OLD Nº 30

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Nยบ 30 Fevereiro de 2014


Revista OLD Número 30 Fevereiro de 2014 Equipe Editorial Direção de Arte Texto e Entrevista

Capa Fotografias

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Felipe Abreu Camila Martins, Felipe Abreu, Juliana Biscalquin, Luciana Dal Ri e Tito Ferradans Gabo Morales Gabo Morales, Luiza Prado, Marcelo Hein, Maria Louceiro

Entrevista

Lucas Lenci

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Parceiros


06

Livros

08

Turista Hotel Exposição

10

Gabo Morales Portfolio

30

Luiza Prado Portfolio

42

Lucas Lenci Entrevista

50

Marcelo Hein Portfolio

60

Maria Louceiro Portfolio

72

Ultrapassagem Coluna

74

Fissuras Coluna

10

30

42

60

50


Enfim chegamos à nossa trigésima edição! Viva! Mais um número redondo a se comemorar! Além da edição de número 30, logo chegaremos ao nosso terceiro aniversário. Já estamos ficando velhos! Nesta gloriosa e comemorativa edição, apresentamos muita fotografia de qualidade, como de costume. Começamos as atividades com o ensaio Marsilac, do fotógrafo Gabo Morales. Suas fotografias apresentam a vida e a rotina do bairro mais ao sul da capital paulista. É impressionante ver como uma cidade como São Paulo pode abrigar um sem fim de realidades, que vão da Paulista à Marsilac. Nossa segunda fotógrafa é Luiza Prado, que tem um trabalho muito particular, que lida com fetiches, mitos e religiões. Um trabalho que cria um universo próprio, que pode seduzir ou chocar. Continuamos nossa quadra de portfolios com o ensaio Imigrantes, produzido por Marcelo Hein. Sua série apresenta retratos de imigrantes recém chegados de países em conflito, na África e na América Central. Suas imagens traduzem o desemparo e a inseguranças deste grupo de pessoas que acaba de chegar a um novo país, ainda sem saber como será a nova vida que irão encontrar. Fechando esta edição temos o trabalho da portuguesa Maria Louceiro, que une homem e natureza, em uma série de múltiplas exposições que criam de uma maneira especialmente delicada um novo universo, harmonioso, tranquilo e colorido.

Nosso entrevistado do mês é o fotógrafo Lucas Lenci, um dos sócios da Fotospot, que acaba de lançar seu primeiro livro: Desaudio. Conversamos com Lucas sobre a produção de uma obra impressa, sobre a construção de sua estética visual e sobre sua visão do mercado fotográfico brasileiro. É marcante a importância do silêncio e da calma nas imagens de Lucas. Suas fotografias mostram um mundo estático, concentrado em não ranger, não produzir um barulho se quer. Essa habilidade em contemplar, de ter calma e paciência se traduz em sua visão profissional ponderada, que vê um futuro promissor no mercado fotográfico. É assim, mantendo a tradição de boa fotografia e boas conversas, que chegamos ao nosso trigésimo número. Aproveite!

Felipe Abreu


Carnaval in Breda / Dutch carnival procession


LIVROS

SELF PUBLISH, BE HAPPY

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O nome do site já diz tudo certo? O SPBH surgiu em 2010, idealizado por Bruno Ceschel, com o objetivo de apresentar, discutir e incentivar a produção de fotolivros independentes, criando um espaço fixo para auxiliar fotógrafos e divulgar trabalhos recém produzidos sem o auxílio de grandes editoras. O SPBH mantém atualização quase que diárias com trabalhos fotográficos dos mais variados. Algumas vezes por semana são apresentados novos livros, sempre com informações de compra e um pequeno depoimento do autor. Além de apresentar trabalhos independentes, o site também fundou sua própria editora, chamada SPBH Editions, que já publicou trabalhos de grandes nomes da nova fotografia, como Cristina de Middel, Broomberg & Chanarin, Brad Feuerhelm e muitos outros. Vale acompanhar o site para conhecer novos trabalhos, acompanhar as novas tendências e apostas no mundo dos fotolivros e já programar as próximas compras!

Visite em: selfpublishbehappy.com Livros e trabalhos dos mais variados preços e tamanhos.


LIVROS

HAVE A NICE BOOK

Também adepto da famosa madeira de fundo para apresentar seus livros, o Have a Nice Book é um projeto espanhol, criado por Yosigo e Salva López, que deseja construir uma das maiores bibliotecas de fotolivros em vídeo do mundo. No site são apresentadas obras dos mais variados tempos, tamanhos e origens, sempre com um vídeo que passeia tranquilamente por todas as páginas da publicação. O Have a Nice Book apresenta livros de Diane Arbus, Nan Goldin e muitos outros grandes fotógrafos, além de novos livros, fanzines e projetos relacionados à fotografia. O site aceita envio de materiais e com isso consegue criar um panorama bastante amplo da produção impressa em fotografia no mundo. O projeto tem a vantagem de propiciar passeios gratuitos por grandes obras da fotografia. Com os vídeos da dupla espanhola você pode visitar quantos livros quiser, vê-los na íntegra, sem ter que gastar nada. Have a Nice Book é um dos grandes projetos de inclusão e divulgação da fotografia impressa que temos online.

