Voz de Esperança Set/Out 2016

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SET - OUT / 2016

ANÚNCIO DE DISCRETA E SERENA MATERNIDADE “Na sua humildade, aquela menina-mulher não percebe bem o que significa isto, mas acredita, consente, alegra-se, arrisca…”

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXI - 6ª Série | Nº 54 | Bimestral 1,00 €

Nazaré Dantas p. 2-3

ARRISCAR A MISERICÓRDIA “´Arrisca’, sai da zona de conforto e olha para quem precisa” José Silva p. 6

EDITORIAL

FAÇA-SE... ALEGRA-TE! A humanidade é criada por Deus para a felicidade, no cosmos que Ele quis que fosse «bom» (cfr. Gn 1, 31). No Novo Testamento é globalmente com a palavra «evangelho», isto é, «boa-notícia», que se apresenta este anúncio da alegria. Isto podemos encontrar quando Maria exclama a sua alegria em torno do processo de Encarnação, onde ela tem uma presença crucial. Neste contexto, a figura de Maria, mãe de Cristo, é envolvida no misterioso plano de Deus mediante a promessa-concepção. A Virgem entra no diálogo entre Deus e a humanidade dando uma resposta de fé exemplar: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc 1, 38). Realmente, é numa resposta salutar e concreta que se corporiza a alegria no sentido judaico-cristão, onde se recebe e se transmite o amor divino: a caridade. Assim, entra na alegria eterna quem praticar as obras de misericórdia. Enquanto ícone do serviço e da atenção, podemos definir em torno da Virgem Maria uma «lei da totalidade»: não se pode falar de Maria a não ser em relação com o seu Filho e com a economia integral da revelação e da Salvação, manifestada completamente n´Ele. Em verdadeira sintonia com o plano pastoral da nossa arquidiocese, o número que agora chega às suas mãos, oferece um aproximar cuidado e concreto perante a figura de Maria e as suas alegrias, numa densidade histórica dessa jovem mulher da terra de Israel à qual foi concedido viver a experiência extraordinária e alegre de ser a mãe do Messias.


VISÃO

ANÚNCIO DE DISCRETA E SERENA MATERNIDADE Nazaré Dantas

Se me pedissem para descrever Maria, além das características que mais comummente lhe são apontadas como a humildade, o serviço e a coragem, diria também que é uma mulher discreta e serena. Todos sabemos do papel crucial que Maria desempenha no desenrolar da História da Salvação. Mas a verdade é que, ao longo do Evangelho, são muito poucas as referências a ela feitas e muito menos as palavras que os evangelistas afirmam que tenha dito. Quer-me parecer que isso reflete, então, um dos traços mais característicos de Maria: era uma mulher discreta. Estava sempre disposta a tudo (tudo!). Como boa mãe (Deus só poderia ter escolhido a melhor) estava sempre presente, atenta a tudo que o seu Filho precisasse e àqueles que precisassem do Filho mas de forma serena e sempre sem se evidenciar. Afinal era essa a sua missão: ser a mãe e o caminho que conduz ao Filho. Vem sempre à memória a imagem na fachada da basílica de Nossa Senhora do Rosário em Fátima cujas mãos acolhem quem lá chega e apontam para Aquele que está no centro do recinto. Sim, o seu Filho. Porque, sim, Maria não é a meta de peregrinação alguma. A meta é Aquele que ela concebeu e deu ao mundo. E é ela própria que no-lo aponta. É ela própria que O quer colocar, não só no centro do espaço físico que lhe reservamos, mas também no centro da nossa vida. “Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é a serva humilde do Pai, que

