Uma batalha que nã Criada em 2008, a Febec reúne mais de 40 entidades dedicadas continuamente ao combate do câncer no País. Seu principal objetivo é unir e dar todo o tipo de suporte às entidades filiadas, como associações, redes de voluntários e hospitais espalhados pelo Brasil. Para viabilizar suas ações, a Febec conta com parcerias e campanhas, como as desenvolvidas junto à APAS (Associação
o permite descanso Paulista de Supermercados) na destinação de recursos provenientes da Nota Fiscal Paulista às entidades de combate ao câncer. E também na venda, dentro dos supermercados e por assinatura, do Almanaque de Cultura e Saúde. Saiba mais no nosso site: www.febec.org.br
Rua Silva Airosa, 40. São Paulo-SP. CEP 05307-040. Fone: (11) 2166-4131
Nossa munição para fortalecer a vida
C
ada um escolhe suas armas. A artista Mônica Nador viu nas tintas um instrumento para transformar realidades. Mudou-se do centro para a periferia de São Paulo e levou a arte de museus para as ruas, feita pela mão dos moradores locais. No Rio de Janeiro, a música é a aposta de José Junior para tirar todo dia um jovem do tráfico: “O tambor demora mais do que o fuzil para render alguma coisa financeiramente, mas dá uma liberdade e uma alegria que o fuzil não pode dar”. Já para o sanitarista Emilio Ribas, o fuzil foi arma do bem na mão de presidiários. A ideia maluca serviu para que pacientes com febre amarela não abandonassem seu tratamento no hospital de Jaú, no começo do século passado. Todas estas histórias, saborosamente contadas nas páginas que seguem, mesclam atitude, superação e graça. São a munição que escolhemos para este Almanaque de Cultura e Saúde. Vendida por assinatura, a revista é uma união entre a Federação Brasileira de Entidades de Combate ao Câncer (Febec), a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e a Andreato Comunicação e Cultura. Assume como missão ser um disseminador de brasilidade, além de entretenimento com qualidade, trazendo curiosidades, enigmas, brincadeiras e causos. Por trás de tudo, um objetivo maior: o dinheiro arrecadado é revertido para ações de prevenção e apoio biopsicossocial a pacientes de câncer. Para se ter uma ideia do que é esse trabalho, todo mês apresentamos uma história de quem doa seu próprio tempo para a causa, na seção Gente Ajudando Gente. Em Muito Obrigado, a palavra fica com quem já passou por tratamento e superação. Nesta edição, o tema de capa também aposta na força da palavra. A tecnologia avança para servir o homem, mas quem não tem nostalgia do tempo em que se usava correspondências de papel, feitas de próprio punho? Revelamos mensagens românticas, irônicas e surpreendentes escritas por ilustres brasileiros de todos os campos. Se gostar, saiba que o correio pode levar até você mais almanaquices, todos os meses. Para assinar o Almanaque de Cultura e Saúde, acesse www.febec.org.br. Ou ligue: (11) 2166-4100.
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Sumário 5 carta enigmática
18 eSPECIAL Violação de Correspondência
29 Almacrônica por Lourenço Diaféria
6 você sabia?
22 jogos e brincadeiras
30 em se plantando tudo dá Soja
12 GENTE AJUDANDO GENTE Antonia Adélia Segalla Lorenzetti
23 o teco-teco
32 Rir é o melhor remédio
13 PAPO-cabeça José Júnior
24 VIVA O BRASIL Santos
33 CAUSoS de Rolando Boldrin
16 Ilustres Brasileiros Oswaldo Cruz
28 temperos e sabores Cuscuz à Paulista
34 muito obrigado por Maria de Lourdes Silva
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“
justiça de Brasília é engraçada. Queimar índio Pataxó, pode; queimar um fumo, não pode.” Essa foi uma das muitas críticas repletas de humor ácido e sarcasmo que se tornaram marcas registradas dessa figura enigmática. O que muitos não sabem é que ele dedicou parte significativa da vida à política. Foi até vereador do Rio pelo Partido Comunista Brasileiro. Começou a carreira artística aos 13 anos numa rádio do interior de São Paulo. Em 1959, participou da TV de Vanguarda e da TV de Comédia, na extinta Tupi. Perseguido pela ditadura militar, teve que abandonar as telas e deixar São Paulo. Virou caminhoneiro e mudou para o Rio, onde, oito anos depois, retomou a carreira artística. NA década de 1960, atuou no clássico Terra em Transe, de Glauber Rocha, e, recentemen-
Solução na p. 22
te, em O Coronel e o Lobisomem. A última participação foi no filme Irma Vap – O retorno, lançado logo após sua morte. No entanto, foi na televisão que se consagrou. Fez parte do elenco de várias novelas, entre elas, Selva de Pedra (1972), Elas por Elas (1982) e Vamp (1991). Na década de 1980 descobriu a veia cômica, ao encenar o intolerante chefe na série Armação Ilimitada. Participou de importantes programas humorísticos e dirigiu o Viva o Gordo, estrelado por Jô Soares. Na Escolinha do Professor Raimundo, interpretou Pedro Pedreira. Morreu no Rio, em 13 de agosto de 2005. Seu corpo foi cremado e as cinzas jogadas ao mar. Quem é a nossa figura enigmática? “Pergunta idiota, tolerância zero! ”, poderia responder um de seus mais famosos personagens.
Em 1969, Caetano Veloso e Gilberto Gil receberam uma ordem expressa dos militares. Teriam de cumprir prisão domiciliar em Salvador antes de seguir para o exílio em Londres. Também estavam proibidos de dar entrevistas, se apresentar em programas de rádio e tevê ou fazer shows. As opções eram poucas futebol, foi visto várias vezes em partidas na cidade, como na foto ao lado, em que posa entre jogadores de Bahia e Vitória no estádio da Fonte Nova.
ARQUIVO/AE
para os inventivos e rebeldes tropicalistas. Caetano, embora não gostasse de
24/8/1954
25/8/1961
PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS COMETE SUICÍDIO PARA NÃO TER QUE DEIXAR SEU CARGO EM VIDA, COMO OBRIGAVA A CONJUNTURA CRIADA POR CARLOS LACERDA.
PRESIDENTE JÂNIO QUADROS RENUNCIA, DEPOIS DE LACERDA TER AFIRMADO PUBLICAMENTE QUE O POLÍTICO PLANEJAVA DEIXAR O CARGO.
Mônica fugiu do museu para os espaços desprotegidos
“
Eu não tenho a menor pretensão de mudar o mundo”, afirma a artista plástica Mônica Nador. “Não tenho dúvida de que, no final, os malvados vão ganhar dos bonzinhos. Mas já que nós estamos vivos...” As reticências deixam no ar que Mônica realiza um trabalho que é, sim, transformador. Seu projeto Paredes Pinturas leva murais lindíssimos a casas e espaços públicos de lugares pobres. Percorreu o Brasil e chegou até Cuba e México. Passou por Uberlândia, Minas; Coração de Maria e Nilo Peçanha, Bahia; Beruri, Amazonas; pelas paulistas Sarapuí e São José dos Campos; entre muitas outras cidades do Brasil. O projeto é fruto de certa “claustrofobia” que Mônica sentia nos museus e galerias – a arte que só atinge “iniciados”, perpetua o “culto ao expert” e considera o espectador “um par de olhos”. “Eu estava empregando uma energia
Mônica Nador, fundadora do Jardim Miriam Arte Clube (Jamac).
enorme num trabalho que, no máximo, iria ser usufruído por mim e pelos meus amigos”, diz ela. Resolveu atingir mais gente, com o objetivo de proporcionar ao espectador a experiência do belo, uma sensação de “alumbramento”. Fez de sua bandeira o conceito de “beleza pura”, acessível mesmo aos olhos de quem não é grande conhecedor de arte. Começou com a ornamentação islâmica, nos primeiros murais fora dos “espaços protegidos” das artes plásticas. Mas, durante as viagens pelo Brasil, acabou mudando alguns pressupostos. No assentamento Carlos Lamarca, em Sarapuí,
os moradores dispensaram os padrões islâmicos e escolheram coqueiros e estrelas. Mônica achou ótimo: “Eu tive que incorporar noções do belo diferentes das que imaginei inicialmente. Eles se tornaram co-autores do meu trabalho”, comemora. Todo o processo passou a ser coletivo: da escolha do tema ao acabamento. Muitos se empolgaram tanto que pintaram até o interior de suas casas. Depois de alguns anos na estrada, em 2000 Mônica resolveu se estabelecer num lugar. “Percebi que, em um projeto como o meu, não podemos ficar só no pinga-pinga. Decidi fazer um trabalho mais profundo”, explica. Levou sua casa e seu ateliê para o Jardim Miriam, na zona sul paulistana. Fundou o Jardim Miriam Arte Clube (Jamac), aberto a qualquer morador que queira se tornar artista. Pintou casas e encampou outras lutas da comunidade. Adotou de vez o princípio da “arte útil”, com real inserção na vida das pessoas. Ali, Mônica conseguiu resolver a questão do potencial de transformação da arte. “O trabalho que faço é bom para mim e para as pessoas que estão em volta”, diz. E vale a pena? Ela responde: “Eu sou feliz.”
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estação colheita O que se colhe no mês Jabuticaba, mexerica, kiwi, morango, coco, berinjela, lima, maçã, melão.
comandou a errática Caravana Rolidei no Nascido em 20 de agosto de 1947, o dono deste par de olhos Santeiro e dirigiu boa parte dos episódios filme Bye Bye Brasil. Teve papel de destaque na novela Roque a paixão pelo cinema, que lhe renderam e te de Sai de Baixo. São características marcantes a voz possan transmissão do Oscar pela Rede Globo. da oficial tarista uma coluna no Jornal do Brasil e o título de comen Confira a respos ta na página 22
Paulistanas não tiravam rebuço nem por decreto KENJI HONDA/AE
M Pierre Verger, um dos maiores pesquisadores da cultura africana no Brasil.
