JAN - FEV / 2016
A ALEGRIA DE SER MISSIONÁRIA “Até esse dia, estava demasiado bem na minha zona de conforto”
Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XXI - 6ª Série | Nº 50 | Bimestral 1,00 €
Ir. Rosa Carreira p. 2-3
DEDICAÇÃO DA CAPELA IMACULADA “Somos chamados a ser e viver como pedras vivas numa construção bem ajustada” José Miguel Silva p. II-III
EDITORIAL
TEMPO AGRACIADO O primeiro trimestre é, por norma, muito preenchido no ritmo do Seminário, pela diversidade de ocupações que oferece, tais como a adequação da comunidade e das pessoas a uma nova etapa, a dinamização vocacional da Semana dos Seminários e a abertura solene do ano lectivo, a solenidade da Imaculada Conceição na preparação e vivência da Festa das Famílias. No presente ano, este tempo ficou ainda agraciado com o programa conclusivo das celebrações dos 90 anos do Seminário de Nossa Senhora da Conceição. A Dedicação da Capela Imaculada, a apresentação do livro Pluralidade de Olhares e medalha comemorativa, a recitação dos Portais da Esperança, a oratória à Imaculada na voz de Teresa Salgueiro, o sarau recreativo por antigos e actuais alunos, são disso fiel testemunho. O programa vivido ao longo do ano foi intenso e diversificado. Colóquios, concertos, exposições, celebrações, publicações... cujos objectivos se centravam em reconhecer o contributo do Seminário à Igreja e à sociedade, olhar o passado pensando e afirmando o presente e o futuro, e reflectir o acompanhamento vocacional da adolescência e da juventude nos tempos actuais. Como apontamento final, quisemos fazer desta celebrações o pórtico para o centenário, na medida em que reforçaram, com toda a naturalidade, a aproximação ao Seminário de um número significativo de antigos alunos. Porque o Seminário faz parte da sua própria história e, cada um a seu modo, é parte integrante e insubstituível da história do Seminário.
VISÃO
A ALEGRIA DE SER MISSIONÁRIA AD GENTES Ir. Rosa Carreira (ESEMD) - Missionária em Timor Leste
Sou a Ir. Rosa Carreira, pertenço à Congregação das Religiosas Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus (ESEMD). Sou natural de Vila do Conde, Arquidiocese de Braga. Foi em Braga que fiz toda formação inicial à Vida Religiosa, aí pronunciei o meu Sim publicamente pela Consagração Religiosa. Depois dos Votos Perpétuos estudei Ciências Religiosas na Faculdade de Teologia, em Braga. Nesta diocese fiz Missão tanto no Colégio da Congregação como na Igreja local; fiz parte da Equipa da Pastoral Vocacional da Arquidiocese de Braga e da Equipa da CIRP Regional- Braga. Sentia-me feliz com a Missão confiada, mas no dia 12 de Julho de 2012 fui interpelada/chamada a deixar esta Missão e o meu país para voar mais longe. Até esse dia, pensava que não conseguiria, nem tinha vocação para ser Missionária Ad Gentes, pois estava demasiado bem na minha zona de conforto. Todavia, quando o Senhor, por meio das superioras maiores, me fez perceber que a comunidade Madre Trindade de Dilor, em Timor-leste, precisava de mim, fiquei desconsertada, a ponto de não saber o que dizer nem o que fazer. Chorei e rezei, rezei, rezei para que Deus me concedesse a luz necessária para responder fielmente à Sua Vontade. Depois de intensas horas de oração e adoração, diante do Santíssimo Sacramento, no dia 13 de julho obtive muita luz e graça e respondi a este chamamento com as seguintes palavras: “Jesus Eucaristia, se esta Missão que a Congregação me está a pedir é da Tua Vontade: Eis-me aqui, podes enviar-me”. E pouco a pouco foram ecoando no meu coração com mais força as palavras da Fundadora da minha Congregação: «Senhor, como vos dignais
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favorecer-me com este amor tão forte! Apetece-me voar à China, à África, ao Japão, para comunicar àqueles irmãos as vossas inexplicáveis delicadezas!» (Madre Trindade) Por isso, quando Deus quer um projeto e nós nos abrimos à Sua ação transformadora, o que parece impossível e difícil torna-se possível e até reconfortante. De facto, o Senhor enviou-me e neste momento encontro-me em Timor Leste há 3 anos. Esta minha primeira Missão Ad Gentes, tem sido uma graça, um dom de Deus na minha vida e ao mesmo tempo um constante desafio: a aprender uma nova língua e cultura, (é de facto, voltar a ser criança e reaprender a falar), adaptar-me ao clima, à falta de meios, etc. Todavia sinto-me muito feliz e grata ao