OLD Nº 46

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expediente

revista OLD #número 46

equipe editorial direção de arte texto e entrevista

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Anna Carvalho, Angelo José da Silva, Felipe Abreu e Paula Hayasaki

capa fotografias

Mehryl Levisse Andrea Eichenberger, Edu Marin Kessedjian, Leonardo M. Milani, Luiza Baldan e Mehryl Levisse

entrevista email facebook

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índice

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livros mostra sp de fotografia exposição

mehryl levisse por tfólio

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andrea eichenberger por tfólio

leonardo m. milani por tfólio

trëma entrevista

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luiza baldan por tfólio

edu marin kessedjian por tfólio

reflexões coluna


White and McDivitt Talk to President


carta ao leitor

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ou começar este texto com uma confissão: uma das minhas maiores alegrias nas entrevistas da OLD é quando o entrevistado discorda de mim. O embate de ideias e o fato dele ter de construir um novo argumento para negar ou contradizer o que perguntei é o que me animam. Não gosto de respostas de sim e não. Queremos na OLD discutir e criticar fotografia e esta é uma das melhores formas de se fazer isso. Como você já pode desconfiar, teremos algumas discordâncias nas entrevistas que você lerá a seguir, o que me deixa muito animado com esta nova edição. No nosso número de Junho temos os trabalhos de Mehryl Levisse, Andrea

Eichenberger, Leonardo M. Milani, Luiza Baldan e Edu Marin Kessedjian. Cada um dos ensaios apresentados trabalha de maneira única uma área da fotografia e/ou de conhecimentos próximos. Além de nossos portfolios, temos uma entrevista com a Trëma, que ganhou recentemente o Prêmio Conrado Wessel com o ensaio Tropa de Elite. O grupo conta com uma visão afiada sobre a nossa fotografia e dá uma aula no papo que tivemos. Esta edição está carregada de ótimas fotografias e discussões. Espero que você aproveite ao máximo!

por Felipe Abreu

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livros

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SOBREMARINHOS de Gilvan Barreto

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obremarinhos é o mais novo livro do fotógrafo pernambucano Gilvan Barreto, lançado em maio desse ano. O livro composto por 160 páginas com fotografias ressignificadas através de interferências visuais e colagens, faz parte de uma trilogia fotográfica precedida por Moscouzinho (2012) e O livro do Sol (2013). Seguindo a linha dos projetos anteriores, Barreto abre o campo documental para a possibilidade de criação, de modo a ultrapassar os limites e o faz pensando em todas as características do processo fotográfico: o planejamento, o roteiro e a edição. Sobremarinhos nos mostra um Barreto perspicaz na representação de sua memória emotiva em relação ao mar e coloca o observador em contato com imagens documentais que carregam a subjetividade de um verdadeiro artista. por Anna Carvalho Primeira edição distribuida gratuitamente pelo autor. Uma segunda edição será lançada em Julho. 6


livros

THE NOTION OF FAMILY de LaToya Ruby Frazier

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aToya Ruby Frazier retrata a história de três gerações da sua família representadas por sua avó, sua mãe e a própria artista na pequena cidade de Braddock, na Pennsylvania. Nas imagens em preto e branco vemos fotografias de prédios e hospitais em decadência, detalhes da casa da família, auto-retratos de Frazier sozinha, com sua avó e com sua mãe. Sua mãe, por sinal, é uma das principais personagens do livro, pois, de acordo com LaToya, a relação delas somente existe por conta desse processo fotográfico. O que, a princípio, parece apenas um relato pessoal do cotidiano da sua família e de como a fotógrafa se relaciona com ela, se revela uma história profunda e crítica sobre o legado do racismo e a decadência econômica das cidades pequenas do interior dos EUA. Por Paula Hayasaki

Disponível no site da Aperture valor R$150 156 páginas 7


exposição

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A 6ª MOSTRA SP CHEGA NA VILA MADALENA A Mostra muda de data e volta a ocupar o bairro paulista com 34 pontos expositivos e trabalhos de 80 fotógrafos.

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6ª edição da Mostra SP de Fotografia volta com força total entre 11 de Junho e 11 de Julho. O evento, que acontecia geralmente todo mês de Janeiro na Vila Madalena, SP, não só mudou de data, como também abriu convocatória pela primeira vez para a Galeria Nikon, criando visibilidade para novos fotógrafos. Há 34 pontos expositivos espalhados pela Vila Madalena e a mostra conta com 80 artistas. Um dos trabalhos expostos é (in)segurança, de Andrea Eichenberger, que pode ser conferido na edição da OLD desse mês, como

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também na Aponique | R. Girassol, 174. Outros nomes que já passaram pela OLD também marcam presença na Mostra: Hugo Martins, com JANELA SUBCONSCIENTE | Coletivo de Ideias e Cultura |R. Mourato Coelho, 1017; Maura Grimaldi com ESQUINAS | Loja ao Vivo | R. Harmonia, 661; Rafael Roncato, com ADÁGIO, 2014 | Espaço Cult | R. Aspicuelta, 99. Como outros destaques da 6ª Mostra estão os trabalhos de Maurício Lima, ganhador do POY LATAM 2015 e Nair Benedicto, consagrada fotógrafa e fotojornalista brasileira que retrata

a realidade da mulher brasileira. Além das diversas exposições, esta edição conta ainda com papos com fotógrafos, projeções e variadas ações especiais. A programação completa pode ser conferida na fanpage da Mostra SP no Facebook. 