Etnógrafo francês vira babalaô e fala com o rei Luís P
ierre Verger saiu de casa aos 30 anos, depois da morte da mãe. Deixou a França em 1932 e, acompanhado de sua câmera Rolleiflex, rodou mundo por 14 anos, sem criar vínculos nem demorar em lugar algum. “A sensação de que existia um vasto mundo não me saía da cabeça e o desejo de ir vê-lo me levava em direção a outros horizontes”, justificava. Mas, ao desembarcar em Salvador em 1946 e entrar em contato com o candomblé, uma nova perspectiva passou a nortear sua vida e seu trabalho. Tornou-se um estudioso da religião. Foi para São Luís do Maranhão registrar rituais praticados na região. Em 25 de agosto de 1947, numa casa de nagôs, relatou a presença de são Luís, rei da França (Luís 9o, morto nas Cruzadas, que deixou reputação de piedoso e justo). Pierre testemunhou quando aquele augusto soberano voltou para a terra, 672 anos após sua morte, para reencarnar-se no corpo de uma filha de santo da casa. Ao saber que havia um francês na sala, o mítico rei pediu que lhe fosse apresentado: Foi assim que fui recebido em audiência real, mas foi em português que nossa conversa foi trocada. O idioma usado, segundo Verger, significava polidez e consideração para o público reunido, que não poderia seguir uma conversação mantida em nossa língua. Em 1948, Verger embarca para a África, onde estuda mais de perto o culto aos orixás e se torna babalaô – sacerdote do candomblé. Pierre Verger é um dos maiores pesquisadores do tráfico de escravos e cultura africana no Brasil. Mesmo com constantes idas à África, criou laços estreitos com Salvador. Em 1988, ali montou a fundação que leva seu nome. Quando morreu, em 1996, aos 94 anos, era figura querida da cidade. Deixou amigos como Jorge Amado e Gilberto Gil.
artim Lopes, governador de São Paulo no século 18, não se conformava com a falta de respeito ao alvará real de 20 de agosto de 1649. Apesar da proibição, as mulheres continuavam se rebuçando. Melhor explicar: usando longos panos cobrindo a cabeça, à maneira da Idade Média. O traje “detestável e inculto”, dizia Lopes, dava liberdade para que “entrassem até de dia na casa de homens”. Também podia ser disfarce para criminosos, desconfiava o governador, que estipulou penas para quem não tivesse o rosto descoberto. De nada adiantou. Acredita-se que as mulheres sem acesso a cosméticos quisessem esconder cicatrizes da varíola. E ainda que brancas pobres usassem o figurino-esconderijo por vergonha de realizar tarefas associadas a escravos. Em 30 de agosto de 1810 veio a terceira e derradeira proibição, agora por parte do príncipe regente, dom João VI. E finalmente, depois de séculos, o costume caiu em desuso.
Saiba Mais Fundação Pierre Verger: www.pierreverger.org
m a 22-9 virge23-8
Solidariedade e organização são as palavras-chave deste signo de elemento terra. Os nativos têm os pés no chão: sabem estabelecer prioridades e dão mais vazão ao lado racional do que ao emocional. Costumam ser práticos, disciplinados e sempre prestativos com os amigos. Nunca deixam ninguém na mão. Exigentes com eles mesmos, gostam de cuidar da aparência e da saúde.
Saiba Mais São Paulo Antigo 1554-1910, de Antonio Egydio Martins (Paz e Terra, 2003).
FUZIS EM PUNHO
Presidiários
não deixaram doentes Emílio Ribas
fugir do hospital
O
século 20 começava e a medicina avançava a grandes passos – muitas vezes de modo pouco ortodoxo, é verdade. Vem dessa época o costume de usar jargões militares para a saúde, como “combate às doenças” e “campanha contra os transmissores”. O médico sanitarista Emílio Ribas, porém, foi mais longe nessa história. Ainda no começo da carreira, chegou a Jaú, no interior de São Paulo, para conter a febre amarela. De um lado, encontrou o cemitério praticamente sem vagas para mais vítimas da doença; de outro, a tenda de um curandeiro cheia de clientes “tratando” da febre. O inspetor sanitário fechou o lugar e mandou os enfermos ao
SAIBA Mais República dos Invisíveis: Emílio Ribas, microbiologia e saúde pública em São Paulo, de Marta de Almeida (Edusf/CDAPH, 2003).
Santo Agostinho Durante a juventude, o intelectual nascido no nor te da África não tinha crenças e vivia com uma concubina. Para alegria da mãe, santa Mônica, converteu-se ao cristianismo e tornou-se bispo. Criou os con ceitos de “pecado capital” e “salvação divina”. Padroeiro dos monastérios, sua obra baseou a Reforma Protestante .
Saca-trapo? Sangria? Havia quem preferisse morrer!
Q
jornal do comércio/ae
Hospital do Isolamento, em São Paulo. Ficou sabendo depois que a população, indignada, pretendia trazer de volta os doentes. Ribas não teve dúvidas. Buscou apoio policial. O destacamento da cidade, porém, só oferecia dois soldados. Onde mais encontrar socorro? Restou a cadeia. O médico convenceu o delegado a liberar uns dez presos e, para completar, armá-los com fuzis. A inusitada tropa seguiu para a estrada que ligava Jaú à capital para deter quem tentasse voltar. Terminada a missão, o problema foi convencer os presos a assumir seus velhos postos nas celas. Persuasivo, o sanitarista prometeu lutar pela redução das penas. E cumpriu.
a Todo dSi anto tem um
Ilustração de transfusão de sangue arcaica.
uem se apavora com picada de agulha não tem ideia do que era uma sessão na farmácia de antigamente. Hoje, os remédios são inacreditáveis pela especificidade (homeopatia para unha encravada, pílula do dia seguinte etc.); antes, eram temidos pela crueldade da aplicação. Acreditava-se que o corpo adoecia por estar sempre exposto, refém de forças ocultas, do ar e da água. As mazelas levavam as veias a inchar, desarmonizando os órgãos. Daí a febre e a perda de apetite. Para curar, faziam-se sangrias. Depois, colocavam sanguessugas (as bichas) no corte para terminar de tirar “o mal”. Tudo isso realizado pelo barbeiro – as mesmas mãos que faziam barba e cortavam cabelo. O conhecimento para essa atividade se adquiria na base da tentativa-e-erro. Quem tivesse diarreia estava frito: da mistura de pólvora, aguardente, pimenta e fumo se fazia o saca-trapo, pedaço de madeira pontiagudo introduzido no ânus do paciente. Muitos preferiam ficar doentes. Transfusão de sangue era na hora: do braço de um para o braço do outro. Para tratar envenenamento, havia quem abrisse um animal de grande porte e permanecesse lá dentro por um tempo. Os jesuítas também sabiam curar com algo além de rezas: da mistura de carne de cobra com ervas nativas, criaram a quina, remédio para malária. Os protestantes morriam, mas não tomavam.
enigma figurado
afinada era em cantores barzinhos. Inspirou-se em r nta ca ra pa sa ca de diz, apesar da “Sou um dramalhão”, tradicionais do rádio: es de Gil, Chico, os repertório, comp içõ No . nte rca ma da lha garga sicas sertanejas a ertório que vai de mú rep um de e ret érp Int Milton. das Diretas Já! ao tima tornou-se musa Fá de ria Ma o, çã an sambas-c cional. interpretar o Hino Na
colocou Mané na seleção
R. :
D
epois de surgir no Juventus, estourar na Portuguesa e ser titular da Copa de 1954, o ponta-direita Julinho Botelho foi contratado pela Fiorentina, da Itália, em 1955. Tornou-se herói no ano seguinte, ao conquistar o primeiro scudetto do time italiano. O paulistano era tratado quase como um rei em Florença. A Copa do Mundo de 1958 se aproximava, e havia uma praxe na seleção: não convocar jogadores que atuavam no exterior. Mas abririam uma exceção, afinal tratava-se do endiabrado e talentoso Julinho. O presidente da CBD, João Havelange, mandou um telegrama ao jogador. A delegação passaria pela Itália, buscaria-o e seguiria para a Suécia. Mas não contava com a resposta: “Nada me emociona mais que jogar pelo meu país. Mas não acho justo tirar o lugar de um atleta que atue no Brasil”. O jeito era arranjar outro ponta-direita. Joel, reserva imediato, se tornaria titular. E, para a reserva do reserva, foi convocado um botafoguense de nome esquisito: Mané Garrincha. Coincidentemente, um dos jogos preparatórios para a Copa foi contra a Fiorentina. Durante o hino nacional, Julinho chorou copiosamente e quase desmaiou de emoção. Pouco produziu na partida. Achava inconcebível fazer um gol contra o Brasil. Já Garrincha infernizou os “joões” italianos. Fez um gol antológico após driblar cinco adversários e entrar com bola e tudo. Eram os primeiros passos do anjo das pernas tortas na seleção canarinho.
Folha Imagem/Acervo Última Hora
Julinho, com a camisa do Palmeiras.
te e
Co nfi ra a res po sta
ília Álbum de Fam
Ética de Julinho
to de 1956. A voz for
no dia 9 de agos va E la nasceuatremaçãoBelém . Adolescente, escapa nas festas da família
na página 22 .
HISTÓRIA SOBRE TRILHOS
Nova moda no Rio: o bonde
passou a usar ceroulas
V
ocê andaria num bonde que saísse de ceroulas pelas ruas? Pois nas noites de gala cariocas do começo do século passado, a moda pegou. A partir de 6 de agosto de 1900, nessas ocasiões, os bondes passaram a circular “vestidos” com uma capa de brim branco, projetada para proteger os trajes dos passageiros que iam aos espetáculos do Teatro Municipal. Machado de Assis não perdeu a oportunidade para o deboche: disse que o bonde “vestia-se de ceroulas
para carregar os chapéus altos e os vestidos longos”. Era uma época mais democrática nos transportes. Havia bonde para todos. Chamavam de cara-dura, por custar a metade do preço, o bonde dos operários No dia-a-dia, para maior comodidade, alguns passageiros levavam uma almofadinha e a dispunham sobre o banco de madeira sem forração. Eram tidos como “frescos”, “afetados”, e até deram origem a uma expressão – quem nunca deparou com um “almofadinha”?
Final de campeonato? Não, final de novela.
10
o dia 16 de agosto de 1965, o Brasil parou e voltou os olhos para o televisor. No Maracanãzinho, Rio de Janeiro, uma multidão enlouquecida gritava os nomes de seus ídolos. O que estava para começar não era nenhuma final de campeonato. Era o capítulo final do primeiro fenômeno de público da teledramaturgia brasileira: O Direito de Nascer. A novela, traduzida do original cubano, tinha sido sucesso no rádio na década de 1950. Adaptada pela TV Tupi de São Paulo, fez furor a história do menino desprezado que salvaria a vida do avô e se apaixonaria pela prima, sem saber do parentesco. Em São Paulo, a festa do último capítulo aconteceu no Ginásio do Ibirapuera. A atriz Guy Loup desmaiou de emoção. Guy chegou a assinar durante algum tempo o nome de sua personagem na novela: Isabel Cristina.
alex costa/o povo
N
Festa do Pau da Bandeira, no Ceará.
