Capa e Arte: Ponte Design Fotos: Francisco Celso Ponte e Roberli Ă‚ngelo Texto: Shannon Botelho
Na trajetória artística de Lourdes Barreto observa-se o estabelecer de diferentes meios de apresentação da pintura. O imprescindível caos expressivo, comum a todos estes meios, transformou-se na estrutura de suas obras. Na mais recente fase de produção da artista, despontam novas cores que conferem luminância e ludicidade às formas tortuosas que ela mantém como traço identitário de sua poética. As formas orgânicas, que se revelavam rítmicas e entrelaçadas nas séries passadas, agora, como num intervalo entre momentos, estão cristalizadas separadamente no espaço da imagem. Deixam de lado a opulência volumétrica das formas e desdobram-se em fragmentos, em pequenos núcleos. São ‘docinhos’ amargos, como aponta a artista. Elementos lúdicos que carregam em sua estrutura os aspectos lisérgicos provenientes das cores recém incluídas na paleta da artista– um ‘rosa chiclete’, um ‘azul veneno’. Ou ainda, são ‘bombas de fragmentação’, que dispostas no espaço pictórico, realizam um ataque frontal a própria trajetória e poética que Lourdes construiu, pois submetem a pintura ao rigor da síntese. Ao isolar e marcar mais precisamente os limites de suas formas, sejam de estruturas vivas ou máquinas, Lourdes alcançou o feito considerável de valorar positivamente as históricas faces conflitantes da pintura, que são a da cor e a do desenho. Nestes novos trabalhos, delimitados como campos de batalhas entre visualidade e estrutura, nota-se o aspecto indiciário dos elementos, o domínio da ideia e, em contraponto, o fulgurar da latência expressiva que só amplia seus domínios da poética definida pelo traço firme e expressivo proveniente da gravura, a intimidade com a aquarela e o domínio perspicaz da cor. Traço, ritmo, cor e expressão, complementam-se, enquadram-se em outra novidade: áreas circulares e retangulares, vazias ou cheias, opacas ou transparentes, centralmente incrustradas na imagem. E, não somente como imagem, estas formas modulares que enquadram e flutuam sobre o fundo, em alguns trabalhos, tornaram-se o próprio chassi e compõem uma série que, se apresentada em conjunto, sugere uma natureza instalativa para os trabalhos. É curioso perceber, entretanto, que mesmo consciente do domínio da forma, da técnica e dos avanços que conquistou, continua a impor sobre sua obra o rigor da indagação e da consequente reflexão. Lourdes ampliou os seus horizontes a alcances inimagináveis, se considerarmos sua produção desde os anos 80. Desde lá, desdobrou as formas, alterou a paleta, explorou outras dimensões, integrou técnicas. Ainda assim, autora de uma poética potente e singular, deseja submeter sua obra a uma análise num mergulho profundo. Realizar uma dissecação da pintura, um procedimento de sublimação das ideias mesmas que compõem os trabalhos, uma exegese de suas próprias ideias. Para tanto, opera a pintura da pintura, examina e requalifica, enquadra e desconstrói, revelando que ainda existe uma gama de questões a emergir deste processo e que novidades pairam no ar. Shannon Botelho 2018
Cantos, luas e docinhos (39x40 cm)
Andante em cinzas (39x40 cm) Luas e engrenagens (39x40 cm)>
< Luas ou cĂrculos (39x40 cm)
Azul. Caderno de estudos II (40x40 cm)
Azul. Caderno de estudos II (40x40 cm)
Deslocamentos I (39x40 cm)
Deslocamento II (39x40 cm)
Levitando (40x40 cm)
Docinhos e cĂrculos (40x40 cm) Diagrama azul (40x40 cm) >
Engrenagem em espiral (40x40 cm)
ConcĂŞntrico (40 x 40 cm)
Azul. Caderno de estudos II (40x40 cm)
Deslocamentos e luzes (40x40 cm) < Engrenagens luminosas (40x40 cm)
Engrenagens luminosas II (40x40 cm)
Luas e docinhos (40x40 cm)
Docinhos sobre cĂrculos (40x40 cm)
CĂrculos, docinhos e movimentos (40x40 cm)
CĂrculo, docinhos e movimentos II (40x40 cm)
Trajetos emaranhados (40x40 cm)
Trajetos emaranhados (40x40 cm)
Azul. Caderno de estudos (40x40 cm)
Círculos e centro (125x120 cm) Círculos e centro (125x120 cm)
Grande Círculo ou Lua ( 100 cm de diâmetro) Lua violeta/amarela (125x120 cm)
Azul. Caderno de estudos II (40x40 cm)
Engrenagens emaranhadas (110x300 cm)
Luas, círculos e retângulos (125X120 cm)
Ofertรณrio cor de rosa (70x90 cm) Fรกbrica de docinhos I (296x93 cm)
Fรกbrica de docinhos II (296x93 cm) Nove luas sombrias (125x120 cm)
Retângulo amarelo (100x120 cm)
Retângulo violeta (100x120 cm)
Grande lua e docinhos (120x125 cm) < Luas e mamilos (80x60cm)
Azul. Caderno de estudos (40x40 cm)
Docinhos (156x120 cm)
Buracos e cĂrculos verde/rosa (49x50 cm) Mamilos e luas laranja/azul (49x50 cm)
CĂrculo branco (49x50 cm) Emaranhado linear (49x50 cm)
Mamilos azuis (49x50 cm) OfertĂłrio com fundo verde (60x59 cm)
Lua e engrenagens rosa/azul (49x50 cm) TĂŁo rosa como um chiclete (49x50 cm)
Docinhos rosa/azul (49x50 cm)
Pequeno cĂrculo negro (49x50 cm) >
Lourdes Barreto nasceu em Salvador, Bahia, em 1956. Formou-se em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1980. Concluiu o Mestrado em Ciência da Arte na Universidade Federal Fluminense em 2000. Desde 1980 realizou uma série de individuais onde se destacam A Festa, no Sesc Paulista, 1994, São Paulo; Inferno, no Instituto Brasil Estados Unidos (IBEU), no Rio de Janeiro, onde recebeu o Prêmio IBEU de Melhor Exposição do Ano de 1999, com uma viagem à Nova Iorque. Nos últimos três anos, realizou Individuais no Parque das Ruínas, Pinturas e Objetos, em 2017; na Sala José Cândido de Carvalho (Prefeitura de Niterói) Objetos, em 2016; no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo com aquarelas, Pequenos Objetos, em 2015; no Espaço Cultural Pintor M.D. Gotlib com o Jardim Máquina, em 2014. Participou de projetos, coletivas na Galeria Tina Zappoli, Conjunto Cultural da Caixa, Galeria Coleção de Arte, na Sérgio Gonçalves Galeria, no Centro Cultural Justiça Federal e no Museu Nacional de Belas Artes. É professora do curso de Pintura na EBA-UFRJ desde 1987. Na UFRJ realizou e coordenou a criação de painéis e murais como o Inferno Azul, recebendo o prêmio em homenagem ao prof. Leopoldo de Meis da Université Catholique de Louvain – Faculté des Sciences Agronomiques, Bélgica, em 1995 e outros painéis, que se encontram no Centro de Ciências da Saúde e na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente dedica-se à criação de pinturas, aquarelas e objetos
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