Revista Combustíveis & Conveniência Ed.100

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ÍNDICE 33 n Reportagem de Capa

n Na Prática

42 • Que crise?

34 • Não seja a próxima vítima! 37 • Extensão das dúvidas n Meio Ambiente

48 • O risco pode estar sob seus pés n Revenda em Ação

56 • Novos cenários para a revenda n Conveniência

52 • Fim de ano: ainda dá tempo de preparar a loja n Entrevista

12 • Ricardo Amorim, economista e presidente da Ricam Consultoria

n Mercado

20 • Projeções e expectativas 22 • Em busca de melhores resultados 24 • Fiscalização mais flexível 26 • Sim, temos problemas n Especial 10 Anos

19 • Paulo Miranda

59 • Perguntas e Respostas

32 • Roberto Fregonese

60 • Atuação Sindical

40 • Jurídico

66 • Crônica

Deborah dos Anjos

55 • Conveniência Ricardo Guimarães

4TABELAS

04 • Virou Notícia

4OPINIÃO

4SEÇÕES

28 • Chegamos à 100ª edição!

62 • Evolução dos Preços do Etanol 63 • Comparativo das Margens e Preços dos Combustíveis 64 • Formação de Preços 65 • Preços das Distribuidoras Combustíveis & Conveniência • 3


44 VIROU NOTÍCIA

Anidrização da produção O etanol vai continuar caro, enquanto as usinas ampliam sua capacidade de produção, desenvolvem fertilidade de solo e novas variedades de cana, para compensar os maiores custos de produção. Até lá, a expectativa é de que as empresas foquem na flexibilização da produção, tanto para permitir produzir açúcar ou etanol, quanto para desidratar o hidratado e produzir mais anidro, que tem mercado cativo. A previsão é de Plínio Nastari, presidente da Datagro.

e Serviços (ICMS) das importações de etanol anidro (usado na mistura da gasolina) durante o período de 1º de outubro a 31 de maio de 2012. O decreto nº 57.395, publicado no Diário Oficial de 5 de outubro, estabelece que “o lançamento do imposto incidente no desembaraço aduaneiro de etanol anidro combustível, quando a importação for efetuada por fabricante de etanol, cooperativa de fabricantes de etanol ou empresa comercializadora de

etanol, nos termos definidos em legislação federal, fica diferido para o momento em que ocorrer a saída da gasolina resultante da mistura com o etanol anidro combustível, promovida pelo distribuidor de combustíveis”. A medida tem a finalidade de manter o equilíbrio de toda a cadeia do setor de combustíveis e evitar os efeitos da entressafra da cana, que ocorre no período de dezembro a abril, sobre o abastecimento e os preços.

DE OLHO NA ECONOMIA É quanto a Petrobras tem importado de gasolina diariamente para dar conta da crescente demanda pelo produto, em meio à falta de competitividade do etanol. No ano passado, a média era de 9 mil barris por dia importados de gasolina.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, prorrogou o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias 4 • Combustíveis & Conveniência

10% Foi o reajuste anunciado pela Petrobras para o preço da gasolina, a partir de 1o de novembro. Para o diesel, a elevação foi de 2%.

5,5 milhões de m3

Divulgação Volvo

Essa é a demanda prevista pela Petrobras para o S50 em 2012, quando começam a rodar os veículos com motor Euro 5, que só podem usar o diesel de baixo teor de enxofre. Atualmente, o consumo nacional está em 3 milhões de m3, supridos com produção própria e importação.

60% É a participação estimada pela Petrobras para o S10 em 2020. A partir de 2014, o mercado automotivo contará apenas com dois tipos de diesel: o S10 e o S500.

Agência Petrobras

Importações de etanol

Stock

32 mil barris

Cansados de esperar por um novo marco regulatório, os produtores de biodiesel lançaram, em meados de outubro, a Frente Parlamentar em Defesa do Biodiesel, presidida pelo deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) e já contabilizando 270 parlamentares. Se por um lado isso significa que vão aumentar as pressões por elevações na mistura, por outro, já pode ser percebida uma alteração no tom dos discursos dos produtores, que agora pregam maior diálogo com toda a cadeia e união de esforços para superar os problemas que hoje entravam a evolução do programa. Uma excelente notícia, após mais de um ano de disputas acirradas. A mudança vem após o governo sinalizar que não pretende aumentar a mistura, enquanto persistirem os problemas de qualidade e o preço bem acima do diesel mineral.

Unica

Por um novo marco


As montadoras apostavam na corrida às compras, já que os preços vão subir de 8% a 15% com a introdução de motores Euro 5, que atendem aos limites de emissões do Proconve P7, em vigor a partir de janeiro. Por isso, confiantes neste cenário, as empresas aceleraram as linhas de montagem, fazendo também algum estoque de modelos Euro 3. Agora, no entanto, surgem dúvidas sobre a velocidade de venda destes veículos, o que deve interferir também no novo ritmo de produção até o fim de dezembro. Em setembro, os emplacamentos de caminhões somaram 14.945 unidades, recuo de 9,11% ante agosto. Em relação ao mesmo mês de 2010, ocorreu avanço de 13,01%. O setor busca algumas alternativas para estimular o consumo. Entre elas, as montadoras defendem a adoção de medidas como o Finame Verde, com taxas de 4,5%, equivalentes às do Pro-Caminhoneiro PSI, para estimular o cliente a comprar veículos Euro 5.

Impasse A Comissão de Defesa do Consumidor rejeitou o Projeto de Lei 602/11, do deputado Laércio Oliveira (PR-SE). O projeto permite aos postos recarregarem botijões de GLP. O relator, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), argumenta que essa proposta fere os direitos do consumidor, já que aumenta riscos e custos.

Divulgação BSBIOS

Divulgação MAN

Vendas de caminhões em baixa

Ping-Pong

Erasmo Carlos Battistella

Diretor-presidente da BSBIOS, presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel (Aprobio) e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Canola (Abrascanola).

Houve uma mudança na postura dos produtores na forma de lidar com os atuais problemas relacionados ao biodiesel? A visão da Aprobio é de que precisamos prezar pela qualidade do produto ao longo da cadeia como um todo. Apoiamos as medidas propostas pela ANP para melhoria de qualidade no que diz respeito ao B100, porém, defendemos que essa qualidade tem que se estender pela cadeia como um todo: o biodiesel saia especificado da nossa indústria, passe pela logística e distribuição, mantendo sua especificação, e chegue aos postos dentro da especificação, sem causar problema para a revenda. A ideia é estreitar o diálogo com a revenda? Com certeza. A indústria produtora de biodiesel no Brasil quer e está se colocando muito próxima da distribuição e revenda, assim como se coloca com a outra ponta, que é a produção de matériaprima, para que a gente esteja alinhado na estratégia e, juntamente com o governo, possamos traçar novos rumos para o mercado de biodiesel no Brasil. Qual a avaliação das mudanças sugeridas pela ANP para a especificação? Só em dois pontos pedimos para a Agência analisar até onde realmente precisamos ir. No que tange ao percentual de água no biodiesel, cujo limite atual no Brasil é de 500 ppm e a proposta da nova especificação é de 200 ppm. Estamos propondo uma fase intermediária de 350 ppm, para ver se, dessa forma, conseguimos atender às necessidades. Outro item é uma tabela que foi sugerida para o ponto de entupimento, para a qual estamos defendendo algumas temperaturas superiores, porque acreditamos que há uma limitação de disponibilidade de matéria-prima. Diante dessas discussões, quando e para quanto o senhor acredita que poderia se pensar em elevação da mistura? Se nós superarmos esses gargalos, para dar conforto a toda a cadeia, sob o ponto de vista de disponibilidade de matéria-prima e industrial, poderíamos elevar agora o percentual. Mas achamos importante que se desenhe um marco regulatório, não somente com o objetivo de aumentar percentual nesse momento, mas que nos dê um horizonte como cadeia do que vai ser o biodiesel no longo prazo. Para que a agricultura, os produtores e a cadeia de distribuição e revenda possam se preparar para esses novos percentuais de mistura.

Combustíveis & Conveniência • 5


44 VIROU NOTÍCIA

Nova especificação

ALE em expansão

Arla-32 chegando

Quarta maior distribuidora do país, a ALE planeja a ampliação de sua rede de postos. A ideia é acrescentar 200 novos estabelecimentos por ano à rede, que já soma 1.700 postos em 25 estados e o Distrito Federal – 4,5% do total do país. A estratégia de crescimento se baseia principalmente na incorporação de postos bandeira branca.

Quem foi à Fenatran – 18º Salão Internacional do Transporte–, que ocorreu em outubro, em São Paulo, pode conferir não somente os veículos novos, com motor Euro 5, mas também os diversos recipientes com arla-32, que será utilizado em tanque próprio nos veículos pesados. A Shell lançou o Evolux e a BR, o Flua. Ambos serão vendidos inicialmente em bombonas específicas para o produto. A expectativa no setor é que, à medida que o consumo cresça, a comercialização de arla-32 passará a ser feita a granel. Alguns produtos virão também com a denominação AdBlue, nome que será utilizado na Argentina, que deve adotar em breve também o diesel com baixo teor de enxofre.

A companhia pretende fortalecer sua presença especialmente em São Paulo, onde conta com 200 postos, que significam 1,5% do mercado local. Em outros mercados, a presença da ALE é mais forte. Em Santa Catarina, por exemplo, a empresa tem 15% de toda a rede de revendas. Em Minas Gerais, a distribuidora tem 10% de participação no mercado local. Para isso, a empresa está investindo R$ 115 milhões em 2011, e avalia incrementar esses recursos no ano que vem.

Mais rigor O governador Geraldo Alckmin sancionou em outubro lei estadual que proíbe os estabelecimentos comerciais do estado de São Paulo de venderem, fornecerem, oferecerem e permitirem o consumo de bebidas alcoólicas por jovens menores de idade. A medida também vale para lojas de conveniência, que deverão expor as bebidas em espaço separado de outros produtos, com sinalização específica sobre a lei.

No Pólo Sul Agência Petrobras

6 • Combustíveis & Conveniência

Petrobras, Vale Soluções em Energia e Marinha do Brasil se uniram em projeto pioneiro para a produção de energia elétrica limpa a partir de motogeradores movidos a etanol, na Estação Antártica Comandante Ferraz. A Petrobras fornecerá os 350 mil litros do combustível para a operação e a utilização nas baixas temperaturas será validada por acompanhamento tecnológico. A parceria da estatal com a Marinha existe há quase trinta anos e o objetivo do projeto é reforçar sua atuação de vanguarda no uso do etanol para produção de energia elétrica.

Stock

A ANP espera colocar em consulta pública ainda este ano a minuta que irá estabelecer a nova especificação do biodiesel. Após debates iniciais um pouco tensos, parece que finalmente está se chegando a um meio termo entre o endurecimento das exigências e as demandas dos produtores. Em relação ao teor de água, um dos pontos mais polêmicos, a expectativa é reduzir o limite máximo permitido para 350 ppm, ante os atuais 500 ppm, evoluindo depois para os 200 ppm inicialmente previstos pela ANP. Como o S10 exige limite de 200 ppm, a expectativa é de que a especificação chegue a esse valor até janeiro de 2013, quando o novo diesel será introduzido no Brasil.


Punição adiada A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) postergou para janeiro a aplicação de punição para quem utilizar a carta-frete, o que deveria ter começado em outubro. De acordo com publicação no Diário Oficial da União, no dia 21 de outubro, a ANTT alterou o artigo 34 da Resolução nº 3.658/11, determinando que a fiscalização, nos primeiros 270 dias a partir da vigência desta Resolução, terá fins educativos, sem a aplicação das sanções previstas nesta Resolução. Segundo as novas regras, o contratante que usar carta-frete será multado em 50% do valor total de cada frete irregularmente pago, com valor mínimo de R$ 550 e máximo de R$ 10,5 mil. O texto prevê, ainda, multa para quem realizar deságio no frete ou cobrança de valor para efetivar os devidos créditos. O transportador autônomo que permitir o uso da carta-frete também será punido com multa de R$ 550 e poderá ter seu Registro Nacional de Transportador Rodoviário de Cargas (RNTRC) cancelado.

Sinal amarelo São crescentes as preocupações da Petrobras, distribuição e revenda com a chegada do S10. Como o produto é altamente suscetível à contaminação, os primeiros testes têm mostrado que vai ser muito difícil garantir que o diesel chegue ao tanque dos consumidores com 10 partes por milhão de enxofre, como prevê o acordo judicial que antecipou a chegada do Proconve 7. Sem ter como verificar o teor de enxofre na hora do recebimento do combustível, teme-se que, mais uma vez, sobre para a revenda de combustíveis pagar a conta desse problema. A ANP já prometeu montar um grupo de estudos para achar uma solução sobre a questão.

PELO MUNDO

por Antônio Gregório Goidanich

Argentina Com a constante escassez de produtos derivados de petróleo, as vendas através de cartões de crédito têm diminuído sensivelmente. Os revendedores venderão o produto que tiverem sempre e preferem fazê-lo à vista e em dinheiro, sem incorrer nos custos e prazos dos cartões.

México O órgão governamental mexicano equivalente a nossa Receita Federal tem se empenhado em obrigar a que todas as vendas feitas nos postos de gasolina, combustíveis ou non-oil, sejam pagas através de meios eletrônicos que permitam rastreamento - cartões de crédito, de preferência.

Costa Rica Neste pequeno país da América Central, o mercado de combustíveis segue totalmente controlado, não existindo a atividade de “distribuição”. A Refinaria Costarriquense de Petróleo (Recope) vende diretamente aos postos de serviços. Os cartões de crédito cobram taxa de 1% do revendedor e depositam o dinheiro diariamente.

Uruguai No mercado totalmente controlado pela Ente Nacional ANCAP (Abastecedora Nacional de Combustíveis Álcool) e Portland (cimento), a margem de revenda (estabelecida pelo governo) prevê a remuneração das despesas dos postos com os cartões de crédito. Para efeitos do cálculo da Paramétrica, é presumido que 20% das vendas do varejo de combustíveis sejam feitas com cartões.

Colômbia A adição de biodiesel de palma africana (algo semelhante ao dendê) foi iniciada no país pela Empresa Colombiana de

Petroleo (Ecopetrol), estatal equivalente à Petrobras de alguns anos, que fornece os combustíveis para o mercado.

Polônia O organismo estatal encarregado da defesa da concorrência aprovou margens para as duas companhias estatais de logística, o operador de oleodutos PERN e a operadora de terminais e armazenamento OLPP.

Honduras A legislação hondurenha passou a reconhecer o direito dos revendedores de receber das distribuidoras o diferencial de temperatura, o internacionalmente conhecido 60 fahrenheit (15 graus centígrados). Parece ser um caso único no mundo.

Lituânia Como forma de combater a enorme depressão da economia, que impactou brutalmente as vendas de combustíveis, o governo isentou o diesel de taxas e impostos, o que causou um turismo do diesel local às repúblicas vizinhas.

Eslovênia Este pequeno país da antiga Iugoslávia segue com intensa política de redução das emissões de carbono. São dados incentivos econômicos à troca para veículos menos poluentes.

Inglaterra O governo de sua majestade segue na intenção de estabelecer um esquema de cobrança de impostos através da gravação de milhas percorridas pelos veículos a ser feita por meio de controle dos pagamentos eletrônicos. Apesar de o governo afirmar que deverá substituir os impostos sobre combustíveis e pedágios, está sendo considerado um novo imposto e sendo combatido pelas organizações civis. Combustíveis & Conveniência • 7


CARTA AO LEITOR 44 Morgana Campos

A Fecombustíveis representa nacionalmente 34 sindicatos e a Fergás, defendendo os interesses legítimos de quase 38 mil postos de serviços, 370 TRRs e cerca de 40 mil revendedores de GLP, além da revenda de lubrificantes. Nossa missão é acompanhar o mercado de revenda de combustíveis com a meta de fomentar o desenvolvimento econômico e social do setor, contribuindo assim para melhor qualidade de vida da nação. Tiragem: 25 mil exemplares Auditada pelo Presidente: Paulo Miranda Soares Presidente de Honra: Gil Siuffo 1º Vice-Presidente: Roberto Fregonese 2º Vice-Presidente: Mário Luiz P. Melo 3º Vice-Presidente: Walter Tannus Freitas 4º Vice-Presidente: Adão Oliveira da Silva 5º Vice-Presidente: José Carlos Ulhôa Fonseca 6º Vice-Presidente: Maria Aparecida Siuffo Schneider 1º Secretário: José Camargo Hernandes 2º Secretário: José Augusto Melo Costa 3º Secretário: Emilio Roberto C. Martins 1º Tesoureiro: Ricardo Lisboa Vianna 2º Tesoureiro: Manuel Fonseca da Costa 3° Tesoureiro: Mário Duarte Conselheira Fiscal Efetiva: Maria da Penha Amorim Shalders Conselheiro Fiscal Efetivo: Flávio Henrique B. Andrade Conselheiro Fiscal Efetivo: Luiz Felipe Moura Pinto Diretor de TRR: Álvaro Rodrigues Antunes de Faria Diretor de GLP: Álvaro Chagas Diretor de Postos de Rodovia: Ricardo Hashimoto Diretor de Meio Ambiente: João Batista Porto Cursino de Moura Diretor de GNV: Gustavo Sobral de Almeida Diretoria: Aldo Locatelli, Alírio José Gonçalves, Álvaro P.Chagas, Álvaro Rodrigues A.Faria, Carlos Henrique R.Toledo, Dilleno de Jesus T. da Silva, Eliane Maria de F. Gomes, Flavio Martini S.Campos, João Batista P.C.Moura, João Victor C.R.Renaut, José Vasconcelos da R. Junior, Mário Shiraishi, Omar A.Hamad Filho, Ricardo Hashimoto, Roque André Colpani, Ruy Pôncio. Conselho Editorial: José Alberto Miranda Cravo Roxo, José Luiz Vieira, Luiz Gino Henrique Brotto, Marciano, Francisco Franco e Ricardo Hashimoto Edição: Morgana Campos (morganacampos@fecombustiveis.org.br) Editora-assistente: Natália Fernandes (assessoria.comunicacao@fecombustiveis.org.br ) Redação: Rosemeire Guidoni (roseguidoni@uol.com.br) e Gabriela Serto (gabrielaserto@gmail.com) Capa: Alexandre Bersot, com foto de Morgana Campos Economista responsável: Isalice Galvão Publicidade: Gerente comercial: Celso Guilherme Figueiredo Borges (celsoguilherme@fecombustiveis.org.br) Telefone: (21) 2221-6695 Programação visual: Girasoli Soluções (contato@girasoli.com.br) Fecombustíveis Av. Rio Branco 103/13° andar. Centro-RJ. Cep.: 20.040-004 Telefone: (21) 2221 6695 Site: www.fecombustiveis.org.br/revista E-mail: revista@fecombustiveis.org.br

8 • Combustíveis & Conveniência

Sem folga O ritmo frenético de outubro não deixa dúvidas de que o ano realmente está chegando ao fim. E as expectativas para 2012 não irão se restringir às incertezas sobre o desempenho da economia. Até porque, desde 2010, a expansão nas vendas de gasolina e diesel têm superado a taxa de crescimento da economia, em meio à incorporação de novos integrantes à classe média, que está consumindo mais, inclusive combustíveis. Em 2012, chegarão ao mercado os primeiros veículos com motor Euro 5, que utilizarão arla-32 e diesel de baixo teor de enxofre, inicialmente o S50 – produtos completamente novos para a maioria dos postos e que exigirão mudanças rigorosas nas rotinas operacionais e de treinamento dos funcionários. Agora no início de novembro, a ANP realizará audiências públicas buscando acertar os últimos detalhes para a introdução do diesel de baixo teor de enxofre. Também em novembro, a Petrobras promete divulgar o preço do S50. E aí será a hora de postos indecisos baterem o martelo sobre querer ou não comercializar o produto. Ou seja, não esperem folga nesses últimos dois meses do ano. Mas enquanto 2012 não chega, fui conferir de perto a NACS Show 2011 e ver como é a poderosa indústria de conveniência norte-americana, que consegue lucrar mesmo em tempos de crise e desafiou, com sucesso, a não menos poderosa indústria de cartões nos Estados Unidos. Confira na reportagem de capa. Buscando pistas sobre como se comportará a economia no próximo ano, a repórter Rosemeire Guidoni conversou com o economista Ricardo Amorim, que apresentou uma visão bastante otimista, mas advertiu: o momento não é para se endividar! Gabriela Serto explica como ficam as novas regras do aviso prévio, após a publicação da lei que amplia o benefício para até 90 dias. A má notícia é que boa parte das dúvidas só serão resolvidas na justiça, uma vez que a lei foi sucinta até demais. Já a editora-assistente Natália Fernandes conta um pouco como fica o cenário para o etanol após a redução da mistura na gasolina e mostra também como foi a audiência pública que definiu novas especificações para o derivado de petróleo. Esta edição tem um sabor especial para toda a equipe da Combustíveis & Conveniência, que chegou à edição de número 100! Sem fugir dos clichês, tal feito só foi possível graças a você, leitor, que acompanha nosso trabalho, e à determinação de dirigentes que compreenderam a importância de manter a revenda bem informada. Parabéns para todos nós! Boa leitura! Morgana Campos Editora



44 AGENDA Encontro de Revendedores Regional e Confraternização

Novembro Paranapetro

Data: 17 a 20 Local: Foz do Iguaçu (PR) Realização: Sindicombustíveis - PR Informações: (41) 3021-7600

Jantar de Confraternização

Data: 05 Local: Porto Alegre (RS) Realização: Sulpetro Informações: (51) 3228-7433

Data: 26 Local: Imperatriz (MA) Realização: Sindcomb - MA Informações: (98) 3235-6315

Jantar de Confraternização

Data: 09 Local: Manaus (AM) Realização: Sindcam Informações: (92) 3584-3707

Dezembro Festa de Confraternização da Revenda da Bahia

Data: 18 Local: Salvador (BA) Realização: Sindicombustíveis - BA Informações: (71) 3342-9557 2º Seminário de Boas Práticas do Comércio de Combustíveis

Data: 21 e 22 Local: Salvador (BA) Realização: Sindicombustíveis - BA Informações: (71) 3342-9557

Encontro de Revendedores Regional e Confraternização

Data: 03 Local: Caxias (MA) Realização: Sindcomb - MA Informações: (98) 3235-6315

Encontro de Revendedores Regional e Confraternização

Jantar de Confraternização da Revenda de Alagoas

Data: 03 Local: Maceió (AL) Realização: Sindicombustíveis - AL Informações: (82) 3320-1761

Data: 17 Local: São Luís (MA) Realização: Sindcomb - MA Informações: (98) 3235-6315 Para a publicação de eventos na agenda da Combustíveis & Conveniência, enviar os dados para morganacampos@fecombustiveis.org.br ou assessoria.comunicacao@fecombustiveis.org.br. Alguns eventos ainda poderão ser modificados nas próximas edições.