Senhor por me ter chamado a deixar tudo e a “imolar” o que mais amava na vida como Abraão, para fazer Missão junto deste povo sofredor e lutador. Está a ser uma experiência gratificante de uma outra realidade completamente diferente da que vivi em Portugal. Experimento todos os dias que a alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém; assim foi anunciada pelo anjo aos pastores de Belém: “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo» (Lc 2, 10). O meu dia-a-dia como Missionária Ad Gentes é muito simples, da contemplação à ação e da ação à contemplação: antes de tudo rezo, participo na Eucaristia, faço Adoração ao Santíssimo Sacramento, pois «da Eucaristia vem o dinamismo contemplativo apostólico e missionário de toda a vida de uma Escrava da Santíssima Eucaristia». A EUCARISTIA fortalece-nos na missão de
Educadoras e anunciadoras de JESUS e do SEU REINO. Sou chamada a «ser uma extensão e prolongamento de Jesus Cristo Eucaristia» (M.T.) naquilo que faço. Como por exemplo: visitar os doentes, quando necessário, presidir a celebrações da Palavra, colaborar na realização de encontros de formação para os jovens, ensinar as crianças a adorar Jesus Eucaristia, na responsabilidade que tenho pela formação das jovens aspirantes que vivem na minha comunidade, com a ajuda da comunidade, dinamizar uma Obra Social, que apoia uma média de 260 crianças, por dia, lecionar a Língua Portuguesa, etc.. Essencialmente, procuro PARTILHAR E TESTEMUNHAR O AMOR, E A ALEGRIA DE JESUS CRISTO com todos aqueles que se vão cruzando comigo. Porque «ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho.» (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nº 127). Continua o Santo Padre:«para ser evangelizadores com espírito é preciso também desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas, até chegar a descobrir que isto se torna fonte duma alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente uma paixão pelo seu povo.” (Evangelii Gaudium, nº 268) A paixão por Jesus e pelo querido povo de Timor-Leste é o que me faz ser uma missionária Ad Gentes feliz e apaixonada pela Missão. Prezado leitor, se algum dia sentires que Deus te chama a ser missionário(a) ad Gentes não fiques indiferente responde-lhe com generosidade e serás um(a) privilegiado(a).
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ARTE
ENVIO 3 Luís da Silva Pereira
O quadro a óleo que vemos e que terá sido pintado entre 1535 e 1540, é de Giovanni Girolamo Savoldo, pintor do Alto Renascimento. Nasceu em Brescia, por volta de 1480, e morreu em Veneza, em 1548. Em 1506, vivia em Parma e, em 1508, integrou-se numa associação de artistas, ou guilda, de Florença. Foi para Veneza em 1520. Passou ainda alguns anos em Milão. Era casado com uma holandesa. Sofreu influências da pintura flamenga, mas, principalmente, dos pintores venezianos Ticiano e Lorenzo Lotto. Nota-se isso nos matizes das cores e na sua suavidade luminosa. Depois da morte, caiu no esquecimento, mas foi redescoberto pela crítica do século XX. Gosta de pintar quadros com muito poucas personagens ou até mesmo só com uma, como é o caso deste, que representa o instante em que Maria Madalena se volta depois de ouvir Cristo chamar pelo seu nome. O episódio vem no evangelho de S. João, cap. 20, 1-18. Quando ela tenta tocar-lhe, Jesus diz-lhe: “Não me toques, pois ainda não subi ao
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Pai. Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus”. A narrativa tem a estrutura habitual das outras aparições. Cristo ressuscitado aparece a alguém, esse alguém tem dificuldade em reconhecê-lo e, por fim, envia-o a anunciar a sua mensagem. Maria Madalena é, pois, a primeira enviada a anunciar a Boa Nova da ressurreição. Como sabemos que se trata de Maria Madalena? O elemento mais importante para identificá-la é o frasco de perfume pousado diante do túmulo. É o seu atributo mais constante. Outros pormenores, a que chamamos características, ajudam também a identificá-la. Em primeiro lugar, a beleza delicada do rosto. Noutras iconografias, ela é pintada com longos cabelos, soltos e loiros, seios bem visíveis e as jóias com que se ornamentava. Supunha-se que tivesse sido meretriz e ostentaria, portanto, os seus encantos. No momento do encontro com Cristo ressuscitado, já depois da sua conversão, o pintor limita-se, logicamente, a acentuar a beleza do rosto.
