OLD Nº 28

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Nยบ 28 Dezembro de 2013


Revista OLD Número 28 Dezembro de 2013 Equipe Editorial Direção de Arte Texto e Entrevista

Capa Fotografias

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Felipe Abreu Camila Martins, Felipe Abreu, Juliana Biscalquin, Luciana Dal Ri e Tito Ferradans Felipe Enger Felipe Enger, Leandro Pena, Lucio Adeodato, Marcio Isensee e Sá e Selva SP

Entrevista

Lucas Simões

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revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold @revista_old www.revistaold.tumblr.com

Parceiros


06 08 10

Livros Pacotão Natalino Exposição Retrospectiva OLD

22

Selva SP Especial

34

Felipe Enger Portfolio

46

Leandro Pena Portfolio

58

Lucas Simões Entrevista

66

Lucio Adeodato Portfolio

80

Marcio Isensee e Sá Portfolio

92

Ultrapassagem Coluna

94

Fissuras Coluna

34

46

66 36

58

80


É pessoal, mais um ano que chega ao fim, sempre com a impressão de que cada ano passa mais rápido do que o anterior. É muito engraçado como isso acontece, mas no fim acho que é uma boa coisa, quer dizer que estamos fazendo tantas coisas interessantes, investindo tempo em tantos novos projetos, que o tempo passa voando. Aqui na OLD sempre é assim. Estamos sempre pensando na próxima mudança para deixar a revista melhor. As próximas já estão no forno, logo vocês ficam sabendo. Enquanto as anunciadas mudanças não chegam, vamos falar dessa edição especial que fecha nosso glorioso 2013. Nós decidimos fazer na nossa sessão de serviços um pequeno guia de presentes e programas de final de ano, falando em livros, exposições e feiras fotográficas. Encontramos muito coisa boa, algumas começando no dia do lançamento da revista, então fique ligado! Além disso, temos mais dois conteúdos especiais: uma retrospectiva com 18 fotógrafos que já passaram pelas nossas páginas e com a nossa equipe, respondendo o que rolou de mais interessante nesse ano que passou. Também apresentamos um portfolio especial, do coletivo SelvaSP, que vem transformando a fotografia de rua em São Paulo, trazendo um olhar fresco e marcante para esse ramo da fotografia. Os nosso quatro tradicionais portfolios contam com Felipe Enger, Leandro Pena, Lucio Adeodato e Marcio Isensee e Sá. São trabalhos que tem um tom intimista, que trabalham olhando para o fotógrafo ou se deleitando dentro de seu acervo.

A entrevista que encerra nosso ano também é especial. Pela primeira vez a OLD não entrevista um fotógrafo, voltando sua atenção para um artista plástico que tem uma relação especial com a imagem: Lucas Simões. Essa entrevista é especial pois é um desejo nosso de continuar expandindo nossos temas fotográficos, buscar novos pensamentos, que estiquem os limites da fotografia, que tragam novas relações com a imagem, com sua produção e com sua apresentação final. Para encerrar o último editorial do ano da maneira mais tradicional possível, deixo vocês com nossos desejos de final de ano: desejamos um 2014 cheio de trabalho, produção e fotografias e especialmente um ano de novos pensamentos, estudos e de novas possibilidades. Nos vemos em 2014!

Felipe Abreu


Danish christmas/ Sven T端rck (1897-1954)


LIVROS

MAGNUM CONTATOS, VÁRIOS AUTORES

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Este foi provavelmente o livro de fotografia mais falado, mais comprado e mais presenteado dos últimos tempos. Já que estamos no mês do Natal, não custa nada deixar essa sugestão, para você pedir ou dar de presente. Este livrão, lançado no final de 2011, reúne várias folhas de contatos dos grandes fotógrafos da Magnum. A publicação é um marco porque nunca antes tivemos acesso ao material não editado desses mestres da fotografia do século XX. Com esse livro o aprendizado sobre o processo de criação e edição de cada fotógrafo é imenso. Em Magnum Contatos estão algumas das mais marcantes fotografias produzidas pela agência. São imagens que marcaram a política e a cultura do século XX. Nestas páginas o leitor-fotógrafo consegue entender como cada um dos mais de 70 fotógrafos que participa do livro chega às suas grandes e icônicas fotografias. Este é o tipo de livro que todo fotógrafo com desejos de ser grande na fotografia de rua precisa ver e rever, o máximo de vezes possível. Há também a edição de colecionador do livro, que vem com prints numerados de alguns dos fotógrafos apresentados no livro, com um valor um tanto mais salgado. Magnum Contatos é a nossa primeira dica de presente de Natal fotográfico. A segunda está na página ao lado! Disponível nas principais livrarias do país Valor médio: R$ 190,00 507 páginas.


LIVROS

O FOTÓGRAFO, DIDIER LEFÉVRE Este é o primeiro não fotolivro a aparecer nessa sessão da OLD. Mas para a saga de O Fotógrafo vale abrir uma exceção. A graphic novel conta em três volumes as dificuldades das missões dos médicos sem fronteiras no Oriente Médio, acompanhados pelo fotógrafo francês e autor do livro, Didier Lefévre. A publicação é muito marcante pela mistura entre desenho e fotografia. A série é totalmente baseada na saga de Lefévre por Irã e Iraque enquanto acompanhava um time de médicos. O Fotógrafo funciona como um diário visual do fotógrafo francês, que fotografou muito e desenhou aquilo que não tinha fotografado. Além da bela história e do relato sobre as dificuldades de se fotografar em zonas de conflito, os 3 livros da série são esteticamente muito apurados. Tanto as fotografias quanto os desenhos do autor são muito bons, envolvendo o leitor na história, especialmente os leitores-fotógrafos. Esta é nossa segunda dica para o Natal fotográfico. Aproveite para dar ou pedir um desses dois livros tão essenciais para uma biblioteca fotográfica.

Disponível nas principais livrarias do país Valor médio por Volume: R$ 50,00 112 páginas

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EXPOSIÇÃO

PACOTÃO DE EXPOSIÇÕES EM SÃO PAULO Como estamos imersos no clima natalino, não conseguimos nos contentar em falar de somente uma exposição neste mês. Vamos falar de 4!

