Voz de Esperança Jul/Ago 2015

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JUL - AGO / 2015

A IMACULADA CONCEIÇÃO

Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XX - 5ª Série | Nº 47 | Bimestral 1,00 €

SEMANA DE VOLUNTARIADO

“A semana de voluntariado “ A sua vida foi uma correspondência, em liberdade, coroa o ano lectivo, pois converte em obras a esse chamamento à verdade aquilo que foi ensinado” da humanidade” Paulo Alves p. 10

João Duque p. 2-3

EDITORIAL

APROXIMAR Se a vida quotidiana, na sua expressão comunitária, é marca indelével da experiência de Seminário, o ano que terminamos transporta consigo o timbre particular da celebração dos 90 anos. Um programa, vasto, diversificado e de profunda qualidade, desenvolvido numa colaboração muito estreita com a associação dos nossos antigos alunos, tem procurado assinalar a importância e o significado desta efeméride. Desde o início, temos vindo a privilegiar as expressões visual e artística, e assumimos uma dimensão mais testemunhal e formativa, que procurava encontrar na história o sentido para o amanhã do Seminário, e reconhecer a sua importância na formação de muitas gerações que, nas mais diferentes áreas profissionais, serviram e servem a Igreja e a sociedade. Agora, nesta segunda etapa que se prolongará até Dezembro, queremos sublinhar o Seminário como lugar de encontro de todos quantos sentem a sua vida ligada, de alguma forma, a esta instituição. O DIA DO ANTIGO ALUNO, programado para 26 de Setembro, e outras iniciativas aí propostas, serão o concretizar deste sonho de aproximação que o Seminário e a ASSASB vêm preparando há algum tempo. O Seminário é, hoje, mais que acompanhamento vocacional, e o seu passado mais que número ou estatística. O Seminário é, em todos os tempos, vidas que Deus cruza e se entrelaçam. O tempo forja alguma distância, inevitavelmente. Contudo, sempre mais breve que a memória agradecida, e a alegria do reencontro. E a nostalgia da admissão ou do regresso de férias voltará à rua de São Domingos neste dia. Oxalá sejam muitos os antigos alunos que a queiram reviver, participando neste encontro!


VISÃO

A IMACULADA CONCEIÇÃO, ÍCONE DA VERDADEIRA HUM João Duque

É inquestionável que a Arquidiocese de Braga decidiu batizar o seu recém-construído Seminário Menor como Seminário de N. Srª da Conceição não só pelo papel que essa invocação da Virgem sempre ocupou na história de Portugal, mas sobretudo devido ao ambiente originado pela definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria, em 1854. Para além do Santuário do Sameiro, este foi um dos modos mais significativos como o povo de Deus residente em Braga assumiu a importância desse dogma. Noventa anos depois desse batismo, e sem pretender questionar o significado popular, eclesial e mesmo histórico dessa definição, penso ser importante refletir, ainda que muito brevemente, sobre o seu significado teológico, até porque várias vezes foi colocado em causa. De um modo muito genérico e simples, a afirmação da imaculada concepção de Maria significa que ela não foi afetada pelo pecado original, tal como todos os outros humanos, logo desde a sua concepção no seio materno. Isso significa, antes de mais, que a ausência de pecado em Maria não se deve a um mérito seu, em função do seu comportamento ou atitude, pois é anterior a qualquer possibilidade de opção livre da sua parte. Logo, a ausência de pecado em Maria é resultado de uma dádiva gratuita, que lhe é anterior. Mas, esta “exceção” à “normalidade” da humanidade levanta uma difícil questão. Se a doutrina do pecado original, inspirada em Santo Agostinho, tinha sobretudo por finalidade afirmar a necessidade da salvação universal realizada em Jesus Cristo – necessidade a que nem as crianças inocentes se poderão esquivar – será que há aqui uma exceção a essa necessidade? Será que