As vestes, que indiciam riqueza, são outra característica. Olhando a pintura, a primeira coisa que salta à vista é o espectacular manto cinza-claro. Nota-se bem que o pintor quis realçar a qualidade do tecido, um cetim lustroso e macio. Além do manto, podemos ainda vislumbrar o veludo vermelho da túnica sob o manto. E também aqui se manifesta a influência da pintura flamenga que gostava de exibir a qualidade dos tecidos cuja fabricação se concentrava, nessa época, precisamente, nos Países-Baixos, constituindo uma das maiores, senão mesmo a maior fonte da sua prosperidade. Ainda de influência flamenga é a paisagem ao fundo, que alguns críticos identificam como Veneza. O mais interessante, contudo, é a luz que vem da nossa direita, iluminando o cetim e parte ainda do rosto, apesar de o sol se encontrar no lado oposto, à nossa esquerda. Esta fonte de luz e o facto de Maria Madalena se voltar para trás, remete-nos para Cristo ressuscitado e luminoso. Ele é, afinal, o verdadeiro centro do quadro, apesar de o não vermos.
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SEMINÁRIO MENOR
INDIFERENÇA VS MISERICÓRDIA Pedro Martins, 9º Ano
Como é habitual, no passado mês de outubro, a Comunidade do Seminário Menor realizou o seu Retiro Espiritual. Entres os dias 23 e 26, os seminaristas que frequentam o 8º ao 10º ano fizeram o seu Retiro na Casa da Divina Providência e Sagrada Família situada em Espinho, distrito de Braga. Este retiro foi orientado pelo diretor espiritual Pe. Manuel Quinta Baptista que acompanha estes seminaristas na evolução do seu discernimento vocacional. O retiro tinha como tema a passagem bíblica do lava-pés (Jo 6
13,1-17). No primeiro dia tivemos a oportunidade de visualizar o filme:“ Bruce Almighty” (Bruce O Todo Poderoso) e refletir sobre os talentos que Deus nos oferece e da maneira como os utilizamos no nosso quotidiano sendo, por isso, uma parábola que se adequa aos dias de hoje, onde reina a indiferença para com o próximo. Neste retiro pudemos também refletir sobre as diferentes formas de serviço, nomeadamente um serviço tendo por base a verdade; a criatividade; a alegria e a humildade. Essas mesmas formas de serviço estão re-
presentadas nas seguintes passagens bíblicas: Lucas (capítulos 13 e 14); Mateus (Mt 5, 17-18); Lucas (Lc 15, 8-10) e João (Jo 13, 1-17). Para além disso, como afirma São Tiago na sua epístola, a fé viva produz bastantes frutos pelo que, neste retiro, procurámos produzir esses mesmos frutos que Deus nos pede. Um outro retiro foi realizado na casa de Schoenstatt, em Vila Verde, entre os dias 23 e 27 de outubro, pelos alunos do 11º e 12º ano. Neste caso, foi orientado pelo Pe. José Granja, diretor espiritual destes seminaristas que, tal como o Pe. Manuel Baptista, acompanha o percurso vocacional destes jovens. Vários temas foram abordados, com principal destaque para a Misericórdia. Assim como no outro retiro a oração foi o foco central, no entanto, vários momentos foram marcados, entre os quais, a lectio divina, a celebração da eucaristia, a via-sacra, a recitação do terço, a adoração ao Santíssimo exposto, a oração intermédia, as completas, as laudes e as vésperas como sinal da presença de Deus nas nossas vidas. A oração não foi apenas de caráter comunitário, mas também foi bastante marcada pelos momentos pessoais, ou seja, momentos individuais que tinham como objetivo um melhor pensamento sobre as passagens bíblicas, sobre a nossa vocação e o que podemos fazer para olhar o mundo de outra perspetiva.