Como estamos neste clima de edição especial, com muitas dicas e novidades, nós não podíamos deixar a nossa página de exposições de fora dessa! Neste mês vamos comentar alguns eventos e exposições que acontecem em São Paulo neste mês de Natal. Primeiro, vamos começar pelo mais urgente. Começa hoje e vai até OLD 08 quinta-feira a Feira do Livro da USP. O evento, que já chega à sua décima quinta edição, reúne várias editoras nacionais e tem como proposta a venda de livros com no mínimo 50% de desconto. Entre as mais “fotográficas” estão a Cosac Naify e o Instituto Moreira Salles. A Feira é sempre um marco nos finais de ano na USP, então se prepare para um lugar cheio de gente. Mas, se você quer aumentar a sua biblioteca com preços bem mais baixo do que o normal, vale o sacrifício e as cotoveladas. Seguindo: nossa segunda dica de Dezembro é a exposição DOC DEZ, que tem sua festa de abertura hoje na DOC Galeria, na Vila Madalena. A mostra funciona como bazar e retrospectiva, apresentando trabalhos de todos os artistas representados pela casa, com prints à venda por preços que variam entre R$ 500 e R$ 5.000. Entre os fotógrafos participantes estão Mauricio Lima, Ricardo Labastier e Juan Esteves. A mostra DOC DEZ ocupa as paredes da galeria até o dia 10 de Janeiro, então aproveite as próximas semanas para garantir seus presentes fotográficos de Natal. Agora que já falamos de compras culturais de Natal, nos restam duas

dicas para este final de ano. A primeira é a exposição Autorretrato de Alberto García-Alix, no SESC Consolação. A mostra do fotógrafo espanhol faz parte do PhotoEspaña e apresenta uma série de imagens em PB de García-Alix, destacando sua relação com a contracultura e com os motoqueiros espanhóis. Suas imagens tem uma técnica e composições clássicas, mas destacam temas que entram em conflito com essa estrutura visual, como o sexo e as drogas. Este embate entre estrutura e tema fazem da obra de GarciaAlix uma das mais importantes da sua geração. Para encerrar nosso pacotão natalino, apresentamos a exposição Pessoas da Lituânia, de Antanas Sutkus, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A série de 35 imagens apresenta retratos e momentos cotidianos de sua terra natal. Boa parte das imagens ainda não foi apresentada ao público, o que traz grande importância para a mostra na capital paulista. As imagens PB de Sutkus apresentam sem grandes pudores a vida na Lituânia sob o regime comunista. Sutkus ignorava as imposições do regime e produziu quase um milhão de fotografias durante o período, que só começaram a ver a luz do dia após a queda do regime, em 1991. Nossas dicas culturais estão espalhadas pela cidade em diversas datas e horários, então fique ligado!


Alberto GarcĂ­a-Alix


Retrospectiva OLD 10

Nós sempre gostamos de ter novidades para vocês na edição de Dezembro, para fechar o ano com um clima especial. Neste ano nós convidamos os fotógrafos que já passaram pelas páginas da OLD a nos ajudar com uma retrospectiva fotógrafica de 2013. Fizemos um pequeno questionário para saber o que passou de mais legal neste ano e o que eles esperam que aconteça em 2014. Foram 18 respostas que ajudam a criar um pequeno panorama da fotografia em 2013. Além do nossos fotógrafos, também fizemos uma pequena retrospectiva da OLD, que você encontra no final da matéria.

FELIPE ABREU / SÃO PAULO FELIPEABREU.CARBONMADE.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Começar o processo de finalização do meu ensaio Acabou-se o Mundo. Foi muito bom dar uma forma final ao trabalho e começar a divulgá-lo. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? BES PHOTO no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? É difícil falar um só. Mas deve ter sido Rota Raiz, do fotógrafo Pedro David. O que está te deixando ansioso para 2014? Algumas mudanças que estamos planejando para a OLD, que ainda não posso revelar, e o andamento do meu novo projeto fotográfico, chamado são.


COLETIVO ÁGATA / SÃO PAULO

TITO FERRADANS / SÃO PAULO

EM CONTRUÇÃO

TFERRADANS.COM.BR/BLOG

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Esse ano o Ágata foi selecionado para compor o grupo de residentes do LABMIS 2014, uma residência em fotografia no MIS,onde participamos como críticas.

Minha pesquisa de TCC, com/sobre lentes anamórficas

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

A exposição Genesis, de Sebastião Salgado, no SESC

Do artista alemão Martin Kippenberguer, a exposição chamada Sehr Gut/ Very Good no Hamburguer Bahnhof - Museum fur Gegenwart em Berlim.

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? De Saul Leiter, fotógrafo americano o livro “Early Color”. O que está te deixando ansioso para 2014? O que nos deixa ansiosas para 2014 é a continuação da residência no MIS e, principalmente, o lançamento do site do coletivo, ainda no primeiro semestre de 2014.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Welcome Home, do Gui Mohallem O que está te deixando ansioso para 2014? Estou ansioso para desenvolver projetos mais práticos – e menos testes - de fotografia e vídeo, utilizando as anamórficas que tanto estudei.

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ALEJANDRO ZAMBRANA / MADRID

ALINE GUARATO/ SÃO PAULO

ALEJANDROZAMBRANA.COM

PARAISOS-SUPERFICIAIS.TUMBLR.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Foi o projeto “Marés – Um Olhar Sobre Zé Peixe” que desenvolvi junto ao Trotamundos Coletivo, no qual fizemos uma homenagem ao eterno prático Zé Peixe, recriando o seu universo a partir de depoimentos, entrevistas e matérias sobre a sua vida e profissão. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? Geórgia”, de Cristina García Rodero. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? O livro “Afronautas”, de Crisina de Middel, e fiquei bastante impressionado com a proposta de narrativa que o livro dá ao ensaio. O que está te deixando ansioso para 2014? Perspectiva de dar sentidos alguns trabalhos que estão em fase embrionária e continuar com outros que desenvolvo há alguns anos.

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Só poderei eleger em 2014, que esse ano ainda não terminou e dá pra fazer muita coisa ainda (risos) . Qual a exposição que você mais gostou neste ano? Jacques Henri-Lartigue - A vida em movimento, no IMS, Rio de Janeiro Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? Vi muito livro de pintura esse ano, talvez pelo interesse que tenho pelo trabalho da cor, talvez porque ande achando a fotografia meio chata nesses tempos; me parece que tem mais fotógrafo que fotografia joguem pedras, por favor (risos). O que está te deixando ansioso para 2014? Encontrar um modo de continuar vivendo e trabalhando, no que considero importante e produtor de sentido, de forma ética e livre, dentro dessa sociedade que se mostra cada vez mais opressiva e conservadora em relação a autonomia dos indivíduos e de seus discursos.


BYRON PRUJANSKY / RIO DE JANEIRO

DANIEL VON / SÃO PAULO

WIX.COM/BYRONBARRETO/BABILONIA

FB.COM/DANIELVONPHOTO

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? O registro das manifestações no Rio de Janeiro. É um trabalho que me faz sentir realizado como fotógrafo. Me sinto útil fotografando manifestações, sei da importância que essas fotografias ganham e como elas ajudam a modificar o pensamento político no nosso país. Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Experiências com fotojornalismo autoral. Exemplos: http://fkshngoiania.tumblr.com http://pntspjuaz.tumblr.com http://pa-ra-ty.tumblr.com

Gênesis, exposição do Sebastião Salgado.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Larry Clark e Cristina de middel - Afronauts

MAGNUM-Contatos. Foi uma aquisição maravilhosa, indico pra qualquer um que se interesse por histórias de fotografias importantes. O que está te deixando ansioso para 2014? 2014 será um ano muito importante pra todos os fotógrafos que trabalham com mídia ativismo e documentação. O Rio de Janeiro promete continuar sendo palco de grandes acontecimentos e tenho certeza que vai render boas fotos.

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? Welcome home, de Gui Mohallen O que está te deixando ansioso para 2014? Certamente a situação politico/social que vivemos.