Por Paula Hayasaki A Mostra SP de Fotografia acontece entre os dias 11 de Junho e Julho, ocupando toda a Vila Madalena, em São Paulo.


portfólio

MEHRYL LEVISSE Sem título

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ehryl Levisse cresceu no maior estúdio fotográfico da França. Com pais fotógrafos, ele teve uma infância rodeada de fotografias. Neste ambiente ele começou a se interessar pelo meio, que hoje usa como suporte para registrar suas instalações e esculturas. Apesar de não se considerar um fotógrafo, Mehryl usa da fotografia como principal forma de apresentar sua arte, que dialoga - e muito - com o surrealismo e o minimalismo, criando atmosferas fantásticas, construídas do zero no estúdio do fotógrafo.



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mehryl levisse

Mehryl, nos conte um pouco sobre como você se interessou por fotografia. Eu não tenho um interesse específico por fotografia. Eu uso esse meio para produzir ângulos e fotografias, mesclando corpos com padrões. Eu também uso outras técnicas como instalações, esculturas ou vídeos, por exemplo. Mas sim, eu me interesso por fotografia porque fui criado em uma atmosfera fotográfica. Minha mãe era uma fotógrafa especializada em fotos PB e meu pai especializado em fotos coloridas. Além disso, eu trabalhei no maior laboratório fotográfico do Norte da França, o que me deu a oportunidade de conhecer vá-

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rios fotógrafos. Por fim, minha casa era repleta de postais fotográficos que certamente me deixaram obcecado pelo conservacionimo e colecionismo. Como foi o processo de desenvolvimento e criação de seu portfólio? Meu processo criativo é similar para todos meus ensaios. Trabalho em meu estúdio, que é vazio, com paredes brancas, me proporcionando uma grande gama de possibilidades. Durante os anos eu acumulei vários objetos, como bugigangas, móveis, carpetes, taxidermia, papéis de parede. Eles são o ponto inicial de criação do fundo das minhas fotos. De-

A experimentação é o cerne do meu trabalho.

pois disso eu crio poses no ambiente construído. Os temas são variados, como mitologia, ciência, sonhos, e essa diversidade está expressa no portfólio. Qual é a importância da experimentação no seu trabalho fotográfico? A experimentação é o cerne do meu trabalho. Eu trabalho as imagens não como um fotógrafo, mas como um artista. Eu construo, experimento e tiro aproximadamente 800 fotos para, ao fim, só escolher 1 foto para o ensaio.


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Eu modifico elementos, transformo a cenografia, movo os objetos e os corpos para obter o melhor ângulo de acordo com meu trabalho e plano fotográfico. Como você busca explorar em seu trabalho fotográfico outros meios de expressão como pintura e escultura? Como eu não me penso como fotógrafo, é natural e lógico para mim explorar outros meios de expressão.

mas eu não tenho a intenção de tocar nesse assunto. A sexualidade é obviamente parte da representação do corpo e a minha sexualidade reflete naturalmente no meu trabalho, porque uso meu próprio corpo em todos meus trabalhos artísticos. 

Qual é o papel do corpo e da sexualidade no seu trabalho ? O corpo é o elemento principal no meu trabalho. Já a sexualidade não é algo central. Ela está presente porque o corpo é sexual por natureza,

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ANDREA EICHENBERGER (in)segurança

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relação com a violência e a maneira com que decidimos lidar com ela é uma das grandes pautas da vida no Brasil. Há um movimento cada vez maior de isolamento e de segregação, criando muros cada vez maiores para nos separar do outro. Este é o movimento que Andrea Eichenberger registra no ensaio (in)segurança. Suas imagens foram produzidas em Florianópolis, mas poderiam ter sido feitas em qualquer cidade do Brasil, apontando o fato de que, em busca de segurança, ficamos cada vez mais sozinhos.



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andrea eichenberger

Minha primeira fotografia Andrea, como surgiu seu interesse pela fotografia? Quando eu era criança, costumava passar horas no quarto dos meus pais apreciando uma caixinha de sapatos repleta de retratos. Muitos deles eram antigos, alguns retratavam pessoas que eu desconhecia. Eu gostava de olhar para aqueles rostos, imaginar suas historias, imaginar como eram aquelas pessoas e como eram suas vidas. Aqueles momentos eram mágicos. Minha primeira fotografia não podia deixar de ser um retrato. Eu tinha 11 anos. Era um retrato dos meus pais com uma tia e seu namorado, que havia me emprestado sua câmera. Pela primeira vez eu fotografava. Me lembro como aquilo me deixou contente. Infelizmente, eles

