íNDICE 33 n Reportagem de Capa
n Revenda em Ação
54 • Casa cheia! 58 • Foco na gestão n Meio Ambiente
46 • Vai dar tempo? n Conveniência
50 • Organização para evitar perdas
36 • Combustíveis & Conveniência, uma história contada em 94 edições
n Mercado
20 • O céu é o limite? 24 • Retomando o fôlego 26 • Vencendo a desconfiança
n Entrevista
n Na Prática
12 • Ildo Sauer, professor do Instituto
30 • Instrumentos de medição:
de Eletrotécnica e de Energia da USP
19 • Paulo Miranda
45 • Perguntas e Respostas
29 • Roberto Fregonese
60 • Atuação Sindical
44 • Jurídico Deborah dos Anjos
66 • Crônica
55 • Conveniência Roberto Guarda
4TABELAS
04 • Virou Notícia
4OPINIÃO
4SEÇÕES
por dentro da fiscalização 33 • Desvendando a inflação
62 • Evolução dos Preços do Etanol 63 • Comparativo das Margens e Preços dos Combustíveis 64 • Formação de Preços 65 • Preços das Distribuidoras
Combustíveis & Conveniência • 3
44 VIROU NOTíCIA
De acordo com Lusa Ventura, representante da Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE), veículos de passeio movidos a diesel fazem 30 km por litro de combustível e têm baixo nível de emissões (87 g/km no caso do modelo VW Polo Blue Motion, que circula em países onde o diesel já tem redução do teor de enxofre). “Mesmo assim, tais veículos continuam proibidos no Brasil”, disse ele, durante a Conferência Internacional sobre Emissões, Diesel e Arla-32, realizada pela Integer em abril (veja seção Meio Ambiente desta edição). “Os carros a diesel deveriam ser liberados para que os brasileiros decidam, através dos argumentos de mercado, o produto mais adequado para seu uso”, afirmou. No entanto, segundo o Ministério de Minas e Energia, a opção não seria viável no Brasil. “Entre outros aspectos, esta decisão teria de passar pela equiparação da carga tributária do diesel aos demais combustíveis. Isso acarretaria vários outros problemas de ordem econômica, como alta da inflação”, rebateu Ricardo Dornelles, diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério.
Made in Brazil A Petrobras concluiu as negociações com a estatal chilena Empresa Nacional de Petróleo para a venda da primeira carga de petróleo produzida no pré-sal destinada à exportação. O contrato engloba um milhão de barris que devem ser entregues agora no mês de maio. 4 • Combustíveis & Conveniência
Etanol no transporte pesado Durante o evento, Dornelles ressaltou que o uso de diesel em veículos de passeio não é uma discussão nova. Porém, com a chegada das versões do combustível com menor teor de enxofre, o assunto volta à tona. “Até pouco tempo, o diesel metropolitano tinha 1.800 ppm de enxofre. Hoje é que a questão ambiental, amparada na redução do enxofre do diesel, transformou-se em um argumento a mais a favor dos veículos com esta tecnologia”, ponderou. Segundo o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, da mesma forma que se discute o uso de diesel nos veículos de passeio, o setor de etanol quer entrar no segmento de transporte pesado. “São questões legítimas que devem ser ponderadas pelo governo, observando-se todos os aspectos, vantagens e desvantagens de cada alternativa”, explicou.
DE OLHO NA ECONOMIA O Brasil já tem um carro para cada seis habitantes. De acordo com o Sindipeças, a idade média da frota é de 8,8 anos, sendo que 23% dos veículos têm entre 11 e 20 anos.
211% É a alta acumulada no preço do etanol anidro de junho até abril, levando em conta os dados semanais divulgados pelo Cepea/USP.
R$ 2,046 Foi o preço médio final, incluindo tributos federais, do litro de biodiesel no último leilão realizado pela ANP para abastecer o mercado no segundo trimestre.
12% É a nova taxa básica de juros do país, após a alta de 0,25 ponto percentual, anunciada em abril pelo Banco Central, para conter a inflação.
Stock
Carros de passeio a diesel?
Mais importados
Ping-Pong
Allan Kardec Duailibe - Diretor da ANP
Está a caminho uma mudança na Lei de Penalidades da ANP?
Divulgação
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não está gostando nada da “invasão” de importados no país. A entidade defende a adoção de barreiras à importação até que a indústria automotiva se mostre mais competitiva. O dólar barato tem aguçado o apetite por veículos importados e aumentado a participação dos carros a gasolina e a diesel no país. Em março, o emplacamento de veículos comprados no exterior respondeu por 20,4% do total de licenciados. No acumulado do primeiro trimestre, o percentual chega a 22%, confirmando a trajetória ascendente iniciada nos anos anteriores: 18,8% em 2010 e 15,6% em 2009. Atualmente, a alíquota do imposto de importação de automóveis é de 35%.
É para comemorar? A produção de biodiesel a partir do sebo está aquecida no país. Segundo o Boletim Mensal dos Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, a geração de biodiesel a partir do sebo passou de 191.636 m³ em 2008 para 320.147 m³ em 2010. Como custa menos que o óleo vegetal, a gordura animal tem atraído a atenção dos produtores. Vale lembrar que o biodiesel a partir do sebo foi relacionado a vários problemas quando submetido a baixas temperaturas, transformando-se numa espécie de gel. A questão só foi contornada após a ANP determinar a mistura obrigatória desse biodiesel a outros, como o de soja, por exemplo.
Sim, o projeto já se encontra na Procuradoria da Agência. A principal alteração trazida é que haverá dois tipos de penalidades: uma mais forte, que abrange os casos de adulteração, por exemplo; e outra mais branda, envolvendo os problemas com placas e avisos. No caso das infrações mais brandas, seria dado um tempo – que, hoje, se está pensando em cinco dias – para o estabelecimento se adequar. Passado o prazo de adequação, como a ANP vai se certificar de que as alterações foram realizadas? O fiscal pode voltar ao posto ou o revendedor pode mostrar evidências à ANP de que ele mudou, de fato, aquele procedimento. Como está a questão da transferência da regulamentação da produção do etanol para a ANP? Há duas possibilidades de como isso será feito: via projeto de lei ou medida provisória. Isso é uma decisão da presidenta Dilma Rousseff. Estamos esperando e, obviamente, trabalhando em relação a esse texto. Como essa mudança irá melhorar o mercado? Tem uma agenda principal sobre a sonegação fiscal, uma pauta que é tanto da Fecombustíveis quanto do Sindicom, por exemplo. Com essa mudança, vamos ter instrumentos mais duros, mais fortes para combater a sonegação, a venda direta das usinas para os postos revendedores, o que é uma demanda do setor há tempos. A ANP já recebe atualmente os dados de vendas das usinas? Recebemos apenas de forma declaratória. Obtemos os dados via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com a mudança, as usinas serão obrigadas a informar esses números à ANP. No que se refere ao biodiesel, há algum estudo ou projeto de elevação do percentual em vista? Nenhum. Quero inclusive ser incisivo sobre isso. Não há qualquer discussão sobre elevação de percentual da mistura de biodiesel no diesel, nem no governo, nem na ANP.
Meta ambiciosa A União Europeia quer abolir do bloco todos os carros a diesel ou a gasolina até 2050, além de reduzir em 40% as emissões de carbono no setor de transporte de cargas, segundo informa o relatório Transporte 2050 da Comissão Europeia. O objetivo é deixar a matriz veicular menos agressiva ao meio ambiente e também reduzir a dependência do petróleo. A indústria automobilística não gostou nada dos planos. Combustíveis & Conveniência • 5
44 VIROU NOTíCIA
Pane seca
Divulgação Leone
Quem nunca recebeu em seus postos clientes desesperados, com seus veículos parados em alguma rua movimentada com o tanque completamente vazio? Entretanto, diante dos riscos de se carregar combustível em garrafas pets ou sacos plásticos, a ABNT publicou em 2008 a norma NBR 15.594-1, que estabelece as características dos recipientes para abastecimento em caso de pane seca. Apesar de não obrigatória (a norma ainda não foi incorporada à legislação da ANP), os vasilhames adequados começam a chegar ao mercado, surgindo como mais uma opção para os postos. O recipiente é apropriado para o transporte terrestre de líquidos perigosos e possui certificação da Avaliações Brasil da Conformidade e Ensaios (Abrace), instituto autorizado pelo Inmetro. Para o frasco de cinco litros e tampa comum, o preço da unidade é de R$ 3,94. Já as embalagens de cinco litros com válvula de respiro estão saindo por R$ 6,12 cada uma, segundo a Leone Equipamentos, que comercializa os modelos. Um mercado que promete se diversificar.
Diesel de cana
Sobe? Não, cai Após o zunzun no mercado de que o preço do gás natural iria subir, a Petrobras anunciou uma redução média de 9,7% para os contratos com revisão prevista para maio. Pelas regras contratuais, que estabelecem reajuste a cada três meses, o preço deveria aumentar, já que o petróleo está subindo no mercado internacional. Entretanto, uma alta poderia reduzir ainda mais a competitividade do energético, em meio a preços congelados do diesel (substituto para os grandes consumidores), novos campos nacionais entrando em operação e chuvas acima da média, o que diminui a demanda das termoelétricas. Sem falar que uma alta do gás pressionaria ainda mais os índices de inflação. Isso num momento em que a Petrobras briga para obter um sinal verde para majorar a gasolina, o que não tem sido visto com bons olhos pelo governo.
A Amyris Brasil, subsidiária da norte-americana Amyris Biotechnologies, já está produzindo diesel a partir da cana-de-açúcar, em sua planta industrial localizada em Campinas (SP). Embora a produção no momento esteja restrita a testes, a empresa informou que, em dois anos, já conseguiu atingir 80% de sua meta, totalizando 160 milhões de litros. O diesel produzido a partir da cana é livre de enxofre e compatível com os motores atuais. No entanto, seu preço ainda não é viável. “Precisamos vencer o desafio da escala de produção para conseguir viabilizar o combustível comercialmente”, disse Adilson Liebsch, diretor de marketing da empresa.
O desconto médio de 9,7% irá valer para o período de maio a julho. A estatal informou ainda que seguirão normalmente os leilões eletrônicos para venda de gás natural de curto prazo.
• Esclarecemos que a Cooperativa de Radiotáxi dos Motoristas Autônomos do Sul e Extremo Sul da Bahia (Cooptáxi), situada na cidade de Ilhéus, não tem qualquer ligação com as denúncias apresentadas na matéria de capa “Desanimador!”, publicada na edição 93.
ERRATA
• Ao contrário do informado na nota “Quinto no mercado automotivo mundial” (página 4, Virou Notícia, edição 93), o valor de 1,4 milhão refere-se somente à quantidade de unidades vendidas em janeiro e não ao total de automóveis em circulação na China, considerando apenas os veículos de passeio. Agência Petrobras
6 • Combustíveis & Conveniência
• Na página 39 da mesma edição, a galonagem citada por posto de combutíveis refere-se à média anual de venda de diesel.
PELO MUNDO
Guatemala A Associação Guatemalteca de Empresários de Gasolina esteve presente a 40a Reunião da Claec, realizada na Costa Rica em abril de 2011, tendo sido representada pelo seu presidente, Carlos Thomae, e por seu secretário, Jaime Mathus, recentemente agregado à Associação e filho do saudoso Jimmy Mathus del Carmen, presidente histórico da associação.
Peru Pelo Decreto Supremo número 061/2010, a partir de 1º de junho de 2011 passará a ser obrigatório o uso do Gasohol (mistura de gasolina e etanol) em todas as cidades do país. A AGESP, presidida por Carlos Puente, tem alertado para as necessárias providências para o uso do novo combustível.
Venezuela Apesar das inúmeras tentativas de grupos pretensamente ligados ao governo Chávez, os revendedores venezuelanos têm se mantido firmemente unidos em torno da Fenegas, no momento presidida por Ghiseppi Gherardi.
por Antônio Gregório Goidanich
vem fazendo intensa política de comunicação social. A campanha institucional na imprensa escrita e televisiva é feita através de convênios com vários meios de comunicação e tem encontrado eco na opinião pública, segundo os dirigentes.
México A Onexpo Nacional foi escolhida para organizar a próxima Reunião da Comissão Latino-Americana de Empresários de Combustíveis (Claec). De acordo com o presidente da Onexpo, Eugenio Zermeno, o evento deverá ser realizado na Cidade do México em setembro deste ano.
República Dominicana Rafael Polanco, recentemente eleito presidente da ANADEGAS, chefiou a delegação dominicana presente à reunião da Claec, realizada em San Jose, na Costa Rica. Esteve acompanhado de vários dirigentes históricos da associação, inclusive seu ex-presidente Juan Ignacio Espaillat.
Uruguai Costa Rica O país esta iniciando um ambicioso programa para produção de biodiesel e etanol.
Honduras
Segue gerando enorme controvérsia a inovadora lei aprovada no país, que autoriza o repasse das diferenças de volume por temperatura aos revendedores e aos consumidores. Uma rebuscada interpretação da norma internacional vigente sobre o tema.
Colômbia A Fendipetroleo Nacional, mais alta instituição colombiana de representação dos revendedores de combustível,
Na reunião da Claec realizada na Costa Rica, o representante da Unión de Vendedores de Nafta del Uruguay foi o presidente em exercício da Claec, Hector Parrella. O trabalho da UNVENU tem sido voltado para a normatização da recém-mudada Lei de Hidrocarbus, num mercado tradicional que, recentemente, foi abandonado por três importantes e tradicionais multinacionais do setor, Texaco, Shell e Esso.
Argentina A delegação da Confederación de Empresários del Comércio de Hidrocarburos de la Republica Argentina (CECHA) esteve a cargo de dirigentes de importantes Câmaras de Empresários das Províncias de Salta, Neuquen, Chaco e Corrientes. Combustíveis & Conveniência • 7
CARTA AO LEITOR 44 Morgana Campos
A Fecombustíveis representa nacionalmente 34 sindicatos e a Fergás, defendendo os interesses legítimos de quase 38 mil postos de serviços, 370 TRRs e cerca de 40 mil revendedores de GLP, além da revenda de lubrificantes. Nossa missão é acompanhar o mercado de revenda de combustíveis com a meta de fomentar o desenvolvimento econômico e social do setor, contribuindo assim para melhor qualidade de vida da nação. Tiragem: 25 mil exemplares Auditada pelo Presidente: Paulo Miranda Soares Presidente de Honra: Gil Siuffo 1º Vice-Presidente: Roberto Fregonese 2º Vice-Presidente: Mário Luiz P. Melo 3º Vice-Presidente: Walter Tannus Freitas 4º Vice-Presidente: Adão Oliveira da Silva 5º Vice-Presidente: José Carlos Ulhôa Fonseca 6º Vice-Presidente: Maria Aparecida Siuffo Schneider 1º Secretário: José Camargo Hernandes 2º Secretário: José Augusto Melo Costa 3º Secretário: Emilio Roberto C. Martins 1º Tesoureiro: Ricardo Lisboa Vianna 2º Tesoureiro: Manuel Fonseca da Costa 3° Tesoureiro: Mário Duarte Conselheira Fiscal Efetiva: Maria da Penha Amorim Shalders Conselheiro Fiscal Efetivo: Flávio Henrique B. Andrade Conselheiro Fiscal Efetivo: Luiz Felipe Moura Pinto Diretor de TRR: Álvaro Rodrigues Antunes de Faria Diretor de GLP: Álvaro Chagas Diretor de Postos de Rodovia: Ricardo Hashimoto Diretor de Meio Ambiente: João Batista Porto Cursino de Moura Diretor de GNV: Gustavo Sobral de Almeida Diretoria: Aldo Locateli, Alírio José Gonçalves, Álvaro P.Chagas, Álvaro Rodrigues A.Faria, Carlos Henrique R.Toledo, Dilleno de Jesus T. da Silva, Eliane Maria de F. Gomes, Flavio Martini S.Campos, João Batista P.C.Moura, João Victor C.R.Renaut, José Vasconcelos da R. Junior, Mário Shiraishi, Omar A.Hamad Filho, Ricardo Hashimoto, Roque André Colpani, Ruy Pôncio. Conselho Editorial: Fernando Martins, José Alberto Miranda Cravo Roxo, José Luiz Vieira, Luiz Gino Henrique Brotto, Marciano, Francisco Franco e Ricardo Hashimoto Edição: Morgana Campos (morganacampos@fecombustiveis.org.br) Editora-assistente: Gisele de Oliveira (assessoria.comunicacao@fecombustiveis.org.br ) Redação: Rosemeire Guidoni (roseguidoni@uol.com.br) e Gabriela Serto (gabrielaserto@gmail.com) Capa: Alexandre Bersot Economista responsável: Isalice Galvão Publicidade: Gerente comercial: Celso Guilherme Figueiredo Borges (celsoguilherme@fecombustiveis.org.br) Telefone: (21) 2221-6695 Programação visual: Girasoli Soluções (contato@girasoli.com.br) Fecombustíveis Av. Rio Branco 103/13° andar. Centro RJ. Cep.: 20.040-004 Telefone: (21) 2221 6695 Site: www.fecombustiveis.org.br/revista E-mail: revista@fecombustiveis.org.br
8 • Combustíveis & Conveniência
Uma década de informação Agora em maio, a Combustíveis & Conveniência começa sua contagem regressiva rumo aos dez anos de existência. Nesse período, mudou o mercado, mudaram os revendedores, mudaram as regras e, claro, mudou também a revista, buscando não apenas acompanhar tantas transformações, mas sim estar à frente delas. Quando sustentabilidade e adequação ambiental ainda davam os primeiros passos, a revista já trazia dicas importantes e preparava seu leitor para a metamorfose que estava por vir. E tem sido assim com a chegada dos novos combustíveis, como o diesel de baixo teor de enxofre, e o Arla-32. Desde seus primeiros passos, a C&C denunciou irregularidades, acompanhou a entrada e a saída de empresas no mercado, viu a expansão do segmento de conveniência, entrevistou grandes personalidades. Uma história rica e bastante ilustrada, que, com certeza, não cabe nas poucas páginas de uma matéria de capa. Por isso, abrimos neste mês as comemorações do aniversário de dez anos e, até maio de 2012, publicaremos uma matéria por edição contando um pouco dessa trajetória. Quem abre a série é a repórter Rosemeire Guidoni, que foi também a primeira editora da revista e, por isso, conhece a história da publicação como ninguém. Não deixe de ler o resultado na matéria de capa. A editora-assistente Gisele de Oliveira entrevistou o professor Ildo Sauer, que criticou duramente a política do governo para o setor energético e a falta de planejamento para insumos importantes, como o gás. A edição deste mês marca ainda a estreia de uma nova repórter, Gabriela Serto, a qual se junta ao time para ficar no lugar de Rodrigo Squizato, que se prepara para enfrentar novos desafios. Boa sorte para os dois! Na seção Na prática, Gabriela mostra o que há por trás da sopa de letrinhas dos índices de inflação, explicando como os principais indicadores são calculados e qual o impacto deles no seu dia a dia. O mês foi bastante corrido aqui na Fecombustíveis, com presidentes e diretores sendo diariamente demandados pela imprensa para explicar o que estava acontecendo com os preços do etanol e da gasolina. As causas são conhecidas, já as soluções seguem sem previsão de entrar em pauta. Por isso mesmo, o assunto é tema de artigos e matérias nesta edição. Uma boa leitura! Morgana Campos Editora
44 AGENDA Maio
Local: Caxias do Sul (RS) Realização: Sindipetro Serra Gaúcha Informações: (54) 3222-0888
7º Ciclo de Encontros Regionais – Encontro de Revendedores de Ilhéus e Região Data: 20 Local: Ilhéus (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557
Agosto Reunião de Revendedores de Paulo Afonso e Região Data: 5 Local: Paulo Afonso (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557
Junho 7º Encontro de Revenderes do Nordeste Data: 9 a 12 Local: Fortaleza (CE) Realização: Sindipostos-CE Informações: (85) 3244-1147 7º Ciclo de Encontros Regionais – Encontro de Revendedores de Feira de Santana e Região Data: 17 Local: Feira de Santana (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557 13º Simpósio Estadual dos Postos de Combustíveis e Serviços Data: 29 e 30 Local: Vitória (ES) Realização: Sindipostos-ES Informações: (27) 3322-0104
Julho Reunião de Revendedores Barreiras e Região Data: 1º Local: Barreiras (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557
Festa Dia do Revendedor Data: 20
Expopostos 2011 Data: 16 a 18 Local: Expo Center Norte (São Paulo) Realização: Abieps, Fecombustíveis e Sindicom Informações: (21) 2221-6695
Setembro Encontro de Revendedores da Região Norte Data: 1º e 2 Local: Belém (PA) Realização: Sindicombustíveis-PA e demais sindicatos do Norte Informações: (91) 3224-5742 Comemoração dos 50 Anos do Sindicombustíveis-PE Data: 3 Local: Recife (PE) Realização: Sindicombustíveis-PE Informações: (81) 3227-1035
Expopetro 2011
Data: 22 a 25 Local: Gramado (RS) Realização: Sulpetro Informações: (51) 3228-7433
7º Ciclo de Encontros Regionais – Encontro de Revendedores Vitória da Conquista e Região Data: 30 Local: Vitória da Conquista (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557
2º Seminário de Boas Práticas do Comércio de Combustíveis Data: 21 e 22 Local: Salvador (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557
Outubro
Encontro de Revendedores Regional e Confraternização Data: 26 Local: Imperatriz (MA) Realização: Sindcomb-MA Informações: (98) 3235-6315
NACS Show Data: 1º a 4 Local: Chicago (EUA) Realização: NACS Informações: (21) 2221-6695 4º Encontro de Revendedores de Combustíveis Data: 20 a 23 Local: Rio de Janeiro (RJ) Realização: Sindcomb-RJ Informações: (21) 3544-6444 Conferência Internacional Biodiesel 2011 Data: 26 e 27 Local: São Paulo (SP) Realização: Revista BiodieselBR Informações: (41) 3013-1703
Novembro Paranapetro Data: 17 a 20 Local: Foz do Iguaçu (PR) Realização: Sindicombustíveis-PR Informações: (41) 3021-7600 Festa de Confraternização da Revenda da Bahia Data: 18 Local: Salvador (BA) Realização: Sindicombustíveis-BA Informações: (71) 3342-9557
Dezembro Encontro de Revendedores Regional e Confraternização Data: 3 Local: Caxias (MA) Realização: Sindcomb-MA Informações: (98) 3235-6315 Jantar de Confraternização da Revenda de Alagoas Data: 3 Local: Maceió (AL) Realização: Sindicombustíveis-AL Informações: (82) 3320-1761 Jantar de Confraternização Anual Data: 10 Local: Santos (SP) Realização: Resan Informações: (13) 3229-3535 Encontro de Revendedores Regional e Confraternização Data: 17 Local: São Luís (MA) Realização: Sindcomb-MA Informações: (98) 3235-6315
44 SINDICATOS FILIADOS ACRE Delano Lima e Silva Rua Pernambuco nº 599 - Sala 4 Bairro: Bosque Rio Branco-AC Fone: (68) 3326-1500 sindepac@hotmail.com www.sindepac.com.br
GOIÁS Leandro Lisboa Novato 12ª Avenida, 302 Setor Leste Universitário Goiânia-GO Fone: (62) 3218-1100 Fax: (62) 3218-1100 spostos@terra.com.br www.sindiposto.com.br
ALAGOAS Carlos Henrique Toledo Av. Jucá Sampaio, 2247, Barro Duro Salas 93/94 Shopping Miramar Maceió-AL Fone: (82) 3320-2902/1761 Fax: (82) 33202738/2902 scvdpea@uol.com.br www.sindicombustiveis-al.com.br
MARANHÃO Dilleno de Jesus Tavares da Silva Av. Colares Moreira, 444, salas 612 e 614 Edif. Monumental São Luís - MA Fone: (98) 3235-6315 Fax: (98) 3235-4023 sindcomb@uol.com.br www.sindcomb-ma.com.br
AMAZONAS Luiz Felipe Moura Pinto Rua Rio Içá, 26 - quadra 35 Conj. Vieiralves Manaus-AM Fone: (92) 3584-3707 Fax: (92) 3584-3728 sindcam@uol.com.br
MATO GROSSO Aldo Locatelli R. Manoel Leopoldino, 414, Araés Cuiabá - MT Fone/Fax: (65) 3621-6623 contato@sindipetroleo.com.br www.sindipetroleo.com.br
PARANÁ Roberto Fregonese Rua Vinte e Quatro de Maio, 2.522 Curitiba-PR Fone/Fax: (41) 3021-7600 diretoria.sindi@sindicombustiveis-pr.com.br www.sindicombustiveis-pr.com.br
RIO GRANDE DO SUL – SERRA GAÚCHA Paulo Ricardo Tonolli Rua Ítalo Victor Berssani, 1.134 Caxias do Sul - RS Fone/Fax: (54) 3222-0888 sindipetro@sindipetroserra.com.br www.sindipetroserra.com.br
PERNAMBUCO Frederico José de Aguiar Rua Desembargador Adolfo Ciríaco,15 Recife-PE Fone: (81) 3227-1035 Fax: (81) 3445-2328 sinpetro@sindicombustiveis-pe.org.br www.sindicombustiveis-pe.org.br
RONDÔNIA Eliane Maria de Figueiredo Gomes Travessa Guaporé, Ed. Rio Madeira, 3º andar, salas 307/308 Porto Velho- RO Fone: (69) 3223-2276 Fax: (69) 3229-2795 sindipetroro@uol.com.br sindipetroro@hotmail.com
PIAUÍ Robert Athayde de Moraes Mendes Av. Jockey Club, 299, Edificio Eurobusines 12º, sala 1212 Teresina-PI Fone: (86) 3233-1271 Fax: (86) 3233-1271 sindpetropi@gmail.com www.sindipetropi.org.br
RORAIMA Abel Salvador Mesquita Junior Av. Benjamim Constant, 354, sala 3 Centro Boa Vista - RR sindipostosrr@ibest.com.br
MATO GROSSO DO SUL BAHIA Mário Seiti Shiraishi José Augusto Melo Costa Rua Bariri, 133 Av. Otávio Mangabeira, 3.127 Campo Grande - MS Costa Azul Fone: (67) 3325-9988 / 9989 Salvador-BA Fax: (67) 3321-2251 Fone: (71) 3342-9557 Fax: (71) 3342-9557/9725 sinpetro@sinpetro.com.br sindicombustiveis@sindicombustiveis.com.br www.sinpetro.com.br www.sindicombustiveis.com.br MINAS GERAIS CEARÁ Paulo Miranda Soares Guilherme Braga Meireles Rua Amoroso Costa, 144 Rua Visconde de Mauá, 1.510 Bairro Santa Lúcia Aldeota Belo Horizonte - MG Fortaleza-CE Fone/Fax: (31) 2108- 6500/ 2108-6530 Fone: (85) 3244-1147 minaspetro@minaspetro.com.br sindipostos@sindipostos-ce.com.br www.minaspetro.com.br www.sindipostos-ce.com.br PARÁ DISTRITO FEDERAL Alírio José Duarte Gonçalves José Carlos Ulhôa Fonseca Av. Duque de Caxias, 1337 SHCGN-CR 704/705, Bloco E Bairro Marco entrada 41, 3º andar, sala 301 Perímetro: Trav. Mariz e Barros/Trav. Timbó Brasília-DF Belém - PA Fone: (61) 3274-2849 Fax: (61) 3274-4390 Fone: (91) 3224-5742/ 3241-4473 sindicato@sindicombustiveis-df.com.br secretaria@sindicombustiveis-pa.com.br www.sindicombustiveis-df.com.br www.sindicombustiveis-pa.com.br
RIO DE JANEIRO Ricardo Lisboa Vianna Av. Presidente Franklin Roosevelt, 296 São Francisco Niterói – RJ Cep. 24360-066 Fone/Fax: (21) 2704-9400 sindestado@sindestado.com.br www.sindestado.com.br
ESPÍRITO SANTO Ruy Pôncio Rua Vasco Coutinho, 94 Vitória-ES Fone: (27) 3322-0104 Fax: (27) 3322-0104 sindipostos@sindipostos-es.com.br www.sindipostos-es.com.br