Visite em: haveanicebook.com Livros e trabalhos dos mais variados preços e tamanhos.

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EXPOSIÇÃO

CRISTIANO MASCARO INÉDITO Casa de Imagem apresenta uma série de imagens inéditas do fotógrafo paulistano. A mostra, no centro da capital, conta com mais de quarenta imagens

Cristiano Mascaro é um dos fotógrafos de relação mais profunda com a capital paulista. Formado em arquitetura na FAU/USP e iniciado na fotografia por um livro de Cartier Bresson, Mascaro é OLD 08 apaixonado pelas ruas paulistanas, não da maneira rápida e fugaz de seu primeiro mestre, mas de uma forma calma, contemplativa, de um ritmo próprio. Seu olhar sempre teve um apreço maior pela arquitetura das grandes cidades. Suas imagens mais marcantes apresentam as construções da capital, porém o encontro com seus personagens é munido de uma força similar. Mascaro passou por bairros em crescimento, fábricas, bares e casas, produzindo com a mesma delicadeza de sempre, séries de retratos paulistanos. O auge da produção fotográfica de Cristiano Mascaro se deu nos anos setenta, quando ele e sua Hasselblad transformam o centro da capital paulista em seu campo de trabalho. É justamente neste período que se concentra a exposição Turista Hotel, que ocupa a Casa da Imagem, no centro de São Paulo. A mostra, que abriu no final de Janeiro e se estende até o mês de Abril, apresenta uma série de fotografias inéditas do fotógrafo arquiteto, com um foco especial na sua produção realizada no Brás, que vivia uma época de plena transformação.

Os curadores Henrique Siqueira e Monica Caldiron buscaram um recorte na produção de Mascaro que apresentasse o começo de sua pesquisa urbana. Esta busca encontrou os registros do fotógrafo das mudanças no bairro do Brás, que aos poucos deixava para trás seu passado industrial. Ao todo foram selecionadas 46 imagens em preto e branco produzidas na cidade de São Paulo. A maioria delas inédita, o que traz um frescor à mostra e à produção de Mascaro, que tem suas grandes obras já muito difundidas entre o público fotográfico. Além da grande exposição de Mascaro, a Casa da Imagem inaugura 2014 com duas outras mostras fotográficas. Edu Marin apresenta a série Câmara de Descompressão, produzida exclusivamente para o espaço. Felipe Bertarelli traz à casa seu trabalho Túneis não mostram o final, uma série sobre a cidade, produzida com câmeras de médio formato e equipamento digital. Com essa trinca de exposições a Casa da Imagem começa muito bem o seu ano e Cristiano Mascaro apresenta um novo e belo recorte de sua obra. Dois ótimos sinais para este ano de 2014. A exposição Turista Hotel ocupa a Casa da Imagem até o dia 19/04, na Rua Roberto Simonsen, 136, na Sé.


Cristiano Mascaro


Gabo Morales Marsilac



Gabo Morales apresenta na OLD um recorte de seu ensaio Marsilac. O projeto apresenta imagens do bairro mais ao sul da cidade de São Paulo, que dá nome ao trabalho. São imagens contemplativas, que apresentam sutilmente a realidade da OLD 12 região. Como surgiu o ensaio Marsilac? Marsilac é um projeto em andamento que narra e discute a vida urbana e rural, o desenvolvimento, a preservação, fronteiras políticas e geográficas. A idéia original era a de usar os princípios do slow journalism para documentar um distrito da cidade que estivesse fora da minha zona pessoal de conforto e identificação com São Paulo. Vivo na região central há onze anos e de repente me pareceu que eu confundia a pequena porção do território em que vivia com a totalidade da metrópole. E talvez essa não seja uma questão só minha. A cidade é imensa, heterogênea, e discutir essa vastidão e variedade é um dos objetivos do trabalho. Acredito que se olharmos com mais cuidado para todas as regiões da cidade teremos uma idéia melhor do que significa a pequena porção dela que de fato habitamos. E com uma idéia melhor acredito que a gente viva melhor, se organize melhor, e se planeje melhor.

Seu trabalho apresenta um dos extremos da cidade de São Paulo. Como você entrou em contato com esse local? Que relações você vê entre a vida dos moradores de Marsilac e dos bairros mais centrais de São Paulo? Apesar da distância e das características rurais, Marsilac não é “uma outra cidade”, Marsilac é São Paulo, está dentro das fronteiras políticas da cidade então é São Paulo. No entanto, há ali um outro ritmo de vida, quase que oposto ao do centro. As ruas são calmas e o cotidiano, na aparência, mais lento. Por isso, principal relação que os moradores do distrito compartilham com outros paulistanos é a relação política, de pertencer ao mesmo contexto legal, que persiste apesar das imensas diferenças geográfias. Mas acho que o ponto mais interessante é justamente o que esses dois grupos não compartilham. A área mais urbanizada de Marsilac está a cerca de 60 quilômetros da Sé; o distrito é muito isolado e tem praticamente só duas vias de acesso. Apenas uma linha de ónibus (6L01-10) liga essa região ao resto da cidade, via Parelheiros. O hospital mais próximo também está no distrito ao norte. Há vários outros exemplos do desequilíbrio entre a presença do estado (e dos serviços privados e benefícios que ele traz) que é maciça no centro e escassa no extremo sul.


