FESTA DAS FAMÍLIAS Rafael Cepa, 11º Ano
Foi com grande alegria que os Seminários Arquidiocesanos de Braga celebraram no dia 8 de dezembro a solenidade da Imaculada Conceição, padroeira do Seminário Menor, conjuntamente com a tradicional “Festa das Famílias”. Este dia ficou especialmente marcado pela oração, música, teatro e muito convívio. No mesmo dia deu-se por concluída a celebração dos 90 anos do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, casa de todos, onde a formação ocupa um lugar significativo. O dia teve início com a eucaristia presidida pelo Senhor Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, que agradeceu à Padroeira do Seminário o amor maternal e a proteção aos oito mil jovens que por ali passaram ao longo dos seus 90 anos de vida. Na renovada Capela da Imaculada, D. Jorge Ortiga começou por louvar o papel determinante de Nossa Senhora na Igreja e na sociedade, enquanto “primeira discípula de Jesus Cristo”, que “ousou segui-lo antes mesmo de o ter concebido”, tendo incentivado ainda os presentes a adotar uma atitude idêntica à de Maria, assumindo o compromisso de ser discípulo de Jesus em palavras e atos. Da parte da tarde, cada seminarista teve a oportunidade de mostrar às famílias o que tem aprendido até agora por meio de um espectáculo de variedades. Este ano a comunidade alegrou-se especialmente por ver in-
tegradas, nesta festa dos Seminários, as famílias dos seminaristas de Viana do Castelo. Deu-se início ao espetáculo com um jogral, seguido do coro do Seminário Menor, dirigido por Fernando Oliveira. Posteriormente, o coro do Seminário Conciliar subiu ao palco sob a regência de José Carlos Miranda. Entre estes dois momentos, alguns seminaristas dos dois Seminá-
“ Que quereis de mim”, encenada e realizada pelo professor José Miguel Braga, e representada pelo Grupo de Teatro S. João Bosco, dos Seminários Arquidiocesanos. A peça centrou-se na pessoa e missão de S. Francisco de Assis, intentando passar a imagem de simplicidade, inquietação e vontade que marcou indelevelmente a vida deste santo. A tarde terminou com
rios mostraram os seus dotes musicais ao piano. Coube aos seminaristas do Propedêutico o papel de quebrar o gelo e criar momentos de grande alegria e muitas gargalhadas, ao longo de toda tarde. Concluída esta primeira parte, fez-se um pequeno intervalo. Em seguida, deu-se início à segunda parte com a peça de teatro
as belas vozes do Grupo de Cantares do Seminário Conciliar, que num clima popular divertiu os presentes, fazendo-os juntar ao Grupo e cantar também. Finalmente partilhámos uma fatia de bolo, no espírito de única família de Seminário em que todos nos sentimos. 7
SEMINÁRIO MAIOR
VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELOS SEMINÁRIOS Vítor Emanuel Sá
Na passada sexta-feira, dia 13, a Igreja de São Paulo, em Braga, acolheu a já habitual vigília de oração pelos seminários. Neste momento alto da Semana dos Seminários, toda a arquidiocese estava ali representada, pois a causa das vocações é, na
tom profético e profundamente pastoral, relembrou que «só nos podemos sentir Igreja quando cumprimos o projeto que Deus tem para cada um de nós». De seguida, realçou as linhas mestras da identidade cristã, afirmando que esta só adquire verda-
verdade, um compromisso maior, ao qual o cristão não pode permanecer indiferente. A celebração contou com a presença do senhor Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, que, num
deira expressão quando cada um for capaz de ser «discípulo missionário». Este ano, em todas as dioceses do país, a Semana dos Seminários tem aprofundado o tema da misericórdia, pois é ela que preside, ver-
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dadeiramente, a cada chamamento. Neste sentido, durante a vigília, os presentes foram interpelados a deixarem-se conduzir pelo olhar misericordioso de Deus, que não chama apenas alguns, mas a todos convoca e desinstala. O senhor Arcebispo deteve-se ainda, de forma muita particular e incisiva, na importância do Seminário para a vida de todas as comunidades paroquiais e famílias, pois este apresenta-se como o «espaço que acolhe o que as comunidades e famílias oferecem». Quem já deu este passo e aceitou a proposta de Cristo, deve ser capaz de, no seminário, «ser discípulo que escuta, a fim de procurar responder com generosidade». Já na parte final, foi dirigida uma palavra de estímulo e encorajamento aos seminaristas presentes, onde foi possível perceber que «a alegria de ser seminarista é o rosto do verdadeiro seminário». Nesta noite foi visível a presença e a solicitude de muitas pessoas que, ao longo da vida, sentem o seminário como o coração da Igreja, daí que o grande número dos presentes é reflexo dessa consciência amadurecida. A Semana dos Seminários continua ainda, até este fim-de-semana, com as atividades no arciprestado de Barcelos e, na tarde do dia 15, às 17h, é realizada a Sessão Solene de Abertura das Aulas, no auditório São Frutuoso, Seminário Conciliar de Braga.
