Amanaque de Cultura e Saúde - FEBEC - Edição 11

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Se este país não existisse, a gente inventava

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lém do avião, os brasileiros inventaram coisas que nem se imagina. Você sabia, por exemplo, que o walkman é coisa nossa? Que o balão voou primeiro por aqui? Que criamos até a máquina de escrever? E a lista continua, abarcando de tecnologias fundamentais, como o rádio, a objetos prosaicos, como o imprescindível escorredor de arroz. No Especial do mês, revelamos algumas das mais curiosas histórias que envolvem a criatividade do povo brasileiro. Criações são fruto da sensibilidade apurada de gente que percebe anseios próprios ou das pessoas ao redor. Andréas Pavel queria ouvir música em qualquer lugar quando inventou o “pequeno equipamento de fixação corpórea para a reprodução de eventos auditivos em alta qualidade”, que conhecemos como walkman. Santos-Dumont via que o mundo poderia ficar menor com a aviação. Francisco João de Azevedo inventou a máquina de escrever para substituir os manuscritos. Assim foi com o cartão telefônico, a urna eletrônica, o identificador de chamadas. As Ligas de Combate ao Câncer também nasceram, há mais de uma década, para suprir uma necessidade. Em grupos espalhados por quase 100 municípios, elas hoje prestam auxílio a pacientes com transporte, apoio psicológico, acompanhamento das famílias, medicamentos, alimentação. No Almanaque, todos os meses mostramos exemplos do trabalho dessa turma na seção Gente Ajudando Gente. Além disso, na seção Muito Obrigado, trazemos histórias de pessoas que só têm a agradecer a essa corrente de solidariedade. O Almanaque está sempre pescando pérolas da inventividade brasileira e histórias de superação. Nesta edição, o leitor pode conferir a arte do ícone maranhense Nhozinho, que foi muito maior que seu problema de saúde. Tem também a paulistana Dorina Nowill, que, depois de desenvolver deficiência visual, não tinha o que ler. E, a partir dessa dificuldade, criou uma fundação que mudou a vida de milhares de pessoas no Brasil inteiro. O Almanaque de Cultura e Saúde resulta de uma parceria entre a Federação Brasileira de Entidades de Combate ao Câncer (Febec), a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e a Andreato Comunicação e Cultura. A renda arrecadada com a venda das revistas destina-se a ações de prevenção e apoio biopsicossocial aos pacientes com câncer. Se você também valoriza a inventividade e a cultura nacional e quer colaborar, assine. Basta acessar www.febec.com.br ou ligar para (11) 2166-4100.

As invenções são sobretudo o resultado de um trabalho teimoso

Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Assistentes de arte Guilherme Resende e Soledad Cifuentes Gerente administrativa Fabiana Rocha Oliveira Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)

Presidente

Antonio Luis Cesarino de Moraes Navarro Rua Silva Airosa, 40. Vila Leopoldina São Paulo-SP cep 05307-040 Fone: (11) 2166-4131

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Jaques C. Cerutti

Rua Lourenço Prado, 218, conj. 151 Jaú-SP CEP 17201-000 Fone: (11) 2166 4106 • (14) 8129-8892 jaques@febec.org.br

SAC (11) 2166-4100 e (11) 3017-0417 ASSINE (11) 2166-4100 www.febec.org.br O Almanaque de Cultura e Saúde é uma publicação mensal da Andreato Comunicação e Cultura em parceria com a FEBEC – Federação Brasileira de Entidades de Combate ao Câncer. A revista é distribuída por assinatura, pelos estabelecimentos filiados à Associação Paulista de Supermercados (APAS) e pelos voluntários das Ligas de Combate ao Câncer. Apoio

Correspondências Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar

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Santos-Dumont

Sumário 5 carta enigmática

18 eSPECIAL Invenções

29 Almacrônica por Lourenço Diaféria

6 você sabia?

22 jogos e brincadeiras

30 em se plantando tudo dá Manga

12 GENTE AJUDANDO GENTE Rosa Maria Chucre Gentile

23 o teco-teco

32 Rir é o melhor remédio

13 PAPO-cabeça Pelé

24 VIVA O BRASIL Natividade

33 CAUSoS de Rolando Boldrin

16 Ilustres Brasileiros Nara Leão

28 temperos e sabores Frango com Angu

34 muito obrigado José Dias Pereira


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gonia; Felicidade Infeliz; Marcada; Meu Mundo Caiu; Rindo de Mim; Tarde Triste. Os títulos das músicas já indicam o repertório carregado de melancolia. Intérprete magistral do gênero conhecido como dor-de-cotovelo, ela não se melindrou em juntar-se à turma do amor, do sorriso e da flor que conduzia os primeiros passos da bossa nova. Foi a primeira cantora a divulgar o novo estilo fora do País, apresentando-se na França, nos Estados Unidos e em Portugal. Descendente de uma família rica do Espírito Santo, nasceu em São Paulo, mas viveu a maior parte da vida no Rio. Envolveu-se com a música ainda criança. Tocava piano e, aos 12 anos, escreveu o samba-canção Adeus. Com o hábito de tirar os sapatos para cantar, ficou conhecida como “condessa descalça” no exterior. Independente e geniosa, não

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show itinerante

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capital do estado de Massachussetts

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- e + a Solução na p. 22

aceitava interferências da gravadora em suas escolhas de repertório. Além de dar voz a músicas de grandes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e Adoniran Barbosa, firmou-se como compositora. Em seu primeiro disco, de 1956, só gravou músicas próprias. Na década de 1970, passou a escrever trilhas sonoras para teatro e televisão. Manuel Bandeira definiu seus olhos verdes como “dois oceanos não-pacíficos”. Dizem que quando lhe pediam para sorrir diante das câmeras fotográficas, disparava: “Por que sorrir? Não há motivo para tal. Eu não sou feliz.” Em 22 de janeiro de 1977, seguia de carro pela ponte Rio-Niterói para a casa do crítico Ricardo Cravo Albin, em Maricá, quando um acidente lhe tirou a vida. Tinha apenas 40 anos.

Chico Buarque é conhecido por não aceitar interferências comerciais em suas obras e apresentações. Mas nem sempre foi assim. No começo da carreira, fechou acordo para subir aos palcos portando um Mug da Sorte, boneco assim batizado por pretensamente trazer bom agouro a quem o comprasse. O compositor não foi o único a associar a imagem à estranha criatura. Outras estrelas da época se prestaram ao mesmo papel. Wilson Simonal até exaltava, numa canção, o talismã dos anos 1960: Se voce não acredita / Eu não posso fazer nada / Mas a figa tem um Mug / Dentro da mão bem fechada.

NELSON DE ALMEIDA/AGÊNCIA O GLOBO

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29/1/1943

29/1/1960

O PRESIDENTE ROOSEVELT, DOS EUA, VEM AO BR ASIL CONVERSAR COM GETÚLIO VARGAS SOBRE NOSSA PARTICIPAÇÃO NA 2 a GUERR A MUNDIAL.

O PRESIDENTE NORTE-AMERICANO EISENHOWER VISITA JUSCELINO KUBITSCHEK PARA ESTREITAR ELO CONTRA BLOCO DE PAÍSES COMUNISTAS.

FESTA ESTRANHA

fundação joaquim nabuco – recife

Oswald e Pagu casaram no Cemitério da Consolação

Trem urbano do Recife: primeiro do Brasil.

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té a década de 1860, as canoas eram o principal meio de transporte dos mais de 75 mil habitantes do Recife, cidade cortada pelos rios Capibaribe e Beberibe. Cavalos e carruagens, só para os abastados. A população exigia meios de transporte mais econômicos; a produção de cana-de-açúcar e algodão precisava escoar com agilidade. A solução encontrada: uma ferrovia. Primeiro sistema de transporte urbano sobre trilhos do Brasil, os trens do Recife foram inaugurados em 5 de janeiro de 1867, em concessão do governo à Brazilian Street Railway, sediada em Londres. O trem movido por machine pump (bomba mecânica, em inglês) ficou conhecido por aqui como maxambomba. As viagens de trem custavam menos da metade das de carruagem. As lojas, que fechavam às 18 horas, passaram a ficar abertas até às 21, horário final dos trens. A ferrovia chegou a ter 22 quilômetros e 20 estações. Em 1919, foi substituída por modernos bondes elétricos.

reprodução

No Recife, machine pump virou maxambomba Pagu e Osw ald (ao cent ro)

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m 1929, nas palavras de Raul Bopp, “a arca antropofágica encalhou”. E se as coisas não caminhavam bem para o Modernismo, também entre o casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade a vida começava a desabar. Patrícia Galvão, a polêmica Pagu, na época com 18 anos, era presença constante no dia-a-dia do casal. Cercada de mimos, acompanhava-os em bailes, teatros e reuniões. Deste convívio nasceu um romance entre Pagu e Oswald, que abandonou

dep ois da ceri môn ia.

Tarsila e escandalizou a todos, casando-se com a jovem. A cerimônia aconteceu em 15 de janeiro de 1930 no Cemitério da Consolação, em São Paulo. O próprio Oswald registrou: “Nesta data contrataram casamento a jovem amorosa Patrícia Galvão e o Crápula forte Oswald de Andrade”. A façanha realizou-se em frente ao túmulo da família do noivo, na rua 17, número 17 do cemitério, mas foi apenas simbólica. Mais tarde a união foi confirmada na igreja da Penha, na zona leste paulistana.

Saiba Mais Paixão Pagu: A autobiografia precoce de Patrícia Galvão (Agir, 2005).

Origem da expressão do tempo da onça

A expressão refere-se a algo acontecido há muito tempo. Mais governou o Rio de especificamente, no século 18, quando Luis Vahia Monteiro, conhecido como “o onça”, rigorosamente fossem leis as todas que exigia ele que já rigidez, sua Janeiro (1725-1732) . O apelido veio de onça”. “da virou logo que onça”, do tempo “do as lembranç boas cumpridas. Por isso, ficaram


de quem são estes olhos?

Biu Roque cantou a Fuloresta em todo canto

Saiba Mais Documentário Siba e a Fuloresta, de Marcelo Pinheiro (2005). Biu Roque e Siba, do Fuloresta do Samba.