Seu ensaio apresenta muitos personagens fortes. Como você entra em contato com eles? Que relação é criada entre fotógrafo e fotografado? Durante o primeiro ano do projeto, todas as visitas a Marsilac foram feitas usando o transporte público disponível. Metro, trem e ônibus. E o ponto final do ônibus é uma praça que está bem ao norte em relação ao terrtório total do distrito. Eu passei 2012 inteiro praticamente caminhando apenas por essa área mais urbanizada. Sempre soube que não daria para contar a história que eu tô buscando sem apresentar e principalmente ouvir as pessoas que vivem em Marsilac, mas nas primeiras visitas, ao andar pelas ruas e vias que me eram acessíveis a pé, eu raramente abordava as pessoas para pedir um retrato. Foi só ao me familiarizar com o ambiente, conhecer mais os moradores, que começaram a me reconhecer como um visitante habitual, que acabei me sentindo mais confortável para abordá-los, explicar o objetivo do retrato e fazer com que se sentissem à vontade para posar. Em geral não passo mais do que 5 minutos com a pessoa, e boa parte desse tempo passo conversando, faço perguntas sobre o dia-a-dia no bairro, sobre o relacionamento que elas tem com o lugar onde vivem e suas perspectivas com relação ao futuro da região. Sempre digo que tenho o nome, a idade e a profissão de todo mundo, porque acho importante apresentar essas pessoas como agentes ativos do espaço onde elas vivem. Hoje as visitas são em geral feitas de carro, para facilitar o acesso a locais ainda mais remotos, mas as longas viagens de trem e ónibus foram essenciais para o início do projeto.

Qual o papel da cidade e do ambiente dentro do seu trabalho? Qual o papel do ambiente dentro da construção das suas narrativas fotográficas? O foco principal do Marsilac, por exemplo, são as pessoas e como OLD 29 elas se relacionam com o ambiente onde vivem, tanto em termos práticos quanto teóricos, emocionais, psicológicos. Marsilac é uma fronteira, uma área híbrida entre o urbano e o rural. Ali, a partir das imagens e estórias, o senso comum em relação à metrópole e ao campo é discutido por quem vive naquele contexto e reexaminado por quem observa de fora. Minha esperança é que eu esteja apresentando uma proposta de como narrar o processo de urbanização, não apenas mostrar a cidade, que é um local específico, mas os fenômenos reais e até os imaginários que definem a vida em sociedade, principalmente em sociedades urbanas. O que mais te marcou na produção das imagens de Marsilac? Ainda hoje me surpreendo como a cidade é vasta e, mesmo depois de um simples rolê para além do nosso bairro, já colocamos em dúvida quaisquer preconceitos, estereótipos e definições rasas que a gente possa ter a respeito dela.


Luiza Prado Portfolio



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As fotografias de Luiza Prado são iconoclastas. Seu trabalho lida com os conceitos que podem chocar algumas pessoas. Agora isso não é o mais importante. O essencial no trabalho de Luiza é sua estética e sua busca constante por esticar os limites do seu trabalho. Luiza, seu trabalho tem uma relação muito forte com o corpo, em especial com o feminino. Como surgiu esse interesse e essa abordagem? O diálogo com o corpo, especificamente feminino, aconteceu pela busca de um auto-conhecimento através da fotografia, pois tratavase mais de personificar meus problemas ou a cura deles através de uma performance fotográfica do que retratar algum assunto já existente na mídia. No início era emblemático e tornou-se mais palpável no momento em o foco mudou de mim e passei a enxergar os problemas de mulheres em geral e retratá-los nas fotos. Isso começou a ser um espelho pra mim.

Conforme isso foi tomando forma a busca era mais intensa na dialética d’outro do que com minhas intenções, hoje consigo distinguir melhor entre conceituar um trabalho e onde e quando posso trabalhar o meu interior, lógico que tudo está interligado com uma história, mas o que diferencia, ou a experiência que tempo me deu foi saber identificar esses diferentes campos. Alguns de seus trabalhos dialogam com o fetiche. Como foi o processo de trazer esse universo para a sua fotografia? O universo fetichista nas minhas fotos não são uma parafilia, pelo menos a princípio. Acredito que, inconscientemente aplico esta estética por abordar assuntos políticos, então considero meu fetiche social, ou ficcional dentro de uma sociologia a partir das minhas ideologias e da minha visão sobre a perversão dentro da civilização que reflete o agora. O meu incomodo social é constante e a fotografia é meu método de materializar este incômodo.