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ANIDADE Maria não necessitou da redenção realizada em Jesus Cristo? Ora, precisamente frente a esta questão é que a constatação referida acima pode ser esclarecedora. De facto, se a ausência de pecado em Maria não se deve ao seu mérito pessoal, deve-se a quem? A sua liberdade em relação ao pecado não poderá dever-se a mais ninguém senão ao próprio Deus. Ora, se a dádiva dessa liberdade acontece, para os humanos, apenas em e através de Jesus Cristo, então é precisamente a salvação realizada por Ele o que concede a Maria a liberdade do pecado, mesmo antes de qualquer decisão livre da sua parte. Maria não constitui, pois, exceção em relação à necessidade universal da salvação realizada por Cristo, mas a sua mais profunda e primordial realização. No seu caso, essa realização não é uma libertação posterior à existência real do pecado em si, mas um libertação anterior, não permitindo a sua perversão pelo pecado. Mas, se assim é, seria Maria verdadeiramente humana? Esta questão ainda é mais difícil do que a primeira. De facto, grande parte das negações da sua imaculada concepção deve-se precisamente a este factor. Ora, tudo radica na própria concepção de humanidade. De facto, pertencerá o pecado à verdade da natureza humana? Mas, se assim fosse, seria ainda pecado, ou apenas um destino necessário e inevitável – por isso não imputável à liberdade culpável? Ou será a natureza humana, na sua origem, livre do pecado, sendo este precisamente a sua perversão? Mas, se assim é, então a verdadeira humanidade realiza-se apenas na liberdade em relação ao pecado. Jesus Cristo, ao libertar a humanidade do pecado – como promessa, embora ainda não realizada em

plenitude – condu-la à sua verdade originária. Maria é a primeira e mais profunda realização dessa humanidade verdadeira, porque é liberta do pecado que a falsifica. Ela não apenas é verdadeiramente humana, como é a única verdadeiramente humana – à semelhança do seu Filho Jesus Cristo, o Ecce Homo verdadeiro. Isso não significa que Maria não tenha correspondido livremente, na sua existência pessoal, a esta ordem de coisas, como se se tratasse de algo mágico, que aconteceu independentemente das suas opções livres. A sua vida foi, precisamente, uma correspondência, em liberdade, a esse chamamento à verdade da humanidade, como liberdade em relação ao pecado. Evidentemente que nós sabemos não estar, como Maria, isentos da ambivalência e mesmo da perversão inserida na história pelo pecado, até porque reconhecemos ser suficientemente pecadores para não cairmos em tal presunção. Mas isso não invalida que não possamos orientar-nos por Maria. De facto, se nela se realizou, por dádiva gratuita de Deus, a libertação plena do pecado, correspondendo-lhe ela com o pleno acolhimento dessa graça, isso manifesta que é possível a qualquer humano, mesmo se marcado pelo pecado, essa mesma libertação. Basta-lhe acolher, em humildade, a dádiva do perdão vindo de Deus. Assim, Maria revela-nos a possibilidade da esperança da libertação do pecado e, por isso, a possibilidade de uma vida livre – livre, na medida em que é assumida pela nossa liberdade, e livre, na medida em que nos liberta da escravidão do pecado, que nos destrói, destruindo a Humanidade. Assim, é-nos possível esperar – e é na esperança que seremos salvos: spe salvi.

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ARTE

IMACULADA CONCEIÇÃO (VI) Luís da Silva Pereira

Já no séc. XVI, mas principalmente nos sécs. XVII e XVIII, desenvolveu-se na Índia, mas também no Ceilão, na China e até no Japão, por influência, sobretudo, dos jesuítas, uma imaginária católica que resulta do contacto da iconografia ocidental com a arte indiana. Costuma chamar-se arte indo-portuguesa. Fundamentalmente, os tipos iconográficos são os mesmos, mas revelam, em muitos pormenores, o esforço de inculturação do catolicismo. Por exemplo: o feitio do nariz, dos olhos e dos lábios, as orelhas à mostra, a postura rigidamente vertical, a posição da cabeça inclinada sobre a mão direita e os olhos fechados na iconografia do Bom Pastor Menino, a disposição das túnicas e dos mantos, a decoração com plantas orientais, etc.. Os materiais utilizados são, principalmente, o marfim e a madeira, ou a combinação dos dois, como se pode ver na escultura da direita, na qual apenas o rosto, as mãos, um dos pés, o crescente lunar e as cabeças dos anjos são de marfim. Se muitas esculturas da Imaculada mantêm os atributos tradicionais, -veja-se a imagem à direita - muitas outras os perdem, talvez por desconhecimento do seu significado. Terá sido essa perda de sentido a razão que levou, em determinado momento, a que só os artistas cristãos pudessem produzir iconografia sacra. 4


Ambas as esculturas são elegantíssimas e bem ilustrativas do que dissemos. Na do nosso lado esquerdo, toda de marfim, verificamos a ausência quer da serpente, quer do crescente lunar, quer do globo celeste, substituído por nuvens (em muitos outros exemplares, só permanece o crescente lunar). O corpo inclina-se para a direita, acompanhando a curvatura do dente de marfim em que foi esculpida, e a perna direita adianta-se ligeiramente, como é habitual. Os cabelos delicadamente trabalhados deixam que vejamos as orelhas. O pormenor surpreendente e mais original, contudo, é o comprimento do manto que, pelo lado das costas, não só ultrapassa os pés da Senhora, mas ainda a própria peanha, tocando quase no chão. Em nosso entender, dá à escultura um toque impressivo de majestade e revela a fantasia do artista que soube aproveitar o tamanho e a forma da matéria-prima que tinha à sua disposição.