EVNA MOURA / BELÉM

FÁBIO STACHI / SÃO PAULO

CARGOCOLLECTIVE.COM/EVNAMOURA

FABIOSTACHI.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? A série “Afeto Orgânico” selecionada este ano com algumas imagens no 5º Salão Sesc Universitário de Arte Contemporânea e a continuação da pesquisa com a série “Translocas” ao qual fotografo a festa da Chiquita e que foi publicada na OLD 23º Qual a exposição que você mais gostou neste ano? A exposição “Entreato da Luz” de Luiz Braga, em Belém. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? O livro do Miguel do Rio Branco, o qual sempre me emociona. O que está te deixando ansioso para 2014? A perspectiva de mudar de cidade, fazer uma longa viagem pela América do Sul e consequentemente conhecer novas paisagens anda mexendo bastante comigo, fico curiosa com os novos caminhos que posso encontrar. Além da ânsia de colocar em prática alguns projetos que foram articulados ao longo de 2013 e que finalmente poderei colocar em prática.

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Não realizei muitas coisas esse ano. 2013 foi um ano para enterrar projetos antigos, estudar muito e definir melhor o conceito do meu trabalho. Trabalhar com novas mídias também foi extremamente excitante, como fiz através do vídeo arte Dorsum. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? Sebastião Salgado “Genesis“ Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? Saudek, editora Taschen O que está te deixando ansioso para 2014? Estou iniciando os estudos para um novo projeto envolvendo flores e ossos impressos sobre um suporte praticamente inovador, vai ser lindo! Minha meta para 2014 é expor isso juntamente com alguns trabalhos da minha trajetória fotográfica.


HENRIQUE MARQUES / BELO HORIZONTE

MARCO A. F. / SÃO LEOPOLDO

EM MANUTENÇÃO

MARCOAF.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? O projeto Emergência. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? Veneza, do artista Paulo Nazareth. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? O mais divertido de realizar foi a ‘Viagem pela linha invisível’, que fiz em parceria com meu amigo e ex-professor Eduardo Veras. Durante duas semanas percorremos toda a extensão da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina e o Uruguai para criar uma série de narrativas sobre a região, eu fotografando e ele escrevendo textos. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? ‘Faca’ da Raquel Uendi, dentro da III Mostra de Fotografia do CCSP.

Paulo Nazareth – PAULO NAZARETH, ARTE CONTEMPORANEA/ LTDA

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

João Castilho – HOTEL TROPICAL

‘Lick Creek Line’ do Ron Jude, publicado em 2012 pela MACK. Desde que comprei esse livro volto constantemente a ele, e cada vez descubro algo diferente.

O que está te deixando ansioso para 2014? Nossa resistência. As manifestações..

O que está te deixando ansioso para 2014? Achar um lugar onde não tenha televisão e onde as pessoas não saibam quem é o Neymar, para eu me esconder durante a Copa do Mundo.


MARCOS SEMOLA / RIO DE JANEIRO

MAURA GRIMALDI / SÃO PAULO

ABOUT.ME/MARCOSSEMOLA

MAURAGRIMALDI.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Mind your Step, www.s4photo.co.uk/mindyourstep

Poderia citar o trabalho “Observatório”, produzido na ocasião do primeiro Festival Internacional de Fotografia de Belo Horizonte.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Doisneau no Centro Cultural Justição Federal, seguida Antanas Sutkus no mesmo CCJF. Incríveis e inspiradoras para alimentar minha estética fotográfica.

A exposição de Oskar Fischinger (1900-1967), pioneiro da animação e do cinema abstrato, no EYE Film Institute Netherlands em Amsterdã.

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Magnum Contatos

“Fautographie : Petite histoire de l’erreur photographique” de Clément Chéroux e “Bas Jan Ader: Please Don’t Leave Me” .

O que está te deixando ansioso para 2014?

O que está te deixando ansioso para 2014?

Como irei dar continuidade pelo quinto ano consecutivo ao projeto coletivo, virtual, inclusivo e gratuito, Mosaico Minuto, sem perder sua essência sendo, ao mesmo tempo, inovador.

Infelizmente não estou pensando tanto nas próximas exposições que estão por vir ou lançamentos de publicações de terceiros. Estou de fato mais preocupada com a viabilização de novos projetos, e questões mais pragmáticas e burocráticas que também fazem parte do dia-a-dia dos artistas.


RAFAEL M. MILANI / SANTANA DE PARNAÍBA

RAFAEL AZEVEDO / CURITIBA

RAFAELMILANI.TUMBLR.COM

FB.COM/RAFAELAZEVEDOFOTOGRAFIA

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

A exposição “Encontros Encantos”, no MIS - SP.

Gostei muito do projeto que ainda estou realizando, onde tiro fotos de pessoas com seus objetos de infância.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano? Não fui em tantas exposições quanto gostaria, mas acho que a mais interessante foi a FotoBienal do MASP. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? “Francesca Woodman”, de Chris Townsend (Phaidon). O que está te deixando ansioso para 2014? A possibilidade de conhecer a Amazônia no período de cheia dos rios.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano? “Nos jardins do Éden” de Christian Cravo, foi exposta na caixa cultural de Curitiba, gostei do tipo de retrato feito por ele. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou? Com toda certeza o Genesis do Sebastião Salgado, é maravilhoso... O que está te deixando ansioso para 2014? Espero poder viajar para o Tibet, quero fazer uma série lá, afastado de todos.


RAFAEL RONCATO / SÃO PAULO

SOLANGE VALLADÃO / SALVADOR

FLICKR.COM/RAFAELRONCATO

SOLANGEVALLADAO.BLOGSPOT.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Fotografei um nu de Laerte Coutinho, em três ensaios diferentes, porém conectados uns aos outros. Parte das imagens, as mais pudicas sairão pela Rolling Stone, mas o resultado pretendido é um livro sobre esse grande cartunista.

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? “Conversa entre janelas” que foi uma exposição de fotografia analógica p&p, filmes 35mm, feitas através de diversos tipos de janelas, físicas e conceituais.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Por mais que estejamos pensando em fotografia, acho que a de Lucian Freud, no Masp, foi a que mais gostei.

“Circuito das Artes” em especial os trabalhos de fotografia contemporânea que foram apresentados.

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Sequências, do Otto Stupakoff. Gosto muito das fotos dele, considero uma referência em meus trabalhos atuais com retrato

“Tudo sobre fotografia” da Editora Sextante, que se tornou uma obra de consulta e estudos constantes.

O que está te deixando ansioso para 2014?

O que está te deixando ansioso para 2014?

A vontade de produzir cada vez mais e conseguir que isso seja visto por mais pessoas. Vejo 2014 como o momento para melhorar, tirar muitas coisas das gavetas da mente e passar para o físico.

Concluir meu curso de pós-graduação em Fotografia e apresentar meu trabalho final com a proposta de um livro e uma exposição e conseguir realiza-los.


SUSI GODOY / SÃO PAULO

TIAGO COELHO / PORTO ALEGRE

AFOTOGRAFIAMECONTINUA.BLOGSPOT.COM

TIAGOCOELHO.COM.BR

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano?

Projeto DUAS, em parceria com minha irmã, onde eu fotografo e ela posa.

Ainda estou nele! Realizando a continuação do “A Voz da Roupa” projeto que iniciei, juntamente com Régis Duarte, no ano passado.

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Qual a exposição que você mais gostou neste ano?

Genesis, Sebastião Salgado

“O Cubo” do Paraty em Foco.