Muitos olhos já brilharam ao vê-lo com a bola nos pés. Defendeu três dos maiores times de futebol do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 29 de janeiro de 1966. Foi destaque numa Copa do Mundo e alcançou marca inaugurada pelo rei do futebol. Seu nome é às vezes relacionado com boemia e mulheres. Outras tantas, substituído pelo apelido carinhoso, que denota pouca altura. Confira a resposta na página 22

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Banco de Alimentos busca onde sobra e leva para onde falta

omida de boa qualidade na lata do lixo. Gente com fome e sem ter o que comer. Duas realidades tão próximas que sempre tiraram o sono da economista Luciana Chinaglia Quintão. Em 1999, ela decidiu botar a mão na massa e agir. Com fome de resultados, criou a ong Banco de Alimentos, em São Paulo. A tarefa parecia simples, mas tinha proporções enormes: retirar os alimentos de onde sobram Profissionais da ong . e entregar onde faltam. No começo, só os mercados de frutas e verduras apostaram em doar para a moça sonhadora. Movida pela solidariedade, de porta em porta, ela visitou 400 empresas de alimentos industrializados e não recebeu nenhuma ajuda. Foi só questão de tempo e perseverança. A dedicação de Luciana sensibilizou 800 voluntários. Hoje o Banco de Alimentos transporta pelas ruas congestionadas da grande São Paulo cerca de 44 mil toneladas de comida por mês. O que não é vendido nos pontos comerciais, está em boas condições para o consumo e iria para o lixo é separado. Enche os pratos de 22 mil pessoas em entidades assistenciais, a maioria idosos e crianças. Mas matar a fome de comida para quem tem sede de tudo ainda parecia pouco. A ong também oferece cursos com técnicas para manipular os alimentos. Nutricionistas acompanham as doações e preparam uma dieta rigorosa para quem está desnutrido ou obeso. Palestras ensinam a importância de se evitar o desperdício – não só de alimentos, mas também de energia, de terras férteis, de água. E Luciana continua sonhando, agora com o dia em que possa saciar a fome alheia de educação, trabalho e lazer. DIVULGAçÅO

Fuloresta do Samba, apresentava Biu Roque, ex-cortador de cana nascido em Aliança, Zona da Mata pernambucana. Na verdade, ele era o mais velho do conjunto idealizado por Siba (ex-Mestre Ambrósio) a fim de atrair luzes para a arte de músicos/brincantes ligados ao Maracatu Rural e ao Cavalo Marinho – manifestações culturais de origem pernambucana. Junto ao Fuloresta, a “goela de ouro da mata norte” se apresentou por vários cantos do Brasil. A primeira grande plateia foi no Abril Pro Rock 2003, no Recife. No ano seguinte, foi mais longe: fez turnê de duas semanas na Europa. Passou por Portugal, Holanda, França. Estranhou o vazio dos campos: “Nessa terra ninguém faz menino?” Casado com Dona Maria, teve 13 filhos, 40 netos, muitos bisnetos. Foi a cantoria que a conquistou. Não por acaso. Entre as canções do grupo, entoa: Maria, minha Maria / Meu doce da melancia [...] Vem ver o belo luar / Que a tua ausência reclama / Ô que noite tão preciosa / Não deve dormir quem ama. Da época de cortador de cana, guardou a saúde frágil e a visão prejudicada. Morreu este ano, aos 72, pouco antes de seu primeiro álbum solo, A Noite Hoje É a Maior, ficar pronto. Dizia que vivia feliz: “Depois de velho é uma vida mais gozada, mais liberta”.

DIVULGAção/imago

voz e percussão, nosso caçulinha, com 73 “N aanos.” Era assim que Siba, à frente do grupo

SAIBA Mais Site do Banco de Alimentos: www.bancodealimentos.org.br


enigma figurado

de 1951 num morro O figurinha aí ao lado nasceu em 7 de janeirosegu ndo nome

Álbum de Família

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acervo casa de nhozinho

o carioca. Do pai, trabalhador do cais, herdou igreja batista. No grupo artístico-musical. Tocava violão com ele na guarda e da bossa Os Instantâneos, embalava sucessos da jovem , foi consagrado na voz nova. Depois de servir ao Exército, em 1972 a. de Gal Costa, que gravou a sua Pérola Negr

Nhozinho lutou contra a doença para deixar seu legado

Confi ra a respo sta na página 22

CASCATA, LOROTA, POTOCA

Machado de Assis integrou uma sociedade de mentirosos

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a segunda metade do século 19, a Tipografia Paula Brito era um fervilhante ponto de encontro dos intelectuais cariocas. O estabelecimento levava o nome de seu dono, Francisco de Paula Brito, considerado por muitos o primeiro editor do País. E foi por sugestão do influente livreiro que, em 1840, reuniu-se pela primeira vez a Sociedade Petalógica do Rossio Grande. Aos impressionados com o nome pomposo, um esclarecimento: “peta” significa mentira, cascata, lorota, potoca. A Sociedade era uma espécie de clube líterohumorístico que tinha como propósito exercitar a imaginação e difundir mentiras para desmoralizar quem as passasse adiante. Foram muitas as personalidades que contaram por ali suas histórias. O mais célebre certamente foi Machado de Assis, Machado de Assis que integrou a sociedade aos 16 anos. “Lá se conversava de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda”, descreveu mais tarde. A maior marca do grupo, segundo o escritor, era o pluralismo. “Era um verdadeiro campo neutro, onde o estreante das letras se encontrava com o conselheiro.” Assim, políticos, poetas, dramaturgos, artistas, viajantes, simples amadores, amigos e curiosos se juntavam ao grupo, que teve uma intensa produção poética e musical. Castro Alves, Casimiro de Abreu, Artur Azevedo, o próprio Machado e também Paula Brito deram letras a vários lundus e modinhas, fazendo da Sociedade Petalógica reduto criativo e um dos berços da música popular brasileira.

aquario21-1 a 19-2

O aquariano tem espírito aberto a novidades. Tem sintonia com tudo o que é diferente, novo e moderno. Gosta de investigar e descobrir a razão das coisas. Costuma ser também bondoso e tranquilo. Mas, só de pensar em ser controlado, irrita-se facilmente. Em qualquer tipo de relacionamento, evite cobranças – e conte com surpresas.

reprodução/AB

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maranhense Antônio Bruno Pinto Nogueira, mais conhecido como Nhozinho, nasceu em Bacuripanã, em 1904. Sua infância foi normal até os 12 anos, quando tumores e feridas começaram a aparecer em suas mãos. Depois, a chaga se alastrou para as pernas e pés, impedindo-o até mesmo de vestir-se. O diagnóstico, nunca confirmado precisamente, era que sofria de sífilis. Confinado em casa, Nhozinho passou a confeccionar pequenos objetos de madeira que serviam de presente aos amigos – de presépios a carrinhos de boi. Aos 32 anos, com o corpo bastante deformado, começou a fabricar também as próprias ferramentas: facas, serrotes, formas, furadores, prensas e até um carrinho para sua locomoção. Tempos depois, mudou-se para São Luís. Adotou o buriti como matéria-prima e começou a vender timidamente sua arte. Enquanto divertia a criançada com brinquedos, tornava-se referência em bonecos de bumba-meu-boi, figurasímbolo do folclore maranhense. Ferreira Gullar escreveu: “Rara é a pessoa em São Luís que não o conhece, e mais rara a que, conhecendo-o, não goste dele”. No jornal O Globo, foi chamado de o mais famoso artesão do Maranhão. Ganhou exposições no Brasil e na Itália. Junto do reconhecimento, porém, veio o agravamento da doença. No auge da carreira, Nhozinho faleceu, em maio de 1974. Tal como Aleijadinho, foi um escultor de talento ímpar que não se deixou abalar nem mesmo diante das piores condições de saúde. SAIBA MAIS Nhozinho: Imensas miudezas, organização de Alice Cavalcante e Heloisa Alves (Sábios Projetos, 2007).

estação colheita O que se colhe no mês

Abacaxi, atemoia, fruta-do-conde, graviola, banana, uva-itália, laranja-pera.


VOLUNTÁRIOS, PERO NO MUCHO

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Brasileiros deram jeitinho para escapar da Guerra do Paraguai

revista ilustrada 12/03/1865

m 1864, Brasil, Argentina doavam dinheiro e empregados, e Uruguai se uniram para outros tramavam para que inimigos combater um inimigo comum, políticos fossem no seu lugar. Havia o Paraguai, então a nação mais até quem oferecesse familiares: desenvolvida da América do Sul. sobrinhos, irmãos, filhos... A prática A justificativa era que os paraguaios mais comum, no entanto, era a pretendiam invadir o Sul do Brasil aquisição de escravos para substituir e parte dos outros dois países o convocado. Até o governo passou para expandir o território até o a comprar negros para as batalhas. Oceano Atlântico. “Forças e mais forças a Caxias. A guerra eclodiu, mas as primeiras Apresse a medida de compra de batalhas foram um fiasco para os escravos e todos os que possam Despedida dos primeiros voluntários. brasileiros. Logo percebeu-se a aumentar o nosso Exército”, escreveu necessidade de mais combatentes no front. Em 7 de janeiro de 1865 dom Pedro 2º ao ministro da Guerra. foram criados os Corpos de Voluntários da Pátria, que pretendiam Estima-se que mais de 20 mil escravos tenham lutado na incentivar o alistamento de civis por ideais patrióticos. No começo Guerra do Paraguai. O número representa cerca de 16% dos até que deu certo, mas logo a empolgação passou, e o trabalho de soldados brasileiros. Como é de se imaginar, eram tratados persuasão tornou-se cada dia mais complicado. “Os brasileiros não como inferiores pelos companheiros. Muitos trabalhavam como se alistam voluntariamente por acreditarem que só pobres lutam”, criados dos soldados brancos. A Ordem do Dia para a Batalha de explicou à época o escritor Joaquim Manoel de Macedo. Tuiuti, uma das mais importantes da guerra, determinava: todos Os “voluntários” começaram então a ser recrutados na os batalhões deveriam estar a postos, inclusive “os bagageiros e marra. Cada qual dava seu jeito para escapar da guerra. Uns camaradas [criados] dos senhores oficiais”. SAIBA MAIS A Guerra do Paraguai, de Joaci Pereira Furtado (Saraiva, 2000).

DIVULGAÇÃO/Fundação Dorina Nowill

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DIVULGAÇÃO/Fundação Dorina Nowill

Sem ter o que ler, Dorina criou a imprensa braile difícil encontrar uma pessoa cega no Brasil que não tenha tido em mãos um livro impresso pela Fundação Dorina Nowill. Trata-se da maior imprensa braile da América Latina – e referência mundial. Produz centenas de obras didáticas e literárias distribuídas gratuitamente. Porém, quando a moça que dá nome à instituição foi acometida por uma patologia ocular aos 17 anos, o volume de coisas que podia ler era pífio. Ela não se intimidou. Foi a primeira aluna brasileira com deficiência visual a cursar o ensino regular, em São Paulo. Anotava tudo que os professores diziam em uma máquina de escrever especial e, com outras amigas, nenhuma cega, fundou uma instituição para confeccionar livros em braile. Dorina especializou-se em educação de cegos na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Lá conseguiu apoio para seu projeto e ainda conheceu o marido, Edward, por telefone. “Sou feio e baixinho”, ele brincou na ocasião. “Tudo bem, eu sou cega”, respondeu ela. Hoje a Fundação Dorina Nowill também desenvolve diversos trabalhos além da imprensa: estudos, palestras, atendimento de educação e reabilitação para deficientes visuais. Fez 64 anos em 2009, ao mesmo tempo em que a presidente completou 90. Dorina, que morreu em agosto de 2010, fez parte da comissão de homenagens ao bicentenário do francês Louis Braille – portador, assim como ela, não só de uma deficiência, mas também de uma causa.