A MISERICÓRDIA É O FUNDAMENTO DA VOCAÇÃO Vítor Emanuel Sá
Após uma semana completamente dedicada aos seminários e, de forma especial, vivida sob a tónica da misericórdia, a arquidiocese de Braga, no passado dia 15, celebrou, de forma solene, a abertura do novo ano letivo que, como sabemos, já deu os seus primeiros passos. Nesta sessão, que teve lugar no auditório São Frutuoso, no Seminário Conciliar, foi possível compreender que o seminário, mais do que uma casa, é uma causa que deve compreender toda a diocese, representada nas suas comunidades e na generosidade do coração de cada um. Tal como nos anos anteriores, este evento contou com a intervenção dos responsáveis dos dois seminários, de um casal convidado e do pastor da nossa arquidiocese, o senhor D. Jorge Ortiga que, numa atitude eclesial e pastoral, nos lembrou que a característica mais forte do candidato ao sacerdócio deve ser a sua identidade missionária, evocando, neste sentido, o lema do presente ano pastoral. Por sua vez, o reitor do Seminário Conciliar, Cónego Vítor Novais, de olhos posto no tema que deu mote a esta semana, frisou que a misericórdia é estrutural em todo e qualquer chamamento vocacional. Já o diretor do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, Cónego Avelino Amorim, lembrou que o seminário não permanece inerte aos desafios que o mun-
do permanentemente lança mas, pelo contrário, sabe fazer uma leitura séria e atenta aos sinais dos tempos. O casal José Luís Ponte e Maria Adelaide Ponte, na partilha com que nos enriqueceu, lembrou, como seria de esperar, a importância de uma estrutura social que privilegie, acima de tudo, o papel das famílias. Mediante todos estes contributos, coube ao senhor Arcebispo dirigir uma palavra de profunda gra-
tidão às equipas formadoras, aos colaboradores do seminário e, de forma especial, às famílias, naquele dia ali presentes. A eucaristia foi um momento oportuno para cada um tomar consciência de que a vocação dos cristãos é saber brilhar como estrelas na noite. Hoje como ontem, o desafio passa por marcar pela diferença, irradiando o mundo segundo as coordenadas da misericórdia e o perfume do Evangelho. 9
SEMINÁRIO MAIOR
CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA E MAGUSTO Carlos Leme, 5º ano
Foi ao som de música popular portuguesa e num ambiente de boa disposição que, tal como nos diz o ditado popular: “no dia de S. Martinho, mata teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho”, se realizou a tradição tipicamente portuguesa e dos seminários de Braga. Assim, para se cumprir a referida tradição, no passado dia 20 de novembro, dirigiu-se a comunidade dos Seminários de Nossa Senhora da Conceição e de S. Pedro e S. Paulo, ambos da diocese de Braga, ao arciprestado de Arcos de Valdevez, diocese de Viana do Castelo, a fim de se consagrarem a Nossa Senhora e realizarem o tradicional magusto. Este ano, como aliás já em anos anteriores, além da consagração à Santíssima Virgem e do convívio fraterno, a qual se realizou na capela de Nossa Senhora do Castelo, sita na paróquia 10
de Vilafonche, constou também o programa de um momento cultural, este no magnífico Paço de Giela, classificado como monumento nacional desde 1910, mas, por muito tempo, devotado ao abandono, o que fez com que o edifício ficasse em ruínas. Em 1999 foi adquirido pela Câmara Municipal de Arcos de Valdevez e posteriormente alvo de uma profunda e interessante intervenção por parte da mesma. Neste emblemático local, sob a orientação dos seus colaboradores e com o recurso às novas tecnologias, tiveram os seminaristas e os formadores a oportunidade de tomar contacto com a ancestralidade do lugar, com toda a sua carga simbólica não apenas para a região, mas para a nação portuguesa no que às suas origens respeita, com a excelente paisagem que o espaço oferece, bem como contactar com a vertente mais
etnográfica do concelho, visualizando um filme realizado por Martim Dalle. O espaço oferece aos seus visitantes uma viagem virtual a toda a história do edifício desde a sua construção na Idade Média até aos tempos actuais. De seguida, dirigiu-se a comunidade para a capela de Nossa Senhora do Castelo, altaneiro e belo lugar onde pode reflectir em Maria, na filha de Sião, na causa da nossa alegria, na mãe do Evangelho vivo e manancial da alegria dos pequeninos, bem como efectuar um momento de introspecção, assim como consagrar-se à Santíssima Virgem. Finda a celebração, ao som da música popular portuguesa interpretada pelo grupo de cantares do Seminário Conciliar, nas instalações que servem de apoio à capela, efetuou-se um convívio fraterno em que não faltaram castanhas e boa disposição.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