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SEMINÁRIO MENOR

À DESCOBERTA DE UM RUMO… João Conde, 12º Ano

Começar uma caminhada vocacional nunca é fácil, porque existe sempre uma pergunta inconveniente – Será que este é o caminho que Deus escolheu para mim? – que nos segue sempre, fazendo-nos colocar a nós próprios inúmeras questões que só com ajuda espiritual conseguimos esclarecer. Desde pequeno fui criado no berço de uma família Católica, e as bases do catolicismo estiveram presentes no quotidiano, não só nos ensinamentos dos familiares, mas também na minha participação na Eucaristia Dominical, onde acolitava, e na catequese. Partindo dessas bases ia respondendo, de certa forma, à questão que agora me inquietava: Porque não ser padre? Decidi não a por de lado e fui comunicando essa eventualidade aos familiares, aos amigos – embora 6

nem todos concordassem – mas nunca ao pároco. Continuei o caminho que estava a fazer e, deslumbrado com a citação do Papa João Paulo II – “Não tenhais medo! Abri antes, ou melhor, escancarai as portas a Cristo!” – , nunca consegui fechar a porta ao chamamento que Cristo me fazia de ser seu discípulo, no anúncio do evangelho. Já quase no final do oitavo ano, deixei o medo e falei com o meu pároco sobre tudo isto, dele tendo recebido enorme apoio e o conselho de frequentar o Pré-Seminário. Aceitando esta sua recomendação, procurei a instituição, onde pude falar com um dos formadores e passei a frequentar os encontros de Pré-Seminário. Passados dois anos desde o início desta caminhada, na qual pude descobrir um pouco do que é a vida em

comunidade e me aproximei mais da pergunta inconveniente, resolvi fazer o estágio de admissão. Em concílio com os formadores, perante a minha vontade e com a permissão da família, no final do estágio a decisão estava tomada: para o ano estou cá como seminarista! Chega Setembro e também a entrada para o Seminário pela primeira vez. Nervoso e cheio de curiosidade, os primeiros dias nesta nova caminha vocacional a que me tinha proposto foram marcados pela descoberta de novas vivências e novos ritmos. Cada vez mais me sentia em comunidade, devido ao esforço que colegas e formadores fizeram para receber os novatos. Três anos de discernimento depois, para o qual contribuíram todos os momentos propostos, tais como: eucaristia, retiro, recolecções, vida em comunidade e entre outros, sei que os propósitos que me trouxeram aqui foram fortificados e as razões que me fazem continuar são agora não só as mesmas, mas também outras que fui descobrindo nos momentos de reflexão. Em suma, concluo que cada um de nós tem dentro de si “um pedacinho de Deus”. Essa semente foi plantada e jamais pode morrer, pois é necessário trabalhá-la para que possa dar muito fruto. A Igreja hoje precisa cada vez mais de trabalhadores para a messe de Cristo, que nos escolhe para dar testemunho da sua Palavra.


ACAV III: DESCOBRINDO O TESOURO MAIOR Jorge Fernandes, 12º Ano

Nos dias 9 a 12 de julho realizou-se, no Seminário Menor, o ACAV III. Este acampamento escutista contou com a presença de cerca de 80 pioneiros de 6 agrupamentos: Airão S.João, Cossourado, Nespereira, Bairro, Sobreposta e Sande S. Martinho. Os quatro dias sobre o imaginário “Peter Pan e a terra do nunca” na “Aldeia da Vocaciolândia” foram passados num verdadeiro espiríto escutista onde reinou a alegria, a boa disposição, a amizade, a entre-ajuda, a partilha e o testemunho de fé. Este ano, o ACAV contou com a particularidade de celebrarmos os 90 anos do Seminário Nossa Senhora da Conceição e os 65 anos do nosso agrupamento, o que é para todos nós um motivo de alegria e de júbilo. À semelhança de anos anteriores, o acampamento esteve repleto de atividades. Destacamos o fogo de conselho, onde todos os agrupamentos apresentaram uma música, ou jogo, de forma a interagir com o restante grupo e assim se criarem laços de amizade. Realizou-se ainda um peddy-paper pela cidade, para que os jovens a pudessem conhecer melhor e simultaneamente fomentar o espírito de entre-ajuda e de partilha. Ao longo destas atividades foi notório o espírito competitivo mas acima de tudo a alegria e vontade de partilhá-la com os outros. Houve também oportunidade de ir à praia fluvial de Felinhos, em Ama-

