OLD Nº 2

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OLD Nยบ 02 Junho 2011



Primeira Foto Giulia Joau


Revista Old Número 02 - Junho de 2011 Equipe Editorial - Felipe Abreu e Paula Hayasaki Direção de Arte - Isabella Nardini e Felipe Abreu Texto e Entrevista - Felipe Abreu Social Media - Pedro Testolino Capa - Maria Mondini Fotografias Maria Mondini www.flickr.com/photos/mamondini Giulia Joau www.flickr.com/photos/giuliajou Fernanda Coutinho www.flickr.com/photos/fer_fotos LUCEO www.luceoimages.com Entrevista Matt Eich www.luceoimages.com Contato revista.old@gmail.com

OLD Tempo.

Conhecimento.

Imagem.


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A OLD chega ao seu segundo número antes do esperado. Optamos por fazer publicações online mensais e impressas trimestralmente. Escolhemos esse novo formato para ter mais edições, o que significa mais espaço para o seu trabalho nas nossas páginas e também que você vai escolher o conteúdo das revistas impressas, em um debate que logo, logo, começa. OLD A OLD Nº 2 chega mais uma vez com 05 colaboradores fantásticos. Temos o ensaio que Maria Mondini fez no Egito, com muita delicadeza e curiosidade. Nossa entrevista é com Matt Eich, um dos membros do coletivo LUCEO, que está transformando o fotojornalismo nos Estados Unidos. Além da entrevista, o LUCEO nos enviou três imagens maravilhosas, que complementam a fala de Matt. E, para concluir nosso segundo número, Fernanda Coutinho traz suas viagens pelas cidades brasileiras, um trabalho belíssimo e de imagens muito variadas.

Também continuamos com as imagens do The Commons do flickr. Nessa edição temos imagens femininas, que dialogam com os portfólios de nossas duas colaboradoras. A OLD teve resultados muito positivos em seu primeiro mês e isso só confirma a importância e o interesse da fotografia contemporânea e colaborativa. Espero que a cada edição continuemos a construir um debate sobre nossa fotografia, sobre seus meios e técnicas e que essa produção esteja sempre aqui, nas páginas da OLD.

Felipe Abreu


Bransby, David. CC

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Egito Maria Mondini Maria Mondini produziu um belíssimo ensaio de rua sobre o Egito e seu OLD 07 povo. Com várias imagens bressonianas a fotógrafa italiana apresentou templos, pessoas e mercados, sempre com personagens bem construídos e cenas impagáveis. As imagens em preto e branco da fotógrafa italiana realçam a aura das cenas de rua registradas. A ausência de cor faz com que nos concentremos muito mais em seus personagens e suas expressões.

Mesmo estando fora de seu país natal, Maria soube apresentar muito bem diversos aspectos da vida citadina no Egito. Apesar da visão do estrangeiro ser menos profunda, ela é também mais pura, por não ter nenhum contato cotidiano com o que irá ser registrado, o fotógrafo carrega uma curiosidade e leveza que só são alcançadas neste tipo de condição.


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Como era sua relação com a fotografia analógica e o que mudou para você com a fotografia digital?

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Tenho que fazer uma premissa para essa pergunta; o termo fotografia se refere tanto à técnica, que permite criar imagens sobre uma película sensível à luz, quanto a uma imagem obtida com esta técnica, ou, mais geralmente, a uma forma de arte que utiliza esta técnica. Tive que abandonar a máquina fotográfica analógica muito a contragosto, porque com o passar dos anos, comecei a ter problemas com a vista; focar se tornou um processo muito lento e, pelo meu interesse em fotografia de reportagem, isto me incomodava muito, pois é próprio da fotografia de reportagem captar o instante que foge.

A não ser pelo foco automático, utilizo a digital como se fosse uma velha máquina analógica, a mantenho no manual, sempre decidindo sensibilidade e tempo de exposição. Com o crescimento da digital ficou muito difícil conseguir produtos analógicos na cidade em que vivo, além do sumiço de todos os laboratórios que revelam meus filmes, tornando o processo todo muito complicado. Como você se sentiu retratando uma cultura diferente da sua? Cada país tem sua cultura, sua religião, seus sincretismos, e portanto eu procuro sempre pesquisar sobre o país que irei visitar, tento sempre ser o mais veloz possível em fotografar um conjunto de pessoas, mas, afinal,


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são os pequenos fatos, um sorriso, uma carícia, uma palavra que me abrem o caminho... Muitas vezes tenho encontrado pessoas que, inclusive, me pediram para serem fotografadas.

