MAI - JUN / 2015
A META DA VIDA CRISTÃ “Deus e o humano é o verdadeiro sentido da existência”
Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XX - 5ª Série | Nº 46 | Bimestral 1,00 €
Pe. Pablo Lima p. 2-3
VIGÍLIA VOCACIONAL “O elemento transversal a toda e qualquer vocação cristã é o amor” Manuel Torre p. 9
EDITORIAL
CAMINHO Na mensagem proposta para a Semana das Vocações, o Papa Francisco apresentava a atitude de êxodo como experiência fundamental de toda e qualquer vocação, porque nos impele a sairmos de nós próprios para acolher a vocação que Deus nos oferece. Êxodo é a marca originária da fé, da vocação baptismal a ser discípulo, que depois se concretiza naquela diversidade de formas de vida que as diferentes vocações significam. Acolhendo este convite, e colaborando com o Departamento para a Pastoral Vocacional, fizemo-nos ao caminho para as terras da Cabreira, uma vez que o arciprestado de Vieira do Minho havia sido proposto para receber a dinamização e as celebrações arquidiocesanas da 52ª Jornada de Oração pelas Vocações. Tudo graças a um outro êxodo, muito anterior, da primeira metade do século XVIII, que conduziu duas irmãs, Águeda e Maria de Jesus, desde Tabuaças até à cidade de Braga. Querendo fundar um Recolhimento feminino, lançaram as primeiras pedras do edifício que hoje, e desde há 90 anos, é Seminário de Nossa Senhora da Conceição. Pelos caminhos da nossa Arquidiocese está, por estes dias, a imagem peregrina da Senhora de Fátima. Tempo de percebermos mais visível e mais próximo o apelo a sair de nós próprios para acolher, como a Imaculada, com amor imenso a vocação, caminho de vida, que Deus nos oferece. Tal como nos propõe, também, o itinerário de oração mariana para este mês de Maio, que os Seminários prepararam em nova edição do 31 dias com Maria, que as nossas comunidades paroquiais e um número significativo de famílias quiseram receber como seu!
VISÃO
“SEM MANCHA DE PECADO” A META DA VIDA CRISTÃ P. Pablo de Lima
O dogma e a solenidade da Imaculada Conceição são muito mais do que uma exaltação e festa dos privilégios de Maria; são outrossim a celebração das maravilhas de Deus na história do Seu povo que é a Igreja, à qual Deus “deu início na Virgem Maria” que destinou como “advogada de graça e modelo de santidade” (Prefácio da Solenidade). Os chamados dogmas “marianos” são, na verdade, dogmas cristológicos porque nos dizem uma verdade sobre o Filho de Deus através da pessoa de Maria. A Oração Colecta da Solenidade afirma claramente que Deus “preservou [Maria] de toda a mancha em atenção aos méritos futuros da morte de Cristo” e, assim, “preparou para o Seu Filho uma digna morada”. Esta é uma afirmação fortíssima. O mistério da única criatura humana que não partilhou a nossa condição pecadora desde a concepção é tão grande que muitos santos e importantes teólogos não o consideravam aceitável, entre eles Santo Agostinho e São Tomás de Aquino e, ainda, São Bernardo, o mesmo que disse “de Maria nunquam satis”, isto é, “sobre Maria nunca [se dirá] suficiente”. A grande dificuldade está em considerar que a concepção imaculada coloca Maria fora da necessidade de redenção operada por Cristo e, ainda, pode anular a sua liberdade e mérito na hora de aceitar o anúncio do Anjo. Mas a Imaculada Conceição de Maria é já uma acção de Cristo em ordem à salvação da humanidade e a graça de Deus, quando é dada ao ser humano, nunca o apaga, nunca o dilui mas o eleva, o realiza, o plenifica. A alternativa “Deus ou o hu-
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mano” é uma mentira; Deus e o humano é o verdadeiro sentido da existência. Na carta aos Efésios (1,4-5.11-12), São Paulo afirma: “Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, de sua livre vontade, para sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo”. Portanto, a vocação à santidade é para todos; segundo o dogma, Maria é imaculada na sua concepção, o cristão sê-lo-á no seu encontro definitivo com Deus, que começa já neste mundo. A condição de viver “sem mancha de pecado” corresponde, assim, ao desejo e ao plano original de Deus para toda a humanidade. Maria corrige