Fases da Lua

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crescente

minguante

cheia

BONS TEMPOS

Vila Sésamo provou que é possível divertir e educar

Arquivo/ae

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Mais do que um programa com desenhos animados e passatempos, Vila Sésamo inovou ao apresentar uma proposta educativa para crianças em idade pré-escolar. Noções de matemática, música, língua portuguesa e leitura eram transmitidas de forma divertida e lúdica. Fazia sucesso também entre os grandes, não só pelo seu elenco de atores consagrados, como pelas diversas referências à cultura pop. Para assegurar o formato e o teor originais da série, uma cartilha pedagógica acompanhava as instruções s de suce sso. ano tro qua mo: Sésa Vila Vers ão bras ileir a da de produção dos programas. Era também elaborado material local, conferindo caráter regional às versões. odo dia é dia / Toda hora é hora / De saber que esse Vila Sésamo tornou-se fenômeno televisivo mundial, mundo é seu / Se você for amigo e companheiro / Com transmitido ainda hoje em 150 países e campeão de 85 alegria e imaginação / Vivendo e sorrindo / Criando e rindo / prêmios Emmy. A versão brasileira foi produzida nos dois Será muito feliz / E todos serão também! primeiros anos pela TV Cultura, com a ajuda de alunos do Esses versos conquistaram a atenção de milhares de curso de Rádio e TV da Universidade de São Paulo. Foi o crianças brasileiras entre os anos de 1972 e 1976. Era a primeiro sucesso infantil da emissora. Posteriormente, o abertura do programa Vila Sésamo, versão brasileira do programa seria produzido em parceria com a Rede Globo, original Sesame Street, idealizado pela norte-americana sendo exibido em dois canais e horários diferentes. Children’s Television Workshop (CTW) – rede especializada Depois de quatro anos de transmissões, Vila Sésamo foi em entretenimento educativo de qualidade para crianças. cancelado no Brasil devido aos altos custos de produção e A transmissão em preto e branco não intimidava a de pagamento de direitos autorais. A ideia da TV educativa imaginação dos pequenos. Eles se divertiam com a vila para crianças, porém, continuou dando frutos, inspirando habitada por Seu Almeida (Manoel Inocêncio), dono do diversos programas infantis que se tornaram sucesso. armazém e amigo de Juca (Armando Bógus), casado com Mesmo aqueles que nunca acompanharam o Vila Sésamo Gabriela (Aracy Balabanian) e primo da professora Ana original conhecem ao menos alguns de seus personagens, Maria (Sônia Braga), namorada de Antônio (Flávio Galvão). dada a influência do programa nas gerações que se seguiram. Completando o time, e sempre acompanhados por um grupo O sapo Caco e o pássaro Garibaldo, por exemplo, até hoje são de crianças, entravam bonecos como o simpático Garibaldo, capazes de conquistar a criançada. o ranzinza Gugu e o sapo Caco, entre outros.

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Saiba Mais Assista a trechos do programa em www.youtube.com


Conta estranha

Primeira revista Zé Carioca saiu com o número 479 ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, colocou os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e rendeu ao Brasil um presente, digamos, vagabundo. A inclinação de Getúlio Vargas ao estilo nazi-fascista de governo era evidente. Para juntar o Brasil ao time dos Aliados, o presidente Roosevelt nos concedeu favores e dinheiro. Vargas liberou a implantação de uma base militar norte-americana em Natal. O Brasil importava Coca-Cola e Hollywood (“o cigarro do sucesso”) e exportava Carmen Miranda. Logo declarou guerra a Alemanha e Itália. Engajado no esforço diplomático, o desenhista e empresário de cinema Walt Disney partiu para o Brasil. Inspirado pela chamada Política de Boa Vizinhança norteamericana, preparou um presente especial, tido como exemplo de brasilidade: Zé Carioca, personagem folgado e

preguiçoso, misto de malandro, caloteiro e vagabundo. Zé Carioca surgiu pela primeira vez no filme Alô, Amigos, de 1942. Voltou às telonas em Os Três Cavaleiros, de 1945. A estreia nos quadrinhos deu-se na primeira edição da revista do Pato Donald, em 1950. Onze anos depois, ganhou sua própria publicação. As duas revistas se alternavam nas bancas, por isso, para confusão dos leitores, a primeira edição de Zé Carioca saiu como 479. Por falta de histórias para manter a publicação mensal, quadrinhos de personagens Disney eram adaptados para nosso papagaio trambiqueiro. Um dia ele era barbeiro, no outro, sorveteiro. Em 1997, Zé Carioca, ou Joe Carioca, ganhou sambaenredo da Acadêmicos da Rocinha: Zé Carioca, malandro bem brasileiro. Faz no pé, incendeia esse terreiro.

REPRODUÇÃO/ea

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Estréia de Zé Carioca nos quad

rinhos, em 1950.

o baú do Barão

HERÓI NACIONAL

Piconzé deu cor aos nossos desenhos animados

“O melhor jeito de pegar disco voador é com vitrola voadora”. Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

Todo dia anto tem um S

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Piconzé: primeiro filme de animação em cores do Brasil.

garoto Piconzé tenta resgatar Maria Esmeralda, sua melhor amiga, das garras do vilão Gustavo Bigodão. É esse o enredo de Piconzé, primeiro longa-metragem de animação brasileiro totalmente em cores, lançado em 24 de janeiro de 1973. Levou seis anos para ficar pronto. Na trilha sonora, canções de Damiano Cozzella com letras de Décio Pignatari. Dirigido pelo japonês Ypê Nakashima, é considerado um marco da animação brasileira. Foi agraciado duas vezes

pelo Instituto Nacional do Cinema: recebeu o Prêmio Qualidade e o troféu Coruja de Ouro. Nakashima mudou-se para o Brasil em 1956. Depois de Piconzé, começou a trabalhar em seu segundo longa, Irmãos Amazonas, mas morreu em 1974 sem finalizar o projeto. A primeira incursão brasileira em longas animados – ainda em preto e branco – data de 1953. Foi Sinfonia Amazônica, produzido por Anélio Lattini Filho.

São Paulo

O judeu Saulo nasceu em Tarso, onde hoje é a Turquia. Nove anos mais velho que Cristo, perseguia os seguidores deste em Jerusalém. Isso até receber o sinal que o levou para o lado cristão. Paulo, nome que adotou desde então, foi grande missionário – além do mais culto dos apóstolos. Teve papel essencial na difusão do cristianismo.

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“Queremos passar pela vida e construir alguma coisa” H

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á dois anos e meio, o frei Irineu pelo auxílio material, mas também pelo Andreassa, hoje bispo em Santa apoio psicológico às famílias, explica RoCatarina, levou uma nova ideia para Hersa Maria. Apesar de não terem formação culândia. Depois de conhecer grupos da em psicologia, acabam se envolvendo com Liga de Voluntárias de Combate ao Câncer os casos. “É preciso saber conversar para em vários municípios, percebeu que nada ajudar as famílias a se manterem firmes impedia a pequena cidade paulista de tamna situação adversa.” bém ter o seu próprio grupo. Para poder fazer tudo isso, o grupo conMulheres e homens da comunidade cometa com carnês mensais de doação da coçaram a se reunir e se organizar. O promunidade. “Tivemos a utilidade pública Rosa Maria, de Herculândia jeto tinha tudo a ver com a biografia de reconhecida, por sermos um grupo idôRosa Maria Chucre Gentile. Depois de décadas desenvolvendo neo”, comemora Rosa. Também organizam outros projetos para seu trabalho no magistério e dirigindo escolas, a professora já a arrecadação de renda, como rifas e um bingo anual, já aguartinha trocado o descanso da aposentadoria pelo envolvimento dado na cidade de 11 mil habitantes. em projetos sociais. Acabou assumindo o cargo de presidente da Como Rosa concilia o trabalho no grupo com a Pastoral da Saúde, entidade que nascia. consegue muitas vezes unir as entidades em parcerias. No fim do Por certo período, o Grupo Herculandense de Voluntários de ano, por exemplo, uma mesma comemoração reuniu pacientes Combate ao Câncer funcionou em salas generosamente cedidas das duas instituições. por pessoas da comunidade, cientes da importância do trabalho. Rosa tem dois filhos e quatro netas. Dos 62 anos, viveu mais da Hoje, em um espaço doado pela paróquia, a instituição passou metade em Herculândia – deixou sua Flórida Paulista quando a ter pernas próprias. Conta com estatuto, inscrição, CNPJ. Os se casou. “Estou aposentada, feliz, e posso fazer alguma coisa fundadores iniciais multiplicaram-se para 40. por quem necessita.” História e anseios não muito diferentes do Semanalmente, 12 voluntários se revezam em duplas para visiperfil dos demais voluntários do grupo. Outros aposentaram-se tar e levar mantimentos aos pacientes. Organizam cestas de alitambém, e há ainda os que continuam desenvolvendo suas atimentos complementares, como leite, frutas e legumes, além de vidades profissionais. O que os leva a doar seu tempo e energia a suprirem a demanda de itens médicos, como fraldas geriátricas causas alheias? “É o amor ao próximo que nos move. É crer em e medicamentos. Deus e naquilo que se faz. Queremos passar pela vida e construir As visitas dos voluntários aos pacientes são importantes não só alguma coisa”, finaliza Rosa.


PELÉ

É preciso ter orgulho de ser brasileiro.

fotos: Edi pereira

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Ele dispensa apresentações – e estamos falando de todo o planeta. Apesar de ter encerrado a carreira há mais de 30 anos, em qualquer lugar do mundo em que pisar, sua presença será notada. É, provavelmente, a personalidade brasileira mais conhecida de todos os tempos. Não à toa. Seus gols desconcertaram adversários mundo afora. Seus dribles, passes e chutes giraram o planeta num tempo em que a tevê dava os primeiros passos. Mas, além do mito, o que impressiona em Pelé é sua capacidade de mostrar-se humano, ainda que o mundo todo o veja como sobre-humano. Nesta entrevista, ele fala da infância, do orgulho de ser brasileiro e, claro, de futebol.


Na sua infância em Bauru, antes de ir para o Santos, você recebeu propostas de outros times? Qual equipe poderia ter tido Pelé? Propostas, não. Mas o técnico do Bangu, Tim, disse ao técnico do Baquinho [equipe júnior do Bauru Atlético Clube], Waldemar de Brito, que procurava novos garotos para jogar na equipe carioca. O Waldemar respondeu: “Tem um crioulinho aí, filho do Dondinho, que é bom de bola”. Quase acertaram de eu ir pro Bangu. Mas foram três em meu lugar: Dufi, Canjerê e o ponta-direita, Picao. Esse Dufi, inclusive, era muito bom jogador. Até tentei levá-lo para o Santos mais tarde.

depois ficou célebre – Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe – era reserva. Só que a gente não perdia uma partida no treino. A Vila Belmiro ficava cheia às quartas e quintas para ver a gente treinar. E todos foram ganhando confiança nas partidas de aspirantes, que eram as preliminares dos jogos principais. Uma coisa que não entendo é por que a CBF deixou de promover os jogos de aspirantes antes das partidas. Era esse o momento que jovens jogadores se expunham, eram experimentados, ficavam frente a frente com a torcida. O jogador chegava mais maduro ao profissional. Quando comecei, já tinha mais experiência.

Desde pequeno você era muito melhor que seus amigos? Sim, tanto que eu jogava com atletas mais velhos. Entrei no Baquinho com uns 12, 13 anos. Quando teve o primeiro campeonato de futebol de salão, meu pai falou: “Você vai se machucar, só tem gente mais velha. Tem até profissional!”. Fui artilheiro do campeonato com cerca de 15 gols. Também jogava aos sábados, na várzea, pelo São Paulinho de Curuçá. Hoje vejo as fotos e me assusto. Jogava com uns barbados... O impressionante é que eu não tinha medo. Talvez seja esse o motivo de não ter me assustado ao chegar ao Santos.

Dizem que, ao ver seu pai sofrer pela derrota do Brasil na Copa de 1950, você teria prometido que ganharia uma Copa para ele. É verdade? Em 1950 eu

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Logo em sua estreia você marcou um gol, né? Sim, contra o Corinthians de Santo André. Tinha que ser contra um Corinthians...