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Quanto tempo e quantas vezes você foi ao Egito para produzir este ensaio? Foi uma viagem de 15 dias. O Cairo foi a última etapa, o passeio a Khan el Khalili foi feito antes da partida. O mercado de Khan el Khalili, em tamanho, é o segundo maior em todo o Oriente Médio. Ali, passeando, encontrei muitas afinidades com os quatro mercados históricos que temos em Palermo.


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Suas imagens de rua são muito belas e tem um estilo muito interessante. Quais são os fotógrafos que te influenciaram? Agradeço pela pergunta, mas não saberia dizer. Certamente são muitos os fotógrafos que aprecio e admiro, e talvez folheando os álbuns e visitando as exposições algo é sempre assimilado. Tive a sorte de viver em Palermo, onde temos excelentes fotógrafos, como Enzo Sellerio e Letizia Battaglia. Qual é sua relação com o tema social e com estes personagens? Estou sempre interessada no social! e como diz o fotógrafo Enzo Sellerio: “o centro visto da periferia, para descobrir que a periferia é o centro” .

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Entrevista Matt Eich Matt Eich, do coletivo fotográfico norte americano LUCEO, fala sobre o trabalho OLD do grupo e como ele vê a produção 17 fotográfica contemporânea. Como o LUCEO encara o aumento da produção fotográfica graças à facilitação do acesso ao equipamento? Você acha que o caminho para o fotojornalismo é uma produção mais refinada técnica e esteticamente? Enquanto novas tecnologias tem permitido que o público em geral produza e divulgue

imagens mais facilmente, a precisão visual e a sensibilidade jornalística necessárias para este tipo de produção permanece inteiramente nas mãos dos fotojornalistas. Os fotógrafos do LUCEO não costumam sentir a necessidade de estar ligados nos ciclos de notícia e serem os primeiros a chegar no local, portanto essa mudança tecnológica [a produção fotojornalística de leitores] afeta pouco a maneira com que trabalhamos. Nós preferimos uma abordagem mais cumulativa, deixando as histórias evoluírem de uma maneira mais orgânica sempre que possível, ao ínves do método “clica e corre” que é


Matt Eich, LUCEO Images.

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necessário para a maioria dos fotojornalistas. O que une a produção do LUCEO é uma abordagem que é emocional em seu cerne - todos nós desejamos abordar pessoas e situações com respeito e então interpretar subjetivamente os sentimentos que passamos durante este processo. OLD 19

É um grupo muito unido, com pessoas muito criativas que passam por grandes sacrifícios para construir corpos de trabalho significativos e que estão muitos envolvidos no sucesso de cada um dos membros do grupo. Como estamos organizados como um negócio podemos dividir tarefas que cairiam

Eu já me envolvi anteriormente em um outro coletivo e em uma grande agência, LUCEO com certeza é o que mais se encaixa comigo como fotógrafo e artista atualmente. Coletivos são geralmente associados à produção artística contemporânea. Vocês acham que essa opção de organização é interessante para o fotojornalismo? Nós somos estruturados como uma cooperativa, o que pode ser um pouco diferente dos coletivos aos quais você se refere. Eu já me envolvi anteriormente em um outro coletivo e em uma grande agência, LUCEO com certeza é o que mais se encaixa comigo como fotógrafo e artista atualmente.

necessariamente nas costas de cada um de nós como indivíduos. Quando abordamos clientes, entre nossos fotógrafos e Rede de Parceiros, nós oferecemos um time que pode se expandir ou contrair para atender os desejos do cliente. Nós representamos uns aos outros e conhecemos os trabalhos intimamente, então se um cliente não gosta das minhas imagens mas acaba gostando do trabalho de um colega, ainda é uma vitória para nós a longo prazo. Além dos benefícios


comerciais é muito importante para minha produção fotográfica saber que eu conto com um grupo de fotógrafos, que respeito muito, e que me ajudam e vão estar sempre me levando adiante. A fotografia está ganhando cada vez mais espaço na arte contemporânea. Você acha que esse novo status pode afetar o fotojornalismo?