ORAÇÃO & AÇÃO Analisa Candeias
Somos todos movidos por forças interiores de que desconhecemos a sua origem. Sabemos que existem, que estão lá, são presentes e se fazem sentir – que nos fazem mexer, andar, ser dinâmicos. Somos todos possíveis ouvintes desta serenata natural que se encontra à nossa volta no dia-a-dia e que, por vezes, teimamos em ignorar. Fazemos, todos, parte desta pintura maravilhosa que é o mundo, com as suas cores e angústias, com as suas regras e liberdades, com o seu brilho e com a sua escuridão. Porém, os seus significados – das forças, das músicas, das cores – divergem em cada um de nós e naquilo que nos preenche e nos ilumina, no que consideramos como essencial e prioritário, na atenção que damos a esses mesmos significados. Os seus significados são importantes, fazem diferença. Os seus significados possibilitam a vivência de relações, de impressões, de dualidades. Porque é na relação que Deus também se faz sentir. E porque os significados são imprescindíveis na forma e no empenho em que trabalhamos essas relações - e a nossa relação com Deus. O Centro Pastoral Universitário, em Braga, opta por realizar uma caminhada segura e bastante refletida. Sendo a nossa principal prioridade o apoio e o acompanhamento dos estudantes universitários, acreditamos que essas relações com Deus anteriormente mencionadas se podem
ir conhecendo, trabalhando, consolidando – com alguma serenidade e tranquilidade para esses estudantes. Não iniciamos uma qualquer relação do nada, da não-conquista, todavia iniciamos uma dualidade no Ser aquando a existência de simplicidade, de transparência, de empenho. As nossas atividades de presença na oração passam por três eixos de ação, em que em cada um deles o Centro Pastoral Universitário procura fazer realçar o que de melhor existe em cada um daqueles que compõem o movimento académico. Habitualmente, todas as terças-feiras às 18h, existe uma união em oração, durante aproximadamente uma hora, denominada de “Encontro-Te, mas mais cedo”, onde se procura o nosso silêncio em e com Deus no espaço físico que compõe a capela do Centro Pastoral. De quinze em quinze dias é realizada uma introdução à oração, denominada de “Encontro-Te, às 9”, às 21h no próprio Centro, onde se procura ajudar na iniciação
aos meandros da oração, aos seus significados e ao próprio autoconhecimento. O terceiro eixo é composto por um encontro ao fim-de-semana, o “Encontro-Te, aos sábados”, esporadicamente, assinalando os grandes momentos litúrgicos do ano, em que se procura realizar, de forma alternativa, a comunhão da liturgia com nosso lugar-comum. São estes momentos mais incisivos na vivência da oração que o Centro Pastoral Universitário, em Braga, apresenta. São estes fortalecimentos da relação com os outros e com Deus em que nos é possível indicar algum caminho e ajudar na perceção da importância dos significados da oração em cada um de nós. As caminhadas individuais fazem-se no nosso segredo, porém a companhia para essa caminhada pode ser realizada com alguém que nos acompanhe na exploração das forças interiores que vivemos. As ações dirigem-nos para uma relação mais fortificada, e afinal, para uma oração mais real e mais vivida.
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PASTORAL DE JOVENS
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6.DEZ.2016
ÍCONE DA ESPERANÇA José Miguel Silva
A Esperança, segunda virtude teológica, é a menina dos olhos de Deus, pois acredita naquilo que não vê. Charles Péguy foi um escritor francês que viveu entre o final do século XIX e os primórdios do século XX. Ao seu poema, “Os portais do mistério da segunda virtude”, pertenceu a nossa atenção durante o final da manhã do dia 6 de Dezembro. Celebrando o dia da Dedicação da Capela da Imaculada, olhamos para a Esperança como a base de toda a obra, e o alicerce para projetar o futuro com otimismo. Idealizar esta nova construção foi papel da esperança que muitos, com inúmeros trabalhos e buscando a resposta às necessidades encontradas, tiveram. Afinal, só mesmo a Esperança vê o que ainda não é visível. Essa mesma Esperança é o fundamento do tempo do Advento no qual decorreu este momento marcante da história desta instituição que serve a sociedade e a Igreja há 90 anos.