Da onde vinha essa birra contra o Corinthians? No seu período, o time não ganhou nada... Que é isso? Eu adorava o Corinthians. Tem garo-

No mesmo rádio em que meu pai chorou ouvindo a derrota da Copa de 1950, me ouviu ser campeão em 1958.

to aí que diz: “Pô, meu pai falou que você tinha raiva do Timão!”. Eu respondo: “Seu pai está errado. É mentira. Eu adorava o Corinthians. Foram 18 anos me deixando ganhar, me deixando fazer gol, nunca me tratando mal...”. Não dá pra explicar. Dava tudo certo. Eles vinham com tudo, mas a bola batia na trave, o nosso goleiro pegava pênalti... A bola não entrava de jeito nenhum. Aí, no finzinho do jogo, a gente ia lá e marcava: 1 a 0.

tinha apenas 10 anos. Meu pai, ao lado dos amigo de time, estava ouvindo a partida pelo rádio. Todos com a certeza da vitória. Fizeram até bolo. Meus amiguinhos estavam lá, correndo pela casa. A gente, garoto, nem ligava muito pra Copa. Quando acabou, todo mundo ficou quieto, e meu pai começou a chorar. Foi quando eu disse, com a mão em seu ombro, de um jeito descompromissado: “Chora, não, Dondinho. Eu vou ganhar uma Copa para o senhor”. Oito anos depois, no mesmo rádio em que Dondinho ouviu essa derrota no estádio do Maracanã, ele me ouviu ser campeão na Suécia, em 1958. Tenho esse aparelho de rádio até hoje.

É uma lenda que se criou. Minha tia, irmã do meu pai, morava em São Paulo. Todos os feriados ia para Bauru. Ela era meio bem de vida e levava presentes pra gente, como bolas de capotão. Na época, saiu uma série de times de botão das grandes equipes da capital. Ela levou dois: um do Palmeiras e outro do Corinthians. Como meu irmão tinha simpatia pelo Palmeiras, escolheu primeiro. E qual time sobrou pra mim? Justamente o Corinthians. Por isso começaram a falar que eu era corintiano.

Seu pai foi importante para a sua carreira? Muito. Primeiro por cor-

Há ainda quem diga que foi recusado numa peneira corintiana. No

rigir vários dos meus defeitos. Teve uma época em que fui gandula. Quando chutava uma bola para reposição, ele falava: “Pô, você não sabe que não pode chutar assim, com o corpo pra trás?”. Ele me obrigava a cabecear de olho aberto. Para aprender, me fazia cabecear a bola 10 vezes na parede. Me ensinou também a respeitar o adversário: “Quer menosprezar? Então vai lá e faz cinco gols neles. Não fica com drible à toa!”. Dondinho sempre me lembrava que ser melhor do que os outros era um presente de Deus, e que eu tinha que cuidar desse dom, não podia esnobar ninguém. Ele também foi um grande jogador. Era centroavante, fazia gols pra chuchu. Os jornalistas o chamavam de “o Baltazar do interior”, em referência ao goleador do Corinthians, também um grande cabeceador. Quando comecei a aparecer, ele dizia pra mim: há um tempo, você era o filho do Dondinho; agora eu é que sou o pai do Pelé.

Baquinho tinha um garoto que se parecia muito comigo, que se chamava Tiãozinho. Como éramos campeões infanto-juvenis do interior, fomos jogar contra o Juventus, campeão da capital na categoria. Goleamos o Moleque Travesso. O Corinthians pediu um jogador emprestado, e o Waldemar recomendou o Tiãozinho. Treinou um tempo lá e voltou. Além da semelhança, ele jogava com a 10. Aí criou-se a lenda que treinei no Parque São Jorge, fui mandado embora e peguei raiva do Corinthians.

Como você foi parar no Santos? O Santos estava dando oportunidade a jovens jogadores e eu fui, depois de meu pai convencer minha mãe. Ela não queria que eu saísse de Bauru... A linha de ataque que

Mas dizem que você era corintiano na infância...

Para qual time, afinal, você torcia na infância? Torcia para o Atlético Mineiro, porque meu pai jogou lá.

Você tremeu antes dos jogos da Copa de 1958? Só tinha 17 anos... Era uma responsabilidade grande, mas já tinha maturidade como jogador. Pela própria seleção eu já tinha jogado a Copa Rocca, já tinha jogado finais pelo Santos, torneios no Maracanã. Isso me dava mais confiança. Mas claro que entrava em campo com frio na barriga. Até mesmo em 1970 foi assim. Mas, logo que o hino acabava, a preocupação ia embora.


Como foi o episódio de ter de jogar a final de 1958 de azul? É verdade que os jogadores, por superstição, ficaram preocupados? Não pudemos jogar de amarelo porque a Suécia tinha a mesma cor, e um sorteio definiu que eles entrariam com a camisa principal. Teve jogador que ficou preocupado. Mas é sempre assim. Pouca gente percebeu, mas na final de 1970 jogamos de meias azuis, e teve atleta que reclamou. Azul é a minha cor preferida. Todo lugar que passo peço pra pintar de azul. O nome da minha mãe é Celeste, o da minha filha é Celeste. Outra grande coincidência da Copa de 1958 é que os números dos jogadores foram escolhidos aleatoriamente. E eu fiquei com a camisa 10. Outro dia, em Santos, me fizeram uma homenagem e escreveram: “Antes dele, o 10 era apenas um número”.

jogos, principalmente os da seleção.

Qual foi o seu melhor marcador? Houve muitos marcadores competentes. Mas, em geral, felizmente, o time deles perdia no fim. Entre os estrangeiros, o melhor foi Beckenbauer. Ele não era exatamente meu marcador, pois jogava na armação, como terceiro homem. Mas, nos jogos contra a seleção brasileira, costumava desempenhar esse papel. Ele era chato pra caramba: jogava bem, não dava pontapé e era muito inteligente. Outro que destaco era o inglês Bobby Moore. Entre os brasileiros, dois marcadores chatos e inteligentes eram o Roberto Dias, do São Paulo, e o Dudu, do Palmeiras. Ainda tinha um quarto-zagueiro do Sorocaba que era bom marcador pra chuchu. Mas não era muito lembrado porque o Santos sempre ganhava deles.

Você é considerado um jogador completo. Tinha algum ponto fraco? Ponto fraco, diria que não. Mas eu era perfeccionista. Gostava de melhorar o cabeceio. Eu treinava com a bola pendurada numa forca. Cada vez ia apurando a impulsão e o tempo da bola.

Também era conhecido por artimanhas alémbola. Que malandragens era capaz de fazer para ganhar? Inúmeras. Os beques do interior batiam demais. Eu chegava no ouvido de um deles e falava: “Pô, agora que o Santos tá querendo te contratar, você fica aí me dando pancada?”. Aí eles aliviavam. Na hora do tiro-de-meta, o goleiro tinha a mania de rolar pro beque, que devolvia para o goleiro pegar com a mão. Eu perdi a conta das vezes que, quando o goleiro rolava a bola para o zagueiro, eu corria gritando: “Falta, falta! Para, para!”. O beque se assustava, eu roubava a bola e fazia o gol. Outra que gostava de fazer é trançar o braço com o braço do zagueiro e cair. Em geral, o juiz dava pênalti. Às vezes eu fingia estar machucado para, de repente, dar um arranque e fazer o gol.

Falta esse tipo de esperteza para os jogadores atuais? Falta, e muito. Veja só na hora que alguém vai bater uma falta na intermediária. Fica aquele agarra-agarra na área. Eu chamo aquilo de besteirol coletivo. Ninguém olha para a bola, ninguém finge que está amarrando a chuteira para sair no impulso, ninguém fica no bico da área para esperar um toque rápido. O Waldemar de Brito já me ensinava: “Finja que não está vendo a bola, olhe para o nada, porque, se olhar pra bola, o marcador prestará atenção em você. Deixa a bola sair primeiro e aja com inteligência”. Eu não vejo ninguém fazer isso. Eu já falei para o Robinho pra fazer algo diferente. Porque habilidade todo brasileiro tem, mas tem que saber fazer coisas fora do esperado.

Costuma dizer que seu gol mais bonito foi contra o Juventus, da Mooca. E o mais importante? Não acho justo escolher um só. Destaco alguns: contra o Corinthians de Santo André, na minha estreia; o da Copa de 1958 contra o País de Gales; o milésimo gol. Esse falam que não foi tão importante por ser de pênalti. Pô, quero ver bater um pênalti naquela situação. Foi a única vez na vida que tremi em campo. Uma coisa que pouca gente percebeu é que, na hora do pênalti, os jogadores do Santos foram para o meio de campo. E se a bola batesse na trave? E se o goleiro rebatesse? Ainda chamei o Carlos Alberto pra bater. Ele respondeu: “Não, não”, e virou as costas. Foi bem complicado. Vale a máxima: pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube.

Você acaba de lançar um CD e já gravou com importantes músicos. Se não fosse jogador, seria músico? Poderia ser. Sempre gostei de música. Vivia tocando violão nas concentrações. Tenho até um violão dado pelo Baden Powell. Não sou bom no instrumento, mas gosto muito. Porque saber tocar mesmo é com o Toquinho, o Paulinho da Viola. O CD que fiz tem 12 músicas, todas com letra e melodia minhas. O arranjo ficou a cargo do maestro Ruriá Duprat, que, inclusive, já ganhou um prêmio Grammy.

Você conhece muitos músicos? Tem boa relação com eles? Tenho. E boa parte deles fala que é craque: Chico Buarque, Jair Rodrigues, Toquinho, Chitãozinho, Alexandre Pires, Leonardo... Um dia fui ao campo do Chico e disse: “Só jogo se for no gol”. Não deixaram. O Chico é fogo, rapaz. Se não jogar ao lado dele, não tem como ganhar. O juiz rouba e o escambau. Ninguém ganha dele por isso. Aí preferi ficar de fora e esperar pela hora da música...

Você sente falta de jogar futebol? Sonha que está em campo? Se so-

E pra finalizar: o que é brasilidade para você? Em primeiro lugar,

nho com isso? Dou até bicicletas na cama! Às vezes até grito gol. Mas agora eu, com outros companheiros, assumi a direção do Jabaquara, de Santos. Duas vezes por semana apareço lá e dá pra matar a saudade de estar em campo. Mas ainda sofro pra caramba ao ver

tenho que agradecer a Deus por ter nascido no Brasil. Na minha opinião, brasilidade é acreditar que, sem dúvida nenhuma, este é o país do futuro. É acreditar neste país, trabalhar por ele e ter orgulho de ser brasileiro.