res, onde passámos uma tarde de convívio, com a realização de diversos jogos dentro e fora da água. Foi igualmente realizada uma caminhada ao longo da ciclovia, no âmbito da qual os jovens, através de várias dinâmicas, eram convidados a olhar para si e para o outro. Contamos, também, com a presença do Tiago Varanda, do Seminário Maior, que nos falou da sua vocação e de como o facto de ser invisual influi no seu caminho. De forma a incutir nos jovens o espírito de voluntariado e para que estes se apercebam do outro que se encontra numa situação mais frágil e que precisa da nossa ajuda, passamos uma tarde na casa de saúde de Nogueiró, na qual os jovens interagiram com os utentes cantando músi-

cas e falando com eles, servindo, ao fim da tarde, o jantar. Ao longo dos quatro dias foi possível aos jovens participar na eucaristia com assinalável grande alegria. No domingo teve lugar a eucaristia de acção de graças, a entrega das lembranças e a despedida, cheia de risos e o forte desejo de voltar. Na verdade, agora olhando para o que foi o acampamento apercebemo-nos que a mensagem transmitida foi aquela que queríamos. Agora é importante cair na conta que não vivemos de forma indiferente às vidas que tocamos e nos tocaram, nestes quatro dias. É um dom e uma responsabilidade. Um enorme obrigado a todos vós e em 2016 cá nos encontramos para o ACAV IV. 7


SEMINÁRIO MAIOR

AKATHISTOS Márcio de Castro

Caminhando para a conclusão do mês dedicado à santíssima virgem, no passado dia 24 de Maio, decorreu na Igreja do seminário conciliar de São Pedro e São Paulo o Akathistos, hino litúrgico que, desde há cerca de quinze séculos, a Igreja canta para celebrar o mistério da Mãe de Deus. Em pleno mês de Maio, ainda embalados pelo manto da prudentíssima virgem interessa meditar e passar sobre tão grandes mistérios, e especialmente do seu filho, luz para os nossos caminhos e razão do nosso caminhar e 8

peregrinar, amparo da nossa vida. Maria que embalou nos seus braços o próprio Deus, teve no seio o que o mundo não poderia conter, ela que beijando o seu filho talvez ainda não tivesse claro que beijava o rosto de Deus; ela é verdadeira mediadora que nos pede para fazermos o que Ele pede, e certamente na nossa melhor vontade e esforço esperamos cumprir o que ela deseja. A este momento de oração associou-se, à semelhança do que tem acontecido em anos anteriores, um significativo nú-

mero de fiéis, que juntamente com o coro do seminário decidiram contribuir ativamente neste momento celebrativo, enriquecendo e dando beleza ao cântico dedicado a Nossa Senhora Mãe da Igreja. Importa, no entanto, explicar sucintamente a origem de tal hino. A sua denominação deriva do grego, significando “não sentado”. Deste modo, o cântico deve ser entoado, meditado e ouvido, de pé. De resto, assim o fez o coro e a assembleia participante. Desconhece-se o seu autor, mas terá sido certamente composto por um grande poeta ou teólogo, que de forma particular bela conseguiu impregnar cada uma das suas palavras de uma doce e profunda oração e, ao mesmo tempo, de uma belíssima profissão de fé. Em suma, todos os fiéis que participaram neste momento celebrativo e de oração, entoando o cântico mariano, “receberam” no seu coração o convite de Deus a contemplar a imagem daquela que Jesus Cristo nos deu como nossa mãe. É ao mesmo tempo uma aclamação de confiança dirigida ao Senhor, porque Dele procede a graça e a verdade que inunda Maria, e é a união, pelo canto, do coro e da assembleia, ambos tendo em mente a Virgem Maria, que surge, deste modo, como o cume supremo da ascensão humana, revestida do divino, sem todavia perder a sua condição de criatura.