a resposta que Adão deu ao Criador no livro do Génesis. À pergunta, “onde estás?” (Gn 3,9), Adão respondeu: “tive medo e escondi-me” (v.10). Por seu lado, Maria diz: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Se o pecado original é a desobediência primordial a Deus, só a obediência primordial restitui o universo à sua vocação original. Maria reescreveu a história e virou uma página pela sua disponibilidade à vontade de Deus. Esta relação íntima entre a primeira página do Antigo Testamento (à qual os Padres da Igreja chamaram, justamente, “proto-evangelho” pela promessa da vitória final da “descendência da mulher” sobre a serpente; Gn 3,15) e a primeira cena do Novo Testamento, é sublinhada pela Igreja que coloca estes dois textos face a face, como num espelho, na liturgia do 8 de Dezembro. Santo Ireneu cha-
ma Maria “advogada de Eva”: “era justo e necessário que Eva fosse reconstituída em Maria para que uma Virgem, convertida em advogada de uma [outra] virgem, apagasse e anulasse a desobediência de uma virgem com a obediência de uma [outra] Virgem»1. O antigo hino gregoriano“Ave, Stella Maris”2, num lindíssimo e delicioso jogo de palavras, diz assim: “Sumens illud Ave / Gabrielis ore, / Funda nos in pace, /Mutans Hevae nomen”, isto é: “Acolhendo o seu “Ave” / a palavra de Gabriel / confirma-nos na paz / mudando o nome de Eva”. O que quer dizer? Que o gesto acolhedor e disponível de Maria, inverteu o nome de Eva: E-V-A → A-V-E…
PO 12 [1919], 685.772-773 Lamentavelmente, não é esta a versão que aparece na Liturgia das Horas portuguesa que é mais breve. 1 2
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ARTE
IMACULADA CONCEIÇÃO (V) Luís da Silva Pereira
Esta escultura da Imaculada Conceição encontra-se nas reservas do Museu dos Terceiros, em Ponte de Lima. Não se conhece o autor nem sequer a sua proveniência. Supõe-se que terá vindo da matriz limiana. A imagem, do séc. XVII, é elegantíssima. Pelas suas caraterísticas, deve ter sido esculpida segundo as recomendações do pintor e tratadista espanhol Francisco Pacheco (1564-1644) que, no livro Arte de la Pintura, publicado postumamente, em 1649, preconizava que a Imaculada devia ser figurada “na flor da idade, entre 12 e 13 anos, muito bela, olhos amorosos e solenes, nariz e boca perfeitos, faces rosadas, cabelo muito belo e longo”. De facto, o rosto é quase infantil, com as maçãs levemente rosadas. Os longos cabelos caem em madeixas. As mãos postas representam atitude orante. Como habitualmente, a túnica é branca e o manto azul, com pedras incrustadas na orla. A Senhora olha para baixo, em direção à terra. Não tem Menino ao colo, que é a figuração mais correta, uma vez que a Conceição Imaculada é, logicamente, anterior à maternidade. Apresenta alguns dos atributos habituais: crescente lunar aos pés, de pontas viradas para baixo, e três cabeças de anjos, o número clássico. Como é também habitual, a serpente enrosca-se à volta da esfera. O que há de original, porém, nesta escultura é o globo celeste, cheio de ocos. Desconheço outra iconografia semelhante bem como o significado das concavidades. O que vou dizer não passa, portanto, de hipóteses interpretativas. A primeira hipótese é que essas concavidades representem as crateras da lua, novidade científica então muito recente. Com efeito, elas tinham sido dadas a conhecer por Galileu, em 1610, num livrinho impresso em Veneza e intitulado Sidereus 4
Nuncius. Existem desenhos do próprio Galileu que as representam. Reproduzimo-los aqui para podermos comparar com eles a escultura. A ser verdadeira a interpretação, estaríamos perante um caso interessante de arte sacra marcada pelo realismo de uma descoberta científica que causou grande emoção. Uma segunda hipótese é a de que as concavidades se destinassem a incrustar esferas de vidro para representar mais vivamente o brilho das estrelas. Caso há em que as estrelas pintadas a ouro sobre o azul da esfera celeste apresentam, no centro, pequenas cravações de vidro, certamente para as fazer cintilar. Recorde-se que dissemos há pouco, que o próprio manto da Senhora tem pedras incrustadas na orla do manto.