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ão Nar a Le

o ã i n i p o e d a s Mu Mais do que musa da Bossa Nova, Nara emprestou seu incomparável talento ao samba de morro, à música de protesto, ao Tropicalismo e ao que mais viesse pela frente. Sem preconceito, reverenciou o novo, o antigo e a vanguarda. Revelou compositores promissores, resgatou

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joveli de freitas/ae

os esquecidos e bateu de frente

E

la nasceu em Vitória, a 19 de janeiro de 1942. Mas não teve tempo de ser capixaba: no primeiro ano de vida, mudou-se com a família para o Rio. Foi uma criança tímida e depressiva. Começou a fazer psicanálise aos 5 anos. Tinha na irmã mais velha, a linda e famosa modelo Danuza, seu exato contraponto. Ganhou dela apelidos como Caramujo e Jacarezinho do Pântano. Na música, Nara encontrava prazer e alento. No início dos anos 1950, Roberto Menescal sempre a avistava em Copacabana, onde moravam. Um dia tomou coragem e convidou-a para uma festa em sua casa. Os dois logo descobriram afinidades musicais: odiavam os sucessos do rádio e idolatravam os mesmos cantores. O namorico durou dois anos. No seu enorme apartamento da avenida Atlântica onde se deram os famosos encontros da bossa nova, os quartos eram tão distantes que podia-se tocar até altas da noite sem perturbar o sono dos pais de Nara. Foi em uma dessas ocasiões

com o regime militar. Tudo isso sem perder a ternura.

que Ronaldo Bôscoli apaixonou-se pela então adolescente, e os dois começaram a namorar. Se ela ainda não era a musa da bossa nova, serviu de inspiração para uma série de clássicos compostos pelo namorado: Lobo Bobo; Se É Tarde, Me Perdoa; O Barquinho; Vagamente.

CORAÇÃO DE LEÃO

A partir de 1958, quando a bossa nova ganhou o Brasil e o mundo, a turma começou a se profissionalizar, à exceção de Nara. Ouvir seu canto doce era privilégio apenas dos mais íntimos. E, antes mesmo de gravar o primeiro elepê, ela rompeu com a bossa. Depois de uma decepção amorosa com Bôscoli, uniu forças com Carlos Lyra, outro dissidente do movimento. Estreou nos palcos em 1963 com a comédia musical Pobre Menina Rica, de Lyra e Vinicius de Moraes. No ano seguinte, lançou seus dois primeiros álbuns, os fundamentais Nara e Opinião de Nara.


Por pouco não foi enquadrada na Lei de Segurança Nacional. “Sou a mulher mais corajosa que conheço. Na intimidade, podem me chamar de Nara Coração de Leão.” Nesse período, ela e Lyra foram ao encontro dos sambistas do morro. No lendário espetáculo Opinião, a pobre menina rica da zona sul se apresentava de camisa de flanela listrada e jeans, entoando versos ásperos como estes, de Zé Kéti: Podem me prender, podem me bater / Podem até deixarme sem comer / Que eu não mudo de opinião. Nara queria ser uma cantora “do povo”, do “samba puro”. Em entrevista à revista Fatos & Fotos, disparou: “Chega de bossa nova. Chega de cantar para dois ou três intelectuais uma musiquinha de apartamento”. Numa entrevista histórica ao Diário de Notícias, em 1966, soltou a língua contra a ditadura: “Os militares podem entender de canhão ou de metralhadora, mas não pescam nada de política”. Defendeu a devolução do País aos civis e a extinção do Exército. Por pouco não foi enquadrada pelo presidente Costa e Silva na Lei de Segurança Nacional. “Sou a mulher mais corajosa que conheço. Na intimidade, podem me chamar de Nara Coração de Leão”, afirmou.

NOVO, ANTIGO E VANGUARDA

Se a recepção de Opinião já fora espetacular, Nara experimentaria um sucesso ainda maior em 1966, quando defendeu A Banda, do novato Chico Buarque, no Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. O compacto vendeu feito água e Chico entrou de vez para o panteão da MPB. Incansável, Nara juntou-se ainda à turma do Tropicalismo, com a gravação de Lindonéia, no disco Tropicália ou Panis et Circensis (1968). “O fato de apoiar todos os movimentos,

desde que fossem bons, fez com que eu reunisse o maior repertório do Brasil. As pessoas podem ter discutido se eu canto ou não canto, se gostam ou não gostam, mas têm que admitir que a minha falta de preconceito em relação aos movimentos fez com que eu gravasse coisas antigas, novas e de vanguarda.” Assim como tantos intelectuais e artistas, partiu para o exílio depois do AI-5, em 1968. Com o marido Cacá Diegues, mudou-se para Paris, onde nasceram os filhos Isabel e Francisco. De volta ao Brasil três anos depois, diminuiu o ritmo da carreira, mas seguiu lançando grandes discos e envolvendo-se em projetos como o filme Quando o Carnaval Chegar (1972), de Diegues, e o musical infantil Saltimbancos (1977). Em 1979, enquanto tomava banho, sentiu uma forte tontura. Escorregou e foi internada. Estava com um tumor maligno no cérebro. Conviveu uma década com a doença, que a fazia perder a concentração no meio de shows e a obrigou a trancar a matrícula de Psicologia na PUC. No Japão, em 1986, foi a primeira artista brasileira a gravar um disco (Garota de Ipanema) no formato CD, que acabara de surgir. Com a saúde progressivamente debilitada, foi internada e veio a falecer um mês depois, em 7 de junho de 1989. Cercada dos amigos que testemunharam sua doce e contundente passagem pelo mundo. SAIBA MAIS Nara Leão – uma biografia, de Sérgio Cabral (Lumiar, 2001).

O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO

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ESPECIAL

Das criações advindas da sabedoria popular, passando pelas experiências dos padres pioneiros até os mais recentes avanços tecnológicos, o Brasil tem uma vasta gama de inventores notáveis. Se, por um lado, enfrentamos problemas na área da ciência e da tecnologia, podemos contar sempre com a fonte inesgotável de criatividade da nossa gente.

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lguns poucos ficaram milionários, outros tantos lutaram e ainda lutam pelos direitos de patente sobre suas invenções. Os inventores do Brasil nos proporcionaram muitos momentos de glória. E também várias controvérsias. O exemplo clássico é a eterna discussão sobre a paternidade da aviação, contrapondo os irmãos Wright a Santos-Dumont. O 14-Bis, primeiro avião a voar por seus próprios meios, sem qualquer tipo de força extra, é o símbolo máximo da capacidade de criação brasileira; e Santos-Dumont, patrono absoluto dos nossos inventores. Mas temos ainda muito mais do que nos orgulhar. Em 1893, um ano antes do italiano Guglielmo Marconi, tido como criador do rádio, o padre Landell de Moura transmitiu sua própria fala da avenida Paulista para o Alto de Santana, a oito quilômetros dali. Chamaram-no de impostor, de bruxo. Desiludido, abandonou os experimentos. Deixou para trás as patentes do transmissor de sons (ondas hertzianas), do telefone e do telégrafo sem fio. Conrado Wessel, em 1922, teve destino diferente. Descobriu uma nova fórmula para a revelação fotográfica. Patenteou a invenção e fundou a primeira fábrica de papéis fotográficos

do Brasil. A Kodak comprou a patente e a fábrica, transferindo os lucros a Wessel durante 25 anos. O inventor fez fortuna e determinou em seu testamento a criação da Fundação Conrado Wessel, que agracia pesquisadores e escritores com até 100 mil reais – iniciativa conhecida como o prêmio Nobel brasileiro. Em 1971, Euryclides Zerbini abriu caminho para importantes avanços na medicina com a invenção da válvula coronária. Nelson Bardini criou em 1978 a tecnologia dos cartões telefônicos que usamos hoje. Também somos especialistas em soluções de genial simplicidade, como o aquecedor solar criado em 2002 por José Alcino Alano, usando apenas materiais reaproveitados, como garrafas pet. Há ainda a criação da paulistana Terezinha Beatriz Alves de Andrade, que não se conformava com a pia de casa entupida depois de lavar arroz. Criou, então, um protótipo de alumínio que misturava bacia e peneira: o popular escorredor de arroz, usado no mundo todo. É simples, mas por que ninguém pensou nisso antes?


J a n gad a

Nossa embarcação não precisa de leme Uma das nossas invenções mais geniais não tem pai conhecido, muito menos patente. A jangada em si não é exatamente brasileira. Foi criada na Ásia muitos séculos atrás, e trazida para cá pelos portugueses, por volta de 1570. Aqui é usada, sobretudo, por pescadores. Sofreu adaptações até surgirem variantes tipicamente nossas, como a jangada de piúba, de origem cearense, provavelmente a única embarcação no mundo que não precisa de leme. A jangada, que esconde extrema sofisticação tecnológica por trás da aparência primitiva, inspirou o navegador Amyr Klink a construir seu moderno barco Paratii 2.

M áq u i n a d e E s c r e v e r Balão

Bartolomeu voou muito antes dos franceses O feito está registrado em documentos do Vaticano. Em 5 de agosto de 1709, 74 anos antes dos irmãos franceses Montgolfier, o padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão promoveu o primeiro voo de um aparelho movido a ar quente. O religioso aplicou um princípio científico que descobrira observando uma bolha de sabão subir, impulsionada pelo calor da chama de uma vela. Gusmão, paulista de Santos que já gozava de certa fama por invenções nas áreas de mecânica e engenharia naval, ficou conhecido como o Padre Voador. Feito de papel grosso, o balão apelidado Passarola, não tripulado, subiu quatro metros durante uma demonstração em Lisboa, testemunhada por Dom João 5º e sua corte.

Padre inventou máquina, mas só expusemos matéria-prima 19

A solução para substituir o manuscrito veio de mais um padre brasileiro, o paraibano Francisco João de Azevedo. Em 16 de novembro de 1861, ele apresentou na Exposição Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco sua revolucionária máquina de escrever. Pedro 2º premiou o padre pelo invento. A máquina, no entanto, não foi exposta no pavilhão brasileiro da Exposição Internacional de Londres do ano seguinte. Alegou-se “falta de espaço”. Preferimos expor café, madeiras, minérios, borracha, frutos, algodão e fumo.


O lado B de Santos-Dumont Alberto Santos-Dumont, o brasileiro que deu asas à humanidade, era aficionado por máquinas desde a infância. Alimentou o desejo de voar observando os pássaros e lendo as aventuras fantásticas de Julio Verne. Além do lendário 14-Bis, de 1906, desenvolveu vários modelos de balão e avião, além de invenções em diversas áreas. Nunca patenteou uma criação. Ofereceu-as como presentes para a humanidade.

A senhorita mais charmosa de Paris

Uma das criações mais populares de Santos-Dumont, sua máquina voadora n° 19, ficou pronta em apenas 15 dias. Foi projetada em 1907 para participar de um concurso. O aviador perdeu a disputa, mas arrebatou a admiração de todos com sua elegante aeronave. Oito vezes menor do que o 14-Bis, o avião ganhou o apelido Demoiselle (senhorita, em francês). 20

Avistada frequentemente nos céus de Paris, a donzela causava sensação por onde passava. O avião foi produzido em série, a preços razoavelmente acessíveis. Seu criador, porém, abriu mão de receber qualquer dinheiro pelo invento. O Museu Asas de um Sonho, em São Carlos, possui uma réplica da aeronave em seu acervo.

Inventor do relógio de pulso? Ao contrário do que se difunde amplamente, a invenção do relógio de pulso não pode ser atribuída a Santos-Dumont. Em um jantar com Louis Cartier, dono de uma das joalherias mais chiques de Paris, o aviador queixou-se que não conseguia olhar para o relógio de bolso durante os voos porque tinhas as mãos ocupadas. Cartier, então, retomou uma invenção que também não era sua. O relógio de pulso já havia sido usado pelo filósofo Pascal, pelo exército alemão e pela rainha Elizabeth 1ª, da Inglaterra, mas não havia se popularizado. O joalheiro presenteou o amigo com um exemplar exclusivo, chamado Santos, que Dumont nunca mais tirou do pulso.