HA JA FÉ
Solteironas de Barbalha apelam até para chá de lasca de pau
A
costumado a ser intimidado com seqüestros, afogamentos e a ser pendurado pelos pés em troca de um bom casamento, Santo Antônio deve ficar aliviado quando a cidade de Barbalha, no sul do Ceará, se enfeita toda para homenageá-lo. A festa, conhecida também como Pau da Bandeira, acontece no mês de junho, com algumas particularidades. Tudo começa no sábado anterior ao primeiro domingo do mês, quando saem às ruas as mulheres casadoiras com mais de 30 anos, conhecidas como as Solteironas de Barbalha. São elas as principais interessadas no festejo que tem seu ápice no hasteamento do tronco de até duas toneladas. Missas, apresentações folclóricas e shows profanos preparam o povo para o grande momento da chegada do “pau”, carregado pelos homens num trajeto de cerca de cinco quilômetros.
Então é a hora das solteironas. Para espantar a maldição da solteirice, elas avançam rapidamente em direção ao tronco, tocando, esfregando e até se esfregando nele. Quem prefere evitar a multidão tem a opção de comprar produtos que possuem as propriedades do pau. Na quermesse, as solteironas oficiais lideradas pela advogada Socorro Luna faturam – se não um marido, ao menos algum dinheiro. Chá de lasca do pau, a 10 reais, e terço com pedaços do tronco, por cinco, são opções. Este último vem com a seguinte oração: “Santo Antônio, meu Santo Antônio, meu amado padroeiro, arranjai-me um bom marido, e eu o louvarei o ano inteiro”. Acompanha indicação: “Reze este terço durante 13 dias e aguarde o milagre!”. E observa: “Tudo depende da sua fé”.
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expre a d m e g i Or
Artistas da novela em revista.
Saiba mais 50 Anos de Memória e Informação, de Ricardo Xavier (Objetiva, 2000).
s ida de touro mete à corr re e 18 ta lo u o sécu al disp m ssão vem d hoje, na qu re té xp a e a d A ca O ti pra AN países, MANO A M o a mano é uma modalidade, mpetição foi levada a outros gado Man imais. A co ser empre espanhola. o passou a com seis an rm m u te a o d i, ca u q os, or a dois toureir de tabela p al. Por lá, e g u rt as partes. o P d s e le entre e tos entr u n e m ta n e fr se a en para referir-
Fases da Lua
. 27 . 28 . 29 . 30 . 31 . . . . . . . . . . . . . 1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 minguante
nova
cheia
crescente
a década de 1950, mais de 40 mil pessoas chegavam diariamente a Tambaú, a 332 quilômetros de São Paulo. O fenômeno movimentava o município de menos de 20 mil habitantes, até então conhecido pela produção de cerâmica. Vinham em busca dos milagres do padre Donizetti Tavares de Lima. Mineiro de Santa Rita de Cássia, Donizetti ficou conhecido pelas curas, bênçãos e devoção por Nossa Senhora Aparecida. Chegou à cidade paulista em 12 de junho de 1926 e assumiu a paróquia de Santo Antônio. Primeiro milagre registrado: um vendedor de vinho sofria de reumatismo e, horas depois do encontro com o vigário, voltou a andar. Mais de 700 feitos extraordinários são
creditados a Donizetti, o que levou fiéis a pedir sua beatificação, processo em andamento. O jornalista Joelmir Beting foi um dos que testemunhou no Vaticano. Coroinha e aluno de Donizetti, conta que, quando criança, era gago e ele o curou. Tornaram-se amigos e, com incentivo do padre, o futuro jornalista mudou para São Paulo para estudar. Tambaú passou a Cidade da Fé e até hoje atrai turistas que visitam o santuário, o túmulo e a casa onde viveu o padre até 1961, quando morreu aos 79 anos. Desde 2004, mais uma atração: ficou pronta a ligação Tambaú–Aparecida, o maior trajeto religioso do País, com 415 quilômetros. Tudo em homenagem ao padre caipira milagroso.
Saiba Mais Padre Donizetti de Tambaú, de José Wagner Cabral de Azevedo (Santuário, 2001).
ARQUIVO/AE
Caipira milagroso segue rumo à santificação N
Padre Donizetti.
o baú do Barão
“A galinha põe e o quitandeiro dispõe.” Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.
cida marconcine
SEU AMBROZIO DESAFIA
Farmácia de seu Ambrozio: mais de 300 cachaças.
D
or-de-dente, gripe, reumatismo, males da coluna. Diante de aflições como estas, qualquer um procuraria uma farmácia de plantão. Mas na pequena cidade de Imperatriz, no Maranhão, a comunidade tem à disposição métodos alternativos de tratamento. E não é homeopatia, acupuntura ou medicina ortomolecular. Quando fica doente – padecendo de males do corpo, da alma, ou de cara-de-pau mesmo – o caboclo procura logo um estabelecimento de prestígio na região, com mais de 20 anos no mercado: a Farmácia do Seu Ambrozio. Lá pode encontrar alento para todas as aflições. Nada de remédios convencionais. Para aplacar qualquer reclamação, seu Ambrozio oferece mais de 300 tipos de pinga. A história começou quando o comerciante resolveu misturar a marvada
Quem provar todos os remédios das prateleiras leva a farmácia com ervas e raízes, utilizando também frutas típicas. A experiência virou especialidade e uma febre na região. A preferida é a Leite de Onça, uma mistura de pinga com coco. A com boldo, segundo seu Ambrozio, serve para enfermidades do trato digestivo. A Sete Ervas combate sinusite, dorde-cabeça e resfriado. Apesar de nem sequer ter telefone, a farmácia congrega clientes, não só da região, mas de todo o Brasil. Uma comunidade na internet garante a divulgação de novidades e informações do empreendimento. Lá, por exemplo, o interessado fica sabendo que pode até adquirir o boteco. Quem lançou o desafio foi o próprio Ambrozio: basta que o candidato tome, num mesmo dia, uma simples dose de todas as pingas que ele coloca à disposição da clientela.
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Adélia não hesita diante dos desafios
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“F
ilhas, será que os pacientes terão cobertas suficiente para o frio que vai fazer?”, pergunta Antonia Adélia Segalla Lorenzetti às companheiras antes do inverno chegar. A Rede de Combate ao Câncer de Lençóis Paulista, que Adélia fundou e preside há 13 anos, preocupa-se com todos os detalhes do tratamento dos atendidos. Além dos aspectos médicos, muita logística envolve os casos: transporte, alimentação, remédios, hospedagem e bem estar psicológico – tanto do paciente quanto da família. Adélia já chegou a emprestar o cobertor da própria cama. Dos 90 anos de idade, 35 passou como administradora voluntária. Experiência suficiente para ser especialista em dar um jeitinho para ajudar sempre. Mesmo antes de atuar no Terceiro Setor, bem moça, já começou a desenvolver a habilidade. Primeira filha de nove irmãos, teve com o marido uma dezena de filhos. Antonio Lorenzetti Filho, o Tonico, trabalhava bastante como administrador antes de ser prefeito de Lençóis Paulista – por duas vezes, entre 1960-64 e 1969-72. No começo, os dois viviam no aperto. Com esforço, a prole toda estudou. Ela ia ajustando as roupas dos mais velhos para os menores e sempre fez questão de rezar o terço toda noite com a família reunida. Muito religiosa, foi ministra da Eucaristia por anos. Levou a crença para a
função que assumiria a seguir: “Os doentes estão sempre no centro da atenção de Jesus. Qualquer coisa que se faça para aliviar sua dor e de seus familiares será sempre abençoada”. Depois de ser primeira-dama do município, aceitou um convite para a vice-presidência da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) da cidade e logo se tornou dirigente principal, com a saída do presidente. Por 22 anos consecutivos dedicouse ao cargo. Em seguida, um médico deu a ideia: por que não formar uma rede de combate ao câncer em Lençóis, a exemplo do que já se fazia em outros municípios? Adélia estava próxima dos oncologistas por causa de um caso de câncer na família. Na mesma época, havia se comovido com o caso de um homem que sofria da doença sem recursos para comprar os remédios. Não hesitou em topar o desafio. Hoje os 10 filhos já estão formados e o marido, reconhecido na cidade, nomeia logradouros e o ginásio de esportes municipal, popularmente chamado Tonicão. Engana-se quem pensa que a luta acabou. Adélia segue à frente da entidade que fundou há 13 anos, batalhando pelo tratamento e dignidade de quem precisar. “Se alguém me pede algo que, graças a Deus, está a meu alcance, atendo sempre”. Mas ressalva: “É preciso doar de coração, com boa vontade. E ter muito carinho”.
JOSÉ JUNIOR
fotos: edi pereira
Queremos ser a primeira empresa social do Brasil O desejo expresso na frase acima, assim como o objetivo de tirar todas as crianças do tráfico, não são fáceis de concretizar. Mas como duvidar do potencial realizador de um sujeito que construiu um império social das proporções do AfroReggae? Dez bandas de música, grupos de circo e teatro, centros culturais, centro multimídia, cinco programas de rádio, um programa de tevê, uma revista. Atuação em oito países. Diálogo com empresários, traficantes, policiais e jovens carentes... Como duvidar de um grupo que trouxe para o morro uma grande agência de publicidade, que concebeu a primeira favela com internet grátis da América Latina, que um dia faz show no Carnegie Hall e no outro intervém numa guerra do tráfico? Assim como o samba e o futebol, José Junior quer que a tecnologia social criada nas comunidades em que atua seja também marca do Brasil. “O mundo inteiro conhece o País por causa da favela. Vamos abrir um novo espaço entre os nossos produtos de exportação.” Duvida?
Como foi a sua juventude? Perdi muitos amigos, pessoas que amava. Costumo dizer que estas mortes e as coisas que eu fazia e que davam errado foram o combustível para criar o AfroReggae. Antes disso, tudo deu errado na minha vida. Sem exceção. As minhas pretensões profissionais eram muito limitadas: ser office-boy, entregador de jornal, vendedor de sanduíches, taxista. E tudo dava errado. Queria, como qualquer jovem, ser rico, fazer sucesso. Mas percebia que havia algo forte em mim: a espiritualidade. Frequentei muitas religiões: Testemunha de Jeová, Igreja Universal, Candomblé, Umbanda, Hare Krishna, Hinduísmo, Budismo...
E quando foi que você percebeu que sua vida podia ser diferente? O start para mim foi quando assisti a uma palestra sobre mitologia hindu. Lá descobri uma divindade chamada Shiva, que representa a
destruição e a transformação. Aí comecei a fazer uma série de analogias de Shiva com a minha vida. Quando tinha 21 anos, percebi que existia uma lacuna entre os jovens do lugar onde eu morava. Fora eu, o cara mais velho tinha 16 anos. Tinha moleque preso, morto, que já tinha ido embora. E eu, que nunca havia sido líder de nada, virei líder porque tinha 21 anos. E comecei a lidar com polícia, bandido, tráfico, crime, prostituição. Por isso acredito que tive duas formações: a espiritualidade e a rua.
