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PARANÁ POSSUI 1,4 MIL STARTUPS

NÚMERO DE STARTUPS CRESCE 39% EM RELAÇÃO A 2019 E GERA 12 MIL EMPREGOS MESMO COM A PANDEMIA, CONFORME LEVANTAMENTO DO SEBRAE/PR

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TEXTO: KAREN BORTOLINI

OParaná conta atualmente com 1.434 startups, gerando 12 mil empregos em 87 cidades, colocando o estado entre os principais ecossistemas de inovação do país. O número corresponde a um aumento de 39% (402 novas empresas) no comparativo ao levantamento de 2019.

Apesar da pandemia, 374 novas dessas startups foram criadas em 2020, dado que representa uma elevação contínua no quinto ano consecutivo. É, portanto, o maior número desde 2014, início do acompanhamento. Do total do ano passado, 685 empresas (47,7%) têm menos de dois anos de abertura.

Para o diretor de Operações do Sebrae/PR, Júlio Cezar Agostini, o expressivo crescimento demonstra o potencial do Paraná para atrair investimentos e gerar ofertas de produtos e serviços diferenciados, mesmo durante a crise. “As startups são empresas que podem gerar alto impacto em todas as cadeias produtivas, contribuindo para a geração de novos empregos, renda e inovação”, disse.

Há dois anos o estado passou a contar com dois “unicórnios”, ou seja, empresas com valor de mercado estimado em mais de US$ 1 bilhão. Uma delas é a plataforma de pagamentos Ebanx, lançada em novembro de 2019; a outra é a plataforma de comercialização de móveis e materiais de construção MadeiraMadeira, inaugurada em

janeiro desse ano. O Paraná ocupa o posto entre os quatro estados do país que possuem unicórnios no país, ladeado de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Esta foi a sétima edição do levantamento anual feito pelo Sebrae/ PR, contando com a participação de representantes de todas as startups. A pesquisa foi feita de 5 a 27 de novembro de 2020 e pode ser acessada na íntegra pelo endereço www.sebraepr.com.br/ startup-mapeamento.

PERFIS DAS STARTUPS NO PARANÁ

ÎSETORES Em 2020 foram abertas 35 startups nas áreas de saúde e bem-estar, especialmente por conta da preocupação com a saúde. O segmento, que conta com um total de 121 empresas, ocupa o segundo lugar com mais startups no estado. Perde somente para as empresas da área do agronegócio, com 141.

ÎLOCALIZAÇÃO O estudo revelou que a capital paranaense é a cidade com mais startups do estado, um total de 422. Na sequência está de Londrina, com 180; seguida de Pato Branco, com 126; Maringá, com 105; e Cascavel, com 89. A pesquisa ainda aponta que, em média, dois terços do total de startups estão situadas fora de Curitiba e distantes dela, com destaques para as regiões Norte e Sul do estado. Dos 399 municípios paranaenses, 87 deles registraram ao menos uma startup. ÎFATURAMENTO E

INVESTIMENTOS Das empresas entrevistadas, 298 (20,8%) afirmaram já terem recebido algum tipo de aporte. Do total, 142 receberam “investimento-anjo”, 92 integraram-se a programas de aceleração e 77 receberam “capital-semente”. Os investimentos realizados pelos próprios fundadores foram feitos por 631 startups, em que 400 delas injetaram valores de até R$ 100 mil e 129 entre R$ 100 e R$ 500 mil.

Sobre o faturamento, 473 empresas (40,8% do total de entrevistados) afirmaram não ter; em contrapartida, 251 startups (21,6%) faturam até R$ 81 mil (teto do microempreendedor individual). Há ainda 127 startups que apresentaram faturamento até R$ 4,8 milhões e 35 negócios com faturamento superior a esse valor. Por causa disso, enquadram-se como médias e grandes empresas. ÎPERFIS DOS EMPREGOS

GERADOS Sobre os perfis dos fundadores das startups, o levantamento apontou ainda que 62,5% têm entre 26 e 40 anos, sendo 77,3% homens. Do total, 74,3% possuem até cinco colaboradores e 37,9% contam com sede própria. Outros 35,7% exercem as funções em home office.

Sobre os postos de trabalho, foram 12.056 mil contratações no Paraná. Dessas, 2.918 mil pessoas trabalham nas 10 maiores empresas geradoras de emprego, sendo oito situadas em Curitiba e RMC, uma em Ponta Grossa e outra em Maringá. 