E não para por aí Santos-Dumont lançou também tendências de moda. Criou sapatos com saltos disfarçados para aumentar a estatura, o colarinho alto e uma capa para ir à ópera, forrada de seda. O chapéu de abas abaixadas, sua marca registrada, surgiu quando ele usou o acessório para conter as chamas de um pequeno incêndio. Para se habituar a comer nas alturas, o inventor suspendeu no teto a mobília da sala de jantar, usando cordames. O teto acabou cedendo, e Dumont optou por mesas e cadeiras de dois metros de altura, acessíveis com escadas portáteis. Também inventou uma catapulta salva-vidas, aparelho com um arpão que lança bóias de borracha presas a cordas em direção ao local onde houver uma pessoa se afogando.


Nasceu aqui o tocador portátil de música

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O Calculista das Arábias

ligue os pontos

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

programa da tv Bandeirantes. O nome artístico é um petisco associado à cozinha mineira.

1

b O legítimo artista brasileiro, para os modernistas. Seu aniversário virou Dia Nacional do Circo. De tão magrinho, o apelido era “barbante”, em espanhol.

2

c Com 1,91 m, passou seus quase cem anos divertindo o público. Dono da saudação: “Como vai?, como vai?, como vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!”

3

Piolim

d “Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor!” Filho de trapezista, nasceu em pleno picadeiro. Foi o primeiro circense da tevê, aparecendo na Tupi em 1950.

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acervo da família

Torresmo

Carequinha

Arrelia

a Filho e pai de palhaço. Com o filho fez sucesso em

No caminho de peregrinação à meca, o marajó de Laore e Délhi, Cluzir Schá, foi apresentado ao geômetra Beremiz Samir. O calculista lhe contou uma lenda sobre o sábio Bháskara. Para homenagear a filha Lilaváti, Bháskara perpetuou seu nome em um livro. Pois o príncipe nunca esqueceu da história e quis também escrever um livro para sua própria menina. Entusiasmado com as lições numéricas do homem que calculava, preparou-lhe um bilhete para enviar junto com a obra: “Admirado Beremiz, se leres três páginas por dia, terá consumado a leitura 16 dias mais tarde do que se dedicasse cada dia a cinco páginas. Seja como for, espero o tempo necessário para ter sua opinião”. Antes mesmo de ver o livro, certamente Beremiz soube quantas páginas ele tinha. E você?

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

Hino lançado em 21/1/1890, com o verso “Abre as asas sobre nós”: (a) da Independência (b) da Proclamação da República (c) à Bandeira (d) do Expedicionário Figura central da bandeira mineira, instituída em 8/1/1963: (a) Losango (b) Triângulo (c) Estrela (d) Arco-íris Objetivo da política do Encilhamento, estabelecida em 17/1/1890: (a) Industrialização (b) Importação (c) Repressão (d) Comemoração Sarney lança o Cruzado Novo em 15/1/1988 com o Plano: (a) Novo (b) Janeiro (c) Verão (d) Carnaval Proclamou o “Fico” em 9/1/1822: (a) João 6º (b) Pedro 1º (c) Pedro 2º

(d) Isabel

Casou-se no Cemitério da Consolação, em 5/1/1930: (a) Anita (b) Rita Lee (c) Pagu (d)Leila Diniz

Respostas Romário

Baía que, em 1/1/1502, portugueses pensaram ser um rio: (a) Todos os Santos (b)Guarujá (c) Guanabara (d) Porcos

BRASILIÔMETRO 1d; 2b; 3b; 4a; 5c; 6b; 7c; 8c.

valiação

SE LIGA NA HISTÓRIA 1c (Arrelia); 2d (Carequinha); 3a (Torresmo); 4b (Piolim) ENIGMA FIGURADO Luiz Melodia. O QUE É O QUE É? tv a cabo. CARTA ENIGMÁTICA Juntou-se à turma do amor, do sorriso e da flor dos primeiros passos da bossa nova. (Maysa)

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

ANTÔNIO GAUDÉRIO/FOLHA IMAGEM

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS O livro tem 120 páginas. Para descobrir, basta formular uma expressão numérica de primeiro grau a partir do bilhete do príncipe. Considerando X o número de páginas, temos: (X/5) + 16 = X/3.

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Cor do movimento Diretas Já!, deflagrado em 12/1/1984: (a) Branca (b) Preta (c) Vermelha (d) Amarela

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Conte um ponto por resposta certa

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Há 60 anos, tudo passa pela tevê E Paulo, começava a primeira transmissão

ra 18 de setembro de 1950 quando, num estúdio de São

a tecnologia. “A televisão não dará certo. As pessoas têm de ficar diante de uma tela, e a família não terá tempo para isto”, afirmou um jornal anos antes. Desligada para as críticas, a tevê começou a ganhar espaço nos lares brasileiros. Mudou o rumo da música por meio dos festivais das canções. Fez milhões de pessoas se emocionarem com os capítulos finais de novelas antológicas. Espremeu torcedores de futebol em sofás. Deixou o povo bem informado em momentos fundamentais da política. Ao mesmo tempo, é constantemente criticada por baixar o nível para atrair audiência. Um pequeno aparelho retangular que mudou a forma de o brasileiro ver o mundo. Para o bem e para o mal.

da tevê brasileira. A TV Tupi estava no ar. Estrelas do rádio, músicos e humoristas apresentaram pequenas atrações para celebrar o acontecimento. Um bispo até benzeu as câmeras. O dono da emissora tratou de distribuir aparelhos por pontos estratégicos da cidade, que ficaram rodeados de curiosos. Éramos o quinto país do mundo a ter transmissão diária. No começo, a novidade fez pouca diferença na vida da população. Só as famílias ricas tinham o aparelho em casa. Para agradar os amigos, era comum recebê-los para “sessões de tevê” (sempre à tarde ou à noite, porque não havia programas de manhã). Mas também havia quem torcesse o nariz para

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A tevê diverte e emociona. Mas o aparelho também recebe críticas, inclusive de quem já trabalhou nela. Para o novelista Dias Gomes, “a televisão nada inventou. Ela apenas adicionou imagem à programação criada pelo rádio”. O ator Paulo Autran via pouca qualidade artística na programação: “O teatro é a arte principalmente do ator, o cinema do diretor e a televisão do patrocinador”. Já o escritor Nelson Rodrigues achava que o aparelhinho havia tomado o espaço de velhos costumes, como passar tardes olhando pela janela. Com seu jeito irônico, concluiu: “A televisão matou a janela”.

JÁ PENSOU NISSO?

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Televisão X Janela

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O tatuador tatuado na tevê tatuou a tatua no tatu

Pode acreditar: Sílvio Santos era uma das estrelas da TV Globo em 1969. Aos domingos, o atual dono do SBT ficava oito horas e meia no ar, das 11h30 às 20h. Se ele mantivesse seu programa semanal com o mesmo tempo de duração, teria passado dois anos no ar sem descanso! Isso porque, de lá pra cá, passaram-se 40 anos. Como cada ano tem 52 semanas, Sílvio teria ficado 17.680 horas fazendo suas palhaçadas – o mesmo que dois anos e um mês ininterruptos. É como se você ligasse a tevê hoje e visse o dono do SBT no ar até fevereiro de 2013. E 24 horas por dia!

Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do Almanaque. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você. qual e a

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SoluçÃO na p. 22

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NATIVIDADE

Artesã do tempo No centro do País esconde-se uma joia que artesãos portugueses já descobriram e o Iphan tratou de tombar. Com seus artefatos em filigrana, esculturas em pedra canga e biscoitos que inspiram o amor perfeito,

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Natividade, no Tocantins, busca seu papel no futuro.

ão sete horas da manhã, mas a quentura é de meio-dia. No casarão de esquina, com muitas portas e janelas, em frente à praça da Matriz, paira uma fumaceira sobre o telhado dos velhos tempos. Ela denuncia que a lenha já aquece os fornos. São cinco. Dos grandes. Deles, durante toda a manhã, sairão fornadas do biscoito pequeno com nome e gosto doce: amor perfeito. Na ampla cozinha tomada de aromas, Lívia Cerqueira conta que sua mãe, Ana Benedita, mais conhecida por dona Naninha, aprendeu a receita com a avó Corina. Os ingredientes são produtos frescos da terra: polvilho tão fino quanto talco, manteiga, açúcar, leite de coco. Sovar a massa sem dó é

apenas um dos segredos. Já o sabor, ah, este tem gosto de briga de namorado. Que gosto é esse? Só indo lá provar. O que ninguém explica é por que o biscoito, feito um a um pelas moças especialistas em amor perfeito, ganhou ares reais com seu formato de coroinha. Sabe-se lá se não foi para igualar-se em nobreza às joias produzidas na cidade. Arruando por Natividade, que fica a 218 quilômetros de Palmas, em Tocantins, a viagem vai ficando mais gostosa. Isso porque as ruas criam becos ou atalhos inesperados, abrem-se em espaços harmoniosos ou acolhem em sombreadas pracinhas. Estes espaços, que seguem a topografia dos terrenos, deixando livres


os riachos ou zonas alagadas, diferenciavam Natividade da Mãe de Deus, fundada em 1734, das outras cidades da época colonial. O casario, as igrejas, os vestígios da mineração, as trilhas pavimentadas com pedras, além da paisagem de Natividade, foram tombadas em 1987 pelo Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Filigranas Abraçando a cidade, restaram as montanhas arqueanas, quase tão velhas quanto a própria Terra. A serra é formada por negras pedras canga corroídas pelo tempo – segundo alguns, moradas de seres mitológicos. Nelas também se ocultava o ouro que fez de Natividade um dos mais importantes núcleos de garimpo no início do século 18. Por lá trabalhavam milhares de escravos – há quem diga que eram 40 mil. O ouro era matéria-prima de joias artesanais, confeccionadas segundo a antiga técnica da filigrana. De origem fenícia, foi levada a Portugal e de lá chegou até nós pelas mãos dos colonizadores. Com o tempo, o ouro foi minguando e a ourivesaria nativitana quase desapareceu. Em 1996, com o apoio do programa Monumenta, do Iphan, foram criados cursos de aprendizes dirigidos por mestre Juvenal. Os novos jovens artesãos produzem brincos, anéis e pingentes nos tradicionais formatos de coração, da flor de maracujá, da pombinha do Espírito Santo, além de um peixe maleável conhecido como “peixa”. Recentemente, empresários de Gondomar, o mais importante centro da ourivesaria portuguesa, chegaram a Natividade atraídos pela beleza das peças filigranadas. Valorizaram sobretudo as pulseiras “escravas”, que no passado as mães portuguesas gostavam de usar com tantas voltas quantos fossem seus filhos.

Não deixe de assistir

Estando em Natividade, não perca uma apresentação de Súcia, ou Sussa. Traduzida por bagunça ou zoada, essa ginga mistura ritmos bantos e compassos guaranis ao som do tambor, da viola e do pandeiro. As dançarinas se vestem de branco, com saias rodadas feitas com quatro metros de pano que se agitam para deixar entrever a “calçola” enfeitada com babados. Na alegre dança da jequitaia, um “dá-lhe que dá-lhe” contorcer-se, as mulheres representam a picada dessa formiga que incha, coça, dói e queima ao mesmo tempo.