44 SINDICATOS FILIADOS ACRE José Magid Kassem Mastub Rua Pernambuco nº 599 - Sala 4 Bairro: Bosque Rio Branco-AC Fone: (68) 3326-1500 sindepac@hotmail.com www.sindepac.com.br

GOIÁS Leandro Lisboa Novato 12ª Avenida, 302 Setor Leste Universitário Goiânia-GO Fone: (62) 3218-1100 Fax: (62) 3218-1100 spostos@terra.com.br www.sindiposto.com.br

ALAGOAS Carlos Henrique Toledo Av. Jucá Sampaio, 2247, Barro Duro Salas 93/94 Shopping Miramar Maceió-AL Fone: (82) 3320-2902/1761 Fax: (82) 33202738/2902 scvdpea@uol.com.br www.sindicombustiveis-al.com.br

MARANHÃO Dilleno de Jesus Tavares da Silva Av. Colares Moreira, 444, salas 612 e 614 Edif. Monumental São Luís-MA Fone: (98) 3235-6315 Fax: (98) 3235-4023 sindcomb@uol.com.br www.sindcomb-ma.com.br

AMAZONAS Luiz Felipe Moura Pinto Rua Rio Içá, 26 - quadra 35 Conj. Vieiralves Manaus-AM Fone: (92) 3584-3707 Fax: (92) 3584-3728 sindcam@uol.com.br

MATO GROSSO Aldo Locatelli R. Manoel Leopoldino, 414, Araés Cuiabá-MT Fone/Fax: (65) 3621-6623 contato@sindipetroleo.com.br www.sindipetroleo.com.br

BAHIA José Augusto Melo Costa Av. Otávio Mangabeira, 3.127 Costa Azul Salvador-BA Fone: (71) 3342-9557 Fax: (71) 3342-9557/9725 sindicombustiveis@sindicombustiveis.com.br www.sindicombustiveis.com.br

MATO GROSSO DO SUL Mário Seiti Shiraishi Rua Bariri, 133 Campo Grande-MS Fone: (67) 3325-9988 / 9989 Fax: (67) 3321-2251 sinpetro@sinpetro.com.br www.sinpetro.com.br

CEARÁ Guilherme Braga Meireles Rua Visconde de Mauá, 1.510 Aldeota Fortaleza-CE Fone: (85) 3244-1147 sindipostos@sindipostos-ce.com.br www.sindipostos-ce.com.br

MINAS GERAIS Paulo Miranda Soares Rua Amoroso Costa, 144 Bairro Santa Lúcia Belo Horizonte-MG Fone/Fax: (31) 2108- 6500/ 2108-6530 minaspetro@minaspetro.com.br www.minaspetro.com.br

DISTRITO FEDERAL José Carlos Ulhôa Fonseca SHCGN-CR 704/705, Bloco E entrada 41, 3º andar, sala 301 Brasília-DF Fone: (61) 3274-2849 Fax: (61) 3274-4390 sindicato@sindicombustiveis-df.com.br www.sindicombustiveis-df.com.br

PARÁ Alírio José Duarte Gonçalves Av. Duque de Caxias, 1337 Bairro Marco Perímetro: Trav. Mariz e Barros/Trav. Timbó Belém-PA Fone: (91) 3224-5742/ 3241-4473 secretaria@sindicombustiveis-pa.com.br www.sindicombustiveis-pa.com.br

ESPÍRITO SANTO Ruy Pôncio Rua Vasco Coutinho, 94 Vitória-ES Fone: (27) 3322-0104 Fax: (27) 3322-0104 sindipostos@sindipostos-es.com.br www.sindipostos-es.com.br

10 • Combustíveis & Conveniência

PARAÍBA Omar Aristides Hamad Filho Rua Rodrigues de Aquino, 267 5º andar - Centro João Pessoa-PB Fone: (83) 3221-0762 - Fax: (83) 3221-0762 sindipet@hotmail.com

PARANÁ Roberto Fregonese Rua Vinte e Quatro de Maio, 2.522 Curitiba-PR Fone/Fax: (41) 3021-7600 diretoria.sindi@sindicombustiveis-pr.com.br www.sindicombustiveis-pr.com.br PERNAMBUCO Frederico José de Aguiar Rua Desembargador Adolfo Ciríaco,15 Recife-PE Fone: (81) 3227-1035 Fax: (81) 3445-2328 sinpetro@sindicombustiveis-pe.org.br www.sindicombustiveis-pe.org.br PIAUÍ Robert Athayde de Moraes Mendes Av. Jockey Club, 299, Edificio Eurobusines 12º, sala 1212 Teresina-PI Fone: (86) 3233-1271 Fax: (86) 3233-1271 sindpetropi@gmail.com www.sindipetropi.org.br RIO DE JANEIRO Ricardo Lisboa Vianna Av. Presidente Franklin Roosevelt, 296 São Francisco Niterói–RJ Fone/Fax: (21) 2704-9400 sindestado@sindestado.com.br www.sindestado.com.br RIO DE JANEIRO - MUNICÍPIO Manuel Fonseca da Costa Rua Alfredo Pinto, 76 - Tijuca Rio de Janeiro-RJ Fone: (21) 3544-6444 sindcomb@infolink.com.br www.sindcomb.org.br RIO GRANDE DO NORTE José Vasconcelos da Rocha Júnior Rua Monte Sinai - Galeria Brito salas 101/102 Natal-RN Fone: (84) 3217-6076 Fax (84) 3217-6577 www.sindipostosrn.com.br sindipostosrn@sindipostosrn.com.br RIO GRANDE DO SUL Adão Oliveira Rua Cel. Genuíno, 210 - Centro Porto Alegre-RS Fone: (51) 3228-7433 Fax: (51) 3228-3261 presidenciacoopetrol@coopetrol.com.br www.coopetrol.com.br RIO GRANDE DO SUL – SERRA GAÚCHA Paulo Ricardo Tonolli Rua Ítalo Victor Berssani, 1.134 Caxias do Sul-RS

Fone/Fax: (54) 3222-0888 sindipetro@sindipetroserra.com.br www.sindipetroserra.com.br RONDÔNIA Eliane Maria de Figueiredo Gomes Travessa Guaporé, Ed. Rio Madeira, 3º andar, salas 307/308 Porto Velho-RO Fone: (69) 3223-2276 Fax: (69) 3229-2795 sindipetroro@uol.com.br sindipetroro@hotmail.com RORAIMA Abel Salvador Mesquita Junior Av. Benjamim Constant, 354, sala 3 Centro Boa Vista-RR sindipostosrr@ibest.com.br SANTA CATARINA Lineu Barbosa Villar Rua Porto União, 606 Bairro Anita Garibaldi Joinville-SC Fone: (47) 3433-0932 / 0875 Fax: (47) 34330932 sindipetro@sindipetro.com.br www.sindipetro.com.br SANTA CATARINA - BLUMENAU Julio César Zimmermann Rua Quinze de Novembro, 550/4º andar Blumenau-SC Fone: (47) 3326-4249 / 4249 Fax: (47) 33266526 sinpeb@bnu.matrix.com.br www.sinpeb.com.br SANTA CATARINA - FLORIANÓPOLIS Valmir Osni de Espíndola Av. Presidente Kennedy, 222 - 2º andar Campinas São José-SC Fone: (48) 3241-3908 sindopolis@gmail.com SANTA CATARINA - LITORAL CATARINENSE E REGIÃO Roque André Colpani Rua José Ferreira da Silva, 43 Itajaí-SC Fone: (47) 3241-0321 ou 9657-9715 Fax: (47) 3241-0322 sincombustiveis@sincombustiveis.com.br www.sincombustiveis.com.br SÃO PAULO - CAMPINAS Flávio Martini de Souza Campos Rua José Augusto César, 233 Jardim Chapadão Campinas-SP

Fone: (19) 3284-2450 recap@recap.com.br www.recap.com.br SÃO PAULO - SANTOS José Camargo Hernandes Rua Dr. Manoel Tourinho, 269 Bairro Macuco Santos-SP Fone: (13) 3229-3535 Fax: (13) 3229-3535 secretaria@resan.com.br www.resan.com.br SERGIPE Flávio Henrique Barros Andrade Rua Benjamim Fontes, 87, b. Luzia Aracaju-SE Fone: (79) 3214-7438 Fax: (79) 3214-4708 sindpese@infonet.com.br www.sindpese.com.br SINDILUB Laércio dos Santos Kalauskas Rua Trípoli, 92, conj. 82 Vila Leopoldina São Paulo-SP Fone: (11) 3644-3440/ 3645-2640 sindilub@sindilub.org.br www.sindilub.org.br TOCANTINS Eduardo Augusto Rodrigues Pereira 103 Sul, Av. LO 01 - Lote 34 - Sala 07 Palmas-Tocantins Fone: (63) 3215-5737 sindipostos-to@sindipostos-to.com.br TRR Álvaro Rodrigues Antunes de Faria Rua Lord Cockrane, 616 8º andar, salas 801/804 e 810 Ipiranga-SP Fone: (11) 2914-2441 Fax: (21) 2914-4924 info@sindtrr.com.br www.sindtrr.com.br Entidade associada FERGÁS Álvaro Chagas Av. Luis Smânio, 552, Jd. Chapadão Campinas–SP Fone: (19) 3241-4540 fergas@fergas.com.br www.fergas.com.br



44 RICARDO AMORIM 4 Economista e presidente da Ricam Consultoria

Questão de timing Por Rosemeire Guidoni

Fotos: Paulo Pereira

O economista Ricardo Amorim foi um dos poucos que anteciparam a crise elétrica brasileira de 2001, a bolha imobiliária norteamericana de 2008 e a crise europeia de 2010. Em 2008, inclusive, Amorim deixou Nova York (EUA) e retornou ao Brasil, apostando que as dificuldades dos chamados países ricos seriam persistentes e as oportunidades de negócios no Brasil, mais interessantes. Assim, em 2009, após quase vinte anos de carreira no mercado financeiro internacional - atuando nos EUA, Europa e Brasil - ele montou sua empresa, a Ricam Consultoria (www.ricamconsultoria.com.br), que presta assessoria econômico-financeira, de investimentos e de estratégia para clientes no Brasil e no exterior. Um timing, sem dúvida, muito bom. E agora, mais uma vez, o economista prevê um momento de crise global, desencadeada pela situação europeia. “Mas os impactos desta vez serão menores no Brasil. Deveremos ter dois trimestres ruins, seguidos de recuperação”, disse ele, durante entrevista concedida à Combustíveis & Conveniência. Na avaliação de Amorim, a situação na Europa deve piorar, mas causará reflexos menores do que a crise de 2008. O preço dos combustíveis (tanto do petróleo quanto do etanol) cairá em um primeiro momento, mas deve voltar aos patamares atuais no final do ano que vem. Amorim, que é formado em economia pela Universidade de São Paulo, com pósgraduação pela ESSEC de Paris, é também colunista da Revista IstoÉ e, desde 2003, um dos apresentadores do programa Manhattan Connection, do canal Globonews. Além de palestrante renomado. Entre um compromisso e outro dessa extensa agenda, Amorim conversou com a C&C, antecipando tendências e mostrando sua visão sobre o que pode acontecer a este 12 • Combustíveis & Conveniência


setor no futuro. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista. Combustíveis & Conveniência: Diante dos sinais de agravamento da crise externa, que reflexos podem ser esperados para o Brasil? Ricardo Amorim: A crise deve trazer alguns impactos para o Brasil. E, provavelmente, terá uma amplitude muito maior. Estamos em um momento equivalente a setembro de 2008. Havia uma crise imobiliária nos Estados Unidos, que até então era específica do mercado norte-americano. O que aconteceu em meados de setembro, quando o banco Lehman Brothers quebrou, foi que, o que era uma crise imobiliária norte-americana, se transformou em uma crise global. E é provável que ocorra um processo parecido agora na Europa, com calote de alguns países europeus. A Grécia provavelmente será o primeiro, causando quebras bancárias desta vez na Europa. A partir do momento que temos quebras bancárias, acontece uma forte contração de crédito em todo o mundo. Quando os bancos perdem muito dinheiro e são forçados a cortar o crédito a todos, incluindo a bancos brasileiros e empresas brasileiras, isto atinge a economia de forma negativa. Um segundo impacto atingirá mais especificamente os exportadores brasileiros: o setor de agronegócios, de commodities em geral e o setor industrial. À medida que esta crise lá fora leva a uma recessão profunda, o consumo despenca; quando o consumo despenca, são compradas quantidades muito menores de produtos, inclusive do Brasil; e os preços acabam caindo também.

C&C: E isso deve afetar de alguma forma o mercado de combustíveis? RA: O setor de combustíveis será atingido sim, mesmo que de forma indireta. Um dos impactos que a crise deve causar será uma queda muito forte dos preços internacionais dos combustíveis, o que implica uma redução inicialmente do preço do petróleo, muito significativa no mercado internacional. Isso pode levar a um impacto até positivo para o setor de combustíveis no Brasil, já que pode provocar uma queda no preço dos derivados aqui. O etanol deve ser negativamente impactado, seja por conta da queda do preço internacional do petróleo, seja por causa da queda do preço do açúcar no mercado internacional. C&C: Falando em preços dos combustíveis, em outubro, o governo reduziu o percentual do etanol anidro na gasolina C e, com isso, a Petrobras terá de importar mais gasolina. Com maior porcentagem de gasolina na mistura, o combustível se tornaria mais caro para o consumidor, mas, para contornar este problema, o governo reduziu também a Cide. Como o senhor avalia a decisão? RA: Poderia ser um problema se os preços, tanto do etanol quanto da gasolina, continuassem aumentando. Mas o que deve acontecer é que o agravamento da crise nos próximos meses vai fazer com que o preço dos combustíveis caia. Isso deve ocorrer tanto no caso do petróleo no mercado internacional, quanto em relação aos preços do açúcar e, por consequência, do etanol. C&C: Mas o governo tem um prejuízo de arrecadação por conta

da redução da Cide e, ao mesmo tempo, a Petrobras paga mais caro pela gasolina importada do que vende no mercado interno. Isso não está gerando uma bolha de inflação prestes a explodir? RA: A redução da Cide é momentânea. Do ponto de vista da arrecadação, não tem problema nenhum, pois ela está forte. E há grandes chances de reverter esta medida brevemente. Não vejo como problema fiscal para o governo, nem como medida que será necessária por um período muito longo. Com a queda do preço internacional do petróleo, esta disparidade entre os preços lá fora que subiram, que é custo para a Petrobras, e preços internos estáveis, que é a receita da Petrobras, deixará de existir. O que aconteceu nos últimos meses foi que a margem da Petrobras foi corroída por estes problemas. É fato que isso prejudicou investimentos da empresa, como a construção de novas refinarias e o pré-sal, mas é algo momentâneo. A crise internacional vai passar, e a condição estrutural do mercado é de mais demanda por energia, vindo da Índia, Brasil e China, os grandes emergentes. É provável que, já no segundo semestre do ano que vem, o petróleo volte a subir e aí voltamos gradualmente à mesma situação que temos agora.

4FICHA TÉCNICA Recomendação de leitura: Superfreakonomics Autor: Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner Combustíveis & Conveniência • 13


44 Ricardo Amorim 4 Economista e presidente da Ricam Consultoria Quem precisa de crédito tem de alongar os financiamentos agora, enquanto o crédito ainda está farto e disponível, pois pode ser que daqui a alguns meses não existam mais opções. Quem não precisa, não é o momento para se alavancar. Tente não se endividar neste momento C&C: Se a demanda por combustíveis crescer muito mais rápido do que a oferta, que reflexos isso pode ter para o mercado? RA: Este aumento de demanda já vem acontecendo desde a virada do milênio. Em 2001, o petróleo custava US$ 8 o barril e chegou a US$ 150 em 2008, retornou a US$ 40 e voltou a subir. Vamos ter o mesmo processo: este movimento estrutural de aumento de combustíveis, de tempos em tempos com crise eles caem, depois voltam a subir e oferta e demanda se equilibram. A crise reduz a demanda temporariamente, aí os preços caem. Existem políticas especulativas no mercado, que precisam ser revertidas quando os preços começam a cair. C&C: Com a redução de preços dos combustíveis e o maior número de veículos em circulação, não existe uma tendência de aumento de demanda? RA: Um dos reflexos da crise, primeiro, será a forte desaceleração de vendas de veículos por algum tempo, como aconteceu no último trimestre de 2008 e início de 2009. A venda de veículos depende muito de crédito e, sem crédito, deve ocorrer uma queda. Mas será temporariamente, pois esta redução de crédito deve durar de três a seis meses. C&C: Mas nos últimos anos o número de veículos já aumentou significativamente. Em sua avaliação, a atual demanda por combustíveis 14 • Combustíveis & Conveniência

no Brasil deve se manter ou haverá algum tipo de queda? RA: A frota já cresceu, é fato, e isso explica o atual aumento de vendas dos postos. Mas a frota vai temporariamente crescer em ritmo mais lento e, em momentos de crise mais aguda, poderá haver uma substituição. Tem gente que usa hoje o carro para tudo, mas poderá optar por transporte coletivo ou esquemas de caronas, ou mesmo reduzir o ritmo de viagens e deslocamentos em geral. Tudo isso leva a algum impacto, embora limitado. O setor de combustíveis será impactado pela crise que vem aí, mas, por uma série de razões, como a expansão da frota, que já aconteceu, e o consumo, que não depende de crédito, esta atividade será pouco impactada no Brasil. C&C: O novo IPI sobre os veículos importados deve contribuir para elevar a frota de veículos flex no Brasil. Que reflexos isso deve ter no mercado de combustíveis, neste momento em que o país tem uma queda na produção de etanol e até recorre à importação de gasolina? RA: Provavelmente isso vai estimular o crescimento do setor de etanol. Mas é importante observar que a diferença do carro flex é a flexibilidade que ele permite ao consumidor. Ou seja, uma parte maior da frota poderá optar pelo combustível mais atraente, seja etanol ou gasolina. Não neces-

sariamente o flex vai significar aumento de demanda de etanol, isso depende de preços. C&C: Os produtores de etanol afirmam que a crise que o setor enfrentou este ano, e ainda enfrenta, tem várias causas. Além do fator agrícola em si, eles relatam a crise financeira do fim de 2008 como um dos motivos para a queda da produção neste ano. Diante da perspectiva de uma nova crise no crédito, quais as chances deste segmento se recuperar? RA: De 2008 até agora, o setor sucroenergético passou pelas maiores chacoalhadas que provavelmente qualquer outro segmento sentiu. O preço do açúcar, que é o que determina este mercado, em 2008 estava no nível mais alto dos 30 anos anteriores. Quando veio a crise, o preço caiu para o mais baixo, também em 30 anos. Com isso, o produtor que plantou antes, com uma expectativa de preço mais alto, teve de vender mais baixo e se descapitalizou. Ao mesmo tempo, se somou a isso uma forte restrição de crédito e, basicamente, houve uma série de usinas com problemas financeiros graves. O que mudou de lá pra cá foram duas coisas: primeiro o preço voltou a subir e atingiu o patamar mais alto de toda a história, ultrapassando inclusive aquele nível de 2008, o que ajudou a melhorar a rentabilidade do negócio. Em segundo lugar, boa parte das empresas que estavam com dificuldades foram compradas por empresas estrangeiras. Houve uma entrada muito grande no setor de empresas norte-americanas, francesas, chinesas, o que significa que a situação de capitalização do setor hoje é bem diferente do que era em 2008. Agora, este mercado deve ser temporariamente impactado por uma crise bem severa.


C&C: A maior demanda por energia pode trazer também um aumento da procura por biocombustíveis. Isso pode acarretar outros reflexos ao mercado, como elevação do preço de alimentos? RA: Sim, pode trazer alguns reflexos. Porém, já temos aumento no preço dos alimentos, independentemente dos biocombustíveis. A demanda por alimentos cresceu no mundo, os países pobres estão melhorando e as pessoas passaram a comer melhor. Existe uma demanda maior por energia, mas também por alimentos. A produção de biocombustíveis pode levar a um afastamento das culturas de alimentos, o que pode encarecer os alimentos por conta dos fretes. Mas, por outro lado, há locais que saem ganhando com a chegada de plantações. Na média, pode até contribuir para o encarecimento dos alimentos, mas as plantações voltadas para biocombustíveis não constituem o principal fator. No caso dos Estados Unidos ou Europa, que produzem etanol a partir de grãos, a demanda por energia é somente mais um fator do encarecimento. Mesmo sem biocombustíveis, os alimentos iam aumentar, como ainda tem a questão dos biocombustíveis, aumenta mais ainda.

sibilidade de menor disponibilidade de capital neste período. Ou seja, quando as empresas forem rolar a dívida, vão encontrar financiamentos mais desfavoráveis. Para evitar este risco, há duas soluções: ou tomar financiamentos com prazos maiores agora, para daqui a dois ou três anos, ou adiar investimentos. Para investimentos não fundamentais, adiar é a melhor alternativa. C&C: E no caso de investimentos que não podem ser adiados, como reformas para adequação ambiental, necessárias para o licenciamento dos empreendimentos? Quais seriam as alternativas seguras hoje? RA: Se o investimento não pode ser adiado, é interessante recorrer a financiamentos mais longos. Normalmente as linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são as mais longas para este setor. Quem precisa de crédito tem de alongar os financiamentos agora, enquanto o crédito ainda está farto e disponível, pois pode ser que daqui a alguns meses não existam mais opções. Quem não precisa, não é o momento

para se alavancar. Tente não se endividar neste momento. C&C: E se o crédito encurtar, o que fazer? RA: Se o posto tiver um problema de crédito, provavelmente terá de fazer uma rolagem da dívida e, se as condições de mercado estiverem parecidas com as atuais, ele fará mesmo com custos mais altos. O problema é se somar à situação dele um problema de crédito de todo o mercado. Ou seja, não haverá quem faça o empréstimo, e esta empresa pode se transformar na “presa” a ser abocanhada por alguém mais capitalizado no momento. Aliás, para empresas que conseguirem se capitalizar agora, o que vai acontecer é que durante a crise vão surgir as melhores oportunidades de investimento, quando se consegue comprar por preços mais baratos. Para quem compra, é o melhor investimento. Para quem tem dinheiro, a hora é de ser cauteloso e esperar o momento de alguns terem dificuldades para conseguir fazer investimentos de expansão, para compra de concorrentes a custos muito mais favoráveis.

C&C: Esta perspectiva de crise deve significar algum tipo de perda para o varejo de combustíveis? É o momento de adiar investimentos? RA: Definitivamente, investimentos que estão sendo feitos com financiamento de curto prazo devem ser adiados. Não é hora de assumir dívidas que terão de ser renegociadas daqui a seis meses ou um ano, já que existe uma posCombustíveis & Conveniência • 15


44 Ricardo Amorim 4 Economista e presidente da Ricam Consultoria C&C: Que opções de investimento financeiro hoje podem ser consideradas seguras? RA: É hora de ser defensivo, o que significa investir em renda fixa, ou basicamente em coisas líquidas, que permitam o saque do dinheiro logo, porque vão surgir ótimas oportunidades causadas pela crise. O capital deve ficar disponível caso o empresário queira aproveitar uma oportunidade para comprar um concorrente que passa por dificuldades, ou queira fazer outros investimentos, como em ações, que devem ficar muito baratas. C&C: Para os postos de combustíveis, o cartão de crédito sempre foi considerado um problema, por conta das altas taxas. Diante de uma perspectiva de crise econômica, vale a pena renegociar algum tipo de dívida ou suspender parcerias? RA: Seria o caso de negociar, mas aí entra a questão de quem depende mais de quem. O poder de barganha dos postos talvez não seja grande. A dificuldade que existe é de que, a menos que se tenha uma cadeia enorme de postos negociando de forma conjunta, e um faturamento tão grande que faça diferença para a administradora de cartões, um dono de posto que se recuse a aceitar cartões pode perder vendas, o que não vai fazer grande

diferença para o cartão. O melhor caminho é os postos criarem algum tipo de associação ou cooperativa que negocie coletivamente. Enquanto as negociações são individuais, não têm força com as administradoras de cartões.

inflação só continuaria nos atuais patamares bastante elevados se, de uma hora para outra, a crise na Europa e o risco de recessão nos Estados Unidos deixassem de existir, o que até pode acontecer, mas é bastante improvável.

C&C: É um bom momento para se renegociar um contrato de locação de um posto? Você acredita que pode haver uma forte queda do mercado de locações vis a vis uma forte queda no preço dos imóveis, ou os imóveis permanecerão em patamares parecidos, em especial os comerciais em áreas metropolitanas? RA: Não acredito que os preços dos imóveis ou os valores de locação sofrerão grandes mudanças nos próximos meses. Em particular, ficaria surpreso se houvesse quedas significativas tanto de preços de imóveis quanto de aluguéis. Portanto, não acredito que será possível renegociar contratos de locação.