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terminaram o namoro antes que o filme fosse revelado e eu nunca pude ver as fotografias. Mas aquele retrato permanece vivo em minha memória. Depois disso, só voltei a pensar na fotografia anos mais tarde, durante a faculdade de Artes Visuais. Nos conte um pouco sobre o desenvolvimento do ensaio (in)segurança. O ensaio (in)segurança foi realizado em Florianópolis. A ideia surgiu de uma inquietação pessoal. Como eu vivo e trabalho entre Florianópolis e outra cidade, a cada vez que eu retornava, as transformações arquitetônicas marcadas pela forte presença de aparatos de segurança me saltavam aos olhos. Além disso, os hábitos mudavam, ou seja, as pessoas adotavam

não podia deixar de ser um retrato. Eu tinha 11 anos. comportamentos específicos para lidar com certos tipos de situação. Tudo isso me interessava. Passei então a olhar para a forma como as pessoas procuravam proteger suas casas, propriedades e famílias, pelo modo como lidavam com a presença desses elementos no cotidiano e com essa nova condição. Naquele momento, eu terminava meu doutorado em antropologia, e iniciava uma reflexão sobre os possíveis diálogos entre antropologia e arte. Convidei uma amiga antropóloga, Marta Magda Antunes Machado, também de Florianópolis, a colaborar com o projeto, com a


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ideia de aliar as duas disciplinas para refletir sobre a questão. Assim, em diversos momentos, entre o inicio de 2011 e o inicio de 2013, percorremos as ruas da cidade fotografando os elementos de segurança, as transformações arquitetônicas e promovendo encontros com moradores que participaram da proposta tornandose também agentes dessa produção. Qual a importância dos personagens nesta série que fala sobre mudanças no espaço urbano? Como as histórias deles ajudam a construir esta narrativa? Os aparatos de segurança estão lá, é algo evidente. O que não esta expresso é o modo como esses aparatos se refletem nas vidas das pessoas. Quem são essas pessoas por trás dessas grades? o que pensam? como se pen-

sam? quais são seus medos? o que é a violência que temem? o que está em jogo? a vida? o patrimônio? as relações? Pensei, justamente, que as histórias poderiam ajudar a construir a narrativa. Foram então gravadas uma série de conversas onde convidamos as pessoas a nos falar sobre a presença dos elementos de segurança em suas vidas, a comentar essa presença e a falar sobre a sensação de segurança ou insegurança na cidade. Fale um pouco sobre a relação entre fotografia e antropologia que você busca construir neste ensaio. A série (in)segurança foi deliberadamente posicionada em uma zona de fronteira. Trata-se de um trabalho que procura fazer dialogar a fotografia (enquanto objeto artístico) e a antropologia. Ou seja, a fotografia

não é utilizada a serviço da antropologia, como em uma antropologia visual. Ela não segue muitos dos princípios defendidos pela antropologia para que seja definida enquanto tal. Ao contrário, busca explorar a experimentação e se abre aos diálogos interdisciplinares, aos diálogos entre grafias (fotografia, vídeo-grafia, etnografia). O que me interessa é a abertura que essas trocas podem promover. Enquanto que os trabalhos acadêmicos ficam muitas vezes limitados a um público restrito, os trabalhos artísticos, por alcançar outros sentidos, por circular em outros lugares, acabam sendo mais democráticos. 

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LEONARDO M. MILANI Sem Título

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s interesses de Leonardo M. Milani estão na rua, no que há de mais orgânico e livre nas cidades. Apesar disso, Milani não gosta de se atrelar ao termo fotografia de rua. O que ele busca é fugir dos estereótipos e buscar o que há de mais surreal e fantástico ao seu redor. Nesta busca suas imagens apresentam uma cidade única, que tenta se descolar da realidade e se mostrar mais escura, misteriosa e interessante, criando a cada imagem um novo universo a ser explorado.



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leonardo m. milani

A rua é só uma circunstânLeonardo, nos conte sobre seu começo na fotografia. Eu comecei a fotografar quase totalmente por influência do meu irmão, também fotografo e infinitamente melhor que eu, Rafael Milani. Ele colocou a câmera velha dele na minha mão e disse: vai lá fora e faz. E eu fui. E continuo indo. Foi através dele que adquiri as primeiras noções de conceito, de como e porquê contar uma história, desenvolver uma linha de raciocínio com imagens. A importância disso tudo. Mais tarde, através de um amigo descobri o trabalho do Jacob Aue Sobol, o que foi um soco no estômago. E depois dele veio o Dayido Moryama, Cristiano Mascaro, Mauro Restiffe, Saul Leiter e um sem fim de outros nomes.

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Quando você se interessou pela fotografia de rua? Qual o papel dela na sua produção fotográfica? Não sou muito fã do termo “foto de rua”. Definindo assim, você acaba limitando as possibilidades, etiquetando o trabalho. Acaba caindo numa vala comum de fotos no centro de São Paulo, mendigos, miséria, e ficando preso a somente isso, uma leitura vazia da vida na rua, superficial. Não abre portas pra uma história maior ou diferente. Muitas das coisas que chamam a minha atenção e que me fazem registrar se passam nas ruas, mas não necessariamente nas ruas das grandes cidades. E não me interessam só porque estão nas ruas, mas por outros motivos. A rua é só uma circunstância. Acho que mais

cia. O que me interessa é a fotografia ambulante. que fotografia de rua, o que me interessa é a fotografia ambulante, de andar sem motivo e destino, e ir atrás dos assuntos e motivos enquanto faço o caminho. Seja ele na rua, no metro, no taxi, no mato, em qualquer lugar. Em todo lugar. Nesse sentido, talvez a rua seja mais importante que a foto de rua. E isso inclui tudo: desde a arquitetura, até os cheiros e sons.Talvez para mim, fotografar seja quase uma desculpa para ficar andando por aí e ter algum sentido nisso. Escolher o caminho mais longo entre dois pontos.