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Ponto alto do globo A produção de ouro nos arredores da Natividade jamais cessou. E os perigos de sua extração permanecem. Em algumas minas o garimpeiro desce a profundidades de até 90 metros, acocorado em um cesto feito de pneu, preso a uma rudimentar tralha. Depois de encher o cesto de pedras, pede para subir falando em um tubo que fica grudado ao ouvido do trabalhador que opera o guindaste. Outras vozes, desta vez acompanhadas do som de trovões, angustiavam a neta de escravos Romana Pereira da Silva. Ela não entendia o que aquele “quebra-pau no ouvido” queria dizer, até se estabelecer em 1989 em uma fazenda pontilhada de pedras canga. Ali Romana começou a agrupar as pedras dando forma a esculturas e templos que via em sonhos. “Não lido de procurar o que essas peças querem dizer. Só sei que o Brasil é a terra escolhida e Natividade, quando o mundo reencontrar seu equilíbrio, ficará no ponto mais alto do globo. No tempo certo”.

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Preste Atenção

Assim como os olhos são reflexos da alma, portas e janelas mostram o coração das casas. Corra o olhar nos diferentes desenhos, batentes, cores e embelezamentos que os moradores acrescentaram com o tempo nas janelas e portas da cidade. Note como os delicados autorrelevos lembram os arabescos das joias em filigrana. As esculturas em pedra canga de Romana.


Natividade tem mais Casa da Cultura De proporções, portas e janelas diferenciadas, o imóvel se destaca no centro histórico. Construído no fim do século 19, seu telhado, como o da maioria das casas de Natividade, é de serra machado, madeira que se for retirada na lua minguante tem mais durabilidade – pelo menos é o que dizem. Dedicado a nativitana Amália Hermano Teixeira, o casarão é hoje um espaço cultural.

Festa do Divino Espírito Santo Este importante festejo homenageia a terceira pessoa do Espírito Santo. Uma vistosa bandeira vermelha abre o cortejo da solene romaria. Nela, uma pomba é enfeitada com fitas coloridas que representam os sete dons do Divino: Temor de Deus, Piedade, Fortaleza, Ciência, Inteligência, Conselho e Sabedoria.

Prancácio Garboso com seu chapéu de palha bico de jaca que ele mesmo teceu, Prancácio Gonçalves de Carvalho, além de cantar, bate o tambor que acompanha a Sussa. “Não sei de onde meu pai tirou esse nome se ele não sabia letra nenhuma, nem tinha naquela época estrada nenhuma que levasse a canto nenhum. Por isso acredito que não tenho, em todo o Brasil, nenhum xará. Sou o único Prancácio do País, embora todos me chamem de Zé Folgado.”

s e rviç o Onde ficar Hotel Serra Geral Situado no centro histórico, oferece passeios pelos arredores da cidade. Fone: (63) 3372-1160. www.hotelserrageral.com.br

Onde comer Casa de Dona Naninha Mais do que uma fabriqueta de biscoitos, o lugar situado na praça da Matriz é uma das principais atrações turísticas da cidade.

Restaurante Serra Geral Com cozinha regional e internacional, o restaurante do hotel Serra Geral é uma boa opção para os visitantes.

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FRANGO CAIPIRA COM ANGU

Debaixo desse angu tem carne Quem pensa que fazemos polenta apenas desde a chegada dos imigrantes italianos, se engana. Com nome de angu, há tempos essa delícia é apreciada por aqui. Escravos tinham que comer puro, mas o bom mesmo é combiná-lo com os nutrientes e sabor do frango caipira cozido.

Como fazer Ingredientes para o frango Um frango caipira em pedaços Um dente de alho Um tomate Uma cebola Uma pitada de açúcar Cebolinha, salsinha e sal a gosto Óleo para refogar Ingredientes para o angu 2 copos de fubá 4 copos de água Sal a gosto

Modo de preparo do frango Em uma panela, refogue o alho em óleo quente. Acrescente o frango em pedaços, o tomate picado e a cebolinha. Coloque um pouquinho de água e deixe cozinhar em fogo baixo, mexendo sempre. Tempere com sal e adicione a cebola e a salsinha picadas. Coloque também uma pitada de açúcar, para dar cor e sabor. Modo de preparo do angu Prepare o angu com antecedência, pois demora mais para cozer. Basta misturar o fubá com água em uma panela, adicionar sal a gosto, deixar descansar por 10 minutos e depois cozinhar em fogo baixo. É preciso mexer o tempo todo, até engrossar. Leva aproximadamente 40 minutos. Se preferir usar a farinha de fubá pré-cozida, o tempo de cozimento é de 15 a 20 minutos.

REPRODUÇÃO/AB

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No Brasil, o prato conquistou maior espaço nas culinárias paulista e mineira: “Creio que os antigos paulistas eram comedores de farinha de milho e angu, e até onde eles foram encontra-se monjolo e roda de fubá.”, constatou um geógrafo francês viajando pelo Brasil em 1900. Na sua carta, Derby também reconhece a importância do alimento na mesa de pobres e ricos, sem distinção: “Ricos e pobres preparam a farinha de milho socando no monjolo, depois de macerados os grãos, assando depois a massa num forno”. Hoje nem precisamos de tanto trabalho. Apesar de um bom angu sem pelotas exigir paciência e esmero do cozinheiro, a farinha já está pronta e ensacada na prateleira dos supermercados. Até a versão pré-cozida pode ser facilmente encontrada. Carne de porco, boi ou frango completam a refeição – apesar de renegada aos escravos pelos senhores, que desconfiavam das cozinheiras: “debaixo desse angu tem carne”. Sugerimos a opção com frango caipira, delícia da gastronomia típica. REPRODUÇÃO/AB

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á quem prefira chamar de polenta. A diferença? Nenhuma. O angu é um prato tão elementar que foi desenvolvido em várias sociedades – enquanto na região da Itália o denominaram polenta, por aqui disseminou-se a palavra de origem africana. Por isso não é verdade que foram os imigrantes italianos que introduziram o prato em nossa cultura. Talvez eles tenham ajudado a propagar e manter o preparo nos cardápios, mas a própria receita praticada na Europa é que teve influência americana. Essa espécie de pirão fazia parte da base da alimentação no Império Romano. Consistia, porém, num preparo de aveia ou farinha de trigo engrossada. Os europeus só conheceram o milho – e, consequentemente, o fubá – depois que pisaram na América. A polenta então passou a ser feita dessa farinha, assim como o angu continuou sendo feito por aqui. Apesar de ser a versão mais popular, encontra-se também angu de mandioca ou de arroz.


por Lourenço Diaféria

A VIDA SÃO MAGIAS

P

eço licença para voltar a escrever sobre mágicos. Não se trata de falta de assunto. Já lhes contei o caso, real, de um rapaz (então rapaz) especialista na arte de criar a realidade aparente com truques da vida. A princípio, tratava-se quase de um divertimento. O moço decidiu então mudar de vida, não exatamente de destino. Passou a especializar-se em truques com cigarros, fazer desaparecer lenços, gravatas e, depois, cartolas. Um belo dia descobriu ser capaz de apaixonar-se amavelmente por uma moça. Formaram um par bonito, contraíram núpcias, arrumaram vaga num navio que fazia o litoral. Fizeram um sucesso esplendoroso, tiveram uma filha graciosa, ganharam um senhor dinheiro, progrediram artisticamente. Viveram felizes durante vários anos. Evidentemente, não sei contar o resto da história. Perdi-os de vista. Narro o caso para lembrar que ser mágico é uma atividade essencialmente masculina. Não conheço mulher mágica profissional ou amadora, embora, como é sabido, mulher se preste muito a prestidigitações afetivas. Apenas queria afirmar que mulher, de modo geral, dificilmente opta pela profissão de mágica. Mulher prefere ser jogadora de futebol, boxeadora, pilota de helicóptero, médica, enfermeira, política da situação ou da oposição, ministra dos transportes, conselheira sentimental, orientadora de mapas astrais, etcetera e tal. A propósito de profissões, uma das minhas muitas grosseiras ignorâncias é não saber consertar pneu de automó-

vel ou bicicleta. Ao viajar, me assombra a aflição de que por um incidente inesperado me veja com pneu baixo, arreado. Um progresso da modernidade é o pneu sem câmara. Por mim, não faço a menor questão de bomba atômica ou de hidrogênio. Não ligo a mínima para aviões teco-teco. Sei que são progressos da ciência. O que me apavora é pneu arreado em rodovia. Penso que toda mulher, solteira, casada ou nem tanto, independente de sua beleza e inteligência, deveria passar por um curso de formação de habilidades técnicas a serviço do elemento masculino. Mas não me tomem como machista. Prossigo defendendo a obrigação de se tirar o chapéu diante de mulher feia, bonita ou mais ou menos, em qualquer circunstância da vida cotidiana. Me desculpem se estou fugindo do assunto. Porém, jamais vi ou comprovei, ao vivo, mulher que soubesse fazer mágicas, profissionalmente falando. Em geral, toda mulher faz mágicas na vida. Só que as mágicas femininas passam desapercebidas. No fundo, mágica termina em ilusionismo, tapeação, conversa mole. Já a vida não tem sempre luzes alegres. É o caso da parturiente pobre levada às pressas a um hospital popular. Deu à luz um bebê no mármore gelado, por sorte desocupado. Não se divulgaram nomes, endereço, lembrança de padrinhos, a saúde, opiniões, árvore genealógica, nem o destino de ninguém dos desinteressados. Não se ficou sabendo nada sobre o mágico, ou mágica. Apenas informou-se que o guri nasceu vivo. É o que interessa na história.

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manga Mangifera indica, L.

Gostosura dos trópicos Pura tentação: perfumosa, suculenta, saborosa. Digestiva. Depurativa. Fortificante. Indianos, primeiros a deleitar-se com a manga, a consideraram fruta destinada aos deuses. Ao chegar aqui no fim do século 17, a tropical mangueira sentiu-se em casa.

C 30

omo resistir à sedutora fruta? A forma ovoide que enche a mão; a maciez da casca – amarela, ou rosa, vermelha, verde-escuro com pintas pretas; cheiro e sabor qual nenhuma outra. E a polpa carnuda, que a gente denta, e o sumo escorre boca adentro e boca afora e pelos dedos. Só quem já se atracou com a fruta da mangueira sabe. E feliz a criança que pode chupar manga no pé. A mangueira adora sol e detesta frio. Frequentemente passa dos 15 metros e pode atingir 50 metros – altura de um prédio de 16 andares. A copa chega a abarcar 20 metros de diâmetro, fornecendo sombra permanente, pois tem folhas o tempo todo. As perfumadas florzinhas vão do branco ou amarelo-esverdeado ao cor-de-rosa, agrupadas em cachos. A polinização é feita por insetos, pelo vento ou por autopolinização. Pertence à família das anacardiáceas, de árvores poderosas, como pau-ferro, aroeira, cajueiro. Não faz luxo para nascer. Dois caroços que atiramos a esmo no fundo de nosso quintal, num trecho de mata nativa, de repente nos surpreenderam com duas arvoretas, agora com seus seis anos e mais de dois metros de altura. A palavra manga vem de mankay, do tâmil, língua do sul da

Índia, lugar de origem da Mangifera indica, na classificação do botânico sueco Lineu (17071778). Ela é “alguns aninhos” mais velha que nós: quando o Homo sapiens surge neste planeta 250 mil anos atrás, a mangueira já existe há pelo menos 25 milhões de anos. Na Índia a consideram sagrada; no Natal, indianos cristãos – como fazemos no ocidente com os pinheiros – decoram as mangueiras. Também enfeitam as casas com suas folhas. Foram os portugueses que, durante o ciclo das navegações, espalharam a manga pelas regiões tropicais de todo o planeta. A fruta fresca mais consumida no mundo chega ao Brasil em 1699, “importada das Índias” direto para Salvador, informa Câmara Cascudo, que arremata: “Começariam então os plantios nos quintais”. O historiador Pio Corrêa anota que a mangueira foi “a árvore asiática que melhor se adaptou ao clima brasileiro”. Das mais de 500 variedades, cultivamos uma dezena, como as populares espada, rosa, bourbon, coração-de-boi. Hoje o Brasil é um dos 10 maiores produtores do mundo. Tal como a banana, “yes, nós temos manga, manga pra dar e vender”. E um dos maiores compradores, veja só, é quem a trouxe para cá: Portugal.