C&C: O que um posto de combustíveis pode fazer para reduzir seus custos de operação? Soluções como a permissão de abastecimento no sistema selfservice podem ser uma alternativa para isso? RA: Sou completamente favorável ao self-service neste segmento. Historicamente, faltava emprego e sobrava gente pra trabalhar. Então, se criaram situações e legislações para gerar e garantir empregos, até mesmo em casos de necessidades bastante relativas – como é o caso dos postos de combustíveis. Hoje a realidade do país é diferente, existe uma grande demanda por mão de obra. Ou seja, no passado foi criada uma legislação com o intuito de preservar empregos, que hoje não é mais necessária. A legislação gerou empregos, mas gerou também custo para as empresas. O Brasil hoje está do lado contrário: falta mão de obra. O país cresce muito e vai voltar a crescer após a crise e, por isso, não há mais necessidade de lei para preservar os empregos. Acho que pode haver uma legislação que permita a escolha para os postos, o self-service deveria ser opção. O país terá como absorver estas pessoas em outros setores, como na construção civil. Mas, provavelmente, o momento desta medida não é agora, com a perspectiva de uma crise, pois traria impactos como o desemprego. Mas, daqui a um ano, o país teria todas as condições para isso. n

C&C: Pode ocorrer um aumento da inflação estrutural no Brasil, ou seja, inflação advinda da falta de infraestrutura, em especial nas áreas metropolitanas? RA: O mais provável é que a inflação caia de forma significativa, nos próximos trimestres, devido a um arrefecimento da demanda e a uma maior oferta de produtos no Brasil devido à recessão na Europa e nos Estados Unidos. A

Sou completamente favorável ao self-service neste segmento. No passado foi criada uma legislação com o intuito de preservar empregos, que hoje não é mais necessária. A legislação gerou empregos, mas gerou também custo para as empresas. O Brasil hoje está do lado contrário: falta mão de obra. Acho que pode haver uma legislação que permita a escolha para os postos, o self-service deveria ser opção 16 • Combustíveis & Conveniência



Confira as principais ações da Fecombustíveis durante o mês de outubro:

Outubro 1 a 5 – Participação do presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, na NACS Show 2011, em Chicago, nos Estados Unidos;

13 – Participação do diretor de Postos de Rodovia, Ricardo Hashimoto, em reunião na ANP sobre a especificação do biodiesel puro (B100);

13 – Reunião dos representantes dos Sindicatos Filiados à Fecombustíveis, participantes do Sistema de Excelência na Gestão Sindical (SEGS), realizada no Rio de Janeiro; 19 – Acompanhamento pelo presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, do lançamento da Frente Parlamentar do Biodiesel, em Brasília;

20 – Reunião do Conselho de Representantes da Fecombustíveis, em Angra dos Reis (RJ);

20 a 22 – Encontro de Revendedores de Combustíveis do Município do Rio de Janeiro, em Angra dos Reis (RJ);

25 – Participação do secretário-executivo da Fecombustíveis, José Antônio Rocha, na 11ª Conferência Hart Energy: “O Brasil como País-Chave no Mundo da Energia”, sobre a introdução do diesel de baixo teor de enxofre a partir de janeiro de 2012; 25 – Palestra do diretor de Postos de Rodovia da Fecombustíveis, Ricardo Hashimoto, no evento “Diesel e emissões em debate - Os preparativos finais para a nova legislação 2012”, da Anfavea, em São Paulo;

26 –

Apresentação do presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, na Conferência BiodieselBr 2011, em São Paulo;

26 – Participação do vice-presidente regional da Fecombustíveis, Mário Melo, em evento sobre a indústria de cartões, em São Paulo (SP);

31 – Participação da Fecombustíveis na Audiência Pública ANP no 27/2011, que determina as especificações para a comercialização dos óleos diesel de uso rodoviário em todo o território nacional e define as obrigações dos agentes econômicos sobre o controle de qualidade do produto.

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OPINIÃO 44 Paulo Miranda Soares 4 Presidente da Fecombustíveis

Lições para aprender Sempre que visito a NACS Show penso em e saudáveis e, acima de quanto o mercado brasileiro ainda precisa amatudo, tornar toda a expedurecer e se aprimorar até chegar ao atual estágio riência de compra mais da indústria de conveniência norte-americana. Os agradável e rápida para números impressionam: são 146 mil lojas lá, ante o consumidor. quase 6,5 mil no Brasil, com vendas anuais de Na parte de postos, US$ 575 bilhões e cerca de 160 milhões de clientes a preocupação é com por dia – o que significa dizer que praticamente a recuperação de gases, reciclagem de água, econometade da população norte-americana circula pelas mia de energia. E eram várias também as opções de lojas de conveniência diariamente. recipientes para armazenagem de arla-32, produto Obviamente, diante de realidades tão diferentes, que chega ao mercado agora em janeiro de 2012 e muito do que hoje é mostrado na feira norte-americana será utilizado em tanque próprio nos novos veículos não se aplica ao Brasil. Pelo menos por enquanto. com motor Euro 5, que rodarão com S50 e S10. Mas nos traz a dimensão exata das oportunidades No entanto, o que mais me impressionou nessa que podem ser aproveitadas por aqueles revendedoúltima visita à NACS Show foi a forte mobilização res que se capacitarem, investirem e se prepararem do setor. A primeira grande vitória veio com a nova para passar de “postos de gasolina” para “postos de regulamentação para a indústria de cartões. Graças serviços”. Ou, como gosta de dizer Hank Armour: de a um trabalho de dez anos, que envolveu corpo a postos de combustíveis que corpo com líderes políticos, vendem alimentos para lojas mobilização de revendedode alimentos que vendem res, funcionários e clientes, Muito do que hoje é mostrado na NACS mandando cartas, redigindo combustíveis. Um futuro Show não se aplica ao Brasil. Pelo menos abaixo-assinados e se faque ainda pode demorar por enquanto. Mas nos traz a dimensão zendo ouvir para enfrentar um pouco para chegar, mas exata das oportunidades que podem ser o enorme poder de fogo que as cada vez menores aproveitadas por aqueles revendedores das instituições financeiras margens dos combustíveis que se capacitarem, investirem e se não deixam dúvidas de que norte-americanas. Por esse prepararem para passar de “postos de está a caminho. caminho, eles conseguiram Mesmo com a crise, reduzir pela metade as taxas gasolina” para “postos de serviços” o setor de conveniência cobradas nas operações tem mostrado crescimento com cartões de débito e robusto. Isso só foi possível conquistaram o direito de graças ao trabalho feito nos últimos anos, provando cobrar preços diferenciados para pagamento em o valor das lojas para os consumidores, que responcartões de crédito. A luta ainda não acabou e, a deram incorporando-as ao seu dia a dia. Não é à toa, ela, se somam muitas outras discussões envolvendo portanto, que grandes redes de supermercados estão novas legislações e obrigações. investindo em formatos menores – o que, por um Importante lembrar que não se trata apenas lado, aumenta a concorrência dentro do segmento; de brigar para incrementar os ganhos dos empremas, por outro, faz com que os hipermercados tirem sários. Acima de tudo, é uma batalha para evitar o foco da venda de combustíveis. distorções, para impedir que grandes corporações De qualquer forma, competição faz parte do monopolizem (e manipulem) o mercado, para que mercado livre. E é bem-vinda. O caminho das lojas o governo ouça sua grande população de pequenos norte-americanas tem sido investir em logística, e médios empresários e de consumidores. Uma luta oferecer uma diversidade cada vez maior de proque só faz sentido e só terá resultados positivos se dutos, responder aos anseios por alimentos frescos todos estiverem envolvidos.

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44 MERCADO

Projeções e expectativas Percentual de mistura de anidro na gasolina cai, mas mercado de etanol ainda segue pressionado, com preços elevados e sem perspectiva de solução no curto prazo Por Natália Fernandes

Paulo Pereira

A redução de 25% para 20% do percentual de anidro na gasolina trouxe certo alívio para o mercado e deve ajudar a minimizar as pressões sobre os preços especialmente durante a entressafra que se aproxima. Mas não quer dizer que passaremos por esse período sem sobressaltos. De acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço do etanol subiu 1,17% em outubro, acumulando alta de 16,30% em 2011. O combustível aumentou em oito das onze capitais analisadas pelo Instituto no mês passado. Já a gasolina, teve alta de 0,11% no mês e acumulou elevação de 7,01% no ano. “A redução no percentual de etanol anidro adicionado à gasolina tem como objetivo reduzir a pressão que este produto exerce na oferta de gasolina C.

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Por outro lado, isso provoca também a necessidade de aumento de gasolina produzida pelas refinarias, para suprir esse volume adicional de cinco pontos percentuais. Aos poucos, a oferta vem se equilibrando. No que diz respeito ao etanol anidro, de certa forma, observamos a redução no ritmo de subida dos preços, o que indica que a medida foi adequada”, diz Ricardo Menezes, diretor institucional do Brasilcom. Menezes ressalta, no entanto, que a solução para a questão da oferta de etanol vai bem além da diminuição de anidro na gasolia. “Isso implica ampliar a área de cana plantada - medida que depende do efetivo plantio e maturação dos canaviais, o que leva tempo - e assegurar junto aos produtores volumes mínimos a serem destinados ao mercado”, diz. De acordo com pesquisa divulgada pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), o volume de cana-deaçúcar processado pelas unidades produtoras da região Centro-Sul do país, até 1º de outubro, totalizou 411,99 milhões de toneladas. O número representa queda de 7,39% em relação ao total observado em igual período da safra passada. Uma notícia nada animadora.

Além da redução do anidro, o governo tem buscado outras formas de conter a crise, como mostra a decisão de passar ao controle da ANP a produção e comercialização do etanol. Um dos objetivos é exigir mais comprometimento dos produtores e distribuidores de etanol na formação de estoques, visando evitar escassez de produto e fortes oscilações nos preços, como temos visto nos últimos dois anos. Estima-se que R$ 2 bilhões (crédito) sejam oferecidos pelo governo para financiar os estoques pelas usinas. “Hoje vemos os anúncios de pacote beneficiando a produção de etanol. No entanto, temos que aguardar as medidas. O próprio ministro de Minas e Energia já anunciou isso, mas ainda não há nada definido”, diz Alísio Vaz, presidente do Sindicom. Ricardo Menezes, do Brasilcom, chama a atenção para um comportamento atípico. “Sabe-se que os estoques de passagem entre esta e a próxima safra serão novamente baixos. Algumas empresas já estão efetuando a importação do produto como forma de se prevenir e assegurar suprimento. O irônico é que até bem pouco tempo o Brasil buscava romper barreiras para a exportação e, hoje, tem problemas de abastecimento interno. Enquanto isso, superamos volumes históricos de exportação de etanol”, afirma Menezes. De acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em


Economia Aplicada (Cepea/EsalqUSP), de 17 a 21 de outubro, o indicador do hidratado (estado de São Paulo) aumentou pouco mais de 1% sobre a semana anterior e chegou a R$ 1,2322/ litro (preço a retirar na usina, sem impostos). Já o indicador de anidro baixou 0,1%, no mesmo período, indo para R$ 1,3822/ litro (preço de retirada na usina, sem impostos). “O índice Esalq tem se mantido como uma referência de mercado, ainda mais depois que passou a apresentar indicadores estaduais. Isso não significa que os preços sejam equivalentes, pois fatores como condição de pagamento, frete etc. também influenciam na formação dos preços a cada cliente, mas as oscilações de preço têm sido, em geral, semelhantes”, explica Ricardo Menezes, do Brasilcom.

E o IPI? O aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos importados também causou polêmica recentemente. Disputas entre as montadoras à parte, é importante lembrar que os carros importados não são flex fuel, ou seja, rodam apenas com gasolina. A previsão da Empresa de Pesquisa Energética é de que, em 2020, 80% dos carros sejam flex, ante os 49% atuais. E como será o impacto no mercado de combustíveis? De acordo com Leonardo Rezende, pesquisador do departamento de economia da PUC-Rio, o comportamento do carro importado é, de fato, um fator importante. “Como os carros importados tendem a funcionar somente com gasolina, há um estímulo (com o novo IPI) para que o consumidor migre para o carro flex”, diz. Rezende coordenou um estudo e analisou como esse novo cenário influenciou os preços da gasolina e do etanol. “Quando há aumento do número de carros flex, há uma queda no preço dos combustíveis. Em alguns municípios do Rio de Janeiro, por exemplo, quando temos uma estimativa de aumento da frota de flex em 10%, há uma queda de R$ 0,08 no valor do etanol e de R$ 0,02 a R$ 0,04 no valor da gasolina”, diz. Ou seja, esse tipo de tecnologia possibilitou muito mais que o poder de escolha do consumidor.

Cide, um novo capítulo Em paralelo à redução do anidro na gasolina, o governo decidiu diminuir, também, a alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), para neutralizar um possível aumento do preço da gasolina para o consumidor. Há quem diga que essa iniciativa seja uma forma de beneficiar a Petrobras, que aumentará as importações de gasolina, agora mais caras por conta do dólar. “A redução da Cide teve como objetivo estabilizar os preços de gasolina C, mantendo-os em um mesmo patamar, pois com a mudança no percentual de gasolina A, caso isso não fosse feito, levaria a um reajuste no preço da gasolina C. Não entendemos que isso venha a impactar a importação do produto”, acredita Ricardo Menezes, do Brasilcom.

Mais que o dobro do preço Essa é a previsão nada animadora de um estudo da consultoria Ernst & Young Terco em parceria com a Fundação Getúlio Vargas para o valor do etanol no mercado internacional até 2020. A pesquisa faz parte da série “Brasil Sustentável” e também apresenta o lançamento do Centro de Inteligência de Petróleo e Gás da E&Y no Brasil. De acordo com o estudo, o petróleo será cada vez mais substituído por combustíveis alternativos, como o etanol, mas os preços não acompanharão o rápido crescimento da demanda. Por isso, o preço médio real do barril equivalente deverá subir entre 99% e 154%, alcançando de US$ 292 a US$ 374. Como no Brasil o valor do etanol está diretamente ligado às variações de preços da gasolina, em 2020, o combustível pode atingir um preço de R$ 1,37 a R$ 2,03/litro, o que representa uma queda de 13% e, ao mesmo tempo, um aumento de 29% em relação ao patamar atual. O estudo foi baseado em um modelo computacional dos mercados de energia e suas interações. Com isso, foi possível projetar os preços a longo prazo, com base em um conjunto de fatores, que vão desde fatores físicos a questões político-institucionais da oferta e da demanda. n Combustíveis & Conveniência • 21


44 MERCADO

Em busca de melhores resultados Revenda trabalha por mudanças nas regulamentações, de forma que não seja penalizada por problemas e falhas ocorridas (e não fiscalizadas) ao longo da cadeia Por Natália Fernandes Um pequeno avanço em um longo caminho. Assim foi a audiência pública de nº 23, da ANP, que aconteceu no final de setembro, com o objetivo de estabelecer as especificações da gasolina em paralelo ao controle de qualidade do combustível vendido nos postos. Na ocasião, foram discutidos os procedimentos e a motivação da revisão da Portaria nº 309/2001. Além da Fecombustíveis, também participaram representantes da Petrobras, do Sindicom e da empresa Afton, de produtos aditivos. “Estamos reunidos para discutir basicamente dois grandes vetores que foram a motivação para revisão da especificação. Um, que seria a questão da

eliminação do T90 mínimo, que é uma propriedade que inserimos na especificação em 2001, quando havia um índice de não-conformidade bastante elevado, em função de problemas de adulteração com solvente. Além disso, aproveitamos a oportunidade para atualizar as obrigações do controle de qualidade, buscando alinhamento com a comercialização do óleo diesel”, explicou Rosângela Moreira de Araújo, presidente da audiência e superintendente de Biocombustíveis e Qualidade de Produtos da autarquia. Mais uma vez, a Fecombustíveis atuou com empenho para garantir que o consumidor receba o produto final rigorosamente dentro das especificações vigentes no mercado. O secretário da Fecombustíveis, Emílio Martins,

representou a Federação e expôs alguns itens que vêm trazendo problemas para os postos de serviços e combustíveis. Durante a audiência, Martins apresentou um estudo da Fecombustíveis, enfatizando que a maior parte dos produtos entregues aos revendedores encontra-se no limite superior permitido pela legislação vigente, em relação ao teor de anidro na gasolina. Atualmente, toda a gasolina comercializada no Brasil deve ter 20% de etanol anidro, com tolerância de um ponto percentual para baixo ou para cima, justamente para dar margem a possíveis problemas operacionais. No entanto, muitos revendedores reclamam que têm recebido sistematicamente produto com 21%, não deixando qualquer margem para os postos Mesa da audiência pública de nº 23, da ANP, presidida por Rosângela Moreira de Araújo, superintendente de Biocombustíveis e Qualidade de Produtos da autarquia

Assessoria de imprensa da ANP

22 • Combustíveis & Conveniência


buidora, compatibilizando-os assim com os testes que serão realizados no posto. Já os ensaios referentes à especificação da destilação poderão ser realizados em amostras representativas dos produtos retirados dos tanques da distribuidora, com periodicidade não superior a seis horas durante o período/expediente de carregamento. Atualmente, os dados do Boletim de Conformidade referem-se apenas a testes feitos em amostras representativas dos produtos estocados na distribuidora. A demanda não é infundada. Os postos revendedores estão sujeitos a penalidades severas em casos de não-conformidade do combustível. Em São Paulo, por exemplo, o revendedor pode ter sua inscrição estadual cancelada e ser impedido de operar no mesmo ramo por cinco anos. E legislações semelhantes já foram aprovadas em pelo menos dois outros estados. Por isso, é indispensável que o Boletim reflita rigorosamente as características dos produtos transportados. Muitas das não-conformidades só podem ser constatadas em análises laboratoriais, restando ao posto confrontar a qualidade dos combustíveis através do Boletim e dos ensaios realizados no ato do descarregamento. No § 4º do art 7º da minuta, a Federação classifica como impossível coletar amostra de gasolina C diretamente do tanque de armazenamento da distribuidora. Isso porque a mistura gasolina A com etanol anidro é realizada, na grande maioria das vezes, no caminhão-tanque. Na prática, isso significa que a distribuidora não pode atestar a conformidade de um produto gerado pela mistura em linha

Assessoria de Imprensa Sindcomb - RJ

e expondo-os ao risco de autuações pela ANP. “O posto revendedor é a ponta visível do mercado para o consumidor final e para as autoridades que punem e fiscalizam o setor. Nós que aparecemos na ponta e, até onde a gente sabe, estamos, praticamente sozinhos, pagando a conta da desconformidade em relação às aplicações de multas e penalidades”, argumentou Martins. Por isso, foi pedida que essa margem de tolerância, de um ponto percentual para mais ou menos, valha somente para a revenda varejista, não se aplicando às distribuidoras, ao comercializarem a gasolina C. A ANP aceitou parcialmente essa justificativa, alegando que não há como assegurar que o método de adição ou medição não traga incertezas. “Qualquer método vai sempre trazer alguma incerteza, mesmo que pequena. Então, temos que prever alguma margem para essa operação”, disse o secretário da audiência, Felipe de Araujo Lima. A expectativa é de que a ANP incluirá um novo inciso no artigo 5º da minuta, com a seguinte redação: “A tolerância permitida para a adição de etanol anidro combustível à gasolina A, pela distribuidora, será de 0,5% para mais ou para menos”. A Agência entende que, assim, haverá alguma folga entre o erro e o método na hora da análise. Outra sugestão da Fecombustíveis foi em relação ao artigo 7º da minuta. No § 3º, é pedido que o Boletim de Conformidade contenha, obrigatoriamente, os resultados das análises de massa específica, teor de etanol e aspecto visual referentes à amostra do produto carregado pela distri-

“O posto revendedor é a ponta visível do mercado para o consumidor e para as autoridades que punem e fiscalizam o setor. Estamos, praticamente sozinhos, pagando a conta da desconformidade em relação às aplicações de multas e penalidades”, destacou Emílio Martins, representando a Fecombustíveis

de carregamento automatizado, baseada em mistura isolada realizada por outro método. A sugestão é de que a amostra a ser analisada seja coletada no caminhão-tanque, após o seu carregamento, seguindo os procedimentos previstos na Seção 11.4.2 da NBR 14883, já que os dois produtos se misturam no carregamento do caminhão. A ANP informou que, assim como a adição de anidro na gasolina, não é possível garantir que os equipamentos de mistura não apresentem erros, além do fato de que a homogeneização da mistura no caminhão-tanque não é imediata. A sugestão da presidente da audiência, Rosângela Moreira de Araújo, foi a de informar a programação e o certificado de calibração/registro de dosagem dos dosadores no Boletim de Conformidade para que o revendedor consiga um parâmetro de comparação no ato do recebimento do produto.n Combustíveis & Conveniência • 23


44 MERCADO

Fiscalização mais flexível Finalmente foi publicada a Resolução 53 da ANP, que altera os procedimentos de fiscalização de placas, adesivos e avisos em geral, e cria a Medida Reparadora de Conduta. Com isso, a ANP atende a um antigo pleito da Fecombustíveis e seus Sindicatos Filiados Por Rosemeire Guidoni

Paulo Pereira

Todos os materiais informativos presentes nos postos (quadros de avisos, adesivos e placas) devem ser padronizados e instalados conforme as regras estabelecidas pela ANP. Tais regras incluem vários detalhes, que vão desde a localização do aviso no posto, até medidas deste material de sinalização e tipo/corpo de letra utilizado. A ausência do aviso, ou mesmo sua instalação em desacordo com as regras estabelecidas pela Agência, podiam levar os postos revendedores a serem autuados. E para muitos revendedores, esta questão havia se transformado em um grande problema, pois uma infração de menor gravidade (caso destas sinalizações) poderia deixar o posto no mesmo patamar (perante a ANP) de outros estabelecimentos que cometeram infrações graves, como questões ligadas à qualidade do combustível. E mais: uma vez autuado, mesmo que por conta de um problema menor, como no caso das plaO posto notificado deverá enviar à ANP, em até 72 horas, uma Declaração de que a conduta foi reparada no prazo, assinada por seu representante legal 24 • Combustíveis & Conveniência

cas, em qualquer outra situação que gerasse autuação, o posto seria considerado reincidente e, portanto, sujeito a penalidades ainda maiores (multa em dobro e até mesmo a possibilidade de interdição). Este é o risco que corre um revendedor mineiro, que preferiu manter o nome de seu estabelecimento em sigilo. Ele contou que, em abril deste ano, estava realizando uma reforma no posto e um dos adesivos (sobre etanol) havia sido retirado do local de instalação (um pilar) para a pintura da parede. “O fiscal chegou ao posto no momento em que o adesivo havia sido retirado e, mesmo verificando que foi uma retirada momentânea, o posto foi autuado. Já comprovamos, por meio de fotos, que o adesivo estava colocado de acordo com as regras e padrões da ANP, e havia sido retirado momentaneamente, mas mesmo assim a Agência manteve a autuação”, disse. O revendedor afirmou que tinha conhecimento de que o aviso deveria ter sido colocado em outro local enquanto o pilar estava sendo pintado, mas o empreiteiro responsável pela obra não fez isso. “Até entramos com processo junto à Agência, mas não sabemos se haverá cancelamento da infração. E o pior, o posto é reincidente. Então, temos de torcer para que seja aplicada a multa mínima”, ressaltou o empresário. Por conta de problemas como este, já há algum tempo a

Fecombustíveis e seus Sindicatos Filiados vêm pleiteando junto à ANP uma flexibilização na fiscalização destas infrações de menor gravidade. E o resultado disso foi a publicação da Resolução 53, do dia 7 de outubro, que criou a Medida Reparadora de Conduta. A partir de agora, quando um agente detectar alguma irregularidade, os revendedores serão notificados e terão prazo de até cinco dias úteis para fazer a correção dos itens considerados fora das especificações da ANP. Além disso, o posto deverá enviar à ANP, em até 72 horas, uma Declaração de que a conduta foi reparada no prazo, assinada por seu representante legal. O não envio da Declaração ou a eventual constatação de sua inveracidade serão interpretados como não sanada a irregularidade que motivou a medida restauradora de conduta, deixando o posto sujeito às sanções legais. Apesar da mudança, o revendedor não deve relaxar, pois a ANP definiu que a medida reparadora só poderá ser aplicada ao posto uma única vez a cada três anos, mesmo que a nova infração detectada nada tenha a ver com a que originou a adoção da medida reparadora anterior. Agora, o corpo jurídico da Fecombustíveis estuda a possibilidade de aplicar o princípio da retroatividade em infrações de menor gravidade anteriores à Resolução. n



44 MERCADO

Sim, temos problemas Pesquisa realizada no Sul do país constatou 25% de não-conformidade em tanques de biodiesel puro e no B5. Um índice pra lá de preocupante Divulgação INT

Por Morgana Campos Que a chegada do biodiesel trouxe inúmeros contratempos para os postos, não há dúvidas. Agora, a difícil tarefa é descobrir como evitar, ou pelo menos minimizar, esses transtornos que tanta dor de cabeça têm trazido para donos de postos e distribuidoras. Afinal, apesar de o produto já ser utilizado nos Estados Unidos e na Europa, importar simplesmente a experiência de lá não dá certo, seja pelas dimensões continentais do nosso país (com diferentes relevos, temperaturas, condições de estradas, de instalações etc.), pela ampla gama de matérias-primas utilizadas aqui (nos Estados Unidos é basicamente a soja e, na Europa, a colza) ou simplesmente pelas particularidades da nossa cadeia de produção e abastecimento. Diante dessa realidade, a Fecombustíveis, em parceria com diversos agentes da cadeia, contratou o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) para realizar um estudo de campo sobre o assunto. A pesquisa analisou as características físicas e químicas do biodiesel metílico de soja (B100) e da mistura B5 ao longo das cadeias de produção, distribuição, revenda e consumo, nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná. De acordo com Eduardo Cavalcanti, pesquisador do INT e coordenador do estudo, das 28 amostras de B100 coletadas, sete foram classificadas como não-conformes, apresentando 26 • Combustíveis & Conveniência

O estudo acompanhou o biodiesel desde a produção até a chegada da mistura B5 a postos, TRRs e consumidores

problemas quanto ao aspecto (não límpido e contendo sedimentos), à estabilidade oxidativa e ao teor de água (superior a 500 ppm, limite estabelecido pela ANP). Importante lembrar que esses dois últimos itens têm sido frequentemente associados à formação de depósitos nos tanques. “É preocupante, pois se trata de um índice muito elevado, de 25%”, destaca Cavalcanti. O mesmo resultado se repetiu para o B5 (veja quadro na página seguinte).