SECA. GEADA. FOGO

O ESTADO DO PARANÁ FOI MARCADO, EM 1963, POR UM DOS PIORES INCÊNDIOS REGISTRADOS NO BRASIL E NO MUNDO. CERCA DE 10% DO TERRITÓRIO FOI CONSUMIDO PELO FOGO

TEXTO: SILVIA BOCCHESE DE LIMA

Um desastre climático. O Paraná foi cenário, em 1963, de um dos maiores e mais devastadores incêndios florestais do mundo. A combinação de baixas temperaturas, campos secos em decorrência de intensas geadas, forte estiagem, uso do fogo para limpeza e ampliação de propriedades e, até mesmo, queimadas criminosas resultaram na destruição pelas chamas de cerca de 10% do território paranaense. Dos 166 municípios existentes à época no Paraná, 128 cidades das regiões Norte, Central e dos Campos Gerais foram atingidas pelo fogo.

Em mensagem apresentada em 1964 à Assembleia Legislativa do Paraná, pelo então governador Ney Braga, foram recordados os fenômenos que quase levaram o estado ao colapso. De acordo com o documento, o drama paranaense teve início com as intensas geadas que destruíram milhões de pés de cafés, algo em torno de 30% dos cafezais, reduzindo em mais de 70% a safra daquele ano, causando um prejuízo estimado em 15 bilhões de cruzeiros. “Quando parecia superada a crise, eis que se instala o

ÁREAS DEVASTADAS PELO FOGO

fenômeno das sêcas, deixando de se verificar a precipitação de chuvas durante alguns meses, com efeitos perniciosos à produção agrícola e, até, à pecuária, além de impedir o abastecimento das represas movimentadoras de usinas hidrelétricas”, trazia o documento.

ACERVO KLABIN

DESTRUIÇÃO

PÓS-INCÊNDIOS, O REFLORESTAMENTO

A carta aos deputados estaduais pontuava também que “quando mais se faziam notar os males da longa estiagem, eis que o fogo inicia a sua terrível tarefa devastadora, produto da imprudência de alguns”. O fogo encontrou os fatores ideais para sua propagação:

seca prolongada e plantações mortas pela geada. Com o auxílio dos ventos, rapidamente as chamas se propagaram, destruindo mais de 21 mil quilômetros quadrados de área no estado. O documento atesta que foram 110 os mortos, milhares de pessoas feridas, cerca de 30 mil pessoas foram atingidas pela calamidade e oito mil imóveis, entre casas, silos e galpões foram destruídos pelo fogo, além dos incontáveis animais que foram mortos.

No livro Paraná: uma história, o jornalista Diego Antonelli pontua que foram devastados pelas chamas mais de 20 mil hectares de plantações, 500 mil de florestas nativas e 1,5 milhão de campos e matas secundárias.

Os números quanto às árvores perdidas são imprecisos, mas para se ter uma ideia da dimensão do fogo e sua destruição, os documentos oficiais do governo revelam que foram consumidos pelas chamas mais de 200 milhões de árvores na região de Tibagi e que cerca de 90% do município de Ortigueira foi queimado.

ÁREAS RURAIS E URBANAS FORAM ATINGIDAS PELAS CHAMAS

No Relatório da Operação Anujá, de 27 de setembro de 1963, o 1º Tenente Osmar Pedrosa Finkensieper relata que o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná foi acionado na cidade de Paranavaí, no dia 9 de setembro daquele ano para conter um incêndio de grandes proporções. “Constatamos que se encontrava em chamas a firma Hermes Macedo S/A, filial daquela cidade, que ameaçava as lojas circunvizinhas”, consta no documento.

ACERVO MUSEU HISTÓRICO DESEMBARGADOR EDMUNDO MERCER JUNIOR REPERCUSSÃO

A destruição no Paraná, o desemprego, problemas sociais e o contingente de desabrigados foram tamanhos que o governador Ney Braga decretou, em 28 de agosto daquele ano, estado de calamidade pública. A repercussão na imprensa brasileira e internacional resultou no envio de profissionais de saúde e de bombeiros, e no recebimento de doações de medicamentos, mantimentos, 30 toneladas de roupas, maquinários agrícolas e de recursos financeiros de diversos estados e países. A campanha Socorro ao Paraná em Flagelo, criada pelo governo do estado, recebeu de todo o mundo, mais de 245,2 milhões de cruzeiros.

A revista O Cruzeiro trouxe imagens e um balanço da tragédia paranaense, na edição de 12 de outubro de 1963, e destacou os estragos provocados à indústria Klabin, em Monte Alegre. “Suas reservas de pinheiros e eucaliptos foram violentamente atingidas. Era impossível o contrôle das chamas, apesar do serviço normal de vigilância e combate a incêndios mantidos pela firma e dos contingentes do Exército, da Fôrça

TRAGÉDIA FOI RETRATADA NA REVISTA O CRUZEIRO, DE OUTUBRO DE 1963

Pública e do Corpo de Bombeiros que para lá se deslocaram. Cêrca de 3.500 homens combateram as chamas nessa área”, relata a reportagem da época.