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Você vê o surrealismo e o fantástico como elementos centrais dentro da sua produção visual? Sem dúvidas. E isso é outra influência do meu irmão. Desde pequenos nós tivemos o costume de devorar muita literatura fantástica, ficção e tudo que ajude a tirar a cabeça da realidade. Quando comecei, eu tinha uma tendência de ser muito literal, quase superficial. E aos poucos ele me mostrou como usar a realidade como o começo para outra coisa. Eu particularmente acho São Paulo uma cidade desagradável, feia, hostil. Para mim, São Paulo é um não-lugar. E não tenho e nem quero ter nenhuma pretensão jornalística. Então esse olhar fantástico, surreal é o modo que encontro para parar e ver a cidade, e não ficar incomodado com o que estou vendo. É o único jeito que en-

contrei para enxergar um pouco de beleza nessa cidade. Ela precisa ser o ponto de partida para outra história. Outro universo. Como você busca editar o seu material e criar narrativas dentro de um universo tão amplo quanto o que você fotografa? Meu processo de edição é bem simples: eu saio, fotografo e seleciono as melhores fotos. Nessa primeira prensa, gosto de separar as imagens que funcionam melhores sozinhas. Aos poucos, tenho deixado cada vez mais tempo entre o fotografar e o abrir os arquivos ou folha de contato para trabalhar nas fotos. Então, de tempos em tempos eu procuro juntar todas as imagens que se sobressaíram às outras e procurar algum fator, motivo, assunto que as ligue. Ou alguma

direção para onde elas apontem. Se esse caminho for claro, eu continuo saindo para fotografar mas agora já tenho um olhar um pouco mais direcionado. Mas não muito. O fator aleatoriedade é uma constante. Eventualmente eu procuro ver fotos antigas, fotos que não foram trabalhadas ou que passaram desapercebidas e ver se elas se enquadram em alguma série.É tanto um processo criativo quanto de autoconhecimento. Uma terapia. Ver para onde meu olho se virava no ano anterior e tudo mais. Fatores fora da fotografia também são essenciais para servirem de inspiração, de alguma forma. Literatura, cinema. Para mim, música é essencial para desenvolver a narrativa. É essa coisa do poder de síntese, do trovadorismo. Como contar a história que você quer contar.

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A Trëma começou em 2012. Em três anos o grupo já coleciona trabalhos de amplo destaque no cenário nacional, além dos dois prêmios mais importantes da fotografia brasileira: Conrado Wessel e Marc Ferrez. As produções da Trëma mergulham nas transformações sociais de um Brasil emergente. Suas imagens apresentam as realidades e dificuldades de uma população e espaços em um período de transição. Como começou o Trëma? Filipe: A Trëma surgiu em 2012 quando começamos a compartilhar um estúdio. Já nos conhecíamos de trabalhos em jornais e revistas e o estúdio nos pareceu uma saída viável para continuar de alguma maneira a ideia de confluência que se tem em uma redação de jornal.

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Como foi o processo de decisão de trabalhar como um coletivo? Quais foram os fatores principais nesta decisão? Gabo: A proximidade e as nossas conversas foram criando uma ocasião para falar sobre trabalhos que a gente gostaria de fazer mas que não faziam parte da agenda da mídia, dos nossos empregadores. Começamos então a usar a estrutura do estúdio e nosso interesse coletivo para criarmos trabalhos que poderíamos chamar de autorais sobre temas que de forma pessoal nos interessam, e interessam à narrativa que queremos construir sobre o Brasil hoje. De forma bastante natural acabamos criando um padrão em que cada um faz o seu trabalho profissional como sempre fez, mas, em determinados momentos, se une aos outros para pensar e produzir outros projetos que formariam assim o trabalho da Trëma.

A Trëma se dedica especialmente a projetos que tem um caráter social marcante. Para vocês, qual a importância do registro visual destes eventos? Gabo: A gente se dedica a falar sobre a nossa sociedade hoje, a partir das virtudes e dos defeitos daquilo que se convencionou chamar de fotografia documental. Se caráter social significa falar dos destituidos, de minorias, de lutas sociais, não sei se nos dedicamos tanto a isso quanto outras pessoas e grupos que também produzem conteúdo documental ou fotojornalismo no Brasil hoje. Nosso interesse está em produzir conteúdo relevante para que alguém consiga entender aspectos do Brasil no século 21, evitando ao máximo qualquer proselitismo. Não estamos numa cruzada ou qualquer coisa do gênero para convencer alguém de que há desigualda-

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de no Brasil, há pobreza, há lutas sociais e há ignorância; e muito menos temos o objetivo de separar esse tipo de fotografia de caráter social de outras, que falam da classe média ou de temas de comportamento, ou da própria natureza da mídia fotográfica. Essa separação talvez só interessaria a quem prefere pensar que há outros Brasis, outra São Paulo. Idealmente, no nosso trabalho tudo é social, todos vivem no mesmo país, a luta do Pinheirinho é tão relevante quanto a luta daquele que tem a escritura do terreno e quer manté-lo desocupado, ocioso. Em muitos casos, no entanto, documentar essa luta pelo olhar do mais fraco - aquele que tem menos instrumentos para lutar - é uma escolha moral que nós conscientemente fazemos, e continuaremos a fazer. Vocês vêem a fotografia como um pos-