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SEMINÁRIO MENOR
ETAPA FINAL Tiago Costa, 12º Ano
Com a aproximação do findar do ano, para o décimo segundo ano, é altura de decidir se realmente queremos continuar a nossa caminhada, desta vez no Seminário Conciliar São Pedro e São Paulo. Para uma decisão ponderada, nada melhor do que sairmos das nossas rotinas apressadas e deixarmo-nos descansar num local sossegado, no meio de saudáveis elementos naturais. Neste sentido, entre os dias 20 e 23 de Março, juntamente com a equipa formadora, o 12º ano viajou até aos Picos da Europa com o intuito de conviver, conhecer e aprender mais sobre a cultura daquela região e, sobretudo, refletir no melhor para cada um, com a ajuda dos intermediários do Senhor. 6
Ao chegarmos a Espanha, começaram a surgir diversas e impressionantes paisagens naturais e urbanas. Ali, pudemos visitar vários monumentos, entre os quais catedrais, igrejas de séculos muito anteriores ao nosso e pequenos edifícios, com grande valor simbólico e histórico. Assim, visitámos regiões como León, Covadonga, Cangas de Onis e Oviedo, onde nos foi possível contemplar quer montanhas, quer pastos de grande dimensão, num ambiente propício à reflexão, pois só se escutava o silêncio, que serviu de fonte para escutar o nosso coração e o Senhor. No final de cada dia, regressávamos ao parque de campismo onde
estivemos alojados e dividíamos as tarefas, de modo a todos participarem vivamente e se ajudarem, aumentando os laços de amizade, confiança e responsabilidade. Nas refeições, foi visível em cada rosto a alegria de convivermos e de estarmos em plena harmonia. Esta viagem foi muito proveitosa, pois em primeiro pudemos retirar-nos um pouco do que é a nossa rotina habitual e, de forma mais afincada e profunda, refletir sobre a melhor decisão em relação ao nosso futuro; por outro lado foi nos dada a oportunidade de conhecermos uma cultura e um país diferentes para a maioria de nós que nunca tinha contactado com esta cultura.
SEMANA MAIOR Bili Teixeira, 12º Ano
Em Braga, a Semana Santa é sempre vivida com grande espiritualidade e entusiasmo. As celebrações em que os seminaristas participam habitualmente começam na quinta-feira santa de manhã com a missa da bênção dos Santos Óleos. Nesta celebração eram presentes Sacerdotes, Diáconos e Cónegos da Diocese de Braga, sendo a eucaristia presidida pelo Sr. Arcebispo D. Jorge Ortiga, sob o tema da fidelidade que o Sacerdote deve ter na sua vocação. Da parte da tarde teve lugar a cerimónia do «lava-pés» em que o Sr. Arcebispo, de forma humilde, lavou os pés a pessoas de várias proveniências e estatutos sociais. A cerimónia consistiu ainda numa Eucaristia e na oração de vésperas. Às 22h realizou-se a procissão do «ecce homo», um momento muito especial, com milhares de pessoas a assistir. Na sexta-feira santa da parte da manhã, mais especificamente, pelas 10h houve oração de laudes cantada e, da parte da tarde, às 15.00h realizou-se a cerimónia do enterro do Senhor. Aqui, os fiéis presentes puderam partilhar da história e sofrimento de Cristo. No final, terminou com a oração de vésperas. Á noite ocorreu a procissão do «enterro do senhor» que também contou com um elevado número de pessoas a participar e a assistir. No sábado santo de manhã a oração de laudes também cantada correspondeu ao término da presença dos seminaristas do Seminário Menor nas celebrações. Na minha opinião, a semana santa é um momento único em Braga, tratando-se de uma experiência muito importante quer a nível individual, quer a nível coletivo. Em suma, estes momentos foram de tal modo marcantes que nos permitiram assimilar pessoalmente o quanto a Páscoa é o ponto alto da vida cristã. 7
SEMINÁRIO MAIOR
UMA RESPOSTA GENEROSA AO CHAMAMENTO José Tiago Pereira Varanda
«Ouvir e receber a chamada do Senhor não é uma questão privada e intimista que se possa confundir com a emoção do momento; é um compromisso concreto, real e total que abraça a nossa existência e a põe ao serviço da construção do Reino de Deus na terra»1. Impelidos por este estímulo do Papa Francisco à generosidade comprometida e total, os membros do Departamento Arquidiocesano da Pastoral das Vocações saíram entre os dias 18 e 26 de Abril para as terras do arciprestado de Vieira do Minho, no sentido de dinamizarem, junto das comunidades cristãs
1 Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