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transborda de alegria no louvor. É a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida” (EG 286). E esta disposição para o ser para o outro é explícita desde que, no relato da Anunciação, Maria aceita ser o mais precioso instrumento de Deus: aquela que traria no ventre, nos braços, no coração e até nos lábios o nosso Salvador. Lemos no Evangelho de S. Lucas que “Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra»” (Lc 1, 38). Ela coloca-se humilde e serenamente ao serviço de algo infinitamente maior do que qualquer anseio que lhe povoasse o coração. Ela baixa-se até à condição de serva, de escrava, e, a partir de então, não mais viverá senão para cumprir a vontade do seu Senhor. E esta trata-se de uma escolha que ela faz livremente como assim o atesta o Concílio Vaticano II: “o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação” (LG 56). É, portanto, de forma livre que Maria se declara a “serva do Senhor”; ninguém a força. Aliás, Deus nunca se impõe e qualquer sim que Lhe seja dado, é-o obrigatoriamente livre. Assim foi o de Maria e assim deverá ser o nosso, seguindo o seu exemplo. Mas Maria nunca foi uma mulher qualquer nem foi só nesse momento que se tornou grande. Quando, na pequena cidade de Nazaré, o Anjo lhe trouxe a notícia de que se tornaria fundamental porque seria mãe de Alguém maior, ele já a conhecia, já sabia diante de quem estava e, desde logo, a chamou de “cheia de graça”, acrescentan-

do que o Senhor estava com ela (cf. Lc 1, 28). Ela já era a predileta de Deus e, na Anunciação, vemos tão-somente o reconhecimento da sua grandeza. Na sua humildade, aquela menina-mulher não percebe bem o que significa isto, mas acredita, consente, alegra-se, arrisca… Aceita o seu desígnio e responde, pronta e serenamente: «Eis a serva do Senhor» (Lc 1, 38). Torna-se então, não somente grande, mas magnífica, a maior entre todas as criaturas, a “bendita entre as mulheres” (cf. Lc 1, 42), a mãe do Senhor. Porque, desta forma, Maria, “dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção. Por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens” (LG 56). Que serenidade, a de Maria! Que mulher discreta mas determinante! Que grandeza, a daquela se julgava tão pequena… De facto, Deus faz grandes coisas nos humildes. E Maria é essa mulher admirável que, fazendo-se pequena, intitulando-se de serva, na verdade acabou sendo “elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha” (LG 59).

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ARTE

AS ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA Luís da Silva Pereira

A devoção das Alegrias de Nossa Senhora é muito antiga. Existe, pelo menos, desde o séc. XIII, quando S. Domingos estabelece, a propósito do rosário, os cinco mistérios gozosos. Eram eles: a anunciação do anjo; o nascimento do Menino; a adoração dos magos; a apresentação do Menino no templo e o encontro de Jesus entre os doutores. Depois, o seu número vai crescendo. De cinco passaram a sete, a nove e chegaram a 15. Por fim, o número canónico fixou-se em 7, possivelmente por analogia com as Sete Dores de Nossa Senhora, devoção que também já existe desde começos do séc. XIII (1221). No séc. XV, ainda se consideravam apenas cinco alegrias, mas já eram diferentes das de S. Domingos: anunciação, nascimento de Jesus, ressurreição, ascensão de Cristo e coroação de Nossa Senhora. Por volta de 1442, e por divulgação do franciscano S. Bernardino de Sena (1380-1444), começou a rezar-se a chamada coroa franciscana, composta por sete dezenas de ave-marias e sete mistérios gozosos. Eram eles: a anunciação; a visita a Santa Isabel; o nascimento de Cristo; a adoração dos magos; o encontro de Jesus no templo; a ressurreição de Jesus e a assunção e coroação da Virgem. O grande