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

O poder da arte, Simon Schama

Afronauts, Cristina de Middel

O que está te deixando ansioso para 2014?

O que está te deixando ansioso para 2014?

Encaro como inicio de um novo ciclo, onde são novos projetos e ambições, e também a continuação dos antigos que o ano que termina entrega. Farei uma viagem para estudar fotografia e isso é uma das coisas que mais me fazem querer que esse novo ciclo se inicie logo.

Ir outra vez para o Encuentros Abiertos, na Argentina.


VINICIUS FERREIRA / CURITIBA

WENDERSON FERNANDES / BELO HORIZONTE

ETNOFILMES.COM

WENDERSONFERNADES.COM

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? O grande projeto deste ano foi Maria, que pode ser conferido no meu site. Realizei ele no workshop do André Liohn que participei em Porto Alegre, minha cidade natal. Frequentei durante cinco dias a casa da Maria, uma experiência sem igual. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? A exposição Gaiety is the most outstanding feature of the Soviet Union na Saatchi Gallery, talvez o melhor exemplo de como se faz curadoria. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Qual o projeto fotográfico mais legal que você realizou neste ano? Temporada de Compras, um projeto que realizei durante a maratona fotográfica do FIF - BH, que apesar do pouco tempo de duração, produziu um resultado muito consistente. Qual a exposição que você mais gostou neste ano? Terreno, de Jackie Nickerson, apresentado durante o FIF - BH. Um trabalho absurdamente simples, mas forte ao extremo. Qual o livro fotográfico que você viu ou comprou neste ano que mais te marcou?

Magnum Contatos e Magnum Revolution.

Redheaded Peckerwood, do Christian Patterson. Um livro que lança sombras sobre um dos fatos mais intrigantes da história norte americana.

O que está te deixando ansioso para 2014?

O que está te deixando ansioso para 2014?

Pretendo começar a realizar uma pequena parte do grande projeto da minha vida, que é fotografar a América Latina. E vou começar pelas fronteiras entre Brasil, Uruguai e Argentina.

Os novos caminhos e possibilidades que estão se abrindo para minha produção. A transição de suportes, a ruptura com padrões clássicos de produção e circulação de obra.


Estas são as capas das 12 edições da OLD de 2013. Neste ano nós publicamos mais de 45 fotógrafos, entrevistamos grandes fotógrafos brasileiros e transformamos a cara da nossa revista, na comemoração do nosso segundo aniversário.

Em 2013 continuamos crescendo, atingindo marcas cada vez mais especiais! Temos mais de 10.000 fãs no Facebook, mais de 15.000 leitores e mais de 1 milhão de visualizações em nossas revistas. Que venha 2014!!


SELVA SP A fotografia de rua teve um peso imenso na cultura do século XX. Cartier Bresson, Walker Evans, Robert Frank, Doisneau, todos eles e milhares de outros fotógrafos de renome saiam às ruas para buscar inspiração. Era na vida cotidiana das metrópoles em OLD intenso crescimento que eles encontravam o foco necessário para 22 a produção de suas fotografias. Nas últimas décadas os nomes de ponta da fotografia abandonaram essa abordagem visual do mundo. Em muitos momentos buscaram a repetição, o subjetivo e o interno, transformando a cara da fotografia que ocupa museus, galerias e o imaginário dos fotógrafos. Além dessa mudança na produção fotográfica, um de seus principais ramos, e um dos mais próximos à estética da fotografia de rua, está passando por um período de extrema mudança. O fotojornalismo ainda não encontrou um caminho preciso na era digital, na era que há um excesso absurdo de imagens sendo produzidas, ainda não se sabe para que lado as imagens jornalísticas irão caminhar. Dentro deste turbilhão de mudanças um grupo de jovens fotógrafos paulistanos decidiu encarar de frente a rua, ocupá-la constantemente e focar sua produção nela. Desse desejo de produzir uma fotografia que falasse sobre a cidade, que fosse produzida em seus espaços públicos, surgiu o coletivo SelvaSP. O grupo é formado por 12 fotógrafos e tem uma produção intensa.

Os ensaios produzidos variam entre a cobertura de grandes eventos e a visão do grupo sobre a cidade de São Paulo. A maioria das imagens apresenta uma visão surreal sobre a capital paulista, buscando o que há de mais forte nas ruas da cidade. Apesar do trabalho ser produzido por tantas cabeças diferentes, há uma unidade visual muito interessante. Talvez pela rua, talvez pela visão muito coesa do grupo sobre os porquês de sua produção. “O paradoxo entre perambular a esmo e, ao mesmo tempo, estar atento a todas as possibilidades do acaso, foi quase extinto dentro de uma sociedade onde tudo é arriscado e perigoso, com seus habitantes vivendo cada vez mais desconfiados da cidade, esta que passa a servir como mero lugar de passagem.” O manifesto do SelvaSP apresenta de forma clara a vontade de transformação do grupo. Fotografar a rua não é só uma opção estética, é uma opção ideológica. É muito bom ver um grupo de fotógrafos preocupado em registrar as transformações da cidade. Em fotografar novamente os caminhos e os hábitos de um metrópole, porém sem buscar um retrocesso estético, mas sim trazendo uma cara contemporânea à fotografia de rua. É muito importante ver esta produção de nossos espaços de convivência e o resgate de sua importância, como objeto da arte, mas principalmente como local onde a vida de uma cidade se constrói.


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Felipe Enger Introspecção



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Felipe Enger apresenta seu ensaio Introspecção, uma viagem para as suas memórias, um passeio fotográfico para dentro do seu autor. Em suas imagens, o ensaio cria uma relação profunda entre os personagens e a natureza, alegorias para as memórias de Felipe. São imagens simples e tocantes, que nos transportam através dessa jornada pela memória do fotógrafo. Conte um pouco sobre a história por trás de introspecção. Introspecção foi uma série que eu desenvolvi durante uma viagem para a Suécia. Meu avô era sueco e eu vivi minha primeira infância lá, minhas primeiras memórias são de lá. Então tenho um vínculo emocional muito forte com o país. Minha ideia então era apresentar esse vínculo através de imagens.

Instrospecção constrói um caminho muito bonito entre olhar para si e olhar para a natureza. Como você construiu essa associação, entre o que é interno do ser humano e o que está na nossa frente, na natureza? Eu acho muito interessante trabalhar com conceitos abstratos por meio de uma forma de expressão tão concreta como a fotografia. Em Instrospecção, eu queria apresentar um estado de espírito no qual eu me encontro, sempre que eu vou para a Suécia. São várias lembranças, sons, cheiros, sabores, imagens, que remetem à minha infância, que eu queria traduzir em imagens.


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Há uma personagem recorrente em Introspecção e alguns que aparecem esporadicamente. Qual é o universo que você está apresentando neste trabalho? Qual a sua relação com os personagens em quadro? Neste trabalho eu apresento um universo particular e os personagens usados ajudam a construir visualmente o estado de espírito que queria apresentar. Como costumam dizer, toda fotografia é um autorretrato. Então, neste caso, por se tratar de um trabalho tão pessoal, resolvi usar membros da minha família como personagens para representar memórias minhas.