Você apostaria no José Junior de 20 anos atrás? Sim, porque só aposto em casos perdidos. Essa é a minha marca. Mas ninguém apostaria. Às vezes é preciso remar contra a maré. O cara que é visionário, que é empreendedor, muitas vezes não tem que ouvir ninguém, a não ser a si mesmo. Se eu fosse ouvir os outros, não faria o que faço.
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E o que surpreende mais as pessoas é que não estudei. Sou gestor de uma organização com quatro pessoas jurídicas, uma holding sociocultural que tem 74 projetos. A gente atua hoje no Brasil, Índia, China, Inglaterra, Alemanha, Colômbia, Estados Unidos, Canadá. “Mas como é que esses caras conseguiram isso?” Acredito que o sucesso se deve à nossa visão de parceria. E hoje a gente pode se dar ao luxo de escolher com quem quer trabalhar e até recusar patrocínios e propostas de grandes empresas. E pensar que quando começamos não tínhamos nada... Eu dava calote no ônibus para ir até Vigário Geral. Tinha postura de marginal, cara de bandido – apesar de nunca ter sido bandido... Levávamos cidadania para Vigário Geral com música e dança, mas não tínhamos sequer a nossa própria cidadania.
Como vocês foram parar em Vigário? Fomos depois da Chacina de Vigário Geral, a maior chacina urbana da história do País, com 21 mortos. Vários grupos iniciaram trabalhos sociais na comunidade depois do massacre. Só que, passado um tempo, só nós ficamos. Nessa época, já distribuíamos o jornal AfroReggae Notícias nas favelas. Mas as favelas queriam mais do que informação. Queriam formação. Então começamos a dar oficinas de dança, percussão. O mais curioso é que a gente ensinava sem saber. Ou seja, aprendia ensinando.
O tráfico nos morros era diferente? Era pior. Há 15 14
anos as pessoas não sabiam da existência de jovens com fuzil, com granada. Hoje, ao menos, a coisa é mais explícita. Vigário Geral era o quartel general do Comando Vermelho, a maior facção criminosa que existia. E a gente estava no meio do QG, disputando espaço com os grandes ídolos da molecada: os traficantes. Oferecer um tambor em vez de um fuzil é uma troca, digamos, injusta. Para o tambor te dar alguma coisa financeiramente demora bastante. O fuzil te dá bem mais rápido. Mas, ao mesmo tempo, com o tambor os caras tinham uma liberdade e uma alegria que o fuzil não podia dar. Então começamos a criar essa pedagogia do tambor – timidamente, mas de maneira muito determinada.
na, mas também já aconteceu de o governo ou os moradores nos acionarem. Até os bandidos e a polícia já nos convocaram. Mas é preciso dizer que, ao mesmo tempo em que atuamos em conflitos, fazemos espetáculos no Carnegie Hall, em Nova Iorque, ou no Barbican, em Londres. No ano passado, fizemos um desfile na São Paulo Fashion Week que foi um arraso. O AfroReggae tem muito disso: guerra, moda... Temos um monte de parcerias, e essas parcerias não são sociais. São negócios. Os shows das nossas bandas, por exemplo: parte deles é social, mas parte é puro negócio. O pessoal da ONU, com quem fizemos muita coisa, costuma dizer que somos únicos no mundo. E tem razão. Qual grupo no mundo têm 10 bandas de música, dois grupos de circo, grupo de teatro, centro cultural, centro multimídia, cinco programas de rádio, um programa de televisão, uma revista, atua na China, Índia, Inglaterra, Alemanha, Colômbia, Brasil? Qual grupo tira pessoas do narcotráfico, trabalha com jovens ricos, empresários da Fiesp, com a polícia de Minas e do Rio?
E como isso tudo se financia? Hoje somos mantidos
Acabamos de construir um prédio de 5 milhões de reais. Temos que ostentar, mesmo.
Como é o trabalho de mediação de conflitos nas comunidades? Para fazer esse tipo de coisa, é preciso se desprender de muitas coisas. Até mesmo do medo de morrer, porque senão você não vai, ou vai fraco e corre risco. Quando você vai mediar uma guerra – tiroteio de polícia com bandido, ou bandido com bandido –, tem que ter uma autoconfiança etérea. Tem que se achar o escolhido por Deus. Se não se achar, não vai. Há 15 anos dá certo. Há 15 anos não morre ninguém – o que não quer dizer que não vai morrer um dia... O objetivo é fazer com que pessoas inocentes não sofram consequências. Não negociamos para que não se ataque a facção rival. Até tentamos, mas o objetivo principal é proteger os moradores.
por geração de receita própria, mas também por grandes patrocinadores: Banco Santander, Natura, Nestlé e Petrobras. Além disso, temos parcerias com grandes empresas. Com a Oi, por exemplo, fazemos um projeto que se chama Conexões Urbanas – um circuito de shows em favelas. Você viu o último show da Marisa Monte? A gente fez igualzinho no Complexo do Alemão.
Quais são os planos futuros do AfroReggae? Que-
remos ser a primeira empresa social do Brasil. E o que é uma empresa social? Você gera lucro, só que o lucro não é dividido entre os sócios. O lucro é auto-investido. Nossa sede em Parada de Lucas custou 400 mil reais. E falo com orgulho: só captei 90 mil. Os outros 310 mil reais são dinheiro nosso. Agora construímos um prédio de 5 milhões de reais. E por que isso tudo? Porque temos que construir algo que ostente mesmo. É a mesma estratégia da Igreja Universal, só que a minha competição não é com a Igreja Católica. A minha competição é com o tráfico. E tem dado certo. Nunca tirei tantas pessoas do tráfico quanto nos últimos tempos. Foram uns 80, e não estou falando de fogueteiros, não. Estou falando de dono de boca, de pessoas que ganhavam 50 mil reais por semana.
Quais as novidades? Inauguramos o Centro de Inteligência Coletiva, que só vai trabalhar com inclusão digital. Fizemos também, em parceria com a F/Nazca, uma agência de publicidade e comunicação dentro de Parada de Lucas. Lá também foi a primeira favela com wireless “0800”, se não do mundo, da América Latina. De graça. Tanto Lucas quanto Vigário.
E o Centro Cultural Waly Salomão, recém-inaugurado? Esse funciona Quem aciona vocês para esse tipo de atividade? A gente se auto-acio-
24 horas por dia. Tem um estúdio de batida eletrônica, midiateca,
salas de criação, circo, dança, teatro. Não será um centro social, mas um centro de formação de excelência artística. Claro que, se os moradores quiserem fazer aulas, podem, mas o foco não é esse. Ele não é um centro comunitário, só está na favela. Poderia estar na Paulista, na Pampulha ou em Ipanema. É para o cara sair de lá para o mercado.
Chegou a vez da favela? Olha, o Brasil é ponta-de-lança, e o mundo inteiro conhece o País por causa da favela. No futebol, tirando o Kaká, todos os grandes ídolos dos últimos tempos vieram da favela. Todos os Rs que ganharam o título de melhor jogador do mundo vieram de comunidades carentes. Todos, sem exceção: Rivaldo, Romário, os Ronaldos... O mundo conhece o Brasil pelo samba? O samba vem da favela. O mundo conhece o Brasil pelo Carnaval? Também vem das favelas, das periferias. O samba-reggae, o movimento afro-baiano, a capoeira... Vem tudo das comunidades carentes. Portanto, acho que vamos abrir um novo espaço nessa listagem, que também vem de periferia, que é a tecnologia social.
existe. Existe mesmo? A profissão de policial é a mais discriminada do Brasil, mais do que puta. “Policial? É pilantra, é safado, é bandido.” Nas palestras que promovemos com ex-traficantes e policiais, as perguntas mais incômodas sempre vão para os policiais. A sociedade alivia a culpa do ex-bandido, mas não alivia a do policial. Eu mesmo tinha preconceito com a polícia. Mas aí comecei a perceber que há coisas bacanas sendo feitas. No programa, você vê que há experiências exemplares no Ceará, no Rio, em Minas Gerais. A proposta do programa é abrir os olhos dos espectadores. Falar de polícia, homofobia, criança em estado terminal. Mas detalhe: tudo com final feliz. Me recuso a fazer um programa que não tenha final feliz. Não adianta só fazer denúncia. Temos que fazer a denúncia e apontar as soluções.
E como definir a tecnologia social aplicada pelo AfroReggae? É uma mistura de todos os elementos culturais e sociais que há nas comunidades, e que não se enxerga como saber, como conhecimento. E aí é preciso falar da narco-cultura. Os produtos ilícitos da narco-cultura todos conhecemos. Mas há também os lícitos: Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite – filmes que transformam o conhecimento, o saber, o dia-a-dia de uma favela ou periferia num produto artístico. Cria-se, na verdade, uma sinergia em prol de algo. Poderíamos usar muito disso para fazer negócios, mas usamos para tirar as pessoas do tráfico, para unir. Absorvemos elementos metodológicos, elementos pedagógicos. É legal tentar transformar isso em algum tipo de manifestação cultural e de atitude. Uma coisa que eu fazia no passado era mandar os garotos se olhar no espelho, olhar dentro de seus olhos. Ninguém conseguia. Se encarar é muito difícil. Se respeitar é muito difícil. Hoje, andar de cabeça erguida é uma marca do AfroReggae. Tivemos que treinar isso. Tipo exército, mesmo: “Erga a cabeça. Olhe no espelho. Olhe nos teus olhos. Olhe nos olhos do outro”.
Um dos primeiros programas do AfroReggae na tevê, o Conexões Urbanas, afirmava que a polícia dos sonhos
Essa é uma espécie de síntese dos propósitos do grupo? Acho que sim. E com isso chegamos muito longe. Estou com 41 anos, mas há mais ou menos sete anos preparo o meu sucessor, porque vai chegar um momento que vou ter que sair. Por vários motivos. Várias coisas podem acontecer: posso morrer, posso tomar um tiro, posso contrair um câncer, qualquer coisa. Aprendi muito no movimento social. Aprendi muito com pessoas como o Betinho, que infelizmente está sendo esquecido, mas que foi o maior ícone social deste país. Acompanhei ele em sua fase terminal e aprendi muito. O que tentamos fazer é um projeto que não seja só de um cara. O AfroReggae precisa ter muitas caras, por isso tenho dado tão raras entrevistas nos últimos tempos.