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pintor flamengo Hans Memling, que nasceu entre 1430/40 e morreu em 1494, já pinta as alegrias da Virgem em número de sete. São elas a anunciação; o nascimento do Menino; a adoração dos magos; a aparição do Senhor a sua mãe após a ressurreição; a ascensão do Senhor; a descida do Espírito Santo e, por fim, a assunção e coroação da Senhora. Escolhi para iniciar esta série de textos, um tríptico de marfim do museu do Louvre, datado do séc. XIV. Pertence ao tipo medieval de esculturas da Senhora conhecido por Virgens Abrideiras porque podem abrir pelo meio, transformando-se em tríptico e deixando ver cenas da vida de Nossa Senhora ou de Jesus Cristo. Constituem, na verdade, pequenos retábulos historiados. Eram esculturas feitas, muitas vezes de materiais preciosos e normalmente pintadas. Escolhi este exemplar porque representa, precisamente, as alegrias de Nossa Senhora, neste caso, ainda apenas 5. Do nosso lado esquerdo e de cima para baixo, podemos ver, em cima, a anunciação do anjo e a visitação a Santa Isabel; em baixo, a adoração dos Magos. Na cena da anunciação, repare-se no pormenor do livro que Nossa senhora tem na mão, indicando que ela se encontra-

va a meditar a Bíblia. Repare-se também no grande lírio que se encontra num vaso e que simboliza a pureza de Nossa Senhora. O anjo ainda voa, apresentando-se do lado esquerdo, como quase sempre, e segura na mão uma filactéria onde está escrita a saudação. Nossa Senhora, estendendo a mão direita, parece um pouco intimidada com a saudação do anjo. Na cena da visitação, identificamos Nossa Senhora pelo livro e pela sua colocação do nosso lado direito, o lado mais honroso. Na cena da adoração dos reis magos, chamo apenas a atenção para o gesto de um deles, apontando com o dedo para o céu, significando que foram guiados pela estrela. Do nosso lado direito e também de cima para baixo, podemos ver a cena do presépio e a apresentação do Menino no templo de Jerusalém. Na cena do presépio, note-se a posição sentada da Senhora, bem como a presença de S. José que parece apontar para o Menino embora se encontre em posição reclinada, talvez meio vencido pelo cansaço. Lá se encontram também os animais, um dos elementos mais antigos da iconografia do presépio, anterior mesmo à representação dos pastores e do próprio S. José.


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SEMINÁRIO MENOR

ARRISCAR A MISERICÓRDIA José Silva, ano propedêutico

“O que vos leva a ir para o seminário?”. Talvez seja a maior questão que se coloca a quem sai de casa e parte para uma vida em comunidade. São questões interiores como esta que promovem uma vida com sentido. “Arrisca”, sai da zona de conforto e olha para quem precisa. Em torno destas interpelações, concretas, realizou-se o ACAV IV, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição. Com vários agrupamentos presentes, o AVAC contou com cerca de 70 participantes. Nesta que foi a sua quarta edição, a alegria e o entusiasmo do reencontro, da partilha de novas experiências, do estar e viver cada momento, levaram a uma experiência que a todos marcou. Pensando na atualidade e nos problemas que a sociedade enfrenta, rezámos pelos refugiados e promovemos uma ação de sensibi6

lização pelas ruas da cidade de Braga em torno dessa mesma problemática. Tendo presente a dimensão caritativa, os escuteiros realizaram ainda uma tarde de voluntariado. Um dia do acampamento ficou, além disso, marcado pelo encontro com os problemas reais da sociedade. Num encontro com um ex-toxicodependente, pudemos olhar a conversão interior de alguém cujos problemas o imergiram plenamente na escuridão, na falta de sentido para a vida. Confrontados com as nossas próprias trevas, fomos convidados a reconciliarmo-nos com Deus, à alegria do Domingo e da partida que promete um novo ACAV, o V! Mas a vida de seminário não findaria por aqui. Já em férias escolares, partimos para o arciprestado de Fafe, em ambiente de descontração,

convívio e amizade. Apesar do cariz lúdico da iniciativa, não deixámos de nos associar às comunidades que nos acolheram, participando na Eucaristia em Revelhe e animando o lar de idosos de Medelo. Em contexto familiar, o Domingo terminou com a despedida à equipa formadora que acompanhou esta comunidade durante vários anos. Ao Pe. Avelino, e ao Pe. Marc, uma saudação amiga e agradecida. Este momento permitiu também o primeiro encontro comos novos formadores, que apresentaram aos pais a alegria de trabalhar para o Seminário. O dia e o ano culminaram com a alegria das ordenações diaconais na cripta do Sameiro! Um dia de festa, após um ano de bênçãos, com o coração cheio que impulsiona já um novo ano, uma nova etapa, um novo coração, que procura arriscar o (im)possível!