SÃO PEDRO E SÃO PAULO Nuno Oliveira

Em período de festas populares que se vão multiplicando um pouco por todo o país em honra dos santos o Seminário Conciliar de Braga não foi exceção, tendo festejado no dia 29 de Junho a festividade de S. Pedro e S. Paulo, padroeiros do Seminário Conciliar de Braga. Neste dia tão importante, a comunidade do seminário teve a honra de receber o Sr. D. Jorge Ortiga, que presidiu à Eucaristia, em que fomos convidados a refletir sobre estas duas figuras que são exemplo de fidelidade a Jesus e importantes edificadores da Igreja Universal. Com efeito, é importante para qualquer comunidade rever-se nos seus santos padroeiros, repletos de dons e muito conhecidos pelos seus milagres, virtudes ou martírio. Neste sentido, o Seminário, como casa onde se formam futuros pastores dedicados inteiramente a Deus, deve sensibilizar os formandos sobre a importância do testemunho dos seus padroeiros. Um dos padroeiros do Seminário é S. Pedro. Etimologicamente, o nome de Pedro significa “rocha” ou “pedra” (πέτρα em grego e petra em latim). Neste sentido, o nome Pedro faz jus ao seu papel na Igreja, pois S. Pedro é a “rocha” sobre a qual foi edificada toda a Igreja, ou seja, é um importante pilar da Igreja, tendo sido o primeiro Papa da Igreja. Assim, devemos perpetuar esta comunida-

de edificada por Pedro, realizando a nossa missão enquanto cristãos que é a de transmitir fielmente a mensagem de Jesus Cristo, ao invés de nos tornarmos uma comunidade fechada em si própria que vive à espera de milagres, à espera que Deus faça tudo sozinho. De facto, muitas vezes podemos sentir-nos desanimados pelas inúmeras intempéries que vão surgindo na nossa vida e desmotivados a continuar a missão que nos é confiada. Não obstante, S. Pedro também é um exemplo de que Deus nunca nos abandona e de que a sua causa vale a pena, apesar de todos os momentos de perseguição e oposição, pois Pedro foi perseguido e torturado e mesmo assim nunca deixou de confiar em Deus. O outro patrono do Seminário S. Paulo apresenta-se como uma figura que se soube desprender dos valores e costumes efémeros que norteavam

a vida do Homem comum e reconhecer Jesus Cristo como fonte da verdadeira felicidade. Paulo, tal como Pedro, não teve um caminho fácil, pois para além da mudança que realizou na sua vida foi igualmente perseguido e incompreendido. De facto, os apóstolos Pedro e Paulo não percorreram caminhos fáceis, acabando, inclusive, por serem martirizados. Mas ambos cumpriram a sua missão com retidão, espalhando com entusiasmo e fidelidade a mensagem cristã. Assim, é importante termos consciência de que um caminho vivido na radicalidade, apesar de ser duro, é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena. Concluíndo, os padroeiros, sejam eles quais forem, devem marcar a vida de qualquer cristão e levar a que este se inspire a repercutir na sua vida diária a marca deixada por aquelas figuras. 9


SEMINÁRIO MAIOR

SEMANA DO VOLUNTARIADO Paulo Alves

Diante da maré de desintegração social da sociedade hodierna, marcada pelo individualismo, a Igreja é chamada a olhar para o outro que sofre, em cujo rosto se encontra o de Jesus crucificado. Neste sentido, os seminaristas, após um ano de estudos, dedicam a sua última semana ao serviço daqueles que mais sofrem, em especial daqueles que se encontram internados por doenças de foro físico e psíquico, dividindo-se entre as Casas de S. João de Deus, na cidade de Barcelos e em Areias de Vilar, e na unidade de cuidados continuados e paliativos da Fundação “Domus Fraternitas”, instalada nos espaços do Convento de Montariol, em Braga. É fundamental cultivar a proximidade, aprender a sofrer com os outros e a ter compaixão. São aspetos de importância fulcral para um cristão – e sobretudo para quem quer dedicar-se ao serviço do Povo de Deus – pois ensina-nos que o sofrimento do outro não é alheio, mas, pelo contrário, somos convidados a dar-lhe a mão e a rezar por e com ele. Estamos implicados na vida do irmão, acerca do qual o Bom Pai continuamente nos questiona: «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9), tens prestado atenção a quem está à tua volta e precisa da tua ajuda? Se o voluntariado permite contactar com os irmãos doentes e nos sensibiliza para o cuidado a ter com 10

a forma como tratamos quem nos rodeia, também ajuda a entrar no mundo das famílias que vivem o sofrimento de um ente querido, ou então somos alertados para a indiferença com que algumas famílias tratam os seus familiares doentes. De facto, a semana de voluntariado coroa o ano lectivo, pois converte em obras aquilo que foi ensinado nas

aulas. Se o serviço aos que sofrem permite-nos ter verdadeiras experiências de contacto com o sofrimento, que nos interpela a entrar numa verdadeira comunhão de oração; o serviço ao seminário, através da sua limpeza (que encerra esta semana), torna-se uma demonstração de gratidão para com a casa que nos acolhe neste período de discernimento.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