RIO GRANDE DO SUL Adão Oliveira Rua Cel. Genuíno, 210 - Centro Porto Alegre - RS Fone: (51) 3228-7433 Fax: (51) 3228-3261 presidenciacoopetrol@coopetrol.com.br ww.coopetrol.com.br
10 • Combustíveis & Conveniência
PARAÍBA Omar Aristides Hamad Filho Rua Rodrigues de Aquino, 267 5º andar - Centro João Pessoa - PB Fone: (83) 3221-0762 - Fax: (83) 3221-0762 sindipet@hotmail.com
RIO DE JANEIRO - MUNICÍPIO Manuel Fonseca da Costa Rua Alfredo Pinto, 76 - Tijuca Rio de Janeiro - RJ Fone: (21) 3544-6444 sindcomb@infolink.com.br www.sindcomb.org.br RIO GRANDE DO NORTE José Vasconcelos da Rocha Júnior Rua Monte Sinai - Galeria Brito salas 101/102 Natal - RN Fone: (84) 3217-6076 Fax (84) 3217-6577 www.sindipostosrn.com.br sindipostosrn@sindipostosrn.com.br
SANTA CATARINA Lineu Barbosa Villar Rua Porto União, 606 Bairro Anita Garibaldi Joinville - SC Fone: (47) 3433-0932 / 0875 Fax: (47) 34330932 sindipetro@sindipetro.com.br www.sindipetro.com.br SANTA CATARINA - BLUMENAU Julio César Zimmermann Rua Quinze de Novembro, 550/4º andar Blumenau - SC Fone: (47) 3326-4249 / 4249 Fax: (47) 33266526 sinpeb@bnu.matrix.com.br www.sinpeb.com.br SANTA CATARINA - FLORIANÓPOLIS Valmir Osni de Espíndola Av. Presidente Kennedy, 222 - 2º andar Campinas São José-SC CEP: 88101-000 Fone: (48) 3241-3908 sindopolis@gmail.com SANTA CATARINA - LITORAL CATARINENSE E REGIÃO Roque André Colpani Rua José Ferreira da Silva, 43 Itajaí-SC Fone: (47) 3241-0321 ou 9657-9715 Fax: (47) 3241-0322 sincombustiveis@sincombustiveis.com.br www.sincombustiveis.com.br
SÃO PAULO - CAMPINAS Flávio Martini de Souza Campos Rua José Augusto César, 233 Jardim Chapadão Campinas - SP Fone: (19) 3284-2450 recap@recap.com.br www.recap.com.br SÃO PAULO - SANTOS José Camargo Hernandes Rua Dr. Manoel Tourinho, 269 Bairro Macuco Santos - SP Fone: (13) 3229-3535 Fax: (13) 3229-3535 secretaria@resan.com.br www.resan.com.br SERGIPE Flávio Henrique Barros Andrade Rua Benjamim Fontes, 87, b. Luzia Aracaju - SE Fone: (79) 3214-7438 Fax: (79) 3214-4708 sindpese@infonet.com.br www.sindpese.com.br SINDILUB Laércio dos Santos Kalauskas Rua Trípoli, 92, conj. 82 Vila Leopoldina São Paulo - SP Fone: (11) 3644-3440/ 3645-2640 sindilub@sindilub.org.br www.sindilub.org.br TOCANTINS Eduardo Augusto Rodrigues Pereira 103 Sul, Av. LO 01 - Lote 34 - Sala 07 Palmas - Tocantins Fone: (63) 3215-5737 sindipostos-to@sindipostos-to.com.br TRR Álvaro Rodrigues Antunes de Faria Rua Lord Cockrane, 616 8º andar, salas 801/804 e 810 Ipiranga - SP Fone: (11) 2914-2441 Fax: (21) 2914-4924 info@sindtrr.com.br www.sindtrr.com.br Entidade associada FERGÁS Álvaro Chagas Av. Luis Smânio, 552, Jd. Chapadão Campinas – SP Fone: (19) 3241-4540 fergas@fergas.com.br www.fergas.com.br
44 ILDO SAUER 4 Professor do Instituto de Eletrotécnica e de Energia da USP
Com o dedo na ferida Por Gisele de Oliveira
Fotos: Paulo Pereira
Parece que não é só o mercado de combustíveis que precisa de um rearranjo em sua estrutura. É o setor energético por inteiro. Pelo menos esta é a visão do professor
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titular do Instituto de Eletrotécnica e de Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP), Ildo Sauer. Para ele, não está havendo um planejamento energético estruturado e organizado para utilizar os recursos disponíveis da melhor maneira possível, deixando, na maioria das vezes, o mercado de combustíveis em segundo plano para priorizar o setor elétrico nacional. “É o medo do apagão”, comenta Sauer, que já foi diretor da área de Gás e Energia da Petrobras, no primeiro mandato do governo Lula. Durante quase duas horas, o professor falou sobre estímulo ao uso do GNV, tentativas do governo de conter a alta do etanol e da gasolina e, principalmente, a falta de estratégia para tornar o Brasil num gigante energético. E fez críticas, muitas críticas. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida na sede do IEE, em São Paulo: Combustíveis & Conveniência: Após forte estímulo para abrir novos mercados, o GNV enfrentou um período de estagnação e até mesmo declínio, devido à desconfian-
ça que se instalou entre os consumidores em meio às incertezas do fornecimento por parte da Bolívia e à elevação dos preços do produto. O que poderia ser feito para estimular esse mercado? Ildo Sauer: O GNV sofre de dois ou três tipos de incompreensão por parte, especialmente, das autoridades responsáveis pelo gás natural, pela política energética brasileira. Um mercado flexível, como é o GNV, é naturalmente desejável pela possibilidade de ser bicombustível. Uma das grandes questões na coordenação da utilização racional dos recursos energéticos é que, de um lado, temos no país o setor elétrico pujante, organizado e que, ao longo de décadas, era baseado num binômio hidroeletricidade e complementação térmica flexível. Isso significa que, nas décadas de 50, 60, 70, nós tínhamos, principalmente, hidráulicas complementadas com usinas térmicas a óleo combustível importado, que eram acionadas quando a curva-guia da operação do setor elétrico apontava dificuldades nos reservatórios. No final da década de 90, aconteceram alguns fatores que alteraram esse cenário. O primeiro deles é que o petróleo estava com preço baixo, em torno de US$ 12 a US$ 20 o barril. Em segundo lugar, a liberalização do mercado permitiu a privatização de vários ativos do setor elétrico brasileiro com a justificativa de que o Estado não poderia participar mais de nada nas histórias de suas empresas; na Bolívia, a Enron con-
seguiu induzir a privatização das reservas de gás; para completar, o mercado dessas reservas de gás na Argentina tinha desaparecido; tendo o único mercado factível o Brasil a partir das termelétricas. Daí criou-se o Programa Prioritário Termelétrico (PPT), que não funcionou e deixou uma herança de térmicas que agora passariam a demandar gás continuamente, sempre que houvesse necessidade. Então, essa disfunção ficou muito flagrante. Como solução, a Petrobras criou o sistema GNL que repetiu o papel que o óleo combustível tinha antigamente. Isto é só acionar a importação nos momentos hidrológicos críticos, permitindo, assim, que o gás fixo permanente fosse liberado para uso em outros setores como o industrial, o comercial e de serviços; substituindo os derivados de petróleo que ficavam cada vez mais valorizados, com a vantagem de que o gás tem menos emissão de CO 2 e poluentes. Nesse contexto, além do GNL, havia a possibilidade de alguns outros segmentos industriais serem convertidos em mercados flexíveis (terem dois ou mais combustíveis possíveis). O que faltou para viabilizar esse segmento foi uma política que desse confiança e criasse uma circunstância tal para este mercado. Política esta que foi sugerida pela Petrobras ao governo, quando fui diretor, várias vezes: o desenvolvimento de processos nos raros momentos de hidrologia crítica, quando já tendo sido usado todo o GNL, ainda seria necessário usar mais gás. Nestes casos, seriam criados esquemas que permitissem aos automóveis que andassem com gasolina ou etanol nesse período, principalmente frotas cativas, como os táxis.
O governo Lula nasceu com o temor de que houvesse apagão, porque ele nasceu do apagão do FHC, do racionamento. Só que, ao invés de usar de maneira inteligente, coordenando todas as opções, o governo preferiu transferir o ônus para a Petrobras, atacando a empresa publicamente sem fazer sua obrigação, que era desenvolver esses mecanismos institucionais C&C: Por que a ideia não seguiu adiante? IS: Porque o governo achava que o gás tinha que ficar disponível para as termelétricas para evitar o risco de novo racionamento. O governo Lula nasceu com o temor de que houvesse apagão, porque ele nasceu do apagão do FHC, do racionamento. Só que, ao invés de usar de maneira inteligente, coordenando todas as opções, o governo preferiu transferir o ônus para a Petrobras, atacando a empresa publicamente sem fazer sua obrigação, que era desenvolver esses mecanismos institucionais. Tanto que a Lei do Gás foi feita para atender aos lobbies de alguns grupos econômicos que pretendiam ter uma participação maior no gás, sem fazer investimentos, ou pelo menos para pressionar a Petrobras a compartilhar os investimentos que fez para desenvolver o mercado, para que os investidores atuassem aqui e acolá, onde fosse mais conveniente e vantajoso, sem grandes riscos. Apesar de dizerem que a Petrobras tem muito poder, ela não tem. O governo a usa como convém. Então, a empresa saneou uma carteira de 3 mil MW de projetos termelétricos criados no PPT e não conseguiu vender energia disponibilizada por aí; fez o GNL e até hoje não conseguiu vender formalmente essa capacidade disponível; a área de gás continua tendo dificuldades. Ou seja, gastou um monte de dinheiro aceleradamente para disponibilizar mais gás,
que teoricamente seria só para as termelétricas. A Petrobras criou e propôs o projeto de massificação e uso do gás, que ia desenvolver essas opções todas para o mercado veicular, para o mercado industrial da cogeração, da matéria-prima, de maneira sistemática, mas o governo nunca aceitou isso e impôs que esse gás ficasse de reserva, como salva-guardadora do risco de apagão e de racionamento. Desorganizou o mercado de energia no Brasil para garantir o suprimento elétrico de maneira precária, fazendo com que o preço para o consumidor cativo, que é 70% do consumo total, fosse um dos três ou quatro mais caros do mundo. E, do outro lado, alguns consumidores durante uns cinco ou seis anos compraram energia a 20% do custo. E, mesmo assim, os apagões se sucederam. A gestão e organização do setor de energia como um todo é precário e a área que mais sofre é o gás natural, pois ao ser usado como um curinga da
4LEITURA Recomendação de leitura: Gênese e estrutura de o Capital de Karl Marx Autor: Roman Roseolsky Editora: Contraponto Combustíveis & Conveniência • 13
44 ILDO SAUER 4 Professor do Instituto de Eletrotécnica e de Energia da USP água e substitutivo do petróleo, é subutilizado na matriz energética brasileira. Assim, os custos dos combustíveis são mais caros que o necessário, o custo da eletricidade é mais caro que o necessário, porque nunca se organizou este negócio importante. C&C: Em São Paulo, a Arsesp permitiu que as concessionárias utilizem o gás ofertado em leilão pela Petrobras na composição do preço do GNV. Essa pode ser uma saída para melhorar a competitividade? IS: A Arsesp deveria rever os contratos de concessão. Eles deveriam ser renegociados com as três concessionárias de gás em São Paulo porque não se ajustam à lógica e à dinâmica econômica do mercado de gás natural. Esses acordos foram inspirados nos contratos de concessão do setor elétrico, que não têm variações bruscas dentro do ano nos custos de suprimento. O gás natural da Bolívia tem uma parcela fixa no custo do transporte e outra que varia de acordo com uma cesta de óleos, a qual depende do mercado internacional – reajustada a cada três meses. Então, obviamente que
isso tem de ser repassado para evitar que se forme uma bolha, de crédito ou de débito. Agora, quando há uma diferença para mais no custo de suprimento em relação ao preço de venda autorizado, forma-se um crédito que é pago no ano seguinte. Às vezes, não são nem os mesmos consumidores. Isso desorganiza o mercado. Todas as outras medidas são importantes, mas são perfumaria. São muito pequenas do ponto de vista do mercado de combustíveis. Repassar os custos para o consumidor assim que eles acontecem, sem formar bolha de crédito, seria a melhor solução. C&C: Algumas estimativas apontam que irá sobrar gás no Brasil, devido às recentes descobertas da Petrobras. Como isso irá mudar o mercado de GNV? Deve voltar o período de estímulo ao produto? IS: A estratégia que me parece mais inteligente para alocação de recursos no país é aquela formulada na Petrobras nos anos de 2003 a 2006. Os planos estratégicos previam a necessidade de aumentar a área de exploração e produção da Petrobras para descobrir muito mais reservas. Graças a isso, des-
cobrimos o pré-sal. Foi decisão tomada a partir daí em função da carteira de conhecimento e de projetos e estudos em décadas anteriores. Ali, era uma transição à massificação do uso gás natural no país, que, progressivamente, assumiria o papel dos derivados. Embora o gás natural seja vantajoso, seu custo de levá-lo até o ponto de consumo é elevado; exigindo investimentos fixos rígidos em sistemas de produção, de tratamento, de transporte e de distribuição, diferente do petróleo, com fácil logística em escala mundial. Então, a ideia formulada na Petrobras era a seguinte: primeiro, vamos avançar na produção e na descoberta de petróleo para garantir a autossuficiência, que veio em 2006, e descobrir mais reservas no Brasil e no mundo. O gás, preferencialmente, deve ser usado próximo do ponto de produção. Do ponto de vista ótimo da alocação de recursos e custos, de gerar mais trabalho e recursos produtivos na cadeia do gás, seria mobilizar todo o gás para a economia brasileira e liberar petróleo, que pode ser exportado, ou até reservado para o futuro. Não vejo isso como plano
Os frotistas preferem ônibus a diesel porque criam um mercado secundário de revenda. Depreciam os ônibus em quatro ou cinco anos, depois revendem a preço elevado no mercado secundário. Isso encarece a passagem. Sem levar em conta que todo o transporte veicular poderia ser bi ou tricombustível no Brasil 14 • Combustíveis & Conveniência
do governo para estimular o uso do gás natural no país. C&C: Qual sua avaliação sobre o uso do GNV em veículos pesados? É uma opção viável para o Brasil? IS: Foi feita uma tentativa em 2005 de criar um preço pelo qual se garantia a permanente competitividade do gás natural em relação ao diesel, reduzindo as emissões ambientais e ainda os custos dos transportes. Isso não se viabilizou porque a regulação municipal dos transportes não conseguiu coordenar com os concessionários, os donos das empresas de ônibus. Tampouco o governo federal se interessou pelo projeto e contribuiu para esse debate. No transporte de passageiros, poderia ser uma possibilidade ter frotas a gás. Além disso, os frotistas também preferem ônibus a diesel porque criam um mercado secundário de revenda. Depreciam os ônibus em quatro ou cinco anos, depois revendem a preço elevado no mercado secundário. Isso encarece a passagem do transporte. Sem levar em conta que todo o transporte veicular poderia ser bi ou tricombustível no Brasil. C&C: O mercado de combustíveis brasileiro está no centro dos debates atualmente, devido à disparada nos preços do etanol. Como os preços do açúcar vinham subindo há algum tempo, já era previsível que essa situação ocorresse? IS: Nota que sempre cabe à Petrobras assumir o ônus de tudo o que está acontecendo. Para dar espaço ao desenvolvimento do mercado de combustíveis líquidos e de etanol, a Petrobras teve que, progressivamente, criar mercados para gasolina no exterior. Agora, de repente, alguns fatores alteram esse quadro drasticamente. Um
deles é o preço do petróleo no mercado internacional, que subiu muito, e o custo de oportunidade da gasolina está muito elevado. Se fosse aplicada a lei de política energética no Brasil, a gasolina estaria, hoje, uns 20% mais cara. Quem quer vender etanol aqui dentro fica limitado a 70% do preço da gasolina, que está 20% abaixo do mercado internacional. Essa disfunção cria oportunidades de, preferencialmente, exportar a cana sob a forma de açúcar ou etanol de acordo com a possibilidade de cada grupo econômico. Adicionalmente, é preciso lembrar que, no Brasil, nós incentivamos radicalmente a entrada dos carros flex fuel para termos a possibilidade de migrar de um combustível para o outro. Mas, em paralelo, não foram criados, no âmbito do Ministério de Desenvolvimento Agrário, do Ministério de Minas e Energia e do BNDES, incentivos para incrementar na mesma proporção a produção de etanol aqui no país. Só que o governo agora não quer que a Petrobras aumente a gasolina para não elevar a inflação, que já está pressionada além da meta. De forma que são esses vários vínculos que, me parecem, são muito claros, mas que derivam de um poder autocrático do governo para tentar resolver a conjuntura. Mas está fazendo o inverso, está destruindo a estrutura como já foi feito nos anos 90, quando o etanol desapareceu; como se fez em 2007, quando tirou o gás do mercado e assustou todo mundo – mais do que a Bolívia, quem assustou o mercado brasileiro foi o fato de o governo dizer que o gás disponível ia para termelétricas. C&C: O governo estuda a transferência do controle e da fiscalização sobre a cadeia produtiva do
etanol à ANP, reduzir o percentual da mistura de anidro à gasolina e a possibilidade de fixar alíquota para exportar açúcar. O senhor concorda com essas medidas? IS: Ou o mercado existe ou não existe. Se não tem mercado, vai estocar etanol onde? Quem vai pagar o custo? Não adianta nada se não criar mecanismos. Isso tudo é perfumaria. Não é chamar a ANP agora para fiscalizar. Vai fazer o quê? Proibir exportação? Não é melhor reorganizar de outro jeito? São medidas muito pontuais. Ou terá algo sistêmico e estruturado ou nada funciona. Isso é um remendo a ser criado para dar uma satisfação mais à opinião pública do que criar uma política nacional de energia. Cadê as hidrovias, as ferrovias, as navegações de cabotagem para reduzir a dependência do diesel? Cadê a política integrada? Vamos produzir etanol, açúcar e alimentos e enviar por onde? Por meio de caminhões, com essas rodovias esburacadas? Isso tudo me parece muito precário. Agora, vai chamar a ANP para dizer que vai colocar uma nova alíquota no etanol, no açúcar, para ver se sobra um pouco mais. Isso é uma disfunção entre a total capacidade de produção e a quantidade de flex fuel. C&C: Como o senhor avalia a política de preços adotada pela Petrobras? IS: Esse é outro problema. O governo, de maneira não transparente, impõe à Petrobras um preço que ele próprio regula. Não tem um regulador que faz a vontade do ministro da Fazenda ou do presidente da República, o que seria aceitável politicamente, desde que se mudasse a lei. A lei de política energética, que está em vigor, diz que os preços são Combustíveis & Conveniência • 15
44 ILDO SAUER 4 Professor do Instituto de Eletrotécnica e de Energia da USP de custo de oportunidade e de mercado competitivo. Só que o governo intervém e impõe à estatal, que não pode seguir o preço do mercado internacional. Isso é uma decisão até respeitável, mas o que o governo tinha de fazer era criar critério e transparência: quando vai mudar, como vai mudar e quem decide. O que existe hoje é uma defasagem de mais ou menos 20% do preço da gasolina em relação ao mercado internacional. Com isso, nós desorganizamos o mercado do etanol também. Primeiro porque, como o preço da gasolina está mais baixo do que no mercado internacional, é melhor vender etanol para o mercado internacional, pois lá acompanha aproximadamente 70% do preço da gasolina, descontada a logística. Além disso, muitas vezes é melhor fazer açúcar. Não estou defendendo isso. Estou dizendo que se pode organizar de um jeito ou de outro. C&C: Em sua avaliação, os atuais planos de investimento em refinarias são suficientes para atender à demanda nacional? Podese esperar que as importações de gasolina serão mais frequentes nos próximos anos? IS: Dado que a gasolina está disponível universalmente, temos ações deste tipo. Só que ninguém discute o ônus que a Petrobras terá quando for obrigada a firmar contratos de longo prazo para exportar gasolina, para se livrar do excedente decorrente, hipertrofiando a dependência do diesel. O governo não está coordenando isso tudo adequadamente, não tem compromisso, não tem leis. Se o governo não tomar para si a capacidade de coordenar a atividade econômica e energética num plano superior mais amplo, isso vai se repetir. Mas tudo está 16 • Combustíveis & Conveniência
escondido atrás do enorme lucro que o petróleo ainda tem. A Petrobras, que já foi chamada a se sacrificar no seu balanço para salvar o setor elétrico para evitar constrangimentos ao governo anterior - eleito em cima do fiasco do antecessor -, agora está sendo chamada, mais uma vez, a tapar o buraco da falta de política de combustíveis no Brasil. C&C: O senhor tem acompanhado os problemas envolvendo o biodiesel? IS: O biodiesel foi, como tudo, improvisado. O biodiesel foi proposto ainda no governo anterior, quando foi criada a mágica da mamona. O presidente da República distribuiu mamona para Deus e o mundo e, de repente, descobriu-se que a mamona não estava pronta para fazer o biodiesel. Descobriu-se que a tecnologia existente não estava dominada para a conversão do óleo de mamona em biodiesel. Foi um conflito enorme que tive na Petrobras, mas não fomos ouvidos. À época do anúncio de que só se poderia colocar até 15% de óleo de mamona no diesel, a presidente do Conselho na Petrobras, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi contra, dizendo que a estatal estava sabotando o programa mais importante do governo. Só que ela não sabia que não havia tecnologia no mundo que garantisse a produção contínua de óleo diesel a partir da mamona até certo percentual. C&C: Atualmente, o biodiesel utilizado ao diesel traz muitos problemas, como a formação de borra nos veículos e nos tanques dos postos revendedores... IS: Não precisava dar e não deveria dar. Se está acontecendo isso é porque está sendo feito com
produto de baixa qualidade e a ANP não está fiscalizando. Porque o biodiesel produzido conforme as especificações não daria isso. Tecnicamente, não deveria dar. C&C: O senhor tem acompanhado o cronograma de implementação do diesel de baixo teor de enxofre (S10/S50), que irá introduzir um novo produto no mercado, o Arla32, e provavelmente irá encarecer o custo do diesel? IS: Novamente, houve um jogo de empurra-empurra que, parcialmente, de fato não acelerou o cronograma de unidades de dessulfurização nas refinarias. Mas também, por outro lado, tem a indústria automobilística que produz carros e o governo que não coordena a renovação da frota. Isso exige coordenação nacional. Da parte da Petrobras, com o papel de produzir e distribuir o diesel com baixo teor de enxofre, não adianta colocar só pouco enxofre. Ajuda, mas não resolve em automóveis com mais de 20, 30 anos de idade, mal-regulados. C&C: Qual sua expectativa para os preços do petróleo no mercado internacional? IS: A minha leitura é de que raramente ficarão abaixo dos US$ 60 e acima dos US$ 100. Porque, acima dos US$ 100, outras fontes se viabilizam, já que o sistema capitalista internacional consegue pagar de US$ 80 a US$ 100 o barril, sem estar numa crise profunda. Então, há uma tendência de que fique entre US$ 60 e US$ 80. De vez em quando um pouco acima, esporadicamente um pouco abaixo. A não ser que, no médio prazo, haja uma revolução no paradigma da mobilidade de individual para coletiva. O rito de produção pode ser menos intenso do que tem sido hoje. n
Confira as principais ações da Fecombustíveis durante os meses de março e abril: Março 25 – Palestra do presidente Paulo Miranda Soares no encontro em Santa Catarina entre Secretários de Fazenda estaduais e agentes do mercado, para debater os problemas de sonegação fiscal no etanol;
23 – Participação da Fecombustíveis na Reunião ANP dos Grupos de Trabalho do ODBTE/Arla-32; Abril 2 – Reunião do GT3 ANP sobre a garantia das especificações da mistura diesel/biodiesel; 4 – Participação da Fecombustíveis na Reunião ANP da Sala de Monitoramento do Etanol; 5 a 7 – Participação da Fecombustíveis na Conferência Diesel Emissions & Arla 32 Forum Brazil 2011, em São Paulo;
7 – Reunião do presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, com o superintendente de Fiscalização da ANP, Carlos Orlando, para discutir as mudanças na Lei de Penalidades; 7e8–
Primeira reunião do ano com os participantes do Sistema de Excelência em Gestão Sindical (SEGS), na sede da Fecombustíveis;
8 – Reunião de advogados dos Sindicatos Filiados à Fecombustíveis na sede da CNC; 8 – Reunião do presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, na BR Distribuidora; 11 – Fecombustíveis envia ofício ao diretor da ANP, Allan Kardec, com questionamentos sobre a es-
pecificação do etanol anidro norte-americano, importado durante o mês de abril, e a possibilidade de autuações injustas nos postos de combustíveis;
12 – Fecombustíveis envia ofício ao ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão, com esclarecimentos em relação à alta da gasolina nos postos de combustíveis, tendo em vista as declarações do ministro no programa Bom Dia, Ministro;
13 – Reunião em Brasília do presidente da Fecombustíveis, Paulo Mi-
randa Soares, com Flávio Crocci Caetano, chefe de Gabinete do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e com Vinicius Marques de Carvalho, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE);
14 – Envio de nota à colunista Miriam Leitão com esclarecimentos
sobre os motivos que levaram à alta do etanol e da gasolina nos postos, após declarações da jornalista no programa Bom Dia Brasil, relacionando as recentes elevações nos preços a possíveis formação de cartel na revenda;
14 e 15 – Participação da Fecombustíveis no 12º Congresso de Postos Revendedores de Combustíveis de Minas Gerais; 19 – Participação da Fecombustíveis em reunião sobre o Acordo Se-
torial de Coleta de Embalagens e Óleo Lubrificante Usado, na sede do Sindicom;
20 – Participação do presidente Paulo Miranda Soares em audiência
pública em Natal (RN) para discutir a elevação dos preços do etanol e da gasolina.