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Leandro Pena NuDesFocados



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NuDesFocados é um ensaio de experimentação. Leandro Pena buscou a relação entre o nu e o mistério, usando de um recurso técnico da fotografia para amplificar esse laço. Suas imagens são em alguns momentos sensuais, em outros íntimas, desenvolvendo a intrincada relação entre o nu e a fotografia. Leandro, conte pra gente como você começou na fotografia. Como surgiu seu interesse pela fotografia de nu? Meu contato com fotografia vem desde criança. Meu pai e meus tios sempre gostaram de fotografia, e por muitos anos meu pai utilizou uma Yashika Me-1. Albuns, livros de fotografia, monóculos e negativos estavam sempre próximos a mim. Alguns anos depois, na faculdade, em 2001, entrei pela primeira vez em um laboratório fotográfico, e pude revelar e ampliar as fotos que fazia. Depois de um tempo, em 2004, comprei minha primeira digital amadora, e comecei a fotografar em passeios/saídas fotográficas e em shows. Meu interesse por fotografia de moda e pelo nu artístico foi surgindo, e

meu primeiro passo no nu artístico aconteceu em 2010, fotografando uma amiga. Mesmo com pouquíssima produção, o resultado me agradou, e desde então não parei de explorar esse estilo.


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Como foi a experiência de produzir este ensaio? Como você construiu o conceito por trás de NuDesFocados? Já estava pensando em algum ensaio que fizesse relação com a questão da “exposição parcial” que algumas pessoas fazem (se exibir sem mostrar o rosto, por exemplo), principalmente na internet. Durante esse período de estudo, surgiu a brincadeira com as palavras “nudez” e “desfoque” (NuDesFocados) e à partir daí adotei esse conceito para o projeto. Você acredita que o desfoque nas fotos ajuda na construção de um clima de mistério ou sensualidade? Essa era a intenção? Mais de mistério do que sensualidade. No início, a idéia não era transmitir sensualidade mas - além das formas que o corpo cria em algumas poses com o nível de desfoque - deixar esse ar de mistério e curiosidade, de fazer quem está observando a imagem perguntar quem/como é a pessoa retratada, o local, etc.

Ainda sobre o desfoque: você acredita que ele funciona também OLD como uma espécie de censura, escondendo o corpo nu que está 57 “atrás” dele? Acredito que sim porque, pelo menos até agora, não sofri nenhum tipo de denúncia por parte do Facebook em meu perfil, onde se encontram boa parte das fotos deste projeto (risos). Talvez ele funcione como uma espécie de barreira. Afinal, a nudez ainda é uma barreira, um tabu, e muitas vezes, mesmo sendo explorado de forma artística, é tratado com preconceito - não necessariamente por parte da pessoa, mas por parte das que estão ao seu redor, como amigos e familiares. Uma coisa interessante é que, durante este projeto, fotografei pessoas que não se sentiriam à vontade de fazer um ensaio de nudez convencional, mas que ficaram à vontade ao posar para este ensaio.


OLD ENT

LUCAS


REVISTA

SIMÕES


Lucas Simões é o primeiro artista plástico a ser entrevistado pela OLD. Nós sempre conversamos com fotógrafos e ainda não havíamos trocados ideias com um artista plástico que tivesse a fotografia presente em seu trabalho. A lógica por trás desta entrevista é esticar os limites da nossa fotografia, entender que não há censura na produção fotográfica, seja ela enquadrada como fotografia ou como artes plásticas. Lucas é um artista jovem, muito inovador e com um futuro que promete. Nossa conversa foi muito boa e espero que a leitura renda grandes frutos a todos vocês. Lucas, conte um pouco sobre o seu começo nas artes plásticas. Eu sou formado em arquitetura, mas já antes da faculdade eu me interessava por artes, por trabalhar com isso, fazer isso acontecer OLD de algum jeito. No fim eu acho que a minha formação de arquiteto 60 guiou os trabalhos que eu faço agora, não é exatamente arquitetura, mas está dentro do mesmo conceito para mim. Por muito tempo eu trabalhei com as duas coisas. É recente a minha opção de trabalhar somente com arte. Enquanto as duas coisas aconteciam em paralelo, uma coisa acabava catalisando a outra, então acho que foi uma boa prática produzir nas duas áreas em paralelo. Eu me mudei para São Paulo depois que eu me formei e já estava trabalhando como estagiário em um escritório de arquitetura e vi uma matéria em um jornal sobre a Galeria Emma Thomas, provavelmente sobre a sua primeira exposição, e eu organizei meus trabalhos e fui até lá mostrar, para ver se eles gostavam. Acabou dando certo e estou com a galeria até hoje. Você é artista plástico e usa a fotografia em vários momentos do seu trabalho, seja como suporte ou como meio de entrada para a sua produção. Você pode comentar um pouco sobre a importância da fotografia na sua produção?

Desde os meus primeiros trabalhos já tinha uma questão com a fotografia, mesmo que não aparecesse muito. Os primeiros desenhos que eu apresentei aqui em São Paulo eram nanquins em branco e preto, sempre baseados em uma fotografia. Então já tinha essa base fotográfica no meu trabalho. A fotografia me colocou um pouco em lugar de usar materiais que carreguem um significado. Então à partir das intervenções nas fotografias vieram as intervenções nos livros ou nos mapas, que eram todas materiais primas que já vinham com um significado e que após a minha intervenção ganhavam um novo sentido, então o primeiro contato com a intervenção sobre um objeto foi com a fotografia e o que me interessa na fotografia não é necessariamente a imagem, mas sim o papel, a cópia, a fotografia como objeto. Muitos trabalhos meus usam fotografias antigas, como suportes de memórias, trabalhando sobre o significado desse registro, que está se perdendo atualmente. Há cada vez menos fotografias impressas, se você quer guardar uma imagem hoje você guarda ela de um outro jeito. É um pouco sobre esse suporte antigo que eu acabo falando nos trabalhos mais recentes. Nos trabalhos que tem os retratos o objetivo final era tocar na impossibilidade de se fazer um retrato que comunique algo essencial de uma pessoa, por isso o trabalho se utiliza de uma série de retratos de uma mesma pessoa, em uma mesma situação, todos sobrepostos em um compacto, como se fosse possível resumir um período de tempo em uma única imagem. Tem também um outro trabalho que é uma série bem grande que se chama quase-cinema, que é uma vontade de transformar o cinema em matéria, construindo grandes montagens em trilhos. Elas são baseadas também em fotografias e tem uma repetição, um alongamento da imagem, já que cada fotografia é usada quatro vezes em cada escultura. O trabalho constrói uma grande panorâmica, que com o movimento do espectador é visto cada hora de um jeito. Você se sente influenciado por algum fotógrafo?