E o que mais esperar para o futuro? O meu sonho é
Hoje, andar de cabeça erguida é uma marca do AfroReggae. Tivemos que treinar isso.
não ver mais crianças no tráfico. E vou estar vivo para isso. O que quero, na verdade, é diferente do que muitos dos meus amigos empreendedores sociais declaram querer. Eles dizem: “Eu não quero mudar o mundo. Quero apenas fazer a minha parte”. Eu não. Eu quero mudar o mundo, sim. E quero que todos do AfroReggae, e todos que estão em torno do AfroReggae, queiram mudar o mundo também. É disso que a gente precisa. Ontem mesmo aconteceu uma coisa interessante. Eu saí de uma atividade em um presídio, que tenho o maior orgulho de fazer, e fui encontrar um grande empresário. Esse diálogo é fundamental. Cada vez mais precisamos criar essas pontes: trazer os ricos para as favelas; levar as favelas para os ricos. Isso é o AfroReggae.
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Líder de um o d a n i c a v o v o p o Cruz Oswald
Ele enfrentou quebra-quebras e ameaças de golpe por defender um conceito diferente de saúde. Foi o “vilão” de uma das mais marcantes revoltas populares do Brasil. Patrono do nosso templo da ciência, descartou técnicas ultrapassadas para
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combater doenças. Foi pioneiro ao observar Reproducão/AB
a saúde além dos pequenos limites da
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o começo do século 20, acreditava-se que o ar proveniente de lugares sujos ou com água parada era a causa de epidemias. Por isso, destruir cortiços e moradias populares parecia a solução ideal para o Rio de Janeiro – “túmulo de estrangeiros”, uma cidade doente, com alta mortalidade por febre amarela. Assim que assumiu a Diretoria Geral da Saúde Pública, Oswaldo Cruz rejeitou as práticas vigentes e apostou na teoria de um especialista cubano: os mosquitos são os verdadeiros transmissores e devem ser exterminados. Além disso, passou a escrever a coluna Conselhos ao Povo nos jornais e a distribuir folhetos educativos sobre a doença. Depois foi à caça de ratos para combater a peste bubônica. Chegou a instituir funcionários públicos para comprar os pequenos roedores capturados pela cidade – e é claro que alguns espertinhos logo trataram de criar seus próprios ratos para vender ao governo. Era chamado de “czar dos mosquitos”, entre outras ironias, e contava com poucos recursos. Tornar obriga-
capital federal. Perdeu batalhas. Mas ganhou a guerra. tória a vacina contra varíola foi a gota d’água. Ninguém queria “perder o direito à liberdade”, “ser espetado à força”, “receber um líquido desconhecido nas veias”. Insuflada, a população saiu às ruas, virou bondes, quebrou lampiões. Era a Revolta da Vacina, uma das mais marcantes revoltas populares do Brasil, ocorrida em 1904. O médico sanitarista certamente se sentiu injustiçado. Ele que, apesar de terríveis náuseas, tinha ido de navio a 30 portos do País estudar as doenças que chegavam pelo mar ou pelos rios. Mas as insatisfações refletiam a situação geral da cidade. O presidente Rodrigues Alves promovia uma reforma apelidada de “botaabaixo”. Para fazer da capital uma metrópole moderna, brigadas do governo destruíam cortiços e bairros pobres sem preocupação alguma com o futuro dos despejados, que iam ajeitando-se pelos morros. A oposição política e a Escola Militar, interessadas num golpe, engrossaram a massa desconexa de revoltosos. O governo controlou
Ninguém queria ser espetado à força, nem receber um líquido desconhecido nas veias. Insuflada, a população do Rio saiu às ruas, virou bondes, quebrou lampiões. a rebelião, mas teve que revogar a lei da imunização. Apesar disso, o Diretor Geral da Saúde foi mantido no cargo. Chegaria o dia em que receberia os devidos créditos por seu trabalho.
Início de carreira
Oswaldo Cruz sempre foi interessado e entusiasta de novas técnicas. Quando nasceu, em 5 de agosto de 1872, o pai Bento era um jovem médico em começo de carreira. Aos 14 anos, o filho ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tornou-se doutor aos 20, no mesmo dia em que Bento morreu. Dedicou a ele a tese sobre microrganismos aquáticos. Depois pôde conhecer mais sobre microbiologia com incentivo do sogro, que financiou uma estada em Paris. Encantou-se com os laboratórios do Instituto Pasteur e estagiou numa fábrica de ampolas, provetas e pipetas para produzi-las no Brasil. Entretanto, outra técnica de Pasteur foi essencial para a sua volta em 1899. A peste bubônica havia chegado ao porto de Santos com as pulgas dos ratos de um navio estrangeiro. O governo federal criou o Instituto Soroterápico e, com Oswaldo Cruz na direção técnica, o País passou a produzir um soro que até então era exclusividade da França.
Templo da ciência
Em 1903 foi nomeado para a cadeira correspondente ao atual Ministério da Saúde, mas não deixou a direção do Instituto. Lá formou uma bela equipe, trabalhou com outros sanitaristas à frente de seu tempo, como Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Vital Brasil. Uns haviam diagnosticado a peste em Santos; outros, se submetido ao Aedis aegypti para provar que era ele que transmitia a febre amarela. Ainda hoje, com nome de Fundação Oswaldo Cruz, ou Fiocruz, a instituição é um templo da ciência e tecnologia da saúde. O primeiro diretor fez das precárias instalações de Manguinhos um castelo. Ele mesmo desenhou o esboço do prédio mourisco, que po-
dia ser visto pelos navios que passavam pela cidade. Em 1908, enquanto uma marchinha de Carnaval declarava o Rio “cidade maravilhosa”, o Instituto Soroterápico virava Instituto Oswaldo Cruz. Sinal de novos tempos. A febre amarela e a peste bubônica estavam praticamente erradicadas. Um ano antes o Brasil fora o único participante sul-americano do Congresso de Higiene e Demografia de Berlim. A delegação apresentou os estudos da equipe de Oswaldo Cruz e voltou aplaudida no porto, com medalha de ouro.
Saúde nos grotões
Oswaldo Cruz já era visto como herói, mas tinha dificuldades em aprovar seus projetos na diretoria da Saúde, como o combate à tuberculose, doença que matava apenas os pobres. Optou por dirigir só o instituto que levava seu nome. Foi à “ferrovia do diabo”, a Madeira-Mamoré, na qual os trabalhadores morriam infectados por malária. Supervisionou inúmeras expedições para lugares afastados dos centros: Tocantins, Ceará, bacia do Amazonas, do São Francisco. Nascia o Movimento Sanitarista, defendendo o saneamento nos grotões do País. Um dos líderes, Monteiro Lobato, até refez a imagem de Jeca Tatu. Ele não era preguiçoso. Estava doente. Oswaldo Cruz também não andava bem da saúde. Sofria de nefrite, a mesma doença que matou o pai. Já tinha até escolhido o local de seu jazigo. Teve tempo ainda de ser prefeito de Petrópolis e traçar um plano de erradicação da saúva antes de morrer, em 1917, aos 44 anos. Se quase um século depois é comum que o brasileiro previna-se de doenças com uma injeção, um dia a ideia pareceu absurda. Oswaldo Cruz perdeu batalhas, mas ganhou a guerra. SAIBA MAIS Oswaldo Cruz, de Humberto Werneck (Fundação Oswaldo Cruz, 2003). Site do Projeto Memória dedicado a Oswaldo Cruz: www.projetomemoria.art.br/oswaldocruz
O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO
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, e d a r d n A e d o i r a M e t r a p a o l u t ’ p a c um
Fevereiro 2009
O Calculista das Arábias
ligue os pontos
Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan
a É a cantora-símbolo da bossa nova. Os mais atentos, porém, defendem que gravou mais sambas do que bossas.
Um mercador do Cairo teve a sorte de o sábio Beremiz
b Começou a carreira aos 11 anos, no Rio Grande
recorrer ao geômetra. Experiente e ágil, apesar de confuso
do Sul. De personalidade apimentada, tornou-se tradução da MPB.
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c Apesar de não ter nascido no Brasil, foi a brasileira mais conhecida no exterior até o surgimento de Pelé.
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Samir passar pelo mercado no momento em que precisou com a situação, o mercador dispunha de oito pérolas iguais na forma, no tamanho e na cor. Dessas oito pérolas,
acervo da família
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lhe garantiram que sete tinham o mesmo peso. A oitava, entretanto, era um pouquinho mais leve que as demais. Ele precisava descobrir e apontar, com toda a segurança, a pérola mais leve. Para isso usaria uma balança com dois
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d Pela afinidade com o samba, há quem pense
longos braços e pratos bem leves. Sensível e exata. Porém, poderia efetuar somente duas
que era carioca da gema. Viveu no Rio, mas nasceu no interior de Minas.
pesagens. Qual a solução simples que deu Beremiz para o problema do aflito comerciante? Adaptado de O Homem que Calculava (Record, 2001).
teste o nível de sua brasilidade
Palavras Cruzadas
Rua onde Carlos Lacerda sofreu um atentado, em 5/8/1954: (a) 9 de Julho (b) 7 de Setembro (c) Fazendeiros (d) Toneleros O “e” da sigla FEB, criada em 9/8/1943, significa: (a) Especial (b) Excepcional (c) Expedicionária (d) Exército Tieta do Agreste é lançado em 17/8/1977 por: (a) Jorge Amado (b) Graciliano Ramos (c) Glauber Rocha (d) Glória Perez Em 7/8/1999 Acelino Freitas foi campeão mundial de: (a) Tênis (b) Boxe (c) Natação (d) Xadrez Em 24/8/1970, o Brasil firmou acordo para construir Itaipu com: (a) Estados Unidos (b) Uruguai (c) Paraguai (d) Argentina Ritchie ganhou o Globo de Ouro em 3/8/1983 com o hit: (a) Odara (b) Menina Veneno (c) Só Você (d) Não se Reprima
Respostas José Wilker alaor filho/ae
O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Beremiz sugeriu que se dividissem as pérolas em três grupos: A, B e C. Os dois primeiros, com três pérolas; o terceiro, com duas. E que assim se efetuassem as pesagens. Primeiro, A de um lado; B do outro. Se o peso fosse o mesmo, usar a segunda pesagem apenas com o grupo C – uma pérola em cada prato. Se A e B fossem diferentes, pesar duas pérolas do grupo mais leve. Se a balança pender para um dos lados, se conhecerá a resposta. Se pesarem igual, a terceira será a mais leve.