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Seus trabalhos tem diversas camadas visuais, que acrescentam significados à imagem. Temos o clique, a direção de arte, a pós produção, etc. Como você organiza esse processo para a produção de cada imagem? Conforme o tempo fui me encontrando e desenvolvendo as minhas pesquisas e considero toda foto já feita, clicar é apenas materializar, naturalmente utilizando dessa pesquisa que já foi pré-estabelecida, logo a mídia já foi escolhida juntamente com a técnica, cor e série, pois toda essa junção faz parte da conceituação. Se eu escolho aplicar uma fotografia numa intervenção urbana, tem um motivo para ela ser aplicada na cidade e assim por diante. Suas imagens tem, em sua maioria, uma grande produção visual. Como você desenvolve esse processo? A direção de arte é sua? Você trabalha com uma equipe? Eu sempre fui ilustradora, trabalhei de charge a pintura e depois, quando entrei no ramo de publicidade, me tornei diretora de arte. O meu contato visual sempre foi constante, logo, fotografar foi apenas substituir o lápis pela câmera.Lógico que dependendo do tipo de produção, como moda ou publicidade é necessário contratar; um maquiador, um produtor, um stylist que são áreas que tenho pouco

conhecimento e ou tempo pra desenvolver, mas todo o desenvolvimento de paleta de cores, direção de arte, definição de clima e gestão, são meus. Já em um ensaio autoral ou “individual” a produção costuma ser mais intimista, onde o que importa é apenas a entrega, minha e da modelo. Seu trabalho tem um alcance e uma base de fãs bastante grande. Como você se sente com esse crescimento? Isso altera sua produção de alguma maneira? Eu sempre utilizei bastante as redes sociais desde a época que ilustrava, já me englobava nessa geração Y e sempre tive muito interesse a tudo ligado a tecnologia. Obviamente que redes sociais como instagram, facebook são bons para a viralização de informação, basta ser um bom observador e isso eu sou bastante, juntando esse “voyerismo virtual” com a experiência publicitária a internet acabou sendo meu meio principal de alcance tanto em divulgação quanto em venda de obra, contatos, entre outras bases que sustentam o meu trabalho. Ter utilizado a internet com bastante constância, também facilitou meu processo de produção por exemplo; eu brinco que meu facebook virou páginas amarelas, eu posto “Alguém está disponível hoje pra ficar nu” e ai as pessoas aparecem.

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OLD ENTREVISTA

LUCAS LENCI


A fotografia corre nos genes de Lucas Lenci. Neto de Peter Scheier, Lucas é formado em Desenho Industrial e Fotografia, escolhendo a segunda como sua profissão. Lucas é, em parceria com Cássio Vasconcellos, um dos fundadores da Fotospot, uma rede de venda de fotografia que conta com grandes nomes a preços acessíveis. A OLD conversou com Lucas por email sobre sua produção autoral, o lançamento de seu livro Desaudio e sobre o mercado da fotografia no Brasil. Você estudou design e fotografia na faculdade. Como essa formação dupla influenciou seu trabalho e sua produção autoral? Além do que eu estudei em faculdades, tudo o que fiz e faço na vida interfere no resultado final da minha fotografia. Das pessoas com quem converso aos lugares que visito, tudo impacta no trabalho OLD 44 e principalmente na produção autoral. No caso das faculdades, foram dois cursos muito estéticos/visuais, ou seja, ambos me proporcionaram a possibilidade de treinar o olhar, a composição e a percepção das coisas e ambos me colocaram em situações onde tive que ser criativo para me destacar. Você tem um trabalho comercial e autoral muito forte. Como você busca equilibrar o tempo e a criação para as duas áreas? Hoje em dia eu faço muito menos trabalho comercial, faço apenas algo que me interesse muito como um retrato por exemplo, faço também trabalhos que exijam visitas a lugares curiosos, não por que tenha o privilégio de escolher, mas sim por que divido meu tempo mesmo entre minha fotografia autoral e o dia a dia da Fotospot que é bastante exigente. Como as atividades são muito relacionadas existe uma sinergia interessante e ambas as atividades acabam evoluindo, mas é muito importante dedicar um tempo e uma concentração específica para uma delas quando necessário, e o grande desafio é

perceber as horas que isso é necessário. Como surgiu o ensaio Desaudio? O que te inspirou na produção das imagens? Desaudio nasceu junto com a Fotospot pois quando comecei a editar o material dos artistas, fotógrafos do quais eu sempre admirei o trabalho, tive contato com séries de fotografias que exploravam muitas ideias, estilos e linguagens diferentes, e com isso senti a necessidade de solidificar minha própria linguagem. A partir daí passei a estudar meu material já feito para identificar uma linha de força e desta forma produzir mais imagens que completassem esta linha. Fazendo isso percebi que o que me inspirava ao fotografar era justamente o silêncio e a solidão que acontecia no ato de fotografar, e tudo isso eu tentei traduzir em imagens. Desaudio consegue criar uma unidade visual muito forte entre espaços completamente diferentes ao redor do mundo. Como você buscou construir esta estética? Esta estética é resultado de estudo, e voltamos para a primeira pergunta sobre influência no trabalho: lugares que visitei, pessoas com quem falei, livros que li...tudo é estudo para um fotógrafo. Depois disso existe o estudo de como fazer, que na minha opinião é um segundo capítulo que as pessoas tendem a colocar na frente deste primeiro. Eu já sabia como fazer com que uma imagem tivesse aspecto dessaturado usando o Photoshop, mas a pesquisa e o estudo te permitem entender o porque de fato você quer fazer isso, e isso é construção de estética e unidade formal. Você acabou de lançar o livro de Desaudio, após uma série de belas exposições do ensaio. Como foi o processo de criação do livro?


