Voz de Esperança Mai/Jun 2016

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MAI - JUN / 2016

COMO O PAI ME ENVIOU “ Somos chamados a ser missionários enquanto batizados”

Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XXI - 6ª Série | Nº 52 | Bimestral 1,00 €

Marta Rodrigues e José Novais p. 2-3

VIGÍLIA DE ORAÇÃO “ Suscitar nos jovens o desejo de se consagrarem a Deus e à evangelização” João Martins p. 8

EDITORIAL

MÃE DAS VOCAÇÕES Mês de Maria, Maio privilegia, nas nossas comunidades eclesiais, a devoção mariana da recitação do terço. A nossa Arquidiocese conta, de há uns anos a esta parte, com o contributo que o Seminário lhe tem oferecido, como suporte para a meditação dos mistérios em cada dia, em sentido vocacional. Porque as vocações nascem em cada igreja doméstica e local, e destinam-se ao serviço da mesma Igreja. Oração e conversão foram e são apelo de Mãe, proposto em Fátima. E olhar a própria existência na sua perspectiva vocacional, implica reconhecer e experienciar estes dois aspectos de forma complementar. Sob o lema A Igreja mãe de vocações, proposto para a jornada vocacional deste ano, marcamos presença - Seminário e Departamento para a Pastoral Vocacional - em Celorico de Basto, completando um périplo pelos catorze arciprestado da Arquidiocese de Braga. Procurámos sempre que a dinamização vocacional proposta se centrasse em dois objectivos: reconhecer o sentido da vocação como elemento fundante e imprescindível de quem vive o discipulado de Jesus Cristo; compreender a diversidade das vocações como caminhos diferentes desse mesmo seguimento. Agora, para que todo este esforço de sensibilização encontre sentido, será fundamental dar-lhe continuidade, objectivando os passos necessários ao aprofundamento e discernimento de cada vocação, como rosto materno da Igreja que gera, acolhe e acompanha o futuro dos seus filhos. Maria, Senhora do Sim, interpela os discípulos de hoje, como no Cenáculo, a escutar a Palavra do Seu Filho, abrindo-Lhe a vontade, a mente e o coração.


VISÃO

COMO O PAI ME ENVIOU, EU Marta Rodrigues e José Novais

Como o Pai nos enviou… e nos fez viver uma experiência missionária em casal! Éramos dois jovens de famílias católicas e participativos nas nossas comunidades paroquiais. No início do nosso namoro e na procura de nos conhecermos cada vez melhor - partilhando os nossos gostos, os valores que nos regiam, as nossas expectativas, os nossos sonhos – foi maravilhoso descobrir que em comum sentíamos o desejo de algum dia vivenciar uma experiência missionária ad gentes. Como acreditávamos que as coisas não aconteciam por acaso e que Deus tinha providenciado a nossa história de encontro um com o outro, da mesma forma fomos compreendendo que Deus nos estava a chamar a fazer algo mais em conjunto. Cada um de nós tinha já contacto anterior com diferentes Institutos Missionários, nomeadamente através de revistas missionárias e algumas atividades. Tendo por base estes contactos, decidimos então procurar uma forma de realizarmos essa experiência de missão a que nos sentíamos chamados. E quase de forma coincidente e surpreendente tivemos conhecimento nessa altura que se estava a formar um grupo de leigos missionários ligados aos Missionários do Verbo Divino, no qual então nos integramos. Aí começou a nossa caminhada mais específica de Envio, o nosso aprofundar do que é a missão, do porquê da missão, do quanto somos chamados a ser missionários enquanto batizados, enquanto Igreja que somos, da essência primordial da missão que é o Envio para os outros, seja num país

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VOS ENVIO A VÓS longínquo, numa outra cidade ou no outro que vive ao nosso lado! Esta caminhada envolveu várias atividades de animação missionária, muita formação, dinâmicas de grupo, oração e vivência da espiritualidade Verbita e também estratégias de angariação de fundos para os projetos missionários. Ao fim de algum tempo no grupo e a par também do crescimento da nossa união como namorados surgiu a oportunidade de participar num projeto missionário em Angola, a qual abraçamos sem hesitar! Deus enviou-nos! Enviou-nos um com o outro e com outras nove pessoas! Enviou-nos a todos juntamente com as nossas famílias e amigos e tantas outras pessoas que, estando cá, nos apoiaram e oraram por nós. Em Angola, a poucos quilómetros de Luanda, passamos um mês. Encontramos uma realidade diferente da nossa, o clima, as estruturas, as condições de vida, mas também pessoas simples, genuínas, crianças descalças mas de sorriso permanente, povo de fé e alegria. A este povo nos dedicamos conforme o que estava projetado: trabalhos práticos na capela e no centro de saúde locais, formação, animação com as crianças e encontros com os diversos grupos da comunidade. A par disso fizemos caminho de grupo, partilhando as rotinas e tarefas e vivendo a fé e a oração diariamente. O regresso deste mês de missão obrigou-nos a uma “re-inculturação” na nossa sociedade, sentimos o impacto da diferença e procuramos moderar a nossa atitude e a nossa forma de estar à luz do que experienciamos, tendo consciência mais concreta de que existem muitas realida-