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sível agente transformador? Gabo: Sim e não. A fotografia por si só não nos parece capaz de transformar a sociedade. Mas a fotografia, ao lado de outros produtos tangíveis e intangíveis, como a literatura, a documentação histórica, a análise estatística e muitos mais, colabora com acumulo de conhecimento e autoconhecimento que uma sociedade precisa para, dai sim, incitar e iniciar um movimento de transformação, se assim o quiser. O discurso do fotógrafo documental é sempre político, mas sozinho não nos parece que tenha força política. Como vocês avaliam o crescimento tão rápido do coletivo? Quais são os elementos principais deste processo? Filipe: O coletivo funciona como um facilitador. Aqui encontramos um ambiente favorável para colocar em

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prática algumas ideias que vínhamos tendo nos últimos anos enquanto fotógrafos do mercado editorial e enquanto amigos que dividiam um estúdio. Leonardo: Cooperação, debate e competição internos, autocrítica multiplicada por quatro, vários elementos deixam o processo do trabalho coletivo mais complexo mas também aprimora o resultado desse trabalho. O ensaio Tropa de Elite foi o grande vencedor do prêmio Conrado Wessel deste ano. Como foi o desenvolvimento do projeto? Gabo: A inspiração para o A Tropa de Elite veio das fotos originais que mostravam o exército do Pinheirinho nos dias anteriores à reintegração de posse do terreno onde eles viviam, em 2012. Na época, vários jornais pelo Brasil colocaram na capa as imagens

daquelas pessoas com escudos, capacetes e armaduras improvisadas, prontos para defender o lugar em que viviam. Aquela imagem deles juntos, da massa de soldados, foi bastante divulgada na época, mas as histórias daquelas pessoas, como indivíduos, não receberam tanta atenção. Nossa intenção era, portanto, mostrar quem eram algumas das pessoas por trás da vestimenta e onde estavam quase dois anos depois do seu despejo. Filipe: Localizamos o líder dos moradores pela indicação de um movimento social que apoiava o Pinheirinho. Um dos líderes comunitários, Juarez Silva, que depois seria retratado por nós porque fizera parte da Tropa, nos levou a algumas assembleias de exmoradores que aconteciam, e ainda acontecem, no Campo dos Alemães, um bairro vizinho ao local onde ficava o Pinheirinho e onde muitos dos in-


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tegrantes daquela comunidade ainda moram. Em uma dessas reuniões, fomos apresentados aos ex-moradores e discutimos com eles a idéia de falar dos desdobramentos do que aconteceu no Pinheirinho a partir do exército interno que eles haviam criado. Montamos um estúdio na casa de um dos ex-moradores do Pinheirinho e depois de algumas visitas à São José dos Campos tínhamos os depoimentos e as fotografias dos seis ex-membros d’A Tropa de Elite. Como foi tomada a decisão de fazer o Tropa de Elite em fundo neutro? Filipe: O fundo neutro é um incentivo para o observador se concentrar no retratado. Sem elementos ambientais, externos, a figura representada fica mais evidente. Como nosso objetivo era falar dos indivíduos que fizeram parte da Tropa, o fundo neu-

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tro nos pareceu mais adequado. Como vocês vêem a relação entre fotojornalismo e fotografia contemporânea? Qual o papel que um ocupa dentro do outro? Gabo: Fotografia contemporânea é um termo bem abrangente, que em si não limita a forma, o fim ou o tema da fotografia, mas seu lugar no tempo, na História. Daquilo que se produz hoje por profissionais que usam a imagem como meio de expressão, o fotojornalismo é provavelmente o mais onipresente, o tipo de fotografia menos elitista, não está apenas contido em galerias, museus, fechado entre seus entendidos. Independente da intenção ideológica e editorial do produtor e distribuidor, o fotojornalismo faz parte da vida das pessoas porque a maioria absoluta delas vê e descobre o mundo a partir da mí-

dia, que obviamente transborda de imagens fotográficas. Uma questão central para nós é que nosso trabalho não fique limitado ao mundo da fotografia, dos nossos pares, mas seja algo inteligível e relevante para todo mundo que se interessa pelo Brasil hoje. Filipe: Acho complicada a ideia de que competirmos com milhões de imagens que são tiradas e publicadas nas mídias sociais todos os dias no mundo inteiro. Porém, a busca por alguma relevância nessa torrente de imagens que luta pela nossa atenção a todo instante criou um momento de muita criatividade e inovação na produção documental fotográfica. Enquanto, por exemplo, a imagem fotojornalística isolada na capa do jornal perdeu importância, o mercado de fotolivros passa por um momento de prosperidade.