O livro nasceu da vontade clássica de um fotógrafo de ter seu próprio livro. Pus na minha cabeça que faria e corri atrás, fui entender o que faz um livro de fotografias ser relevante, interessante, e não apenas uma compilação de fotos. Neste ponto eu preciso mencionar o Madalena Centro de Estudos da Imagem e meu amigo Iatã Cannabrava que nunca deixaram uma pergunta minha sem resposta. Fiz parte do primeiro grupo de estudos sobre fotolivros, o que ainda era um grupo teste mas hoje um curso existente no Madalena, e assim fui moldando meu projeto. É um processo difícil e precisa ser feito com pessoas que você confia e tem prazer em trabalhar. Como já vinha trabalhando com o Cássio Vasconcellos na Fotospot, ele também foi uma pessoa que me ajudou muito, principalmente na edição de imagens. No caminho tive muita sorte de encontrar tantas outras pessoas animadas com o projeto, desde meus colegas de classe até todos os profissionais que de fato trabalharam na produção e realização do livro. O processo foi longo, difícil mas muito rico, já estou pensando no próximo livro. Você é um dos fundadores da Fotospot, em parceria com o Cássio Vasconcellos e o André Andrade. Como surgiu o projeto? Quais as principais propostas da Fotospot? No inicio de 2013 o André Andrade se desligou da Fotospot e hoje temos uma nova sócia chamada Anna Candida de Souza. De toda forma as propostas não se alteraram e a Fotospot busca oferecer fotografia autoral brasileira de maneira mais acessível que outras galerias, e fazemos isso oferecendo tiragens superiores as, vamos dizer, convencionais. Na Fotospot é possível adquirir uma imagem do Cristiano Mascaro por exemplo, devidamente certificada e assinada por ele por um valor inferior a mil reais, e isso só é possível pois a imagem faz parte de uma série de 100 cópias. O projeto surgiu inspirado em modelos internacionais, porém aprimoramos as qualidades na parte tangível (como papel impressão e etc). Não gosto muito de falar sobre estas qualidades pois para nós elas

Fazendo isso percebi que o que me inspirava ao fotografar era justamente o silêncio e a solidão que acontecia no ato de fotografar, e tudo isso eu tentei traduzir em imagens.





são um ponto fora de discussão, uma vez que você representa os artistas que representamos não se pode nem pensar em usar materiais de segunda linha, a proposta esta mesmo em tentar fazer com que mais pessoas encontrem uma fotografia que lhes emocionem, e assim possam levá-la para casa. Como você vê o mercado de fotografia hoje? Você percebe um crescimento no consumo e na produção de fotografias? Para responder bem diretamente eu vejo o mercado com muito otimismo. Nunca se falou, fotografou, discutiu, expos ou vendeu tanto a fotografia como hoje em dia, havia escrito uma matéria sobre isso para o Jornal da Fotografia na época da SP/Arte - Foto, alias outro grande indicador de mercado. Com este fervor todos os tipos de oportunidades e problemas vem junto para todos aqueles que fazem parte deste mercado, como em qualquer cadeia comercial. A fotografia parece estar ocupando um papel cada vez mais central na comunicação e na produção artística. Você vê esse crescimento como uma boa coisa? Que mudanças você acha que esse papel central pode trazer para a prática fotográfica? Essa é uma ótima pergunta, mas é necessário separar entre dentro e fora do país. Esta ocupação da fotografia na produção artística nem é mais uma dúvida fora do Brasil. A fotografia em si é uma arte muito jovem se comparada a outras artes como pintura ou escultura, mas colocando em perspectiva o Brasil esta nos primeiríssimos anos de encarar a fotografia como arte. Para exemplificar o que digo, o departamento de fotografias do MoMA, em Nova York, foi fundado em 1940, e isso não foi o inicio, mas sim um sinal de consolidação de um movimento já que exposições de fotografias aconteciam na cidade desde o século anterior Alfred Stieglitz por exemplo organizou uma individual em 1899.

