociais e a pobreza extrema que afeta estes países, o que torna difícil levar Jesus sacramentado a algumas comunidades do mundo e requer muitas vezes que nos desinstalemos do nosso espaço de conforto para matar a sede e fome espirituais de muitos cristãos que vivem em condições desumanas, mas não desistem de procurar Aquele que lhes dá vida em abundância. A experiência missionária é de uma enorme riqueza para a Igreja, pois permite aos seus pastores um forte crescimento que o contacto com outras realidades culturais possibilita. Além disso, propicia ainda
a aquisição de novos métodos de evangelização, contribuindo para uma maior riqueza eclesial. Porém, tal é apenas possível quando se vive a missão de forma incarnada, ou seja, quando nos colocamos ao serviço do outro, de forma autêntica e verdadeira, o que exige um contínuo esforço de inculturação. Eis a riqueza da experiência missionária: criação de laços de afinidade e de amor com as comunidades, em verdadeiro espírito de comunhão eclesial. O encontro terminou com dois desafios lançados a todos os seminaristas: que nunca deixem de cultivar o modelo missionário, pois temos de estar em contínua saída; que nunca coloquem de parte a hipótese de um dia fazerem uma experiência missionária, tendo presente a exortação que Jesus fez aos seus discípulos: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19).
MÚSICA PARA OS MEUS OUVIDOS!? Rui Araújo, 6º ano de Teologia
“A música é celeste, de natureza divina, é de uma tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”. Aristóteles
Certamente acharão inoportuno preludiar a reminiscência do V aniversário da dedicação da Capela Árvore da Vida com um pensamento acerca da música. De todo! Este pensamento de Aristóteles é, na verdade, revelador da experiência que a comunidade do Seminário Conciliar teve a oportunidade de viver. Depois da azáfama das aulas, nas suas exigentes reflexões, do ruído da cidade, com os seus turistas, o comércio, os transportes públicos, as crianças, os jovens e os adultos, chegamos a um momento que convidou a silenciarmos e serenarmos o nosso ser, ou seja, elevar tudo o que temos e somos a Deus. A celebração da Eucaristia, momento central na vida de cada criatura, foi para a comunidade de Seminário um momento sublime de contemplação e agradecimento ao Criador. Através do Canto Gregoriano e da interpretação de algumas peças musicais por Jean Pierre Leguay, organista honorário da Catedral de Notre Dame de Paris, pudemos deleitarmo-nos e refletir o quanto a música é celeste, pois é a sua natureza divina que encanta, pela beleza, a alma, levando-a a sonhar como Ja-
cob sonhou: uma escada apoiada na terra, com o seu topo a alcançar os céus e os anjos de Deus a subir e a descer por ela (cf. Gn 28, 12). Tudo isto seria, efetivamente, plasmado nas palavras deixadas pelo Senhor D. Anacleto, Bispo da Diocese de Viana do Castelo, que nos desafiou não só a fazermos da nossa vida uma oração, como também a sentirmos Deus, não como um aspecto entre muitos a ter em conta na nossa vida, mas como uno e único, como Aquele que em todas as esquinas, colinas, estradas, cidades e aldeias se faz sentir, não deixando nunca ninguém só. Depois de receber, bendizer, agradecer, partilhar, dar, comemorar, anunciar e esperar, partimos para uma outra mesa, onde pudemos saciar-nos e reforçar os laços de amizade que nos unem, enquanto comunidade e família.
Finalizado este momento de convívio e partilha do alimento, num ambiente ainda informal, tivemos oportunidade de escutar as palavras e sábias experiências de Jean Pierre Leguay que, apesar de invisual, nos transmitiu a sua alegria e competência na arte musical, ao serviço de Deus e do seu povo. Este dia de aniversário da Capela findou com um momento de agradecimento e intimidade com Maria, a Senhora da Alegria. Esta experiência levou cada um a perceber que, para viver, precisa que o seu coração se movimente a um ritmo certo, sem pausas. É o batimento cardíaco que permite que o oxigénio e o sangue garantam ao nosso corpo o seu bom funcionamento e vitalidade. Da mesma forma, cada um se lembra de Deus, que nos enche a alma e a cumula das suas graças.