Atenção nas bases Cavalcanti explica que, no caso do B100, boa parte desses problemas estão associados a más

práticas de manuseio, estocagem e de controle da qualidade de lotes. Algo que poderia ser evitado com simples manutenção de drenos limpos e monitoramento constante das propriedades do produto nas bases. Além disso, ele chama a atenção para a necessidade de “introdução ou aperfeiçoamento das chamadas boas práticas, para evitar que esses problemas sejam transferidos à mistura B5 e assim cheguem ao consumidor”, afirma. Para ele, a “revisão da especificação do biodiesel é recomendável, bem como a introdução de aditivos multifuncionais contendo em sua formulação substância biocida”.


O pesquisador sugere ainda que, após revisadas especificações e resoluções, seja adotada uma rotina nas distribuidoras e nos terminais de monitoramento regular (a anotar por um ano) do teor de água em seus estoques de biodiesel puro e de B5, com criação de uma base de dados a partir dessa experiência. “Trata-se de medidas a serem adotadas, de forma voluntária, inicialmente, para que possamos obter um melhor e mais completo retrato da contaminação por umidade pós-venda do biodiesel, sendo seus resultados discutidos regularmente em um fórum especial próprio para subsidiar futuras ações a partir de 2013”, avalia. Ele lembra ainda que o diesel de baixo teor de enxofre, que começará a ser utilizado mais amplamente no Brasil em janeiro de 2012, exige menores teores de água em sua formulação, o que, na prática, requer limitações também no teor de água do biodiesel. Para os postos, a recomendação é a “introdução ou aprimoramento das boas práticas de manuseio e estocagem de B5, uma política de acompanhamento mais próximo a da qualidade dos produtos que estão sendo entregues, a retomada da prática de coleta de amostras-testemunha, limpeza mais regular dos tanques, bem como maior frequência na troca de elementos filtrantes e introdução de produtos facilitadores da limpeza de tanques e de aditivos multifuncionais visando ao controle da contaminação microbiana”. Outra pesquisa está sendo realizada em São Paulo e terá seus resultados divulgados em breve.

Entrevista C&C: O estudo analisou rotas relativamente simples e curtas. O senhor acredita que o índice pode ser maior se consideradas rotas mais longas e postos situados em regiões mais úmidas? Eduardo Cavalcanti: Acreditamos que sim, principalmente quando há situações de baixa comercialização ou de estocagem de “barriga vazia”, em regiões mais quentes e úmidas, afastadas das bases primárias e dos grandes centros consumidores. Nessas situações, os volumes estocados são mais suscetíveis às ações degenerativas do oxigênio, umidade, calor, micro-organismos e de más práticas de manuseio, transporte e estocagem. Isso pode ser confirmado pelos recentes dados de não-conformidade liberados pela ANP, que indicam um crescimento dos índices por aspecto na região Norte. C&C: As mudanças propostas pela ANP para a nova especificação do biodiesel puro são suficientes para reduzir os problemas que hoje afetam a cadeia nacional de abastecimento? EC: Podem ser consideradas como um grande avanço, mas tais exigências para o biodiesel puro não deverão ser introduzidas isoladamente. Deveria também ser iniciada a revisão da Resolução ANP do B5 para que seja discutida, em paralelo, a inserção de valores limites de teor de água máximo (200 ppm) e de índice de estabilidade oxidativa mínimo para a mistura B5. Sugere-se um IP superior a 24 h, considerando-se as características mais continentais do território brasileiro e com base nos presentes resultados, como os já adotados na Europa (EN 590), que exige um IP maior que 20 h. Note-se também que está sendo discutido abertamente no seio da AGQM, organização que congrega 76% dos produtores do biodiesel na Alemanha, um padrão de teor de água diferenciado entre produtores (200 ppm) e distribuidores (300 ppm). n

Não-conformidades B5 Local de amostragem

Ponto de amostragem

Não-conformidades observadas

Tanque de TRR antes da descarga de B5

Fundo

Aspecto: turvo e contendo sedimentos

Tanque de TRR após a descarga de B5

Fundo

Aspecto: turvo e contendo sedimentos

Caminhão-tanque antes do carregamento de B5 na base primária

Dreno

Estabilidade Oxidativa (PI = 10,05 h)

Caminhão-tanque antes do carregamento de B5 na base secundária

Dreno

Presença de etanol

Caminhão-tanque antes da descarga de B5 no posto revendedor

Dreno

Contaminação por etanol e Aspecto: turvo e contendo sedimentos

Tanque de posto revendedor antes da descarga de B5

Fundo

Estabilidade oxidativa (PI= 15,24) e Aspecto: turvo e contendo sedimentos

Tanque de posto revendedor após descarga de B5

Fundo

Aspecto: turvo e contendo sedimentos

Bico da bomTanque de posto revendedor após a descarba de abas- Aspecto: turvo e contendo sedimentos ga de B5 tecimento Tanque do veículo após abastecimento com B5

Fundo

Aspecto: turvo e contendo sedimentos

Fonte: INT

Combustíveis & Conveniência • 27


44 10 ANOS

Chegamos à 100ªedição! 100 edições, ao longo de dez anos acompanhando todas as transformações pelas quais o setor de combustíveis passou. Um marco que, sem dúvida, merece destaque e comemorações. Parabéns Combustíveis & Conveniência!

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Por Rosemeire Guidoni Um projeto iniciado há dez anos, uma publicação que pretendia ser a voz da revenda em âmbito nacional. De início, a Revista então chamada Fecombustíveis nada mais era do que o veículo oficial da entidade de mesmo nome, que representa o mercado de combustíveis. Com tiragem menor e periodicidade bimestral, a publicação trazia assuntos importantes para o dia a dia da revenda, mas também valorizava a agenda sindical. O momento de criação da Revista era mais do que oportuno: a abertura do mercado de combustíveis havia acabado de acontecer e o revendedor ainda estava perdido em meio a tanta novidade. Neste contexto, a Revista foi ganhando cada vez mais importância, trazendo orientações essenciais sobre como lidar com o dia a dia do negócio; como calcular margens; como se programar para as necessárias

adequações ambientais; como valorizar os espaços livres do posto com outros negócios, como as lojas de conveniência. O resultado disso é que, após seis edições bimestrais, a Revista passou a ser mensal. O nome também mudou, com o intuito de mostrar claramente que a publicação tratava do mercado de combustíveis e do negócio de revenda, e estava longe de ser somente um veículo sindical. E foi assim, acompanhando todas as transformações do mercado de revenda, que a Combustíveis & Conveniência chega a sua 100ª edição. Presente em vários momentos importantes do setor, a Revista acompanhou o boom do etanol, após anos em que o combustível ficou em segundo plano; a chegada do biodiesel (e todos os problemas relacionados ao novo produto); as mudanças no setor de distribuição, com a saída de cena de várias empresas e fusões de outras que deram

origem a novas corporações; a descoberta do pré-sal. A publicação também teve participação ativa em ações criadas para regularizar e melhorar o mercado, acompanhando de perto todos os debates para criação de regulamentações da ANP, e apoiando as ações de fiscalização de diversos órgãos, que contribuíram para a melhoria do mercado – neste período, inclusive, os índices de nãoconformidade apontados pela ANP atingiram seus percentuais mais baixos. Problemas, claro, ainda existem no setor. Mas a Revista tem feito seu papel, no sentido de informar, questionar, escutar todos os envolvidos e retratar tudo o que acontece e afeta o dia a dia deste mercado. Por tudo isso, ao longo destas 100 edições, a Combustíveis & Conveniência se transformou em veículo de leitura obrigatória para todos os empresários que atuam no setor.

Combustíveis & Conveniência • 29


44 10 ANOS

Pautas que marcaram a história da Revista: 8 Por um mercado melhor – Este foi o tema principal das duas primeiras edições, e de várias que se seguiram. As matérias principais denunciavam as irregularidades do mercado, como adulteração de produtos, roubo de cargas, contrabando e sonegação de impostos, que prejudicavam a atividade em todo o país. 8 Meio Ambiente – Já em setembro de 2002, a revista alertou o revendedor para uma questão que começava a ganhar corpo: a necessidade de adequação ambiental. Muito antes da maior parte dos órgãos ambientais do país começar a cobrar providências para adequação, a publicação já orientava o revendedor sobre a necessidade de preservar o meio ambiente e de como criar um fundo de reserva para cobrir tais despesas. Dada a importância do tema, a seção Meio Ambiente foi incorporada como fixa pela Revista, sempre trazendo alertas sobre as necessidades legais de adequação, os riscos de contaminação, os procedimentos ambientalmente corretos.

8 Superconcorrência – Mais de uma vez, a Combustíveis & Conveniência denunciou a ação predatória dos super e hipermercados, que na época conseguiam comercializar combustíveis por valores bem abaixo dos postos tradicionais, com base em um mecanismo até então permitido, a compensação tributária. Isso mudou, depois que várias legislações obrigaram os supermercados a criarem figuras jurídicas distintas para seus postos revendedores, mesmo ostentando as bandeiras das redes varejistas.

8 Contrabando de combustíveis – A matéria da edição 26 denunciava a entrada de gasolina e diesel no país, com preços mais acessíveis, pela fronteira entre Roraima e Venezuela, causando prejuízos tanto para a revenda local, quanto para a arrecadação tributária do país. Na edição 51, a matéria retratava a entrada de combustível mais barato pela Bolívia, prejudicando, desta vez, os postos do Mato Grosso do Sul.

8 Farra do diesel – Pela primeira vez, a Revista denuncia a ação de alguns Pontos de Abastecimento, que, além de manterem os chamados “tanques de quintais” em suas instalações, comercializavam combustíveis para terceiros, prejudicando toda a revenda de estrada.

8 Verticalização - Em vários momentos, a Revista mostrou o que havia por trás das franquias da Shell, dos chamados dealers da Esso, do projeto Cais da BR e das instalações dos postos-escola: o desejo de verticalização disfarçado, por parte das distribuidoras. 30 • Combustíveis & Conveniência


8 Relacionamento com a bandeira - Mais de uma vez a Combustíveis & Conveniência questionou a parceria com as bandeiras. Até que ponto esta relação é justa para o revendedor? As matérias mostravam problemas como contratos leoninos, preços discriminatórios, dificuldade de contato e diversos desentendimentos neste relacionamento tão conturbado.

8 Concentração do mercado – A Revista acompanhou todas as mudanças que marcaram o mercado de distribuição: a compra da Ipiranga pelo consórcio entre o grupo Ultra e a BR, a aquisição da Esso pela Cosan (uma empresa com origem no setor sucroalcooleiro), a joint venture entre a Shell e a Cosan e, finalmente, a chegada da Raízen.

8 Ascensão e queda do setor de GNV – Dois momentos distintos do setor de Gás Natural Veicular (GNV) também foram retratados pela Revista. Primeiro, quando o combustível começou a ganhar fôlego e se tornou alvo de vários investimentos e projetos de ampliação de infraestrutura. Depois, quando cedeu espaço para seu concorrente direto, o etanol, por ter deixado de ser competitivo.

8 Cartões de crédito - Não foram poucas as vezes em que a Revista denunciou este verdadeiro sócio de plástico, que abocanha boa parte da margem do revendedor.

8 De olho na ANP – Novas regulamentações, debates e audiências públicas, fiscalização, SIMP: nada escapou às pautas.

8 Problemas com o diesel e biodiesel - A Combustíveis & Conveniência foi a primeira a denunciar no mercado os problemas decorrentes da mistura de diesel e biodiesel, e os riscos que a elevação da mistura poderiam trazer.

8 Etanol, altas e baixas - O aumento das vendas de etanol, propiciado pela elevação dos veículos flex em circulação e a crise do setor em 2011 não escaparam aos olhos atentos da redação. Sem falar nos inúmeros anos de denúncias contra a sonegação no setor.

8 Postos clone – Mais uma fraude promovida por agentes irregulares do mercado foi retratada pela Revista, que acompanhou todo o processo de denúncias, cobrando novas regulamentações para impedir a prática.

8 Gestão Virtual – A mudança de hábitos do revendedor, que começou cada vez mais a se valer de ferramentas informatizadas para gerir seu negócio, foi alvo de várias matérias, que mostravam a necessidade de uso destes meios, por conta de novas regras fiscais, e a importância de administrar com eficiência o negócio. Combustíveis & Conveniência • 31


OPINIÃO 44 Roberto Fregonese 4 Vice-presidente da Fecombustíveis

Mais rigor contra os cartéis Segundo o previsto Está em consulta pública (nº 17) no Minisno projeto, a pena de tério da Justiça um projeto de lei que altera a interdição de direitos Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990; a pode se dar via inabiliLei nº 8.666, de 21 de junho de 1933; e a Lei tação para o exercício nº 8.884, de 11 de junho de 1994, em que se de atividade empresaestuda mais uma estratégia nacional de combate rial; impedimento para o exercício de cargo ou a cartéis. A ideia é restringir os crimes contra a função em conselho de administração, diretoria ordem econômica, além de contemplar mudanou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; e ças na pena dos crimes de cartéis em licitações, proibição de gerir empresa por mandato ou por com a novidade de trazer disposições relativas gestão de negócio. às ações de reparação de danos. A proposta define ainda que, uma vez transitada Em seu artigo 4º, parágrafo 1º, o projeto em julgado a sentença penal condenatória, será deixa claro que constitui crime contra a ordem notificado o Registro Público de Empresas para econômica: que tome as medidas necessárias para impedir I - Abusar do poder econômico, dominando novo registro em nome dos inabilitados. o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, A mudança prevista a concorrência mediante para a Lei nº 8.884, de qualquer forma de ajuste A decisão de condenação proferida 11 de junho de 1994, deou acordo de empresas ou pelo CADE obrigará a empresa a terminará que a decisão impedimento à constituição, indenizar as vítimas pelos prejuízos de condenação proferida funcionamento ou desencausados. Portanto, a Secretaria de pelo Conselho Administravolvimento de empresa Direito Econômico e o CADE ganha- tivo de Defesa Econômica concorrente; II - Formar acordo, rão mais poderes de repressão contra (CADE) obrigará a empreconvênio, ajuste ou aliança aquelas pessoas e empresas que, for- sa a indenizar as vítimas entre ofertantes, visando: tuitamente, aventurarem-se a cometer pelos prejuízos causados. Portanto, a Secretaria de à fixação artificial de estes ilícitos Direito Econômico e o CADE preços ou quantidades ganharão mais poderes de vendidas ou produzidas; repressão contra aquelas pessoas e empresas ao controle regionalizado do mercado por que, fortuitamente, aventurarem-se a cometer empresa ou grupo de empresas; estes ilícitos. ao controle, em detrimento da concorrência, Nós, postos revendedores e entidades patronais, de rede de distribuição ou de fornecedores. devemos redobrar nossas atenções para evitar que Como pena, o projeto de lei prevê reclusão de algum desavisado cometa o ilícito de provocar ato dois a oito anos, multa e interdição de direitos. A que possa colocar em risco a sua empresa, bem multa terá valor fixado entre R$ 300.000,00 (trezentos como a sua vida pessoal. Cartel é crime, e grave, que mil) a R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais). prejudica o mercado, os consumidores e a concorO texto estabelece ainda que, caso o juiz, rência. É o que sempre pregamos e continuaremos considerando o ganho ilícito e a situação econôa pregar, pois não queremos ver nenhum colega mica do réu, verifique a insuficiência ou excesou alguma empresa do nosso setor envolvidos em siva onerosidade da multa prevista no caput, ele desmandos ou correndo riscos que não levam a poderá diminuí-la até a décima parte ou elevá-la nada, ou melhor, levam ao desastre. ao décuplo.

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44 NA PRÁTICA

Rainer Topf/Stock

Não seja a próxima vítima! Nos últimos meses, multiplicaram-se as notícias de assaltos a postos, especialmente daqueles que dispõem de caixa eletrônico. Quem atua em horário prolongado, e até ininterrupto, está ainda mais vulnerável Por Gabriela Serto A indústria do crime está permanentemente migrando de delito em delito. Até bem pouco tempo, os frentistas eram os principais alvos nos postos, já que manuseavam os caixas dos estabelecimentos. Com a diminuição do uso do papelmoeda e preferência pelo cartão de débito ou crédito, as lojas de conveniência entraram na mira dos assaltantes, que visam os caixas eletrônicos. Só que para retirar as cédulas que se encontram dentro dos caixas eletrônicos, os criminosos estão cada vez mais audaciosos e recorrem, inclusive, a dinamites, o que traz um risco enorme para os postos de combustíveis. “Recentemente, um caixa eletrônico existente no pátio de um posto 34 • Combustíveis & Conveniência

Soluções integradas Com o atual cenário de falta de segurança, os postos de combustíveis podem, e devem, investir em soluções integradas que permitam diminuir suas vulnerabilidades e aumentar a proteção para clientes, colaboradores, fornecedores e também para o patrimônio: 4Câmeras de qualidade de alta resolução; 4Sistema com análise de vídeo (contagem de pessoas, direção de movimentos, paradas etc.); 4Monitoramento de imagens em tempo real por empresas especializadas; 4Integração com sistema de automação e alarmes; 4Monitoramento com pronta resposta para situações de pânico e intrusão; 4Acompanhamento de escolta em horários de fechamento e sangria dos caixas e cofres; 4Uso de vigilantes privados especializados e treinados para tal função; 4Instalação de guaritas suspensas e blindadas; 4Recolhimento de valores por empresas especializadas; 4E o principal em todo esse processo: treinamento periódico de seus colaboradores nos procedimentos recomendados após a análise de risco elaborada por um consultor de segurança.


Câmeras de segurança só são eficazes quando as imagens têm boa qualidade e o monitoramento é feito em tempo real, por empresa de segurança capacitada

Segurança A falta de capacidade operacional e desaparelhamento da segurança pública fazem com que os empresários optem pela contratação de empresas de segurança privada e eletrônica para que seu estabelecimento

esteja protegido. “Atitudes preventivas reduzem as margens de riscos e se tornam investimentos inteligentes”, destaca Pinho. De acordo com o consultor, a segurança é muito mais efetiva quando planejada, orientada e executada com inteligência operacional e sistêmica. Em determinados locais e realidades, a redução dos horários de atendimento tende a ser a saída mais sensata e segura. Não há, no entanto, uma solução única e exclusiva para resolver os problemas gerados pela falta de segurança. A busca por um cenário seguro deve passar por sistemas de detecção, de alarmes, de pânico, de monitoramento e análise de imagens, além de equipamentos, sistemas e adequações físicas.

Paulo Pereira

Stock

Paulo Pereira

de combustíveis no Rio Grande do Sul foi alvo de assaltantes, que detonaram explosivos para saqueá-lo. O detalhe é que o local de instalação do caixa eletrônico é exatamente em cima dos tanques e reservatórios de combustível do posto”, afirma o consultor em Segurança Privada e Eletrônica, Emir Pinho. Ele alerta ainda que, “antes da instalação de um caixa eletrônico, questões como essa devem ser levadas em consideração, pois abrem uma brecha não apenas para o prejuízo momentâneo e pontual, mas para os riscos de tragédias de vulto”.