Para o mercado nacional as mudanças já começaram a acontecer, uma parcela muito grande de galerias de São Paulo tem menos de 5 anos de atividade, muitas delas com fotografias em seus acervos. Nestes três anos de atividade da Fotospot, recebemos mais de 200 portfolios para avaliação. O que precisamos fazer agora é incentivar para que todos envolvidos tenham uma mentalidade pró evolução do mercado todo, precisamos fazer com que a coisa toda ande para a frente com foco na qualidade e não só na quantidade. Para a prática fotográfica em si, a mudança é que o conteúdo produzido aqui no Brasil precisa buscar um caminho mais arejado, mais embasado em ideias e projetos consistentes, em pesquisas visuais e na qualidade formal, este é o caminho para atingirmos reconhecimento e destaque como fotografia autoral brasileira.

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Marcelo Hein Imigrantes



Marcelo fotografou imigrantes recém chegados do Haiti e de diversos países da África. Em suas imagens podemos ver o OLD 52 medo, a incerteza e a insegurança de quem acaba de chegar em um país desconhecido, sem garantia de ter uma vida diferente da que os fez emigrar. Marcelo, conte pra gente um pouco sobre sua trajetória fotográfica. Comecei minha carreira fotografando jogos universitários e eventos. Eu me ocupava em conseguir imitar todas as técnicas que visse, queria fazer as fotos noturnas, de alta velocidade, baixa velocidade, light painting, geometria… O que aparecesse. Mas com o tempo fui percebendo que a técnica é importante para nos ajudar a expressar algo, porém temos que ter o que expressar. A partir daí comecei a entrar mais na fotografia autoral e buscar entender não a fotografia, mas as imagens, qual sua função, como são feitas, externalizadas, organizadas e identificadas por quem as vê. Hoje parte do meu tempo é dividida entre o trabalho comercial, feito para os clientes, e o trabalho autoral, feito para meu próprio conhecimento e evolução.

Acredito num equilíbrio entre técnica e arte, uma precisa da outra para se expressar, então essa divisão tem sido muito boa para a fase em que estou. Como surgiu este ensaio? Como foi o processo de produção das imagens? O ensaio com os imigrantes refugiados surgiu de minha amizade com Sônia Altomar, uma senhora que trabalhou com diversas ONGs para ajuda social e me apresentou o trabalho que estava criando com pessoas vindas principalmente do Haiti, por conta do terremoto que devastou suas vidas, e da África, de países em guerra civil. O projeto que ela desenvolve em parceria com outros voluntários se propõe a receber essas pessoas, validar seus diplomas, encaminharem-nas em trabalhos, ensinar o português e regularizar a situação dessas pessoas que acabam sendo vistas como “parasitas”, mas que na verdade estão apenas em busca de um sustento mínimo para as famílias que deixaram para trás e não vêem mais. A minha entrada no projeto foi para fazer o registro dessas pessoas, e mais tarde buscar uma exposição que apresente essa condição social existente.








Qual a sua relação com o tema e com os personagens que você apresentou? Senti nas pessoas que retratei a existência de dois tempos: um tempo interno, ritmo e vida de cada um, e outro externo, ritmo e vida do mundo ao qual buscam se adaptar.Nessas pessoas senti um sufocamento causado pelo tempo externo, que não permitia ao interno de cada um se manifestar. Eu não queria retratar o tempo externo em que vivem, simbolizado por falar bastante, roupas e cidade, nem a adaptação que procuram, simbolizado pelo trabalho e estudo. Nesse primeiro ensaio tentei retratar o tempo interno, sufocado e pedinte de ajuda. Os seus personagens tem uma história de vida muito rica, muito marcante. Como transpor isso para as fotografias? Na busca de um equilíbrio entre os elementos da fotografia. No sentido de a unidade entre os elementos dizerem uma coisa só, mesmo que individualmente não aparentem relação. Por exemplo, nessas fotos eu queria retratar o tempo interno, mas na fotografia o que temos são imagens externas. Então para isso busquei esses elementos no enquadramento das fotos e nas raízes que a ambientam. O que esses homens perderam foram suas raízes, são as sombras deles e na sua lembrança se tornam tristes e fechados, por sentirem sua falta. Feito o enquadramento, não queria mais pensar nisso, para diminuir

as interferências entre a minha percepção sensorial e a expressão de vida do fotografado, por conta disso optei por um quadro simples, mas com uma certa força para mim. A partir daí, procurávamos rememorar na pessoa o motivo de ter saído de seu país. Não só rememorar, mas reviver em memória. Nos olhos deles dava para ver que não era fácil, e todo aquele sufoco interno começou a se externalizar. Esse era o momento em que clicava. Como você acredita que contextualizar ou não os personagens dentro de um espaço ajudou na construção da narrativa deste trabalho? O espaço é o que provoca a unidade entre os elementos. As fotografias poderiam ser criadas num ambiente de estúdio, porém não haveria naturalidade na cena e isso foi de enorme importância para provocar emoções. O grande objetivo dessas imagens foi registrar emoções, e não pessoas. Mais que pelo resultado estético, o espaço foi importante para os personagens, afim de traduzirem uma emoção verdadeira e não forjada. O contato com a terra foi de grande importância para trazer a sensação de lar. Essa série é uma junção de tempos; sim, são fotos com interferência do fotógrafo, mas vale aquilo a que se mostram. Não são tiradas no Haiti ou África no momento que emigravam tristes por deixar o todo da vida deles para trás, porém são tentativas etéreas de captar memórias, sonhos e emoções, e essas sempre são espontâneas, sinceras e únicas, com o peso da vida que só o próprio vivente conhece e guarda.