PROJETO SEMENTES: LANÇAMO-NOS POR UM MUNDO MELHOR

Dentro de 5 dias partimos em viagem rumo a Cabo Verde. Na bagagem, mais do que fato de banho, sandálias, chapéus ou máquina fotográfica, que seriam imprescindíveis numas férias, levamos espírito de missão, motivação e conhecimentos, indo ao encontro das gentes daquelas ilhas. Expectamos desacelerar o ritmo da nossa vida contada ao minuto, sentir o cheiro da terra, ser parte daquelas comunidades e, desta forma, partilhar numa atitude de dar e receber: dar aquilo que ao longo de um intenso ano de preparação construímos e, em simultâneo, receber tudo aquilo que aquele povo nos pode ensinar. Somos um grupo de 18 voluntários sob a ossada da Pastoral Universitária, um departamento da Arquidiocese de Braga ao serviço das academias situadas no seu espaço geográfico, dirigida pelo Padre Eduardo Duque. Entre os seus objetivos fundamentais, a Pastoral tem procurado sensibilizar os universitários para a importância da intervenção social humanitária e cristã, a nível nacional como internacional, acreditan-

do que é possível construir um mundo melhor a partir do espírito de voluntariado cristão. Desta forma, surgiu o Projeto “Sementes”, que conseguiu semear o espírito de missão em cada um de nós, tentando conciliar a nossa formação específica e riqueza individual no desenvolvimento de projetos humanitários, específicos para o contexto de Cabo Verde, em particular das ilhas de Santiago e do Maio, que pretendemos desenvolver durante todo o mês de agosto. As principais áreas de intervenção serão Empreendedorismo Jovem, Educação para a Cidadania e Promoção da Saúde. Nesta sequência, estamos motivados para trabalhar a cidadania e promover o interesse pelo estudo a partir de atividades lúdicas, introduzir o conceito de empreendedorismo nos jovens desempregados através de ações de formação, sensibilizar para uma sexualidade informada e educar para a igualdade de género. No que concerne à Saúde, o nosso objetivo é integrar cuidados primários e de prevenção de infecção nas popula-

ções mais remotas, através de um contacto próximo com a comunidade local pretendemos partilhar um conjunto de informações básicas sobre a sintomatologia das doenças mais prevalentes da região, salientando os sinais de alerta que determinem a necessidade de cuidados diferenciados; no que respeita à saúde materno-infantil, queremos informar e aconselhar sobre planeamento familiar para jovens casais, deteção e seguimento da gravidez nos três trimestres, cuidados higieno-sanitários no parto e cuidados básicos na abordagem ao recém-nascido. A finalidade da nossa missão é a capacitação prática e efetiva da população. Estamos com o coração acelerado, a cabeça num turbilhão de pensamentos à mistura com sentimentos que nem nós mesmos conseguimos descrever. Apesar da ansiedade sobre aquilo que nos é desconhecido, acreditamos que as sementes lançadas darão frutos, não apenas nas vidas daqueles que encontraremos, como nas nossas, numa experiência de enriquecimento e crescimento pessoal. 11


PASTORAL DE JOVENS

A ARQUIDIOCESE DE BRAGA ACOLHE A ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO NAS PRÉ-JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE 2016

Braga foi oficialmente escolhida pela Arquidiocese do Rio do Janeiro para realizar, no próximo ano, o seu encontro de preparação para as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) em Cracóvia, Polónia. Durante uma semana, os responsáveis da Pastoral de Jovens das duas arquidioceses reuniram-se para avaliar as condições de acolhimento, estreitar laços de amizade e planear uma semana de ação missionária na Arquidiocese de Braga. A razão da escolha da Arquidiocese de Braga explica-se pelo vínculo antigo e de amizade existente entre o Cardeal Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro e Dom Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, bem como pelos laços existentes entre o Brasil e Portugal. Apesar da proximidade histórica e linguística, as duas arquidioceses estão inseridas em contextos muito diferentes e um dos propósitos destas pré-jornadas é precisamente a partilha entre os jovens de vivências de fé em mundos diferentes. Há já várias atividades pensadas para as pré-jornadas entre as quais se destacam as catequeses de manhã orientadas pelos Arcebispos das duas arquidioceses e as ações missionárias a realizarem-se em diferentes contextos e locais da arquidiocese de Braga para testemunho das suas vivências de fé. As Pré-Jornadas Mundiais da Juventude decorrerão entre 18 e 24 de julho de 2016, semana que antecede as Jornadas Mundiais da Juventude 2016 em Cracóvia (26 a 31 de julho de 2016). Todos os jovens interessados em colaborar na preparação e acolhimento dos jovens da Arquidiocese do Rio de Janeiro nas pré-jornadas poderão entrar em contacto connosco através do endereço de e-mail dapjovens@gmail.com.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@diocese-braga.pt vozdeesperanca@diocese-braga.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