Diante da procura dos assaltantes por caixas eletrônicos, alguns postos estão optando por desabilitar o serviço Combustíveis & Conveniência • 35


44 NA PRÁTICA “Soma-se a esse contexto a necessidade de treinamentos periódicos dos colaboradores. É necessário criar uma nova política interna de segurança, um ambiente colaborativo e integrado, ligando o corpo de funcionários aos demais prestadores de serviços e fornecedores,

além dos órgãos de segurança pública”, recomenda Pinho. Marcelo Friedericks, gerente da TEKSEG, destaca ainda que o uso de câmeras ajuda a inibir a ação dos assaltantes, porque eles não podem alegar inocência na frente de um juiz quando confrontados com uma imagem

ENTREVISTA Do mesmo modo que é necessário planejar a implantação de um posto de combustível, é imprescindível também elaborar um plano de segurança e de contingência. Para o pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Nilton José Costa Ferreira, o objetivo é minimizar os riscos. “Do mesmo modo que o posto de combustível pode se tornar um ponto de apoio à comunidade territorial, também poderá ser um transtorno. Caberá ao gestor precavido, blindar o investimento do negócio.” Confira mais da conversa que a C&C teve com o especialista em segurança. Quais os principais riscos que um posto de combustíveis corre, levando em consideração que é uma área aberta, em muitos casos com funcionamento 24 horas? Neste tipo de atividade podemos enumerar cinco tipos de riscos básicos: A) Qualidade do produto comercializado; B) Furto ou roubo de clientes; C) Furto ou roubo na bateria ou linha de bombas; D) Tráfico de drogas, prostituição ou qualquer atividade ilícita no perímetro ou entorno da unidade de comercialização; E) Procedimentos danosos no atendimento de clientes credenciados. Segurança armado pode ser considerado um risco ou uma garantia a mais? Se a empresa de segurança contratada estiver devidamente legalizada no Departa36 • Combustíveis & Conveniência

gravada. “O melhor a fazer é esconder a informação. Onde está o dinheiro? A que horas passa o carro-forte? Quem vai ao banco? A que horas? Se eles não têm essas informações, dificilmente vão se arriscar para pegar só o dinheiro dos frentistas”, afirma.

mento de Polícia Federal/Ministério da Justiça (DPF/MJ) e o estabelecimento for dotado de Plano de Segurança e Contingências, elaborado por profissional qualificado e certificado pela Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (ABSEG), o fator segurança será um plus do estabelecimento e, com certeza, elevará as vendas. Deve-se evitar contratações irregulares ou improvisos com vendedores de equipamentos de segurança. Os investimentos em segurança deverão ser considerados quando da renovação das apólices de seguros e também uma necessidade na atual conjuntura. A implantação de qualquer sistema de segurança deve ser precedida da análise da Lei 7.102/83, que regulamenta a segurança privada. Apenas câmeras de monitoramento resolvem? Não. O Circuito Fechado de Televisão (CFTV) deverá ser planejado adequadamente, possuir qualidade de imagens e ser monitorado à distância, em tempo real, por empresa de qualidade e devidamente registrada no DPF/MJ. O meliante, ao observar seu alvo, deverá entender o grau de risco do ato criminoso e a rapidez da resposta de segurança. Existe um cenário 100% seguro, por exemplo: câmera, mais segurança, mais horário limitado? Não existe cenário 100% seguro em qualquer atividade. Cabe ao empresário consciente procurar minimizar os riscos, sob pena de perdas financeiras e no valor intangível da marca. n


NA PRÁTICA33

Extensão das dúvidas Stock

Nova regra que amplia aviso prévio para até 90 dias já está em vigor, mas não deixa claro quem tem direito ao novo benefício, nem se há possibilidade de aplicação a casos anteriores à promulgação da lei. Com isso, deve caber à Justiça dar a palavra final Por Gabriela Serto Depois de longos debates entre associações, confederações patronais, organizações setoriais e governo sobre as mudanças no aviso prévio, a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.506, de 11 de outubro de 2011, que aumenta o prazo de concessão do benefício nas demissões sem justa causa. Pelas novas regras, além dos 30 dias atualmente já pagos aos funcionários que tenham um ano na empresa, o novo aviso prévio garante o acréscimo de três dias a mais por cada ano trabalhado, até o limite máximo de 90 dias. Assim, o trabalhador que estiver na mesma empresa por dez anos terá direito a receber dois meses de aviso prévio - um que já estava estabelecido pelo ordenamento jurídico mais os 30 dias referentes aos dez anos de serviço. Para obter o pagamento máximo de 90 dias, o funcionário precisará ter 20 anos ou mais de serviço. Atualmente, o aviso prévio

é concedido no máximo por 30 dias, a partir do primeiro ano de trabalho ou proporcionalmente aos meses de serviço. O grande problema é que, apesar dos quase 20 anos de tramitação no Congresso, o texto final da lei foi bastante sucinto e omisso quanto à sua aplicação, não resolvendo questões como: Quem está coberto pela nova legislação? Ela se aplica aos funcionários já contratados? Como fica a situação de quem já estava cumprindo aviso prévio? A nova lei vai ser retroativa a quem foi demitido nos últimos dois anos? Dúvidas que, provavelmente, só serão solucionadas na Justiça do Trabalho, o que demanda

tempo, custo e cria uma grande insegurança jurídica. Diante de tão variados questionamentos, tanto por parte dos empresários quanto dos empregados, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, já estuda o envio de novo projeto de lei ao Congresso para regulamentar a lei e, assim, tentar deixar as regras um pouco mais claras. Mas não há prazo previsto para isso. A nova lei entrou em vigor na data de sua publicação, em 13 de outubro passado.

Efeito cascata Para a professora de Legislação Social e Trabalhista da Escola de Negócios Trevisan, Marcia Combustíveis & Conveniência • 37


44 NA PRÁTICA Marcello Casal Jr/Abr

Rubia Souza Cardoso Alves, a nova regra poderá desencadear um efeito cascata, com consequências imprevisíveis, porque onerará o empregador diante de seus encargos sociais - e a nova lei nada prevê quanto à redução ou desoneração. Outro efeito colateral indesejável pode ser o aumento da informalidade, já que muitas empresas, para se desincumbir da elevação dos encargos, poderão rescindir os atuais contratos de trabalho, elevando também a rotatividade de seus empregados. “Outro ponto a ser ressaltado é que, como a Constituição Federal já previu em 1988 o aviso prévio proporcional, possivelmente poderemos ter ações trabalhistas de empregados que foram demitidos antes de completar dois anos, com possíveis julgamentos favoráveis, já que é um direito constitucional desde a Grande Carta Magna. Isso realmente é temerário e, até então, não havia sido regulamentado”, afirma Márcia Rubia. “É bom esclarecer que esse direito não decorre de extensão retroativa da lei, mas de outras decisões que virão do Supremo Tribunal Federal (STF), que estava aguardando a regulamentação e que, possivelmente, reconhecerá o direito constitu38 • Combustíveis & Conveniência

Trabalhadores com carteira assinada terão direito a aviso prévio de 90 dias, quando completarem 20 anos ou mais na mesma empresa

cional do empregado por falta de regulamentação adequada”, acrescenta a professora. Para Alexandre Gaiofato de Souza, advogado sócio do Gaiofato Advogados Associados, poderia caber ao STF o exame da retroatividade deste benefício aos trabalhadores que já foram demitidos sem justa causa. “Entretanto, entendemos que tal questão, se remotamente ocorrer, gerará enorme insegurança jurídica para os empresários que, mesmo obedecendo a Constituição Federal (30 dias de aviso prévio indenizado ou

trabalhado), teriam que pagar estas diferenças na Justiça do Trabalho. Também não podemos esquecer que tal fato ‘incharia’ ainda mais o judiciário com estes pedidos de diferenças”, destaca Gaiofato. Importante ressaltar ainda que o artigo 5º da Constituição proíbe que uma lei alcance situações anteriores à sua entrada em vigor. Ou seja, a nova regra deveria valer apenas para casos presentes e futuros, não podendo retroagir a situações anteriores à publicação da lei. Apesar disso, entidades sindicais já têm orientado seus associados que foram demitidos nos últimos dois anos a entrarem na Justiça do Trabalho, pedindo complementação ao aviso prévio de 30 dias pagos anteriormente.

Para entender melhor A Constituição Federal prevê, em seu artigo 7º, inciso XXI, que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social, o aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo, no mínimo, de 30 dias, nos termos da lei. Porém, o benefício precisava ser regulamentado pelo Congresso, onde o Projeto de Lei tramitou por mais de 20 anos, sem qualquer conclusão. Enquanto isso, convencionou-se no mercado pagar 30 dias, independentemente da quantidade de anos trabalhados na empresa. Funcionários demitidos da Vale, no entanto, questionaram o caso e o assunto chegou ao Supremo Tribunal Federal, que ameaçou definir uma fórmula de pagamento que vigoraria enquanto o Congresso Nacional não aprovasse lei para regulamentar o pagamento do benefício. Diante dessa situação, o Legislativo aprovou a toque de caixa a nova regra, que foi sancionada no início de outubro pela presidenta Dilma Rousseff. Pela nova Lei, serão acrescidos três dias a mais por ano trabalhado pelo empregado com carteira assinada, além dos 30 dias aplicados no primeiro ano de trabalho. Assim, quem trabalhar por 20 anos ou mais numa mesma empresa terá direito ao tempo máximo de aviso prévio, estabelecido em 90 dias. A regra vale para empregados e empregadores. Ou seja, se o funcionário pedir demissão terá que cumprir o aviso prévio ou indenizar a empresa, salvo acordo entre as partes.


Stock

O advogado aconSe o governo não selha que, “especifiapresentar novo projeto, camente ao setor de caberá à Justiça do Trabalho arbitrar combustíveis, é válido dúvidas sobre novas regras observar a Convenção Coletiva da categoria e verificar se há prazos especiais de aviso prévio além do que está sendo discutido. Ou seja, para quem tem mais de 40/45 anos de idade, tempo de empresa etc., que deverá ser obedecido pelo empresário”. prévio (indenizado ou trabalhado), “Ainda é válido afirmar que, conforme Súmula 305 do Tribunal partindo do princípio de que o aviso Superior do Trabalho. No caso, prévio é apenas um informativo não será diferente após o advento do empregador ao empregado da nova lei ou de eventual decisão e que o contrato de trabalho se do STF em complementação”, mantém até o seu último dia, o adverte Gaiofato. Fundo de Garantia do Tempo Ele chama atenção ainda de Serviço (FGTS) recai sobre que, pela leitura da Lei, não há qualquer pagamento do aviso

qualquer distinção entre empresas de grande e pequeno porte, ramo de atividade ou número de funcionários. Ou seja, todas as empresas se enquadrarão nestas disposições. Outro ponto importante é que a Lei vale tanto para a empresa quanto para o funcionário. Em outras palavras, o funcionário que pedir demissão e não for dispensado do aviso prévio poderá ter que indenizar a empresa. Na prática, isso pode gerar um empecilho para o funcionário assumir outro emprego, seja porque a empresa precisa que ele cumpra o aviso ou porque, deliberadamente, não quer perder o funcionário. n

Combustíveis & Conveniência • 39


OPINIÃO 44 Deborah dos Anjos 4 Advogada da Fecombustíveis

Medida reparadora: uma segunda chance seja distinta daquela que No último dia 10 de outubro, foi publicada originou a adoção da a Resolução n° 53 da ANP, com vigência imemedida reparadora já diata, estabelecendo a possibilidade de adoção aplicada. de medidas reparadoras pelos postos, de forma Para os dispositivos a ajustar sua conduta ao disposto na legislação descritos no artigo 3°, pertinente no que se refere a placas, quadros e após transcorrido o prazo adesivos informativos. Com isso, evita-se a aplide reparação, para que a cação das penalidades previstas na Lei 9847/99 mesma tenha validade ,deverá o agente econômico, e no Decreto 2953/99. no prazo de 72 horas, dar ciência do cumprimento Tal medida atende a um pleito antigo da capara a Agência, através de declaração assinada tegoria e vai ao encontro dos princípios basilares por seu representante legal. O não envio da deda administração pública, visto que as sanções claração, ou sendo ela falsa, será interpretado administrativas devem ter por finalidade prevenir como não sanada a irregularidade, sujeitando o condutas reprováveis, e não punir, despertando fiscalizado às penalidades previstas em lei. Sendo em quem sofreu um estímulo para que não constatada a inveracidade da declaração, a mesma reincida. configurará adicionalmente infração prevista no A grande novidade da Resolução é a criação artigo 3°, inciso V, da Lei n° 9847/99. da “medida reparadora de conduta”, que dá ao Fixou-se ainda que a adoção das medidas fiscalizado uma segunda chance de se adequar à reparadoras de condutas norma, antes de ser autupoderá abranger um ou ado. Ela é definida como: “ação em que o agente Após se utilizar da medida reparadora, mais dos dispositivos não econômico repara o não o agente econômico só poderá recorrer atendidos da legislação ao benefício depois de transcorridos aplicável (parágrafos únicos atendimento a dispositivo três anos do uso anterior, mesmo que dos artigos 3º e 4º). Isto da legislação aplicável, em prazo pré-estabelecido, e a nova infração seja distinta daquela significando que uma só passa a cumpri-lo em sua que originou a adoção da medida re- medida poderá alcançar várias das situações elenintegralidade evitando a paradora já aplicada cadas. aplicação da penalidade;” A Agência não definiu (art. 2°, inciso I). na Resolução regras sobre a possibilidade de Porém, alguns pontos da Resolução devem retroação para casos em curso. Contudo, alertaser destacados para melhor compreensão. A nova mos que a aplicação do artigo 5°, inciso XL da regulamentação dividiu as medidas reparadoras CRFB, também alcança o fato administrativo, em dois grupos no que se refere ao lapso teme não apenas o fato penal, até porque se trata poral para sua reparação. As do artigo 3° terão de um princípio constitucional relativo ao poder o prazo de cinco dias úteis para cumprimento, punitivo do Estado. contados a partir da data da fiscalização; e as Acredito que a medida de flexibilização nas do artigo 4° deverão ser atendidas no transcurso fiscalizações, em especial naquelas de menor da ação de fiscalização, sendo que esse será gravidade, e que não gerem danos ao consumicompreendido do período entre a identificação dor, permitirá maior efetividade aos esforços de do agente de fiscalização ao representante do fiscalização do abastecimento de combustíveis nas agente econômico, informando o início da ação, infrações de maior gravidade, trazendo um melhor e a entrega de via do documento de fiscalização resultado para o mercado e, por consequência, assinada pelo agente. para o consumidor. Espero, por fim, que tal mediOutro ponto importante é que, após se utilizar da da tenha sucesso e, no futuro, mais penalidades medida reparadora, o agente econômico só poderá possam ser condicionadas ao cumprimento de recorrer ao benefício depois de transcorridos três medida reparadora. anos do uso anterior, mesmo que a nova infração 40 • Combustíveis & Conveniência



44 REPORTAGEM DE CAPA

Morgana Campos

Que CRISE?

NACS Show 2011 atrai número recorde de brasileiros, que foram conferir de perto como o setor de conveniência norte-americano se tornou parte do dia a dia do consumidor nos Estados Unidos e se sai bem mesmo em tempos de recessão econômica Por Morgana Campos

Divulgação NACS

Sempre que se fala no declínio da economia dos Estados Unidos, muitos analistas fazem questão de lembrar a capacidade norteamericana de se reinventar, de criar oportunidades e, em cima delas, gerar lucro e novos negócios. Até o momento, ninguém pode dizer com certeza como a maior potência do mundo sairá desse turbilhão de más notícias, que vão desde o aumento do desemprego até o rebaixamento da dívida soberana, mas pelo menos 42 • Combustíveis & Conveniência

para um setor a desaceleração econômica não vem causando maiores estragos: o de conveniência. Apesar da recessão, o segmento registrou entre 2008 e 2010 os três anos mais lucrativos de sua história. Só no ano passado, os ganhos totalizaram

US$ 6,5 bilhões. E, pelo menos por enquanto, ninguém parece muito preocupado com a crise. Nada mal para um setor que, diante das reduzidas margens nas vendas de combustíveis, reinventouse e investiu na oferta de conveniência aos seus consumidores, sendo até hoje o exemplo mais perceptível da transformação do “posto de gasolina” no “posto de serviços”. Nos Estados Unidos, as lojas de conveniência cresceram, diversificaram-se e já se assemelham a pequenos

Coquetel de abertura realizado no Field Museum em Chicago


Fotos: Morgana Campos

supermercados, levando ao extremo o conceito de conveniência para o consumidor. E foi em busca de um retrato desse mercado, além de sinais sobre as tendências futuras, que mais de 22 mil pessoas marcaram presença em Chicago (EUA) no início de outubro para participar da NACS Show 2011 – a maior feira do mundo no segmento de combustíveis e conveniência, promovida pela NACS, a poderosa associação norte-americana de lojas de conveniência e postos de combustíveis. Para se ter uma ideia do interesse pelo evento, participantes de 58 países estiveram presentes, com destaque para o Brasil, que enviou a maior delegação, com quase mil membros, mostrando que o bom momento da economia está levando os empresários a ampliar seus horizontes e buscar inovações para seus negócios. Além das sessões gerais e da exposição de produtos e equipamentos, a NACS Show 2011 contou com 53 workshops, debatendo temas que variaram desde o futuro dos combustíveis a técnicas para conquistar seus clientes e diminuir a rotatividade dos funcionários. E algumas palestras tiveram tradução simultânea para português, espanhol e chinês. Em 2011, a NACS teve um motivo a mais para comemorar: seu aniversário de 50 anos. De acordo com o CEO da entidade, Hank Armour, mais do que celebrar as conquistas alcançadas nesse quase meio século de história, a NACS está de olho no futuro e pretende centrar seus esforços em três grandes áreas: combustíveis, alimentação e engajamento dos participantes na defesa de interesses comuns (grassroots advocacy), o que inclui

Expositores apresentaram embalagens diversas para o arla-32, que será comercializado no Brasil a partir de janeiro

manter contato direto com líderes políticos, de forma que seus interesses e propostas sejam ouvidos e levados em conta, ao invés de simplesmente aceitar legislações que venham de cima, sem discussão. “Nós vencemos a batalha das taxas de cartões de débito porque estávamos certos sobre o fato de que o poder monopolista (das empresas de cartões e dos bancos) estava levando as taxas a níveis ultrajantes. Mas estar certo nem sempre é o suficiente. É necessário vender sua posição”, destacou Hank, durante a abertura do evento. “Vencemos porque você, seus funcionários e seus clientes pesaram (na decisão)... Vencemos porque você agiu. Você fez a diferença”, ressaltou. E, segundo ele, a meta é intensificar esse trabalho nos próximos anos. “Nosso objetivo é redefinir o que engajamento significa em nossa indústria, inscrevendo você e seus funcionários no mais poderoso exército que nossa nação já viu”, afirmou, conclamando todos a encamparem essa luta. De acordo com Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis, a forte mobilização

empreendida pela NACS, envolvendo a ação de cada associado, é uma das principais lições que ficam para o mercado brasileiro. “Qualquer sindicato, federação ou associação só se torna verdadeiramente forte quando seus membros também são atuantes, cobrando ações e também agindo quando é necessário: falando com senador, deputado ou vereador de sua região, mostrando para ele os impactos que determinadas legislações têm no dia a dia de nossas operações”, explicou. “O resultado obtido pela NACS na briga contra as elevadas taxas cobradas pelos cartões é a prova de que, quando trabalhamos em conjunto, podemos atingir nossos objetivos, independentemente do tamanho e do poder do nosso adversário”, completou. (Leia mais sobre o assunto no Box “Davi versus Golias”).

Soma de experiências Jeff Miller, presidente da NACS de 2010 a 2011, chamou a atenção para a possibilidade de se aprender com as experiências de outros países, observando os diferentes estágios de cada mercado e as soluções encontradas Combustíveis & Conveniência • 43


Fotos: Morgana Campos

44 REPORTAGEM DE CAPA

Café está entre as bebidas que mais crescem nos Estados Unidos

44 • Combustíveis & Conveniência

internet impactou as vendas de combustíveis, pois há aplicativos que mostram onde eles são mais baratos”, destacou. Embora boa parte das novidades apresentadas durante a feira ainda devam levar um bom tempo para serem aplicadas no Brasil, Paulo Miranda Soares lembra que o forte dinamismo da economia brasileira, aliado ao interesse de grupos estrangeiros em expandir seus negócios por aqui, está imprimindo um novo ritmo ao país, o que com certeza mudará a cara do mercado de conveniência. “Os investimentos no pré-sal e nos eventos internacionais devem garantir fôlego para a economia brasileira, mesmo em um cenário de desaceleração da atividade global. Devemos continuar vendo uma melhoria na renda da população e uma busca cada vez maior por conveniência, por diversificação de produtos e por qualidade. E tudo isso trará oportunidades para o nosso mercado de forma acelerada”, previu. Morgana Campos

para realidades diversas. Ele citou o caso dos sistemas de pagamento rápido, que já se encontram na segunda geração na Ásia e só agora começam a ganhar força na América Latina; ou o sistema de self-service (o próprio consumidor abastece seu carro), realidade consolidada nos Estados Unidos e que tem se tornado mais comum em outros países; sem falar na proliferação de legislações restritivas envolvendo tabaco e alimentos em várias partes do mundo. “Mais do que nunca, é importante que a NACS esteja engajada globalmente para aprender como os varejistas em outros mercados têm, efetivamente – ou, algumas vezes, sem eficácia – lidado com essas questões. Então, podemos adaptar essas lições ao nosso mercado local”, afirmou Miller. Ele ressaltou ainda o crescente papel da tecnologia no dia a dia dos negócios. “Quem pensa que estamos imunes a essas repercussões porque ninguém compra uma bebida online? Ou um cachorro-quente? Ou não abastece pela internet ?”, questionou. “Os concorrentes podem não estar vendendo fisicamente, na rede, galões de combustíveis, mas posso garantir que a

Alimentos saudáveis ganham cada vez mais espaço nas lojas norte-americanas

Para Alísio Vaz, presidente do Sindicom, a NACS é uma excelente forma de o revendedor brasileiro entender o potencial que tem em mãos. “Nos Estados Unidos, as lojas de conveniência se transformaram em parte do dia a dia dos norte-americanos. Na medida em que nosso país se desenvolve, em que temos uma sociedade com maior poder aquisitivo, com mais veículos, esse tipo de negócio (um varejo pequeno) tem um papel enorme e é nisso que o revendedor brasileiro deve prestar atenção e se aprimorar para conseguir ocupar seu espaço, ser competitivo e prosperar nessa atividade”, aconselhou. Alísio chamou atenção ainda para a capacidade da indústria de conveniência nos Estados Unidos em se manter saudável, apesar da recessão dos últimos três anos. “Não se percebe um ambiente de crise, justamente pelo papel que a loja de conveniência tem na sociedade norte-americana”, refletiu. Confira a seguir o que foi assunto na feira!


Davi versus Golias A luta travada pela indústria varejista de combustíveis e conveniência nos Estados Unidos contra as taxas abusivas cobradas pelas empresas de cartões já entrou para a história. Foram dez anos de trabalho intenso, com novos rounds a caminho. Em 1o de outubro, entrou em vigor nos Estados Unidos uma nova regulamentação, que limita as taxas que os bancos podem cobrar dos comerciantes sobre cada transação realizada com cartão de débito. A mudança veio com a aprovação da Emenda Durbin, idealizada pelo senador Richard J. Durbin, e como parte da Lei Dodd-Frank, sancionada há cerca de um ano e que impôs regras e fiscalização para o sistema financeiro. A Emenda Durbin determinou que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) impusesse limite às taxas cobradas pelos bancos. Em junho, o Fed reduziu em 50%, para US$ 0,22, o valor máximo para a tarifa que pode ser cobrado pelos bancos cada vez que um consumidor pagar sua conta com cartão de débito. A contra-ofensiva dos bancos não se fez por esperar. Desde o início de outubro, instituições como

o Bank of America começaram a anunciar cobrança de taxas extras dos clientes para uso do cartão de débito, alegando necessidade de cobrir custos em decorrência da mudança na legislação, numa clara tentativa de tornar a medida impopular. Para se ter uma ideia, somente nos dois primeiros dias da emenda em vigor, o setor de conveniência e varejista de combustíveis e seus consumidores já haviam economizado US$ 3,2 milhões e a expectativa é de que o valor total chegue a US$ 830 milhões por ano. Além de 40 mil emails e cartas enviadas aos congressistas e de 5,4 milhões de assinaturas coletadas, a NACS levou em março mais de 100 revendedores para Washington (capital norteamericana) para contar a seus representantes como é o dia a dia das lojas de conveniência e mostrar a eles como as legislações aprovadas por lá, muitas vezes sem ouvir os empresários do setor, afetam o seu negócio na prática. Na ocasião, foram realizados cerca de 180 encontros com senadores e deputados.

A energia do futuro Nos Estados Unidos, os postos são responsáveis por 80% de todo combustível vendido no país. E estão cientes de que, para manter essa posição, precisarão entender que tanto os veículos como os combustíveis irão mudar. “Sabemos mais de venda de combustíveis do que qualquer outra pessoa nos Estados Unidos e temos que usar isso para discutir novas legislações”, destacou Hank Armour. Enquanto no Brasil os biocombustíveis concentram toda a atenção do mercado, nos Estados Unidos o foco está muito mais nos veículos elétricos e movidos a gás. Em parte, tal postura se deve ao fato de soja e milho serem as principais matérias-primas para a produção de biodiesel e

etanol, respectivamente, o que inflama o debate sobre uso de alimentos para produzir combustíveis. Por outro lado, o uso de gás vem atraindo particular interesse de empresas, governo e pesquisadores, tanto por ser considerado mais limpo que os combustíveis tradicionais quanto por causa das numerosas reservas de xisto betuminoso no país, que permitiriam, quiçá, realizar um antigo sonho norte-americano: a independência energética (ou pelo menos reduzir a dependência externa). As reservas sempre foram conhecidas, mas só nos últimos anos inovações tecnológicas estão permitindo diminuir o custo da extração e produção do gás. Para ganhar os postos norteamericanos, no entanto, ainda

falta desenvolver infraestrutura de escoamento e ter veículos que utilizem o produto. A expectativa é de que o gás ganhe espaço, especialmente entre as frotas cativas. Além disso, espera-se que o governo dê incentivos para a expansão desse combustível nos Estados Unidos. Um cenário que também é esperado para os veículos híbridos. Participando do painel “O Futuro dos Combustíveis”, Coleman Jones, representante da General Motors, previu que cada vez mais veremos a presença de carros híbridos no mercado. No entanto, o preço mais elevado e a falta de autonomia devem limitar uma rápida expansão. “O veículo elétrico funciona bem para o dia a dia, mas não para Combustíveis & Conveniência • 45


44 REPORTAGEM DE CAPA viagens. O híbrido é melhor, porque você pode recorrer a outro combustível. Está surgindo o kit de carregamento, mas, mesmo assim, leva quase 40 minutos para recarregar”, afirmou. Tony Kenney, presidente da Speedway LLC (quarta maior cadeia de lojas e postos nos Estados Unidos, com cerca de 1,38 mil estabelecimentos em sete estados), acredita que, pelo menos nos próximos dez anos, os combustí-

veis fósseis ainda predominarão no mercado. Ele lembra que as próprias projeções do governo norte-americano apontam que a principal mudança na matriz veicular do país deverá ser uma redução de 5% no consumo de gasolina, compensada por uma elevação de mesmo tamanho no uso de diesel. “O que faz todo sentido, porque o diesel é mais eficiente”, afirmou. Segundo o relatório “Perspectiva Energética

Anual 2011”, publicado pelo US Energy Information Administration, em 2025 as vendas de gasolina responderão por 52% da matriz, ante os 57% de 2010, enquanto as de diesel passarão de 20% para 25% no período. Ainda de acordo com o documento, os veículos elétricos e a gás permanecerão com cerca de 3% do mercado, enquanto o etanol registrará incremento de 1 ponto percentual, para 5%.