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Maria Louceiro Portfolio



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Maria Louceiro é uma fotógrafa portuguesa, que apresenta uma fotografia delicada, com variadas sobreposições, que unem personagem e natureza, criando um mundo único dentro de suas fotografias. Maria, nos conte um pouco sobre sua trajetória fotográfica. Estava a estudar engenharia mas desde sempre tinha uma forte vontade de estudar arte, adorava pintura, tentava pintar, e nunca fui muito bem sucedida nessa área, então comecei manipular o que já existia, de fato tinha as imagens na mente mas não as conseguia transpor para o papel ou a tela e a fotografia foi uma forma de o fazer.

Seu trabalho tem uma técnica e uma estética bastante particulares. Como ocorreu o desenvolvimento deste processo? A pintura foi muito importante para o processo, mas o mais importante sempre foram os ambientes que criava na minha mente a que finalmente conseguia “dar vida”.









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OLD 71

Você costuma trabalhar com a fotografia analógica ou digital? Você acredita que a escolha de uma dessa técnicas é essencial para ter o resultado visual do seu trabalho?

Seu trabalho constrói uma forte relação entre o homem e a natureza. Este interesse tem alguma relação com a sua formação acadêmica? Como começou essa relação?

Trabalho com as duas e penso não ser relevante, no meu trabalho interessa apenas o resultado final.

Talvez sim, não estou certa de como começou, nunca refleti muito sobre o assunto nem pretendo arranjar alguma explicação lógica.

Como você costuma construir suas múltiplas exposições? São construções randômicas ou pensadas? Tentando parecer poética, são tão aleatórias quanto a própria natureza.


ultrapassagem

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Para produzir esses famigerados flares, pode-se usar um filtro Streak Flare. Seu efeito Ê justamente a combinação dos dois nomes: ele cria flares que se esticam numa linha reta a partir da fonte de luz.


Com a melhor câmera que existe, e uma lente maravilhosa, você está lá, fazendo sua foto, quando repara algo estranho no quadro. Uma parte onde as cores estão mais lavadas, o contraste mais baixo, uma névoa esbranquiçada aparece. Num susto, já vamos olhando dentro da lente à procura de poeira ou fungos, mas não há nada. Com uma análise menos desesperada, nota-se o reflexo de uma luz intensa no elemento frontal. “Ah, é um flare”, um defeito ‘genético’ das lentes, uma vez que em seu interior existem diversos elementos de vidro, separados por ar. O flare surge quando uma luz intensa entra, e acaba se refletindo de diferentes formas em cada um dos elementos internos da lente, podendo chegar ao sensor de formas muito diferentes. Às vezes são manchas brancas, que tiram o contraste e a nitidez de determinada parte da imagem, oras são muitos desenhos coloridinhos, oras são padrões de arco-íris, semi-círculos e traços. O que nos é ensinado no primeiro momento é que flares são ruins, e que devemos sempre utilizar os parassóis das lentes para mantêlos fora das fotografias. O objetivo dessa coluna é subverter essa idéia. Flares não são sempre ruins, especialmente quando usados na criação de um estilo próprio de imagem. Muitos meses atrás, na primeira Ultrapassagem aqui da OLD, apresentamos as lentes anamórficas, lentes raras e especiais, com muitas características únicas. De lá pra cá, encontramos diferentes alternativas para atingir resultados similares, com muito menos esforço e mais facilidade para se trabalhar. Entre essas características únicas que acabaram não-tão-únicas-assim, temos os flares anamórficos, que atualmente são moda não apenas nos mercados de baixo orçamento, mas também em grandes produções hollywoodianas. Flares anamórficos sao compridos, e (geralmente) azuis. São bem diferentes dos flares convencionais e têm muito mais personalidade. Tomando como referência os filmes do diretor J.J. Abrams, flares anamórficos são uma constante, e e possível identificar sua autoria em poucos segundos de tela.