SER MAIS E MELHOR Rafael Cepa, 12º ano

Mudam-se os tempos, não se mudam os objetivos. Este ano, o Seminário de Nossa Senhora da Conceição saúda uma nova equipa formadora e com ela também os novos seminaristas. Uma nova equipa significa o iniciar de uma nova fase na vida do Seminário, que traz consigo um novo projeto, contudo a mesma e única missão de ajudar os jovens a encontrarem um sentido para a sua vida. Assim, iniciamos mais um ano letivo e um ano de Seminário, comprometendo-nos a vivê-lo com um verdadeiro espírito de entrega, acolhimento, diálogo e verdade. Foi também desta forma que procurámos viver a intensa semana de preparação do novo ano letivo, o que se tornou possível por um melhor conhecimento de nós próprios e daquele que está ao nosso lado. Neste sentido, foi-nos proposta uma dinâmica de encontro com Deus e connosco. Na verdade, é necessário conhecer não só o algodão do caminho, mas também as pedras e, deste modo, direcionarmo-nos todos para o mesmo caminho, para o mesmo ideal e para o mesmo Deus. Assim sendo, para melhor idealizarmos e projetarmos o novo ano foi-nos proposta a visualização de um filme, “A boa mentira”, através do qual procurámos retirar algumas ideias chave para a nossa vida em comunidade, a saber: a entrega, a união e, sobretudo, a mudança interior.

Com efeito, é também de ideais que se faz a vida de uma comunidade, mas não só: ela constrói-se igualmente a partir de horários, da organização de equipas de trabalho, da oração e da formação intelectual. E, dando continuidade ao trabalho de descoberta, encontro e partilha iniciado, fomos convidados a sentarmo-nos e fazermos uma revisão daquilo que foi o nosso caminho, a avaliá-lo, tentando entender aquilo que foi a vida de Seminário e perceber aquilo que foi cumprido e aquilo que permaneceu incompleto e que futuramente pode ser melhorado. Posto isto, foi-nos solicitado que fizéssemos propostas a nível do funcionamento da casa, num convite à abertura, inovação e criatividade, as quais só podem ser estimuladas pela ligação ao outro. E para melhor concretizarmos esta ligação, o fim-de-semana de 17 e 18 de Setembro foi passado num

ambiente mais descontraído na paróquia das Marinhas, arciprestado de Esposende, a quem deixamos o nosso agradecimento pelo acolhimento, assim como ao Instituto Monsenhor Airosa pela disponibilização do local onde estivemos instalados. Através da oração, do diálogo e do contacto com a natureza, foi possível encontramos um ponto de partida mais sólido e consistente para darmos juntos, rumo e sentido a este novo caminhar. Logo, sermos mais e melhor só é de facto possível, olhando para os outros como pontos de ligação a Deus no nosso caminho. Deste modo, o Seminário poderá ser o recinto do nosso caminho, onde nos encontramos com aqueles que, tal como nós, desejam ir mais além. Foi assim que, de regresso, organizámos o ano: procurando encontrar uma forma de ir mais além, de ser mais e melhor. 7