Não. Acho que me influencie mais o cinema, a literatura, outras formas e experiências de vidas do que o trabalho de alguém. Depois de ver uma imagem é difícil dizer que aquilo não te influencia, porque você a viu, a registrou, fica marcada em você, mas não tenho uma pessoa que eu vá sempre procurar e estudar, tanto na fotografia como em outras áreas da arte. Seus trabalhos costumam ter intervenções sobre uma base que já foi criada, seja por você, seja por outra pessoa. O quanto essa base é importante para definir a lógica do trabalho e como você define que tipo de intervenção será feita em cada obra? Cada trabalho acontece de um jeito. Por exemplo, no trabalho com os livros, que é uma série bem extensa, tem a minha relação pessoal com os livros, que é bastante intensa e também tem uma pesquisa inicial, para decidir se o suporte será interessante. Na primeira etapa do trabalho utilizei títulos sobre história da arte, sobre os mestres da pintura, etc. Em uma segunda etapa abordei catálogos de arquitetura, que tinham edição muito similares espalhadas por vários países, sempre tratando do trabalho de um arquiteto. Nesta etapa realizei intervenções simples, buscando transformar os livros em maquetes, que exemplificassem o trabalho do arquiteto em questão. Nessa série há uma grande relação entre o conteúdo do livro e o seu resultado final. Há também, em alguns momentos, comentários irônicos nas minhas esculturas. Em um de meus trabalhos recentes, que esteve em exposição no MAC neste ano, fiz somente um corte no livro, o que faz com que ele deixe de ser livro e se torne objeto, escultura. Me interessa muito quando você consegue resolver uma mensagem em uma ação bem sucinta. Tenho uma busca nesse sentido, porque acredito que a ideia fique mais forte quando a questão do manuseio é menos presente. Agora falando sobre a série Desretratos e Nostalgia. Como foi o

processo nestes dois trabalhos? Em Desretratos eu chamei alguns amigos próximos para me contar um segredo enquanto eu fazia os retratos. A ideia não era ouvir o segredo, era só fotografar, mas pra mim relações interessantes tem uma dose de mistério, de querer descobrir novas coisas sobre a pessoa, o segredo ficaria ali, mas seríamos íntimos na hora de captar aquelas expressões. A pessoa escolhia uma música para eu ouvir enquanto fotografa e de cada uma dessas sessões, que davam cerca de 200 fotografias, e desse pacote de imagens eu escolhia sempre 10 fotografias, de preferência as imagens mais diferentes entre si, para chegar em um resultado final mais interessante. Ao final da sessão de fotos eu perguntava para a pessoa se o segredo tinha uma cor. Se a resposta era positiva, eu tratava a imagem dando ênfase na cor apontada. OLD Com as imagens escolhidas eu desenhava padrões de recorte, 61 sendo que a primeira imagem era inteira e a última era quase só a borda e esse padrão garantia que todas as imagens aparecessem de alguma maneira na obra final. Cada padrão passa pela minha visão daquela pessoa, uma coisa mais subjetiva mesmo. Na série Nostalgia, das fotografias queimadas, nenhuma fotografia é minha. Todas eu me aproprio, sempre com autorização do fotógrafo, ou pego fotografias que tem direitos livres. Sempre há uma tarja de uma cor, impressa no mesmo papel que a fotografia ou do lado ou embaixo, que pra mim, funciona como uma forma de dizer que aquilo é uma imagem impressa em um papel, que ali já tem uma intervenção digital, que ela já não é mais uma realidade exatamente, é uma imagem que carrega uma sensação, então a ideia do queimado era sempre intervir sobre a possível sensação que essa fotografia causaria. Em alguns dos casos ela acaba queimando ou apagando o rosto da pessoa, a ideia aqui era de que se você apaga o rosto da pessoa você eventualmente acaba esquecendo o rosto que estava naquela fotografia. Acho que meus trabalhos tem sempre




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uma ligação com o momento que eu estou passando no momento em que os produzo e nesse caso não foi diferente. A fotografia tem um espaço cada vez maior dentro da arte contemporânea. Como você percebe esse movimento? Você considera que é a fotografia é hoje um dos principais meios de expressão dentro das artes plásticas? O que eu acho pessoalmente é que a fotografia, no geral, faz mais parte da vida de todo mundo e a arte não deixa de ser um reflexo disso, então é compreensível que ela comece a aparecer tanto e com tantas linguagens diferentes. Eu tenho um instagram, que é uma coisa um pouco estranha, que eu só fotografo moradores de rua. No começo algumas pessoas criticaram, falando que eu iria lucrar em cima da imagem daquelas pessoas e eu expliquei que não, não tinha a menor intenção de colocar aquelas imagens à venda. Não é porque eu usei um filtro que a imagem automaticamente se transforma em um trabalho de arte. Tinha uma crítica nesse sentido, porque em alguns momentos parece que qualquer coisa que passa por esse filtro do instragram se transforma em arte, que qualquer coisa que um artista produz é arte. Nessa hora a intenção desse instagram se tornou mais clara, de colocar uma imagem mais agressiva em um meio que só tem coisas bonitas e de embelezar uma imagem que é impossível de ficar bonita. Hoje temos essa visão da fotografia e da arte, que é legal em alguns momentos, que é de que qualquer um pode produzir arte, principalmente pela arte e pela fotografia estarem mais próximas de todos, mas nem sempre isso gera resultados interessantes. Não sei se eu diria que a fotografia representa o melhor meio de expressão contemporâneo, mas é isso: ela está muito próxima de todo mundo, então existe mesmo uma relação diferente com uma fotografia hoje em dia, que eu nem sei muito bem explicar como é, mas é muito rápido, muito fácil de acessar e se perdeu um pouco do

tempo, da impressão, da velocidade da fotografia. Não sei muito bem como isso vai acabar, mas acho que essa mudança aconteceu por a fotografia estar muito mais presente socialmente. O quanto é importante na sua produção experimentar, trabalhar com novas técnicas e formatos? É quase só sobre isso o meu trabalho. Não consigo fazer um trabalho que use a mesma técnica por muito tempo. As vezes quando eu faço uma apresentação do meu trabalho em uma palestra ou evento, algumas pessoas ficam até meio perdida, sem entender muito bem essa quantidade de mudanças. Eu gosto de experimentar novos materiais, usar coisas que eu nunca usei, mesmo sem intenção nenhum. Geralmente o processo é esse: eu encontro um material que eu considero interessante, trabalho com ele e vejo as OLD possibilidades que ele oferece para mim. Várias coisas não dão 65 certo, acho que 90% dos testes que eu faço dão errado ou não dão em nada. Quando eu encontro um novo suporte adequado, eu entro em um processo de ressignificar aquilo, de dar uma nova mensagem àquele material. Em cada trabalho eu uso um suporte que comunica bem em parceria com a mensagem que eu quero passar. A ideia é um pouco essa, pesquisar coisas nova e ver o que aquilo pode trazer como meio de comunicação. Por isso que eu faço arte, porque eu me divirto fazendo essas experiências.


Lucio Adeodato Negros Paroxismos



O ensaio Negros Paroxismos, de Lucio Adeodato, é uma viagem pelo acervo do fotógrafo, uma busca por construções temáticas e estéticas em comum, construindo um recorte do seu cotidiano. Suas imagens densas e escuras dão o ar de fantasia ao ensaio, que fica entre a memória e o sonho. OLD 68

Lucio, como surgiu o projeto de Negros Paroxismos? Como foi a produção das imagens que compõem o ensaio? O ensaio foi formatado em 2011, porém ele é composto por imagens captadas a partir de 2008 durante minha estada em três Estados brasileiros: Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. A motivação para a elaboração desse trabalho veio do desejo de identificar “linhas de força” que fossem representativas da minha produção fotográfica daquele período. Tais linhas me permitiriam compreender quais as características predominantes do conjunto de imagens extraídas do meu arquivo fotográfico. Foi dessa forma que, através da fotografia, comecei perceber como eu me relacionava com o mundo a minha volta, a partir das coisas às quais eu atribuía importância ao ponto de fotografá-las.