Para produzir esses famigerados flares, pode-se usar um filtro Streak Flare. Seu efeito é justamente a combinação dos dois nomes: ele cria flares que se esticam numa linha reta a partir da fonte de luz. Tradicionalmente é um quadrado de vidro com muitas linhas bem finas, todas num mesmo sentido. Existem diversas variações desse filtro, determinadas por dois fatores. O primeiro desses fatores é a cor. Num filtro neutro, os flares terão a mesma cor da fonte de luz. Se a fonte for azul, os flares são azuis, e assim por diante. Existem versões onde o flare é colorido, que podem enganar melhor, afinal a grande maioria das anamórficas não muda a cor de seu flare, independente da cor da fonte luminosa. O segundo fator é o espaçamento entre as linhas, dado em milímetros. Quanto mais próximas, mais intensos ficam os flares. Dá pra ver a diferença no efeito criado por essas distâncias no site da Optefex, fabricante dos filtros. É um equipamento caro e difícil de ser encontrado. Estão esgotados há bastante tempo nos fabricantes e 73 só locadoras de equipamento estrangeiras têm esses aparatos. Com muita sorte, aparecem no eBay. Atentando pras luzes desfocadas na imagem produzida, é possível perceber muitos pequenos traços verticais. São as linhas do filtro, por onde não passou luz suficiente para “preencher” o desfoque igualmente. Outra situação em que ele falha é para grandes fontes de luz, onde grande parte do quadro ganha uma mancha horizontal, com várias linhazinhas finas. Para fontes pequenas como lanternas, LEDs, faróis, ou lâmpadas sem difusão, o efeito é bem convincente! Na próxima coluna, vamos falar um pouco melhor sobre coatings e propriedades do vidro que geram flares e outros defeitos ópticos que estamos constantemente combatendo Tito é fotógrafo de vídeo e vive a testar todas as (im) possibilidades que câmeras e lentes lhe oferecem. Você pode saber um pouco mais de suas peripécias em tferradans.com/ blog


fissuras

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Luciana Dal Ri

Aprender a falar sobre o próprio trabalho é uma operação mental que traz maturidade ao processo de criação, algo muito bem-vindo ao diaa-dia do artista.


Processos, pesquisa e criação

Já pontuamos por aqui que várias dificuldades apareceram nos primeiros meses da residência em fotografia do LABMIS, sendo uma delas a tomada de consciência do processo criativo. Parte do nosso trabalho é, justamente, ajudar na construção de um olhar mais atento à produção pessoal de cada artista para que, posteriormente, essa nova postura tenha ressonância positiva em trabalhos futuros. Parece ser também um desafio para aqueles jovens falar do próprio trabalho. Ronaldo Entler já nos atentou para isso logo no início dos encontros e cada vez vemos mais sentido nisso, afinal, a capacidade de falar sobre a própria produção oferece mais ferramentas para acessar a tal consciência. Em outras palavras, aprender a falar sobre o próprio trabalho é uma operação mental que traz maturidade ao processo de criação, algo muito bem-vindo ao dia-a-dia do artista. Para contribuir com essa discussão, Ronaldo Entler, Lívia Aquino, Pio Figueroa e Carol Lopes convidaram alguns artistas para apresentarem seus trabalhos para os residentes. O primeiro deles foi Thiago Honório, artista mineiro que acabou de participar da residência artística da Red Bull e que também é professor do curso de Artes Visuais da Faap. Durante a fala, ele frisou a diferença entre uma pesquisa “sobre arte” de uma pesquisa “em arte”, sendo a primeira aquela que entende a arte como objeto de estudo, realizada pelo teórico; e a segunda aquela em que a pesquisa se desenvolve por meios e procedimentos artísticos e é realizada pelo artista-pesquisador. Em um primeiro momento, pode soar estranho pensarmos em uma metodologia em artes, afinal, como efetivar uma investigação, como elaborar previamente métodos de pesquisa numa área em que as questões surgem, essencialmente, durante o processo da produção? Ao que nos parece, não existe uma única resposta, mas o que Honório nos apontou é pertinente a nossa experiência de residência:

a necessidade de vislumbrar metodologias diferentes para criações de naturezas diversas. Isso fica mais claro quando nos voltamos aos temas levantados pelos residentes. Embora a fotografia seja o campo de pesquisa comum, as maneiras de manipulá-la são muito diferentes, plastica e conceitualmente. Para nós como coletivo, a fala de Honório nos leva, novamente, ao nosso foco de interesse. Ter consciência de uma metodologia ou de várias metodologias dentro da atividade artística significa trazer à consciência o próprio processo criativo. Batemos nessa mesma tecla por entendermos que, de fato, as produções e os modos de circulação de arte atuais estão, cada vez mais, preocupados em evidenciar esses processos e valorizar o discurso do artista em que, evidentemente, o processo e a metodologia estão contidos. A partir desse ponto de vista, a criação como algo divino continua sendo desmistificada e ganha o caráter de um trabalho diário e comum. Falas como a de Honório nos ajudam a pensar no artista como um profissional que necessita de horas de trabalho, testes, análises de materiais, leituras, entre tantas outras formas de instrumentalização, aproximando-o da figura do pesquisador e distanciando-o de um ser “especial”. A partir daí, somos desafiados a arregaçar as mangas e construir nossos objetos de estudo ao mesmo tempo em que desenvolvemos nossas pesquisas sobre ele. Um desafio do qual nós tampouco fugimos acreditando que, com o passar do tempo, cada artistapesquisador comece a encontrar modos de fazer que ajudem na sua prórpia organização e desenvolvimento artístico.

Ágata é um coletivo multidisciplinar, um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para a investigação do processo criativo e da expressão artística.

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INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA APERFEIÇOAMENTO EM MODA E BOOK

FOTOGRAFIA DE RUA

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18 de março a 15 de julho

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