SEMINÁRIO MAIOR

ORDENAÇÕES DIACONAIS Diácono Paulo Jorge Gomes

No passado dia 17 de Julho, a nossa Arquidiocese celebrou a ordenação de seis novos diáconos, no Santuário do Sameiro, em Braga. Este é um dos mais marcantes momentos na nossa caminhada vocacional rumo ao sacerdócio, trata-se do primeiro grau do sacramento da Ordem que antecipa a entrada no presbiterado. “Diaconia” significa “serviço”, ou seja, o diácono é ordenado para servir. Passa a fazer parte do ministério de Jesus Cristo que veio para servir e não para ser servido (Cf. Mc 10, 45). O principal símbolo que caracteriza os novos diáconos é a estola atravessada ao peito que mostra a horizontalidade da sua missão, é o símbolo 8

daquele que está ao serviço do povo de Deus. Os novos diáconos foram: do arciprestado de Guimarães/Vizela, Fernando Torres, da paróquia de Guardizela e José Pedro Oliveira, da paróquia de Tabuadelo; do arciprestado de Barcelos, Paulo Jorge Gomes, da paróquia da Silva e Vítor Emanuel Sá, da paróquia de Adães; e do arciprestado de Vila do Conde/Póvoa de Varzim, Rúben Cruz, da paróquia de Argivai e Fernando Machado, da paróquia de Navais. Numa celebração marcada com a presença das nossas famílias e das nossas comunidades, o Senhor Arcebispo Primaz, Dom Jorge Orti-

ga, que presidiu a esta celebração, apelou ao desenvolvimento de uma Igreja missionária, que seja capaz de chegar primeiro aos problemas da sociedade, num verdadeiro espírito da diaconia. Lembrou, ainda, que a vocação de quem se entrega a Cristo é colocar os outros sempre em primeiro lugar, de modo que a nossa vida parta de Cristo, e tudo o resto acontecerá com naturalidade. Ainda a viver, na nossa Arquidiocese, o Ano missionário, o Senhor Arcebispo alertou para que estas ordenações diaconais sejam um estimulo para um novo modo de viver a vocação de todos os baptizados no anúncio do Evangelho.


ENCONTRO DAS FAMÍLIAS Paulo Alves, 4º ano MIT

Ainda sob o sol luminoso de um Verão já perto do fim, o Seminário iniciou o novo ano letivo no dia 11 de Setembro, com o tradicional encontro das famílias, este ano realizada no Santuário de Nossa Senhora da Boa Morte, na paróquia da Correlhã, em Ponte de Lima, organizado pelo 4º ano de Teologia. Após uma breve paragem na vila de Ponte de Lima, por estes dias vivendo as tradicionais Feiras Novas, as famílias chegaram ao Santuário por volta das onze horas. Situado na encosta do Monte da Nó, o Santuário conta com três séculos de existência. Construído na primeira metade do século XVIII, o seu exterior banal e arcaizante de maneira alguma denuncia a espetacular máquina escultórica encerrada no seu interior. De facto, neste santuário guarda-se uma monumental e vibrante composição de talha e imaginária, que recorda soluções do barroco espanhol, que sobressai, sumptuosa, na monumental capela-mor. Esta é composta por dois pisos: no piso inferior destaca-se o Senhor morto rodeado de Sua Mãe e de alguns discípulos; enquanto no piso superior encontra-se Maria no seu leito de morte, rodeada pelos apóstolos. Possui, ainda, duas capelas laterais, uma dedicada ao Senhor do Socorro e outra a Santa Ana. E porque é Jesus que nos congrega em família, o primeiro momento consistiu precisamente em unirmo-nos em

torno do altar para nos alimentarmos da Sua Palavra e do Seu Corpo, pedindo-lhe a união e a bênção para este novo ano letivo. Deste modo, celebramos a Eucaristia, na qual fomos confrontados com duas atitudes que marcam a nossa relação para com o Pai, presente na Parábola do Filho Pródigo. Revigorados pelo alimento espiritual, passou-se ao almoço-convívio, que se realizou no parque anexo ao Santuário, onde as famílias puderam fraternizar, fortalecendo e – para aquelas que estiveram presentes pela primeira vez – criando relações de confiança e de partilha. Durante a tarde foi possível passear pelo extenso parque, que conta com um lago artificial, e passar alguns momentos de lazer com alguns jogos tradicionais. Pelo final da tarde, as famílias reuniram-se para escutar as palavras de boas vindas do Sr. Reitor, que mais uma vez acentuou a importância do acompanhamento das famílias na formação dos futuros presbíteros, reiterando a disponibilidade de toda a equipa formadora para com as famílias. De