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daquela região, especialmente entre as crianças, adolescentes e jovens, um conjunto de diversas actividades destinadas a dar a conhecer os vários caminhos de amor aos quais Deus chama, desde o Baptismo, cada um dos seus filhos muito amados. Assim, leigos, religiosos, sacerdotes e seminaristas estiveram envolvidos ao longo da referida semana em catequeses paroquiais, participaram em celebrações Eucarísticas e visitaram escolas, onde puderam dar o seu testemunho evangélico e conversar com os mais novos sobre a importância da vida religiosa, da vida sacerdotal e da vida de qualquer leigo comprometido, no matrimónio ou na vida celibatária, com Cristo na Igreja e na sociedade. Estes são, no
fundo, diversos modos concretos de correspondência fiel e generosa ao chamamento fundamental ao amor que Deus faz, por Jesus Cristo, a cada um, de modos específicos e por caminhos concretos e diversificados, consoante as diferentes sensibilidades que provêm da multiplicidade de dons do Espírito. Ao mesmo tempo, foram promovidos alguns momentos de oração em conjunto, no sentido de se pedir «ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe»2. Os promotores destas dinâmicas não se limitaram a integrar tais momentos de oração nas catequeses ou nas Celebrações Dominicais, mas organizaram vigílias de oração com o mesmo fim, que se realizaram no dia 16, na igreja dos Congregados, em Braga, e no dia 24, na Igreja Matriz de Vieira do Minho. É de salientar e de agradecer o agradável acolhimento que as gentes das terras da Senhora da Fé concederam a todos os que tiveram a honra de visitar aquela região para cumprir esta missão pastoral. De facto, o intercâmbio de experiências de fé, acima de tudo, constitui o elemento mais marcante deste tipo de iniciativas pastorais, contribuindo para um enriquecimento e estímulo recíprocos entre os cristãos.
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Mt 9, 38.
VIGÍLIA VOCACIONAL Manuel Torre
No contexto da 52.ª semana de oração pelas vocações, os seminários arquidiocesanos de Braga deslocaram-se até à Igreja Matriz de Vieira do Minho para, em união com a comunidade, pedirmos ao Senhor da messe muitas e santas vocações para a sua Igreja. Estando o departamento arquidiocesano das vocações, conjuntamente com os seminários, a percorrer as paróquias de Vieira do Minho, arciprestado escolhido este ano para o efeito, realizou-se a vigília vocacional, presidida por sua excelência reverendíssima D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar de Braga. Contámos, igualmente, com a presença de muitos sacerdotes do arciprestado além de muitos leigos e leigas que se juntaram a nós nessa noite. O prelado salientou que os vocacionados são chamados a ser luz do mundo e sal da terra, testemunhas autênticas e verdadeiras do amor de
Deus pela humanidade ferida, instrumentos visíveis da graça, homens e mulheres de Deus, pelo que o elemento transversal a toda e qualquer vocação cristã é o amor. Deste modo, a necessidade de estarmos atentos ao rosto do outro que está ao nosso lado e que, amiúde, sofre nunca foi tão atual. Ser chamado é corresponder ao chamamento do Mestre que sofre no outro e quer precisar de nós para socorrermos o irmão ferido. Neste sentido, D. Francisco exortou a assembleia a fazer a experiência do «êxodo», que é o mote da mensagem do papa Francisco para uma melhor vivência desta semana. A raiz da missão cristã é missionária. Com efeito, toda e qualquer vocação necessita de fazer esta experiência de sair de si mesmo, das suas comodidades, das suas seguranças, para poder ir ao encontro do outro. Tal como nos diz o Mestre: «todo aquele que tiver deixado casas, ir-
mãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). De nenhum outro modo se pode servir o Evangelho, a não ser no desprendimento de tudo o que nos impede de ser fiel a quem testemunhamos. A homilia terminou com a apresentação do «fiat» de Maria como paradigma de toda e qualquer vocação. Na verdade, o seu «faça-se em mim segundo a Sua Palavra» (Lc 1, 38) converte-se para nós em modelo de solicitude, confiança, desprendimento, generosidade, pelo que Maria fez uma verdadeira experiência de «êxodo», abandonando-se nas mãos de Deus. Em suma, esta foi uma noite de intensa e profunda oração comunitária que aproximou a comunidade local à comunidade seminário, a qual, diante do Santíssimo Sacramento, rezou em prol das vocações cristãs.