Alimentação em foco

Anote! A NACS Show 2012 já está marcada: será realizada entre os dias 7 e 10 de outubro, em Las Vegas. Mais informações podem ser encontradas no site: www.nacsshow.com Antes disso, no entanto, a NACS tem encontro agendado com o Brasil. Afinal, São Paulo irá sediar o próximo Fórum Global da entidade, entre os dias 29 de junho e 2 de julho, quando especialistas de todo o mundo irão debater tendências para o setor. Além disso, serão realizados painéis de discussão, visitas a lojas e haverá a oportunidade para troca de contatos. Para mais informações: nacsonline.com/globalforum.

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46 • Combustíveis & Conveniência

Enquanto no Brasil o foodservice começa a se firmar, nos Estados Unidos já é uma realidade consolidada e que responde por cerca de 22% do lucro das lojas. No entanto, de acordo com CEO da NACS, Hank Armour, à medida que os estabelecimentos passam de postos que vendem comida para lojas de alimentos que comercializam combustíveis, eles são vistos de forma diferente pelo governo. Hank citou as novas regras de embalagem nos Estados Unidos, exigindo que sejam exibidas informações sobre valor calórico e nutricional dos alimentos. As informações precisam estar disponíveis nos cardápios e quadros de menus e os estabelecimentos devem fornecer também dados adicionais, por escrito, sempre que solicitado. “Isso pode fazer sentido em restaurantes, que vendem duas dúzias de itens fora do menu, mas não necessariamente em lojas de conveniência, que vendem milhares de outros produtos”, destacou.


Tamanho do mercado Mesmo com a crise que ronda a economia norteamericana, o segmento de conveniência continua em plena expansão e se prepara para aproveitar as oportunidades trazidas pelos dias de dinheiro mais curto e menos empregos, aproveitando-se, especialmente, do fato de estar presente em praticamente todos os cantos dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, são mais de 146 mil lojas em todo o país, o que significa um estabelecimento para cada 2,1 mil pessoas, segundo dados da NACS. Uma capilaridade de fazer inveja a seus principais

competidores: supermercados (36.149 lojas) e farmácias (37.409). O setor responde por US$ 575 bilhões em vendas, concorrendo de perto com outros importantes canais, como restaurantes (vendas de US$ 583 bilhões) e farmácias (US$ 222 bilhões, excluindo medicamentos com receita). São 160 milhões de clientes por dia (quase a metade da população dos Estados Unidos) e a indústria responde por 5% do produto Interno Bruto (PIB) norte-americano.

Tirando o pé do acelerador Morgana Campos

Morgana Campos

Marcando o quinto ano de participação como expositor, a Zeppini Ecoflex esteve presente na NACS 2011. “Apesar de realizada nos Estados Unidos, é uma feira internacional e que recebe boa parte de seu público vindo da América Latina, onde a Zeppini tem seus distribuidores regionais. Então, nossa presença é necessária e foi muito positiva. Tivemos ótima visitação desses países”, explicou Paulo Rogério, diretor-executivo da Zeppini Ecoflex. Segundo ele, o grande foco dos norte-americanos nesse momento está nas soluções para redução de consumo de água e de energia nas estações de serviço: reciclagem, separadores de água e óleo, captação de água pluvial, iluminação em LED. E a empresa já é presença confirmada para Las Vegas 2012.

Sim, a venda de combustíveis em supermercados continua tirando o sono de muitos revendedores nos Estados Unidos. A boa notícia, no entanto, é o que o ritmo de expansão diminuiu, como constatou o painel “Mais que combustível barato: um olhar sobre os supermercados”. De acordo com Joe Leto, presidente da Energy Analysts Internacional (EAI), a desaceleração da economia norte-americana freou os planos de expansão das principais redes e, pelo menos no curto prazo, não está prevista a entrada de nenhum novo importante player no setor. Além disso, muitos hipermercados estão investindo agora em formatos com lojas menores, em que não há espaço para postos de combustíveis. O que não quer dizer, no entanto, que os supermercados não continuem desempenhando um papel fundamental no setor. A EAI projeta expansão média de 15 lojas por mês, ainda uma taxa vigorosa, mas abaixo das 23 lojas mensais vistas em 2007. Atualmente, os hipermercados detêm 11,6% de fatia de mercado, número esse que deve crescer para 13% ou 14% até 2015. Grande parte dessa expansão, segundo Joe Leto, decorrerá dos maiores custos dos combustíveis, levando os consumidores a buscar preços menores nos supermercados. n

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44 MEIO AMBIENTE

O risco pode estar sob seus pés A recente divulgação de que o subsolo de um shopping paulista contém gás metano confinado em bolsões, com risco potencial de explosão, trouxe à tona novamente o debate sobre a Lei 13.577, que trata das providências e cuidados para o gerenciamento de áreas contaminadas Divulgação

A contaminação do solo e dos lençóis freáticos é um problema grave, que afeta tanto o meio ambiente quanto a sociedade

Por Rosemeire Guidoni A notícia de que o complexo do Shopping Center Norte (que inclui dois shoppings e um hipermercado, além da área de estacionamento) foi construído sobre uma área contaminada - um antigo aterro- e está sob risco potencial de explosão por conta do acúmulo de gás metano - surpreendeu muita gente. O shopping, um dos mais movimentados centros de compras da capital paulista, 48 • Combustíveis & Conveniência

foi construído há 27 anos em uma área que era um lixão a céu aberto. Na época, o material foi aterrado e, em cima, construiuse o empreendimento. Para seu funcionamento, o shopping instalou diversos dutos para a saída do gás metano – liberado pelo lixo – do solo e para que riscos de explosão fossem descartados. No entanto, de acordo com novos testes da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) as normas de segurança não eram

adequadas e havia risco potencial de explosão. Por este motivo, o shopping chegou a ser autuado e interditado, e somente pode ser reaberto após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pelo qual o Center Norte se comprometeu a instalar um sistema emergencial de drenagem de gás. O debate sobre o caso do Center Norte trouxe à tona, mais uma vez, a questão do gerenciamento de áreas contaminadas, um tema


Divulgação

já bastante conhecido do revendedor. Afinal, o setor de revenda de combustíveis foi o primeiro, em São Paulo, a ter de lidar com o problema da contaminação do solo e das águas subterrâneas. Aliás, justamente por ter sido o primeiro setor a investigar o problema e promover as correções necessárias, os postos lideram o número oficial de áreas contaminadas no estado – segundo informações da Cetesb, São Paulo tem hoje 3.675 áreas contaminadas conhecidas, das quais 79% são provenientes de postos de combustíveis e 13% de atividades industriais. Dos cerca de 8 mil postos revendedores em operação no estado, aproximadamente 6 mil já fizeram o licenciamento e, portanto, tiveram suas áreas contaminadas identificadas. De acordo com a Cetesb, o volume de áreas contaminadas por responsabilidade da indústria deve aumentar a partir de agora, já que o setor passará a ter também a obrigatoriedade de gerenciar o problema. Embora São Paulo tenha saído na frente na investigação deste tipo de problema, a contaminação do solo e águas subterrâneas está longe de ser uma exclusividade local. Na região Nordeste, na cidade de Fortaleza (CE), cerca de 80% dos aquíferos estão poluídos, isto devido a esgotos clandestinos, à destinação inadequada do esgoto residencial e de chorume de aterro sanitário, e também de perfurações ilegais de poços. A cidade de Natal (RN) encontrase em situação semelhante. Isso sem contar outras atividades potencialmente perigosas, que incluem indústrias e empresas que possuem tanques subterrâneos de armazenamento de combustíveis. A contaminação do solo e, consequentemente, dos lençóis

Como a maior parte dos postos em São Paulo já estão licenciados, as novas obrigações apenas dizem respeito a como a área considerada contaminada terá de ser gerenciada

freáticos é um problema grave e de desdobramentos complexos, que afeta tanto o meio ambiente quanto a sociedade. Mesmo em São Paulo, apesar das obrigações impostas pela Cetesb, muitos estabelecimentos potencialmente poluidores ainda ficam à margem do problema – caso de empresas que também armazenam combustíveis, mas com tanques de volume menor, como os Pontos de Abastecimento (PAs), oficinas, trocas de óleo e lava-rápidos. Mas, de acordo com o órgão ambiental, tais empreendimentos passarão a ter as mesmas obrigações, em breve. Ou seja, alguns segmentos foram

priorizados, pelo porte, evidência e potencial de riscos, mas a obrigação de gerenciar de forma adequada a área contaminada caberá a todos.

A regulamentação da Lei 13.577 O gerenciamento de áreas contaminadas é estabelecido pela Lei 13.577, de julho de 2009, que prevê a adoção de medidas para controle e recuperação destas áreas, evitando assim danos maiores ao solo, às águas e à comunidade. A Lei, que está em fase de regulamentação e deve trazer novas obrigações às empresas cuja atividade representa Combustíveis & Conveniência • 49


44 MEIO AMBIENTE

Pontos principais da Lei 13.577 Qual o passo a passo quando ocorre um vazamento ou derrame que possa gerar uma contaminação ou situação de risco? 1- Comunicar à Agência Ambiental (art. 14, Lei 13.577/2009); 2- Acionar a equipe de atendimento a emergências (EPAE); 3 -Tomar todas as medidas necessárias para a minimização dos riscos imediatos de incêndio, explosão e de acidentes; 4 - Paralisar de imediato a operação dos equipamentos afetados. Em caso de dúvida, paralisar todos os equipamentos do posto. Promover os reparos necessários. Quem são os responsáveis legais e solidários pela prevenção, identificação e remediação de uma área contaminada (artigo 13, da Lei 13.577)? I - o causador da contaminação e seus sucessores; II - o proprietário da área; III - o superficiário; IV - o detentor da posse efetiva; V - quem dela se beneficiar direta ou indiretamente. Quais as etapas do gerenciamento de uma área contaminada? 1 - Investigação confirmatória: define se existe ou não contaminação na área; 2 - Investigação detalhada e plano de intervenção: caracteriza o meio, determina a extensão da contaminação, a necessidade de remediação e suas metas e estabelece o plano de intervenção; 3 - Remediação: processo de recuperação da área; 4 - Monitoramento após remediação: acompanha se os alvos de projetos atingidos estão sendo mantidos, por um período de 24 meses; 5 - Encerramento: a área é declarada recuperada para uso como posto de combustíveis.

Averbação em cartório O artigo 14 da lei 13.577 diz que havendo perigo à vida ou à saúde da população, em decorrência da contaminação de uma área, o responsável legal deverá comunicar imediatamente tal fato aos órgãos ambientais e de saúde e adotar prontamente as providências necessárias para elidir o perigo. O artigo 24 estabelece que, uma vez o local classificado como Área Contaminada, o órgão ambiental competente vai determinar ao responsável legal que proceda, no prazo de até cinco dias, a averbação da informação da contaminação da área na respectiva matrícula imobiliária. 50 • Combustíveis & Conveniência

algum risco ambiental, foi tema de uma mesa redonda realizada no dia 4 de outubro, durante o 2o Congresso Internacional do Meio Ambiente Subterrâneo, promovido pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS). O debate, mediado por Giovanna Setti Galante, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e Engenharia Ambiental (Aesas), contou com a presença de Rodrigo Cunha, responsável pelo setor de áreas contaminadas da Cetesb; Eduardo San Martin, representante da Confederação das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e José Eduardo Ismael Lutti, do Ministério Público de São Paulo. O debate apresentou as novas obrigações impostas pela legislação. “É a primeira legislação a estabelecer os responsáveis pela área contaminada, além de criar instrumentos para seguro ambiental e um fundo para que o Estado possa remediar as áreas órfãs”, explicou Giovanna. Para San Martin, a principal dificuldade do setor industrial ainda é a desinformação. “Somos amplamente favoráveis ao que melhora a qualidade de vida das pessoas. Queremos que todas as indústrias busquem atender à legislação, mas precisamos reduzir a desinformação do setor”, ressaltou o representante da Ciesp. Lutti, do Ministério Público, foi mais enfático. “O bom empresário tem de respeitar as regras da sustentabilidade. As empresas precisam pensar duas vezes antes de instalar uma atividade poluidora. Se o fazem, deve existir responsabilidade”, destacou.

Passo à frente Embora o tema seja muito polêmico, especialmente por trazer novas obrigações às empresas, os


Daniel Codina

postos revendedores já estão um passo à frente desta discussão. Como a maior parte dos estabelecimentos do estado já está licenciada, as novas obrigações apenas dizem respeito a como a área considerada contaminada terá de ser gerenciada. Vale lembrar que a regulamentação da Lei não deve alterá-la, apenas acrescentar complementos que possam facilitar seu entendimento, além de trazer uma revisão mais técnica a respeito dos procedimentos necessários. Em linhas gerais, para os postos, a legislação propõe uma reclassificação de áreas, de acordo com o risco. Assim, a área pode ser definida como: 4 com potencial de contaminação; 4 com suspeita de contaminação;

Mesa Redonda sobre Regulamentação da Lei Estadual de Áreas Contaminadas

4 sob investigação; 4 contaminada; 4 em processo de remediação; 4 em processo de monitoramento pós-remediação; 4 remediada para uso declarado; 4 crítica;

4 contaminada com reutilização. A legislação também orienta sobre o que fazer em caso de vazamento ou acidente com combustíveis, institui as etapas de gerenciamento, estabelece a necessidade de um responsável técnico pela área e de averbação da área em cartório. n

Combustíveis & Conveniência • 51


44 CONVENIÊNCIA

Fim de ano: ainda dá tempo de preparar a loja Apesar de os índices econômicos mostrarem uma desaceleração da economia, ninguém duvida que a época de final de ano continua sendo a melhor oportunidade para o varejo vender mais. E ainda dá tempo de preparar seu negócio para este período! Por Rosemeire Guidoni Fim de ano é sempre uma época boa para o varejo. E apesar de neste ano as perspectivas não serem tão otimistas quanto em 2010, o comércio ainda vai estar aquecido para o Natal (veja Box). Então, nada de deixar de lado os preparativos para atender aos clientes que querem confraternizar com a família e os amigos e procuram as lojas de conveniência para compras de última hora – que incluem desde bebidas e alimentos até itens para presente. Embora o ideal seja que a preparação da loja já tenha sido iniciada em outubro, segundo o consultor Américo José da Silva Filho, da Atco Treinamento e Consultoria, em novembro ainda é possível negociar boas condições de preços e promoções com os fornecedores. “Na verdade, é recomendável que as negociações sejam feitas com antecedência, mas esta organização especial 52 • Combustíveis & Conveniência

da loja deve se estender até a volta às aulas, aproveitando toda a época de férias de verão”, orientou. “É interessante que o posto de combustíveis e a loja avaliem o perfil do seu cliente e organizem um calendário promocional de acordo com o potencial de consumo de cada empreendimento”. Em outras palavras, o consultor sugere que o posto observe quem são seus consumidores tradicionais e avalie se há perspectiva de aumento de demanda nos próximos meses. Estabelecimentos localizados em cidades turísticas ou regiões litorâneas provavelmente devem ter um incremento de vendas mesmo após o período das festas natalinas, especialmente de produtos como kits de beleza, isopores, carrinho para armazenar cervejas, produtos para o sol, para picadas de insetos, xampu, condicionador, entre outros. Por outro lado, uma loja localizada em um posto

urbano pode ter um aumento de vendas de outros tipos de itens, como alimentos semi-prontos. E não é somente na loja que o consumo tende a aumentar. Em geral, serviços automotivos são mais procurados nesta época por conta do aumento das viagens rodoviárias, e o consumo de combustíveis, especialmente em postos situados em entradas ou saídas de cidades, também tende a se elevar. “A sazonalidade sempre contribui para o incremento das vendas, desde que o empresário saiba identificar que tipo de produto pode ter maior demanda no período”, destacou Silva Filho, mencionando que os itens sazonais funcionam como âncora, gerando fluxo e venda de outros produtos.

Compras de ocasião Para a época específica do final de ano, o consultor sugere cuidado, não comprando apenas pelas oportunidades de preços,


CONVENIÊNCIA 33 principalmente quando se trata de produtos com prazo de validade, como é o caso dos panetones, ou exclusivamente sazonais, como árvores de Natal ou itens decorativos de época. “Se a loja já tiver um histórico de venda destes produtos em anos anteriores, o ideal é basear as compras nestes números, adequando as novas quantidades a serem compradas, de acordo com suas expectativas.” Vale lembrar que quanto maior a compra, melhor o desconto oferecido pelo fornecedor. No entanto, como a maior parte das lojas possui um espaço de estoque bastante restrito, a solução é negociar entregas pulverizadas. Isso evita perdas por conta de embalagens danificadas em função de erros no armazenamento ou por vencimento de prazo de validade, no caso de perecíveis. “A negociação deve envolver uma condição de que a entrega dos produtos seja de acordo com a demanda. Isto é, não há necessidade de comprar e receber tudo de uma única vez. Em último caso, sempre há a possibilidade de comprar em atacadistas ou distribuidores”, disse Silva Filho. Em alguns casos, a bandeira negocia diretamente com o fornecedor, oferecendo o benefício do preço mais interessante à loja. Embora seja uma opção interessante para conseguir bons preços, também é recomendável ter cuidado na hora do pedido. Que o diga a empresária capixaba Maria da Penha Amorim Shalders, que tem uma loja de conveniência de bandeira AM/PM. “Já tive alguns problemas com a Central de Compras da AM/PM. Em uma ocasião, a central enviou 360 unidades de panetone para a loja, na semana do Natal.

Quem vende 360 panetones em uma semana?”, questionou. Outro cuidado importante é em relação ao armazenamento, para evitar perdas. “Se a loja tem pouco espaço de estoque, é importante organizar os itens nas prateleiras e adotar cuidados extras, como no caso de embalagens que podem ser danificadas”, destacou Ana Caroline Nonato, professora e coordenadora de cursos do PROVAR/FIA. É o caso, por exemplo, de pilhas de panetones, pois as embalagens que estão na base podem ser amassadas (e rejeitadas pelo cliente), representando

perdas para a loja. Além disso, Caroline recomenda observar o prazo de validade de cada item e o seu correto armazenamento (manter sob refrigeração ou não, colocar na frente da prateleira produtos mais perto da validade, entre outros), para evitar perdas nesta época. Além dos industrializados, algumas lojas, especialmente as que contam com um serviço próprio de alimentação, podem optar por oferecer pratos prontos alusivos à época. Mas cuidado: para isso, é necessário que a loja consiga preparar e manter

Para ser lembrado o ano inteiro Final de ano também é a época de agradecer a parceria ao longo dos 12 meses anteriores. Por isso, vale investir em brindes especiais para alguns clientes e fornecedores. Entretanto, importante lembrar que o brinde deve ser algo que tenha valor para quem irá receber. Os clientes fieis do posto também podem ser lembrados nesta ocasião, e nem precisa ser um brinde de grande valor. Uma gentileza maior, uma lembrança para o filho ou para o veículo conquistará, com certeza, a simpatia do consumidor.

Os cinco passos do bom atendimento SORRIR. Assim que um consumidor entrar na loja, com um sorriso demonstre que ele foi percebido e que você está pronto para atendê-lo; CUMPRIMENTAR. Todos os consumidores devem ser cumprimentados assim que se aproximarem do atendente; ESCUTAR. Preste atenção ao que o cliente está pedindo. Assim terá condições de oferecer algo de acordo com suas necessidades; OFERECER. Após escutá-lo atentamente, ofereça o que foi solicitado, e também outros produtos relacionados e/ou em promoção; AGRADECER. Sempre se despeça com “Obrigado. Tenha um bom dia (boa tarde ou boa noite)”. Demonstre que foi um prazer recebê-lo. Fonte: Atco Consultoria e Treinamento

Combustíveis & Conveniência • 53


44 CONVENIÊNCIA os alimentos em condições de conservação e higiene, atendendo às regras estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Todo e qualquer produto vale a pena, desde que esteja de acordo com o perfil do público e das condições do posto”, afirmou Silva Filho. Neste caso, elabore um bom cardápio ou folhetos informando preços, necessidade de pedidos antecipados (se houver), detalhes do prato, entre outros.

Nem só de alimentos vive a loja Nesta época, vale lembrar que existem vários tipos de produtos que podem representar uma boa margem para o revendedor. De acordo com Silva Filho, as opções passam por bebidas e itens para presente, como kits de bebidas de maior valor agregado (espumantes, vinhos, whisky), cestas de Natal (pequenas e médias, mas com produtos que normalmente não são encontrados nas prateleiras), pequenos presentes (jogos para caipirinha, jogos de copos para whisky, taças), linha de perfumaria (kit de beleza, de praia, de campo), entre outros. No caso específico da venda de bebidas, ele ressalta a importância de observar as legislações que possam trazer algum tipo de restrição. “De modo geral, as bebidas proporcionam uma boa margem para uma loja de conveniência. No entanto, é imprescindível que seja observada a legislação a respeito. Se no seu município é proibida a venda e/ou o consumo no posto, a legislação deve ser respeitada. Por outro lado, se é proibido apenas o consumo, uma alternativa é a venda de bebidas como vinho, espumante, kits de cervejas com copo, entre outros, 54 • Combustíveis & Conveniência

em embalagens para presente”, sugeriu. Além destes itens, CDs, DVDs, livros, bombons em embalagens diferenciadas, caixas com frutas natalinas ou frutas secas e pequenos brinquedos são boas opções para clientes que buscam presentes de última hora.

Decoração e organização da loja “As pessoas que frequentam os postos são as mesmas que vão aos shoppings e às lojas de departamentos. Portanto, estão habituadas a ver decorações de Natal e esperam isso em todos os ambientes. Além disso, vale destacar que é preciso criar algum atrativo para que elas se lembrem das festas também quando estão nos postos”, ressaltou o consultor da Atco. De acordo com ele, é possível investir tanto em decoração quanto em promoções. “A decoração da loja deve valorizar os itens alusivos à época, e as promoções devem ter o objetivo de levar o cliente para dentro da loja. Pode ser, por exemplo, um café, para o cliente entrar na loja enquanto aguarda o abastecimento, ou outro brinde, que sempre será entregue na loja”, sugeriu. Dentro da loja, a decoração e a forma de apresentação dos produtos podem favorecer compras por impulso. Valem mesas temáticas (desde que não ocupem muito espaço e dificultem a mobilidade no local), arrumações especiais de produtos e itens decorativos. No entanto, Silva Filho lembra que é essencial tomar cuidado para não poluir demais a loja com uma decoração que esconda os produtos expostos. Neste caso, uma alternativa é eliminar temporariamente uma gôndola

ou mesa, para dar espaço para a decoração. “Uma ação que costuma dar bons resultados é adicionar frases nas gôndolas e em outros lugares à vista do consumidor. Frases como ‘Presenteie seus amigos com....!’, ou ‘Você já comprou os presentes de Natal?’, ou ainda ‘Kit vinho, um belo presente’ costumam chamar a atenção dos consumidores. Criatividade é importante para valorizar os produtos”, disse.