Para declamar o poema, uma incontornável figura da cultura portuguesa, e detentor do Prémio Pessoa: Luís Miguel Cintra. Essa relação com a nossa língua proporcionou uma clarividência inquestionável e um melhor entendimento da profunda mensagem que um poema assim merece. A intensidade do escrito e a profundidade da voz criaram, em nós, ouvintes, um profundo sentimento de introspeção e meditação na tão bela Esperança. O espaço renovado, torna-se acolhedor para momentos assim, de simplicidade, de escuta… Se iniciamos o dia em comunhão com a arte da poesia, naturalmente se infere que deveríamos terminar de igual forma, num momento impregnado de beleza e arte, desta feita, musical. Teresa Salgueiro, escolha quase natural pelos trabalhos já realizados com os Seminários Arquidiocesanos, foi a intérprete de uma oratória dedicada à Imaculada Conceição. Os hinos
marianos entoados neste momento de oração tinham a ilustre autoria de antigos alunos desta casa. Intercalados com textos da literatura portuguesa à imaculada Conceição, pudemos meditar, como frei Agostinho da Cruz, na sacra fénix, que a Três de Um só tanto agradou, sendo Filha, Mãe e Esposa. O dia terminou com a assembleia cantando à “Senhora do Manto Lindo” pela sua especial atenção por esta casa. À sua proteção, que já repousou sobre inúmeros alunos, dedicamo-nos agora, e todos os dias. Afinal, qual a melhor forma de meditar a Esperança de que falava Péguy, do que olhando Maria, Ícone da Esperança?
SUPLEMENTO
DEDICAÇÃO DA CAPELA IMACULADA José Miguel Vieira da Silva Bem no centro da nossa casa, a capela dedicada à Virgem Imaculada foi construída e sagrada há mais de sessenta e cinco anos, no final da década 40. Nessa altura, uma capela de grandes dimensões era necessária perante uma comunidade crescente de alunos que frequentavam esta instituição. O expoente máximo de alunos, em torno dos 500, justificava plenamente a realização de um espaço de grandes proporções. Hoje, a mesma capela já não é a mesma, pois a comunidade também não o é. Movida pelo mesmo espírito de amor às vocações, a sua forma, a sua cor, o seu brilho, a sua luz mudaram. Procurando adequar-se às exigências de um tempo diferente, uma nova capela ergue-se, e por isso, foi, de novo, consagrada ao amor daquela que “protegeu, nos braços de Mãe,
perto de 8000 alunos que por ela já passaram” (D. Jorge Ortiga). Maria nos acolhe e continua a velar por nós. Em plena novena da Imaculada, poder celebrar esta efeméride foi uma oportunidade única de louvor à condução maternal da Mãe de todos, e, por isso, também dos jovens. O dia 6 de dezembro será, inevitavelmente, rememorado e celebrado como o dia da Dedicação da Capela da Imaculada. Assim, este dia, impreterivelmente, iniciar-se-ia com um hino de louvor, com o canto de Laudes. De facto, como afirma a leitura breve tirada do livro de Isaías, hei de enchê-los de alegria na minha casa de oração. Essa alegria manifesta-se na união vivida e no convívio fraterno que se proporciona em pequenos momentos. O almoço, repleto dessa índole convivial, foi tempo de resta-
belecer forças para o momento central do dia, pelas 15:30h, com a Missa da Dedicação. Numa capela repleta de fiéis, de quem Deus é a força e o vigor, iniciámos a celebração cantando as graças que Deus foi concedendo ao longo de toda a obra, de toda a construção. Decerto iluminados pelo Espírito, muitos foram os que contribuíram com as suas mãos, as suas ideias e os seus esforços para a edificação deste templo santo. Presidida pelo Sr. Arcebispo D. Jorge Ortiga, e solenizada pelo Coro do Seminário Conciliar, a celebração contou com vários ritos próprios da Dedicação de uma Igreja, que não só conferem significado à mesma, como iluminam o coração de quem nela participa. Na homilia, o Sr. D. Jorge afirmou que a capela e as estruturas envolventes, que
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também foram restauradas, são um espaço restaurado que, com alegria, colocamos ao serviço da comunidade cristã e civil. Fazemo-lo generosamente na esperança de que todos estes espaços sejam frequentemente aproveitados. Muito do futuro da nossa Igreja e da sociedade civil pode passar por aqui. Olhando para o pastor como o verdadeiro guardador do seu rebanho, entregaram-se as chaves da capela ao nosso arcebispo. Os ritos próprios da unção das paredes com o óleo santo do crisma, o rito da incensação das mesmas, consagrando a capela, levaram à iluminação festiva de todo o espaço e de todos nós. A luz é o culminar de uma procura intensa que se realizou ao longo de muitos anos e projetos em que se pensou e planeou todo o novo paradigma que aqui se desenvolveu. A Luz, elemento central do mesmo pro-