SUPLEMENTO

SEMINÁRIO HOJE (II)

As objecções à pertinência dos seminários menores advêm, quase sempre, de três vertentes. A primeira é a baixa perseverança dos que transitam para o Seminário Maior. Mas, na adolescência, a vocação, mais que promessa segura, é indício, e desde que os critérios de admissão e os meios pedagógicos sejam apropriados, os resultados não deverão ser analisados por critérios materiais ou estatísticos. Outro facto é o de o seminário menor exigir alguma autonomia e desprendimento da família, primeira responsável pela educação dos seus filhos; ou então que o seminário corre o risco de se tornar redoma que impede crescimento, ou mesmo gerar expectativas prematuras que dificultam a liberdade de decisão. O concílio

foi claro ao afirmar que o seminário não substitui mas colabora com a família, e, sejamos claros também nós: de um modo geral, estão as famílias preparadas para o acompanhamento vocacional dos seus filhos? E, quanto à liberdade na decisão vocacional, não será legítimo perguntar onde residirá maior coação, no Seminário ou na família que cada vez mais sonhos não realizados pelos próprios pais?! E se o risco de o seminário se tornar redoma não deva ser descurado, será ele maior que o risco de o ambiente social e cultural se tornar triturador da própria vocação?! Concluímos, renovando a esperança no amanhã: apesar da taxa de natalidade atingir níveis cada vez menores, mesmo assim continuará a haver jovens em quem

Depois de publicarmos, nos quatro números anteriores, a obra de António da Costa Lopes, da qual tomamos este título, concluimos com dois apontamentos sobre os Seminários Menores nos tempos actuais.

o Senhor deposita sementes da vocação sacerdotal. A Igreja, mãe solícita, acompanhará estes seus filhos no amanhã do seminário. Como todas as instituições humanas e eclesiais, o Seminário passa por transformações, acolhe novos desafios, e precisa rever continuamente a sua vida, pela fidelidade à sua missão, porque os jovens que acolhe pertencem à juventude deste tempo, com seus problemas, anseios, aspirações e projectos. Do primeiro chamamento de Jesus a segui-l’O, retemos que as redes vazias foram abertura para a pesca abundante, e Pedro experimentou horas de bonança depois da noite vazia. A esperança do amanhã reside na certeza de que Jesus está na barca, e nos convida em cada sempre, a lançar as redes!


ENTREVISTA

FORÇA, CORAGEM E DETERMINAÇÃO JOSÉ ANTÓNIO MOTA FERREIRA

Seminário, futebol e empresa gráfica são três fases da minha vida que se encontram interligadas pela força, coragem e determinação que o Seminário em mim imprimiu. Quatro anos na “Tamanca” foram os alicerces para a minha formação: amizade, valores humanos e cristãos, conhecimento, coragem e determinação. A vida no Seminário não era nada fácil mas, ainda hoje, além de não me arrepender de lá ter andado, gosto muito de encontrar os amigos que lá criei e de evocar o Seminário como gerador dessa amizade. Além dos estudos, havia os passatempos e, se na música não tinha ouvido e ao beto tinha horror, principalmente quando tinha que esticar as mãos para levar com ele como corretivo - quando as regras não estavam a ser respeitadas - safava-me com o futebol, pois tinha algum jeito e muita vontade. O futebol deu-me a possibilidade de gerar alguma simpatia com os prefeitos e, como era considerado bom, gozava de alguma simpatia e admiração por parte dos

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colegas do meu ano e de outros anos que connosco conviviam. Quando saí do seminário, fui para as camadas jovens do Famalicão e, embora eu tivesse algum jeito, já lá havia aquilo a que hoje se chama craques; mas a tal determinação e coragem e mais algo que o Seminário me deu fizeram a diferença e consegui sobressair e ser considerado e admirado. Nos seniores joguei como semiprofissional em catorze clubes e, naquele tempo, não havia empresários; mas, senhor dos valores que transportei do Seminário e das qualidades de que, felizmente, era dotado no futebol, alguns clubes por onde passei vinham abordar-me para me contratar e os meus amigos foram-me indicando também a outros. Assim: Famalicão, Joane, Riopele, Tirsense, Tadim, Moreirense, Prado, Ribeirão, Aves, Felgueiras, Ponte da Barca, Limianos, Amares e Taipas fizeram parte do meu trajeto como jogador de futebol, o que constitui um bom percurso, durante o qual fiz imensas amizades e também ganhei algum dinheiro.