seguida, procedeu-se à apresentação da nova equipa formadora do Seminário Menor, composta pelo Pe. Mário Rodrigues, como diretor, pelo Pe. Rui Sousa e pelo Diácono Rúben Cruz, em estágio com vista à ordenação presbiteral. Seguiu-se a apresentação dos novos membros do Seminário Menor e do Seminário Maior. Conhecidos os novos elementos da comunidade, seguiu-se um momento de animação ao som do Grupo de Cantares, que nos deliciaram ao som de músicas populares, tendo o dia culminado no lanche-jantar realizado no Salão. Findado o convívio, os seminaristas e suas famílias regressaram a Braga, dominados pela alegria de um dia de convívio e de partilha e certos da proteção maternal da Mãe da Misericórdia, mas também com o sentimento de gratidão para com a Paróquia da S. Tomé da Correlhã, mais concretamente para com a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, que, além de tudo ter feito para que nada faltasse, nos recebeu com muita amizade. 9


SEMINÁRIO MAIOR

FAZEI SILÊNCIO, ESCUTAI JESUS Fábio Silva, 1º ano

Separados de Deus não temos modos de ter vida, somos como ramos secos que pouca utilidade têm para além de combustível para o fogo. Com uma atitude de permanência em Deus, somos envoltos pelo seu Amor e, assim, conseguimos aproximarmo-nos naturalmente dos que nos são contíguos, com uma humildade sóbria, que não se deixa embriagar pelas coisas mundanas. Numa linha de procurar cada vez mais fortalecer a busca da água viva que sacia as sedes de Deus, entre os dias 12 e 17 do mês de Setembro, os 1.º e 3.º anos do Seminário Conciliar de Braga rumaram até Roriz, tendo-se instalado no Mosteiro de Santa Escolástica, onde se recolheram para o retiro anual após o período de interrupção letiva de Verão. 10

Este tempo tornou-se favorável à entrega, pois cada um que se deixa conduzir pelo Espírito Santo carece sempre de uma pausa para sair das tribulações do quotidiano. Desta forma, o silêncio permitiu aprimorar a escuta e, contemplando a paisagem, os sons que se revelaram na serenidade, as cores e os aromas que o bosque nos ofereceu, abriram portas para que nem o tempo, nem o espaço impedissem o recolhimento que a todos levou a uma melhor reflexão, enquanto nos apercebíamos da beleza que da gratuidade divina recebemos. Testemunho de vida espiritual fortíssimo foi ainda a presença de uma monja eremita que, no espaço do seu eremitério, conseguiu transmitir a grande capacidade de recolhimento dedicado à oração e à vida no Espírito Santo.

Não basta proclamar veementemente os valores cristãos ou praticar exercícios piedosos para assumir uma vida espiritual; é preciso seguir Jesus Cristo, ter os mesmos sentimentos, ações e disposições como as Dele. É necessário permanecer no Seu Amor e a comunidade de monjas fixada naquele mosteiro deu o seu grande testemunho de fé pela forma como vivem o Evangelho de Cristo. Sendo neste âmbito de salientar a hospitalidade com que fomos acolhidos. A seriedade na vivência do tempo de retiro é de particular importância para a formação espiritual de um seminarista cuja vida carece de uma vivência constante enquanto peregrino que continuamente e em jeito de discernimento tem por vista a conversão à santidade.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

ANUNCIAR… SEMEANDO AMOR Nuno Silva (Estudante finalista do IPCA)