O presidente Médici anunciou, em 18/8/1973, o seu sucessor: (a) Geisel (b) Figueiredo (c) Tancredo (d) Sarney
BRASILIÔMETRO 1c; 2d; 3c; 4a; 5b; 6c; 7b; 8a.
valiação
SE LIGA NA HISTÓRIA 1d (Clara Nunes); 2b (Elis Regina); 3a (Nara Leão); 4c (Carmem Miranda). O QUE É O QUE É? Goiabada Cascão.
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ENIGMA FIGURADO Fafá de Belém. CARTA ENIGMÁTICA Francisco Milani.
DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?
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Gonçalves Dias, nascido em 10/8/1823, escreveu: (a) Poesia das Palmeiras (b) Canto do Sabiá (c) Canção do Exílio (d) Minha Terra
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Conte um ponto por resposta certa
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O pai da Mônica, do Cebolinha, do Cascão, do Bidu...
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á 51 anos, um repórter policial conseguiu publicar uma tirinha num jornal de São Paulo. Estava atrás do sonho de ser desenhista, que cultivava desde a infância, em Mogi das Cruzes. O desenho apresentava um cachorro estranho e seu dono, que mais tarde receberiam o nome de Bidu e Franjinha. Assim começou a carreira de Mauricio de Sousa, o mais popular autor de quadrinhos do Brasil. No começo eram apenas tiras, quase todas do Bidu, publicadas em jornais paulistas. Mas o rapaz queria ir além. Lembrou de um amiguinho de Mogi que trocava o “r” pelo “l”, e surgiu o Cebolinha. Depois, do menino que odiava tomar banho: Cascão. Mauricio tinha uma filha, Mônica, que
era muito amorosa, mas meio esquentada. E assim nasceu a sua personagem mais famosa. Logo depois, outra filha, comilona, também saltou da vida real para o papel, a Magali. E nasceram novos personagens: Rolo, Penadinho, Chico Bento, Astronauta, Piteco. O primeiro gibi da Mônica só apareceu em 1970. E lá tinha espaço para toda a molecada aproveitar a infância com tudo que ela tem de bom. A turminha passou para filmes, desenhos animados, parques temáticos. As histórias foram traduzidas para 50 idiomas. Até adolescentes eles já se tornaram. E Mauricio, meio século depois e com a mesma empolgação, promete novidades. O que será que vem por aí?
JÁ PENSOU NISSO?
O preferido Sabe qual é o personagem preferido do Mauricio? Mônica? Cebolinha? Cascão? Chico Bento? Nada disso, o título é do Horácio, o pequeno e meigo dinossauro verde. Ele gosta tanto do filhote de tyrannossaurus rex que faz questão de bolar as histórias e desenhálas de próprio punho – e olha que seu estúdio tem dezenas de profissionais. Mauricio usa o personagem para refletir sobre as questões da humanidade e revelar as suas aflições.
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Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do Almanaque. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você.
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Juntos, os gibis publicados por Mauricio de Sousa pesam o mesmo que 280 baleias azuis, o animal mais pesado do mundo. Duvida? Pois saiba que Mauricio distribuiu cerca de um bilhão de revistas para pequenos e grandalhões ao redor do mundo. Cada revistinha pesa, em média, 45 gramas. Se todas estivessem reunidas, chegariam a 45 mil toneladas. E a baleia tem “apenas” 160 toneladas. E mais: essa papelada toda pesaria 40 vezes mais do que o Cristo Redentor e o mesmo que toda a população de Florianópolis (cerca de 600 mil pessoas). E nem adianta o Cebolinha falar que a culpa desse peso todo é só da “golducha da Mônica”. Afinal, a turminha toda está lá dentro.
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Santos
Viagem no bonde da história Ao contrário do que pode pensar um desavisado, quem desce a Serra do Mar ou atravessa o litoral paulista para chegar a Santos não encontra apenas praias. A cidade, que já foi uma das mais promissoras do País e abrigou a chamada Wall Street paulista, guarda riquezas e encantos capazes de fazer qualquer um viajar no tempo.
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iagens em que predomina o interesse histórico ou geográfico costumam ser muito mais interessantes e não terminam quando se volta para casa. Santos, no litoral paulista, abre hoje diversas portas da nossa história dos séculos 18, 19 e 20. E o mais interessante: aqui é possível fazer toda essa jornada num raio de 1 quilômetro. O período de ouro da cidade, há 100 anos, foi um fenômeno que já tinha um quê de globalização. Mais de 50 bancos, entre canadenses, ingleses, americanos e franceses, proliferaram ao lado de
construções de diversos estilos que abrigavam prédios públicos, teatros, restaurantes, grandes lojas e agências de navegação e comércio. Ao lado, um porto que, na época, se tornava o maior da América Latina. A cidade era a terceira em crescimento no País. Só perdia para São Paulo e Rio de Janeiro. Santos tinha um ar de balneário meio inglês, meio francês, com seus cafés, parques e cassinos. Hoje o centro histórico revitalizado tenta resgatar, com uma programação eclética que une arte e divertimento, o destino histórico dessa cidade litorânea.
Aroma da história A onda de renovação teve início na rua 15 de Novembro – conhecida tempos atrás como Wall Street paulista –, com a recuperação do prédio da antiga Bolsa Oficial de Café. Construído em 1922, o edifício abriga hoje o Museu do Café e exposições temporárias relativas ao tema. O mais bonito recinto é a Sala do Pregão, onde eram decididos os rumos desse nosso produto de exportação e, por consequência, da economia brasileira. Nas altas paredes do salão, com luz filtrada por amplos vitrais, três painéis do aclamado pintor santista Benedicto Calixto retratam a cidade em 1545, 1822 e 1922. O aroma do fruto, no entanto, não ficou retido no tempo – ainda ronda a região, que concentra firmas exportadoras que fazem a seleção de grãos e a degustação da bebida.
Preste atenção
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Tradições à parte, o litoral de Santos abriga o maior jardim urbano de orla marítima do mundo, de acordo com o Livro dos Recordes. São mais de 5 quilômetros ajardinados que unem a praia de José Menino à Ponta da Praia. O Jardim Aristides Bastos Machado, mais conhecido como Jardim da Orla, foi projetado em estilo neoclássico e possui mais de 100 espécies de plantas, entre elas biris vermelhas, lírios amarelos, margaridas, zínias, pingos-de-ouro e íris. A cada 300 metros, surgem espaços sombreados pelas copas das árvores, a maioria chapéus-de-sol. A área é ainda ornamentada por palmeiras, como as tamareiras vindas do Nordeste e as imperiais, trazidas em 1808 pela família real portuguesa.
Nos trilhos do tempo Seguindo pela rua do Comércio e adjacências, casas históricas, como a de Bartolomeu e Alexandre de Gusmão e a da Frontaria Azulejada, revisitam o período colonial e mostram como viviam os proprietários. Uma delas, de dois andares, abrigava no térreo enormes salões dedicados ao comércio. No andar de cima, os aposentos particulares. São poucas as oportunidades de contato com uma história ao pé da letra contada pelas edificações. Não foi por acaso que a novela Terra Nostra e as minisséries Um só Coração e JK, todas da Globo, foram encenadas por aqui. A cidade também diz a que veio quando o assunto são os imponentes prédios públicos, como o dos Correios e o Palácio José Bonifácio, atual sede da Prefeitura Municipal, ambos na praça Mauá. Buscando o fio que alinha histórias, é hora de pegar um bonde que vem de 1910. Num trajeto de 15 minutos, passamos pelo Outeiro de Santa Catarina, local onde nasceu Santos, pela Casa do Trem Bélico, de 1738, e por outros imóveis, símbolos do período de riqueza econômica da cidade.
Ventos de liberdade
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A Estação Ferroviária do Valongo, antiga estação da São Paulo Railway Company, abriga hoje um museu e a sede da Secretaria Municipal de Turismo. Foi projetada em meados do século 19 pelos ingleses, que lá deixaram sinais do poderio de seu Império, como os leões nas testeiras. Vizinho à estação, o Santuário Santo Antonio do Valongo, de 1691, com frontão de puro estilo barroco. No término desse trajeto, a pedida é caminhar de uma praça a outra para conhecer as atrações, em meio a um mar de construções renovadas. Um passado mais recente desvela-se na Casa de Câmara e Cadeia, atual Oficina Cultural Pagu, com suas diversas exposições permanentes e temporárias. Nada mais justo do que nomear o Centro Cultural ali instalado com o apelido de Patrícia Galvão, musa do Modernismo. As grades dessa prisão não foram capazes de aprisionar os ventos de liberdade dessa mulher, na década de 1930: “Podem aprisionar meu corpo, jamais terão minha alma”.
Não deixe de saborear
Vale a pena conferir no Café Carioca, que existe desde 1939, na Praça Mauá, o melhor pastel do mundo – ou, pelo menos, é o que dizem por lá. Feito na hora, crocante, conta com recheios generosos de carne, queijo, camarão e palmito. Outro ponto, esse de 1911, é o Café Paulista, com seus azulejos pintados que representam a época áurea do café.
Santos tem mais
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Pinacoteca ou Casarão Branco O que o tempo e o homem não preservaram permanece emoldurado nos quadros do grande artista brasileiro Benedicto Calixto, expostos nas galerias da Pinacoteca que leva o seu nome.
Museu da Pesca Construído em 1908 sob as ruínas do Forte Augusto, é um passeio inesquecível para quem viaja com crianças. Além de um esqueleto de baleia da espécie Fin com 23 metros, tubarões e lulas taxidermizadas. Há ainda uma ala lúdica para a criançada e um simulador de submarino da Petrobras, que reproduz sons e imagens das profundezas do oceano.
Aquário Municipal É o primeiro do Brasil, inaugurado em 1945. Hoje, seus 31 tanques de exposição abrigam 4 mil espécies da fauna marinha. Um dos ícones de Santos.
s e rviç o Onde ficar
Onde comer
Mendes Plaza Hotel, no Gonzaga. Tel.: (13) 3208-6400. www.mendeshoteis.com.br Hotel Caravelas, no José Menino. Tel.: (13) 3237-2645. www.hotelcaravelas.com.br
A gastronomia de Santos, como convém a uma cidade litorânea, é à base de peixes e frutos do mar. A sensação do momento é o prato turístico Meca Santista, feito com meca grelhada (uma espécie de peixe-espada) coberta com camarão e acompanhada de risoto de palmito pupunha e farofa de banana com bacon. No Gonzaga, experimente o Point 44 (13) 3289-1010. No Centro, uma ótima pedida é o Retrô (13) 3219-1219.
CUSCUZ À PAULISTA
Onde tem farinha tem cuscuz De arroz, trigo, milho, mandioca. A receita remonta à Antiguidade. Criado na Arábia, encontrou fãs e versões em diferentes lugares do mundo. Não poderia ser diferente nessa terra de tropeiros.