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OPINIÃO 44 Paulo Miranda Soares 4 Presidente da Fecombustíveis
Boas notícias à vista? Com preços em alta, Uma importante e positiva mudança deve chegar o consumidor finalmente para a revenda nos próximos meses: a alteração da Lei migrou do hidratado para de Penalidades da ANP. A ideia é dar às diversas infraa gasolina. Mas nem isso ções previstas pela legislação punições proporcionais à trouxe alívio. A valorização do sua gravidade. Trata-se de uma antiga reivindicação da anidro acelerou ainda mais Fecombustíveis, que sempre avaliou faltar razoabilidade nas usinas, acumulando e proporcionalidade na aplicação de multas iguais a um quase 100% de alta desde junho do ano passado. E aí o posto flagrado adulterando e a outro onde apenas existe cenário é mais perverso com a revenda. Afinal, na hora de um adesivo ou placa no lugar errado. atribuir aos postos a prática de preços abusivos ou mesmo O Projeto já se encontra na Procuradoria da ANP de formação de cartel, quem se lembra dos 25% de anidro e, salvo algum contratempo, deve entrar em breve em adicionados à gasolina C, que têm impacto direto no preço consulta pública. É resultado do empenho direto do final em bomba? diretor Allan Kardec Duailibe e do superintendente de Assim, nós, presidentes e diretores da Fecombustíveis Fiscalização da Agência, Carlos Orlando, que, até por e dos Sindicatos Filiados, dedicamos boa parte do nosso analisarem diariamente o absurdo de inúmeras situações, tempo explicando a jornalistas e representantes públicos o compreenderam se tratar de uma demanda legítima da que está por trás da alta no revenda e buscaram forpreço da gasolina, apesar do mas de adequar a legisvalor de aquisição nas refinalação, sem prejudicar a Na hora de atribuir aos postos a prática de rias se manter mais ou menos fiscalização. preços abusivos ou mesmo de formação de estável há quase dois anos. Outro projeto de grancartel, quem se lembra dos 25% de anidro Importante ressaltar que os de interesse da revenda adicionados à gasolina C, que têm impacto postos nem sequer repassaram também deve retornar em direto no preço final em bomba? todo aumento de custos que breve à consulta pública: amargaram no período. Para a minuta que estabelece o se ter uma ideia, no acumulado Documento de Estocagem do ano até meados de abril, o preço do anidro subiu quase e Comercialização de Combustíveis (DECC), apelidado de 93% nas usinas, elevando em 14% o custo da gasolina C. “LMC eletrônico”. A expectativa é de que finalmente sejam No período, a gasolina subiu 8,8% na distribuição e 7,5% na resolvidos pontos polêmicos, como a periodicidade de revenda, na média Brasil, segundo dados da ANP. envio dos dados e a punição aplicada aos postos que não E se não bastasse todo esse imbróglio, o governo ainda enviarem as informações. trava uma queda de braço com a Petrobras para definir Se para o futuro próximo há perspectivas de se a gasolina sobe ou não na refinaria. Formas há para notícias positivas, o passado recente não foi tão tranpermitir que a estatal não trabalhe com valores defasados quilo. Abril chegou ao fim sem deixar saudades para em relação ao mercado internacional, sem que o reajuste a revenda, em meio ao desconforto geral causado comprometa as metas de inflação. Basta o governo compelos elevados preços do etanol na produção. Quem pensar a alta com redução da tributação, via Cide ou Pis/ acompanha os números do setor sabe que o etanol Cofins, como já o fez em outras ocasiões. vem subindo desde junho do ano passado nas usinas, Com o início da safra de cana no mês passado, e a alta ganhou fôlego com o início da entressafra. os preços devem arrefecer (embora ninguém trabalhe Não há mistério por trás desse movimento: os usineicom projeção de etanol barato), assim como os riscos ros não investiram tanto quanto era necessário nos de desabastecimento em determinadas regiões. Mas últimos anos para atender à demanda, pois sentiram assentada a poeira da crise do etanol, é bem provavelos efeitos negativos da crise financeira de 2008, enmente que o governo dê o sinal verde para a Petrobras quanto a frota de veículos flex seguiu em forte ritmo reajustar a gasolina. de crescimento. Resultado? Muito carro para pouco Adivinhe de quem o consumidor vai cobrar etanol, agravado pelo cenário de forte valorização do explicações? açúcar no mercado internacional. Combustíveis & Conveniência • 19
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O céu é o limite? Mesmo com início da safra e chegada das importações, preço do etanol atingiu patamares históricos durante o mês de abril, o que levou o governo a prometer mudanças no setor. Maio prenuncia alívio nos preços. Mas só até a próxima entressafra?
Unica
Por Morgana Campos Abril saiu muito pior do que todos esperavam. O preço do anidro disparou nas usinas, impactando na gasolina, e a insatisfação entre os consumidores foi geral, voltando sua ira mais uma vez para os postos. “Quem está de frente para o consumidor recebe o primeiro embate, a primeira reclamação, pois ele quer ver o preço baixo lá na ponta. É um desafio explicar que, pelo menos a maioria, não está se aproveitando da situação, está apenas repassando um custo que vem na cadeia: subiu o preço do anidro, sobe o da gasolina”, afirma José de Andrade Lima Neto, presidente da BR Distribuidora. O anidro é misturado pelas distribuidoras no percentual de 25% à gasolina A, a fornecida pelas refinarias, para formar a gasolina C, aquela que é comercializada nas bombas. E como subiu o etanol! Para se ter uma ideia, o litro do anidro 20 • Combustíveis & Conveniência
nas usinas, sem impostos ou fretes, chegou a R$ 2,7257 na semana encerrada em 20 de abril, o maior valor já apurado desde que o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP começou a acompanhar os preços do produto, em 2000. E essa não foi uma alta isolada. No acumulado do ano até abril, o preço do anidro já aumentou 113% nas usinas, elevando em 17% o custo da gasolina C. No período, entretanto, os valores praticados para a gasolina na distribuição subiram 8,8% e na revenda, 7,5%, analisando a média Brasil, segundo dados da ANP. Se tomado como base o menor preço apurado em junho, e não os valores médios, a alta do anidro na usina é ainda mais chocante: 211%.
Demanda em alta Não faltam explicações para justificar a disparada nos preços. Condições climáticas desfavoráveis, que prejudicaram a safra; investimentos de menos,
refletindo a descapitalização das usinas após a crise internacional de 2008, que secou o crédito e suspendeu os planos de expansão e modernização; preços atrativos para o açúcar no mercado internacional; e explosão da demanda. Demorou, mas os elevados preços do hidratado levaram os consumidores a migrarem para a gasolina. De acordo com Alísio Vaz, presidente do Sindicom, as companhias registraram queda de 70% nas vendas do biocombustível no início de abril, em comparação com as vendas semanais médias de janeiro e fevereiro. “Ou seja, houve claramente, durante o mês de março e o início de abril, uma clara migração do consumidor do hidratado para a gasolina”, explicou. Diante da menor demanda e do início da moagem da nova safra, os preços do hidratado até deram sinais de arrefecimento, embora tenham voltado a subir 5,3% nas usinas na semana encerrada em 20 de abril. Para
o anidro, no entanto, a história é completamente diferente. Com demanda aquecida, os preços seguiram em alta, sem trégua. Segundo o Cepea, na relação de paridade entre os produtos do setor sucroalcooleiro, o anidro passou a remunerar mais que o açúcar cristal, em 6% no início de abril, algo completamente atípico nos últimos anos, “quando o açúcar tem apresentado, sistematicamente, maior remuneração”. Frente ao hidratado, o anidro remunerou mais em 45%. Para alguns, não há nada de fortuito nesta forte elevação do anidro: encarece a gasolina e assim vai, aos poucos, restabelecendo a relação de competitividade com o hidratado. Vale lembrar que a alta ocorre apesar de o governo ter liberado as importações de anidro norte-americano para atender à demanda e evitar escassez do produto (veja Box sobre o anidro importado). De acordo com Alíso Vaz, a quantidade de anidro importada será suficiente para dar conta da demanda até que a nova safra esteja a todo vapor. “Há anidro suficiente. O problema são eventuais gargalos. As unidades que têm anidro estocado são poucas, o que gera uma concentração de caminhões nesses locais para carregar e levar para as bases das distribuidoras, o que pode causar atrasos de um ou dois dias no atendimento do posto. Isso não quer dizer que vai faltar produto, apenas que um ou outro posto pode não receber no mesmo dia que fez o pedido”, destaca. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) enviou circular aos seus associados pedindo prioridade na produção de etanol anidro.
Na prática, o que aconteceu em meados de abril dependeu muito do tipo de posto. Para os embandeirados, não faltou produto, embora algumas vezes tenha chegado com atraso ou abaixo da quantidade solicitada. Já os bandeira branca abastecidos por regionais ou que não mantêm relacionamento estreito com alguma companhia grande chegaram a ficar sem gasolina, ou tiveram que pagar muito caro por ela.
Insatisfação no Planalto Em um momento que o governo usa toda sua artilharia para combater a inflação, a presidenta Dilma Rousseff não gostou nada de ver os preços disparando nas usinas. E pretende implementar mudanças no setor, dentre elas, a mais importante prevê a transferência da supervisão da produção do etanol para a ANP. Atualmente, a Agência responde pelo produto somente a partir do momento em que ele sai da usina. Antes disso, o etanol é tratado como insumo agrícola e fica sob a supervisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Apesar de anunciada no meio da crise de abastecimento, a ampliação dos poderes da ANP sobre o etanol deve ter poucos efeitos práticos no que se refere à oferta e preço do produto, mas faz uma diferença imensa no combate à sonegação. Isso porque, pelas regras atuais, as usinas não são obrigadas a informar seus dados de produção à ANP, somente ao MAPA, o qual os repassa à Agência. Com a mudança, a ANP terá de forma mais rápida e eficiente esses números, o que lhe permite cruzá-los com os dados de aquisição do produto pelas distribuidoras.
“A ANP passará a ter as ferramentas adequadas para poder identificar irregularidades que hoje ocorrem, como as vendas diretas das usinas aos postos (vedadas pela legislação). Quem sabe assim poderemos descobrir a mágica que permite a alguns postos praticar preço final em bomba igual ao meu custo de aquisição (preço de venda das distribuidoras)”, prevê Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis. A expectativa é de que o governo anuncie as prometidas medidas agora em maio. Fala-se em redução do percentual de anidro na gasolina, da taxação do açúcar para exportação, além da já citada transferência da supervisão da produção para a ANP. Fontes indicam, no entanto, que nem o MAPA, nem os usineiros gostaram da ideia da Agência ganhar mais poder na regulação do etanol e que, para implementar essa mudança, Dilma terá que tomar para si o assunto e bater o pé. O que não parece nada difícil. Em sua palestra no 12o Congresso de Postos Revendedores de Combustíveis de Minas Gerais, a jornalista Cristiana Lôbo disse que a presidenta teria afirmado durante a reunião ministerial que discutiu o que fazer com a crise do etanol: “Os usineiros podem enganar a vocês, não a mim. Eu os conheço muito bem”.
Problema sem fim Apesar de provavelmente maio já trazer algum alívio para o abastecimento de etanol no país, 2011 promete ser outro ano de preços mais elevados para o produto. Segundo informou o presidente da Unica, Marcos Jank, a safra de canade-açúcar 2011/12 deve ser Combustíveis & Conveniência • 21
44 ETANOL suficiente para atender apenas 45% da frota flex do Brasil. De acordo com estudo realizado pela Copersucar e pela Unica, para abastecer 66% da frota flex usando etanol, a cana necessária seria de 775,6 milhões de toneladas, ante uma estimativa
de produção nacional de 632 milhões de toneladas. Então se deve abrir o mercado para as importações? Para Alísio Vaz, esse não seria o caminho. “Na questão do hidratado há necessidade de investimentos, de aumentar
Especificação temporária pode gerar problemas No final de março, a ANP autorizou a importação de etanol anidro até o dia 30 de abril e modificou, provisoriamente, a especificação do produto no Brasil para adequá-la à norte-americana. Com isso, o teor máximo de água permitido passou de 0,4% para 1%. A alteração, no entanto, traz preocupação aos postos, pois pode gerar autuações injustas. Pensando nisso, a Fecombustíveis enviou, por ofício, os seguintes questionamentos à ANP: 1) Ao comparar as especificações dos dois produtos, é possível constatar que o volume máximo de hidrocarbonetos permitido no produto importado é de 5%, ante os 3% admitidos pelo ordenamento nacional. Há a preocupação de que esse percentual maior de hidrocarboneto possa interferir nos testes de proveta realizados nos postos para identificar o total de anidro, apontando, por exemplo, 76,25% de gasolina A, o que supera o intervalo de tolerância de 1 ponto para cima ou para baixo. A nossa recomendação é de que, durante o período em que o anidro norte-americano for utilizado, seja adotada uma tolerância maior por parte da fiscalização, de 2%; 2) O anidro norte-americano possui ainda teor máximo de água em 1%, enquanto o nacional assume um teto de 0,4%. Apesar de a ANP já ter alterado a sua especificação para evitar não-conformidades nesse sentido, faz-se necessário lembrar que essa maior quantidade de água vai ressaltar propriedades que hoje já são identificadas no diesel/biodiesel, como formação de borra, aumento da oxidação do produto e dos materiais nos postos e veículos. Além disso, o revendedor deverá ainda arcar com o prejuízo de maiores perdas de produto, pois a maior quantidade de água tenderá a se depositar no fundo do tanque, exigindo drenagem e descarte, apesar de ter sido paga como gasolina C; 22 • Combustíveis & Conveniência
a área de cana plantada. Isso vai se equilibrar pelo preço. Devemos ter nesse ano uma região menor consumindo etanol, porque o hidratado não vai ser competitivo em relação à gasolina nos mesmos lugares de 2009 ou 2010”, projetou.
3) No que se refere ao teor de etanol, o anidro importado possui taxa de 92,1, ante os 98 do nacional, sendo praticamente um etanol hidratado. Como possui maior quantidade de água, todas as propriedades físico-químicas do produto serão influenciadas, podendo acarretar problemas de formação de fungos, borras, deterioração, oxidação, tendência a formar uma espécie de “nata” no fundo do tanque, entre outros itens; 4) Preocupa também o fato da massa específica constar como “anotar” para o produto importado. Isso prejudica a confiabilidade das avaliações técnicas do produto e abre espaço para uso de diversos tipos de alcoóis, como o metanol que vem sendo detectado em São Paulo; Até o fechamento desta edição, a ANP não havia respondido ao ofício enviado pela Fecombustíveis. A assessoria de imprensa, no entanto, enviou algumas respostas ao questionamento da Combustíveis & Conveniência. Primeiramente, a Agência esclareceu que não há qualquer perspectiva de que as mudanças na especificação sejam prorrogadas para além de 30 de abril. Indagada sobre como fará o controle do anidro norte-americano no mercado, de forma a evitar que o produto nacional seja hidratado por agentes mal-intencionados, aproveitando a brecha dos até 1% de água, a assessoria respondeu: “A adição de água ou outros contaminantes a um etanol advindo da produção nacional dificilmente será viável, pois outras características, como a condutividade, por exemplo, poderão ser usadas como forma de identificar tais adulterações”. A assessoria não respondeu sobre a possibilidade de falsos positivos nos testes de percentual de anidro, embora alguns casos relatados em abril à Fecombustíveis já indiquem que problemas estejam ocorrendo nesse sentido. n
44 MERCADO
Retomando o fôlego ANP conclui processo de recadastramento de revendedores de GLP, mas dúvidas sobre efetividade da ação ainda persistem
SuperGasbras
Por Gisele de Oliveira Após oito anos, a ANP concluiu o processo de recadastramento de revendedores de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). O longo período decorrido reflete a complexidade do setor, que sempre conviveu com os revendedores ilegais no país. Este cenário foi, por muito tempo, a principal reclamação dos empresários do segmento, que, prejudicados pela venda informal, pediam fiscalização mais atuante da Agência e de outros entes de mercado. Além disso, o comércio clandestino colocava em risco a segurança da população, com recipientes armazenados inadequadamente e correndo o risco de explosão. O recadastramento tinha seu encerramento previsto inicialmente para dezembro do ano passado, porém a ANP prorrogou o prazo nos estados de Tocantins e Mato Grosso e no município de 24 • Combustíveis & Conveniência
Florianópolis (SC). Com isso, o processo só foi totalmente concluído em março deste ano. Agora, o mercado conta com mais de 41 mil empresas revendedoras autorizadas pela ANP. Antes, a estimativa era de que existiam 70 mil revendedores atuando no mercado, de acordo com dados fornecidos pelas distribuidoras, as quais tinham permissão de fazer o credenciamento dos revendedores. A falta de controle no setor de GLP contribuiu para o surgimento de pontos de venda irregulares. Em muitos casos, era possível encontrar botijões de GLP à venda em pequenos mercados de bairro, na calçada ou até mesmo por milícias em comunidades de baixa renda. Além disso, sem uma fiscalização atuante, havia suspeitas de formação de cartel neste setor. No ano passado, por exemplo, a Polícia Federal, em parceria com
a Secretaria de Direito Econômico (SDE) e o Ministério Público do Estado da Paraíba, realizou uma operação neste sentido, cumprindo 42 ordens judiciais não só no estado paraibano, mas também no Ceará, Bahia e São Paulo. A investigação teve por objetivo apurar a articulação de agentes econômicos responsáveis pela distribuição de gás de cozinha, envolvendo empresários e funcionários de distribuidoras e revendedores de GLP. “Finalmente, conseguimos visualizar o universo de revendedores existentes no país. Sem dúvida, isso é um passo muito importante para termos uma visão do perfil destes revendedores”, observa Álvaro Chagas, presidente da Fergás. Com o processo de recadastramento concluído, o cenário sombrio no setor começa a ficar para trás, já que, para ter registro, as empresas revendedoras, antes
somente credenciadas, tiveram que atender a alguns requisitos para conseguir a autorização da ANP, como preenchimento de ficha cadastral, comprovação de inscrição e situação cadastral no CNPJ, cópia autenticada do alvará de funcionamento, entre outras exigências. A cópia do alvará de funcionamento, aliás, foi uma das grandes dificuldades durante o processo de recadastramento. De acordo com Sérgio Bandeira de Mello, presidente do Sindigás, em alguns municípios – como Recife, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo – a dificuldade para obter alvarás e licenças dos Bombeiros quase inviabilizou a regularização do negócio.
Municípios sem revenda “Nos últimos anos, houve uma grande proliferação de pontos de venda irregulares, o que acabou sucateando parte da revenda formal. Sem dúvida alguma, o cadastramento foi um passo importante”, diz Bandeira de Mello, lembrando que ainda falta muito o que fazer no mercado. E falta mesmo. Segundo o presidente da Fergás, Álvaro Chagas, o recadastramento ajudou, mas não resolveu totalmente o problema. A grande questão agora é que, como foi um processo muito longo – iniciado em 2004 –, muitas empresas já podem ter saído do mercado, deixando “o cadastro inconsistente”, na avaliação do executivo. “E aí, como proceder nesses casos? O que fazer com aquelas empresas cadastradas que saíram e não informaram?”, argumenta Chagas. Para o presidente da Fergás, uma das soluções para
o problema é a edição de uma resolução dando poderes à ANP para, por meio de ofício, verificar a situação de atividade das prováveis empresas que já saíram do mercado. Álvaro Chagas levanta ainda outro problema: municípios que não possuem revendedores autorizados. Hoje, segundo ele, estima-se que cerca de 1,3 mil municípios estejam nesta situação, em função principalmente da baixa densidade demográfica destes locais, assim como dificuldades de estrutura dos órgãos competentes, como corpo de Bombeiros. Por outro lado, continua o executivo, há municípios com excesso de revendedores autorizados, o que também deixa a dúvida sobre a existência de concorrência desleal no mercado. Para Sergio Bandeira de Mello, do Sindigás, essa situação ainda é reflexo do cenário anterior, quando era aceitável esse tipo de prática pela sociedade em geral. “Ainda existe uma permissividade sobre a infor-
malidade pelas autoridades e uma banalização pela sociedade quanto aos riscos e inconvenientes da atividade irregular. No entanto, estamos caminhando com o intuito de resolver estes problemas”, diz. Por isso, enquanto o processo de recadastramento estava em curso, a ANP iniciou um programa para fiscalizar e combater o comércio clandestino de GLP. Ainda que em número pequeno, as operações já realizadas trazem resultados concretos, com autuações e fechamento de pontos de venda ilegais em alguns casos. Porém, ainda não há dados concretos sobre a efetividade do programa. A expectativa é que, no início deste mês, já seja possível conferir um levantamento dos efeitos dessas ações – que envolvem outras autoridades do poder público, como policiais, bombeiros e Ministérios Públicos, e também órgãos de defesa do consumidor – em algumas regiões do país. n
REVENDEDORES DE GLP AUTORIZADOS
Fonte ANP
Combustíveis & Conveniência • 25
44 MERCADO
Vencendo a desconfiança Maior concentração no setor de distribuição faz com que postos bandeira branca ganhem cada vez mais espaço no mercado. Confira alguns casos de sucesso Por Gisele de Oliveira Com o setor de distribuição cada vez mais concentrado – hoje quatro empresas respondem por 80% do mercado –, muitos revendedores começaram a reavaliar com maior cuidado as estratégias comerciais para manter seu negócio vivo. Quando a insatisfação cresce e o diálogo diminui, o caminho natural passa a ser deixar de ostentar uma importante marca e seguir adiante de forma independente, como bandeira branca. E apesar da desconfiança que ainda ronda
o consumidor em relação aos postos não vinculados, muitos revendedores têm tomado esta decisão, ou pelo menos pensado muito sobre a possibilidade. Para quem tem mais de um posto, muitas vezes a solução fica no meio do caminho: um estabelecimento segue embandeirado, enquanto outro se torna independente. Garantindo assim que, pelo menos, não será completamente refém de decisões com as quais não concorda. As causas da insatisfação são muitas: política de preços, contratos leoninos, falta de suporte por
Após 36 anos como embandeirado, dono do posto Dom Eduardo na Bahia optou pelo mercado independente, pois preço da antiga distribuidora não oferecia condições para competir na região
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parte de algumas companhias, entre outras. “O mercado como um todo está amadurecendo, com as companhias em fase final de concentração. Com isso, os revendedores estão enxergando uma nova oportunidade de relacionamento com as distribuidoras. Se ela [a relação] não for justa e honesta, o revendedor precisa procurar o seu caminho. E o posto bandeira branca é um deles”, observa Flavio Lara, um dos sócios da Redeflex, pequena rede com sete postos independentes em Minas Gerais.
Segundo ele, já existe um movimento crescente de postos bandeira branca no país, muitos se unindo para criar uma marca própria e, consequentemente, aumentar o poder de barganha. Ou seja, está havendo um fortalecimento da marca “bandeira branca” no país. E essa questão está atrelada justamente à necessidade de mostrar ao mercado que os postos bandeira branca têm credibilidade. Por isso, é importante definir estratégias e ações e ter uma estrutura física e de pessoal bem alinhadas para se manter no mercado. Sem isso, será difícil se sustentar. Foi pensando assim que a Rede Forza vem conquistando seu espaço no mercado. Atuando no Rio de Janeiro desde 1999, o grupo viu neste setor um espaço para a criação de uma rede com propostas diferenciadas para o consumidor. Ao todo, são 28
postos com a marca Forza espalhados pela capital e Grande Rio, todos com administração centralizada e padrão de operação, gestão e atendimento em todos os pontos de venda. Apesar de ser considerado um bandeira branca pela ANP, por não estar vinculado a nenhuma distribuidora, a Forza não concorda com essa classificação, já que possui uma identidade visual própria. “É uma discussão polêmica até sob a ótica do consumidor, mas não nos classificamos assim, apesar de não estarmos ligados a nenhuma distribuidora”, diz Alecionildo Pereira Sodré, diretor de Operações da Rede Forza.