des diferentes e quantas vezes mais difíceis que a nossa e que o importante é ser e viver o essencial! Depois do regresso continuamos no grupo de leigos missionários e chegamos a equacionar a possibilidade de um projeto missionário mais longo, só em casal. Nesta altura sentíamos também de forma cada vez mais intensa que a nossa vocação passaria pelo Matrimónio e a formação de uma família. Assim, decidimos casar; no nosso discernimento e no nosso coração ouvíamos de Deus o apelo a nesse momento abraçarmos a missão de ser primeiramente família e de cuidar dela. E então seguimos esse caminho, tivemos três filhas, dedicamo-nos a elas, à sua educação, cuidamos dos nossos pais e dos nossos familiares, dedicamo-nos ao trabalho como nosso sustento digno e procuramos em família orar, participar na comunidade paroquial e acima de tudo dar testemunho de fé. Pensamos que agora esta é a nossa missão… Deus continua a enviar-nos… a enviar-nos um ao outro no renovar diário do nosso compromisso de casal, a enviar-nos às nossas filhas com o amor e a atenção necessária para que cresçam saudavelmente, a enviar-nos a dar testemunho de casal e família cristã na sociedade. A experiência que tivemos foi marcante sem dúvida e não pomos de parte a hipótese de repetirmos uma experiência do género um dia mais tarde. No entanto, esperamos acima de tudo sentir e aceitar a cada dia, à imagem de Jesus, o Envio do Pai ao Amor, ao serviço, à oração, à vida, ao testemunho!

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ARTE

ENVIO 5 Luís da Silva Pereira

A pintura que observamos ilustra a descida do Espírito Santo. Seleccionei este episódio dos Actos dos Apóstolos, cap.2, 1-14, porque tem a ver com a temática do envio. Cristo ressuscitado já tinha ordenado aos discípulos que fossem proclamar a Boa Nova. Nos momentos que precedem a ascensão ao céu, anuncia-lhes que receberão uma força, a do Espírito Santo, que fará deles testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo. Só, portanto, com a descida do Espírito Santo se começa a concretizar esse envio. Os apóstolos, destemidos, saem do lugar onde estavam reunidos e começam a anunciar a ressurreição do Senhor. A pintura é de Duccio di Buoninsegna, que nasceu em Siena, cerca de 1255, e na mesma cidade morreu, por volta de 1319, sendo considerado o fundador da chamada escola de Siena. O que primeiro salta à vista é a disposição dos apóstolos ladeando a Virgem, formando uma espécie de corte unida e coesa. É a Igreja primitiva. Só vemos onze apóstolos, mas neste momento, já S. Matias teria sido escolhido para suceder a Judas. Esta disposição em grupo parece

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realçar, por sua vez, o que se afirma um pouco antes (1, 14): “Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, na companhia de algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus”. Repare-se que a figura de Nossa Senhora se distingue de todas as outras não só por se encontrar a meio do grupo e envergar manto azul com as pregas delineadas a ouro, mas também por ser mais alta que os apóstolos. Significa que a Virgem é a figura mais importante do grupo. A iconografia dos apóstolos é a clássica: pés descalços e livro ou rolo na mão. São os atributos genéricos. Os atributos pessoais, (taça de veneno de S. João, cruz em xis de Santo André, faca de S. Bartolomeu, etc.) ainda não estão aqui pintados porque, neste momento, ainda nenhum apóstolo sofrera o martírio. O conjunto dos nimbos forma um fundo dourado que lembra o ouro das pinturas bizantinas. Há ainda, aqui, uma clara influência da maneira grega de pintar, do estilo dos ícones, que se revela na posição hierática das figuras sentadas, na estilização dos gestos, nos lábios cerrados, na impressão de profunda serenidade e intensa espiritualida-