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Os trabalhos da Trëma têm uma questão geográfica marcante. Como vocês buscam organizar a relação entre personagem e espaço? Como isso afeta as narrativas criadas? Gabo: A gente tem trabalhado três temas a partir dos quais abordamos a relação entre o personagem e seu espaço. São eles identidade, comunidade e fronteira. Queremos trabalhar esses temas no sentido mais amplo possível de cada um. Sozinha, a fotografia não é capaz de dar conta da complexidade do homem no seu espaço e no seu tempo, então temos investido no uso do texto para contextualizar melhor nossos trabalhos. Qual a importância de fotografar o Brasil? Qual são os próximos ensaios e temas que vocês pretendem trabalhar? Leonardo: Fotografamos o Brasil para

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a busca por alguma relevância nessa torrente de imagens que luta pela nossa atenção a todo instante criou um momento de muita criatividade e inovação na produção documental fotográfica.

contribuir, mesmo que com uma pequena parte, no processo de criação de conhecimento sobre o pais. Conhecimento que quando bem difundido gera autoconhecimento, indagações, muda perspectivas, diminui ignorâncias. É assim que justificamos para nós mesmos a importância de fotografar o Brasil. Filipe: Com o lançamento do projeto “Lagoa da Confusão: Wanderlândia” há pouco mais de um mês, fechamos um ciclo de 5 meses de trabalho in-

tenso em torno deste projeto. Temos trabalhos em andamento que foram momentaneamente interrompidos, como Moradia/Anchieta e Marsilac, que devem ser retomados. Temos ainda o Carte-de-Visite, projeto desenvolvido ao longo do ano passado, que trata da onda atual de imigrantes estrangeiros em São Paulo. Além disso, a idéia é continuar produzindo trabalhos para o fronteiras.org. No entanto, estamos iniciando as conversas sobre o que fazer, que estórias buscar. 


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LUIZA BALDAN

Leituras de um Lugar Valioso

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uiza começou sua trajetória fotográfica ao abandonar as Ciências Sociais na UERJ e ir para Miami continuar seus estudos. Lá, começou a estudar Artes Visuais e História da Arte. Foi com o roubo de seu equipamento que começou o ciclo de Leituras de um Lugar Valioso. Esta perda proporcionou a Luiza a chance de vivenciar o espaço e representá-lo de uma maneira completamente diferente do que era pensado inicialmente, unindo texto, sons e a proximidade com amigos e colegas que emprestaram equipamento para que ela continuasse sua produção.



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Logo que cheguei, fui assalLuiza, nos conte sobre seu começo na fotografia. A fotografia está presente na minha vida desde que nasci por conta do meu irmão mais velho, Ernesto Baldan, que sempre trabalhou no mercado editorial e de moda. Mas só fui me interessar em fotografar quando fui morar nos Estados Unidos, em meados de 1999.Na época eu abandonei a faculdade de Ciências Sociais na UERJ (minha intenção inicial era seguir para a Antropologia Visual) para estudar Comunicação em Miami. Mas como o modelo universitário americano permite que você migre livremente entre áreas de interesse, escolhi Artes Visuais e História da Arte. A aproximação com as artes se deu por diversas maneiras, especial-

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mente por ter trabalhado no arquivo do Wolfsonian Museum e em um laboratório de fotografia. Quando me inscrevi na primeira aula de pb, me tornei a responsável pela manutenção do laboratório, o que me deu acesso livre 24h durante toda a faculdade. Foi quando iniciei o projeto “Becos”, que durou dois anos e me rendeu o prêmio Brown & Marion Whatley em 2002. Como surgiu o ensaio Leituras de um Lugar Valioso? Em 2012 eu ganhei a bolsa do Rumos Artes Visuais para fazer uma residência no CRAC Valparaíso, no Chile. Logo que cheguei, fui assaltada trabalhando perto de casa e levaram a câmera. Segui a temporada pratica-

tada trabalhando perto de casa e levaram a câmera. mente sem fotografar, apenas escrevendo textos, fazendo aulas de piano em um cenário surreal e registrando com o celular algumas imagens e sons das ruas. Em paralelo, fotografava algumas cenas pela cidade com as câmeras emprestadas de amigos e isso foi o começo do “Leituras...”. Durante a residência, fiquei hospedada na casa de uma artista maravilhosa, Chantal Rementería, que junto com o grupo Ciudadanos por Valparaíso, idealizou um guía de promoción del uso de lugares valiosos – Lugar Valioso – um mapa que sinaliza locais tradicionais de interesse público que


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caracterizam histórica e culturalmente a cidade. A iniciativa faz frente ao boom “desenvolvimentista” e a gentrificação que a cidade enfrenta após a nomeação de patrimônio da Unesco, que, assim como acontece em outros centros urbanos, pouco a pouco aniquila antigos pequenos comércios em detrimento de grandes franquias e estabelecimentos impessoais. O próprio CRAC Valparaíso, sede do programa de residências, funcionava no último andar do edifício maravilhoso que abrigou a Bolsa de Valores. A cidade inteira é cheia de “lugares valiosos”, catalogados ou não, mas que viraram foco da minha observação. Dos lugares vieram as pessoas, e comecei a colecionar essas imagens como parte da minha experiência no país, o qual continuo visitando periodicamente.