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SEMINÁRIO MAIOR
INSTITUIÇÃO DE LEITORES Carlos Leme
«A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração (Rom 10, 8)». Foi com esta noção da proximidade e centralidade da Palavra que no passado dia 26 de Abril, IV domingo do tempo pascal, conhecido como dia do Bom Pastor e 52.º dia de oração pelas vocações, que quatro seminaristas, dois das paróquias de S. Vicente do Bico (Filipe Alves) e de Sta. Maria de Caires (Leonel Cunha) do arciprestado de Amares, um da paróquia de S. Tiago de Gagos (Carlos Leme) do arciprestado de Celorico de Basto e um da paróquia de Sta. Maria de Airão (Rui Araújo), arciprestado de Guimarães Vizela, todos a frequentar o 4.º ano, foram instituídos leitores. A Instituição inseriu-se na eucaristia dominical da comunidade do seminário conciliar presidida pelo Sr. Dom Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar de Braga, com a presença de toda a equipa formadora, párocos, familiares e amigos dos instituídos. Na homilia, D. Francisco teve ocasião de chamar a atenção para a instituição de leitor e exortou os instituídos a «serem homens da Palavra e de palavra», que «emprestassem a voz à Palavra» e «ateassem a alegria da Palavra», chamando-os a atenção e dizendo: «quando anunciardes aos outros a Palavra de Deus, recebei-a vós também em docilidade ao Espírito Santo, meditai-a atentamente, para adquirirdes cada vez mais o suave e vivo amor da Sagrada Escritura, 10
e com a vossa vida, revelai o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo». O Leitor deve estar preparado para proclamar a Palavra de Deus, deve tomar a Bíblia como um texto a ler com competência, com aprumo literário, sentir-se consciente do lugar do leitor. A leitura deve ser modelada, cultivando a arte e a lentidão. Uma leitura bem-feita colabora com o texto, dá lugar à palavra, ao ouvinte. A leitura bem-feita deve despertar todos os sentidos, implicar o presente, aquele que escuta, na sua totalidade. O instante da leitura não descura a lentidão para uma maturação, amadurecimento da palavra em cada um. Deve ser um saber e um sabor que vai interpelar quem a pronuncia
e quem a escuta e acolhe. A leitura não é um juntar de palavras expressas a através de sons, é bem mais do que isso, é uma ressonância cheia de memórias. O navegar seguro pela palavra haverá de dar lugar à conversão daquele que escuta a Palavra de Deus e que a colocará em prática. A instituição do leitor é ocasião de especial destaque tanto mais toda a importância que a Palavra de Deus nos merece. Não é uma tarefa, um cumprimento de um ritual estabelecido ou ainda uma montra, é sim lugar de proclamação, escuta, meditação e aplicação da Palavra. Deverá ser um ato simples, carregado de beleza, alimento de Deus para a vida de cada um.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA
A IMPORTÂNCIA DO VOLUNTARIADO Margarida Dias (Serviço social, UCP)
Numa sociedade cada vez mais materialista e desigual, torna-se cada vez urgente que saibamos pensar não só em nós, mas também nos outros e na relação com eles. É necessário que cada um de nós tenha a capacidade de se colocar na situação do outro, de forma a agirmos sem prejudicar ninguém. O voluntariado é uma experiência que nos enriquece muito a este nível uma vez que nos dá a oportunidade de partilhar com outros alguns momentos que poderão mudar as nossas vidas. Estes momentos permitem-nos conhecer outras realidades para além da nossa e dar a conhecer a nossa própria realidade, o que nos torna pessoas melhores. É importante que os estudantes tenham estes valores bem presentes para que possam enriquecer o seu
percurso académico bem como a sua própria vida. A satisfação pessoal faz qualquer voluntário ter uma sensação de que recebeu muito mais do que aquilo que conseguiu dar. Apesar de o voluntariado ser uma atividade que tem de partir da vontade de ajudar, de dar sem cobranças, requer também um compromisso, uma entrega e um espírito de igualdade. Se nos comprometemos com alguém diretamente mas não nos entregamos de verdade, iremos falhar e abalar a confiança que a pessoa depositou em nós. Qualquer tipo de voluntariado requer o sentido de igualdade uma vez que não visa sobrepor-se a ninguém, apenas dar a conhecer outras perspetivas e apoiar naquilo que sabemos. O simples facto de fazer companhia, de conversar e disponibilizar
um pouco do nosso tempo pode significar mais do que aquilo que podemos pensar. Os universitários têm um papel fundamental de responsabilidade social, uma vez que todos os dias se deparam com situações de desigualdades e até de desrespeito pelo outro. Cabe a cada um de nós reconhecer o nosso papel e dar um pouco da nossa vida e do nosso tempo pelos outros, sem medo do compromisso e da entrega, procurando sempre tornar-nos melhores pessoas. 11
PASTORAL DE JOVENS
COM O VERÃO A CHEGAR… Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores. O Verão está a chegar e os jovens têm ainda várias propostas para viver a sua fé, encontrar-se com outros jovens e partilhar vivências únicas! O Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens de Braga sugere o Festival Jota, um encontro de jovens num festival de música dedicada a Deus, bem à semelhança dos festivais de verão. Este ano o Festival Jota vai decorrer no Algarve, nos dias 31 de julho, 1 e 2 de agosto. É uma oportunidade única de viveres um espírito musical de convívio e festa em torno de Jesus Cristo, partilhando a fé que a todos nos une! O DAPJ de Braga poderá ajudar-te no transporte, mais informações em: www.diocese-braga.pt/pastoraljovens INSCRIÇÕES:http://festivaljota.com/ inscricao/
Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 100,00 €. Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15. Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.