de. A pintura do gótico internacional ainda não se libertara completamente da influência bizantina, embora já se veja aqui um nítido gosto pelo cromatismo intenso, alguma preocupação com a colocação perspectivada das figuras no espaço. Veja-se, por exemplo, como o pintor tenta fugir à bidimensionalidade (largura e altura) da pintura bizantina, criando vários outros espaços através dos olhares dos apóstolos, que se dirigem para várias direcções. Repare-se também no pormenor realista da porta gótica, ogival, a abrir-se, ao fundo. Ela serve para identificar um espaço concreto, mas pode igualmente significar a descida do Espírito Santo sob a forma de vento. Com efeito, no cap. 2, 2 dos Actos, escreve-se: “subitamente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de uma forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam”. O Espírito Santo representa-se habitualmente por meio de uma pomba ou, como aqui, de línguas de fogo poisando sobre as cabeças dos apóstolos e da Virgem, mas pode também representar-se, afinal, por uma porta que se abre, através da qual o vento irrompe numa sala e os apóstolos saem para o mundo.


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SEMINÁRIO MENOR

DAR A CONHECER Rafael Pereira, 11º Ano

Mais uma vez, o Seminário cumpriu uma das suas grandes missões: acolher, dar, servir e não ser servido. Ser Seminário ou ser uma comunidade é muito mais do que ficarmos isolados somente na nossa vida, mas implica querer no nosso quotidiano outras comunidades com estilos de vida bem diferentes, procurar partilhar experiências e enriquecermo-nos mutuamente. Assim, como vai sendo já hábito, temos acolhido diferentes grupos de diferentes comunidades da nossa arquidiocese, implicando-os na nossa vida comunitária. Exemplo deste acolhimento foi a receção que tivemos oportunidade de fazer em nossa casa ao Grupo de Catequese, do quinto ano, da comunidade paroquial da Loureira, arciprestado de Vila Verde. Nesta perspetiva, iniciamos este encontro com uma pequena oração, manifesto da importância que esta assume na nossa rotina. Conversámos um pouco, procurando entender qual a noção que eles tinham do que era o “Seminário” e apercebemo-nos de que era necessário desmistificar algumas ideias. Será que o Seminário é uma espécie de convento, ou uma “fábrica” de fazer padres? Não me parece. Positivo é apercebermo-nos de que conseguimos desmontar algumas construções primárias, até antiquadas do que é viver em comunidade, e erguer novas visões, abrir horizon6

tes, deixá-los com vontade de saber mais. E, por isso, todos a bordo na vontade de conhecer, fizemos uma pequena mas produtiva viagem por aquela que é a nossa casa, e que a, partir daquele momento, passou também a ser a casa deles. Nesta viagem rimos, divertimo-nos e partilhámos experiências. Como resultado desta visita, passado algum tempo, o grupo desta comunidade paroquial enviou-nos uma carta como forma de agradecimento, que passo a citar em parte:” Foi muito bom podermos ver como é o Seminário. Tínhamos uma ideia errada do que era um Seminário. Percebemos

que vocês são como uma família. Foi muito bom o tempo que passamos aí (…) fez-nos gostar de pessoas, refletir, aprender que devemos partilhar e ajudar o próximo. “ Queremos, também nós, deixar o nosso humilde e sincero agradecimento a este grupo de pequenos gigantes por nos terem dado a alegria de dar, e ainda uma maior felicidade por receber sorrisos e alegria. De facto, estar no Seminário não é uma perda de tempo, mas uma grande dádiva que devemos acolher com alegria e humildade. A semente caiu. Será que vão ter a ousadia de a fazer crescer?


“VOA BEM MAIS ALTO” José Miguel, 12º ano

Para se escrever uma história são necessárias pausas e momentos de reflexão. Para que a história faça sentido, temos de olhar o que já escrevemos e pensar muito bem o que é melhor escrever, o que Deus quer que escrevamos. Só assim poderemos estruturar um livro que faça sentido não só para nós, mas sobretudo para que seja útil aos outros. Eis uma forma de encarar este caminho de seminário: pensá-lo connosco, com Deus e com os outros, para que faça sentido viver esta experiência. O tempo da Quaresma pauta-se pelo pensamento introspectivo que procura olhar a vida, avaliá-la e formar considerações para o futuro. Assim, ausentar-se do ritmo habitual, das paisagens conhecidas e da confusão da cidade torna-se propício para tal. Por isso, o 12º ano viajou, conjuntamente com a equipa formadora, até aos Picos da Europa, desde o dia 18 de março, ao dia 21 do mesmo mês. Alojados num ambiente simples, em que a natureza enche os sentidos, pudemos desfrutar de momentos de convívio enquanto preparávamos o jantar, com a celebração da Eucaristia, e com alguns jogos. Durante o dia, procurávamos descobrir um pouco das maravilhas naturais e arquitectónicas das Astúrias, de León, e da Cantábria. Visitamos vários museus, igrejas do início do segundo milénio, e pudemos contar com a