Como se desenvolve a relação entre os personagens e os locais apresentados na série? Após o assalto, levei alguns dias para processar o susto. Durante a primeira semana da residência, ainda hospedada em um alojamento na Praça Matriz, pude testemunhar da janela mais um roubo, o que me paralisou em casa por 48 horas. Foi quando fiz os retratos da Maria José, filha da encarregada do lugar, que posou para mim em todos os quartos. A menina, recém chegada dos EUA, ainda estava se adaptando à vida no Chile. Como se vê nas fotos, sempre com o celular na mão, ela passava o dia se comunicando com seus amigos de NY. Então os personagens dão cara aos lugares e os lugares às histórias. Sempre tantas histórias...

Qual a importância do deslocamento, da viagem, na produção desta série? A minha relação com o Chile é um tanto híbrida. Já não me considero uma estrangeira, mas sou. O deslocamento propicia o olhar de quem retorna, de quem sente saudade, de quem se surpreende e de quem critica. Existe o apreço por pequenas coisas. Daí seguem os lugares valiosos. O quanto a sua vivência e a dos personagens no ensaio se misturam na série? Há um quê de diário em Leituras? Não sei se diário porque não segue uma ordem dos dias nem um relato fiel dos acontecimentos. Algumas imagens são homenagens, outras são simples observações do lugar. Mais que diário, acho que o trabalho são anotações onde tudo se mistura. 

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EDU MARIN KESSEDJIAN Câmaras de Descompressão

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du explora São Paulo de uma maneira diferente. Sua curiosidade o levou aos hotéis de alta rotatividade do centro de São Paulo. Dessa forma, fotografou espaços de anonimato e exploração de desejos ocultos. A série Câmaras de Descompressão se concentra nos espaços e suas características únicas, deixando rostos e corpos de lado. Com essa opção, o ensaio constrói sua narrativa através dos detalhes, da atmosfera de cada um dos quartos apresentados, fugindo do óbvio e criando um clima dos mais interessantes, que nos leva a transitar por cada um destes misteriosos quartos.



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Acho que o ensaio fala dos Edu, nos conte sobre seu começo na fotografia. Comecei a fotografar aos 16 anos e como muita gente comecei fazendo as coisas no instinto e na curiosidade com uma câmera básica que ganhei dos meus pais. Montei um laboratório num banheirinho de casa, lia livros de técnica, revelava o papel com revelador de filme, essas coisas clássicas. Passava as tardes de sábado ali pela rua 7 de abril e Conselheiro Crispiniano no centro de São Paulo, que era onde se concentravam as lojas de equipamento. Era um grande programa passar por ali pra ver as novidades e depois rodar fotografando pelo centro já meio vazio. Como surgiu o ensaio Câmaras de Des-

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compressão? Apareceu a oportunidade de uma exposição na Casa da Imagem aqui de São Paulo, que fica no ponto onde nasceu a cidade, entre o Pátio do Colégio e a Praça da Sé. Eles tem como um dos projetos construir uma espécie de iconografia paulistana e o Henrique Siqueira que é o diretor e a Mônica Caldiron, curadora, me propuseram então que a exposição dialogasse com a cidade de alguma maneira. Retomei aí uma idéia de fotografar os hotéis de alta rotatividade ali do centro, que eram locais sobre os quais eu tinha muita curiosidade mas não conhecia. Passei então alguns meses me hospedando por alguns desses hotéis produzindo o ensaio; ensaio que à princípio eu

seus personagens pelos vestígios. achava que seria carregado de erotismo e um tanto de sacanagem mas que terminou carregado de uma certa melancolia e algum mistério. Como estes espaços contam a história dos personagens que passam por eles? Acho que o ensaio fala dos seus personagens pelos vestígios. Desde a gastura dos lençóis, da decoração, do mofo nas parede às marcas de cigarro nas bordas da cama de madeira, tudo cria uma atmosfera que deixa o espectador pensar um pouco sobre quem passou por ali ou quem passará. Mas também acho que os próprios


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quartos e objetos também são personagens nessa história. Bom, e eu também sou personagem ali com certeza. Como você buscou manter uma unidade visual no ensaio e ao mesmo garantir um aspecto único para cada local apresentado? Esses quartos tem uma coisa engraçada, por um lado são muito parecidos, móveis e paredes desgastados, passa objetos na porta, espelhos, uma tv, um banheiro, uma coisa bem impessoal porque no final das contas para quem vai passar algumas horas por ali para fazer seja lá o que for isso é o que menos interessa. Por outro são lugares únicos, a passagem do tempo vai transformando cada um daqueles espaços de uma maneira muito característica, construindo manchas, furos, envelhecendo padrões. E acho

que no final essa busca pelo único é o que norteia a edição do ensaio. E também são basicamente quartos e como todos nós temos a experiência deste espaço isso abre um caminho para o espectador se conectar àquela imagem e acho que isso já garante um caráter especial para cada um daqueles espaços.Como eu já comentei, eu tinha na minha cabeça que esse ensaio seria algo erótico, sexual, sei lá. Passadas algumas tardes, o que sobrava era uma grande dose de tédio, de solidão, de preguiça. Já nas primeiras visitas comecei então a criar algumas situações, fazer um jogo entre as luzes frias e quentes, portas entreabertas, frestas de luz. Fui fazendo um jogo. Acho que isso está lá nas imagens e é algo que acabou também por criar unidade ao trabalho.