Foco na qualidade Para chegar nesse estágio, a rede apostou no atendimento e gestão de qualidade da operação. Aliás, a confiabilidade do combustível fornecido pelos
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postos bandeira branca sempre esteve no foco da questão. Para não cair no discurso negativo do mercado, a Forza possui um programa de qualidade (Combustível Legal), que permite ao consumidor acompanhar os testes de recebimento do combustível junto com a equipe do posto. Desde 2001, quando começou o programa, já foram mais de 40 mil clientes participando do teste. Além disso, a rede oferece ao consumidor um programa de fidelidade, com cartão próprio, para troca de prêmios no posto ou no site da empresa. E não é só a preocupação com a qualidade do combustível que está nos planos de ações do grupo. O treinamento de equipe também é considerado item prioritário para manter a credibilidade no mercado. “Todos os nossos funcionários passam por um rigoroso processo de seleção antes de entrar na Forza. Após aprovados, participam de um treinamento interno e só depois estão aptos para receber o cliente na pista. Todo esse processo tem o objetivo de criar um selo de atendimento com o padrão Forza”, conta Sodré. Atrair a confiança do consumidor nem sempre é fácil. Se já é difícil quando se tem a bandeira de uma distribuidora, diante de tantos concorrentes, imagine atuar de maneira independente. Para Flavio Lara, da Redeflex, a decisão realmente não é fácil, mas o esforço inicial vale a pena. Principalmente, segundo ele, por não precisar aceitar as imposições das distribuidoras. No entanto, concorda que quebrar o vínculo criado no mercado é complicado. “É quase uma barreira psicológica. Decidir ter sua própria Combustíveis & Conveniência • 27
44 MERCADO marca num mercado dominado por gigantes multinacionais e assumir os riscos não é uma decisão fácil. Demora um pouco para se sustentar, mas o ganho na rentabilidade segura esta fase”, explica Lara.
Preço Embora seja uma decisão arriscada, quem escolhe por abrir um posto bandeira branca não se arrepende. Principalmente, quando se fala em preço. Luciano Machado, um dos sócios do posto Dom Eduardo, em
Ilhéus, na Bahia, é um deles. Há 36 anos como revendedor embandeirado, optou pelo mercado independente ao ver seu negócio perdendo espaço diante de tantos postos bandeira branca próximos ao seu. Segundo o empresário, o preço oferecido pela antiga distribuidora não permitia condições para competir na região. O resultado: quase perdeu seu negócio. Como os equipamentos e as bombas eram da companhia, Machado precisou adquirir tudo novo. E não foi só isso. Os
custos com a parte ambiental também entraram na planilha do empresário, que antes apenas ligava para a distribuidora lembrando-a da renovação ambiental. Mas ainda assim ele diz que sai mais barato atuando por conta própria. “Não me arrependo em nada. No início, alguns consumidores desconfiaram, mas depois perceberam que quem faz a qualidade é o dono do posto”, afirma Luciano Machado, que estima um incremento de 20% no volume de vendas este ano. n
Rede Forza, no Rio de Janeiro, aposta em testes de qualidade do combustível, programa de fidelidade e treinamento da equipe para conquistar o consumidor
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OPINIÃO 44 Roberto Nome doFregonese articulista44Vice-presidente Cargo do articulista da Fecombustíveis
Hora de agir etanol hidratado em O mercado de combustíveis chegou ao final de alta, controlam também abril em estado de polvorosa jamais visto, em meio o preço da gasolina. O a incertezas sobre os preços da gasolina e com o que não consigo entender etanol atingindo patamares recordes nas usinas. é o governo não tomar Se analisados os dados semanais da Cepea/Esalq nenhuma atitude, como desde junho, o anidro já subiu 205%. E o pior: está reduzir o percentual de lançada uma queda de braços entre o governo, a anidro na gasolina a níveis suportáveis, a exemPetrobras e os usineiros de cana-de-açúcar. plo dos 10% que vigoram nos Estados Unidos, O governo joga a culpa sobre as usinas forçando para que o controle possa de novo vir produtoras de álcool pelo aumento exagerado para as mãos do governo e assim tranquilizar o nos preços de seus produtos, principalmente no mercado de combustíveis e apaziguar a situação etanol anidro, o que tem provocado aumentos do consumidor. sucessivos na gasolina e reduzido a competitiEntendemos perfeitamente que os usineiros vidade do etanol hidratado. A Petrobras diz que são empresários privados - submetidos à lei da não tem como manter os preços da gasolina nos oferta e da procura na compra de insumos, na patamares atuais. A imprensa, perdida neste emacontratação da mão de ranhado de acusações, obra, que está cada vez ora culpa os usineiros, mais cara, e na oscilação ora o governo, ora os Já passou do momento do governo dos custos de produção postos de combustíveis intervir, sem precisar fazer com que se e que têm a prerrogativa para poder dar alguma prejudiquem produtores ou agentes de de produzir açúcar. O que informação ao consumimercado. Ferramentas existem: baixar não podemos permitir é dor, criando uma enorme o percentual de etanol na gasolina, que nenhuma corporação confusão no mercado, importar produto, usar a Cide como determine a situação de sem que haja dados acomodador de tensão e criar situações um mercado, porque isto claros, que possam favoráveis para que cenas como as que poderia ser facilmente traduzir a verdade, e estamos assistindo não se repitam chamado de cartel. cobrar de quem quer Já passou do momento que seja uma solução do governo intervir, sem inteligente. precisar com isso, prejudicar produtores ou O pior é que, como demonstra a elevação das agentes de mercado. Ferramentas existem: baitaxas de juros no mês passado, a escalada nos xar o percentual de etanol na gasolina, importar preços nos últimos meses deixou as autoridades produto, usar a Cide como acomodador de teneconômicas apreensivas e em estado de alerta, são e criar situações favoráveis para que cenas fazendo com o que o governo veja cada vez mais como as que estamos assistindo não se repitam. com péssimos olhos qualquer reajuste nos deriEstoques reguladores seriam muito bem-vindos, vados de petróleo. a tributação monofásica também. O erro da criSobram brigas, as acusações se alastram e a se atual do mercado de etanol está mostrando confusão em torno do mercado de álcool combustível que misturar aspectos de mercados diferentes está instalada. O mercado da cana-de-açúcar é muito em empresas privadas e tentar submetê-las a imperfeito e sua lógica foge dos padrões normais, decisões governamentais pode ser um grande tornando muito difícil o seu gerenciamento. Deu-se equívoco. É necessário que este nó seja desatado a prerrogativa aos usineiros de ficarem senhores do e resolvido para a tranquilidade do mercado e o mercado de combustíveis, como se pode observar alívio do consumidor. neste momento. Além de manterem o preço do
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44 NA PRÁTICA
Instrumentos de medição: por dentro da fiscalização Você conhece os procedimentos da fiscalização metrológica? Confira as orientações divulgadas pela cartilha “Ipem-SP Explica – Postos de Combustíveis”, lançada em março Por Rosemeire Guidoni
30 • Combustíveis & Conveniência
Equipes de fiscalização Divulgação/Ipem
A fiscalização dos instrumentos de medição e dos produtos pré-medidos comercializados pelo varejo em todo o país é uma das atribuições do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Esta fiscalização é feita por órgãos delegados pelo instituto em cada estado, os quais, em sua grande maioria, são conhecidos por Instituto de Pesos e Medidas (Ipem). Em São Paulo, o Ipem, depois de constatar um grande aumento no número de reclamações de consumidores relativas a bombas de abastecimento em postos de combustíveis (veja Box com entrevista do superintendente do órgão, Fabiano Marques de Paula), resolveu lançar uma cartilha, com o apoio da Fecombustíveis e dos sindicatos de revendedores que atuam no estado de São Paulo, orientando tanto os empresários do setor quanto os consumidores sobre a questão. A cartilha contém todo o passo a passo da fiscalização metrológica em postos de combustíveis e também em lojas de conveniência e, embora tenha sido uma iniciativa do órgão que atua em São Paulo, suas
recomendações valem para todos os estados. Confira a seguir as principais orientações divulgadas pelo Ipem-SP.
Durante a fiscalização, vários itens são verificados: os instrumentos de medição propriamente ditos (bombas de abastecimento e outros recipientes destinados à medição), produtos pré-medidos (embalagens de lubrificantes e itens da loja de conveniência) e produtos sujeitos à certificação obrigatória (isqueiros e extintores de incêndio, por exemplo). Cada uma destas atividades conta com fiscalização especializada, o que significa que o posto pode receber a visita de mais de uma equipe, dependendo do foco da verificação. A equipe de fiscalização deve apresentar suas credenciais e, em caso de dúvidas quanto à autenticidade dos documentos, o empresário deve entrar em
contato com o Ipem de seu estado.
Taxa O Ipem verifica os instrumentos de medição ao menos uma vez por ano e cobra uma taxa por isso, prevista em lei. Se o instrumento for reprovado na primeira verificação, fica sujeito a nova fiscalização e nova cobrança de taxa. A validade da verificação pode ser conferida no selo colocado pelo Ipem. Averiguações eventuais podem acontecer, por conta de denúncias de consumidores ou quando o equipamento passa por manutenção.
Autuação e defesa Empresas autuadas têm dez dias para apresentar defesa ao Ipem, que definirá uma multa entre R$ 100 a R$ 50 mil.
Inspeção geral O dispositivo separador e eliminador de gases, bem como o dispositivo de filtragem, deve estar desobstruído. O dispositivo medidor deve funcionar sem fugas ou vazamentos. O sistema de bloqueio não deve permitir novo fornecimento sem que
Bombas
Divulgação/Ipem
Medida de volume de 20 litros Todo posto deve dispor de um medidor de volume com capacidade para 20 litros, con-
forme especificado pelo Inmetro, aferido anualmente pelo Ipem. Este medidor pode ser utilizado a pedido de consumidores, para verificar a medição da bomba de abastecimento, ou em testes pelo posto, para conferir o correto funcionamento dos equipamentos. É muito importante que as aferições sejam feitas todos os dias para que seja descoberta a falha logo no início, evitando prejuízo ao dono do posto e ao consumidor. Em caso de erro na medição, devese interditar o equipamento e acionar a assistência técnica. Vale destacar que o Ipem recomenda que o teste seja feito com vazão máxima e que o responsável por sua realização certifique-se de que a bomba foi zerada antes do início do procedimento. A manutenção corretiva ou preventiva deve ser realizada apenas em oficinas autorizadas pelo Inmetro/ Ipem do seu estado.
GNV
Paulo Perreira
Durante a fiscalização, as equipes fazem a avaliação visual das bombas, checagem das marcas de verificação e do sistema de lacração. Além disso, são feitos testes para verificar se a quantidade de combustível registrada na bomba é a mesma recebida pelo tanque do veículo do consumidor. Para isso, é utilizado um medidor padrão de 20 litros, conforme modelo aprovado pelo Inmetro. O erro máximo tolerado é de 0,5% para mais ou para menos. Ou seja, em uma venda de 20 litros, a tolerância de erro é de 100 ml para mais ou para menos. Nesta tolerância estão compreendidos erros de medidor, mangueira e bico de descarga, simultaneamente.
Divulgação/ipem
o equipamento seja zerado. A mangueira (cujo comprimento máximo é de cinco metros) deve estar em perfeitas condições, sem desgastes ou deformações, e deve permanecer cheia de produto durante entregas sucessivas, sem apresentar vazamentos. O bico de descarga não pode apresentar vazamento superior a 40 ml quando acionado com a bomba desligada. Os selos e lacres são verificados.
Os dispensers de GNV também são verificados. Os elementos de proteção das indicações e o iluminador do dispositivo indi-
cador devem estar em perfeito funcionamento; o dispositivo indicador deve trazer informações de fácil leitura e quando o bico de abastecimento for colocado em posição de descanso, o medidor deve ser bloqueado para abastecimento. O erro máximo é de 1% para mais ou para menos.
Combustíveis Os caminhões-tanque também são alvo de fiscalização específica, já que contém medidas de volume. Ao receber o combustível, o revendedor (ou o funcionário responsável) deve conferir a integridade dos lacres nas bocas de inspeção e descarga do tanque. Com o caminhão nivelado, é importante conferir se o combustível atinge a seta, o que mostra que o tanque foi cheio até sua capacidade nominal. Os termômetros e densímetros utilizados para corrigir o volume de combustível (que varia em função da temperatura) devem ser também auferidos pelo Inmetro.
Equipamentos Embora não sejam de uso obrigatório, alguns equipamentos também podem ser conferidos pela fiscalização metrológica. É o caso de sistemas de automação ou gerenciamento eletrônico (softwares), que precisam ser aprovados pelo Inmetro, ou os densímetros de bombas medidoras de etanol (que também necessitam de aprovação do Inmetro e lacre específico).
Produtos pré-medidos Lubrificantes, aditivos, fluídos para freios e outros produtos embalados, inclusive os comercializados nas lojas de conveniência (bebidas, alimenCombustíveis & Conveniência • 31
tos, itens de higiene e limpeza, entre outros) também podem ser verificados pelo Inmetro. Neste caso, se houver diferença entre a quantidade de produto informada na embalagem e a de fato embalada, a responsabilidade cabe ao fabricante/importador/ envasador do item em questão. De qualquer forma, o posto deve fornecer os itens solicitados pela equipe de fiscalização, que podem ser retirados para avaliação em laboratório específico. O material levado para averiguação deve ser reposto pelo fornecedor do produto.
Itens que precisam de certificação Alguns produtos e equipamentos devem seguir normas rigorosas de fabricação, para preservar a segurança de quem os utiliza. Por isso, têm certificação obrigatória e são alvo de fiscalização também. São eles: extintores de incêndio, isqueiros, brinquedos, preservativos, fósforos, material elétrico, capacetes para motociclistas e pneus, entre outros. Todos estes produtos devem conter o selo do Inmetro, e o posto revendedor que os comercializa deve estar atento a estes detalhes. Caso a fiscalização encontre irregularidades nestes produtos, todos os envolvidos na fabricação e comercialização (inclusive o posto) podem ser responsabilizados.
4SAIBA MAIS Leia a cartilha completa: http://www.ipem.sp.gov.br/ pdf/CartilhaBombas.pdf 32 • Combustíveis & Conveniência
Divulgação/Ipem
44 NA PRÁTICA O superintendente Fabiano Marques de Paula é um dos responsáveis pela edição das cartilhas da série Ipem-SP Explica, que já contemplou o segmento têxtil e o de panificação. O mais recente lançamento foi a cartilha destinada aos postos de combustíveis, lançada na sede da Secretaria de Justiça, na capital paulista, em 24 de março.
O que motivou o Ipem a editar uma cartilha direcionada aos postos revendedores de combustíveis? As reclamações relacionadas a erros nas bombas estão no topo de nosso ranking. Em 2010, nossa Ouvidoria recebeu um total de 1.954 reclamações de consumidores. Destas, 578 denúncias se referiam a erros em bombas de combustível. Na comparação entre 2009 e 2010, houve um aumento de 5% das reclamações de consumidores. As reclamações se referiam à incompatibilidade entre o volume abastecido pelos consumidores e o marcado na bomba? Sim, este foi o principal problema relatado. Creio que a maioria das autuações nos postos ocorreu em função do desconhecimento da legislação, e não por má-fé. No entanto, todos os casos de irregularidade, seja intencional ou por desconhecimento, são passíveis de autuação. Em 2010, o Ipem-SP reprovou 5.516 bombas, com a autuação de 473 postos de combustíveis no estado. O senhor acredita que o lançamento da cartilha pode contribuir para minimizar as fraudes relacionadas a erros de volume neste segmento? Sem dúvida, pois esta cartilha, além de orientar empresários e funcionários sobre os procedimentos corretos previstos em lei, também é um instrumento importante de informação para o consumidor. A cartilha oferece informações ao cidadão, para que possa exigir os seus direitos, e aos empresários, que devem conhecer os regulamentos e normas para trabalhar dentro da legalidade. O consumidor atual está mais atento às irregularidades? O aumento do número de reclamações que chegam à nossa ouvidoria é prova disso. Hoje o consumidor é muito mais consciente e está atento aos seus direitos. Em 2010, 29,6% das reclamações de consumidores se referiam a bombas de combustíveis, seguidas por hidrômetros (25,1% das denúncias) e balanças (5,2%). Em 2011, em apenas três meses (janeiro a março), o Ipem-SP já recebeu 253 reclamações, das quais 56 (22,1%) se referem às bombas de abastecimento, que continuam no topo de nossa lista, mas agora seguidas por balanças (15%) e pão de sal (7,5%). n
NA PRÁTICA33
Desvendando a inflação Com economia aquecida e crédito fácil, tem sobrado demanda e faltado oferta. Resultado? Preços em alta e esforços redobrados do governo para conter a inflação. Mas você conhece os principais índices que são diariamente citados? Por Gabriela Serto
Stock
Até 1994, quando foi implantado o Plano Real, a inflação era considerada uma das maiores inimigas do bolso dos brasileiros. Quem tem mais de 20 anos ainda se lembra daquelas imagens na TV de funcionários remarcando os produtos com aquela maquininha de etiquetas de preços. Fazer compras nos supermercados era prioridade do mês, porque os mantimentos ficavam mais caros a cada dia. Apesar de não vivermos mais aquela realidade, a inflação ainda existe e, neste ano, tem se mostrado menos dócil do que se previa. Para contê-la, o governo vem buscando restringir o crédito e apertar os juros, entre outras medidas, sem grandes resultados até agora. E, por isso mesmo, o assunto não sai das manchetes dos noticiários nacional e local. “A inflação pode impactar na hora de um reajuste de aluguel de uma loja de conveniência ou mesmo dos centros comerciais que existem dentro das áreas do posto de combustíveis, pois os contratos são reajustados pelo IGP-M”, destaca o economista da WinTrade, Jose Goes. “Ela aumenta os custos de todos os estabelecimentos, pois, assim como os aluguéis sobem, o mesmo acontece com energia e telefonia. São fatores que acompanham”, ressalta. Ficou confuso? A Combustíveis & Conveniência explica melhor como funciona o sistema de inflação no Brasil.
FGV e o IGP A Fundação Getúlio Vargas (FGV) iniciou em 1947 a medição dos Índices Gerais de Preços (IGP). Com abrangência nacional, eles refletem variações nos custos de matérias-primas agropecuárias e industriais, de produtos intermediários e de bens e serviços finais e são apresentados em três versões, de acordo com o período de coleta das informações para seu cálculo: Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), do dia 11 do mês anterior ao dia 10 do mês de referência; Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), do dia 21 do mês anterior ao 20 do mês de referência; e Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), coletado entre o primeiro e o último dia do mês de referência. Com o objetivo de ser utilizado como um medidor mensal do nível de atividade econômica, o IGP é uma média aritmética formada por outros três índices: Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), valor adicionado pela produção, transportes e comercialização de bens de consumo e de produção nas transações comerciais a grosso; Índice de Preços ao Consumidor (IPC), valor adicionado pelo setor varejista e pelos serviços de consumo; e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), valor adicionado pela indústria da construção civil; que equivalem respectivamente a 60%, 30% e 10% do cálculo geral. Além de ser um indicador macroeconômico que representa a evolução do nível de preços, o IGP também é usado como referência para a correção de preços e valores contratuais. O IGP-DI é o indexador das dívidas dos estados com a União e o IGP-M corrige, juntamente com outros parâmetros, contratos de fornecimento de energia elétrica. Combustíveis & Conveniência • 33
44 NA PRÁTICA
IPCA e INPC Tanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) quanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) são calculados mensalmente pelo Sistema Nacional de Preços ao Consumidor (SNIPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Goiânia (a partir de janeiro de 1991). Produzido pelo IBGE desde março de 1979 para ser o medidor de correção do poder de compra dos salários, o INPC foi utilizado também para reajuste salarial e correção de aluguéis residenciais até novembro de 1985. Já o IPCA começou a ser produzido pelo IBGE em dezembro de 1979, como medida de inflação da economia. Foi utilizado como indexador oficial do país, corrigindo salários, aluguéis, taxa de câmbio, poupança, além de todos os demais ativos monetários a partir de novembro de 1985, mas, em março do ano seguinte, deixou de ser o indexador
oficial. As atenções sempre estão voltadas para este índice, pois é o utilizado pelo Banco Central para acompanhar as metas de inflação e, assim, balizar a política monetária. Quando o IPCA dá sinais de alta, pode ter certeza de que uma alta de juros está a caminho. Na prática, funciona como o índice oficial de inflação do país. A principal diferença entre os dois indicadores está na base de coleta de dados. O INPC abrange famílias com rendimentos entre um e seis salários mínimos, cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal e reside nas áreas urbanas pesquisadas; enquanto as famílias com ganhos mensais compreendidos entre um e 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas pesquisadas são o alvo do IPCA. De acordo com o IBGE, ambos indicadores são formados com base na coleta realizada em estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e domicílios (para levantamento de aluguel e condomínio).
IPC da Fipe Considerado o mais tradicional indicador da evolução dos custos da vida das famílias paulistanas, o índice de Preços ao Consumidor do Município de São Paulo (IPC) é calculado desde 1939, primeiramente pela Divisão de Estatística e Documentação da Prefeitura do Município de São Paulo, que, em 1968 passou a atribuição para o Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, o qual em 1973 criou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O IPC da Fipe calcula as variações do índice para a faixa de renda familiar entre um e 20 salários mínimos. O sistema abrange um período de oito semanas e as variações são obtidas fazendo-se a divisão dos preços médios das quatro semanas de referência pelos preços médios das quatro semanas do período anterior. É utilizado como indexador informal para contratos da prefeitura de São Paulo. Stock
34 • Combustíveis & Conveniência
Rodney Melhados, economista da Planner Corretora A inflação terá impacto forte no reajuste de alugueis comerciais? Durante muito tempo, praticamente todos os contratos de aluguel eram firmados utilizando o Índice Geral de Preços – IGP-M (FGV) como padrão para reajuste anual. No entanto, o IGP-M é um índice que sofre muita influência das variações dos preços ao produtor que, por sua vez, variam muito com a taxa de câmbio. Devido à elevada volatilidade do IGP-M, este índice se mostrou inapropriado para corrigir contratos de aluguel e está sendo substituído por outros indicadores gradualmente. Mesmo com a substituição do índice, as perspectivas são de inflação ainda elevada durante 2011 e 2012, que será impactada pela alta dos preços das commodities no mercado internacional e pela economia interna ainda aquecida. A inflação influencia as contas de luz e outros serviços? Sim, pois os contratos possuem cláusulas de reajuste automático de preços, de acordo com determinado índice de inflação. Diversos outros
serviços também sofrem reajustes de acordo com a inflação, tais como telecomunicações, mensalidades escolares, transportes, entre outros. Na hora de investir, como se precaver da inflação? E como ter ganhos maiores utilizando os índices de inflação? Existem diversos instrumentos financeiros para investidores que querem se proteger da inflação. No mercado de renda fixa, há títulos públicos e privados que remuneram com uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação (ex.: 6% + IPCA). No mercado de renda variável, ações de empresas que operam em setores de serviços como telecomunicações e energia elétrica são boas proteções contra a inflação, embora ainda sejam títulos de risco mais alto do que os de renda fixa. Para ter ganhos maiores, é necessário uma avaliação mais prospectiva da inflação e do seu impacto, principalmente no mercado de ações, onde empresas dos setores citados podem ter um desempenho melhor do que a inflação e do que as demais companhias em cenário de aceleração da inflação. n
HISTÓRICO DAS ALTERAÇÕES DA MOEDA NACIONAL Moeda Vigente
Símbolo
Período de Vigência
Fundamento Legal
Equivalência
.
Real
R
Período Colonial até 07.10.1833
Alvará s/n de 01.09.1808
R R$2000 = 1/8 de ouro 22K
.
1 000 reais
Rs
08.10.1833 a 31.10.1942
Lei nº 55 de 08.10.1833
Rs 2$500 = 1/8 de ouro g 22K
.
Cruzeiro
Cr$
01.11.1942 a 30.11.1964
Decreto-Lei nº 4.791 de 05.10.1942
Cr$1,00 = Rs1$000 (um cruzeiro corresponde a mil-reis)
.
Cruzeiro (eliminados os centavos)
Cr$
01.12.1964 a 12.02.1967
Lei nº 4541 de 01.12.1964
Cr$1 = Cr$ 1,00
.
Cruzeiro Novo (volta dos centavos)
NCr$
10.02.1967 a 14.06.1970
Decreto Lei nº 1 de 13.11.1969
.
Cruzeiro
Cr$
15.06.1970 a 14.08.1984
Resolução nº 144 de 31.03.1970 do Banco Central
Cr$ 1,00 = Ncr$ 1,00
.