A gente se lambuza, mas

Iolanda Huzak

REPRODUÇÃO/AB

também pode não se lambuzar

E

m português, a menção mais antiga data de 1537. Em Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia, o naturalista português Garcia da Orta elogia a fruta e lista vários jeitos de consumir: “Em conserva de açucare, em conserva de vinagre, em azeite e sal; recheadas dentro com gengivre verde e alhos; salgadas, cozidas; e de todas estas maneiras as vistes já, e provastes nesta caza”. O brasileiro em geral come ao natural – é o melhor, mas não sabe o que perde por não experimentar doutras mil formas.

O homem que transformou Belém na

Cidade das Mangueiras

Ah, se sinhozinho soubesse Iolanda Huzak

Manga é rica nas vitaminas: A, boa para pele e dentes, e antiinfecciosa; C, que ajuda a absorver ferro – a manga tem tanto, que a indicam contra anemia e para as grávidas. Seu potássio e seu magnésio combatem cãibras e cansaço. É digestiva, depura o sangue, fortalece o coração e, expectorante, combinada com mel em xarope, trata bronquites rebeldes. No Brasil colonial, senhores de engenho inventaram que manga com leite mata, para ficar com o leite; e os escravos, com a manga. Sorte dos negros.

B

elém, no fim do século 19, teve um prefeito peculiar, Antônio José de Lemos. Truculento, mas moderno: inaugurou a energia elétrica no País, pôs em praça pública espetáculos europeus e arborizou as ruas com pés de manga. Às vezes uma cai na cabeça de alguém, como aconteceu com o jornalista paraense Palmério Dória, nosso amigo: “A sensação é desconcertante”, diz ele, sem atinar que, via oral, manga faz bem ao cérebro. Quiseram substituir as mangueiras por oitis, de frutos pequenos. Houve tal grita, liderada pela intelectual Eneida de Moraes, que “a ideia de jerico gorou”. Comenta Palmério que as mangueiras refrescam a cidade e ajudam os pobres. Armam traquitanas de bambu, colhem as mangas e saem vendendo. Pena que os prefeitos de hoje não plantem frutíferas, como fez Lemos. Que nem viu as mangueiras frutificar. Em 1911, deposto e arrastado por inimigos pelas ruas, safou-se e “exilou-se” no Rio, onde morreu no ano seguinte. Seria depois “anistiado” e seus restos mortais trasladados para Belém.

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Corrida no interior Um rapaz acaba de comprar uma Ferrari novinha. Para estrear, sai estrada afora. A certo momento, avista uma carroça sendo puxada por um caipira. Ele engata a terceira, passa rente à carroça e acelera. Mas, ao olhar pelo retrovisor, percebe que a carroça continua próxima à traseira do carrão. Põe quarta marcha e acelera mais. Mal acredita no que vê: o capiau continua na sua cola. Abobado, abre o vidro e vira a cabeça pra trás, curioso. O caipira berra: – Moço, o senhor pode, pelo amor de Deus, desenroscar o meu suspensório da sua antena?

Solidariedade O sujeito bate à porta de uma casa: – O senhor poderia contribuir com o Lar dos Idosos? – Claro que posso! Espere um pouco que vou buscar a minha sogra.

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Sorte

Uma de cada vez Juquinha chega em casa animado após o primeiro dia no jardim de infância: – Hoje a professora ensinou qual é a mão direita! – Muito bem, e qual é? Ele mostra e o pai pede: – Agora, mostre a esquerda. –Ah, isso ela só vai ensinar amanhã.

Bêbado herege O bêbado entra na igreja, agarra o sacristão pelo braço e grita: − Me vê uma pinga! − Aqui não vendemos pinga, meu senhor. − Então, me dá um conhaque. − Também não temos conhaque. − Como não tem? Afinal, que tipo de bar é esse? − Isso aqui não é um bar, é uma igreja! − Ah... Então me dá um São Remy!

O caipira vê uma máquina de refrigerante e fica maravilhado. Coloca uma fichinha e cai uma latinha. Coloca duas fichinhas e caem duas latinhas. Coloca 10 fichinhas e caem 10 latinhas. Ele vai ao caixa e pede 50 fichas: – Desse jeito o senhor vai acabar com as minhas fichas. – Desculpa moço, mas é que eu não consigo parar enquanto estou ganhando...

Garanhão No baile de carnaval, o sujeito conta vantagem ao amigo: – Cara, tirando minhas cinco irmãs, já saí com todas as mulheres deste baile. – Então somos uma bela dupla! – Por quê? – É que nós dois, juntos, já saímos com todas as mulheres do baile.

Precisão Ponto de vista Os dois tomam cerveja no barzinho. Ela reconhece alguém: – Está vendo aquele cara ali tomando uísque? Me separei dele há dez anos. Nunca mais parou de beber. – Duvido! Ninguém consegue ficar tanto tempo comemorando.

– Juquinha, o que você está estudando? – Geografia, mamãe. – Então me responda: onde fica a Inglaterra? – Humm… Na página 83! .

Cópia quase fiel A professora chama a mãe do Juquinha e reclama que ele colou toda a prova de história do colega. – Deve ser um engano – diz a mãe. – Aqui está: “Duque de Caxias proclamou a República”, no teste do colega e no teste do Juquinha. “Pedro 2º proclamou a Independência”, nos dois testes. – Mas isso não quer dizer nada... – E a última questão: “Quem assinou a Lei Áurea?” “Não sei”, respondeu o colega. E o Juquinha: “Nem eu.”


Falta de ar O caipira teve de voar para a capital. O avião sobe e ele fica roxo. A aeromoça pergunta: – O que foi, senhor? Falta de ar? E ele: – Não, dona. É farta de terra.

Preço não se discute Na loja de aves, um interessado pergunta: – Quanto custa o papagaio da esquerda? – 400 reais. – Nossa, por que tão caro? – Ele sabe operar computador. – Ah! E o da direita? – 800, porque domina Windows e Macintosh. – E o do meio? – Esse custa 1500 reais. – Uau! O que ele sabe fazer? – Eu nunca vi ele fazer nada. Mas os outros só o chamam de chefe.

Memória fraca Duas senhorinhas tomam chá da tarde: – Acho que estou ficando esclerosada. Ontem, me peguei com a vassoura na mão e não lembrava se já tinha varrido a casa ou não. – Isso não é nada. Outro dia me vi de camisola e não sabia se tinha acabado de acordar ou estava indo dormir. – Deus me livre ficar assim, bate na madeira – diz a outra, dando três batidas na mesa: toctoc-toc. Olha para trás e emenda: – Esperem que já volto, bateram na porta.

33

E a ortografia, então?

O

Tadeu, cabôco lá da fazenda do cumpade Plácido, vai à cidade, mais especificamente no cartório do doutor Rubens, que era quem registrava a gente quando do nosso nascimento, e trava com ele um diálogo suplicante: – Dotô Rubi, eu vim aqui pedi pro sinhô ficá com o meu fío, o Juquinha. Pro sinhô, de papér passado e tudo. Nóis num queremo que ele cresce inguinorante quiném nóis da roça. O sinhô põe ele trabaiando aqui, ensina os ofício e, quem sabe um dia, ele num vai sê um juiz tão bão como o sinhô? Doutor Rubens só escutando, pacientemente, como era seu costume. O Tadeu continua: – Ele é esperto, dotô. É forte de saúde. Qué dizê, ele tem

uma mardita dor de cabeça lá na cabeça dele, mas isso num é nada. Nóis uma vez pensêmo que fosse os aire do sóli, mas que nada. Levêmo ele no benzedô, ele cortô cum a tizôra e num adiantô nada. Depois nóis levêmo ele pra Reberão Prêto. O dotô tirô uma geografia da cabeça dele e num saiu nada nos retrato. Qué dizê, por isso e mais aquilo, nóis acha que a tar dor é farta do quê fazê. Falando nisso Minha mãe, a querida dona Alzira, quando tirava eletrocardiograma pra ver seu coraçãozinho, costumava me mandar o recado: – Meu fío, meu coração tá bão. Inda nessa semana, eu fiz o elétrico, e num deu nada.


Minha vida melhorou depois de tudo que passei Por José Dias Pereira

34

E

u me lembro muito bem do dia

fundamental. Minha mulher me acom-

em que recebi o diagnóstico de

panhava nas sessões de radioteraria,

que estava com câncer. Era 2001 e já esta-

esperava a sessão acabar e voltava para

va desconfiado de ter a doença, pois sentia

Getulina. Ela foi muito carinhosa comi-

dores do lado esquerdo do rosto e incô-

go. Mas não só ela. Toda a minha família

modos na garganta. Resolvi me consultar

ficou ao meu lado, me ajudou, pois pre-

com um médico da minha cidade, Getuli-

cisei me aposentar para seguir o trata-

na, no interior de São Paulo, que me enca-

mento. Também não posso esquecer da

minhou para o Hospital Amaral Carvalho, em Jaú. Na instituição,

Liga Getulinense de Combate ao Câncer, que me apoiou incondi-

me deram a notícia do tumor de laringe e de outras complicações

cionalmente em tudo que precisei. E, claro, do doutor João Fanton,

vindas da doença. Quando o médico me disse que eu poderia não

do Hospital Amaral Carvalho. Com a ajuda de todos, saí totalmente

falar mais, perdi os sentidos e desmaiei. Como ficar sem falar?

recuperado do tratamento.

Esse momento foi o mais complicado. Mas depois me acalmei e

É óbvio que a doença é dura, mas sinto que a minha vida melhorou

soube lidar com serenidade com a situação. Segui o tratamento

depois de passar por tudo o que passei. Parei de fumar e de beber

à risca. As sessões de radioterapia eram incômodas, mas por sorte

por recomendação médica. Uma bela mudança de vida. Também

precisei fazer menos do que as 35 previstas inicialmente. Só me

aprendi a aproveitar os momentos ao lado da família com mais de-

alimentava por sonda. Mas não foi tão ruim quanto pode parecer.

dicação. Hoje, minha vida é feita só de alegrias.

Eu confiava muito em Deus. Me apoiei na fé para lidar com o trata-

Eu digo para todos que passam por problemas parecidos que fiquem

mento e não fiquei abalado. Às vezes, chorava muito, mas também

calmo, procurem o tratamento adequado e os resultados aparece-

tinha momentos de grande alegria.

rão. Quando o diagnóstico surge, dá uma sensação de que tudo está

Como Getulina fica a mais de três horas de Jaú, ia segunda-feira

perdido. Nada disso. Tendo fé e fazendo o tratamento certo, tudo é

para o hospital e só voltava na sexta. Na cidade, ficava na Casa de

possível. Hoje, graças a Deus, tenho uma vida saudável, curto meus

Apoio, onde fui muito bem tratado. A ajuda que recebi de todos foi

filhos, netos e esposa e vejo a vida com leveza e otimismo.




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