Como artistas contemporâneos temos que ser mais fluidos nas maneiras com que circulamos entre grupos criativos e mais corajosos na maneira em que disseminamos nosso trabalho.

Com certeza - o novo status da fotografia no mundo da arte já está afetando o fotojornalismo, mas eu acredito que de uma maneira positiva. O fotojornalismo tende a ser muito auto reflexivo e muitas vezes não considera o contexto maior da arte e da cultura quando coloca suas imagens na esfera pública. O fine art se destaca no processo de argumentação necessário para defender seu trabalho. Dentro da minha produção tive que refinar tecnicamente meu trabalho para poder criar imagens que trabalhem bem tanto na

parede da galeria como na página impressa. No LUCEO duvido que qualquer um de nós se definiria estritamente como fotojornalista, apesar deste ser o mundo de que todos nós viemos. Títulos e gêneros costumam ser supérfluos geralmente, somos todos seres humanos curiosos que tentam comprender o mundo através de imagens. Como artistas contemporâneos temos que ser mais fluidos nas maneiras com que circulamos entre grupos criativos e mais corajosos na maneira em que disseminamos nosso trabalho.

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David Walter Banks, LUCEO Images.

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Kendrick Brinson, LUCEO Images.

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Como funciona a comercialização de imagens dentro do LUCEO? Vocês têm alguma preferência de clientes - como jornais ou outras mídias - considerando o valor visual ou de informação? Nós tentamos construir abordagens diversas de comercialização para não ficarmos presos a um mercado específico, como o editorial ou o fine art por exemplo. Nossa produção visual se traduz através dos diferentes locais que OLD 23 visitamos para produzir nosso trabalho. Apesar disso, sempre buscamos uma produção que emocione, seja para um editorial, uma propaganda ou um projeto pessoal. O mercado de fine art valoriza o ato de colecionar e o discurso do trabalho, valorizando a estética, enquanto o editorial - revistas e jornais buscam agregar valor informativo à imagem. As agências de propaganda parecem buscar uma produção e visão consistentes, além de um vasta reputação profissional.

Como você escolhe suas pautas? Vocês recebem encomendas de clientes? Geralmente clientes editoriais nos ligam com pautas com local e tempo pré definidos. Nós trabalhamos com editores da maneira que nossa agenda permite, mas estamos sempre tentando planejar nossos projetos pessoais e oferecendo idéias para clientes que acreditamos que irão se beneficiar com o apoio à história.

Nossa produção visual se traduz através dos diferentes locais que visitamos para produzir nosso trabalho, apesar disso, sempre buscamos uma produção que emocione, seja para um editorial, uma propaganda ou um projeto pessoal.


Como uma entidade estamos simultaneamente trabalhando com impressões em fine art, pautas editoriais, comissões de arte, exposições, propagandas e vendas em bancos de imagem enquanto buscamos bolsas de incentivo e novas maneiras criativas de bancar nossa produção pessoal. Como você acha que a realidade de um sujeito é traduzida nas imagens produzidas pelo LUCEO? Sabemos que toda fotografia é uma escolha - de quadro, exposição, etc - e que muitas vezes o fotógrafo espera que a cena ou o espaço se arranjem para produzir uma imagem melhor. Como isso interfere na apresentação da informação e da realidade específica que você está tentando apresentar? A produção fotográfica dos membros do LUCEO lida com uma realidade muito subjetiva mas que é unida pela busca por uma ressonância emocional dentro de uma situação específica.

Todos nós buscamos abordar as pessoas que fotografamos com respeito e acreditamos que isso permite que nós sejamos melhores receptores para imagens emocionantes e viscerais. Nós aprendemos a nos adaptar ao ambiente em que nos encontramos e a construir nosso processo para refletir a realidade com que somos confrontados. OLD 24


Cidades Fernanda Coutinho “Saber orientar-se numa cidade não significa muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se perde numa floresta, requer instrução. Nesse caso, o nome das ruas deve soar para aquele que se perde como o estalar do graveto seco ao ser pisado, e as vielas do centro da ciOLD dade devem refletir as horas do dia tão nitidamente quanto um desfiladeiro. Essa arte aprendi tar25 diamente; ela tornou real o sonho cujos labirintos nos mata-borrôes de meus cadernos foram os primeiros vestígios. Não, não os primeiros, pois houve antes um labirinto que sobreviveu a eles” “Tierganten” - Walter Benjamin Os labirintos urbanos são recorrentes nas imagens produzidas por Fernanda Coutinho. A fotógrafa, de 28 anos, formada em História e mestranda em Educação, encontra na cidade e nos seus elementos (habitantes, arquitetura, ruas, trânsito e caos) uma fonte inspiradora. Nesse ensaio são apresentados imagens das cidades de Belo Horizonte (2008 - 2010), Rio de Janeiro (2009), São Paulo (2010) e Recife (2010).