Cruzeiro (eliminados os centavos)
Cr$
15.08.1984 a 27.02.1986
Lei nº 7264 de 15.08.1984
Cr$ 1 = Cr$ 1,00
Cruzado I - fevereiro/1986 Cruzado II - junho/1987
Cruzado
Cr$
28.02.1986 a 15.01.1989
Decreto Lei nº 2.283 de 27.02.1986
Cr$ 1,00 = Cr$ 1.000
Verão I - janeiro/1989 Verão II - maio/1989
Cruzado Novo
NCr$
06.01.1989 a 15.03.1990
Medida Provisória nº 32 de 15.01.1989 convertida na Lei nº 7.730 de 31.01.1989
NCr$ 1,00 = Cr$ 1.000,00
Color I - março/1990 Color II - janeiro/1991
Cruzeiro
Cr$
16.03.1990 a 31.07.1993
Medida Provisória nº 198 de 15.03.1989 convertida na Lei nº 8.024 de 12.04.1990
CR$ 1,00 = NCr$ 1,00
Transição para o real em agosto/1993
Cruzeiro Real
CR$
01.08.1993 a 30.06.1994
Medida Provisória nº 336 de 28.07.1993 convertida na Lei nº 8.697 de 27.08.1993 e Resolução nº 2010 de 28.07.1993 do Banco Central
CR$ 1,00 = Cr$ 1.000,00
Real - julho/1994
Real
R$
Desde 01.07.1994
Lei nº 8.880 de 27.05.1994 e nº 9.068 de 29.06.1995
R$ 1,00 = CR$ 2.750,00
Plano Economico
Ncr$ 1,00 = Cr$ 1.000
Fonte: Banco Central do Brasil * Informações Objetivas - IOB
Combustíveis & Conveniência • 35
44 REPORTAGEM DE CAPA
Combustíveis & Conveniência,
uma história contada em 94 edições Entrando em seu décimo ano no mercado, a revista Combustíveis & Conveniência está também na contagem regressiva para a centésima edição. Nestes dez anos acompanhando o setor, a publicação passou por grandes transformações, evoluindo junto com a revenda de combustíveis. E daqui até maio de 2012, uma matéria por mês contará um pouco dessa história
36 • Combustíveis & Conveniência
Por Rosemeire Guidoni Em meados da década de 90, o mercado de combustíveis no Brasil começou a vivenciar um período de grandes transformações. O setor, que até então sofria com a excessiva intervenção governamental, começou a dar seus primeiros passos em direção a um mercado livre. Foram autorizados os postos sem vínculo às distribuidoras, os chamados bandeira branca, e o processo para abertura de novas distribuidoras de combustíveis foi facilitado. Em pouco tempo, o setor, que contava com dez empresas de distribuição, passou a contabilizar mais de 250. Os preços livres geraram maior concorrência, e também um grande volume de distorções no setor. Nesta época, o antigo Departamento Nacional de Combustíveis (DNC), órgão vinculado ao Ministério de Infraestrutura, deu lugar à ANP, ligada ao Ministério de Minas e Energia. A mudança foi determinada pela Lei nº 9.478, de 06 de agosto 1997, que entre outras coisas estabelecia um período de transição para a desregulamentação completa do mercado, que deveria durar no máximo 36 meses. Esse prazo, porém, foi prorrogado pela Lei 9.990, de 21 de julho de 2000, até 31 de dezembro de 2001. Ou seja, o final do processo de desregulamentação do mercado de combustíveis no Brasil aconteceu de fato a partir de 1º de janeiro de 2002, data em que a política de preços livres passou a valer para as refinarias também. Para o revendedor, esta época significou um período de grandes mudanças. Enquanto os preços eram controlados pelo governo, poucas decisões cabiam
“A revista deveria ser a bíblia do revendedor, pois por meio dela os empresários têm informações diversas sobre seu segmento e podem comparar o desempenho de seu negócio com o de outros estabelecimentos, em outros locais do país ou até do exterior”, disse a vicepresidente da Abieps, Hérica Gonçalves ao empresário de combustíveis em relação a seu negócio. A partir da liberação, tudo mudou: o revendedor teve de aprender a administrar seus próprios preços, a lidar com a concorrência e com os problemas de mercado que começaram a surgir, como adulteração de combustíveis, competição predatória e fraudes diversas. E foi justamente neste cenário que a revista Combustíveis & Conveniência – que no início se chamava Fecombustíveis – foi gestada. Logo após o fim do processo de desregulamentação do mercado, a Federação achou que o momento pedia um canal direto de comunicação, tanto com o revendedor, que precisava de orientações para seu negócio, quanto com os demais agentes de mercado. A ideia era ter um veículo de comunicação com abrangência nacional, que levasse a voz do revendedor a todos os
elementos do mercado, além de contribuir para o esclarecimento da categoria quanto às decisões do governo, novas regras e novas políticas. “Na ocasião, já existiam revistas regionais, editadas pelos sindicatos de revendedores, mas que não tratavam com a profundidade necessária as questões federais. O próprio Conselho da Fecombustíveis, durante as reuniões, discutiu o tema e sentiu esta
Edição número 0, ainda com o nome Fecombustíveis Combustíveis & Conveniência • 37
44 REPORTAGEM DE CAPA Logo após o fim do processo de desregulamentação do mercado, a Federação achou que o momento pedia um canal direto de comunicação, tanto com o revendedor, que precisava de orientações para seu negócio, quanto com os demais agentes de mercado. A ideia era ter um veículo com abrangência nacional, que levasse a voz do revendedor a todos os elementos do mercado necessidade”, contou Aldo Guarda, que na ocasião era vicepresidente da Fecombustíveis e quem encampou a tarefa de editar o primeiro número (veja Box na página 42).
Partindo do zero Aos poucos, o ambicioso projeto da Fecombustíveis se concretizou. Em maio de 2002, a edição de número zero (ano 1) da então revista Fecombustíveis começou a circular. De início, a publicação foi planejada com periodicidade bimestral e os assuntos eram focados basicamente na orientação do revendedor quanto à gestão de seu negócio e nas ações dos sindicatos que representavam a categoria. A aceitação do mercado foi um grande motivador para o crescimento da revista, tanto em número de páginas, quanto em conteúdo. Em sua terceira edição, a publicação passou a contar 38 • Combustíveis & Conveniência
com o apoio e orientação de um Conselho Editorial, formado por um grupo de experientes revendedores paulistas, conhecedores do mercado de combustíveis (veja Box na página 41). Na época, a revista era totalmente produzida em São Paulo, da reunião de pauta à impressão. O Conselho, sempre presente, trazia assuntos do dia a dia do revendedor para que a equipe editorial elaborasse o conteúdo. Com o passar das edições, temas como meio ambiente, conveniência e treinamento começaram a ganhar maior espaço. Além disso, com o intuito de mostrar ao mercado que se tratava de uma publicação voltada ao setor, e não um veículo corporativo, a revista mudou de nome, em sua quarta edição, passando a chamar-se Combustíveis. “Não se trata de uma simples mudança de nome, é uma mudança de conceito”, informou a publicação, em um texto assinado pelo Conselho Editorial. “Este veículo extrapola os limites da nomenclatura anterior, libertando-a de vínculos corporativos que a ela poderiam ser associados. O novo nome sintoniza-se com o conceito de uma revista de larga abrangência, do mercado e da indústria de petróleo, ampliando o campo de atuação e representação, rompendo limites geográficos”, dizia o editorial. Mudanças de nome ainda aconteceram por duas outras vezes na história da revista. Em setembro de 2003 (edição 9), a publicação assumiu o nome Posto de Combustíveis & Conveniência,, com a intenção de retratar que, embora voltada à cobertura de eventos de todo o mercado de combustíveis, o seu
foco principal continuava a ser o empresário da revenda, cujo interesse principal era seu posto e sua loja de conveniência. Simplificando este título, a partir da edição 60 (abril de 2008), a revista assumiu o atual nome, Combustíveis & Conveniência. Não que o posto não continuasse sendo o público-alvo principal da publicação, mas porque cada vez mais a revista passou a abranger outros segmentos, como o de revendedores de gás liquefeito de petróleo (GLP).
Mudanças em vários níveis Além de nomes diferentes, a revista enfrentou outros ajustes durante o início de sua atuação no mercado. Após um ano com edições bimestrais, a primeira grande transformação foi a periodicidade mensal. Isso trouxe mais dinamismo e maior atualidade às Mudança de nome para “Combustíveis” buscava mostrar que se tratava de uma publicação voltada ao setor, não um veículo corporativo
notícias, e quem saiu ganhando foi o leitor. Para marcar a mudança e o primeiro ano de vida, um novo projeto gráfico foi apresentado. E foi a edição de número 6, de abril de 2003, que apresentou ao mercado também mais uma novidade, a primeira edição da Expopostos & Conveniência, maior evento do setor, com abrangência nacional. A feira e o congresso – realizados pela Fecombustíveis em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) e a Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos para Postos de Combustíveis (Abieps) – sempre tiveram na revista o seu principal instrumento de divulgação, já que o público-alvo do evento é o revendedor. A partir desta primeira edição mensal, a Fecombustíveis tomou uma decisão que alterou os rumos da revista: todo o comando e produção da publicação foi centralizado na sede da entidade, no Rio de Janeiro, embora parte da equipe e o Conselho Editorial permanecessem em São Paulo. A decisão, determinada pelo então presidente da Fecombustíveis, Luis Gil Siuffo Pereira, tinha a intenção de permitir à entidade maior participação e controle de todas as etapas do processo de produção. Siuffo tinha um sonho, produzir a melhor revista informativa do mercado de combustíveis. Para ele, não bastava mais falar somente da revenda e das atividades relacionadas aos postos de combustíveis. O leitor da revista queria mais, precisava ter acesso a tudo o que acontecia no mercado. E foi assim que a revista mais uma vez ampliou seu foco, passando a contemplar em suas reportagens os mais diversos assuntos, sempre relacionados a combustíveis. Ao
A edição especial, de abril de 2003, apresentou ao mercado a primeira edição da Expopostos & Conveniência, maior evento do setor
mesmo tempo em que denunciava as fraudes dos elementos irregulares do mercado, a revista mostrava a chegada dos novos combustíveis, as tecnologias para preservar o meio ambiente, os estudos para redução do nível de emissões, que incluíam desdecombustíveismenos poluentes até as mais recentes tecnologias veiculares, as novidades e tendências para o mercado de conveniência. Em linha com o posicionamento da Fecombustíveis, um dos grandes diferenciais da revista foi o fato de não ter medo de denunciar irregularidades quando necessário, não ter receio de ir contra decisões do governo e sempre contribuir para mostrar a todo o mercado que o revendedor era muito mais do que um operador de postos de combustíveis, era um empresário. “O fato de a revenda ser reconhecida como categoria empresarial distinta deve-se ao trabalho da Fecombustíveis, inclusive com a revista”, disse Aldo Guarda.
Credibilidade Algumas reportagens realmente fizeram a diferença para o mercado. Foi o caso, por exemplo, das edições com denúncias sobre a máfia dos combustíveis. “Todo este material foi utilizado para esclarecimento das autoridades durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos combustíveis, em 2003”, disse Paulo Miranda Soares, atual presidente da Fecombustíveis. “Na ocasião, levamos a revista para apresentar as denúncias
para os juízes envolvidos no processo e para o Ministério Público”, contou. Para ele, a revista sempre esteve pautando as dificuldades do setor, apontando as irregularidades e mostrando a importância de manter a ética nos negócios. “Por conta disso conseguimos produzir uma revista séria, que conquistou o respeito do revendedor pela credibilidade das matérias e pela qualidade na abordagem dos temas”, frisou ele. Na opinião de Antônio Gregório Goidanich, que presidia o sindicato do Rio Grande do Sul quando a revista foi criada, e que atua como colaborador em todas as edições, redigindo a Crônica e as notícias internacionais (seção Pelo Mundo), a publicação teve papel fundamental para preservar o setor no decorrer dos movimentos voltados para a abertura do mercado. “Foi importante para manter o revendedor alerta e preparado, e permitiu evitar mais problemas na transição. A revista acompanhou as exigências dos momentos históricos sucessivos”, apontou. Combustíveis & Conveniência • 39
44 REPORTAGEM DE CAPA Além da relevância de falar para o próprio setor, a revista da Federação também se destacou por ter se transformado na voz do revendedor, facilitando a compreensão de seus problemas e questionamentos por parte dos demais agentes do mercado. “Durante o período em que exerci o cargo de superintendente de abastecimento da ANP, a revista foi um instrumento de informação primordial”, disse Roberto Ardenghy, que ingressou na ANP no mesmo ano de criação da revista, em 2002. Hoje, Ardenghy exerce o cargo de diretor da empresa BG Group, mas ainda é leitor assíduo da publicação. Segundo ele, as informações sobre o mercado de revenda de combustíveis e os pontos de vista da revenda são essenciais para a compreensão do mercado de combustíveis como um todo. “Um dos pontos altos da revista foi o fato de não se esquivar da publicação de algumas informações e denúncias sobre os agentes irregulares do próprio mercado. Quando cheguei à ANP, os índices de não-conformidade dos combustíveis
atingiam 10%, mas com o trabalho de moralização do mercado, que teve total apoio da Fecombustíveis e sua revista, estes índices caíram a patamares aceitos internacionalmente”, ressaltou.
Conteúdo em sintonia com o setor Enquanto nas primeiras edições as pautas se voltavam às denúncias de irregularidades e orientações sobre como gerir melhor seu negócio sem a intervenção do governo – a primeira matéria de capa, da edição zero, procurava mostrar ao revendedor que não valia a pena entrar na guerra de preços para vencer a concorrência, por exemplo, e os artigos do então vice-presidente Aldo Guarda ensinavam o revendedor a ter a exata noção do valor de seu negócio –, hoje as matérias são bem mais diversificadas. Desde a edição 61, a revista criou a seção Na Prática, que mostra de forma didática como lidar com várias questões do dia a dia do posto. Nela, os assuntos abordados são os mais distintos, desde aspectos que devem ser observados durante a fiscalização no posto, até formas de implantar sistemas de sustentabilidade. Aliás, embora o tema sustentabilidade remeta a um certo modismo, para a Combustíveis & Conveniência isso não é coisa nova. Desde 2007, a revista já publicou diversas reportagens, mostrando Publicação assume o nome Posto de Combustíveis & Conveniência, mostrando que, embora voltada à cobertura de todo o mercado de combustíveis, seu foco principal continuava a ser o empresário da revenda
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ao revendedor como promover mudanças em seu posto e loja para economizar água e energia, como envolver a comunidade em projetos sociais, como incorporar em sua rotina práticas ambiental e socialmente responsáveis e, com isso, ter lucro em seu negócio. Neste foco de sustentabilidade, a revista também se antecipou à edição da atual Política Nacional de Resíduos Sólidos, mostrando aos empresários do segmento a importância de promover a coleta de resíduos, fazer sua destinação adequada, adotar práticas e procedimentos para preservar o meio ambiente e o entorno do posto. Quanta evolução desde a primeira reportagem sobre meio ambiente, publicada na edição número 2, de agosto/setembro de 2002! Nesta primeira pauta sobre meio ambiente, a revista alertava a categoria da revenda para a necessidade de preservação ambiental e a importância de adequar as instalações dos postos à Resolução 273 do Conama. Poucos órgãos ambientais já tinham iniciado seus processos de licenciamento, e a revista discutia o rigor da norma versus sua necessidade, orientando a revenda a começar a fazer um fundo de reserva para as adequações que seriam necessárias no futuro. As discussões passavam pela propriedade dos equipamentos, pela responsabilidade compartilhada no caso de eventuais contaminações e pelos prazos para remediação e adequação dos postos. Hoje, embora ainda exista uma grande parcela de postos operando de forma irregular, sem as necessárias adequações para proteção ambiental, é certo que a consciência da revenda é maior. E a revista tem sua parcela de contribuição nisso, ao abordar estas questões mensalmente, em
Arquivo Combustíveis & Conveniência
Arquivo Combustíveis & Conveniência
uma seção fixa. “A informação é essencial para que o empresário passe a ver a necessidade de proteção ambiental como um investimento para seu negócio, e não como despesa”, disse a vice-presidente da Abieps, Hérica Gonçalves. “O público leitor muitas vezes é carente de informação. A linguagem das legislações é complexa, e transformar isso em um conteúdo didático faz toda a diferença”, completou Hérica, que já atuou como revendedora de combustíveis e hoje é executiva da Mahle Filtroil Brasil. “A revista deveria ser a bíblia do revendedor, pois por meio dela os empresários têm informações diversas sobre seu segmento e podem comparar o desempenho de seu negócio com o de outros estabelecimentos, em outros locais do país ou até do exterior”, completou.
Aldo Guarda: “O fato de a revenda ser reconhecida como categoria empresarial distinta deve-se ao trabalho da Fecombustíveis, inclusive com a revista”
Roberto Ardenghy: “Durante o período em que exerci o cargo de superintendente de Abastecimento da ANP, a revista foi um instrumento de informação primordial”
Para Roberto Fregonese, vicepresidente da Fecombustíveis, a publicação é um veículo indispensável para quem trabalha no setor. “Além de trazer informações atuais sobre o mercado, a revista é a memória do revendedor. Folheando as edições antigas, podemos conferir tudo o que
aconteceu no mercado, e como o setor evoluiu. Se a Fecombustíveis não tivesse este instrumento, dificilmente teria alcançado tudo o que conquistou no setor nestes anos todos. A revista hoje pode ser considerada a voz do varejo”, afirmou.
A “bússola” da revista Dentro de todo o trabalho de elaboração da revista, quem sempre deu o norte das matérias e mostrou o caminho a ser seguido foi o Conselho Editorial. Formado desde a terceira edição da publicação, o grupo de conselheiros se manteve coeso e unido ao longo destes dez anos, sempre direcionando o trabalho da equipe de jornalistas. “Foram horas e horas de reuniões, discussões e debates mensais, tentando ler o mercado e nossos problemas como revendedores de combustíveis. O objetivo sempre foi orientar, alertar e informar os nossos colegas sobre as novidades e as mudanças que ocorrem no nosso dia a dia. Nestes dez anos, muita coisa aconteceu, o que faz dos revendedores verdadeiros ‘heróis’, já que lutam e se debatem com tantos problemas”, disseram os conselheiros. Como órgão de comunicação essencial da categoria, a revista tem de estar em sintonia com o setor e, por isso, a importância da participação de empresários que, melhor do que ninguém, conhecem o mercado. Os conselheiros sofrem com as questões do mercado, com a fiscalização e com punições por
vezes injustas. “Não falamos teoricamente, conhecemos o setor na prática”, afirmam. “E dentro da nossa experiência, comemoramos menos do que gostaríamos, mas mantivemos nosso compromisso de estarmos sempre presentes”. O Conselho Editorial, ao contrário da revista, passou por poucas transformações. Hoje, o grupo é formado pelos empresários José Alberto Miranda Cravo Roxo, José Luis Vieira, Luiz Gino Henrique Brotto, Marciano Francisco Franco e Ricardo Hashimoto. A mudança mais infeliz dentro deste grupo foi a perda trágica de um dos membros, o revendedor Flávio Toledo da Silva, brutalmente assassinado durante um assalto a seu posto revendedor, em 2007. Fica aqui mais uma vez a homenagem e o respeito de toda a equipe da revista Combustíveis & Conveniência ao colega de trabalho e revendedor paulista, que perdeu a vida no exercício de sua profissão, em decorrência da violência. O Conselho Editorial lembra ainda a importância de todos os colaboradores, funcionários e prestadores de serviços que já passaram pela publicação. “A revista sempre buscou e encontrou no mercado profissionais competentes e que são também responsáveis pela qualidade alcançada”, diz o Conselho. Combustíveis & Conveniência • 41
44 REPORTAGEM DE CAPA Sempre de olho no que acontece no mercado, a Combustíveis & Conveniência tem acompanhado e participado de eventos, grupos de discussão e debates sobre todas as mudanças que ocorrem no setor. Foi assim com o retorno do crescimento do mercado de etanol, depois da criação dos veículos flex; com a chegada do biodiesel e os problemas que o aumento da mistura vem trazendo ao setor; e agora, mais recentemente, com os debates para a chegada do diesel
com menor teor de enxofre e do Arla-32. “A Fecombustíveis tem um importante papel na defesa dos interesses do revendedor, e as informações sobre o setor, publicadas pela revista, são essenciais para o mercado”, afirmou o presidente do Sindicom, Alísio Vaz. O Sindicom, que nas primeiras edições da revista esteve presente, inclusive com espaço para um artigo assinado, é uma entidade que mantém boas relações com a Fecombustíveis. No entanto, apesar da proximidade,
Livro de cabeceira Aldo Guarda era vice-presidente da Fecombustíveis em 2002, época em que a revista foi criada, e a ele coube a responsabilidade pela elaboração do projeto inicial, que deu origem ao que hoje é a principal revista do segmento, única com abrangência nacional. Por que a Fecombustíveis sentiu a necessidade de editar uma revista direcionada ao setor de combustíveis? Na época, o mercado vivia um momento de transformações. O processo de desregulamentação do setor tinha acabado de acontecer, e o mercado estava passando de um regime de preços controlados pelo governo para preços livres. O revendedor, que estava acostumado a um mercado engessado, teve de aprender a lidar com seu negócio e a concorrência nesta nova realidade. A Fecombustíveis avaliou que a melhor forma de garantir a informação dos empresários do setor seria editando uma publicação nacional, que retratasse com profundidade todas as questões que ocorriam no momento. A existência de uma publicação capaz de dar voz ao setor foi importante para orientar e esclarecer todo o mercado naquele momento de transição. Como foi sua experiência no comando das primeiras edições desta publicação? Procuramos profissionais com experiência e conhecimento do mercado de combustíveis para elaborar as primeiras edições. Conteúdo era o que 42 • Combustíveis & Conveniência
a revista nunca se esquivou de debater questões polêmicas com o segmento de distribuição, como a dos pontos de abastecimento (PAs), as iniciativas das bandeiras para verticalização do mercado ou a divisão de responsabilidades ambientais. E é isso, esta independência e seriedade, que faz com que a revista seja respeitada e lida por todos os agentes do mercado. Parabéns, Combustíveis & Conveniência, pelos seus dez anos.
não faltava no momento, já que a Fecombustíveis participou de forma ativa de todo o processo de desregulamentação do mercado. E com o passar do tempo, a revista começou a caminhar sozinha, seguindo seu curso natural, mas sempre pautada na ética e na seriedade. No princípio, a revista tinha um formato mais voltado às questões sindicais, mas, com o passar dos anos, começaram a ser abordados outros assuntos, como gestão, administração do negócio, recursos humanos, marketing, entre outros. Como o senhor avalia esta mudança? A Fecombustíveis teve um papel importante na defesa da revenda como categoria empresarial. Nunca houve receio de afrontar governos, ou mesmo de rebater ações das companhias distribuidoras, na defesa dos interesses do revendedor. Mas, feito este papel, a revista evoluiu e passou a se preocupar com a formação do empresário do futuro. Hoje o revendedor faz seus preços, já sabe dos seus custos, está melhor preparado para lidar com as questões de seu negócio. O empresário atual precisa ser esclarecido quanto às novas regras fiscais, o uso de automação, a importância de investir no marketing de seu negócio. A revista evoluiu com o revendedor, que hoje tem maior consciência e formação intelectual. A revista tem o dever de continuar atenta às mudanças de mercado, traçando horizontes e informando o leitor sobre tudo o que acontece no setor.