Equipe bem preparada faz a diferença De acordo com os especialistas em treinamento, este é o ponto alto das vendas: no final do ano, ter uma equipe motivada e pronta para atender e vender. “Nesta época do ano as pessoas cobram mais gentilezas do que em outras, pois o espírito do Natal e férias é baseado em sorrisos”, afirmou Silva Filho. Por isso, ele recomenda adotar ações para motivar a equipe e treinar os funcionários quanto à abordagem dos clientes e a forma de oferecer os serviços. “É interessante criar uma ação coletiva e outra individual. Por exemplo, se o posto atingir uma determinada meta, todos ganham uma cesta de Natal. E criar metas individuais para a loja – se houver condições de identificar quem fez – e para a pista, com produtos específicos como lavagem, troca de óleo e venda de combustíveis”, disse. Além disso, o especialista recomenda que os prêmios sejam sempre na forma de produtos, passeios ou até mesmo ingressos para cinema ou shows, para distingui-los das comissões que eventualmente o posto já paga pelas vendas. n


OPINIÃO 44 Ricardo Guimarães4 Sócio-diretor da Rede Aghora Conveniência

No rumo certo fornecedores de produtos, Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos equipamentos e serviços o canal conveniência se encontra em um estágio específicos para o segbastante maduro e completamente integrado à mento de food service cultura norte-americana. Lá, os consumidores reinam quase absolutos frequentam as lojas de conveniência quase na feira. diariamente e já incorporaram tais estabeleciQuando olhamos para este universo da convementos como parte do seu dia a dia. Isso implica niência representado no evento da NACS, é possível um desenvolvimento tecnológico e de produtos perceber que, apesar do longo caminho ainda a extremamente especializados e diversificados, percorrer, o Brasil o vem trilhando a passos firmes que atenda a todas as demandas do setor com e na direção correta. Temos barreiras enormes qualidade, padronização e logística. ainda a serem vencidas: a logística de um país Não é à toa, portanto, que a primeira imprescontinental; uma carga tributária elevada, inviasão de quem visita a NACS Show 2011 (realizada bilizando a entrada de produtos e equipamentos; em Chicago entre os dias 1o e 5 de outubro) é de e um número reduzido de fornecedores, dentre que se trata de uma realidade ainda um pouco outros problemas sentidos pelos empresários em distante da nossa, já que somente recentemente suas operações cotidianas. o canal conveniência começou, de fato, a se No Brasil, até bem consolidar no país. pouco tempo, as lojas de Ao contrário das nossas conveniência estavam muito feiras, ainda bastante volconcentradas nos grandes tadas para serviços e equiCom o crescente aumento do pocentros. Além disso, o baixo pamentos para postos, nos der de compra do brasileiro e maior poder de compra do conEstados Unidos percebe-se interesse na abertura de novos ponsumidor restringia a oferta nitidamente a preocupação tos de venda, a indústria terá mais da indústria em desenvolver demanda para atender, a logística se de novos produtos para o produtos específicos para tornará mais fácil e o consumidor terá segmento. Para se ter uma ideia, a grande maioria das o canal de conveniência. seus desejos atendidos com produtos indústrias presentes na NACS O objetivo é conquistar desenvolvidos especificamente para o Show 2011 está instalada clientes com pouco tempo, segmento de conveniência no Brasil, só que, diferenque buscam facilidades e, temente do que acontece por isso, comprar deve ser: aqui, as opções oferecidas fácil, rápido, personalizado para o consumidor norte(as pessoas querem se sentir americano são incontáveis. diferentes e únicas) e prazeroso, pois, sem tempo Com o crescente aumento do poder de para o lazer, as pessoas estão dispostas a pagar compra do brasileiro e interesse na abertura mais por produtos e serviços que ofereçam uma de novos pontos de venda (principalmente fora recompensa emocional. de grandes centros), o cenário vem mudando O sucesso de uma loja de conveniência estará rapidamente. A indústria terá mais demanda fortemente associado à valorização dos espaços para atender, a logística se tornará mais fácil e destinados à alimentação (food service). E tanto o consumidor terá seus desejos atendidos com a ambientação da loja (layout, equipamentos e produtos desenvolvidos especificamente para o mobiliários) quanto uma oferta variada de produsegmento de conveniência. tos diferenciados, de qualidade e que realmente E, portanto, não tenho dúvidas de que o Brasil abracem o conceito de conveniência passam a ser caminhará de forma firme e rápida em direção a prioritários neste modelo de negócio. uma realidade como aquela apresentada na NACS Esta tendência fica bem visível para quem SHOW 2011. visitou a NACS Show 2011, ao constatar que os Combustíveis & Conveniência • 55


44 REVENDA EM AÇÃO

Novos cenários para a revenda 14a edição da Expopetro reúne varejistas e fornecedores, que debateram e buscaram soluções para os novos (e alguns bem antigos) desafios no setor de combustíveis no Brasil Foto Rocha

Por Natália Fernandes Com plateia participativa e palestras informativas, foi realizado o 14º Congresso Nacional de Revendedores de Combustíveis e 13º Congresso de Revendedores de Combustíveis do Mercosul – Expopetro 2011, que aconteceu entre os dias 22 e 24 de setembro, na cidade de Gramado (RS). O evento, que contou ainda com uma feira de equipamentos e serviços, foi promovido pelo Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro) e pela cooperativa dos revendedores de combustíveis (Coopetrol), em parceria com o Sindipetro Serra Gaúcha, Sindipetro-SC e Sindicombustíveis-PR – e contou ainda com o apoio institucional da Fecombustíveis e da Comissão Latino-Americana de Empresários de Combustíveis (Claec). “Nesta edição, contamos com grande número de autoridades, especialmente na abertura, quando compareceram deputados estaduais, federais, secretários de Estado e o vicegovernador do Rio Grande do Sul, Beto Grill”, conta Adão Oliveira, presidente do Sulpetro. Beto Grill já atuou no ramo da revenda de combustíveis, mas, atualmente, 56 • Combustíveis & Conveniência

Revendedores puderam conferir as novidades da feira de equipamentos e serviços

os negócios estão sendo administrados pela família, devido ao cargo em exercício. Na cerimônia de abertura, o presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, chamou a atenção para as mudanças que irão chegar ao mercado de combustíveis a partir de janeiro. “Estamos passando por um momento especial. Temos alguns desafios que considero importantíssimos para a revenda nesse instante, principalmente a partir de 1º de janeiro de 2012, quando teremos que colocar à disposição dos consumidores em todo o território nacional o diesel com baixo teor de enxofre. Vamos fazer tudo o que estiver

ao nosso alcance para cumprir esse desafio”, garantiu.

Diversidade de temas Durante os três dias do Encontro, os revendedores puderam discutir os mais variados temas, como gerenciamento de perdas, crise no etanol e problemas com o biodiesel. O palestrante Paulo Magnus ofereceu diferentes dicas estratégicas para administrar bem os negócios da conveniência. Do início ao fim da apresentação, Magnus ressaltou a importância de se valorizar o atendimento ao cliente e de se estar sempre investindo em segurança e no treinamento de pessoal para


Foto Rocha

verificar possíveis erros, desde a estocagem de produtos até o atendimento direto ao consumidor. Já Adriano Pires, diretorexecutivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), falou sobre as “Perspectivas do setor de petróleo no Brasil e suas consequências para o mercado de combustíveis”. “O Brasil está em processo de se tornar um exportador de petróleo - já estamos autossuficientes em petróleo - e um importador de derivados. A questão da importação dos derivados está crescendo e vai continuar a crescer nos próximos anos, se a economia brasileira tiver esse comportamento de sucesso que vem apresentando nos últimos anos”, disse o economista e ex-superintendente de Abastecimento da ANP. O tema cartão de crédito foi debatido no painel “Política para cartão de crédito nos países latino-americanos” e ressaltou as diferentes formas de atuação desse serviço em países como Costa Rica, Argentina e Uruguai. A Expopetro também dedicou espaço ao bem-estar e à qualidade de vida com a palestra do mestre budista Lama Padma Santen e o tema “Como estruturar as relações profissionais, familiares e amorosas para uma vida saudável e equilibrada?”. A programação do evento incluiu ainda jantar com baile, durante o qual foi entregue o Troféu Coopetrol aos profissionais que se destacaram pelo trabalho dedicado à revenda de combustíveis no Rio Grande do Sul, no Brasil e na América Latina.

Mesa de abertura da 14a Expopetro, em Gramado (RS)

Muitas controvérsias Como não poderia ser diferente, o painel “Crise no abastecimento do etanol” rendeu bons comentários e aguçou a curiosidade da plateia. O palestrante Eduardo Pereira, ex-presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), falou sobre as diversidades do mercado, que não são poucas. “Vocês são responsáveis por mais da metade do faturamento das usinas de açúcar e álcool do Brasil, nosso produto passa pelas mãos de vocês e, portanto, vocês têm uma responsabilidade fundamental, e essa conversa dos produtores de álcool com vocês deveria ser muito mais intensa e efetiva do que o é”, iniciou Pereira. De forma provocativa, o empresário questionou que crise é essa, já que, pela primeira vez nos últimos seis anos, o setor produtor ganha dinheiro na venda do etanol. “Há uns setes anos, o produto era vendido abaixo do seu custo de produção. Ainda que, por vezes, o açúcar podia compensar e nem sempre você tinha prejuízo na usina como um todo”, detalhou. Na opinião de Eduardo Pereira, o fantástico comportamento do mercado de automóveis no Brasil e o estrondoso sucesso dos veículos flex fuel foram os grande responsáveis pelo crescimento do setor de etanol no país. “Esse sistema já estava inventado em 1993, mas não havia oportunidade de mercado para isso”. Ainda presidindo a Unica, Eduardo pôde acompanhar a chegada do carro movido a etanol e gasolina. “Nós conseguimos um abatimento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) necessário para esse automóvel equivaler ao carro a etanol, estimulando o lançamento”, detalhou. Hoje o comportamento mudou. A produção interna do país não tem condições nem de atender o mercado de gasolina, nem o de etanol. As importações são o melhor espelho desse cenário. “Se o mercado de automóveis continuar crescendo, nós vamos passar três, quatro anos com importações relativamente significativas de combustível para um país que tinha sua autonomia de produção interna, tanto de etanol, quanto de gasolina e que parecia uma garantia”, disse. Combustíveis & Conveniência • 57


44 REVENDA EM AÇÃO Marcelo Amaral Portphoto

Marcelo Amaral Portphoto

“A partir de 1º de janeiro de 2012, teremos que colocar à disposição dos consumidores, em todo o território nacional, o diesel com baixo teor de enxofre. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para cumprir esse desafio”, garantiu Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis

A bióloga Fátima Bento sugeriu aos postos a adoção de rotinas mais rígidas de estocagem, com a drenagem periódica nos tanques de combustíveis, para evitar formação de borra

A borra incomoda. E muito. Doutora em Microbiologia de Combustíveis e em Biocorrosão de Tanques com Óleo Diesel, e Mestre em Biodeteriorização de Combustível Armazenado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a bióloga Fátima Menezes Bento apresentou um pouco do que tem sido produzido pela Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, da universidade, que realiza estudos e projetos sobre armazenamento de biodiesel. No painel “É possível solucionar os problemas da adição do biodiesel?”, Fátima orientou os participantes. “Hoje, o óleo diesel brasileiro não tem somente conotação de diesel. Tem a presença de um aditivo”, explicou a especialista, que também é pós-doutorada em Biorremediação de Óleo Diesel pela Universidade da Califórnia (EUA). Fátima iniciou a palestra fazendo uma espécie de “túnel do tempo”, relembrando a chegada do Programa Nacional de Biodiesel, em 2005, e o uso obrigatório da mistura B2 (diesel com 2% de biodiesel) em 2008. E disse que é preciso conhecimento por parte dos envolvidos na cadeia de combustíveis. “Todos em diferentes setores precisam entender o que está acontecendo. Conhecer e, obviamente, tentar resolver os problemas. Nós ainda estamos nos acostumando com esse novo combustível”, argumentou. Fátima destacou ainda o fato de o biocombustível ser biodegradável, ou seja, ele tem um apelo do ponto de vista ambiental (não tem nitrogênio, enxofre ou compostos aromáticos, o que o difere do diesel de petróleo), porém isso também traz algumas desvantagens, especialmente na estocagem, com formação de resíduos, a chamada borra. Segundo a bióloga, o problema de deterioração durante a estocagem sempre ocorreu com o 58 • Combustíveis & Conveniência

óleo diesel. E não só no Brasil, no mundo inteiro. E com a introdução do biodiesel, esse quadro ficou um pouco mais vulnerável. O “mousse de chocolate”, como também é conhecida a borra, tem causado diversos problemas, como bloqueio de mangueiras, válvulas e filtros dos veículos e a corrosão das tubulações. A formação do sedimento, um problema crônico, muitas vezes está associada à estocagem incorreta do combustível nos tanques dos postos. É uma constatação que a bióloga tem visto na literatura e em trabalhos de campo. “Se evitarmos a presença de água do tanque, diminuímos muito a questão da estabilidade química, freando as reações químicas”, alertou Fátima. A água é fundamental para os microorganismos responsáveis pela formação da borra. A bióloga sugeriu, como uma das alternativas para os postos, a adoção de rotinas mais rígidas de estocagem, com a drenagem periódica nos tanques de combustíveis - por exemplo, uma vez a cada dez dias. Outra saída seria o uso de biocidas, mas eles ainda não são permitidos pela legislação brasileira. Segundo Paulo Miranda, que participou do debate junto à bióloga, o cobre, presente em boa parte dos equipamentos nos postos, também é um importante acelerador da formação da borra. “Pesquisas da Universidade de Brasília, conduzidas pelo doutor Paulo Suarez, mostram que o cobre acelera o processo de oxidação, quando em contato com o biodiesel”. Paulo Miranda ainda ressaltou que a maior parte dos equipamentos que existem no mercado interferem na oxidação. “O cobre é o campeão. Por isso, a Fecombustíveis sugere que os revendedores troquem tudo o que for de cobre para diminuir essa oxidação”. n


44 PERGUNTAS E RESPOSTAS

LIVRO 33

O Ato Cotepe 04/10 determinou a alteração das bobinas de Emissor de Cupom Fiscal (ECF) a partir de 01/10/2011. A principal mudança é no papel, que precisa conter fibras reagentes à luz ultravioleta ou luz negra para identificação como modelo aprovado por órgão especializado e previamente credenciado.

Nacional de Política Fazendária (Confaz).

Qual a razão da mudança no papel de impressão dos cupons fiscais?

Este é um grande problema.

É possível também fazer uma consulta junto à Secretaria de Fazenda do seu estado para verificar se o fornecedor de fato é homologado. Atualmente, já temos 52 empresas homologadas.

O que fazer com eventuais estoques de bobinas? Como os fornecedores só começaram

A legislação brasileira estabelece que os cupons fiscais tenham durabilidade de cinco anos. No entanto, desde que se começou a utilizar os equipamentos emissores de cupom fiscal, em 2003, não havia uma especificação em relação ao papel utilizado para a impressão. Então, utilizava-se um papel de fax, que com o tempo tem a impressão apagada, não permitindo que o consumidor o guarde como documento por um período de cinco anos. E, desde 2003, os equipamentos ECF foram migrando para a tecnologia termo-sensível. Faltava apenas um papel específico para a impressão, cujas especificações foram estabelecidas agora. A principal mudança é que foram adicionadas fibras supra-alvejadas, ou seja, foto-sensíveis, que podem ser visualizadas com luz ultravioleta, permitindo maior controle por parte da fiscalização.

a entregar as bobinas homologadas a

Será necessária alguma mudança/atualização nos equipamentos (impressoras)?

Quem não utilizar as novas bobinas está sujeito a quais penalidades? O consumidor pode denunciar ou reclamar a órgãos de defesa, como Procons?

Não, esta foi uma preocupação na hora de definição do tipo de papel. Os equipamentos permanecem os mesmos, sem necessidade de alteração ou adequação, lembrando que o uso de ECF é obrigatório.

partir de 1º de outubro, estima-se que exista um volume calculado de quatro mil toneladas do papel utilizado anteriormente em estoque nas empresas. Este papel não pode ter outro uso e seu descarte seria complicado – e até anti-ecológico. A Associação Brasileira de Automação Comercial (Afrac), inclusive, está pleiteando, junto às Secretarias de Fazenda de cada um dos estados, o convívio dos dois tipos de papel durante um período de três meses. Ainda não temos uma aprovação disso formalizada, embora alguns órgãos tenham se mostrado favoráveis. Não se trata de uma prorrogação de prazo para que o uso do novo tipo de papel seja obrigatório, mas sim um convívio dos dois tipos, até que os estoques se esgotem, evitando o desperdício.

As secretarias de Fazenda ainda não publicaram quais serão as sanções para quem não fizer uso do papel especificado. Porém, o Procon pode

Quais documentos devem ser exigidos dos fornecedores, para comprovação de que atendem às novas regras?

autuar, com base no Código de Defesa

Ao comprar novas bobinas de papel para ECF, o contribuinte deve exigir que o fornecedor apresente a comprovação de sua homologação junto ao Conselho

*Informações fornecidas por Fer-

do Consumidor.

nando Martins, vice-presidente de suprimentos da Associação Brasileira de Automação Comercial (Afrac) Combustíveis & Conveniência • 59

Título: O escândalo do petróleo e Georgismo e comunismo Autor: Monteiro Lobato Monteiro Lobato não admitia que num país de enormes dimensões, e num continente no qual as descobertas se multiplicavam, não houvesse um esforço para explorar a fonte de energia que substituía rapidamente o carvão naquela primeira metade de século XX. O livro O escândalo do petróleo deu origem às principais bandeiras do movimento da sociedade civil. E é este texto, acrescido de Georgismo e comunismo, que é resgatado, neste momento em que o Brasil – passadas sete décadas – prepara-se para se tornar uma das maiores potências petrolíferas do planeta. O escândalo do petróleo foi lançado originalmente em 1936, durante o primeiro mandato de Getúlio Vargas. Ele relata a aventura vivida pelo próprio escritor, que reuniu capital de pequenos investidores e procurou, por dez anos, petróleo no subsolo brasileiro. Por conta de sucessivos empecilhos do governo da época, as tentativas de prospecção acabaram frustradas. Mas a repressão não se resumiu ao Lobato empresário e ativista; o escritor também acabou tendo seu texto proibido pela ditadura do Estado Novo, em 1937, após o sucesso editorial do lançamento, com algumas tiragens sendo vendidas rapidamente. Essa situação só iria se modificar com Vargas deixando o poder em 1945. Já o texto Georgismo e comunismo é de 1948. Nele o autor apresenta o pensamento econômico do norte-americano Henry George, como forma de promover avanços sociais numa democracia capitalista e assim evitar a ameaça comunista, que havia se tornado realidade com a participação da União Soviética na vitória sobre as forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial. A proposta de George tem como ponto principal a criação de um “imposto único” sobre a terra improdutiva. Nesses textos o leitor vai constatar como as reivindicações de Lobato são atuais. Afinal, os cenários mudaram, mas não os problemas que o Brasil continua enfrentando tanto tempo depois.


44 ATUAÇÃO SINDICAL MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Vitória definitiva na venda de bebidas alcoólicas Após cinco anos de incansável luta em defesa dos interesses da revenda carioca, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio de Janeiro (Sindcomb) obteve uma importante, e definitiva, vitória: o direito da categoria de comercializar bebidas alcoólicas em postos de combustíveis. De acordo com o advogado Jayme Soares da Rocha, do escritório Taunay Sampaio & Rocha, a Procuradoria do Município não recorreu contra indeferimento do Recurso Extraordinário do Supremo Tribunal Federal. A entidade jurídica reconheceu a inconstitucionalidade do Decreto Municipal nº 28.735/2007, pois este entra em confronto com a Lei Complementar nº 43, que regulamenta a atividade dos postos revendedores. A Lei Complementar nº 43, de 08 de novembro de 1999, afirma em seu artigo 2º, texto integral, que o posto de serviço e revenda de combustíveis e lubrificantes é o estabelecimento que se destina à venda no varejo de combustíveis e lubrificantes e também ao atendimento de outras atividades suplementares,

entre elas especificada a venda de jornais, revistas, mapas e roteiros turísticos, artigos de artesanato, souvenirs, cigarros, cafés, gelo, refrigerantes, bebidas alcoólicas não fracionadas, sorvetes e confeitos. Nas palavras do terceiro vice-presidente do STF, desembargador Antonio Eduardo F. Duarte, o município baseou o uso de recurso valendo-se de interpretação de legislação local, o que, segundo ele, se distancia das competências definidas pela Constituição. Desta forma, o processo transitou em julgado para o Supremo. Apesar de o Decreto Municipal nº 28.735/2007 não apresentar mais validade, é necessário lembrar que, pela legislação vigente, é permitida a venda de bebidas alcoólicas nos postos. Contudo, é terminantemente proibido o consumo destes produtos no interior do estabelecimento, assim como a venda fracionada de bebidas com teor alcoólico. O advogado Jayme Soares salientou a força de vontade e o trabalho feito por todos os responsáveis por esta conquista jurídica. “A vitória do Sindcomb

foi de enorme relevância para a categoria. A diretoria do Sindcomb agiu com muita rapidez na defesa dos interesses dos associados e, logo em seguida à edição do famigerado Decreto Municipal, acionou o departamento jurídico cível do Sindicato para questionar a legalidade do Decreto, já que uma lei de hierarquia superior (Lei Complementar 43/99) garantia aos revendedores o comércio de bebidas alcoólicas, desde que não fracionadas.” O magistrado disse ainda que, caso a liminar a favor do município fosse obtida anteriormente, os prejuízos seriam enormes. Alguns postos informaram que as receitas em lojas de conveniência poderiam cair em mais de 30%, caso fosse proibida a venda de bebidas. “Após a liminar, o município tentou sustentar a legalidade do Decreto e o embate jurídico perdurou por mais de cinco anos até que, finalmente, depois de julgado em 1ª e 2ª instâncias, o Sindcomb saiu vencedor em todas elas e, com isso, o direito dos revendedores permaneceu assegurado em definitivo”, concluiu. (Kátia Perelberg)

GOIÁS

Setor debate produção e consumo de etanol “A Economia Brasileira em Cenário de Crise Mundial”. Este foi o tema da palestra de George Vidor aos associados do Sindiposto Goiás. Economista, colunista de O Globo e comentarista econômico da Globonews, Vidor tem uma visão otimista 60 • Combustíveis & Conveniência

dos reflexos da crise mundial para o Brasil, principalmente para o estado de Goiás, que vem crescendo acima da média nacional. “É claro que o país sente e vai continuar sentindo os efeitos da crise, mas em proporção

aceitável. E os próximos 20 anos serão os mais produtivos para o país, porque teremos o maior número de brasileiros em idade produtiva-consumidora, já que o Brasil saiu demograficamente do perfil pirâmide para o perfil barril, ou seja, estamos


no equilíbrio entre crianças, adultos e idosos.” Quanto ao mercado de combustíveis, Vidor ressaltou a tendência do Brasil em ser exportador de petróleo, devido ao pré-sal, mas lembrou que isso depende de uma série de fatores, já que o mercado interno cada vez exige mais. As duas refinarias de petróleo, por exemplo, ainda em construção pela Petrobras,

de acordo com o economista, deverão ser voltadas para o mercado interno em sua maior parte. A crise do etanol foi abordada de forma cautelosa, ressaltando os investimentos ainda a longo prazo e o aprendizado dos produtores no cultivo e colheita da cana-de-açúcar. Segundo ele, algumas falhas contribuíram para que a produção não crescesse o suficiente

para abastecer o mercado, entre elas a mecanização da colheita, que, realizada de forma inapropriada, não aproveitou o produto da forma como deveria. Mas Vidor diz que o mercado do etanol ainda é promissor. “Investimentos no setor produtivo e na logística com a construção de dutos vão dar mais profissionalismo ao mercado, diminuindo riscos eventuais.” (Sandra Tokarski Persijn)