Acredita-se que após pedido de ajuda do governador do Paraná, mais de 10 mil voluntários auxiliaram no combate ao incêndio.

QUEIMADOS

Segundo o diretor do Museu Histórico Desembargador Edmundo Mercer Junior, de Tibagi, Neri Aparecido Assunção, o Hospital Luiza Borba Carneiro, que havia sido inaugurado em Tibagi, em 1960 e que estava fechado nos últimos dois anos, foi adaptado para funcionar como uma Central de Queimados.

O médico Eugênio Carneiro, único da cidade, começou o atendimento aos feridos até o governo enviar profissionais para auxiliá-lo. “Amanhã seguirão médicos e enfermeiras da Guanabara e médicos e enfermeiras da embaixada americana para Tibagi”, trazia o jornal Correio do Paraná, de 10 de setembro de 1963, que pontuava as resoluções tomadas no atendimento aos feridos. Na mesma edição do jornal a nota do Serviço de Meteorologia de São Paulo informava que “a frente fria que causou fortes aguaceiros na Argentina e no Uruguai está se deslocando lentamente em direção ao norte do Continente, devendo alcançar o Paraná ainda hoje. Em Santa Catarina já está chovendo”. A previsão da chegada das chuvas sofreu atraso de pelo menos uma semana, mas foi a responsável por aplacar o fogo em 18 de setembro.

Onze equipes móveis foram preparadas para iniciar a vacinação se impressionou, porque a miséria [do trabalhador] é normal”.

ACERVO MUSEU HISTÓRICO DESEMBARGADOR EDMUNDO MERCER JUNIOR

HOSPITAL LUIZA BORBA CARNEIRO FUNCIONOU COMO UMA CENTRAL DE QUEIMADOS

antitífica e antitetânica na população de todos os municípios atingidos pelo fogo.

O engenheiro agrônomo Armínio Kaiser, em testemunho no livro 1963: o Paraná em chamas, de José Luiz Alves Nunes, revela a face da tragédia que mais o impressionou enquanto fotografava os rescaldos das geadas e do fogo: a miséria. “A maior miséria foi depois do incêndio; o êxodo rural dramático. Se bem que a maioria das pessoas não

OPERAÇÃO SEMENTE

Elaborado por técnicos do governo estadual, o Plano Operação Semente foi composto por 55 agrônomos, 300 funcionários administrativos, 120 viaturas e 250 postos de sementes e defensivos agrícolas. Cerca de 600 mil sacos de sementes de algodão, arroz, feijão, batata foram financiados aos agricultores

paranaenses. “Foi dada orientação técnica aos lavradores, com a finalidade de diversificar suas lavouras e adotar novas técnicas agrícolas e pecuárias (...) Serão abertas novas perspectivas ao homem do campo, com a execução da programação elaborada”, destaca a mensagem aos deputados.

KLABIN

Referência no combate a incêndios na Região dos Campos Gerais, a Klabin criou um programa de combate e prevenção a incêndios. Em todo o estado, a empresa conta com cerca de 520 brigadistas treinados, incluindo equipes de bombeiros, além de 65 vigilantes que percorrem diariamente todas as áreas da companhia com motocicletas.

De acordo com dados enviados pela Klabin, a empresa possui 21 torres de observação para as suas florestas. “As torres de observação de alguns municípios são compartilhadas com outras empresas que também possuem propriedades no local, e ambas as empresas mantêm uma parceria de monitoramento das áreas”, destaca o documento.

A empresa também dispõe de aeronaves para reforçar a logística de confirmação de focos, transporte de brigadistas florestais e extinção de focos de incêndios. A Klabin também faz uso de técnicas de combate ao fogo e uso de dados meteorológicos.

APRENDIZADOS

O grande incêndio que marcou o estado do Paraná foi responsável pelo desenvolvimento de uma parceria entre o governo estadual e empresas para a criação de um sistema de alerta de incêndios florestais.

Nunes destaca no livro que, após uma década dos incêndios registrados no Paraná, o engenheiro florestal Ronaldo Viana Soares, com base em dados fornecidos pela Klabin, desenvolveu uma fórmula que permite medir o risco de incêndios em florestas: a Fórmula de Monte Alegre. Para chegar ao índice são analisados, por exemplo, o número de dias sem chuva e a umidade relativa do ar medida às 13h. “Uma das constatações que se chegou foi que as empresas mais que os governos, assimilaram muito rapidamente a necessidade da prevenção, aprimoramento, pesquisa e vigilância constante, para evitar repetições como aquela vivenciada em 1963”, enfatiza o autor na obra. 

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