Revista representa os interesses da revenda Por Luiz Gil Siuffo Pereira Uma revista que representasse os anseios dos revendedores sempre foi uma ambição nossa. Em 1974, quando eu ainda era diretor da Federação Nacional de Combustíveis, fundamos a primeira revista, que seria o primeiro veículo de divulgação do nosso setor, chamada Revista do Revendedor. Posteriormente, o editor dessa revista transferiu sua publicação para um terceiro. Este, além de mudar o nome da revista, a partir de um determinado momento passou a desvirtuar sua finalidade. Estes fatos nos levaram a cancelar sua publicação como órgão representativo da Federação Nacional de Combustíveis. Já como presidente da Fecombustíveis, publicamos em Abril/Maio de 2002 a revista nº 0, então
chamada Fecombustíveis. Revista oficial do nosso setor, que surgiu para atender a aspiração de toda a classe, que era ter um veículo de mídia independente, que levasse aos nossos companheiros revendedores todas as informações necessárias para o exercício da atividade. Na época da sua fundação, foi muito importante a colaboração de alguns companheiros, em particular nosso companheiro Aldo Guarda, responsável pela edição dos primeiros números. A revista tem se destacado, sempre, na defesa do nosso setor. E orgulha-me, hoje, ver a Combustíveis & Conveniência dirigida por novos companheiros, tendo a frente o companheiro Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis. Desejo que a revista continue assim: jamais transigindo naquilo que diz respeito aos interesses da revenda de combustíveis! n
Combustíveis & Conveniência • 43
OPINIÃO 44 Deborah dos Anjos 4 Advogada da Fecombustíveis
Cara a cara com a reincidência tal sanção anteriormente, Em recente notícia comentada por todos e esta será aplicada pelo vivenciada por alguns, tomamos conhecimento de prazo de 30 (trinta) dias. que a ANP, cumprindo seu papel, mesmo que tarNo caso de já ter sido dio, conseguiu concluir o julgamento dos processos aplicada a suspensão administrativos que por lá pairavam há anos, ou temporária de 30 (trinseja, os postos vão começar a receber suas conta) dias, a pena cabível será o cancelamento de denações e, em alguns casos, além de multados, registro do posto. vão se tornar reincidentes em ato contínuo. Ademais, a Lei ainda prevê, além dos casos de Fato é que, além de julgar os processos em suspensão temporária e cancelamento de registro conjunto, a Agência está atualizando seu banco de já citados, situações de revogação de autorização dados no que diz respeito aos registros de infrapara o exercício de atividade de posto revendedor, ções cometidas pelos revendedores, verificando, casos esses elencados no art. 10°. inclusive, a reincidência, buscando com isso a Ressalta-se ainda que, se houver a aplicação aplicação de multas agravadas. da pena de revogação de registro, os responsáveis A Lei n° 9.847, de 26 de outubro de 1999, pela pessoa jurídica ficadispõe sobre a fiscalização rão impedidos, durante das atividades relativas ao cinco anos, de exercer a abastecimento nacional de Conforme determina a Lei, para que a atividade de revenda ou combustíveis e estabelece reincidência seja caracterizada, não é de qualquer outra prevista sanções administrativas. necessário que o ato infracional seja o pela Lei 9.847/99. Dentre elas, destacamos mesmo. O artigo 8°, § 1°, da supraEssa não é a palavra que o revendedor que citada Lei determina claramente que a final. As matérias admiinfringir qualquer das reincidência ocorrerá quando o fiscalinistrativas decididas pelo disposições estará passível zado praticar uma infração, depois de órgão executor não fazem de fiscalização e autuação, decisão administrativa definitiva, que o coisa julgada material, ocasião em que sofrerão tenha condenado por qualquer infrapodendo ser revistas sanções administrativas, ção prevista na Lei 9.847/99 pelo Judiciário, conforme tais como: multa, suspensão preceitua o art. 5°, XXXV, temporária de funcionada Constituição Federal. mento, cancelamento do Isso não obsta a possibilidade de se recorrer registro do estabelecimento, revogação de autoriadministrativamente de qualquer lesão ou ameaça zação para o exercício de atividade, perdimento a direito. Porém, as decisões nessa instância de produto, sendo certo que as penas poderão ser estarão sujeitas ao crivo do Judiciário. aplicadas cumulativamente. Contudo, mesmo que se busque o Judiciário Conforme determina a Lei, para que a reincie ao final se tenha êxito, em alguns casos, o posto dência seja caracterizada, não é necessário que terá que arcar com prejuízos e constrangimentos o ato infracional seja o mesmo. O artigo 8°, § 1°, desnecessários. Portanto, a implementação de da supracitada Lei determina claramente que a ações preventivas poderá evitar danos irreparáreincidência ocorrerá quando o fiscalizado praticar veis ao estabelecimento. Uma simples atitude de uma infração, depois de decisão administrativa diligência do revendedor tem a capacidade de definitiva, que o tenha condenado por qualquer impedir que sofra uma punição, a qual, no futuinfração prevista na Lei 9.847/99. ro, poderá se tornar a pedrinha da reincidência A pena de suspensão temporária será de no no seu sapato. Traduzindo para o dito popular: mínimo 10 (dez) dias e no máximo 15 (quinze) “melhor prevenir do que remediar”. dias. Contudo, se o posto já teve a aplicação de 44 • Combustíveis & Conveniência
44 PERGUNTAS E RESPOSTAS O posto revendedor é obrigado a contratar aprendiz? O art. 429 da CLT determina a obrigação
LIVRO 33
que demandem formação profissional, independentemente de serem proibidas para menores de 18 anos. Contudo, a
para “estabelecimentos de qualquer nature-
CLT em seu artigo 429 dispõe de outra
za”. De acordo com as regras do Ministério
maneira. Sendo assim, parecer da CNC
do Trabalho e Emprego (MTE), as empresas
esclarece que a regra só é aplicada após
que possuem ambientes com presença de
atingido número de empregados cujos
insalubridade ou periculosidade devem cumprir
5% (percentual mínimo) correspondam a,
a cota de aprendizagem contratando jovens
pelo menos, um. Ou seja: 20 empregados.
entre 18 e 24 anos (art. 11 do Decreto nº 5.598/2005) e de pessoas com deficiência, a partir dos 18 anos. O aprendiz maior de 18
Quais obrigações trabalhistas de um contrato de aprendizagem?
anos que trabalhe em ambiente insalubre
A contratação do aprendiz deverá ser
ou perigoso, ou cuja jornada seja cumprida
efetivada diretamente pelo estabelecimento
em horário noturno, faz jus ao recebimento
sujeito ao cumprimento da quota de apren-
do respectivo adicional (art. 5º, § 2º, da IN
dizagem ou mediante contrato firmado com
SIT nº 75/2009). Segundo a CNC, no caso
entidades sem fins lucrativos, que tenham
de aprendizes que exerçam atividades ou
por objetivo a assistência ao adolescente e
operações consideradas perigosas, tais como
à educação profissional, registradas no Con-
operar bomba de gasolina, deverão possuir
selho Municipal dos Direitos da Criança e do
de 18 a 24 anos, sem exceções. Microem-
Adolescente. Na hipótese de contratação de
presa e empresa de pequeno porte estão
aprendiz diretamente pelo estabelecimento,
dispensadas da contratação de aprendizes.
este assumirá a condição de empregador, devendo inscrever o aprendiz em programa
Quais as penalidade previstas em caso de descumprimento da legislação?
de aprendizagem. Os requisitos básicos para contrato de
A falta de contratação de aprendizes sujeita
aprendizagem são: registro e anotação na
a empresa infratora à multa de 378,2847
Carteira de Trabalho; frequência do aprendiz
UFIRs, por menor irregular, até o máximo de
à escola, caso não haja concluído o ensino
1.891,4236 UFIRs, quando infrator primário.
médio; inscrição do aprendiz em curso de
Dobrado esse máximo na reincidência. A
aprendizagem desenvolvido sob a orientação
empresa que deixar de anotar a Carteira de
de entidade qualificada em formação técnico-
Trabalho do menor, ou que o fizer em des-
profissional metódica; contrato deverá indicar
conformidade com a legislação, incorrerá em
expressamente o curso objeto da aprendizagem,
multa de 378,2847 UFIRs, por menor. Além
obedecidos os critérios estabelecidos pela
disso, o descumprimento das disposições
Portaria MTE nº 615/2007; existência de
legais e regulamentares implicará a anulação
programa de aprendizagem desenvolvido por
do contrato de aprendizagem, estabelecendo-
intermédio de atividades teóricas e práticas,
se o vínculo empregatício com a empresa.
contendo os objetivos do curso, os conteúdos a serem ministrados e a carga horária; termos
Com quantos empregados um estabelecimento comercial estará obrigado a contratar aprendizes?
inicial e final do contrato, que devem coincidir
De acordo com o Manual do Aprendiz do
jornada diária e semanal, de acordo com a
MTE e a Instrução Normativa SIT n° 75/2009,
carga horária estabelecida no programa de
os estabelecimentos de qualquer natureza
aprendizagem; e remuneração mensal.
com o início e o término do curso de aprendizagem previstos no respectivo programa;
que tenham pelo menos sete empregados são obrigados a contratar aprendizes. O cálculo da quantidade de aprendizes será de 5%
Informações fornecidas pela advogada
a 15% do total de empregados em todas
da Fecombustíveis, Deborah dos Anjos, e
as funções existentes no estabelecimento
retiradas do Manual do Aprendiz do MTE. Combustíveis & Conveniência • 45
Título: Pequenos Gigantes Autor: Bo Burlingham Tradutor: Rosemarie Ziegelmaier Diferentemente do que a maioria dos empresários poderia imaginar, nem todos os executivos estão dispostos a se tornarem presidentes de grandes conglomerados. Alguns preferem se manter como líderes dentro de sua expertise, sem perder a qualidade do atendimento, o bom relacionamento com os clientes, funcionários e comunidade ou mesmo do produto caseiro. Esse grupo de bem-sucedidos em suas escolhas foram selecionados e receberam o nome de Pequenos Gigantes, mesmo nome da obra de Bo Burlingham, editor da Inc. Magazine, uma das principais publicações norteamericanas do segmento de administração e negócios. O livro, em forma de cases de sucesso, revela as aflições de empresários que tomaram a decisão de serem líderes em suas áreas, sem ter como princípio o lucro acima de tudo e mantendo a sonhada autonomia, que é hoje tão preservada especialmente para os novos empreendedores do século XXI. Além disso, o autor revela como diferentes proprietários souberam escapar das armadilhas do crescimento empresarial mantendo seus princípios e, melhor ainda, assustando a concorrência. De leitura agradável, a obra pode ser uma fonte inspiradora para os empreendedores brasileiros que estão expandindo seus negócios.
44 MEIO AMBIENTE
Vai dar tempo? A menos de nove meses da data de entrada em vigor da fase P7 do Proconve, o Brasil ainda tem muitos desafios a vencer. Além das necessárias adequações tecnológicas por parte da indústria automotiva e do fornecimento de diesel com menor teor de enxofre pela Petrobras, existem dificuldades como a adequação da rede de abastecimento Por Rosemeire Guidoni Dia 1º de janeiro de 2012 é a data estabelecida para a entrada em vigor das regras da fase 7 do Programa de Controle da Poluição do Ar para Veículos Automotores (Proconve), equivalente à Euro 5 (que regulamenta as emissões na Europa). A data foi definida, após muita polêmica, em outubro de 2008, por meio de acordo judicial assinado pelo Ministério Público Federal, estado de São Paulo, Ibama, ANP, Petrobras, fabricantes de veículos, fabricantes de motores e a Cetesb. Na ocasião, os preparativos para atendimento das regras do Proconve estavam bastante atrasados e, por isso, ficou definido
um prazo maior para que todos os envolvidos se adequassem às regras (até janeiro de 2012). Em compensação, o rigor da nova fase seria maior. Hoje, o Brasil ainda acompanha a fase Euro 3, mas em janeiro do próximo ano deverá saltar diretamente para a Euro 5, sem passar pela Euro 4. Ou seja, o preço para o maior prazo de adequação foi a antecipação de uma fase mais rigorosa. E para que os limites de emissões desta nova fase sejam respeitados, todo o mercado vem se movimentando. Segundo representantes da indústria automotiva, o setor já está preparado para fornecer, a partir de 2012, veículos com nova tecnologia. A
Petrobras, por sua vez, diz que conseguirá atender à demanda pelo novo diesel (com menor teor de enxofre). Porém, para que tudo seja colocado em prática, ainda existem algumas dificuldades. Uma delas é a questão do abastecimento. Para que os postos comercializem o diesel com menor teor de enxofre, serão necessários vários ajustes, que vão desde a infraestrutura física (segregação de tanques e bombas para o novo produto) até o treinamento dos funcionários, que precisam identificar quais veículos só podem utilizar o combustível com menos enxofre. Além disso, existem ainda várias incógnitas a respeito da comercialização
A conferência Diesel Emissions & Arla 32 Forum Brazil 2011, em São Paulo, reuniu governo e agentes do setor para discutir os desafios da fase Euro 5
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46 • Combustíveis & Conveniência
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Segundo Alexandre Parker, representante da Volvo, um único abastecimento com S1800 pode comprometer severamente o catalisador de um novo veículo. Já com o abastecimento de S500, a vida útil do veículo pode ser de apenas ¼ do planejado
Hashimoto (em pé): Novos combustíveis exigirão cuidados extras com limpeza e drenagem de tanques, o que significa elevação de custos e maior necessidade de treinamento de mão de obra
do Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla-32). Estas questões foram o alvo dos debates realizados durante a conferência internacional Diesel Emissions & Arla 32 Forum Brazil 2011, realizada em São Paulo, entre os dias 5 e 7 de abril. O evento, promovido pela Integer, uma consultoria internacional especializada em análises de commodities, reuniu representantes do segmento automotivo, fabricantes de motores, empresas interessadas em fornecer equipamentos para abastecimento de Arla-32, produtores, envasadores e distribuidores de Arla-32, além da Fecombustíveis. Ricardo Hashimoto, diretor para Postos de Rodovia da Federação, participou de dois painéis de discussão durante a Conferência, mostrando o ponto de vista do setor sobre as novas tecnologias para redução das emissões. Segundo ele, existem grandes desafios para os revendedores de combustíveis: além de adequação de infraestrutura (já que o diesel S10 é mais suscetível à contaminação e exigirá tanques segregados e
um caminhão dedicado para o transporte), serão necessários cuidados extras com limpeza e drenagem de tanques, o que significa elevação de custos e maior necessidade de treinamento de mão de obra. “Desde a chegada do B5 (diesel com 5% de biodiesel), o setor tem percebido problemas como formação de borras e recebendo reclamações de clientes. Além disso, o diesel B (com adição de biodiesel) sofre algumas transformações depois de um tempo armazenado no tanque. Teme-se, inclusive, que a oxidação do produto no tanque provoque o falseamento das leituras do teor de mistura. Os postos são fiscalizados e podem sofrer penas severas em caso de uma eventual contaminação. No estado de São Paulo, as penas levam até a cassação da licença do estabelecimento. Por isso, o setor tem grande preocupação com a entrada de um novo produto que pode ser ainda mais sujeito a contaminações”, explicou Hashimoto, frisando que a contaminação do com-
bustível não tem relação com adulteração.
Vários tipos de diesel Os fabricantes de veículos e de motores apresentaram as principais tecnologias para redução de emissões, que incluem novos motores preparados para rodar com S50 e S10, e sistemas de pós-tratamento de gases, tecnologias conhecidas como Seletive Catalitic Reduction (SCR) e Exhaust Gases Recirculation (EGR). Os veículos com esta tecnologia estarão disponíveis a partir de janeiro de 2012, mas, obviamente, a renovação da frota não deve ocorrer de imediato. Isso significa que, durante algum tempo, haverá veículos que necessitam do abastecimento de diesel com menos enxofre e adição de Arla-32, e outros com tecnologia antiga, o que pode gerar algum tipo de confusão na hora do abastecimento, com grandes prejuízos aos novos veículos. “A vida útil dos novos veículos pode ser sensivelmente reduzida com o abastecimento incorreto”, destacou Alexandre Parker, representante Combustíveis & Conveniência • 47
44 MEIO AMBIENTE
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Os veículos com nova tecnologia estarão disponíveis a partir de janeiro de 2012, mas a renovação da frota não deve ocorrer de imediato. Isso significa que durante algum tempo haverá veículos que necessitam do abastecimento de diesel com menos enxofre e adição de Arla-32, e outros com tecnologia antiga, o que pode gerar confusão
A empresa Tirreno irá comercializar Arla-32 envasado, pois distribuição a granel só será viável quando houver grande número de pontos de venda
da Volvo. Segundo ele, um único abastecimento com S1800 pode comprometer severamente o catalisador de um novo veículo. Já com o abastecimento de S500, a vida útil do veículo pode ser de apenas ¼ do planejado. “Para contornar este problema, acreditamos que a melhor maneira seja investir em uma política nacional de divulgação, esclarecendo o consumidor sobre as diferenças de cada produto, além do treinamento de motoristas e funcionários de postos de abastecimento”, disse o executivo. A Volvo sugere algumas medidas para esta divulgação, que incluem a identificação visual diferenciada de bombas de abastecimento do diesel com menor teor de enxofre, bem como dos tanques dos veículos dotados de nova tecnologia, além de um nome comercial para o novo produto. “Na Argentina, por exemplo, o S10 foi batizado de Euro Diesel. O Brasil deveria promover iniciativa semelhante, chamando o novo 48 • Combustíveis & Conveniência
produto de diesel ecológico, por exemplo. E depois cada distribuidora adicionaria seu nome comercial ao diesel ecológico”, recomendou Parker.
Distribuição do Arla-32 Os novos veículos vão necessitar também de Arla-32, cuja forma de comercialização ainda está em discussão. Em princípio, a ideia é que o produto seja vendido em embalagens fechadas e, no futuro, o abastecimento passe a ser a granel, em bombas próprias. Um dos grandes problemas do produto envasado seria o descarte das embalagens – que deve ser feito por meio de sistemas de logística reversa implantados pelos próprios fornecedores do produto – além do preço mais alto. Porém, o mercado ainda não está preparado para comercializar a versão a granel, já que isso demandaria a criação de uma estrutura de abastecimento (tanques e bombas). Sem falar que o mercado teme problemas
de qualidade, por conta do risco de contaminação e adulteração do produto. Durante a Conferência, alguns fabricantes de veículos divulgaram que pretendem comercializar o Arla-32 no Brasil. Parker, da Volvo, destacou que um tanque de 60 litros no veículo proporciona a autonomia de 2.200 km. “A venda de embalagens que o motorista possa transportar é uma forma de garantir o abastecimento correto do produto”, destacou. Várias empresas já estão de olho neste novo mercado. A Tirreno, empresa brasileira produtora de óleos industriais e fluídos automotivos, inaugurou, no dia 8 de abril, a primeira planta brasileira de produção de Arla-32, na cidade de Diadema, no ABC paulista. Em princípio, a unidade terá capacidade para fabricar um milhão de litros do produto por mês, mas a intenção da empresa é espalhar unidades de produção por vários pontos do país. “O valor agregado do
produto é muito baixo, e, logisticamente, produzir em São Paulo e ter que transportar para longe é muito complicado”, explicou Roberto Almeida, diretor industrial da Tirreno. Almeida, porém, não revelou os locais onde a empresa planeja montar outras unidades de produção. “Em princípio, onde houver pontos de abastecimento de diesel S50, deverá haver oferta de Arla. A Tirreno planeja oferecer o produto para vários segmentos, como montadoras, distribuidoras de combustíveis, transportadoras e postos”, ressaltou. No início, o produto será distribuído envasado, em embalagens de diversos tamanhos. “Embora o preço do produto possa ser menor se a forma de distribuição for a granel, hoje isso ainda não é viável. O Arla necessita de um grau de pureza muito grande, e, por isso, será necessário um caminhão-tanque dedicado somente para estas entregas. Isso significa que, para ser viável a distribuição a granel, teremos que ter um grande número de pontos de venda. Isso deve acontecer, dentro de algum tempo, quando a demanda pelo produto no mercado for maior”. A Yara também divulgou durante a Conferência seus planos de comercialização do Arla-32 no Brasil. Segundo Rolf Isberg, vice-presidente da empresa, do ponto de vista de preços, o ideal seria a comercialização do produto a granel, visto que as bombonas representam um grande problema por conta do descarte, além de encarecer o Arla. “O produto a granel poderá custar metade do preço do envasilhado. Mas o Brasil ainda não dispõe de estrutura para abastecimento a granel, ainda há muito o que fazer”, disse.
Arla nos postos As distribuidoras de combustíveis também estudam o fornecimento do produto para sua rede de postos. Celso Pinho, gerente-executivo da BR Distribuidora, informou que a bandeira está fazendo investimentos da ordem de R$ 5 milhões nos próximos cinco anos, para a construção de plantas de envase e distribuição do Arla-32. O produto deverá ser diluído, envasado e distribuído pela área industrial da empresa. A logística, porém, será pulverizada. “Um estudo preliminar diz que o transporte do Arla tem uma limitação de custo, de cerca 350 km. Acima desta distância, o custo do produto não justifica seu transporte. Então, para que o Arla seja competitivo, teremos de pulverizar a produção”, disse. De acordo com Pinho, a BR vai distribuir o Arla inicialmente em 500 postos revendedores, além de grandes distribuidores e montadoras. “A distribuição não atingirá todos os postos da rede, mas os que tiverem S50 deverão ter Arla para atender os clientes”, frisou. Sérgio Viscardi, da Ipiranga, informou que a empresa espera ter dois mil pontos de varejo para venda de Arla-32, mas que a grande preocupação é a questão do custo. “A venda a granel seria mais interessante, do ponto de vista de preço, mas
ainda existem receios em relação à qualidade”, afirmou. Alísio Vaz, presidente do Sindicom, acredita que em três ou quatro anos a demanda por Arla será superior à por lubrificantes. “Nossas associadas estão discutindo soluções viáveis economicamente para garantir o abastecimento das suas redes”, afirmou.
Qualidade do Arla De acordo com Victor Simão, da diretoria de qualidade do Inmetro, o processo de avaliação de conformidade e certificação do Arla-32 já foi iniciado. Segundo ele, as normas DIN 70071 (Alemanha) ou ISO 22241-2 serão utilizadas para a metodologia dos ensaios para caracterização do Arla-32, até que seja estabelecida uma norma brasileira compatível. De acordo com o Inmetro, os fornecedores de Arla também deverão observar alguns procedimentos para evitar a contaminação do produto e serão responsáveis por qualquer distorção da sua integridade. Embora este ponto tenha despertado polêmicas, visto que uma das preocupações do mercado é a adulteração do produto nos pontos de venda, Simão lembrou que o Código de Defesa do Consumidor atribui responsabilidade também a quem comercializa o produto irregular. n
Para lembrar REGIÃO Metropolitana Interior
VEÍCULO
2012
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S500
S500
S500
P7
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S10
S10
S1800
S1800
S500
S50
S10
S10
Anterior P7 P7
Fonte: ANP
Combustíveis & Conveniência • 49
44 CONVENIÊNCIA
Organização para evitar perdas Na segunda matéria sobre perdas, a Combustíveis & Conveniência mostra o que fazer para impedir que erros no controle do estoque e falhas no recebimento de mercadorias reduzam seu faturamento Por Rosemeire Guidoni
50 • Combustíveis & Conveniência
Stock
Segundo o último levantamento do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar-FIA), a maior parte das perdas no varejo (62,3%) não chega sequer a ser identificada pelos empresários. No entanto, entre aquelas detectadas, que somam 37,7%, as causas são: furto externo e interno (20,4% e 20,1%, respectivamente), erros administrativos (nota errada, pedido mal-elaborado, com 14,5%), equívoco de fornecedores (produtos entregues com prazos de validade vencidos, embalagens danificadas, com 9%), quebra operacional (armazenamento inadequado, que leva a perdas por vencimento de validade, produtos danificados ou desperdiçados, com 30,9%) e outros problemas (5,2%). Ou seja, somando as irregularidades ligadas ao recebimento de produtos e à falta de organização do estoque, as perdas podem atingir até 54,4%, conforme o Provar. “É um índice muito alto de perdas, mas que pode ser resolvido, ou minimizado, com treinamento”, afirmou Ana Caroline Fernandes Nonato, coordenadora do grupo de prevenção de perdas do Provar. Segundo ela, funcionários capacitados têm condições de identificar problemas em embalagens (seja proximidade de
data de vencimento para itens perecíveis ou mesmo embalagens danificadas), conferir notas fiscais e compará-las com a quantidade de produtos entregues pelo fornecedor e colaborar para o correto armazenamento. “Existe uma série de regras a ser seguidas, e os empresários devem orientar sua equipe”, destacou. Dentre as principais normas no ato de recebimento das mercadorias figuram conferir o pedido, verificar as condições de transporte (especialmente no caso de perecíveis), checar a temperatura e as condições da embalagem dos produtos, além de observar o prazo de validade. Muitas vezes, as perdas não identificadas da loja podem vir de erros no recebimento. É possível que estejam sendo aceitos itens com validade próxima ao vencimento, por exemplo, ou com embalagens danificadas, que acabarão sendo descartadas e vão contribuir para o aumento do índice de perdas. Por isso, é necessário que a pessoa responsável pelo recebimento esteja muito atenta e corretamente orientada sobre prazos admissíveis de validade e a importância da integridade das embalagens. Mas além de toda esta verificação, ainda é recomendável ter atenção extra em relação a alguns produtos, pois já foram verificados no segmento inúmeros casos de má-fé por parte dos responsáveis pela entrega de mercadorias. O
alerta vem da empresária Eliane Cedro, que possui uma loja de conveniência na cidade de Salvador (BA). Segundo ela, não é incomum a entrega de quantidades menores do que a registrada na nota fiscal, com algum tipo de artifício para camuflar a irregularidade. “Por exemplo, quando pedimos cervejas ou outras bebidas em latas em grande quantidade, os entregadores formam uma pilha de embalagens (pacotes com 12 unidades) para que o funcionário da loja faça a conferência. Porém, muitas vezes, no meio da pilha faltam algumas embalagens. Assim, uma das orientações importantes é que o funcionário empurre a pilha até encostar em uma parede, para se certificar de que não faltam embalagens”, explicou. “Infelizmente, esta é uma situação que ocorre com grande frequência”, disse a empresária.
Nestas situações, Eliane recomenda a devolução de toda a quantidade de produtos entregues. “É melhor fazer um novo pedido do que a devolução da nota, que pode ser muito complicada”, informou. Outros cuidados que a empresária recomenda a seus funcionários é que a conferência de produtos seja feita em local apropriado, e que as temperaturas de conservação sejam observadas – isso significa que itens que necessitam de refrigeração ou congelamento devem ser imediatamente armazenados em local adequado após o recebimento, e que itens com datas muito próximas ao vencimento sejam devolvidos. “Não pode acontecer nenhuma displicência no recebimento de mercadorias. A pessoa responsável por isso precisa ser muito rigorosa, para que as perdas sejam evitadas”, ressaltou.
Muito cuidado!
Estoque Mas os cuidados não terminam aí: armazenamento inadequado pode contribuir para perdas. É essencial que as recomendações do fabricante sejam observadas, no que diz respeito à temperatura, incidência de luz, prazo de validade, entre outras. O local de armazenamento deve ser limpo e organizado. Além disso, embalagens que possam ser amassadas ou danificadas não devem ser empilhadas. As mercadorias devem ser armazenadas sobre palets, estrados e/ou prateleiras, respeitando-se o espaçamento mínimo necessário para garantir ventilação adequada, limpeza e, quando for o caso,
desinfecção do local. Os palets, estrados e/ou prateleiras devem ser de material liso, resistente, impermeável e lavável. Itens utilizados para elaboração de pratos ou lanches no local devem contar com recipientes apropriados. É o caso das embalagens plásticas para acondicionar salgados congelados, evitando deixar as embalagens originais (normalmente sacos) abertas nas geladeiras. Caixas de papelão não devem ser usadas em geladeiras que possuem alimentos, em função do risco de contaminação. Além de todos estes cuidados, uma recomendação muito importante diz respeito à data de entrada de cada mercadoria. Produtos com menor prazo de vencimento devem estar armazenados na frente daqueles com maior validade, sempre observando o critério do “primeiro que entra, primeiro que sai”.
Controle de inventário A contagem dos itens existentes no estoque é primordial para evitar perdas. “Sabendo o que temos em estoque e quais as quantidades, é possível verificar quais produtos têm mais giro e definir com mais
A contagem dos itens existentes no estoque é primordial para evitar perdas
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De fato, todo cuidado é pouco quando se trata do recebimento de mercadorias. Que o diga uma empresária catarinense, que preferiu manter seu nome sob sigilo. Seu empreendimento está respondendo a um processo judicial porque, no início deste ano, um cliente consumiu em sua loja um refrigerante, cuja embalagem continha uma quantidade grande de ácido. Embora tenha ingerido apenas um gole, o consumidor foi hospitalizado. De acordo com a advogada Caroline Carlesso, do Sindipetro, que acompanha o caso, o refrigerante (que estava em uma garrafa pet) foi adquirido de um distribuidor, em um lote com outras garrafas. Nenhuma das outras embalagens apresentava qualquer problema, e todas estavam dentro do prazo de validade, com exceção da garrafa que continha o produto impróprio para consumo. Ou seja, além de
conter um líquido impróprio, a embalagem ainda estava com a validade vencida, mas foi entregue junto a outras em perfeitas condições. O caso está sendo investigado pela perícia e ainda não se sabe de quem é a responsabilidade, mas certamente a empresária terá muita dor de cabeça para contornar o problema. “Se a embalagem tivesse sido devolvida, por estar com o prazo de validade vencido, tudo isso poderia ter sido evitado”, alertou a advogada.