C
Fabio Castelo
Por aqui, acrescentou-se a farinha de mandioca, preferência indígena, perfeita para dar liga. No Nordeste, coloca-se ainda outro ingrediente local, o leite de coco, e muitas vezes se adoça o quitute com açúcar ou mel. Ele tem ainda versões com manteiga, para o café da manhã, ou dissolvido em leite. A modalidade paulista enriquece o prato com molho de tomate, ervilhas, ovos, palmito, azeitonas e peixes – trata-se de herança dos bandeirantes, que cozinhavam a receita em farnéis de panos. É esta versão, clássica por aqui, que o Almanaque desvenda passo-a-passo.
Como fazer
Fabio Castelo
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ouscous para os franceses, kuz-kuz para os árabes. “Porque aquele que me destes / Em cuz-cuz o comeu ela”. A reclamação sobre a mulher que gasta o dinheiro em comida é uma das aparições mais antigas da palavra, numa peça de teatro escrita por Gil Vicente na Idade Média. Nessa época, a invenção mourisca já tinha chegado em Portugal, por causa da invasão moura na Península Ibérica. O termo refere-se sempre a um preparado de farinha cozido. Com diferentes cereais como base e diversas variações, ganhou o mundo. Se os criadores da receita usavam arroz ou farinha de trigo, os portugueses gostaram do milho descoberto na América.
Ingredientes 1 kg de peixe ou camarão 1 lata grande de sardinha 1 lata de ervilha 1 lata de palmito 100 g de azeitonas pretas 6 ovos cozidos em fatias
½ kg de farinha de milho 1 xícara de farinha de mandioca crua ½ kg de tomates maduros, sem pele 1 pimentão verde em fatias 1 pimentão vermelho em fatias 1 maço de salsa e cebolinha picados 1 xícara de azeite de oliva 1 colher (sopa) de alho esmagado 2 cebolas grandes picadas Pimenta e sal a gosto Modo de Preparo
Tempere o peixe ou o camarão com sal, alho e pimenta. Reserve. Faça um refogado com metade do azeite, sal, pimenta, cebola e tomates. Quando a mistura estiver desman-
chando, junte o peixe e metade do palmito picado. Deixe cozinhar até formar um molho bem concentrado. À parte, misture as farinhas, ervilhas, salsa e cebolinha. Aos poucos, vá acrescentando ao molho e mexendo em fogo baixo para cozinhar. Aperte um pouco da massa na mão. Se juntar, está no ponto. Retire, junte o azeite restante e misture bem. Enfeite uma forma funda com fatias de ovos, azeitonas, sardinhas, pimentões e o palmito restante. Vá colocando o cuscuz com calma. Aperte a massa com a mão contra a forma. Vire sobre um prato e está pronta a delícia. Rende 10 porções.
por Lourenço Diaféria
Um caso quase verdadeiro
O
pindura, assim mesmo, com i, é tradição antiga, como em geral são as tradições. Era um comportamento moral e social aceito numa cidade como São Paulo, metida um pouco a sério, e praticado a princípio pela estudantada da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. O pindura era um golpe desfechado uma vez por ano contra os restaurantes, bares e botequins urbanos. Na periferia da cidade o pindura não tinha graça nem majestade. Pindura para valer funcionava nas casas de movimento, onde se comia, se bebia, se cantava e se esbaldava sem cumprir o ritual final: o pagamento da conta. Comer, beber e farrear sem levar em conta o bolso era o máximo. Delegados de polícia, futuros desembargadores, juízes, ministros e filhos de fazendeiros, antes de se tornarem figuras respeitáveis, foram golpistas. No bom sentido, mas golpistas. Alguns continuaram sendo, mas isso é outro modo de ver a questão. Essa breve e elementar explanação sobre o pindura, que hoje se diz pendura, remonta ao tempo em que se “pinduravam” as contas não saldadas, as dívidas, num espeto de ferro, aguardando uma nem sempre provável hora de pagá-las. Entre as recordações mais gostosas desse momento fugaz de desonestidade da mocidade, e mesmo da maturidade, figura o pindura. Atualmente existe um acordo de cavalheiros, ou quase isso, para relevar tais fraquezas humanas, mas que já se tornam raras. Os donos das casas de pasto (como se dizia) aceitam o baque, desde que moderado. Já não chamam a polícia, que tem outras preocupações para resolver. Mas o que tem talvez mais importância nestas considerações é o caso do Fuminho, apelido fictício que é dado, respeitosamente, a um rábula de coração imenso e espírito alegre, o qual participou na primeira linha dos atacantes de bares e até frege-moscas da metrópole. Era estudante pobre, remediado, e vivia comprando livros em sebos. Isso quando comprava e não os aliviava com dedos finos e ágeis. Exímio praticante do velho pindura, tinha terno próprio para o evento. Nessa data, 11 de agosto, vestia-se razoavelmente bem. Mandava engomar
o colarinho da camisa, lustrava os sapatos de meia-sola e chegava a usar na gravata uma pérola (claro, bem falsa), além de cueca sempre limpa. Enfim, ficava com aparência de gente fina. Como a justiça – sempre, segundo dizem – tarda mas não falha, e mais cedo ou mais tarde aqui na Terra se paga o que na Terra se pratica de ruim, Fuminho, em conjunto com amigos, enveredou por um luminoso restaurante paulistano e pediu, com solenidade, como se fosse pagar normalmente, uma travessa de salada russa, rabada com batatas, arroz bem solto, feijão com torresmo, além de pão, manteiga, uma garrafa e meia de vinho português Periquita, mais pudim de leite condensado marca Moça (fez questão de ser marca Moça) e, por fim, palitos. Resumindo a ópera, quase se saciou às baldas. Quando o garçom, lusitano, de bigodes, lhe trouxe a “dolorosa”, Fuminho, alegando que estava desprevenido – havia esquecido a carteira em casa – e achara a comida insossa, mal temperada, afastou a cadeira de palhinha, ergueu-se, largou o guardanapo sobre a mesa e fez o movimento de safar-se sem pagar conta nenhuma. Apenas não esperava que o garçom, o tal português bigodudo, ainda desacostumado dos costumes da colônia, lhe saísse nos calcanhares. Perseguiu Fuminho pela Rua José Bonifácio e adjacências. Fuminho, apesar de haver comido à beça, tinha ótimas pernas. E escapuliu, aos gritos: “Acudam!” “Aqui del Rey!” “Livrem-me deste energúmeno!” Ninguém lhe foi a socorro solidário. Na fuga, Fuminho foi atropelado por um bicicleteiro que fazia entrega de embutidos em domicílio. Fuminho caiu no chão, bateu com o occipital numa guia da calçada e ficou paralisado como morto. Na verdade, estava mesmo morto. Ao que se sabe, foi o primeiro mártir do pindura, que a partir de então passou a chamar-se de pendura. Daí advém a atual data no calendário. Só mais uma informação: no necrotério, para onde o cadáver foi transportado, descobriuse que a cueca do Fuminho não era nova. Mas isso é pormenor sem nenhuma importância na história não muito real que aqui é contada pela primeira vez ao curioso público leitor.
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SOJA Glycine max
Pequena maravilha Alimento dos mais completos e versáteis. Fonte barata de proteína, pode contribuir decisivamente para solucionar o problema da fome no mundo. Orientais a consomem há milênios, mas os maiores produtores somos dois ocidentais: Estados Unidos e Brasil.
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m fato despertou a curiosidade dos americanos na Segunda Guerra: a impressionante resistência física dos soldados japoneses. O que será que eles comem? – se perguntaram os filhos de Tio Sam. Descobriram que aquela resistência se devia à soja, presente de alguma forma em todas as refeições dos filhos do Sol Nascente. Japonês até hoje figura entre os maiores consumidores da leguminosa. Aliás, que povo longevo – média de 85 anos para a mulher e 78 para o homem. E os Estados Unidos, maiores produtores do planeta, parece que não captaram a mensagem lá da Segunda Guerra: consomem dez vezes menos soja do que o Japão. Nós tomamos o nome “soja” do japonês “shoyu”, mas quem a domesticou foram os chineses, faz uns cinco mil anos. Ela nasceu em berço nobre, no berço da civilização chinesa, o vale do Rio Amarelo. Diferente da soja atual, de até um metro e meio de altura, era uma soja rasteira que vicejava entre juncos em terras baixas, perto de lagos e rios. Cientistas da antiga China cruzaram duas espécies desta soja selvagem, dando início à evolução da fabácea parente de outros feijões, da lentilha, da ervilha, do grão-de-bico. Doze séculos antes de Cristo, o cultivo deslanchou. E a soja, grão sagrado ao lado do arroz, do trigo e da cevada,
espalhou-se: Coreia, Japão, sudeste asiático. Os europeus a conheceram no finalzinho do século 15, levada por navegadores. Mas, no ocidente, só no século 18 deixou de ser uma curiosidade exposta nos jardins botânicos de França, Inglaterra, Alemanha. Espantosa versatilidade. Um jornalista inglês que viveu na China, citado por Alfons Balbach em As Hortaliças na Medicina Doméstica, descreve bem: fermentada, produz os molhos que dão bom sabor aos alimentos; prensada, fornece o óleo de cozinha mais usado no mundo; ao germinar, é vegetal fresco rico em vitaminas; colhida verdinha na vagem, dá um delicioso prato; moída seca, vira farinha para o pão; moída úmida, vira leite sem colesterol nem a indigesta lactose; leite que, coalhado, dá um queijo, o tofu, gostoso de mil maneiras. A carne de soja, temperada como carne bovina moída, rende um saboroso hambúrguer. Nutricionistas chamam a soja de alimento funcional: além de nutrir, traz saúde, cura. O grão dourado é um grande aliado na luta contra a fome e as doenças que a fome provoca.
REPRODUÇÃO/AB
ão há provas conclusivas de que transgênicos não prejudiquem o ambiente e a saúde. “Também não há provas de que causem problemas”, diz o médico catarinense Rubens Zanella. A mestranda paulista Maria Julia C. S. da Silva acrescenta: “Temos um dos melhores modelos de aprovação de transgênicos do mundo, copiado por alguns países”. Só que europeus e orientais exigem soja convencional. Redes como Carrefour também a preferem – como fazem os americanos para consumo humano. Nós, por ora, vamos de soja “normal”. Antes atrás do toco que em cima do muro.
De lanterninha a vice-campeão mundial Depois da tentativa de um baiano atirado em 1882, e outra dos japoneses chegados a São Paulo em 1908, a soja deu certo em 1914, na gaúcha Santa Rosa. Gaúchos romperam fronteiras – a produção nacional decuplicou na década de 1970. A Embrapa criou a “soja brasileira”, a doko, e até no cerrado plantamos, inclusive no oeste da Bahia pioneira. Foi muito graças aos modernos bandeirantes dos pampas que o Mato Grosso virou nosso maior produtor; e o Brasil, o segundo do mundo. Só nos falta comer mais soja.