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O que te levou a escolher estas cidades para desenvolver seu trabalho?

Quanto pesa nas fotografias a escolha dos espaços? E dos personagens?

O ensaio é fruto de várias viagens que fiz ao longo dos dois últimos anos. Na verdade, a questão não é o que me levou a escolher as cidades, mas sim o que levou a selecionar as imagens produzidas. Adoro o tema CIDADE em suas diversas dimensões. Além dessas “grandes” cidades, tenho feito de outras, pequenas, do interior de Minas também, estado onde moro. Essas específicas me fazem recorrer ao labirinto pronunciado por Benjamim, pois os locais fotografados podem ser reconhecidos por quem se “perde” na cidade ou quem circula por ela. Não quis mostrar os pontos turísticos ou referências, ao contrário, o que não está tão visível aos olhos dos transeuntes. Em alguns casos, a imagem poderia ter sido feita em qualquer lugar, mas o bom observador sabe exatamente de onde foi tirada.

Os personagens de minhas fotos, na maioria das vezes, são pessoas comuns. Alguns nem se percebem fotografados, outros posam quando veem a câmera e alguns posam, quando peço. E isso é muito instigante, porque acabo estabelecendo diálogo com pessoas, simplesmente por estar fotografando. Apesar de nesse ensaio não aparecer, OLD gosto muito de fazer retratos. 30 Os locais tem um peso na escolha, claro. Mas não são fundamentais. Porque não viajo com a finalidade de fotografar, mas por gostar, sempre carrego minha câmera. Assim, as fotos foram produzidas do seguinte modo: Rio e São Paulo - férias, Recife - “exílio” acadêmico, Belo Horizonte - cidade onde resido. Qual a importância para você de fotografar o Brasil? Não penso em algo como: gosto de registrar


o Brasil. Por acaso, essas cidades são brasileiras, mas poderiam ser Barcelona, Buenos Aires, Paris... a CIDADE é um tema que está em mim. Tenho umas fotos de Paris, antigas... estive lá há 4 anos, quando estava começando a aprender fotografar, mas as fotos de lá estão escondidas, ainda não divulguei. Quem sabe em uma outra oportunidade apresentarei fotos de cidades estrangeiras. OLD 31

Você usa cor e preto e branco em seu ensaio. Como você acha que essas duas linguagens se comunicam?O quão importante é a pós produção para sua linguagem fotográfica? Vou responder primeiro sobre pós-produção, porque ela está relacionada com a cores. Pra mim a pós-produção é um processo fundamental na fotografia digital. Não que eu acredite que a fotografia digital comprometa a imagem, mas eu vejo esse processo como

uma revelação. E é nesse processo que dou cor às fotos. Não as tiro preto e branco, elas se tornam preto e branco. Faço vários testes para chegar no tom desejado. Algumas vezes, acontece de quando acabo de clicar, imagino como serão os tons ou o que irei alterar. Mas isso não é tão previsível. Aliás, a fotografia pra mim é muito instintiva. Já fiz cursos, estudo um pouco, mas vejo como uma forma de me expressar. De escrever meus registros sobre o mundo. A mistura de cores e efeitos dialogam o tempo todo no que poderia ser chamado de “meu trabalho”. Que fotógrafos influenciaram este trabalho? Tenho alguns fotógrafos que me influenciam, não só nesse ensaio, mas também em outros que tenho desenvolvido: Cartier Bresson, Pierre Verger, Diane Arbus, Otto Stupakoff, Arthur Omar e outros. Além disso, cinema, literatura e artes plásticas são fontes inspiradoras.


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Mande seu portfolio para revista.old@gmail.com



Unindentified Woman. CC


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