simpatia de quem nos ia orientando as visitas. Com frio e muita neve, pudemos conhecer as mais altas montanhas da Europa. A visita mais alta foi iniciada com a viagem no teleférico de FuenteDé: mais de 1 km de altura, e menos 10 graus no topo das montanhas. No Domingo, de Ramos, participamos na celebração no Santuário de Covadonga, onde visitamos a Virgem de Covadonga, que, aparecendo, impulsionou a reconquista cristã. No meio de grutas e rocha, realizamos uma caminhada que se poderia ter

estendido por quilómetros ao longo da escarpa. Com algumas recordações nas malas, regressamos a casa, tendo terminado este momento de convívio com um jantar. Uma experiência muito enriquecedora, que visou, entre outros pontos, olharmos a nossa caminhada vocacional, até ao momento, no seminário. Com o aproximar-se do final do ano e o realizar dos exames nacionais, adquirimos a consciência de que somos nós que temos de responder a este apelo de continuar o trajeto, desta feita, rumo a uma nova realidade.

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SEMINÁRIO MAIOR

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES João Ferreira

No âmbito da semana das vocações, no dia 8 de Abril, na Igreja paroquial de Britelo, arciprestado de Celorico de Basto, teve lugar uma vigília de oração pelas vocações orientada pelos Seminários de Braga e presidida por D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga. D. Nuno Almeida, na sua homília, apontou um caminho de liberdade, de ter as portas abertas num sentido interior, que fez contrapor numa lógica mais cotidiana um exemplo prático da sua vida onde, na sua diocese de nascença, um certo dia, ao ver que a porta da Igreja se encontrava aberta se surpreendeu. Simultaneamente, impelido a atravessar-lhe os limites, sentiu-se provocado a entrar e a estar com Deus, por meio da oração. 8

Só no seio do desimpedimento pode brotar toda e qualquer vocação. Foi nesse sentido, na sua homilia, que D. Nuno Almeida apelou a que todas as pessoas, jovens, pais, avós, amigos e familiares, contribuam para um desembaraçar delicado na vocação pessoal do outro, sendo que o verbo fazer, neste contexto, serve como discordante. O mesmo é dizer que este fazer será mais um não fazer, ou seja: um obviar. A celebração encerrou com uma oração conjunta pelas vocações, do Papa Francisco, o qual, através do Pai de misericórdia, encoraja o povo cristão a ser manancial de vida fraterna e, desse modo, ser capaz de suscitar nos jovens o desejo de se consagrarem a Deus e à evangelização.

Pessoalmente, na minha vivência pessoal do meu próprio discernimento vocacional, atribuí grande importância e valor a esta semana das vocações, que sementes pode plantar no sentido de atuação, entendimento e orientação tanto dos seminaristas que em primeira mão participaram nela, como também de todos aqueles que ouviram os seus testemunhos e nestes um potencial vocacional, no próprio, ou através deste, pode germinar. O desenvolvimento de uma vocação alimenta-se muito da psicosfera vocacional de terceiros, que, através do seu exemplo, surgem como archotes altos no penetrar da caverna escura que é o descobrir de uma vocação.


INSTITUIÇÃO DE LEITOR Fábio Silva

Tendo em vista a melhor participação no culto devido a Deus e à prestação de um serviço adequado ao povo de Deus, a Igreja estabeleceu desde tempos remotos alguns ministérios, segundo os quais se confiava aos fiéis exercer ofícios na liturgia e na caridade conforme as diversas necessidades e circunstâncias. Assim sendo, a Igreja arquidiocesana de Braga, reunida para celebrar solenemente o Domingo do Bom Pastor, uniu-se de igual modo para celebrar a Instituição de seis semi-

naristas no ministério de leitor. Este rito (instituição de leitor) é uma das etapas importantes da formação do candidato ao sacerdócio que, depois de alguns anos de formação, gradualmente vai dando passos para o futuro exercício do ministério presbiteral. Na presença do pastor da nossa Arquidiocese, D. Jorge Ortiga, a Igreja celebrou a Páscoa do Senhor. Na celebração fomos interpelados pelo Sr. Arcebispo a não ficarmos apenas pelas palavras, mas a partirmos para a ação concreta. Dirigindo-se aos instituídos,