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SEMINÁRIO MAIOR
DISPONIBILIDADE E POBREZA ENCONTRO DE FORMAÇÃO HUMANA Ângelo Machado, 4º ano de Teologia
“Eu não quero uma Igreja tranquila. Quero uma Igreja Missionária”. Papa Francisco
Nesta altura, já ninguém duvida de que caminhamos para um mundo de apertos. Por um lado, há “gente que fica na história da gente” por fugir dos seus países de origem pela falta de condições de vida; por outro, pessoas cada vez mais indisponíveis para acolher. E perguntamo-nos: Como mostrar Cristo aí? O que é mesmo necessário para hoje? Será que nos tempos que vivemos a pobreza é só do “pão de cada dia”, ou será a ausência de muitos outros pães de cada dia que hoje têm outros nomes? Foi assim que no passado sábado, dia 15 de Outubro, ao som do toque matutino da oração de Laudes, o 4º ano realizou o primeiro encontro de
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Formação Humana, orientado pelo casal Teresa e José. Com olhos fixos no presente, fomos convidados a ser presença de Cristo nestes tempos, mediante a expressão “Igreja em saída” do Papa Francisco. Com efeito, é importante estarmos próximos daqueles que muitas vezes estão ao nosso lado, sem que disso nos demos conta, daqueles que ficam na margem do caminho. Jesus, ao ensinar os apóstolos a rezar, convidou-os a saber pedir a Deus só para o hoje; não a solução dos problemas para sempre, não a prosperidade, mas apenas o pão estritamente necessário para hoje. Na verdade, “só constrói uma catedral aquele que souber pôr uma ou duas pedras por dia. Não se ama tudo de uma vez; cada dia tem o seu pequeno amor. E só com muitos
pequenos passos de pequeno amor é que se consegue atravessar a noite!”. São estas as riquezas baratas que precisamos de ir descobrir, pedindo o essencial: um coração aberto para servir é o espetáculo mais apaixonante; alguém que nos ajuda a sorrir em dias de especial pobreza; um bom amigo, que muitas vezes custa menos que uma caneca de cerveja ou um pão fresco. Podem todos tê-lo, os pobres e os ricos, e quase mais os primeiros que os segundos. Em todos os lugares, todas as cidades, de mil e uma ideologias, dos mais diversos níveis culturais. Não podemos passar indiferentes; é aí que a Igreja tem que estar; é aí que percebemos a presença de Deus, traduzido em disponibilidade e pobreza, desfazendo-nos do desnecessário, para dar lugar ao estritamente necessário.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
CONHECER A PASTORAL UNIVERSITÁRIA DE BRAGA UMA VISÃO TRANSVERSAL Flávia Garcia (Relações Internacionais, UMinho)
Desde muito cedo a Pastoral Universitária de Braga tem vindo a desenvolver atividades que promovam a participação e integração da comunidade académica da Arquidiocese, composta por professores, funcionários ou alunos que partilham uma vivência cristã, jamais excluindo quem não se sustenta nesta visão. Neste contexto, todos os anos a Pastoral Universitária organiza encontros de Fé semanais, convívios interculturais, ações de voluntariado, encontros de formação, tertúlias e muitas outras atividades. Neste novo ciclo académico, 2016-17, comprometemo-nos a organizar ações destinadas ao acolhimento de estudantes universitários estrangeiros, para além daqueles com os quais temos vindo a trabalhar mais intensamente no âmbito do Projeto “Mais Integração”, que tem como destinatários os estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e os de Timor-Leste. Para este ano, apostou-se na dinamização de três ações de voluntariado, que exigem de cada voluntário um compromisso pessoal responsável para com a causa em que estão inseridos, bem como uma forte vontade de mudar para melhorar a sociedade em que habitam. Dentro do voluntariado local, existe o projeto “Mais Horizonte”, que consiste no apoio aos estudos de crianças com dificuldades de aprendizagem e insu-