2015 7 a 17 de agosto
Braga – Taiz
é – Cluny –
Barcelona
– Braga
Outra atividade que já vem sendo habitual é a peregrinação a Taizé. Este ano vão juntar-se milhares de jovens entre os 18 e os 35 anos para comemorar aquele que seria o 100º aniversário do irmão Roger e o 75º aniversário da Congregação. Este encontro é sempre uma ocasião para rezar com jovens do mundo inteiro, descobrir no amor de Deus a fonte da solidariedade humana, encontrar crentes de diferentes religiões e encontrar pessoas empenhadas na solidariedade do mundo inteiro. Se estás incluído nesta faixa etária inscreve-te já! Não percas mais uma oportunidade de um encontro multicultural que apela à vida interior e à solidariedade.
ORGANIZAÇÃO:
APOIO:
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: www.diocese-braga.pt/pastoraljovens
Informações e Inscrições: www.diocese-braga.pt/pastoraljovens ou dapjovens@gmail.com
Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição
Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@diocese-braga.pt vozdeesperanca@diocese-braga.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares
SUPLEMENTO
SEMINÁRIO HOJE (I)
Terminamos o périplo pela história e contemporaneidade do Seminário, abordando aquilo que mais lhe é específico, a oportunidade de fazer uma experiência de vida em comunidade, enquanto caminho de discernimento e aprofundamento vocacional. O Seminário de Nossa senhora da Conceição tem procurado ser, ao longo destas nove décadas, lugar privilegiado para a experiência da fé e para o discernimento inicial da vocação. Mas celebrar aniversário não é apenas fazer a soma dos dias. É, também, desafio a pensar o fundamento do presente e a perspectivar o futuro. Nos dias de hoje, a opinião sobre os seminários menores não é consensual. “Nada de novo debaixo do sol” (Ecl 1,9), já que esta reflexão vem, pelo menos, desde o Concílio Vaticano II, que, de forma clara e breve, sentiu a necessidade de reafirmar a sua importância, no Decreto sobre a Formação Sacerdotal (Optatam Totius, 3). O debate conciliar foi bastante inten-
so, entre os que reiteravam a continuidade do modelo de inspiração tridentina, e aqueles que buscavam algum “aggiornamento”. Três grandes questões se apresentavam a debate: é possível falar de vocação na adolescência? O seminário menor será adequado para uma autêntica formação humana e vocacional? Devem ser propostos a toda a Igreja?... Estas as questões de ontem, que são ainda as questões de hoje, e de sempre! Sobre a vocação na adolescência, o Concílio recorda que aos seminários menores não estão confiadas vocações sacerdotais a preservar, mas sementes vocacionais a cultivar, sementes essas que surgem, habitualmente, naquela idade e precisam ser acompanhadas. Então, o seminário menor deve tornar-se comunidade que proporciona o ambiente favorável e os meios apropriados ao discernimento, para aqueles jovens que revelem os primeiros indícios de uma vocação ao sacerdócio. O seminário menor não forma
Depois de publicarmos, nos quatro números anteriores, a obra de António da Costa Lopes, da qual tomamos este título, concluimos com dois apontamentos sobre os Seminários Menores nos tempos actuais.
padres em miniatura nem acolhe predestinados ao sacerdócio, mas ajuda os seus jovens a descobrir, na própria vocação baptismal, os sinais de uma possível vocação ao sacerdócio. Quanto à questão de ser adequado a uma autêntica formação humana e vocacional, os padres conciliares não se limitam apenas a dar resposta afirmativa, mas apontam também as suas coordenadas pedagógicas: vida proporcionada à idade, espírito e evolução dos adolescentes; conveniente experiência das coisas humanas; acompanhamento partilhado com as próprias famílias; total liberdade na decisão a tomar. Relativamente à sua pertinência, o mesmo documento conciliar sublinha a possibilidade de outras formas de acompanhamento, que não nomeia, porque entretanto foram surgindo iniciativas diversas, mas deixa claro: todas as outras formas terão a mesma finalidade do seminário menor.