D. Jorge sublinhou que os mesmos devem ser instrumentos de Deus e espalhar a mensagem de amor de Deus, que é um amor que intervém. Relembrando ainda o Papa Francisco, o nosso Pastor refletiu, com todos os presentes, sobre a necessidade de dar a conhecer a Palavra e sobre a urgência de a acolher em cada coração. Assim viveu o Domingo, dia do Senhor, a comunidade Seminário, unida aos familiares dos instituídos e os respetivos párocos, louvando e pedindo a Deus o envio de trabalhadores para a sua seara.

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SEMINÁRIO MAIOR

VIA LUCIS: SEMINÁRIO CONCILIAR PERCORRE O CAMINHO DA LUZ Rúben Ferreira

No passado dia 11 de Maio voltámos a caminhar a via Lucis. Aguardando, em antecipação, a vinda do Espírito Santo, o seminário conciliar voltou a seguir os passos de Jesus logo após a ressurreição. De modo semelhante à via Sacra, foram percorridas 14 estações até à renovação das promessas do Baptismo. Ao invés da habitual cruz que evoca a morte, mas também a vitória, nesta “via” seguimos o círio Pascal que é o próprio Cristo em todo o seu esplendor. No momento do baptismo recebemos a água, o fogo e tudo o que eles evocam. Se por um lado a água é sinal de pureza, sinal de vitalidade, por outro representa o incógnito do mar, o insondável. Através da tríplice imersão em água, somos recordados da mor10

te de Jesus no alto da Cruz. Já o fogo é sinal de força, de coragem e de plenitude face às promessas do Espírito. Através do fogo, somos marcados com o selo indelével do Espírito que nos anima e nos dá força para seguir em frente. Com efeito, o trajecto da “via” do Senhor ajuda-nos a interiorizar os locais e momentos de partilha, a esperança de um novo amanhã e o que ainda nos falta fazer para despojar o homem novo, lavar as vestes no sangue do Cordeiro e revestir-nos da luz do Espírito que habita em nós. Antes de partir fomos levados a acolher a Luz como algo de bom e belo, a primeira a ser criada e a ser testemunha da própria criação como nos relata o livro do Génesis. Do mistério da ressurreição até à vinda do

Espírito após a elevação de Cristo somos conduzidos pelo périplo do drama/espanto dos discípulos que viram Jesus a morrer na Cruz. Cristo não se detém, aparece mas também se oculta. As várias aparições são testemunhas disso mesmo. Cristo permanece livre, mesmo da própria morte. Não se sujeita nem ao anseio dos discípulos estarem com Ele uma última vez. As 14 estações são para nós o suco vital de nos fazermos como Pedro perante o inquérito de Jesus. Somos ainda imperfeitos, mas pedimos a força do Espírito Santo para renovar o mundo ao nos renovarmos a nós mesmos com esta luz intensa e misteriosa que emana da Ressurreição de Cristo.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL UNIVERSITÁRIA NOS DIAS DE HOJE José Gonçalves, Pastoral Universitária de Braga

Quando somos questionados por alguém sobre as razões da nossa fé, dificilmente conseguimos dar uma resposta racional, completa e esclarecedora. Afinal não é a fé o maior de todos os mistérios? O grau de dificuldade aumenta significativamente, quando nos perguntam porque é que é importante sermos Cristãos nos dias de hoje, se Jesus Cristo, o fundador da Igreja, foi morto há quase dois mil anos. Viveremos nós Cristãos das memórias deixadas por um Mestre que prometeu a vida eterna e um Mundo novo? Num tempo de profunda confusão e acentuada aporia, quando as respostas surgem antes das perguntas serem colocadas, torna-se difícil para os seres humanos encontrarem tempo para cuidar do espírito. A sociedade, hoje, faz a vida parecer tão fugaz que Deus é deixado muitas vezes esquecido nos armários, nas mesinhas de cabeceira e nos baús dos nossos avós, que tentam muitas vezes, como a herança mais importante de todas, transmitir àqueles que mais amam uma pista de Deus. Esta tentativa muitas vezes desesperada, de tentar, que numa perspetiva Cristã, a alma dos seus filhos e netos seja salva, é frequentemente atirada para um rio que flui a grande velocidade e se encontra poluído por uma significativa quantidade de preocupações, tarefas, trabalhos e esperanças que pertencem unicamente ao mundo