Poder verde A Iolanda Huzak
Reprodução/AB
Transgenia: que história é essa? N
pequena maravilha, alimento dos mais completos, é a única leguminosa que, na proporção certa, contém proteínas que nosso organismo não fabrica. E em teor de proteínas, um quilo de soja equivale a 60 ovos; dois quilos de qualquer outro feijão; 2,2 quilos de carne bovina; 10 litros de leite de vaca. E tem fibras; sais minerais; vitaminas B, importantes para o sistema nervoso e várias funções orgânicas, e a antioxidante E. O consumo de soja e derivados reduz o risco de doenças cardiovasculares; osteoporose, diabete, alzheimer, sintomas da menopausa; hipertensão; doenças renais; vários tipos de câncer. Pesquisa sobre incidência de câncer de próstata mostra, por milhão de habitantes, apenas 18 casos em chineses e 67 em japoneses, contra mais de 500 entre suíços e americanos, que comem pouca soja. Outras vantagens sobre carnes: digestão fácil; não contém toxinas geradas pelo abate do animal; reduz a taxa do mau colesterol. Não à toa o governo americano recomenda o consumo diário mínimo de 60 gramas de soja, o equivalente a três colheres de sopa.
Saiba maIS Comissão Técnica Nacional de Biossegurança: www.ctnbio.gov.br Soja – Nutrição e saúde, de Conceição Trucom (Alaúde, 2005). As Hortaliças na Medicina Doméstica, de Alfons Balbach (Edificação do Lar, 1976).
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Entre amigos No bar de sempre, três amigos enchem a cara e começam a se soltar. Até que um propõe: – Que tal se cada um de nós contasse algo que nunca contou pra ninguém? Depois de alguma hesitação, o primeiro toma fôlego: – Tá bom. Vou falar: eu gosto mesmo é de apanhar de mulher… O segundo, sentindo-se encorajado: – E eu… Eu nunca gostei de mulher. Sou gay! E o terceiro, em tom de lamentação: – Já eu, meu Deus, nunca consegui guardar um segredo na vida…
Olha a mangueira! O bêbado está na porta do boteco vendo a procissão passar, carregando uma santa vestida com um manto verde e rosa. Ele berra: – Olha a mangueira aí, gente! O padre esbraveja: – Mas que falta de respeito! Não permito que o senhor deboche assim da nossa santa. Quando o religioso acaba de falar, a santa bate no galho de uma árvore, cai e se espatifa no chão. E o sujeito: – Viu? Eu tentei avisar…
Outra de bêbado
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O sujeito meio trôpego caminha pela rua quando topa com duas irmãs gêmeas. – Nossa, acho que bebi demais! As moças respondem, educadamente: – Não, o senhor está só se confundindo. Somos gêmeas. E o bêbado, mais espantado ainda: – As quatro?!
Exame de vista Um polonês vai fazer teste de vista para tirar a carteira de habilitação. O examinador lhe mostra um cartão com as letras U C Z J W I N O S T A C Z. – Você consegue ler isso? E o polonês: – Ler?! Claro, eu até conheço esse cara!
Pescaria em família Pai e filho saem pra pescar. Duas horas depois volta o pai sozinho, com um peixe enorme. E a mulher: – Nossa, benhê! Que peixão! – Isso não é nada. Você devia ter visto o que engoliu o Carlinhos.
Segredos O rapaz passa em frente ao chaveiro, vê a placa “Trocam-se segredos” e não resiste. Chega junto do atendente e cochicha: – Eu sou gay… Agora me conta o seu…
Cada um com seus problemas Marido e mulher sentam-se no restaurante. O garçom atende o casal: – O que os senhores desejam? – Eu quero um filé mal passado. – responde o homem. – Tem certeza, senhor? Ele acena que sim com a cabeça. – E a vaca louca? – insiste o rapaz – Sei lá. Pergunta aí pra ela...
Salário injusto O funcionário reclama com o patrão: – Puxa vida, acho que o meu salário não é equivalente ao que eu mereço ganhar. – Eu sei, Alvarenga, eu sei. Mas também não podemos deixar você morrer de fome, né?
Papéis invertidos No carro, a caminho de um congresso, o motorista comenta com o cientista que vai no banco de trás: – Chefe, acho que já ouvi sua tese tantas vezes que saberia defendê-la tão bem quanto o senhor... O cientista o desafia, então, a trocarem de lugar. No seminário, senta no fundo do auditório, dando ao motorista o lugar principal, que não tropeça em um conceito sequer. Quando chega a hora das perguntas do público, também não vacila, até que alguém faz uma questão muito complicada. – Ora, essa pergunta é tão elementar que até o coitado do meu motorista aí na plateia sabe responder. Quer ver só?
Gosto não se discute O homem pergunta à esposa: – Querida, o que você prefere: um homem inteligente ou bonito? – Que é isso, querido? Você sabe muito bem que prefiro você!
Papéis invertidos 2 A filha entra no escritório do pai, um rico industrial, com o marido. Sem rodeios, dispara: – Papai, por que você não coloca meu marido no lugar do seu sócio que acabou de morrer? – Por mim, tudo bem, filha. É só combinar com o pessoal da funerária.
Questão de gênero O mineirinho entra na loja de material de construção: – Ocê tem aí uma tomada? – Pois não. O senhor deseja uma tomada macho ou fêmea. – Ô, moço! Tô precisando de uma tomada pra acender a luz, não pra fazê criação!
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A muié do coroné
V
ou contar um causo nordestino em homenagem a um grande amigo meu, o poeta Aldemar Paiva. O referido causo começa com gritos. Gritos da mulher do Coronel Pajuçara. É que ela tava dando à luz mais uma criança, que completaria a prole de mais ou menos dez caboclinhos de diversos tamanhos. Estava difícil. A parteira entregou os pontos depois de uma labuta de horas e muito suadouro. Veio o doutor que, depois de um pouco mais de gritaria, fez nascer um tal bruguelo de mais ou menos cinco quilos. Com tudo ajeitado, o doutor chama o Coronel Pajuçara para lhe passar recomendações: Doutor – Coroné Pajuçara! Foi um parto difícil e sofrido, mas graças a Deus deu tudo certo. Só tem um porém. Acontece
que sua esposa não poderá mais engravidar. Se embarrigar, morre. Dali pra frente, ouvindo os conselhos do doutor, o casal passou a dormir em quartos separados. E o tempo também passava. Um mês, dois meses, três meses, até que numa noite enluarada, lá pelas três horas da madrugada, eis que a cumadre se encaminha rumo ao quarto do coroné. Bate à porta e, num sussurro esquisito, chama: Cumadre (chamando) – Pajuçara! Pajuçara! Coroné (roncando) – Rrrrrsssss... Cumadre (mais alto) – Pajuçara! Ô Pajuçara! Acorda, marido! Coroné (num susto) – Ah??! Quem é? Quem tá aí? Cumadre (ainda num sussurro tremido) – Sou eu. A Maria. Abre logo essa porta. Coroné (estranhando) – Ué? Que ocê qué, muié??? Cumadre (num som espichado) – Eu quero morrrrrê!
Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).
Deus não me ofereceu a vida à toa Por Maria de Lourdes Silva
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u sempre fui muito prevenida
a auto-estima feminina. Meu mari-
quando o assunto era saúde.
do, porém, foi de uma sensibilidade
Também pudera: perdi minha mãe
encantadora. Dizia todo dia: “Para
por câncer quando eu só tinha 10
mim, você é a mulher mais linda do
anos. A doença ainda levaria meu pai,
mundo”. Ele me incentivava a usar
quando eu tinha 21, além de meu ir-
as roupas mais bonitas, a sair muito
mão. Estes baques fizeram que eu me
para passear. Disse que não precisava
preocupasse ainda mais em ter uma
mais trabalhar, que deveria apenas
vida saudável. Sempre fiz meus exa-
me preocupar em me cuidar. Costu-
mes regularmente. Numa ida ao gi-
mo dizer que acertei os 13 pontos da
necologista em 1999, o médico disse
loteria. Homem igual a ele é raro.
que tinha percebido algo estranho. A
Todos estes acontecimentos fizeram-
notícia era dura: eu tinha um câncer
me solidarizar com as famílias mais
no útero, e teria que retirar o órgão. Foi uma tristeza, ainda mais
pobres. Se para mim já foi triste, imagine para as famílias que não
por ainda ser solteira e não ter filhos. Para tentar me consolar, o
têm condições de oferecer tratamento digno a seus entes queri-
doutor falou: “Fique tranquila, Lourdes, você pode adotar um”.
dos. Por isso, fundamos ano passado em Nova América, a cidade
Eu respondi: “Sim, doutor, Deus colocará de alguma forma um
onde vivo, no interior de São Paulo, o grupo Entre Amigos, vol-
filho na minha vida”.
tado para ajudar o tratamento de câncer das famílias carentes.
A cirurgia foi feita num hospital de Barretos, e correu tudo bem.
Neste ano, promovemos um leilão de gado que levantou 33 mil
Tanto que não precisei passar por quimioterapia. Logo depois, me
reais para a Fundação Amaral Carvalho. Além de pedir donati-
casei com José Carlos, um homem maravilhoso. Viúvo, tinha um
vos, também promovemos campanhas de prevenção de câncer
filhinho de dois anos. Hoje o Bruno tem 14 anos e me trata como
bucal, colo do útero, mama e próstata. Quero mobilizar a socie-
mãe. Deus, do seu jeito, me deu um lindo filho.
dade da minha cidade para que, a cada ano, o valor arrecadado
Por sorte eles apareceram. O companheirismo dos dois foi fun-
nos leilões só suba.
damental em 2001, quando surgiu um câncer no seio esquerdo.
Talvez eu fique de molho por um tempinho. Em setembro farei
Desta vez, maligno. A minha sensação foi de estar anestesiada,
uma cirurgia no seio direito. Não sei ainda se é câncer, mas não
sem reação. Fiz a cirurgia e passei por longas sessões de quimio-
me abalo mais. Hoje, aos 43 anos, aprendi a ser otimista e a acre-
terapia. Os médicos e enfermeiros foram incríveis. Era como se
ditar muito em Deus. Nada é por acaso. Vou continuar na minha
fossem membros da família.
missão de ajudar as pessoas. Deus está ao meu lado. Afinal, Ele
Mas, claro, a situação foi dura. Retirar um seio é devastador para
não me ofereceu a vida à toa.