Quando somos confrontados com um desafio, a primeira reação é sempre de cautela, de receio, normalmente acompanhado da expressão “não sei, tenho de ver, vou pensar”, a mesma não fecha a porta a nada, mas deixa-a entreaberta. Tudo o que rodeia o nosso dia a dia são como que correntes que nos prendem e não nos deixam ver os desafios que Deus nos coloca e muitas vezes, são essas correntes que nos impedem de partir. Olhemos o exemplo de Maria que quando confrontada com o anúncio do anjo Gabriel diz «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.». Falo por mim e acredito que por muitos de vocês que leem estas frases, fossemos nós tão confiantes nas mãos de Deus como foi Maria. No entanto, apesar de todas estas hesitações iniciais ao desafio, lançado pelo Projeto Sementes da Pastoral Universitária, de fazer missão no mês de agosto, em Cabo Verde, disse que sim. E, em tão boa hora, o disse, principalmente sabendo e sentindo tudo o que hoje sei e sinto. Missão não é mais do que ‘estar com’, com aquele que nos procura a mão para segurar, que nos procura com um sorriso, que nos procura com uma saudação, que nos procura com um abraço, que nos procura na esperança de uma palavra, que nos procura abrindo a sua porta à nossa presença. Foi tudo isto que encontrei

em Praia Baixo, a comunidade onde passamos o nosso mês de agosto, onde em tempo algum me senti como alguém exterior à mesma, mas sim como um filho da terra. Isto foi de facto uma das coisas que mais me tocou, ‘a relação’, tantas vezes marginalizada na nossa sociedade, cada vez mais individualista. Aqui, em Praia Baixo, o nosso grupo desenvolveu atividades com as crianças e jovens e promoveu junto dos adultos alguns cuidados a ter com a sua saúde, tantas vezes descuidada por falta de conhecimento, pois, neste contexto, os cuidados de saúde ainda não estão tão desenvolvidos quanto o que seria desejável. Passado quase um mês do regres-

so, e nas palavras que vou trocando com algumas pessoas de lá, quando vejo o “sôdade di bo”, pergunto-me: “porque regressei?”. Como mensagem final desta experiência que aqui partilho - na qual só me foi pedido que desse amor e na qual recebi muito mais (é sempre assim no evangelho) -, deixai-me lançar-vos o seguinte desafio: se alguma vez sentires o apelo de partir, faz como Maria e diz: “Eis aqui, Senhor!” e parte, mas lembra-te que missão não implica partir, não é só em Cabo Verde ou fora do nosso próprio país, é aí onde estás com quem estás também! A nossa missão não terminou em Cabo Verde e não terminará nunca mais. 11


PASTORAL DE JOVENS

NOVO ANO PASTORAL, NOVOS DESAFIOS…

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 40,00 €.

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Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Começa mais um Ano Pastoral e, como sempre, o DAPJ divulga o seu calendário de atividades. O último Ano Pastoral terminou com a participação de um número significativo de jovens da Arquidiocese, nas JMJ em Cracóvia, Polónia. Esperamos que a participação, os conhecimentos adquiridos

e testemunho dado venham enriquecer a Pastoral Arquidiocesana. Gostaríamos que os jovens pudessem colocar nas suas agendas estas datas e que sentissem estes momentos como deles.

Data

Contamos convosco….

Atividade

24 de Setembro 2016

CAPJ

14 e 15 de Outubro 2016

V Jornadas Nacionais de Pastoral Juvenil - Fátima

12 de Novembro 2016

XVIII Fórum Ecuménico Jovem – Aveiro

25 e 26 de Novembro 2016

Fórum Missionário Arquidiocesano

10 de Dezembro 2016

Festival Nacional Canção Religiosa - Fátima

7 de Janeiro 2017

Dia Arquidiocesano do Animador Juvenil/Paroquial

1 de Abril 2017

CAPJ

27 de Maio 2017

Dia Arquidiocesano da Juventude – Celorico de Basto

12 e 13 de Maio 2017

Centenário das Aparições

8 de julho 2017

CAPJ

6 a 13 de Agosto 2017

TAIZE

10 setembro 2017

Jubileu dos Jovens - Fátima

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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