dos homens. É um facto que todas as pessoas procuram o melhor para si e para aqueles de quem gostam, a problemática nos dias de hoje é perceber o que é realmente importante, o que de verdade importa. Esta é a pequena introdução que costumo dar a quem me pergunta porque integro a equipa de uma Pastoral Universitária. Sem esta introdução não é possível compreender o verdadeiro motivo. Preocupa-me, como à larga maioria das pessoas que fui conhecendo em ambiente universitário, a construção de um mundo mais justo, com mais oportunidades, com menos pobreza, com maior igualdade, mais sustentável e com maior sentido de comunhão. Os desafios profissionais que hoje se colocam parecem, muitas vezes, promover a competição, o isolamento de ideias, a corrida desmedida

por um posto de trabalho. Assim, o ideal pessoal aparenta ser contraditório ao ideal coletivo, o que não faz qualquer sentido, dado que o mundo não começa e acaba em nós mesmos, pelo contrário representa uma rede de ligações muitas vezes subtis, mas indispensáveis à sobrevivência coletiva. Não conheço local melhor para resolver os desafios que se apresentam à nossa espécie e ao nosso planeta, do que a universidade, principalmente porque se encontra repleta de mentes jovens, inteligentes e com muita vontade de enfrentar qualquer desafio que lhes seja colocado. Existem professores capazes, com uma vida de experiência, que podem guiar, mais facilmente, os mais jovens pelas sendas que pareçam mais prometedoras à resolução dos vários problemas. 11


PASTORAL DE JOVENS

ECOS DO FÁTIMA JOVEM 2016 Aceitar o desafio de testemunhar hoje a misericórdia. Nesta frase poderia-se resumir o mais importante da Peregrinação Nacional de Jovens a Fátima, que se realizou nos passados dias 7 e 8 de Maio. A participação dos 250 Jovens da Arquidiocese de Braga, embora ofuscada pelo mau tempo que se fez sentir em Fátima, foi marcante. Na Eucaristia de encerramento, presidida por D. António Marto, bispo de Leiria-

A alegria juvenil e a força do seu testemunho percorreram os tempos de encontro e de festa – em particular o concerto animado pela Banda “São Sebastião” (de Meãs do Campo, Montemor-o-Velho) –, mas também de reflexão e de oração. A noite de sábado foi marcada pela oração em torno da figura de Maria, “Mãe da Misericórdia”, quer no terço e na procissão das velas, quer na passagem pela

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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-Fátima, ecoava a pergunta lançada aos jovens: Como ser, hoje, sinal da misericórdia no concreto da vida, ousando chegar às margens onde urge o anúncio e a presença da misericórdia. Logo no início da peregrinação, 14 workshops levavam os jovens ao encontro de experiências concretas da misericórdia, a partir das obras de misericórdia espirituais e corporais. Da Pastoral Penitenciária à Cáritas, do trabalho com os refugiados e os doentes mentais às iniciativas de voluntariado e de intervenção social, muitas foram as instituições e as pessoas concretas que trouxeram e partilharam com os jovens o modo de ser hoje um rosto da misericórdia numa grande diversidade de circunstâncias e situações. Diversos santos da misericórdia acompanhariam também a reflexão, voltando a figurar no gesto de envio que fechou a Peregrinação. Reunindo cerca de 2700 jovens, o Fátima Jovem’16 foi ainda uma ocasião de festa, que nem as intempéries meteorológicas conseguiram travar.

Porta Santa e na Vigília, já na Basílica da Santíssima Trindade. Ao ritmo do Jubileu, proposto pelo Papa Francisco, esta foi uma oportunidade para a escuta, o canto e o silêncio, para a adoração eucarística e para a reconciliação individual. No Domingo, a celebração eucarística aconteceu já no novo presbitério do recinto de oração do santuário, cujo altar foi dedicado nesse dia. Uma feliz e significativa coincidência. Tanto os sinais litúrgicos e os cânticos como a própria homilia do presidente da celebração vieram lembrar aos jovens, o estreito vínculo entre a misericórdia celebrada no altar eucarístico e a misericórdia exercida para com aqueles a quem somos chamados a tornar-nos próximos. Por último, o Fátima Jovem de 2016 ficou ainda marcado pela sua inserção na caminhada de preparação em vista às próximas Jornadas Mundiais da Juventude que, por vontade do Papa Francisco, decorrerão na cidade polaca de Cracóvia de 25 a 31 de Julho.

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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