cesso escolar e o projeto da “Casa de Saúde do Bom Jesus”, que incide no acompanhamento e apoio de mulheres portadoras de doença mental. No âmbito internacional, apresenta-se o projeto “Sementes”, que vai já na sua 4ª edição e atua em países em vias de desenvolvimento de expressão em língua portuguesa. Além destas atividades de voluntariado, o departamento proporciona a Missa dos Universitários em duas ocasiões distintas: a Eucaristia semanal, que tem lugar na Capela do Centro Pastoral Universitário todas as quartas-feiras, e a Eucaristia dominical, que se realiza na Igreja dos Terceiros, todos os Domingos, às 18h30, e conta com a animação de vários coros musicais. Encontra-se ainda programado o retiro espiritual, a preparação para o Crisma e o Curso Bíblico. Nas ações de convívio intercultural, encontram-se as caminhadas e peregrinações ao longo de percursos pedestres de contemplação da Natu-
reza, festejos temáticos como a Ceia de Natal e a Festa de São Martinho, etc. Desejamos também iniciar uma Eucaristia mensal em inglês, ou noutra língua estrangeira representativa da comunidade estudantil estrangeira. Atravessando a história da Pastoral Universitária está o ciclo de Conferências do Fórum Interdisciplinar de Professores que, este ano, foi inaugurado no passado dia 14 de outubro, com a presença do Dr. Manuel Lemos (União das Misericórdias) e do Pe. Lino Maia (União das IPSS), que falaram sobre “Misericórdia e Economia”. Outras ações do género estão já projetadas. Por último, partilhamos a alegria de estarmos a chegar ao fim das obras da Residência Universitária da Pastoral Universitária. Em breve, estaremos em condições de receber alunos e professores. Sejam todos bem-vindos à nossa casa! Aqui estaremos para dois dedos de conversa, rezar, estudar, etc.
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PASTORAL DE JOVENS
CONSTRUIR-SE COMO PESSOA RESPONSÁVEIS DA PASTORAL JUVENIL DEBATEM NOVOS DESAFIOS À LUZ DA ANTROPOLOGIA CRISTÃ Alberto Gonçalves No passado dia 15 de Outubro, decorreram em Fátima as V Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil. A iniciativa procurou reflectir sobre os desafios hoje colocados à Pastoral Juvenil e contou com a participação de cerca de uma centena de jovens. Coube ao bispo de Lamego, D. António Couto, abrir a reflexão, tomando como ponto de partida o capítulo segundo do Livro de Daniel e explorando o sentido dos materiais associados à imagem referida no sonho para mostrar a fragilidade da construção fundada em (contra) valores que fecham à relação, evocando sobretudo sentimentos de posse, de domínio, de poder, a busca incessante do ter e da satisfação do prazer imediato. O padre José Manuel Pereira de Almeida, diretor nacional da Pastoral Social, trouxe o olhar da Doutrina Social da Igreja sobre a pessoa, que se descobre como ser em relação com os outros e para os outros. Face à radicalização do presente, o grande desafio é o do acolhimento, do respeito da pluralidade, do olhar o outro como igual, como irmão. A terceira intervenção foi proposta pelo Prof. Doutor Diogo da Costa Gonçalves, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e centrou-se nos desafios lançados à visão antropológica cristã, pelo que se designou como “ideologia do género”, na sequência da Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa de 2013. As questões levantadas revelam novas concepções antropológicas concorrentes com a cristã, ao questionar a associação tradicional entre sexo e género, as configurações do masculino e do feminino e a própria visão de família, de pessoa, dos processos educativos e do próprio ordenamento jurídico da família e do seu papel
Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.
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Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.
na sociedade. D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa e vogal da Comissão Episcopal Laicado e Família, lembrou a importância destas questões para a formação da consciência dos jovens. O Pe. Eduardo Novo evidenciou que a Igreja continua a olhar os jovens com confiança e amor e o Sínodo dos Bispos de 2018 é sinal de que os jovens são o presente e o futuro da sociedade e da Igreja. No decurso das Jornadas, decorreu a apresentação oficial do DOCAT, o compêndio para os jovens sobre a Doutrina Social da Igreja, dando continuidade ao projeto conjunto da Paulus e do DNPJ – o YOUthTRAVEL. Foi também apresentado o itinerário catequético proposto pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil para o ano 2017, baseado na figura de Maria como modelo do discipulado cristão, inserido no centenário das aparições de Fátima, com vista ao jubileu dos jovens de 2017.
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