ENTREVISTA
TESTEMUNHO No seminário fiz-me. Depois venho sendo. Lá construí a matriz. Na vida retoco detalhes. Levava já impressos alguns ténues traços – os que a humildade da minha família e os meus nove anos permitiram. Mas foi neste Seminário que tracei o esquiço da essência do que sou (embora mantenha o desenho em aberto). Sou um pouco de tudo e de todos, dessa instituição. Aí tive acesso aos modelos, mas as escolhas foram minhas. Logo à chegada, no átrio, sob o olhar das espessas lentes do senhor Valentim, o porteiro, experienciei a dor. Que dor! A minha mãe deixou-me, ali mesmo! Ainda guardo nos meus enigmas a sua cara: estava feliz, disso não tenho dúvidas, mas tremiam-lhe os lábios sem descompor o sorriso. Tinha um raiado vermelho e enxuto nos olhos que nunca lhe havia visto. Nos dois – em mim e nela – havia uma espécie de “Tem de ser! Este é o caminho!”. Ela tinha a certeza de que só o seminário a poderia ajudar na sua missão de me educar por valores, cultura e conhecimento. Fazer de mim um homem. Ela sabia que só nunca o conseguiria fazer. Desde aí que olho o sacrifício como um bem, desde que este se case com o trabalho e com um sentido de caminho. O seminário formou tão distintivamente tantos homens, não necessariamente sacerdotes, que tanto bem acrescentam ao bem comum, sem que tal tenha sido ainda reconhecido, com registo na gratidão social, como merece. Bem hajam por isso. 2
Claro que não foi fácil cumprir o silêncio, sobretudo quando à nossa frente, na “forma”, ia o Costinha de Anha e atrás o Garcia de Nine e o Taveira de Monção – amigos para sempre! Mas ficou-me o gosto pelo silêncio. É nele que me abordo e ao que me rodeia. Acordar às 6 horas, anos e anos, foi obra! Mas ver nascer o sol, cheirar o orvalho e ouvir a chilreada é renascer. A meditação ao acordar, ainda ensonados, acorda-nos para a vida. Guardo ainda em má memória, claro, a farinha-de-pau à terça, mas comi-a. Mas recordo, com saudade, o feijão-frade da quarta, o grão-de-bico do sábado e a carne do dia da padroeira, a 8 de dezembro. Fui “castigado” (dois dias no seminário com todos os outros de férias – travessuras da adolescência). Isto não impediu que viesse a ser bedel (o responsável na ausência dos prefeitos). No seminário havia efetiva “reinserção social”. Esta “reclusão” foi cumprida de par com colegas mais velhos, na mesma situação, o que me facultou a aprendizagem de toda a malandrice que nunca imaginei que existisse. Percebi então a complexidade das sociedades não inclusivas. Na transição da reitoria do cónego Apolinário para o (moderno) padre Macedo, percebi o poder da mudança, da liderança e dos seus estilos. Que útil me foi. Do limiano ilustre, o padre Fernandes, recebi o maior quinhão do meu ser e do meu estar: aprendi a importância da disponibilidade para os outros – atitude que cultivo com
fervor. Acompanhou-me na morte do meu pai, pelos meus 12 anos. Nesta desgraça, que encarei como o meu próprio fim, ajudou-me a dar sentido à dor, pela vida, e dimensão à perda. Percebi como se pode viver na maior proximidade, sem invadir, o que para mim é um lema. Percebi que podemos assumir diferentes papéis, em cada momento, sem perda para nenhum: sempre o senti com a autoridade do educador, do grande professor e do amigo de alma e porta abertas, de palavra assertiva e da minha idade, quando era necessário. Induziu-me na busca do belo pelas artes, que nunca mais perdi. Levou-me ao palco, pelo teatro, pela música (Ladinos – baterista, viola baixo e teclas). Levou-me ao órgão, à guitarra e ao acordeão. Nenhum de nós sabia, ainda, que toda aquela inocente aprendizagem havia de constituir o suporte de vida que me permitiu singrar. Nunca fui músico, por respeito aos ditos, mas a música sustentou-me. Fui à comunicação e à fotografia, pelo teatro. Fui “assessor” do padre António para a venda interna dos ditos “objetos”. Aqui aprendi a necessidade do rigor e da racionalidade nas organizações. Ai se ficasse uma graxa de sapatos vendida e sem registo. Com ele treinei, também, a auditoria: sempre que algum colega requisitava uma gilete, lá teria eu de averiguar se a penugem do bigode já era digna de lâmina. Tanta falta me fez tudo isto para o que tenho sido, vida fora.