Reconheço que não era um craque, mas as condições e possibilidades eram outras que não hoje; mas a disciplina, coragem e determinação que transportei do Seminário fizeram-me atingir um patamar relevante e que alguns, com aparentemente mais qualidades futebolísticas, não conseguiram atingir. Chego a dizer que não andei na tropa mas tive o Seminário que me formou e me iniciou no futebol, dotando-me de qualidades sociais e humanas que ajudaram a complementar a minha formação. A determinação e coragem que adquiri no Seminário foram ferramentas que, ao longo da vida, sempre me ajudaram a progredir e a singrar, quer no futebol, quer no setor empresarial em que me encontro. Hoje sou sócio de uma empresa gráfica, já com trinta e cinco anos, e que conta com vinte e cinco funcionários. Isto é coragem e determinação; tenho a certeza que tudo isto se deve a esses grandes alicerces que adquiri no Seminário.


ENTREVISTA

José António Mota Ferreira é natural de Joane. Vila Nova de Famalicão. Tem 59 anos e frequentou o Seminário de Nossa Senhora da Conceição entre 1967 e 1971. Na sua vida profissional, é empresário no ramo das artes gráficas, tendo sido também jogador semiprofissional de futebol em clubes como Famalicão, Joane, Riopele, Tirsense, Moreirense, Aves, Felgueiras... Depois de, no números anteriores, termos contado com o testemunho de antigos alunos ligados profissionalmente a áreas como o serviço social, a justiça, a política, o ensino e a saúde, terminamos com desporto e vida empresarial!

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90 ANOS EM NOTÍCIA

CALENDÁRIO

ACTIVIDADE

16 SETEMBRO

EMISSÃO DE SELO COMEMORATIVO CTT

26 SETEMBRO 26 SETEMBRO

ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS DIA DO ANTIGO ALUNO EXPOSIÇÃO DE CARROS ANTIGOS EXPOSIÇÃO DE CARROS ANTIGOS CONCERTO MUSICAL CONCERTO MUSICAL MOMENTO CULTURAL MOMENTO CULTURAL

OUTUBRO 2015

EXPOSIÇÃO DE PINTURA PE. MOREIRA

11 OUTUBRO

SESSÃO SOLENE ORATIO SAPIENTIAE CUNHAGEM DE MOEDA COMEMORATIVA

20/21 NOVEMBRO

FÓRUM UASP ARTE/FÉ/NOVA EVANGELIZAÇÃO EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA

NOVEMBRO/DEZEMBRO

EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA

06 DE DEZEMBRO

SAGRAÇÃO DA CAPELA APRESENTAÇÃO LIVRO CRÓNICAS ORATÓRIA COM TERESA SALGUEIRO

08 DE DEZEMBRO

FESTA DAS FAMÍLIAS INAUGURAÇÃO OBRAS DO SEMINÁRIO VÍDEO QUOTIDIANO SEMINÁRIO

18 DE DEZEMBRO

SARAU RECREATIVO

S/D

SEMINÁRIO EM NOTÍCIA (DIÁRIO DO MINHO) PUBLICAÇÃO TEXTOS SILVA PEREIRA

SEMINÁRIO NOSSA SENHORA DE CONCEIÇÃO

Durante o mês de Junho acolhemos a primeira exposição de Percursos, dedicados a trabalhos de antigos alunos, artistas e criativos que o Seminário “formou”, na genuína acepção da palavra, independentemente dos diferentes “percursos” que cada um escolheu e seguiu. Depois da colaboração de Salgado Almeida (foto 1), tivemos entre nós quadros do padre José Joaquim Torres, ao longo do mês de Julho (foto 2). Das iniciativas futuras, permitimo-nos salientar o DIA DO ANTIGO ALUNO, preparado com a ASSASB para o dia 26 de Setembro, cujo programa pode ser conferido na capa desta edição de Voz de Esperança. Não é necessária inscrição prévia para participar neste encontro. Contamos com a sua presença!


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