Combustíveis & Conveniência • 51
44 CONVENIÊNCIA Divulgação
Na loja de conveniência do Stella Maris, em Salvador (BA), uma empresa especializada foi contratada para realizar o controle de estoque
critérios os novos pedidos”, destacou Eliane. Embora este controle possa ser feito pela equipe da própria loja, a empresária preferiu terceirizar a tarefa e contratou uma empresa especializada para o trabalho, a RGIS/Semco. A realização periódica do controle de inventário ajuda a
identificar onde estão ocorrendo perdas, facilitando medidas para solucionar o problema. O controle por si só não reduz as perdas, mas pode mensurá-las. Quanto maior o índice de perdas do negócio, maior deve ser a frequência de realização desta contagem. Para Ana Caroline, do Provar, o controle deve ser feito pelo menos trimestralmente, embora algumas contagens parciais possam ser realizadas com maior frequência. “O gestor da loja pode definir uma categoria de produtos por semana, para que sua equipe faça a contagem de estoque”, sugeriu. Porém, quando a própria equipe da loja faz o controle de inventário, há algumas desvantagens como a falta de especialização do funcionário, que foi contratado
para outra atividade; e o aumento de custos com encargos trabalhistas, já que provavelmente será necessário pagar horas extras a quem executar a tarefa. E, além da hora extra, existe o problema da quantidade reduzida de atendentes da loja. Se parte da equipe ficar responsável pelo controle dos estoques, a loja pode ficar desassistida, resultando em perdas de vendas ou qualidade inferior ao esperado no controle de inventário. Mas o principal ponto negativo de deixar a tarefa a cargo dos funcionários é a parcialidade. Se houver algum problema provocado (intencionalmente ou não) pelos próprios funcionários, a ação pode ser encoberta pela manipulação dos resultados do controle de inventário. n
Passo a passo do recebimento correto de mercadorias aVerifique o cabeçalho da Nota Fiscal, certificando-se de que a entrega é para aquela unidade/ loja; aIdentifique se, de fato, o pedido de compra das mercadorias foi feito. Esta é uma prática que evita recebimentos indesejados ou não efetivados pela rede junto ao fornecedor; aConfira se os itens e quantidades entregues estão em conformidade com o pedido, bem como os valores cobrados. Se houver dúvida, faça a contagem de cada embalagem individual; aObserve as condições da embalagem e a validade da mercadoria. É aconselhável que não sejam aceitas mercadorias com mais de 1/3 do prazo de validade vencido (ou seja, se o produto tem validade de três meses, não é aconselhável aceitar mercadorias 52 • Combustíveis & Conveniência
que já tenham sido fabricadas há mais de um mês). Lembre-se de que algumas empresas distribuidoras reembalam os produtos devolvidos por outros varejos. É comum que determinadas empresas recusem itens próximos ao vencimento e estes produtos sejam depois reembalados e vendidos na condição de “oferta”, por preços menores. Neste caso, deverão ser verificadas as validades de cada unidade do pedido, para evitar transtornos como o enfrentado pela revendedora de Santa Catarina; aProdutos de peso variável precisam ser rigorosamente pesados em balanças aferidas diariamente; a A temperatura de mercadorias refrigeradas ou congeladas deve ser conferida com termômetros adequados ao tipo do produto e volume e precisa estar de acordo com as orientações do fabricante, em geral descritas na
própria embalagem do produto. Uma observação importante é quanto à presença de água em alimentos congelados, pois isso pode indicar que o produto foi descongelado (total ou parcialmente) em alguma etapa do transporte e, neste caso, o item deve ser recusado; aNo caso de perecíveis, algumas características devem ser observadas, como cor, odor e frescor; aO local de conferência deve ser livre, desobstruído, facilitando a contagem. Os entregadores devem permanecer distantes durante a conferência, evitando indução ao erro; aA conferência das mercadorias deve acontecer em local distante de áreas de armazenamento de lixo. Os produtos não devem ficar diretamente no chão e precisam ser armazenados adequadamente assim que a checagem for encerrada.
OPINIÃO44Roberto Barros Guarda4Consultor do Recap e da Brasil Fast Food Company
Centros de Serviços e Comércio rentabilizam metro quadrado do posto posto vende, em média, um O consumidor atual tem cada vez menos milhão de litros mensais e tempo e, por isso, busca agilidade e praticidade oferece serviços como loja nos serviços que utiliza. E aí encontra-se uma oporde conveniência, com uma tunidade para os postos de combustíveis. Nesse franquia da Casa do Pão contexto, a transformação destes estabelecimentos de Queijo, Loja Drive do em centros de serviços e comércio não é mais uma Bob’s, drogaria e uma agência bancária. necessidade, mas sim uma realidade. Não é somente o mercado de revenda de O espaço do posto é ideal para o consumidor combustíveis que vê vantagens na associação que busca conveniência e praticidade na hora de com outras marcas. As grandes redes de franquia realizar suas compras, de utilizar serviços diversos já consideram que os postos são pontos muito e até mesmo no momento das refeições. Afinal, o interessantes e que podem trazer um fluxo de dia a dia está cada vez mais complexo em qualquer clientes importante. Tais espaços podem ser uma local do país e sabemos que muitos consumidores alternativa aos shoppings, em geral já saturados, se dirigem aos nossos postos com o compromisso e costumam ser mais atrativos do que a opção de de abastecer e ir rapidamente embora. Se houver loja de rua. Existem vantagens para ambos, tanto a possibilidade de resolver várias necessidades no para o posto quanto para o mesmo espaço, a tendência franqueador. Para o posto, o de o consumidor utilizar os As grandes redes de franquia já consinegócio agrega clientes às serviços do posto é grande. deram que os postos são pontos mui- bombas, enquanto que para Aliás, isso já vem sendo to interessantes e que podem trazer o franqueado há a perspecobservado em diversos esum fluxo de clientes importante. Tais tiva de garantir a presença tabelecimentos, já que as espaços podem ser uma alternativa do público do posto em sua ofertas de serviços estão robustas e diferenciadas, e aos shoppings, em geral já saturados, e unidade. Isso sem contar os empreendedores do setor costumam ser mais atrativos do que a os aspectos da segurança e do compartilhamento de estão cada vez mais atentos opção de loja de rua alguns custos. às oportunidades. Para os empresários que Dentre os principais desejam investir no formato, mas não têm interesse serviços oferecidos pelos postos, destacam-se o em operar novos negócios, sejam franquias ou fast food, bancos, farmácias, correios, lavanderias, não, a locação do espaço é uma possibilidade. lojas de presentes, serviços de telefonia, lotéricas, Para analisar qual a melhor alternativa para seu chaveiros, troca de para-brisas, pneus, entre ounegócio, é importante fazer um levantamento tros. Para os postos, a parceria é interessante por acerca do potencial local, avaliando o fluxo de agregar maior tráfego de clientes; para os consumipessoas e de veículos e dados sobre o entorno dores, a vantagem é contar com facilidades como (perfil socioeconômico dos moradores; proximidade estacionamento, horário estendido, atendimento de outros centros comerciais ou escolas, faculrápido e segurança. dades, hospitais, por exemplo; e concorrência). Para atender a esta nova demanda de consumo, Além disso, um cuidado indispensável antes de é necessário ter área disponível. Esta experiência vem iniciar qualquer novo empreendimento na área sendo testada com sucesso por muitos revendedores. do posto é verificar se há possíveis restrições na Segundo um empresário que opera um posto com legislação municipal. formato de centro de serviços na capital paulista, Em diversos países, os postos de combustíveis apesar da forte concorrência na região, é possível são centros de serviços. No Brasil, atualmente, trabalhar com um preço justo para os combustíveis, o metro quadrado dos postos é muito valioso, e visto que os serviços extras oferecidos pelo empreos revendedores têm de saber aproveitar esta endimento geram maior tráfego de pessoas, o que possibilidade de rentabilizar suas atividades. se reflete também nas vendas de combustíveis. O Combustíveis & Conveniência • 53
44 REVENDA EM AÇÃO
Casa cheia! Revenda comparece em peso ao 12o Congresso de Postos Revendedores de Combustíveis de Minas Gerais e tem a chance de discutir os problemas atuais, conferir importantes palestras e, de quebra, receber algumas boas notícias
Fotos: Minaspetro
Por Morgana Campos Como não poderia ser diferente, o etanol foi o tema principal das palestras e conversas de corredor durante o 12o Congresso de Postos Revendedores de Combustíveis de Minas Gerais, que ocorreu entre os dias 14 e 15 de abril, em Belo Horizonte, com realização do Minaspetro. Entretanto, como nem só de etanol vive o setor, os cerca de 750 revendedores que participaram do evento tiveram a oportunidade de discutir o futuro da categoria, buscar solução para os problemas atuais e ainda se divertir um pouquinho. “Continuo bastante otimista. Ainda nesta década o Brasil fará parte dos países desenvolvidos. Nós, que somos nacionalistas, que acreditamos nesse negócio, 54 • Combustíveis & Conveniência
Paulo Miranda (acima) e o governador Anastasia discursaram na abertura do evento
esperamos que cada vez mais pessoas ingressem na classe média, que sejam novos consumidores. Vamos estar com nossas empresas preparadas para atender a esses novos consumidores, com maior poder de compra”, destacou Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis e do Minaspetro, durante a abertura do evento. Ele aproveitou a ocasião para comentar a recente alta nos preços da gasolina, apesar do custo do
produto não ter se alterado nas refinarias. “Entre dezembro e 08 de abril, o litro do anidro nas usinas sem impostos aumentou R$ 1,33. Em Minas, houve ainda elevação da alíquota de ICMS da gasolina, para compensar a redução na de etanol. A maioria dos revendedores não conseguiu sequer repassar toda a alta para os preços na bomba”, destacou. O presidente da BR Distribuidora, José Lima Neto, lembrou
na abertura do evento o quanto o assunto combustíveis mexe com o dia a dia das pessoas. “Combustível é algo tão sensível que, nos anos 80, era o único aumento que tinha direito a interromper o Jornal Nacional”, disse. “Precisamos pensar em como adaptamos o modelo, os processos e procedimentos para termos uma passagem pelos períodos de entressafra de forma mais adequada”, destacou. O presidente da BR ressaltou ainda que a principal diferença entre a gasolina e o etanol é que, no caso da primeira, a produção ocorre de 1º de janeiro a 31 de dezembro. “No etanol, durante quatro meses por ano, ela não acontece, por causa da entres-
safra, mas o consumo continua diário, não para. É necessário aperfeiçoar essa questão, mas sem perder de vista que se trata de um programa de sucesso”, completou. Lima Neto explicou que o Brasil enfrenta uma situação nova, na qual o consumo de combustíveis superou o crescimento da economia. “Isso traz demandas logísticas, necessidade de investimentos”, enfatizou. O diretor da ANP, Allan Kardec Duailibe Barros Filho, endossou as palavras do presidente da BR e completou: “Somos o único país do planeta onde quem decide qual combustível colocar em seu veículo é o consumidor”. O diretor aproveitou a oportunidade para
dar boas notícias à revenda. A primeira delas é que a Agência irá abrir, provavelmente em meados de maio, um escritório em Minas Gerais. A segunda, que está a caminho o projeto que irá alterar a Lei de Penalidades, aplicando graduações diferentes às infrações encontradas nos postos, impedindo assim que um adesivo colado erroneamente seja punido da mesma forma que um combustível adulterado. “Esse Projeto, que é a cara do Paulo Miranda, já está pronto na Procuradoria e esperamos que brevemente esteja aí regulando a gravidade das penalidades”, informou o diretor (veja mais no ping pong da seção Virou Notícia).
Fotos: Minaspetro
Combustíveis & Conveniência • 55
44 REVENDA EM AÇÃO O presidente da BR Distribuidora, José Lima Neto, recebe do presidente da Fecombustíveis e do Minaspetro, Paulo Miranda Soares, o troféu conferido a personalidades amigas da revenda. “Trata-se de uma das pessoas que mais entendem de petróleo no mundo, mas o que mais chama atenção é sua disposição. No dia em que assumiu a BR, Lima Neto telefonou para a Federação e se colocou à disposição para discutir todos os problemas do setor”, disse Paulo Miranda Soares. Fotos: Minaspetro
O presidente do Sindicom, Alísio Vaz, apresentou os principais problemas que afetam o setor de combustíveis, como as chamadas distribuidoras “barrigas de aluguel”, os inadimplentes profissionais, o uso de metanol para adulterar o etanol e diesel importado sem adição de biodiesel.
Parceira de peso O governador de Minas Gerais, Antonio Augusto Junho Anastasia, também prestigiou o evento e falou sobre a contribuição do setor para a economia. “O setor é importantíssimo. Basta dizer que representa 20% da receita do estado com ICMS, ou seja, a maior receita estadual em Minas Gerais decorre do recolhimento de combustíveis”, enfatizou. Ele lembrou ainda da parceria mantida com o Sindicato mineiro. “O Minaspetro não recusou, em momento nenhum, participar das diversas campanhas de interesse da sociedade do nosso estado. Nesse ano, por exemplo, conseguimos reduzir em 80% os casos de dengue, em relação ao trimestre anterior, graças ao trabalho de todos, inclusive dos postos que participaram das campanhas”, contou. Anastasia comemorou a notícia da chegada de um escritório da 56 • Combustíveis & Conveniência
ANP no estado. “Isso vai permitir ao revendedor um atendimento mais próximo e, com certeza, com mais eficiência”, declarou. O vice-presidente financeiro da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Gil Siuffo, lamentou que a revenda sempre responda, junto ao consumidor, por tudo que acontece ao longo da cadeia. “O revendedor é responsável pela falta do produto, pelo aumento, por tudo. Ele é acusado de fazer cartel, de aumentos abusivos, porque é o último elo da cadeia, o ponto mais visível”, afirmou. Siuffo lembrou que, apesar de não estar mais à frente da Federação, segue revendedor e acompanhando o setor. “Fui presidente da Federação por 20 anos e tive a felicidade de encontrar um Paulo Miranda Soares e poder assumir novas funções na CNC com a certeza
de que seguiríamos pela mesma linha de atuação”, afirmou. Também compuseram a mesa de abertura do evento o secretário estadual de Transportes e Obras Públicas, Carlos Melles; o secretário municipal de Serviços Urbanos, Pier Senesi Filho; o presidente da Fecomércio-MG, Lázaro Luiz Gongaza; e o vereador de Montes Claros, Athos Mameluque. A abertura contou ainda com a palestra da jornalista Cristiana Lôbo, que apresentou um panorama político do país e contou o que esperar da nova presidenta. Para a jornalista, Dilma Rousseff já mostrou que pretende acompanhar de perto todas as decisões, especialmente aquelas que se referem ao Ministério de Minas e Energia, cargo que já ocupou durante o governo Lula. “Dilma também é menos permissiva em relação às interferências de políticos e já determinou que não quer politização das agências reguladoras”, disse. Ela lembrou ainda que Dilma herdou um governo pronto, com ampla base parlamentar. “A mudança substancial em relação ao governo anterior deverá ser percebida na forma como se dará o tratamento da inflação”, destacou. E a reforma tributária, finalmente sai no governo Dilma? “Deve sair algo tímido, mas não espere redução de carga, porque essa não é a cabeça do governo. Dilma quer fazer a reforma fatiada. Vai desonerar a folha, mas acho que não chega ao IVA (que substituiria o ICMS e teria um só valor para todo o país), porque os estados maiores reagem”, previu. Uma das palestras mais concorridas do evento foi a de Max Gehringer, que com muito bom humor deu valiosas dicas de gestão aos presentes. E lotou o auditório.
Em perspectiva Em sua palestra na sexta-feira, o presidente da BR Distribuidora, José Lima Neto, levou aos presentes um pouco da história da energia do mundo. “No início, o principal uso do petróleo era como iluminante. E, veja como o mundo dá voltas, ele substituía o óleo de baleia, por isso, era considerado um produto ambientalmente correto porque evitava a matança das baleias”, destacou. Só no século XX o petróleo seria descoberto pela indústria automobilística, mudando o cenário mundial a partir de então. Sobre a chegada dos veículos elétricos, Lima Neto mostrou-se um pouco cético. “Muitos especialistas dizem que ainda vai levar um tempo até que o veículo elétrico se torne realmente competitivo. Ainda existem muitas dúvidas sobre como será implementado: vai carregar na tomada? Trocar a bateria inteira no posto?”, questionou. “O consenso atual é de que ainda teremos o predomínio do petróleo por pelo menos mais duas ou três décadas, embora nesse meio tempo outras fontes de energia irão ganhar participação na matriz energética”, afirmou. E brincou: “quando entrei na Petrobras, em 1978, os professores já diziam que o petróleo iria durar cerca de 30 anos. Ou seja, mais de três décadas se passaram e a previsão dos geólogos ainda é a mesma”. Para ele, o maior desafio atual é encontrar uma fonte energética mais barata ou pelo menos competitiva com o petróleo. “Mesmo se pensarmos no etanol de cana, que é um sucesso, é competitivo, há uma assimetria tributária entre o imposto pago no etanol e o pago na gasolina. Hoje, o litro de gasolina sai a R$ 1 na refinaria e o de etanol, a R$ 1,4 na usina, sem falar na eficiência energética. Isso apesar de todaoavanço tecnológico”, explicou. Em relação ao GNV, o presidente da BR destacou que se trata do único combustível cujo consumo vem caindo, cerca de 5% ao ano, por conta de diversos fatores (concorrência do etanol, necessidade de investimento em conversão, falta de confiança no fornecimento etc). Lima Neto disse que chegou a visitar uma distribuidora estadual de gás, após receber reclamações de revendedores que estavam prontos para comercializar gás, mas não conseguiam a ligação junto à concessionária. Segundo ele, a explicação que recebeu foi de que a companhia recebe cerca de mil pedidos de ligação para GNV, mas a matriz só autoriza 10 a 15. “Isso porque quando aumenta a quantidade
de pontos em postos não está elevando o consumo, mas sim dividindo o mercado atual por um número maior. Ou seja, a concessionária vai elevar o custo, sem aumentar suas receitas e vendas, porque agora terá que abastecer mais um posto”, informou. Confira, a seguir, trechos da entrevista que Lima Neto concedeu à C&C sobre o setor de GNV: Estão faltando medidas do governo, como incentivos para a conversão de veículos, para recuperar esse mercado? Essa é uma questão delicada. O GNV é um de três combustíveis que podem ser utilizados no ciclo otto (a gasolina, etanol e GNV). A pergunta é: por que tirar o gás que hoje está indo para outras áreas para concorrer com uma área que já tem gasolina e etanol? Isso precisa ser discutido para ver se faz sentido do ponto de vista de incentivo. Confesso que não vislumbro que haja uma visão no sentido de conceder incentivos via redução de tributos, por exemplo. A oferta hoje está aumentando, então, talvez na hora em que houver uma produção maior, chegue o momento em que essa discussão ganhe força. Mas enquanto estivermos num período em que há mais demanda que oferta, fazer um programa de incentivos é meio temeroso. Não dá para incentivar o consumidor, que faz os investimentos de conversão, e depois não ter gás para o usuário, o taxista, o dono de posto. O ideal seria que as pessoas tivessem em mente o GNV como um combustível alternativo: no dia em que não tiver, uso gasolina ou etanol. Se houvesse essa consciência, seria mais fácil avançar. Só que no dia que não tiver GNV, o taxista vai no jornal reclamar. Talvez se houvesse o carro convertido de fábrica fosse mais fácil, porque não exige fazer o investimento, perder a garantia. Tem que desatar esse nó. De qualquer forma, essa questão não pode sair da mesa, porque existe um mercado de GNV. Hoje não falta produto, faltam novas conversões? Sim. As pessoas não estão convertendo porque estão preferindo os veículos bicombustíveis, que não trazem o inconveniente de reduzir o espaço de portamala. O grande competidor do GNV não é a gasolina, mas sim o etanol. Quem mais tem sentido são as empresas que faziam as conversões. Se o mercado do posto diminuiu, o das conversões despencou. O posto está vivendo daqueles que já converteram. Não há novas conversões, com exceção de alguns estados como o Rio de Janeiro. n Combustíveis & Conveniência • 57
44 REVENDA EM AÇÃO
Foco na gestão Sindicatos Filiados participam do 1o Encontro de Avaliadores do Ciclo 2011, com o objetivo de tirar do papel os planos de melhoria de gestão Por Gisele de Oliveira Prever. Organizar. Definir estratégias. Estas são palavras recorrentes para quem deseja ser bem-sucedido nos negócios. Mas nem sempre simples de serem colocadas em prática e atingidas. Principalmente, no setor de combustíveis brasileiro, geralmente turbulento. Embora seja um mercado cheio de dificuldades, investir em melhorias de gestão é uma alternativa possível de ser alcançada. Para ajudar os Sindicatos Filiados nessa árdua tarefa, a Fecombustíveis, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC), promoveu no mês passado o 1o Encontro de Avaliadores do Ciclo 2011 do Sistema de Excelência em Gestão Sindical (SEGS). O programa visa orientar a administração das entidades sindicais por
meio da adoção de práticas de gestão de excelência. O encontro teve o objetivo de mostrar aos Sindicatos – neste ano, são 26 participantes, o maior quórum até agora – como utilizar melhor as ferramentas de avaliação, além de definir um plano de melhorias para cada entidade sindical. Outra iniciativa oferecida aos Sindicatos e Federação é o treinamento e consultoria in loco, o que contribui para a aplicação correta das ações pensadas pelas entidades sindicais e no esclarecimento de dúvidas. “Revimos toda a situação dos sindicatos participantes com base em suas auto-avaliações e avaliações de consenso e decidimos adotar planos de melhorias. Além disso, o encontro é uma ótima oportunidade para trocar informações com outros gestores do programa”, diz Cylene Lopes, assessora de Qualidade
1o Encontro do ano contou com 26 participantes, o maior quórum já registrado
Ações planejadas Com os diagnósticos de todos os participantes em mãos, o encontro serviu para planejar melhor as ações contempladas para o ciclo 2011, tendo como referência os indicadores prioritários do SEGS (número de associados, ações de representação, total de receitas compulsórias e autossustentação). E planejamento foi a palavra de ordem na reunião, que teve duração de dois dias e muitos exercícios em grupo. De acordo com Cylene, o planejamento é a peça mais importante nesse quebracabeça. Com ele, será possível tornar a entidade sindical mais organizada e disciplinada, com processos internos transparentes e acessíveis a todos. “O planejamento envolve todas as relações e atividades desempenhadas pelos sindicatos. Não pode ficar somente olhando para o próprio umbigo e achar que é o suficiente. É preciso ter visão ampla e enxergar além do que acontece em seu quadrado”, explica. Por isso, é importante que os planos previstos pela organização sejam disseminados por toda Morgana Campos
58 • Combustíveis & Conveniência
e Desenvolvimento da CNC e que coordenou o encontro na sede da Fecombustíveis, no Rio de Janeiro.
Diferentes realidades Para os participantes, a vontade de atingir o nível máximo de excelência é enorme. O grupo também enxerga no programa uma maneira de tornar as entidades em que trabalham mais organizadas, com planejamentos definidos e resultados claros. Para alguns, o desafio ainda é maior, já que este é o primeiro ano participando do SEGS. É o caso do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos, Lojas de
Conveniência e Lubrificantes do Estado de Mato Grosso do Sul (Sinpetro-MS). Mesmo estreando na reunião com outros sindicatos em estágio mais avançado, o Sinpetro espera atingir bons resultados ao longo deste ano. “Acreditamos que o programa é uma importante ferramenta para auxiliar no desenvolvimento e implantação de novos procedimentos internos até no atendimento ao revendedor, melhorando, com isso, a visibilidade do Sindicato no mercado”, diz Solange Barbosa, supervisora no Sinpetro-MS. Para quem participa há algum tempo do programa, os resultados falam por si só. Participante do SEGS desde 2008, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Alagoas (Sindicombustíveis-AL) já percebe a melhoria em sua estrutura. De acordo com Laura Mota, secretária-executiva do Sindicato, a ferramenta ajudou a organizar melhor os processos internos e ter mais clareza das ações que precisam ser implantadas. “Antes, agíamos de maneira desorganizada, mas agora conseguimos ter um planejamento das ações e colocá-las em prática”, conta Laura. No Paraná, a adesão ao SEGS só reforçou o trabalho feito pelo Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Derivados de Petróleo, Gás Natural, Biocombustíveis e Lojas de Conveniência do Estado do Paraná (Sindicombustíveis-PR). Quando entrou para o programa, em 2008, o Sindicato já era uma referência em função de suas certificações – ISO 9001 e ISO 14001. Com o SEGS, a
Morgana Campos
a equipe, desde o colaborador até os executivos e gestores. Isso contribui para a construção de uma identidade única da entidade sindical no mercado de atuação. E não faltaram exemplos para ajudar os participantes na preparação da avaliação de consenso – outro item detectado importante para a evolução dos sindicatos no SEGS ao nível máximo de excelência. O principal deles foi mostrar ao grupo todo o processo para definir ações e apresentá-las aos avaliadores de consenso. Embora exijam disponibilidade de tempo e muita disciplina, as avaliações contribuem para identificar as atividades realizadas, de que forma foram feitas e o que fazer para melhorar os processos. Cylene garante que todo o esforço tem sua recompensa: “Queremos elevar o grupo para o nível dois. Mas ainda há muito o que fazer para alcançar esse resultado, se compararmos com outras Federações integrantes da CNC”. O SEGS possui dois níveis excelência. Para pular de nível, é preciso fazer 200 pontos em 250 possíveis e estar participando do programa há dois anos.