Para a edição desse trabalho, mergulhei a fundo no meu arquivo pessoal, composto por milhares de imagens. Visualizei uma a uma e fui estabelecendo grupos por afinidade temática e formal. A partir daí, cheguei a um núcleo bem reduzido de imagens e organizei esse material de modo a construir uma narrativa baseada em experiências próprias. Uma pequena parte do que resultou desse processo é apresentado aqui, nesse conjunto de doze imagens que incorporam simbolísmos e metáforas da vida cotidiana. Este ensaio foi um dos ganhadores do Prêmio Conrado Wessel em 2011. Qual é a sensação de receber um prêmio tão importante? Te dá mais confiança de que o trabalho está em um rumo correto? É bom ter seu trabalho reconhecido, seja qual for a área em que você atue. Foi uma honra receber um prêmio ao lado de grandes nomes da fotografia, da ciência e da cultura brasileira. Um prêmio como este é importante tanto pra quem já tem uma carreira consolidada quanto pra quem ainda está iniciando, como é o meu caso. Mas, o prêmio foi recebido sem apegos. A confiança no que faço trago interiormente, pois sempre realizo meus projetos pessoais com absoluta entrega e de maneira verdadeira. Sendo assim, o fruto dessas ações se dá de modo natural e expontâneo.


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As fotos desse ensaio tem uma grande intensidade visual, com conteúdos e temas marcantes, mas seu resultado final traz também uma certa calma, uma melancolia. Este embate é essencial para este ensaio? Sem dúvida. Tensão e equilíbrio são duas constantes dentro da minha produção. Neste trabalho especificamente, formado por um conjunto de imagens polissêmicas, tento comunicar uma tensão entre a realidade e a imaginação. Para isso, mesclo temas tradicionais da fotografia – paisagem, retrato, nu e natureza morta – com referências pessoais, buscando aproximar fatos íntimos a uma narrativa que extrapole a esfera individual, para que a obra ganhe um sentido mais amplo. Os focos de tensão, estabelecidos internamente nas imagens, foram adotados como estratégia criativa que se opõe à ideia de uma fotografia puramente decorativa e inexpressiva, distante das emoções do fotógrafo. Negros Paroxismos é um convite à abertura dos nossos sentidos, a vivenciar os limites entre o cotidiano e o extraordinário, o racional e o sensível, o real e a fantasia. Além da unidade temática, há também uma forte unidade estética no seu ensaio. Como foi a busca por essa construção? O quanto ela é essencial para traduzir a mensagem de Negros Paroxismos? A busca iniciou, como disse anteriormente, com um mergulho no meu acervo, constituído em sua grande maioria por fotos tomadas de

modo espontâneo. A construção do ensaio se deu, exatamente, em decorrência da busca por uma unidade – sem, no entanto, deixar de considerar a possibilidade de sua ausência – na minha produção. Considerando que o material foi captado em momentos e locais distintos, é possível perceber uma descontinuidade e uma fragmentação espaço-temporal presente nas imagens. Entretanto, a organização que os elementos da composição foram submetidos, permitiu potencializar as sensações e a percepção da narrativa, evidenciando uma poética latente nos gestos e nas paisagens OLD 79 cotidianas. O título do ensaio constitui uma importante chave para a compreensão de sua mensagem. Ele surgiu ao longo do processo de edição das fotos, quando tomei conhecimento de uma das traduções para língua portuguesa do livro As Flores do Mal, do poeta francês Charles Baudelaire. A expressão “negros paroxismos”, extraída do poema O Homem e o Mar, obra em que o autor compara o homem com o mar pelas tantas semelhanças que há entre ambos, evidencia como nós, seres humanos, possuímos uma imensidão de sentimentos e mistérios ainda não revelados. Nesse sentido, este ensaio reflete meus procedimentos artísticos, desenvolvidos a partir da premissa de que a fotografia, tanto quanto o mar na obra de Baudelaire, pode ser considerada como um espelho que retrata, simbolicamente, as características da alma humana.


Marcio Iseense e Sá Sem Título



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Para produzir este trabalho, Márcio Isensee e Sá mergulhou em seu acervo. As imagens apresentadas aqui tem um grande intervalo entre suas produções. Montar essa narrativa pessoal é um desafio interessante, encontrar um sentido estético e narrativo entre materiais produzidos com tanto tempo entre si. Márcio entrega um ensaio guiado por cores e sensações. Uma viagem pela sua relação com a fotografia. Marcio, conte um pouco sobre o processo de criação deste ensaio. Este ensaio é na verdade um apanhado de material solto ou parte de outras séries que fui pescando no meu arquivo e fui vendo que tinha um caminho, uma história. Muito mais uma história pessoal do que uma narrativa explicita. Por ter saído de uma pesquisa no acervo, existe um intervalo de tempo longo entre as imagens (uns 8 anos entre a primeira e ultima, talvez). E este intervalo é um desafio, porque olhei para o que tinha produzido em outro contexto e que me chamaram atenção anos depois.

Como os objetos que aparecem nesta série foram escolhidos? Como você buscou construir uma relação entre eles? Bom, tem um pouco de tudo, né (rs!). Tem plástico, tem peixe, tem árvore viva, arvore morta, etc, etc... Mas o que me fez fisgou em cada foto está muito ligado ao meu momento de vida, onde tenho pensado mais a relação individuo/ambiente, os rastros que deixamos mesmo sem nos dar conta. Talvez a idéia de “pegada” seja o cerne deste ensaio (na minha cabeça). Aí vem algumas coisas de construção das imagens como por exemplo o ensaio começar em um caminho (todo “natureza” e bucólico) e terminar num “buraco negro” de plástico. Os personagens humanos de algumas fotos estão imersos, são engolidos pelo quadro e isso me agrada enquanto conceito.


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As suas imagens tem tonalidades muito marcantes, cores dominantes. Essas opções representam momentos separados dentro do ensaio? Poderia dizer genericamente que esse ensaio vai do azul ao verde. Mas quase todas as fotos foram tomadas com aquela luz fim de tarde, pós pôr-do-sol. Uma luz que me agrada muito inclusive e que sempre tem essa tonalidade meio pastel, de cores homogêneas e dominantes. E isso impregnou o ensaio. Ai, mais uma vez a construção narrativa, me levou por optar por uma separação (até gradual) entre as dominâncias do azul, verde e amarelo

No texto enviado junto a este ensaio você mencionou que as imagens buscam apresentar a relação entre o homem e a natureza, seu meio. Como você buscou construir esta relação nesta narrativa? Pois é, no texto eu até cito uma passagem Henri Bergson, meio fora de contexto mas que me impressiona muito, e fala sobre as imagens exteriores, o “meu” corpo e as modificações deste naquele. Levando para um lado meio filosófico, cada vez eu acredito mais que a dicotomização da vida (nesse caso, corpo e ambiente ou homem e natureza) limita muito nossa visão de mundo e nossa ação no mundo. Esse ensaio quer mostrar como estamos ligados ao ambiente que nos cerca. São “pegadas” que deixamos com arvores mortas, peixes pescados e bananas encaixotas. Tudo está meio fora do contexto esperado: como um cara submerso, um menino que parece um grafite na parede ou um plástico que me remonta a imagens de astronomia. Sem muitas pretensões (até porque essas fotos estão impregnadas de uma carga emocional forte pra mim), quis me apropriar do que o Bergson me “disse” e retrucar, com imagens, sobre as imagens, pessoas, nuances e culturas que me cercam.