ALAGOAS

Breno Laprovitera

de expositores em um espaço projetado para unir informação e negócios. Democratizando o acesso e estreitando o relacionamento entre os mais diferentes públicos atuantes no setor de combustíveis. “As discussões quanto ao futuro da matriz energética e da revenda de combustíveis tornaram-se extremamente relevantes para a evolução do setor e para estreitar o relacionamento entre os agentes do mercado”, apontou o presidente do SindicombustíveisAL, Carlos Henrique Toledo. As inovações presentes na próxima edição do ERCOM não impedirão que os participantes desfrutem, também, de momentos de lazer. Um programa especial está sendo montado para que os participantes conheçam e apreciem o paraíso alagoano das águas, com sua rica cultura, culinária, folclore, pontos turísticos e opções de entretenimento. Mais informações sobre o evento através do Sindicombustíveis-AL, nos números (82) 3320-1761 / 3320-2902 / 33202738. (Mírian Nascimento)

Lula Castello Branco

Em abril de 2012, Alagoas se tornará palco inédito das principais discussões que envolvem o setor de combustíveis. A capital do estado, Maceió, irá sediar a sétima edição do Encontro de Revendedores de Combustíveis Nordeste – Brasil (ERCOM), durante os dias 19 e 20, com uma expectativa de público de dois mil participantes. Após passar pelos estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Ceará, em parceria com todos os sindicatos da região Nordeste, o ERCOM passa por uma reformulação e visa agregar um número ainda maior de empresários e agentes do setor, apostando em uma rica programação, voltada tanto para os proprietários dos postos de combustíveis dos grandes centros, quanto para os do interior, englobando, também, os colaboradores e demais agentes da cadeia. Nesta sétima edição, o evento ultrapassa os limites dos resorts e será realizado no Centro de Convenções D. Ruth Cardoso, desenvolvendo, de forma simultânea, as palestras e a Feira

Divulgação

7o Encontro de Revendedores de Combustíveis Nordeste vai ser em abril

Combustíveis & Conveniência • 61


44 TABELAS em R$/L

Período

São Paulo

Goiás

Período

São Paulo

Goiás

12/09/2011 a 16/09/2011

1,384

1,408

12/09/2011 a 16/09/2011

1,212

1,052

19/09/2011 a 23/09/2011

1,376

1,389

19/09/2011 a 23/09/2011

1,188

1,037

26/09/2011 a 30/09/2011

1,370

1,394

26/09/2011 a 30/09/2011

1,185

1,028

03/10/2011 a 07/10/2011

1,371

1,402

03/10/2011 a 07/10/2011

1,217

1,050

10/10/2011 a 14/10/2011

1,384

1,406

10/10/2011 a 14/10/2011

1,217

1,068

Média Setembro 2011

1,384

1,401

Média Setembro 2011

1,205

1,045

Média Setembro 2010

1,040

1,049

Média Setembro 2010

0,896

0,757

Variação 12/09/2011 a 14/10/2011

0,0%

-0,1%

Variação 12/09/2011 a 14/10/2011

0,4%

1,5%

Variação Set/2010 - Set/2011

33,1%

33,5%

Variação Set/2010 - Set/2011

34,4%

38,0%

Fonte: CEPEA/Esalq Nota: Preços sem impostos

HIDRATADO

ANIDRO

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL (CENTRO-SUL)

Fonte: CEPEA/Esalq Nota: Preços sem impostos

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL (NORDESTE) Alagoas

Setembro 2011

Pernambuco

1,349

1,350

DO ETANOL ANIDRO Período EVOLUÇÃO DE PREÇOS Alagoas Pernambuco

Em R$/L

3,0

Setembro 2011

HIDRATADO

Período

ANIDRO

2,5

Setembro 2010

1,197

1,207

Variação

12,6%

11,8%

São Paulo

1,5

1,098

1,066

0,986

0,996

11,4%

7,0%

Goiás

Setembro 2010

2,0

em R$/L

Variação

1,0

Fonte: CEPEA/Esalq Nota: Preços sem impostos

Fonte: CEPEA/Esalq Nota: 0,5 Preços sem impostos

r/1 1

ab

m

/1 1

ar

m

fe v/

ja n

/1 1

11

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO (em R$/L) se t/1 0 ou t/1 0 no v/ 10 de z/ 10

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL ANIDRO (em R$/L) EVOLUÇÃO DE PREÇOS DO ETANOL ANIDRO

ai /1 1 ju n/ 11 ju l/1 1 ag o/ 11 se t/1 1

0,0

Em R$/L

3,0

EVOLUÇÃO DE PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO

Em R$/L

1,6

2,5

São Paulo

2,0

Goiás

1,4 1,2 1,0

1,5

0,8

1,0

0,6 0,4

0,5

São Paulo

0,2

0,0

Goiás

Em R$/L

1,4 1,2 62 • Combustíveis & Conveniência

0,8

0

11 o/

/1 se t

ag

/1 1

n/ 11

ju l

ai /1 1

ju

m

r/1 1

ab

11

ar /1 1

m

fe v/

/1 1

ja n

0

10 z/

v/ 1

de

no

0

t/1 0

ou

/1 se t

11

l/1 1 ag o/ 11 se t/1 1

ju

/1 1 ai

ju n/

r/1 1

EVOLUÇÃO DE PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO

1,6

1,0

m

se

ab

t/1 0 ou t/1 0 no v/ 10 de z/ 10 ja n/ 11 fe v/ 11 m ar /1 1

0,0


TABELAS 33 em R$/L - Setembro 2011

Comparativo das margens e preços dos combustíveis Distribuição

Gasolina

Revenda

Preço Médio Pond, de Custo da Gas, C 1

Preço Médio Ponderado de Venda

Margem Média Ponderada da Distrib,

Preço Médio Ponderado de Compra

Preço Médio Ponderado de Venda

Margem Média Ponderada da Revenda

2,276

2,392

0,116

2,392

2,769

0,377

2,276

2,413

0,137

2,413

2,768

0,355

2,269

2,408

0,139

2,408

2,753

0,345

2,249

2,393

0,144

2,393

2,738

0,345

Branca

2,272

2,330

0,058

2,330

2,671

0,341

Outras Média Brasil 2

2,288

2,404

0,116

2,404

2,711

0,307

2,271

2,381

0,110

2,381

2,733

0,352

Variação da Margem em relação à Margem Brasil (%)

40 %

9%

30 %

6%

20 % 3%

10 %

Outras

0% -10 %

30,1

25,5

24,2

5,2

4,9

0%

Branca -47,6

-3 % -6 %

-20 %

Branca 7,3

0,8

-1,9

-3,1

Outras -12,5

-9 %

-30 %

-12 %

-40 % -50 %

-15 %

Shell

Esso

Ipiranga

BR

BR

Outras Branca

Ipiranga

Distribuição

Diesel

-1,7

Shell

Esso

Branca Outras

Revenda

Preço Médio Pond. de Custo do Diesel 1

Preço Médio Ponderado de Venda

Margem Média Ponderada da Distrib.

Preço Médio Ponderado de Compra

Preço Médio Ponderado de Venda

Margem Média Ponderada da Revenda

1,661

1,762

0,101

1,762

2,034

0,272

1,657

1,776

0,119

1,776

2,024

0,248

1,659

1,787

0,128

1,787

2,034

0,247

1,658

1,773

0,115

1,773

2,005

0,232

Branca

1,652

1,720

0,068

1,720

1,967

0,247

Outras Média Brasil 2

1,663

1,790

0,127

1,790

2,048

0,258

1,658

1,758

0,100

1,758

2,012

0,254

Variação da Margem em relação à Margem Brasil (%)

30 %

8%

25 %

6%

20 % 4%

15 % 10 %

Outras

5%

2%

0% -5 % -10 %

27,9

26,3

19,0

15,5

0,6

Branca

0%

-32,0

-2 % -4 %

-15 %

Outras Branca 7,2

2

-2,5

-2,5

-2,9

-8,5

-6 %

-20 % -25 %

-8 %

-30 % -10 %

-35 %

Esso

Outras Ipiranga

Shell

BR

Branca

BR

Outras Ipiranga Branca

Esso

Shell

1 - Calculado pela Fecombustíveis, a partir do Atos Cotepe 16/11 e 17/11. 2 - A pesquisa abrange as capitais dos Estados da BA, MG, PA, PE, PR, RJ, RS, SP e o Distrito Federal. 3 - O fator de ponderação para cálculo de margem e preço médios é o nº de postos consultados pela ANP.

Combustíveis & Conveniência • 63


44 TABELAS

FORMAÇÃO DE PREÇOS

em R$/L

Gasolina

Ato Cotepe N° 19 de 06/10/2011 - DOU de 07/10/2011 - Vigência a partir de 16 de outubro de 2011

UF

80% Gasolina A

20% Alc. Anidro (1)

80% CIDE

80% PIS/ COFINS

Carga ICMS

Custo da Distribuição

Alíquota ICMS

Preço de Pauta (2)

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

0,846 0,813 0,845 0,846 0,827 0,818 0,890 0,850 0,889 0,811 0,887 0,887 0,869 0,826 0,814 0,806 0,810 0,832 0,824 0,818 0,846 0,846 0,850 0,844 0,810 0,848 0,846

0,333 0,302 0,329 0,328 0,307 0,307 0,289 0,295 0,287 0,310 0,303 0,291 0,289 0,325 0,304 0,304 0,308 0,290 0,289 0,304 0,332 0,334 0,307 0,293 0,304 0,287 0,289

0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154 0,154

0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209 0,209

0,790 0,772 0,707 0,675 0,787 0,744 0,713 0,779 0,838 0,757 0,749 0,708 0,780 0,788 0,707 0,746 0,677 0,790 0,899 0,717 0,743 0,678 0,702 0,688 0,763 0,631 0,743

2,333 2,251 2,245 2,213 2,284 2,233 2,255 2,287 2,378 2,241 2,302 2,249 2,301 2,302 2,188 2,219 2,159 2,275 2,375 2,202 2,284 2,221 2,223 2,187 2,241 2,129 2,241

25% 27% 25% 25% 27% 27% 25% 27% 29% 27% 25% 25% 27% 28% 27% 27% 25% 28% 31% 27% 25% 25% 25% 25% 27% 25% 25%

3,162 2,861 2,829 2,700 2,913 2,757 2,852 2,885 2,891 2,802 2,995 2,831 2,891 2,815 2,618 2,763 2,709 2,820 2,900 2,655 2,970 2,710 2,810 2,750 2,826 2,524 2,970

Diesel

Nota (1): Corresponde ao preço da usina com acréscimo de PIS/COFINS e custo do frete. Nota (2): Base de cálculo do ICMS

UF

95% Diesel

5% Biocombustível

95% CIDE

95% PIS/COFINS

Carga ICMS

Custo da distribuição

Alíquota ICMS

Preço de Pauta (1)

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

1,053 1,021 1,067 1,053 1,041 1,033 1,099 1,058 1,099 1,020 1,099 1,099 1,083 1,041 1,021 1,019 1,021 1,106 1,043 1,018 1,053 1,053 1,130 1,095 1,021 1,076 1,053

0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124 0,124

0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067

0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141

0,423 0,344 0,382 0,372 0,305 0,338 0,248 0,246 0,277 0,349 0,424 0,357 0,240 0,354 0,338 0,345 0,350 0,240 0,269 0,328 0,379 0,398 0,263 0,247 0,348 0,235 0,244

1,806 1,697 1,780 1,756 1,677 1,703 1,678 1,635 1,707 1,700 1,855 1,788 1,654 1,726 1,691 1,696 1,702 1,677 1,643 1,677 1,763 1,782 1,724 1,674 1,701 1,642 1,627

17% 17% 17% 17% 15% 17% 12% 12% 13,5% 17% 17% 17% 12% 17% 17% 17% 17% 12% 13% 17% 17% 17% 12% 12% 17% 12% 12%

2,486 2,026 2,247 2,190 2,037 1,990 2,063 2,047 2,054 2,051 2,494 2,102 1,998 2,080 1,989 2,031 2,057 2,000 2,066 1,929 2,230 2,340 2,192 2,060 2,049 1,959 2,030

Nota (1): Base de cálculo do ICMS * Nos preços de custo acima poderão ser encontradas pequenas diferenças, em decorrência dos valores de frete (percurso entre o produtor de biodiesel e a base de distribuição) e a legislação tributária ainda indefinida para o B5 e o B100.

64 • Combustíveis & Conveniência


TABELAS 33

preços dAs DISTRIBUIDORAS Menor

Maior

Menor

BR

2,590 1,895 1,770

2,599 1,899 1,770

Belém (PA) - Preços CIF

Total 2,587 1,886 1,643

BR

Gasolina Diesel Álcool

2,450 1,858 1,950

2,469 1,923 1,980

Macapá (AP) - Preços FOB 2,396 1,959 1,980

2,417 1,867 1,920

2,306 1,912 2,110

Porto Velho (RO) - Preços CIF BR

Gasolina Diesel Álcool

2,639 2,019 2,154

2,525 2,011 2,017

Gasolina Diesel Álcool

2,390 1,970 1,520

Gasolina Diesel Álcool

2,304 1,923 1,760

Gasolina Diesel Álcool

2,450 1,808 1,699

Gasolina Diesel Álcool

2,299 1,711 1,650

Gasolina Diesel Álcool

2,376 1,811 2,110

2,416 1,959 1,980

DNP 2,373 1,909 2,089

2,469 1,957 2,133

2,580 1,980 1,650

2,456 2,006 1,595

2,456 2,006 1,595

2,427 2,000 1,606

2,500 1,991 1,990

Taurus 2,320 2,416 1,810 1,990 1,765 1,970

2,403 1,922 1,844

2,603 1,868 1,715

2,485 1,735 1,579

2,370 1,751 1,864

2,341 1,760 1,678

2,412 1,851 2,130

2,356 1,799 2,085

2,412 1,812 2,115

2,362 1,793 N/D

BR

Goiânia (GO) - Preços CIF IPP

Curitiba (PR) - Preços CIF

BR 2,502 2,096 1,709 IPP 2,433 1,988 1,888 Shell 2,560 1,878 1,674

2,520 1,793 1,610

2,385 1,855 1,856

2,313 1,722 1,668

2,382 1,843 2,231

2,389 1,811 N/D

2,411 1,793 N/D

2,381 1,828 N/D

2,546 1,832 1,664 Shell

BR

IPP

2,360 1,812 2,071

N/D N/D N/D

Equador 2,500 2,608 1,995 2,071 1,949 2,197

IPP

IPP

Porto Alegre (RS) - Preços CIF

N/D N/D N/D

BR

BR

Florianópolis (SC) - Preços CIF

N/D

Shell

Campo Grande (MS) - Preços CIF

N/D N/D N/D

Sabba 2,379 2,497 1,747 1,966 2,063 2,159

2,659 2,116 2,402

Idaza

N/D N/D N/D

N/D N/D N/D

2,385 1,783 1,856

2,424 1,824 N/D

2,401 1,828 N/D

Menor

Maior

Sabba 2,254 2,377 1,746 1,892 1,931 2,152

2,265 1,748 1,790

2,353 1,863 2,097

Cosan 2,298 2,326 1,785 1,844 1,840 1,894

Sabba 2,307 2,385 1,765 1,868 2,077 2,084

2,353 1,863 2,064

2,298 1,785 1,880

2,375 1,816 2,081

2,382 1,810 1,958

2,281 N/D 1,914

2,337 N/D 1,914

Alesat 2,228 2,324 1,800 1,856 1,795 1,997

Gasolina Diesel Álcool

2,328 1,858 1,975

Cosan 2,398 1,911 2,018

Gasolina Diesel Álcool

2,363 1,856 2,189

Gasolina Diesel Álcool

2,331 1,819 1,957

Gasolina Diesel Álcool

2,339 1,753 1,725

Gasolina Diesel Álcool

2,494 1,824 2,096

Gasolina Diesel Álcool

2,439 1,744 1,992

Gasolina Diesel Álcool

2,387 1,765 1,742

Gasolina Diesel Álcool

2,327 1,657 1,489

Gasolina Diesel Álcool

2,420 1,839 1,762

2,213 1,770 1,890

Gasolina Diesel Álcool

2,263 1,762 1,899

Gasolina Diesel Álcool

2,263 1,762 1,849

Gasolina Diesel Álcool

2,280 1,734 1,880

Gasolina Diesel Álcool

Teresina (PI) - Preços CIF BR

Fortaleza (CE) - Preços CIF

Natal (RN) - Preços CIF

João Pessoa (PB) - Preços CIF Shell

Recife (PE) - Preços CIF

Maceió (AL) - Preços CIF

2,382 1,810 1,958

Alesat 2,275 2,397 1,720 1,850 1,896 2,124 BR

2,260 1,769 1,787

IPP 2,339 1,758 1,722

2,463 1,862 2,088

Cosan 2,381 2,420 1,804 1,843 1,939 2,122

2,355 1,733 2,078

2,451 1,753 1,725

2,266 1,660 1,726

2,558 1,834 2,171

2,503 1,804 2,132

2,663 1,856 2,138

2,340 1,704 1,663

2,490 1,830 1,992

2,441 1,764 1,852

2,352 1,804 1,764

2,231 1,675 1,552

2,446 1,856 1,781

2,430 1,840 1,754

IPP

Vitória (ES) - Preços CIF

Rio de Janeiro (RJ) - Preços CIF

Shell 2,287 1,688 1,869

2,587 1,825 2,180

2,501 1,824 2,118

BR

2,797 1,802 2,198

2,400 1,700 1,730

2,554 1,844 2,003

2,411 1,797 1,847

2,373 1,751 1,879

2,213 1,659 1,533

Foram consideradas as três distribuidoras com maior participação de mercado em cada capital, considerando os dados disponibilizados pela ANP.

Shell

2,446 1,859 1,760

Cosan 2,420 2,428 1,830 1,849 1,743 1,754

2,567 1,875 2,175 BR

Shell

BR

2,512 1,862 2,035 Shell

IPP

Belo Horizonte (MG) - Preços CIF

2,416 1,879 2,136

2,409 1,804 1,909 BR

Shell

2,402 1,789 2,199 Shell

BR

IPP

2,378 1,897 2,021 BR

2,368 1,785 2,113

Salvador (BA) - Preços CIF

2,297 1,816 2,032 BR

2,388 1,856 2,026

2,356 1,785 2,113

BR

2,385 1,868 1,904

2,219 1,727 1,891

2,412 1,856 2,189

Aracaju (SE) - Preços CIF

BR

Shell 2,307 1,765 1,892

Shell 2,290 1,811 1,787

2,265 1,748 1,790

2,326 1,844 1,880 Shell

Shell

IPP

DPPI

IPP

BR

Brasília (DF) - Preços FOB

Shell

Maior

2,308 1,817 2,010

Gasolina Diesel Álcool

São Paulo (SP) - Preços CIF

Shell

BR

Menor

BR

N/D

Sabba 2,525 2,593 2,031 2,081 2,167 2,318

Cuiabá (MT) - Preços CIF

Gasolina Diesel Álcool Fonte: ANP

N/D N/D N/D

2,689 2,041 2,192

BR

Gasolina Diesel Álcool

Sabba 2,411 2,517 1,923 1,923 1,963 2,198

Sabba 2,630 2,671 2,014 2,029 2,153 2,158

Rio Branco (AC) - Preços FOB

Maior

BR

N/D N/D N/D

N/D

2,526 2,087 2,350

Equador 2,450 2,450 2,000 2,000 2,147 2,228

N/D N/D N/D

IPP

Equador 2,300 2,510 1,880 2,123 2,137 2,371

Manaus (AM) - Preços CIF Gasolina Diesel Álcool

2,495 1,910 2,129

2,395 1,955 1,971

BR

Gasolina Diesel Álcool

2,594 1,893 1,759

2,418 1,969 1,984

Boa Vista (RR) - Preços CIF

Menor

Maior

N/D

IPP

BR

Gasolina Diesel Álcool

Menor

São Luiz (MA) - Preços CIF

Palmas (TO) - Preços CIF Gasolina Diesel Álcool

Maior

em R$/L - Setembro 2011

2,665 1,816 2,149 IPP 2,596 1,879 2,061 Shell

2,388 1,834 1,760

Combustíveis & Conveniência • 65


44 CRÔNICA 44 Antônio Goidanich

Recobrando a auto-estima O Doutor estaciona o seu Mercedes-Benz preto na ilha do clube, ao lado do Alfa Romeo do Tio Marciano, de onde este e o Ruano estão saindo. Dirigem-se ao restaurante. Juntam-se ao grupo já sentado. O Doutor toma a palavra e todos aguardam em silêncio: - Eu estou muito impressionado - O Doutor pronuncia essas palavras com pompa e cerimônia. - Com o quê? - Com a beleza de Porto Alegre. Recebi uns amigos da Costa Rica e tirei dois dias para mostrar a cidade. Eu não havia notado. A cidade está bonita, renovada, fantástica. Mesmo bairros que eram de classe baixa estão cheios de condomínios de luxo e casas bonitas. Ruas arborizadas. Shopping centers novos. De primeiro mundo. Eles, os costarriquenses, ficaram impressionados. E eu tenho que confessar que também fiquei. - É verdade. A gente que vive aqui quase não nota. - É. Eu vivo aqui e só consegui notar quando prestei a devida atenção. - Agora que falaste, me dei conta. Fico imaginando de onde saiu tanto dinheiro para construções. Nunca imaginei que houvesse tanto progresso. Tanta grana rolando. Mas todas essas novas residências não apareceram sem dinheiro. - É mesmo - Tio Marciano parece meditabundo. - O que será que eu estava fazendo enquanto essa gente estava se enchendo de dinheiro? No mínimo, perdendo tempo conversando com vocês. - E eu reclamando do governo - Ruano faz cara de Madalena arrependida. - Acho que deixamos o trem da história passar. Depois ficamos nos queixando. Estou me sentindo um pobre coitado. - Acho que todos nós - diz o Doutor - Olhem só este monte de caminhonetões: Hilux, Pajeros, Tuaregs. Isto é grana rolando. E nós parados no tempo. Esperando para morrer. Meu Mercedes já tem uns quatro anos. - E a minha Alfa (Tio Marciano segue errando o gênero do Alfa Romeo) tem uns cinco anos. - Temos que reagir.

66 • Combustíveis & Conveniência

- Tenho uma ideia. Vamos até as revendas que abriram em frente ao Beira Rio e vamos ver uns carros novos. Dito e feito. Os velhos saem em um dos carros. Durante a tarde, desfilam pelo clube com vários modelos novos. Às vezes, acompanhados por um vendedor de concessionária. Numa dessas ocasiões, Tio Marciano, que está discutindo preços e condições com o vendedor, se vira para Ruano. - Magrão. Tu tens R$ 400 mil disponíveis? - Ter, eu tenho. Queres emprestado? - Não. Eu tenho também. Estou pensando se conseguimos um desconto comprando duas Tuaregs, uma para cada um, em vez de uma só. O vendedor engole em seco. O Doutor reforça: - Eu acho que me interessaria também. Claro, se aceitarem o meu Mercedes no negócio. Não tenho garagem para tanto carro. O vendedor alterado fala no celular com seu chefe. Concede descontos. Dá condições. Claro. É possível receber o Mercedes, o Alfa e o que mais queiram. Tio Marciano diz que ficaria com o Alfa para dar a um neto. O vendedor, envolto em nuvens, dirige a caminhonete para a saída do clube. Fechará o negócio na segunda-feira. Os velhos tomam mais uma cerveja. Alguém pergunta: - Tu vais mesmo comprar essa draga? Quatrocentos paus é grana para mais de metro. Os velhos riem. - Claro que não vamos comprar. Mas já não nos sentimos tão coitados. Se quiséssemos de fato, temos grana para comprar e isto me devolve a autoestima.




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