Quais são os desafios de se construir uma narrativa sem personagens humanos? A presença humana está sempre nas minhas imagens, porém quase sempre essa presença se dá por traços da passagem, por objetos, sombras, marcas. Apesar de um tom documental forte, minha principal intenção não é descritiva, tenho vontade de criar dúvidas, curiosidade, mistério e que a narrativa seja desenrolada na cabeça do espectador. E nesse sentido acho que a não presença de personagens - pelo menos de personagens humanos - abre mais possibilidades. Como se aquelas imagens sempre registrassem um momento de pausa entre o que aconteceu antes e o que acontecerá depois. Acho que tem um quê de frame de filme. Mas aí eu já estou elucubrando. 

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MEMÓRIAS INTERIORES

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ecentemente surpreendi algumas amigas ao mostrar as primeiras fotos de um novo projeto que trata de memórias muito antigas, de rastros e de paisagens de minha infância e adolescência revisitadas. Elas me disseram que as fotos alinhadas sobre a mesa eram inesperadas. O que estava diante dos nossos olhos naquele momento? Fotos da casa de meus pais, deles mesmos, espelhos, sombras e rastros de luz. A assim chamada fotografia intimista

Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.

era um tipo de foto que fazia mais ou menos regularmente mas que nunca, ou quase nunca, mostrava. Fazer um projeto com esse conteúdo era algo inimaginável até recentemente. Mas o que provocou essa mudança? Inicialmente, creio que essa alteração espelha um pouco da busca fotográfica pessoal que navega por diferentes objetos ou temas de interesse. Ainda do ponto de vista fotográfico, esse tipo de produção se mostra com força crescente desde o final dos anos setenta do século XX. E, ganha cada vez mais visibilidade nas primeiras décadas deste XXI. De alguma maneira isto acaba chegando até nós e apontando nossos olhos nessa direção. Afinal, algumas das coisas que mais fazemos é olhar fotos e tomar fotos. Existe outro aspecto dessa reflexão

que também me chama a atenção. É uma série de movimentos interiores que nos conduz para esse caminho. Depois de muito fotografar flores, grafites, cidades caóticas e nem tanto, senti a necessidade de buscar sentido para algumas questões essenciais do lado de cá do muro e não do lado de lá. Surge, assim, uma produção desejosa de representar de maneira mais ou menos posada ou performática, aquilo que vamos observando/ buscando nos lugares por onde passamos há muito tempo atrás. Aquilo que encontramos ao caminhar já está esmaecido aqui e ali. Tem algumas áreas de sombra mais densas do que outras. Mas, nos revela de maneira muito clara e transparente, apesar das poses e performances, de onde viemos e para onde vamos. 

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reflexões

Depois de muito fotografar flores, grafites, cidades caóticas e nem tanto, senti a necessidade de buscar sentido para algumas questões essenciais do lado de cá do muro e não do lado de lá. 95


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S铆lvio Cris贸stomo


INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA FINE ART: PÓS-PRODUÇÃO E MERCADO A venda de fotografias impressas com alta qualidade e durabilidade é uma opção ainda pouco explorada por muitos fotógrafos, uma vez que a atuação neste nicho requer uma série de conhecimentos específicos. Ao perceber essa demanda, o IIF criou o curso Fine Art: Pós-Produção e Mercado, ministrado por Alex Villegas, que oferece uma formação abrangente no que se refere ao tratamento, a pós-produção, impressão e comercialização desse tipo de produto. Durante o curso, o aluno tem a oportunidade de compreender este amplo mercado, que inclui galerias de decoração, galerias de arte, colecionadores e museus. É oferecido um panorama mercadológico: quem são os compradores e quais são os tipos de trabalho que lhes interessam. A parte técnica inclui o conhecimento de todos os procedimentos necessários para realizar as impressões, desde o tratamento da imagem

digital e escolha de formato de arquivo, até as opções de papel, tinta e outras especificidades que influenciarão no resultado final da impressão. Outros temas a serem abordados são a montagem e a conservação do trabalho. Visando uma apresentação realista do ramo, a estrutura do curso conta com a participação de três convidados do fotógrafo responsável: um crítico de arte, um galerista e um fotógrafo atuante no ramo. Além disso, os alunos fazem duas visitas: a primeira a uma exposição e a outra a um ateliê de impressão, para entender de perto os diversos aspectos técnicos. A próxima turma do curso Fine Art começa no dia 14 de abril e termina no dia 23 de julho. Mais informações sobre o curso no site: http://www.iif.com.br/site/fine-art/


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DEPOIMENTOs DE QUEM FEZ

Segundo Gilberto Grosso, fotógrafo dedicado ao experimentalismo e aluno da última turma de Fine Art: pós-produção e mercado, o curso possui “uma abordagem ampla, conceitual e prática sobre o que é a arte e o mercado das imagens em fine art. Do princípio da criatividade e conceitos, passando pelos processos e equipamentos/materiais, à divulgação, exposição e venda das obras. Enfim, é um curso que todos os profissionais da imagem deveriam incorporar aos seus currículos”.

Para Edgar Kendi, designer, o aprendizado vai muito além das técnicas de impressão: “Compreendi que para se chegar ao Fine Art não basta apenas fotografar belas imagens e imprimi-las em um bom printer, é preciso compreender toda carga de significados que a imagem carrega em si e transmiti-los materializados em suportes que contribuam para tal fim”, diz.



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