jeto, é a busca das nossas orações, para que, tal como nos pede Cristo, a nossa luz brilhe diante dos homens para que vejam as vossas boas obras (Mt 5, 16). Repleta de brilho e alegria, a Eucaristia terminou com a leitura da ata da dedicação da capela. Esta procura explanar todo o processo inerente ao restauro, desde os motivos à celebração em si. Como todos nós somos chamados a ser e viver como pedras vivas numa construção bem ajustada (1 Pedro 2, 4-9), todos fomos chamados a assinar a mesma ata, memória da nossa participação enquanto verdadeira família. A comunidade do Seminário Menor exulta com o novo espaço de oração que Deus nos oferece para o encontro com Ele. A capela direcionada à comunidade, construída no anterior coro alto, procura dar espa-
ço a este encontro pessoal de cada jovem com o Senhor, sempre Jovem e sempre presente no meio de nós. Um espaço mais acolhedor cresce alicerçado na Igreja principal e torna-se um espaço tocado pelo acolhimento. Culminada a celebração da Dedicação, todos preservaremos no nosso coração a alegria deste dia que permanecerá na memória de quem nela tomou parte. Maria, connosco em oração, permanece desde este dia sentada no centro da nossa capela. Imagem de Maria que reza connosco, é Maria que nos guarda com carinho e que, continuará a escutar e atender as orações de todos os que ali rezam e à sua proteção se acolhem, e, que no seu coração, procuram, sem cessar, a Luz que nos ilumina, a Esperança que nos faz acreditar, e a Misericórdia que nos anima e faz avançar.
OLHAR O PASSADO COM GRATIDÃO José Miguel Vieira Silva
Celebrar anos não se reduz a evocar o início da vida de alguém ou de algo, mas evocar tudo o que esse já viveu e passou. Assim, celebrar 90 anos do Seminário de Nossa Senhora da Conceição não poderia tornar-se memória do dia 14 de Novembro de 1924, mas memória de todos os alunos, todos os tempos e todos os momentos. O dia 6 de Dezembro tornou-se, pois, propício, por todo o ambiente festivo, para a apresentação do livro “Pluralidade de olhares” e de uma medalha evocativa dos 90 anos. Estes tornam-se reflexo dessa vontade de tornar presente a história de cerca de 8000 alunos que já viveram sob o teto desta instituição. O livro, olhar atento sobre a vida do quotidiano das diversas gerações de jovens, não pôde contar com testemunho vivo dos primórdios desta casa, da década de 1920. No entanto, um olhar mais profundo foi possível sobre as décadas de 1930 até aos dias de hoje. A todos os que colaboraram na elaboração deste livro só um louvor e agradecimento pode surgir, dado o tributo a todos quantos aqui trabalharam e aos jovens se dedicaram. Perante um auditório repleto, a apresentação do livro ficou a cargo do Dr. Armindo Guedes da Ponte, que retratou, de forma resumida, a obra, os esforços e os objetivos que direcionaram o trabalho de cada co-autor e culminaram na obra publicada. Uma verdadeira “Pluralidade de olhares” perante diferentes tempos e modos de encarar o discernimento vocacional. Em plena concordância com a Dedicação da Capela, esta efeméride fica marcada pelo amor que todos os atuais e antigos alunos demonstram. No carinho pela casa que foi insigne benefício e proveito, quer para a vida pessoal e espiritual de cada seminarista, bem como no âmbito profissional, civil, e para a Igreja, fica patente a gratidão pessoal pelo acolhimento e direção que cada um recebeu. Ao Dr. Salgado Almeida, também antigo aluno do “Seminário da Tamanca”, coube o projeto de desenhar e projetar a medalha evocativa desta data. Sob a atenção de Maria que, incontornavelmente, toma parte na mesma, o artista executou também a capa do livro com todo o brio e dedicação. Agora, o livro continua a ser escrito e as suas páginas continuarão a ser preenchidas por todos os que se doam ao serviço das vocações, e por todos os jovens que sob esta casa passam e passarão.