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ultrapassagem

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Tito é fotógrafo de vídeo e vive a testar todas as (im)possibilidades que câmeras e lentes lhe oferecem. Você pode saber um pouco mais de suas peripécias em tferradans.com/blog


O ano vai chegando ao fim, e temos mais uma parte de “O Hobbit” entrando em cartaz nos cinemas. Assim como no ano passado, o filme chega com uma grande variedade de versões, mas a discussão aqui vai focar-se na mais diferente de todas: a tal da HFR (highframe-rate). Alardeada pela produção do filme como uma grande revolução no cinema, a versão HFR tem o dobro de quadros por segundo que um filme normal. O padrão cinematográfico, estabelecido ao longo de mais de cem anos de história, é de 24 quadros por segundo. Na TV são 30 quadros por segundo. Alguém muito importante na equipe de “O Hobbit” afirmou que 48 quadros por segundo seriam uma coisa fantástica pelos seguintes motivos: há mais foco, menos borrão de movimento, mais sensação de realidade e mais imersão no filme. Desses quatro motivos, três são plausíveis, mas o último é extremamente falso. Durante a primeira metade do filme, a sensação é de assistir a um making of onde os equipamentos estavam escondidos e tudo se move de forma acelerada. Todas as ações parecem acontecer mais rápidas do que de fato ocorrem. Realmente, os detalhes aparecem muito mais em foco, e são tantos detalhes perceptíveis que até prejudicam o filme. É possível desconfiar dos objetos de cena, que parecem falsos (feitos de isopor e compensado), os mesmos objetos que são perfeitamente convincentes na versão tradicional (a 24 quadros por segundo) do mesmo filme! Depois da primeira metade da projeção, consegui convencer minha mente que aquilo não era um making of. O próximo cenário escolhido pra processar as imagens foi na frente de uma loja de eletrodomésticos, com uma tela particularmente grande. Não sei se vocês já pararam pra observar como, de relance, as imagens dessas TVs de loja parecem incrivelmente mais detalhadas e bonitas que as do cinema, ou das nossas TVs de casa. De fato, as imagens daquelas TVs são bastante diferentes das originais, por conta de

uma série de configurações especiais, aplicadas pelos fabricantes, para passar justamente essa sensação de “realidade”. Basicamente, o que se faz é aumentar o contraste, jogar uma tonalidade azulada na imagem como um todo, aplicar um filtro de nitidez e sintetizar novos frames (inexistentes no filme original), para dar mais “realidade” aos movimentos, a uma taxa de quadros mais elevada que os 24 ou 30 quadros originais. O resultado é extremamente exagerado e tem uma textura de vídeo, como o jornal que vemos na hora do almoço, ou jantar. Não é mais ficção, é realidade. Fica com cara de algo que pode ser visto acontecendo na rua. Mas (infelizmente) não temos hobbits, magos, anões e orcs perambulando pelas ruas. Então aquela imagem projetada ali só pode ser falsa, e é aí que a imersão vai para o brejo, porque quando a coisa é visivelmente artificial, mas tenta convencer como real, tudo fica tosco. Numa analogia estranha, quando o sujeito é feio, mas age como se fosse bonito, não dá pra não achar engraçado ou ter pena. E nessa hora que a coisa fica tosca, nós, espectadores, somos jogados para fora do filme mais rápido que uma flecha de Legolas (a 24 quadros por segundo, por favor). Em 2009, o filme “Quem Quer Ser Um Milionário” ganhava o Oscar de Melhor Direção De Fotografia. A parte curiosa é que todos os trechos do filme que evocam sentimentos e emoções intensas foram filmados a menos que 24 quadros por segundo (para ser exato, foram filmados a 12 quadros por segundo). É um visual ainda menos fluído que o tradicional, mas funciona justamente porque caminha em uma direção onírica, oposta à realidade. Quanto mais quadros por segundo mais nos aproximamos da realidade em que vivemos. Só que ninguém vai ao cinema para ver a realidade. A gente vai no cinema justamente pra ter uma folga da realidade, e acompanhar uma história bem contada, com personagens fantásticos.

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fissuras

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Luciana Dal Ri

Ágata é um coletivo multidisciplinar, um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para a investigação do processo criativo e da expressão artística.


Recordar e seguir

Dezembro tem ar de retrospectiva. É sempre assim: momento de

reflexão, lembranças e um saudosismo do que ainda nem acabou, sem contar o tom otimista do por vir. Por aqui, esses sintomas típicos da época não podiam ser diferentes e intensificados, já que é o mês que completamos um ano de Fissuras. Lá na nossa primeira coluna, fizemos um exercício importante de reflexão. Era a primeira vez que tentávamos sistematizar e dividir com pessoas para além do nosso ciclo de trocas e conversas, o motivo de nos unirmos e nos interessarmos pela investigação do processo criativo. Desde então, de maneira muito generosa, alguns artistas vêm abrindo seus processos. Pensamos a narrativa cinematográfica de Gilvan Barreto, o trânsito entre a consciência e a falta dela com Fábio Messias, o ato de criação na curadoria com Eder Chiodetto, fomos conhecer a Foam, compartilhamos do inimaginável de Raquel Santos, lemos Clarice com Carol Krieger e reconstruímos o imaginário do sertão com Alexandre Severo. Em meio a todas essas imersões, mais uma boa notícia nos surpreendeu e nos convidou a olhar ainda com mais carinho e atenção para a nossa pesquisa. Fomos selecionadas para participar da residência em Fotografia no MIS, Museu da Imagem e do Som, coordenada por Lívia Aquino, Ronaldo Entler e a Cia de Foto. Com o projeto “Descortinando Imagens: uma investigação do processo criativo de fotógrafos contemporâneos”, nos próximos cinco meses temos o desafio de acompanhar a gestação e o nascimento dos projetos de oito artistas: Alan Oju, Andressa Ce., Breno Rotatori, Coletivo Garapa, Pangeia de dois, Pedro Hurpia, Santarosa Barreto, Sári Ember, junto da pesquisadora e crítica Daniela Bracchi.

A nossa proposta é construir para cada um deles um dossiê que reúna os documentos que, ao longo do tempo, forem se revelando como parte de suas criações, atuando como referência, tentativa e apontando as questões temáticas e estéticas que contornam a obra de arte. É assim que começamos uma nova fase e um novo ciclo de colunas, onde vamos registrar as nossas impressões, trocas e questionamentos. Que venha 2014!

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Mande seu portfolio para revista.old@gmail.com


Christian Piana


INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA CapAcitaÇÃO profissional

intensivo de fotografia de moda

Cinematografia

novas turmas, garanta sua vaga!

13 a 17 de janeiro de 2014

21, 22 e 23 de janeiro de 2014

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