Cylene Lopes, da CNC: com planejamento será possível tornar a entidade sindical mais organizada e disciplinada, com processos internos transparentes e acessíveis a todos
entidade passou para um outro nível de gestão, a partir da adoção de medidas de melhorias contínuas. “Criamos ferramentas para melhorar a nossa gestão administrativa e financeira, dando um embasamento maior ao nosso trabalho”, explica Aparecido José Bogdanoviez, gerente administrativo-financeiro do Sindicombustíveis-PR. Entre as ações, está o aprimoramento de ações na área de atendimento, como o programa comercial, o check list, a ficha eletrônica (que mapeia todas as informações do revendedor), entre outros. n
4LINKS ÚTEIS Portal CNC (página do SEGS) www.cnc.org.br/servicos/ servicos-para-sindicatose-federacoes/segs-sistema-de-excelencia-emgestao-sindical Combustíveis & Conveniência • 59
44 ATUAÇÃO SINDICAL Paraná
O crime é vender abaixo do preço de custo 35 mandados de busca e apreensão, 13 prisões e a certeza de que muitos revendedores vendiam etanol a preço abaixo do custo no Paraná. Este foi o resultado da Operação Predador, desencadeada pelas Polícias Civil e Militar e Grupos Especiais de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) dos Ministérios Públicos do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O objetivo era coibir a ação de quadrilhas responsáveis por adulteração de combustíveis, crimes contra a ordem econômica e financeira e concorrência desleal que agiam nos três estados. “O esquema já detinha 60% do mercado de combustíveis no estado e estava levando muitos empresários honestos à falência”, disse o procurador de Justiça Leonir Batisti, coordenador estadual do Gaeco, em entrevista coletiva. No Paraná, a operação aconteceu nas cidades de Curitiba, Araucária, Campo Largo, Maringá, Londrina, Foz do Iguaçu, Cascavel,
Ponta Grossa, Umuarama, Engenheiro Beltrão, Campo Mourão e Ibiporã. Iniciada em 2009, a investigação apontou que 14 distribuidoras e 60 postos de combustíveis participavam do esquema, que rendeu cerca de R$ 300 milhões provenientes do subfaturamento nas notas e repasses aos revendedores com margens de lucros maiores, sem tributações. Os envolvidos irão responder por crime contra a ordem econômica e formação de quadrilha. O delegado Francisco Alberto Caricati, coordenador da investigação na Polícia Civil, contou que o esquema indicava sonegação fiscal, mas, com a constatação da prática de preços abaixo do mercado, verificou-se que se tratava de uma ação de quadrilha. “Havia notas fiscais, pagamentos de impostos e isso era uma prática permanente, contrariando os preços praticados no mercado, o que poderia caracterizar subfaturamento”, disse o delegado. “Eram em-
presas que comercializavam produtos. No entanto, apenas alguns participavam desse tipo de criminalidade de forma habitual e com estabilidade. Pequenos grupos entre postos revendedores e distribuidoras se formaram”, completou. O delegado revelou ainda que os relatórios da polícia e do Ministério Público serão entregues à Secretaria de Estado da Fazenda e Receita Federal, para averiguação de prática de sonegação fiscal e crime tributário. Na opinião do presidente do Sindicombustíveis-PR, Roberto Fregonese, a Operação Predador foi o resultado de diversas denúncias feitas pelos sindicatos há alguns anos. “Existem pelo menos quatro tipos diferentes de fraudes fiscais no setor. Infelizmente, a legislação do Paraná permite que empresários de outros estados, com más intenções, se instalem aqui com o objetivo de cometer irregularidades”, disse. (Vanessa Brollo)
Esquema rendeu R$ 300 milhões com subfaturamento de notas e repasses aos revendedores com margens de lucros maiores, sem tributações
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60 • Combustíveis & Conveniência
Paraná
Frente a frente com o revendedor em parceria com o Brasilcom, Sindicom, Repar e Comitê Sul Brasileiro de Qualidade dos Combustíveis – para fazer uma síntese do mercado irregular no Paraná e como essa situação prejudica o empresário honesto. Durante as assembleias, os revendedores ficaram sabendo que esse material está sendo entregue às autoridades do governo estadual e também aos deputados estaduais. Outro assunto em pauta nas reuniões foi a Convenção Coletiva de Trabalho 2011. Roberto Fregonese apresentou aos
empresários as reivindicações dos trabalhadores e como certos pontos serão discutidos durante a negociação com os sindicatos laborais. (Vanessa Brollo) Sindicombustíveis-PR
Terminou em abril a série de encontros promovidos pelo Sindicombustíveis-PR para levar informações relevantes sobre o mercado de combustíveis aos revendedores do estado. As assembleias são realizadas pelo presidente do Sindicombustíveis-PR, Roberto Fregonese, e uma equipe de técnicos. “É a chance de ficar frente a frente com o associado. Passar informações e também conhecer a realidade de cada região”, diz Fregonese. Desta vez, uma das novidades destes encontros foi o trabalho desenvolvido pelo Sindicato –
Assembleia em Ponta Grossa fez parte do calendário de encontros para levar informações aos donos de postos
Combustíveis & Conveniência • 61
44 TABELAS em R$/L
Período
São Paulo
Goiás
Período
São Paulo
Goiás
07/03/2011 a 11/03/2011
1,454
1,523
07/03/2011 a 11/03/2011
1,375
1,354
14/03/2011 a 18/03/2011
1,551
1,599
14/03/2011 a 18/03/2011
1,494
1,385
21/03/2011 a 25/03/2011
1,923
N/D
21/03/2011 a 25/03/2011
1,632
1,434
28/03/2011 a 01/04/2011
1,997
2,026
28/03/2011 a 01/04/2011
1,458
1,456
04/04/2011 a 08/04/2011
2,133
2,188
04/04/2011 a 08/04/2011
1,385
1,445
Média Março 2011
1,597
1,660
Média Março 2011
1,422
1,394
Média Março 2010
0,975
N/D
Média Março 2010
0,825
N/D
46,8%
43,7%
0,7%
6,7%
63,8%
N/D
72,3%
N/D
Variação 07/03/2011 a 08/04/2011 Variação Mar/2011 - Mar/2010 Fonte: CEPEA/Esalq Nota: Preços sem impostos
HIDRATADO
ANIDRO
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL (CENTRO-SUL)
Variação 07/03/2011 a 08/04/2011 Variação Mar/2011 Mar/2010 Fonte: CEPEA/Esalq Nota: Preços sem impostos
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL (NORDESTE) Período
Alagoas
Pernambuco
Março 2011
1,554
1,581
Em R$/L 1,6
em R$/L
PeríodoEVOLUÇÃO DEAlagoas Pernambuco PREÇOS DO ETANOL ANIDRO
Março 2011
1,239
1,231
Março 2010
1,001
0,960
Variação
23,8%
28,2%
Março 2010
1,134
0,989
HIDRATADO
ANIDRO
1,4 1,2 1,0
Variação
37,1%
59,8%
0,8 0,6
Fonte: CEPEA/Esalq Nota: Preços sem impostos
Fonte: CEPEA/Esalq 0,4 Nota: Preços sem impostos
São Paulo
Alagoas
Pernambuco
0,2 0,0
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL ANIDRO (em R$/L) Em R$/L
EVOLUÇÃO DE PREÇOS DO ETANOL ANIDRO
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO (em R$/L)
1,6
Em R$/L
EVOLUÇÃO DE PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO
1,4
1,4
1,2
1,2
1,0 1,0
0,8
0,8
0,6
0,6 0,4
0,4 São Paulo
Alagoas
Pernambuco
0,2 0,0
Nota: O CEPEA/Esalq não disponibilizou o preço médio doHIDRATADO produto em Alagoas no Em R$/L EVOLUÇÃO DE PREÇOS DO ETANOL mês de julho e em Pernambuco nos meses de julho e agosto. 1,4 1,2 62 • Combustíveis & Conveniência 1,0 0,8
São Paulo 0,2 0,0
Alagoas
Pernambuco
TABELAS 33 em R$/L - Março 2011
Comparativo das margens e preços dos combustíveis Distribuição
Gasolina
Revenda
Preço Médio Pond, de Custo da Gas, C 1
Preço Médio Ponderado de Venda
Margem Média Ponderada da Distrib,
Preço Médio Ponderado de Compra
Preço Médio Ponderado de Venda
Margem Média Ponderada da Revenda
2,280
2,329
0,049
2,329
2,682
0,353
2,259
2,323
0,064
2,323
2,658
0,335
2,266
2,327
0,061
2,327
2,635
0,308
2,256
2,320
0,064
2,320
2,632
0,312
Branca
2,274
2,270
-0,004
2,270
2,565
0,295
Outras Média Brasil 2
2,294
2,331
0,037
2,331
2,632
0,301
2,270
2,311
0,041
2,311
2,632
0,321
Variação da Margem em relação à Margem Brasil (%)
60 %
10 %
40 %
8%
20 %
6%
0%
4%
-20 % -40 %
59,5
58,9
52,3
Outras
Branca
2%
-7,1
-109,6
0%
20,9
Outras
-2 %
9,7
-60 % -4 %
-80 %
4,3
-2,7
Branca -8,2
-6,4
-6 %
-100 %
-8 %
-120 %
-10 %
Ipiranga
Shell
Esso
BR
Outras Branca
BR
Ipiranga
Shell
Distribuição
Diesel
-4,2
Esso
Outras Branca
Revenda
Preço Médio Pond. de Custo do Diesel 1
Preço Médio Ponderado de Venda
Margem Média Ponderada da Distrib.
Preço Médio Ponderado de Compra
Preço Médio Ponderado de Venda
Margem Média Ponderada da Revenda
1,661
1,757
0,096
1,757
2,041
0,284
1,658
1,778
0,120
1,778
2,026
0,248
1,659
1,770
0,111
1,770
2,019
0,249
1,659
1,778
0,119
1,778
2,012
0,234
Branca
1,655
1,710
0,055
1,710
1,969
0,259
Outras Média Brasil 2
1,670
1,792
0,122
1,792
2,017
0,225
1,659
1,753
0,094
1,753
2,013
0,260
Variação da Margem em relação à Margem Brasil (%)
30 %
12 % 9%
20 %
6%
10 % 0%
Outras
3%
-10 % -20 %
29,1
27,8
26,9
17,3
1,3
Branca
0%
-41,5
-3 % -6 %
-30 %
Branca Outras 9,4
-0,4
-3,9
-4,6
-10,2
-13,3
-9 % -12 %
-40 %
-15 %
-50 %
Outras Ipiranga
Shell
Esso
BR
Branca
BR
Branca
Esso
Ipiranga
Shell
Outras
1 - Calculado pela Fecombustíveis, a partir do Atos Cotepe 02/11 e 03/11. 2 - A pesquisa abrange as capitais dos Estados da BA, MG, PA, PE, PR, RJ, RS, SP e o Distrito Federal. 3 - O fator de ponderação para cálculo de margem e preço médios é o nº de postos consultados pela ANP.
Combustíveis & Conveniência • 63
44 TABELAS
FORMAÇÃO DE PREÇOS
em R$/L
Gasolina
Ato Cotepe N° 07 de 07/04/2011 - DOU de 08/04/2011 - Vigência a partir de 16 de abril de 2011
UF
75% Gasolina A
25% Anidro (1)
75% CIDE
75% PIS/COFINS
Carga ICMS
Custo da Distribuição
Alíquota ICMS
Preço de Pauta (2)
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
0,793 0,763 0,792 0,793 0,776 0,767 0,834 0,797 0,833 0,761 0,832 0,832 0,814 0,774 0,763 0,755 0,760 0,780 0,773 0,767 0,793 0,793 0,797 0,791 0,760 0,795 0,793
0,595 0,542 0,590 0,589 0,549 0,549 0,553 0,560 0,550 0,552 0,570 0,555 0,553 0,585 0,545 0,545 0,550 0,554 0,553 0,545 0,594 0,596 0,575 0,558 0,545 0,550 0,553
0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173 0,173
0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196 0,196
0,795 0,762 0,686 0,723 0,756 0,744 0,718 0,779 0,866 0,742 0,717 0,708 0,746 0,776 0,716 0,720 0,687 0,729 0,873 0,717 0,728 0,766 0,653 0,678 0,713 0,606 0,715
2,552 2,436 2,437 2,473 2,449 2,428 2,473 2,505 2,618 2,424 2,488 2,464 2,482 2,504 2,393 2,388 2,365 2,432 2,567 2,397 2,483 2,524 2,394 2,395 2,386 2,320 2,430
25% 27% 25% 25% 27% 27% 25% 27% 29% 27% 25% 25% 27% 28% 27% 27% 25% 28% 31% 27% 25% 25% 25% 25% 27% 25% 25%
3,178 2,824 2,745 2,890 2,800 2,757 2,870 2,885 2,986 2,748 2,869 2,831 2,764 2,772 2,652 2,665 2,748 2,605 2,816 2,655 2,910 3,063 2,612 2,710 2,640 2,425 2,860
Diesel
Nota (1): Corresponde ao preço da usina com acréscimo de PIS/COFINS e custo do frete. Nota (2): Base de cálculo do ICMS
UF
95% Diesel
5% Biocombustível
95% CIDE
95% PIS/COFINS
Carga ICMS
Custo da distribuição
Alíquota ICMS
Preço de Pauta (1)
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
1,053 1,021 1,067 1,053 1,041 1,033 1,099 1,058 1,099 1,020 1,099 1,099 1,083 1,041 1,021 1,019 1,021 1,106 1,043 1,018 1,053 1,053 1,130 1,095 1,021 1,076 1,053
0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115 0,115
0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067 0,067
0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141 0,141
0,423 0,343 0,374 0,376 0,305 0,338 0,246 0,246 0,277 0,347 0,380 0,357 0,240 0,354 0,342 0,345 0,350 0,255 0,268 0,328 0,379 0,407 0,260 0,247 0,345 0,235 0,248
1,798 1,687 1,763 1,751 1,669 1,694 1,668 1,626 1,698 1,690 1,802 1,779 1,645 1,717 1,686 1,687 1,694 1,683 1,634 1,668 1,754 1,782 1,713 1,665 1,688 1,633 1,623
17% 17% 17% 17% 15% 17% 12% 12% 13,5% 17% 17% 17% 12% 17% 17% 17% 17% 12% 13% 17% 17% 17% 12% 12% 17% 12% 12%
2,491 2,017 2,199 2,211 2,037 1,990 2,047 2,047 2,054 2,041 2,238 2,102 1,998 2,080 2,010 2,031 2,060 2,121 2,063 1,929 2,230 2,395 2,168 2,060 2,027 1,959 2,068
Nota (1): Base de cálculo do ICMS * Nos preços de custo acima poderão ser encontradas pequenas diferenças, em decorrência dos valores de frete (percurso entre o produtor de biodiesel e a base de distribuição) e a legislação tributária ainda indefinida para o B5 e o B100.
64 • Combustíveis & Conveniência
TABELAS 33
preços dAs DISTRIBUIDORAS Menor
Maior
Menor
BR
N/D N/D N/D
Federal
N/D N/D N/D
N/D N/D N/D
Belém (PA) - Preços CIF BR
Gasolina Diesel Álcool
2,401 1,873 1,946
2,445 1,938 2,105
Macapá (AP) - Preços FOB 2,485 1,900 1,895
2,222 1,885 2,093
2,392 1,857 1,992
Gasolina Diesel Álcool
Equador 2,323 2,430 1,840 2,000 1,930 2,249 BR
2,511 1,970 1,876
2,479 2,015 1,974
Gasolina Diesel Álcool
2,370 1,950 1,650
Gasolina Diesel Álcool
2,342 1,846 1,720
Gasolina Diesel Álcool
2,355 1,767 1,861
Gasolina Diesel Álcool
2,301 1,708 1,781
Gasolina Diesel Álcool
2,340 1,806 2,112
DNP 2,359 1,725 1,930
2,422 1,952 2,178
2,437 2,022 1,711
2,437 2,022 1,711
2,379 1,849 1,610
2,478 2,012 2,088
Taurus 2,220 2,430 1,910 2,020 1,680 2,120
2,352 1,942 1,769
2,506 1,889 2,107
2,344 1,793 1,741
2,350 1,733 2,102
2,329 1,763 1,711
2,390 1,845 2,143
2,307 1,790 2,116
2,341 1,866 2,248
2,251 N/D N/D
BR
Goiânia (GO) - Preços CIF
Curitiba (PR) - Preços CIF
BR 2,492 2,023 1,828 IPP 2,439 1,996 1,995 Shell 2,554 1,826 2,022
2,392 1,794 1,773
2,383 1,841 2,109
2,275 1,744 1,639
2,402 1,847 2,383
2,331 1,843 2,152
2,300 N/D N/D
N/D N/D N/D
2,517 1,821 1,962 Shell
BR
IPP
N/D N/D N/D
Equador 2,522 2,570 2,066 2,103 2,117 2,119
IPP
IPP
Porto Alegre (RS) - Preços CIF
N/D N/D N/D
BR
BR
Florianópolis (SC) - Preços CIF
N/D
IPP
IPP
N/D N/D N/D
Sabba 2,349 2,585 1,781 1,992 1,960 2,076
2,750 1,990 1,890
Campo Grande (MS) - Preços CIF
2,257 1,809 2,150
N/D N/D N/D
2,577 2,208 2,153
Idaza
N/D N/D N/D
2,366 1,882 2,016
BR
2,361 1,866 2,152
N/D N/D N/D
Maior
2,370 1,817 2,086
Cosan 2,312 2,367 1,771 1,868 2,023 2,146
Sabba 2,316 2,364 1,756 1,832 1,958 2,077
2,370 1,817 1,929
2,312 1,771 1,854
2,378 1,839 2,141
2,267 1,797 1,848
2,211 1,762 1,670
2,274 1,880 1,812
Alesat 2,235 2,327 1,648 1,896 1,816 1,842
Gasolina Diesel Álcool
2,283 1,852 1,830
Cosan 2,300 1,852 1,840
2,221 1,840 1,750
Gasolina Diesel Álcool
Alesat 2,295 2,381 1,833 1,843 1,900 1,932
2,357 1,786 1,915
Gasolina Diesel Álcool
2,333 1,833 1,718
Gasolina Diesel Álcool
2,364 1,792 1,861
Gasolina Diesel Álcool
2,421 1,791 1,952
Gasolina Diesel Álcool
2,378 1,736 1,836
Gasolina Diesel Álcool
2,277 1,665 1,713
Gasolina Diesel Álcool
2,169 1,679 1,575
Gasolina Diesel Álcool
2,580 1,771 1,895
Gasolina Diesel Álcool
2,297 1,735 1,964
Gasolina Diesel Álcool
2,297 1,735 1,838
Gasolina Diesel Álcool
2,203 1,742 1,763
Gasolina Diesel Álcool
Teresina (PI) - Preços CIF
Fortaleza (CE) - Preços CIF
Natal (RN) - Preços CIF
IPP
BR
João Pessoa (PB) - Preços CIF IPP
Recife (PE) - Preços CIF
2,306 1,797 1,848
Alesat 2,274 2,361 1,805 1,830 1,853 1,940
Shell
BR
Shell
2,354 1,889 1,747
Cosan 2,270 2,281 1,856 1,858 1,617 1,832
2,244 1,722 1,851
2,398 1,804 1,879
2,260 1,686 1,614
2,444 1,837 2,073
2,403 1,753 1,843
2,563 1,885 2,136
2,315 1,721 1,655
2,389 1,800 2,103
2,309 1,781 1,749
2,305 1,918 2,013
2,134 1,674 1,498
2,582 1,809 2,091
2,570 1,800 1,845
Salvador (BA) - Preços CIF
IPP
IPP
Vitória (ES) - Preços CIF
Rio de Janeiro (RJ) - Preços CIF
BR
Shell 2,272 1,690 1,722
2,429 1,828 2,156
2,413 1,766 1,942
Foram consideradas as três distribuidoras com maior participação de mercado em cada capital, considerando os dados disponibilizados pela ANP.
Shell
2,486 1,849 1,997
2,553 1,831 2,275
2,371 1,701 1,800
2,439 1,822 1,981
2,309 1,729 1,779
2,573 1,920 1,932
2,129 1,630 1,559
2,582 1,812 2,091
Cosan 2,560 2,582 1,790 1,790 1,849 2,072
Shell 2,425 1,865 1,993 BR
Shell
BR
2,284 1,722 1,851
2,420 1,806 1,943
IPP
Belo Horizonte (MG) - Preços CIF
2,400 1,889 2,030 Shell
BR
Shell
2,318 1,886 1,892 BR
BR
IPP
2,309 1,827 1,861 BR
2,282 1,727 1,739
BR
2,364 1,832 1,906
2,209 1,712 1,730
2,669 1,823 2,029
Aracaju (SE) - Preços CIF
BR
2,316 1,756 1,836
2,204 1,741 1,736
Maceió (AL) - Preços CIF
IPP
Shell 2,367 1,868 1,934
2,328 1,921 1,857
Brasília (DF) - Preços FOB
N/D
Menor
Alesat 2,291 2,380 1,824 1,891 1,917 2,024
São Paulo (SP) - Preços CIF
Shell
Maior
Sabba 2,294 2,341 1,799 1,859 1,825 2,100
2,233 1,759 1,832
BR
N/D
Sabba 2,478 2,500 2,034 2,087 1,730 2,104
Cuiabá (MT) - Preços CIF
Gasolina Diesel Álcool Fonte: ANP
N/D N/D N/D
2,539 1,979 1,891
BR
Gasolina Diesel Álcool
2,501 1,929 1,959
Menor
2,357 1,832 2,063
Gasolina Diesel Álcool
BR
2,387 1,853 2,080 N/D
Sabba 2,509 2,530 1,959 1,961 1,700 1,890
Rio Branco (AC) - Preços FOB
Maior
BR
2,360 1,840 1,984
2,347 1,853 2,080
IPP
2,513 2,119 2,321
Porto Velho (RO) - Preços CIF Gasolina Diesel Álcool
2,462 1,898 2,094
Equador 2,230 2,280 1,885 2,057 2,174 2,174
Manaus (AM) - Preços CIF
2,325 1,805 1,718 PDV
2,489 1,920 1,898
BR
Gasolina Diesel Álcool
N/D N/D N/D
2,510 1,929 1,973
Boa Vista (RR) - Preços CIF
Menor
Maior
Total
IPP
BR
Gasolina Diesel Álcool
Menor
São Luiz (MA) - Preços CIF
Palmas (TO) - Preços CIF Gasolina Diesel Álcool
Maior
em R$/L - Março 2011
2,540 1,821 2,248 IPP 2,399 1,861 2,157 Shell
2,314 1,867 1,981
Combustíveis & Conveniência • 65
44 CRÔNICA 4 Antônio Gregório Goidanich
Problemas italianos Tio Marciano resolve visitar seu primo milanês, que estava no porto de Caorle, perto de Veneza, fazendo manutenção no seu barco. Trem rápido de Florença a Veneza. Uma hora de espera, muito bem aproveitada para uma caminhada até San Marco. Dia lindo de sol e calor. Trem regional até Caorle (se diz Cáorle, se alguém quiser saber). Nos esperava o primo. Audi luxuoso com tração nas quatro rodas. Uma ostentação. Tio Marciano, de início meio ciumento, concorda depois de saber que ele precisava do carro para ir à montanha esquiar. O barco de 47 pés, com três cabines de casal, sendo uma suíte, é uma beleza. O Adriático brilha debaixo do forte sol. Fomos comer uma excelente comida caseira em uma das lindas cidadezinhas da orla. Vinho branco, vinho tinto, sobremesa, café e várias rodadas de grappa. Uma jornada maravilhosa. Pegamos o trem para Veneza. Temos de pegar o último trem veloce para Florença. Chegamos com uma hora de sobra. Novo passeio a Veneza, agora ao por do sol. Conhaque em San Marco. Estamos de bem com a vida. Voltamos à estação. O trem fora cancelado. Sciopero (greve) de 24 horas. Começaria às 9 da noite. Sem mais nem menos. Quando estranho que ninguém se revolte, Tio Marciano explica: - Aqui é assim. Não há reclamação, nem solidariedade. Cada um vai tentar resolver seu problema como puder. - Mas é o fim. Não tem lugar em hotel. As locadoras já fecharam. E tenho de estar em Florença amanhã de manhã. - Aquele trem ali sai para Bologna. É a metade do caminho. Depois vemos. O trem arranca na hora. Mas, ao chegar a Padova, a poucos quilômetros de Veneza para, os funcionários somem e dane-se o mundo. - Porra, nos abandonaram. - Estão andando para os ônibus, vão nos levar a Bologna. Só tinha um ônibus. O motorista foi seco: solo gente sedutta. Foram trinta dos quase 200. Tivemos de arranjar um táxi que, por 150 euros de cada um, nos levou a Firenze. - Esses italianos são uns patifes. De manhã já me 66 • Combustíveis & Conveniência
sacanearam no câmbio. Fui trocar uns dólares e me cobraram 20% de comissão, e calculado de uma forma incrível. Primeiro o câmbio, depois a comissão. Me tomaram 40 euros em 300 dólares. - Um absurdo. É muita canalhice. Também comandados por esse Berlusconi. Ele apóia o Kadhafi, é mais fascista que o Mussolini, mais mafioso que o Don Corleone e mais histriônico que o Hugo Chávez. Aliás, o meu pai já dizia que italiano quando nasce se joga na parede. Se cola, sai violinista, se cai é ladrão - o Galego não está entre os descendentes. - Já ouvi dizer que havia metade bom e metade mau. Os bons emigraram para a América. 27 milhões foram para os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina - o Doutor pega leve. - Claro estes eram os bons. Nossos avós e os mafiosos americanos, entre eles o Al Capone. - Tio Marciano reduz a realidade. - Esses caras não têm mãe. - Têm sim. O Berlusconi, o Kadhafi e todos eles. - Isto me lembra uma piada da época da segunda guerra que contavam lá em Garibaldi: Acho que era mais ou menos assim: Si quella notte, Rosa follara per il culo, solo Rosa aveva il culo follado.“Se na noite em que Benito Mussolini foi concebido, Rosa (Dona Rosa Mussolini, mãe do Duce) tivesse feito sexo anal, somente ela, Rosa, teria sido ferrada e não a Itália inteira”. Piada de gringo de Garibaldi é assim, o mais engraçado é o subentendido.