ENTREVISTA
Há tempos, no funeral do padre Coutinho, agradeci-lhe, o não ter deixado morrer em mim o lúdico e a magia da criança. Ele foi o meu Disney. Contou-me histórias de encantar; brincou à geografia e à matemática e contou-me anedotas tão simples quanto finas no humor. Era um homem culto que mantinha a sua criança muito viva. Com o padre Fonseca percebi a grandeza do informal e da simplicidade. Do padre Borda guardo o músico, a imponência do estar e o tamanho das mãos, claro. Com o padre Manel Faria descobri o muito que se esconde na obra de um grande autor e percebi, sobretudo, que tudo o que é verdadeiramente grande na vida é humilde, como ele próprio.
Fiz-me também nos meus colegas. O Mesquita, da Meadela, treinou-me na saudade: dizia-me sempre que o domingo na nossa terra era muito mais bonito. Com o José Miguel Forte aprendi o vanguardismo, embora esteja ainda à espera que me diga como vai o mundo “lá fora”, porque ele saiu antes de mim. Com o Jorge Barbosa percebi o classicismo e o Mozart. De tantos recebi tanto. Do senhor Pimenta, o barbeiro/ enfermeiro, absorvi a importância da calma para o profissional de saúde. Ainda hoje lhe compraria a patente daqueles comprimidos enormes, forrados a pão de hóstia e que eram uma verdadeira panaceia.
Rui Teixeira é professor do ensino superior das áreas da saúde, gestão das organizações e gestão estratégica de universidades. Professor do Instituto Superior Politécnico de Viana do Castelo, ao qual preside há 11 anos, da Faculdade de Medicina de Coimbra e da Universidade Católica. Tem outras funções dirigentes em organismos europeus, nacionais e regionais do ensino superior e do desenvolvimento.
Mais do que um testemunho esta é uma palavra de profunda gratidão à instituição e a todos que lhe deram e dão vida. Desejo-lhes mais 90 anos de serviço à comunidade e à igreja, revestidos, agora, da modernidade que lhe assegure a eficácia. OBRIGADO. 3
90 ANOS EM NOTÍCIA
SEMINÁRIO NOSSA SENHORA DE CONCEIÇÃO
CALENDÁRIO
ACTIVIDADE
MAIO 2015
MICROSITE 90 ANOS
JUNHO 2015
ARQUIVO DIGITAL DOS ALUNOS
JUNHO 2015
EXPOSIÇÃO DE PINTURA SALGADO ALMEIDA
JULHO 2015
EXPOSIÇÃO DE PINTURA PE. JOSÉ TORRES
15 SETEMBRO
EMISSÃO DE SELO COMEMORATIVO CTT
26 SETEMBRO 26 SETEMBRO
ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS DIA DO ANTIGO ALUNO EXPOSIÇÃO DE CARROS ANTIGOS EXPOSIÇÃO DE CARROS ANTIGOS CONCERTO MUSICAL CONCERTO MUSICAL MOMENTO CULTURAL MOMENTO CULTURAL
Não houve, neste último período, iniciativas de relevo na celebração dos 90 anos. Apenas a apresentação do logótipo que esta página reproduz, e o início da recolha das notícias sobre o Seminário no Diário do Minho. No entanto, os próximos tempos trazem-nos muitas e variadas propostas!
OUTUBRO 2015
EXPOSIÇÃO DE PINTURA PE. MOREIRA
11 OUTUBRO
SESSÃO SOLENE ORATIO SAPIENTIAE CUNHAGEM DE MOEDA COMEMORATIVA
20/21 NOVEMBRO
FÓRUM UASP ARTE/FÉ/NOVA EVANGELIZAÇÃO EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA
NOVEMBRO/DEZEMBRO
EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA
06 DE DEZEMBRO
SAGRAÇÃO DA CAPELA APRESENTAÇÃO LIVRO CRÓNICAS ORATÓRIA COM TERESA SALGUEIRO
08 DE DEZEMBRO
FESTA DAS FAMÍLIAS INAUGURAÇÃO OBRAS DO SEMINÁRIO VÍDEO QUOTIDIANO SEMINÁRIO
18 DE DEZEMBRO
SARAU RECREATIVO
S/D
SEMINÁRIO EM NOTÍCIA (DIÁRIO DO MINHO) PUBLICAÇÃO TEXTOS SILVA PEREIRA